Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > 26 de Setembro de 1968 > Operação Adenóide > O 3º Pelotão, em bicha de pirilau, a caminho da mata de Catora (a meio, a sul da estrada Pelundo-Có).
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > 26 de Setembro de 1968 > Operação Adenóide > As NT em deslocação a caminho do objectivo: a mata da Catora.
Quarta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) . Texto enviado em 21 de Fevereiro de 2007. As nossas desculpas ao autor pelo atraso na publicação desta IV parte (1). (LG).
Fotos: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Operação Adenóide – Emboscada na Catora
por Raul Albino
Esta operação, realizada em 26 de Setembro de 1968, era constituída por um pequeno número de Milícias Nativos e dois grupos de combate da CCAÇ 2402. Os nativos seguiam na frente da coluna como batedores, seguindo-se o 3º pelotão e na retaguarda o outro grupo que a memória já não me permite recordar.
O objectivo da missão encontrava-se no interior da mata da Catora, considerada na altura como uma região extremamente perigosa, pela densidade da sua mata, difícil de penetrar e que, por essas razões, controlada pelo inimigo, que se movimentava dentro dela com grande à vontade devido à protecção que as características do terreno lhes dava.
A maneira mais fácil de atravessar esta mata era precisamente através do caminho estreito de terra batida que lá existia, tornando-o uma autêntica tentação para a sua travessia, em comparação com qualquer outro penoso trajecto que se tivesse coragem de utilizar. (Ver a seta).
Localização de Catora, na carta de Pelundo. Pertencia ao regulado de Có. Ficava na bacia hidrográfica do Rio Catora. afluente do Rio de Timate que, por sua vez, ia desaguar no Rio Mansoa...
Quando o passa-a-palavra era um meio de comunicação.
Como podem ver pela Figura 1 (as figuras espinhosas significam árvores e não explosões), as nossas tropas encaminhavam-se precisamente para a entrada dessa mata, conduzidas pelas milícias que na frente escolhiam o melhor caminho. O curioso é que nem os nativos propuseram qualquer outro caminho de entrada na dita mata, talvez sabendo o castigo que era percorrer os outros trilhos alternativos.
Fonte: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Quando me apercebi dessa orientação para a entrada da mata, um sexto sentido me ia dizendo que, se eu fosse o inimigo, era nessa entrada, precisamente, que eu faria uma emboscada. Aprecei-me a fazer passar a palavra para os batedores da frente, que deveriam atravessar a caminho para o lado direito e procurar outra entrada ao longo da orla da floresta.
Em cima, tropas em deslocação para o objectivo. Para perceber melhor o meu drama, devo esclarecer que na época o único meio de comunicação que possuíamos, era um rádio carregado às costas por um soldado de transmissões que servia para o contacto com o quartel. Entre os componentes da coluna, a única forma de comunicação era o que se denominava de passa-palavra, pessoa a pessoa, até chegar ao elemento de destino, neste caso os milícias que seguiam na cabeça da coluna.
Que jeitão daria possuirmos nessa altura telemóveis para falar, para já não referir aos modernos e sofisticados sistemas de comunicação que as tropas americanas possuem nos dias de hoje. Quando me apercebi que a ordem que enviei não estava a ser cumprida e as nossas tropas continuavam a dirigir-se inexoravelmente para a boca do lobo, tive de reconhecer que efectivamente só as ordens de parar e andar funcionavam a preceito. Vai daí, dei ordem de paragem à coluna, dirigi-me pessoalmente aos nativos que seguiam na frente e expliquei-lhes o que eu pretendia.
Fonte: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Em boa hora o fiz, porque esta minha teimosia, salvou-nos de um desastre militar bem grande. Como podem ver pela Figura 2, quando o inimigo se apercebeu da nossa manobra, iniciaram o ataque como tinham planeado, mas, agora, as nossas tropas já tinham capacidade de resposta ao fogo inimigo.
A nossa posição ainda não era a melhor porque o grupo de combate que seguia na retaguarda, ainda não tinha feito a passagem para o lado direito do caminho, daí a que a sua reacção foi praticamente nula, contudo as milícias nativas e o 3º pelotão que seguia comigo na frente colado aos milícias, conseguimos responder prontamente com todo o armamento que possuíamos.
Uma história do Lobo Mau.
Logo que o contacto com o inimigo aconteceu, foi imediatamente pedido ao quartel, via rádio, para nos ser enviado auxílio aéreo. Nesse momento, tive simultaneamente a maior alegria e maior desilusão, no respeitante a apoio aéreo. A maior alegria foi que, com grande rapidez, surgiu no ar um heli-canhão de apoio ao solo, que na altura era conhecido por Lobo Mau.
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > 26 de Setembro de 1968 > Operação Adenóide > "om grande rapidez, surgiu no ar um heli-canhão de apoio ao solo, que na altura era conhecido por Lobo Mau"...
Foto: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Possuía um canhão ligeiro de granadas explosivas, que disparava com uma boa cadência. A desilusão consistiu em que eu esperava que a eficiência daqueles disparos fosse maior, porque estávamos numa situação única para darmos ao inimigo uma lição forte, visto eles estarem mesmo ao alcance do helicóptero, coisa que raramente acontecia, pois quando o helicóptero ou avião de apoio chegavam, já o inimigo se tinha retirado há muito.
O resultado foi que a mata era demasiado densa, as granadas tinham fraca intensidade e o inimigo facilmente se escondia debaixo das árvores, enquanto as granadas rebentavam na copa. Mais eficiente foi o fogo de dilagrama (dispositivo de lançamento de granadas de mão defensivas) que eu próprio orientei no terreno, que se manifestou como uma excelente arma para as características da maior parte dos terrenos onde as nossas tropas se movimentavam.
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > Uma dilagrama na ponta da espingarada G-3
Foto: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
A partir daí passei sempre a andar com um militar munido de dilagramas perto de mim. Teoricamente esse militar funcionava como o meu guarda-costas, mas, na prática, eu é que era o guarda-costas dele, porque um militar com este tipo de arma, não se podia defender nem a ele próprio quando alguma luta corpo-a-corpo ou de grande proximidade tinha lugar.
Agora teremos de reconhecer que, se bem que a eficiência de tiro do helicanhão não fosse satisfatória, a sua influência dissuasiva com os disparos aéreos, foi mais que suficiente para meter o inimigo em fuga com algumas baixas e abandono de material. Para nosso desespero os ferimentos só eram detectados pelo sangue no solo, que denunciava a consequência do nosso fogo. O inimigo tinha uma preocupação extrema em não deixar ficar para trás qualquer ferido, retirando assim às nossas tropas a hipótese de quantificar o número de baixas causadas.
Perguntas sem resposta
Análise militar a este contacto com o IN. Perguntas que me ficaram sem resposta.
(i) O que fazia um grupo IN emboscado naquele local à espera das nossas tropas? Coincidência? Não acredito… Eles tinham sempre alvos estáticos (ex.: quartéis) ou móveis de sentido garantido (ex.: colunas de viaturas de reabastecimento), porque estariam ali em espera pela hipótese remota das NT por lá passarem? Ou tiveram informação prévia? Neste caso como teria sido feita a transmissão? Por estafeta? Por rádio? Só souberam da operação à saída das tropas do quartel, ou souberam mesmo antes de eu ter conhecimento dela?
Nisto o Cap Vargas Cardoso [, comandante da CCAÇ 27102,] era rigoroso. Só informava os operacionais uma ou duas horas antes da saída. A única excepção era o serviço de alimentação e por consequência o seu pessoal da cozinha (com nativos na equipa – ver foto em baixo), que era informado mais cedo para ter prontas as rações de combate e o café matinal nas saídas de madrugada, como era o caso, no entanto, eles saberiam que íamos sair e qual a hora, mas nunca o objectivo.
O que me faz matutar nisto é que este estilo de emboscada do IN era perfeitamente normal nas NT que as faziam amiúde nos arredores dos aquartelamentos como medida preventiva contra ataques aos quartéis, ou ao longo do itinerário das colunas de viaturas de abastecimento. Parecia que, por razão desconhecida, as coisas estavam invertidas. Ou estariam eles a proteger alguma coisa verdadeiramente importante ao ponto de recorrerem a uma emboscada preventiva à boa maneira das nossas tropas?
Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) > O pessoal de cozinha incluía civis cuja lealdade às NT era controversa...
Foto: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
(ii) A prontidão no aparecimento do heli-canhão Lobo Mau. O heli-canhão devia estar bem perto do local da emboscada, para se apresentar tão prontamente em nosso auxílio, num tempo que considerei recorde e me deixou deveras espantado. Qual seria a missão do heli-canhão para estar a sobrevoar aquelas redondezas? Estaria a procurar precisamente aquilo que o IN queria proteger com a emboscada que fez às NT?
(iii) A persistência dos guias nativos em nos conduzir ao ponto da emboscada. Na altura entendi que eles estavam simplesmente a escolher o percurso mais fácil e directo para o local de objectivo das NT. Mas, seria mesmo isso?
Creio que estas dúvidas nunca chegarão a ter resposta. Só o inimigo de outrora as poderia tirar e esses, possivelmente, já nem estarão vivos.
________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Guiné 63/74 - P1657: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (41): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (3)
41ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado em 19 de Março de 2007.
Cartas de um militar além-mar em África para aquém em Portugal(3º e última parte)
por Beja Santos
Carta para o Paulo Simões da Costa
Meu estimado Paulo
Recebi a tua carta a caminho de Nampula. Espero que na secretaria tenhas uma existência agradável e nas horas vagas possas apreciar as beleza naturais, que me dizem ser assombrosas. O fotógrafo Luís Soares, que trabalhou com o meu pai, ofereceu-me uma fotografia da ilha de Moçambique que me deixou sem fala.
Por aqui vivemos um período de grandes dificuldades, a reconstruir Missirá, bem afectada por um ataque que incendiou metade das moranças civis. Felizmente que tem sido possível conciliar as obrigações inadiáveis dos nossos patrulhamentos diários com a reconstrução. Tenho muito orgulho nos meus soldados que prescindem férias e descanso.
Dentro em breve irá para Moçambique o Carlos Sampaio, seguramente mobilizado para um teatro de operações. Como tu gostas muito do Malraux (sobretudo o estudioso da arte) quero informar-te que vai seguir pelo correio um livrinho da colecção Miniatura, dos Livros do Brasil, que me surpreendeu pela alta qualidade literária, quando ele tinha a nossa idade. Tu vais ler diálogos imaginados entre um francês possídor de conhecimentos de obras chinesas que troca correspondência com um chinês, fascinado pela cultura ocidental.
Para te despertar a curiosidade, aqui vão algumas passagens. Escreve Ling: "O artista não é aquele que cria mas aquele que sente... o tempo para vós é aquuilo que fazeis dele e nós somos o que ele faz de nós". O correspondente francês procura sensibilizá-lo coma a ideia de nação, o sentido da alma ocidental, as fontes da vida imaginária e o génio europeu. O chinês contrapõe e esclarece a diferença que separa as duas sensibilidades: "Se sonhamos é apenas para pedir aos nossos sonhos a sabedoria que nos recusa a vida. O sonho do chinês não é povoado de imagens, ele não vê nem velhas conquistas nem a glória, mas a possibilidade de apreciar tudo com perfeição, de não se prender ao efémero".
Quando o francês procura esclarecer o chinês acerca das experiências artísticas, fazendo coincidir a história da Europa com a história da sua arte, ele responde: "Para o pensador do Extremo Oriente, o único conhecimento digno de ser adquirido é o do universo. O mundo é o resultado da oposição de dois ritmos que penetram todas as coisas existentes. O seu equlíbrio absoluto seria o nada; toda a criação procede da sua ruptura e implica necessariamente a diferença".
Dou comigo às vezes a pensar nestes labirintos silenciosos onde nos encontramos e ficamos em diálogo como amigos de longa data. Olha a curiosidade: a 11 de Abril de 67, almocei em minha casa com o Carlos Sampaio e a minha mãe. O Carlos levou-me à estação, entregou-me livros, prometemo mantermo-nos em contacto. A seguir apanho o comboio e conheci-te e aqui estamos. Desejo do coração que tudo corra bem contigo e que me ajudes nos momentos mais difíceis e me encorajes a resistir a esta dura canseira. Fica com muita estima.
Carta para José Carlos Megre
Meu caro Zé Carlos
Recebi a tua carta com a revista em que publicaste um poema meu. Tenho muitas saudades do tempo em que na Av da República, 84, 4º, confeccionávamos com o Pedro Roseta e o Barata Moura o nosso Encontro. Tu empurraste-me para as críticas de cinema e teatro, ensinaste-me as manhas para enganarmos a censura, deste-me a conhecer Mounier, aprendi contigo o que era o catolicismo de vanguarda e a importância de muitos títulos da Moraes Editora.
Não te quero deixar sem uma compensação. Imagina tu que antes de ir para a Guiné um amigo me ofereceu um livro da Simone Weil, autora que eu desconhecia, com uma temática extremamente arrojada: uma crente que está nos umbrais da fé, que se sente chamda por Cristo, mas que ainda não pode ultrapassar o silêncio. Vou mandar-te o livro, logo que ele esteja bem digerido. A Simone Weil, militante da Extrema Esquerda que por ser judia é forçada a abandonar a França e conhece exílios na América e em Londres, onde morre precocemente. O livro chama-se Attente de Dieu e é constituído por cartas que envia a um religioso. O que pasma é a sua extrema sinceridade, a sua força espiritual e o conhecimento do cristianismo. Ela aproxima-se da Igreja, mas está cheia de dúvidas.
Dou-te só dois pequenos exemplos da beleza desta escrita: "A infelicidade está verdadeiramente no centro do cristianismo. Amar a Deus ou amar o próximo passa pela infelicidade. Não podemos amar a Deus senão olhando a Cruz". E mais adiante: "No amor verdadeiro, não somos nós que amamos os infelizes em Deus, é Deus em nós que ama os infelizes. Quando estamos mergulhados na infelicidade, é Deus em nós que ama aqueles que nos querem bem". Aqui, neste ponto ermo, esta espera de Deus veio em meu auxílio. Espero que aprecies esta grande senhora que foi professora de filosofia e que quis combater na Guerra Civil de Espanha, uma agnóstica que um dia confessou: "Cristo desceu e tomou-me".
Zé Carlos, tomei a decisão de não voltar a publicar poemas, não sou poeta, o que escrevo é uma xaropada, há que ter respeito por quem paga jornais e revistas. Acresce que o que me vai na alma muitas vezes é tão doloroso que receio confundir a conjuntura com o sentimento definitivo. O que escrever vou guardar, sem quaisquer compromissos. Sempre que puderes, manda-me os jornais para eu ter saudades do ideal e da alegria com que colaborava no nosso jornal E escreve-me sempre pois um dia esta guerra vai acabar e tu vais ajudar-me a recomeçar. Obrigado por tudo.
Carta para Cristina Allen
Meu Adorado Amor
Chegaram ontem duas cartinhas tuas. Agradeço-te as visitas que fizeste ao Fodé e ao Paulo, isto quando estás a fazer frequências. Antes de falar do que tem aqui acontecido, quero dizer-te que o teu antigo professor de Expansão Portuguesa, o Teixeira da Mota, fez de mim seu ajudante para confirmar alguns dados. Penso que ele anda a preparar seja um livro acerca do Teixeira Pinto, seja sobre as guerras da pacificação da Guiné, assim que lhe disse que estava vivo o último filho do régulo Infali Soncó, logo me mandou uma bateria de perguntas acerca desse lendário guerreiro que derrotou o Teixeira Pinto nas guerras do Oio.
Recolhi o depoimento de Alage Soaré Soncó com o auxílio do Benjamim Lopes da Costa e do principe Samba, que dominam perfeitamente o mandinga. Não te vou prender com o relato destas peripécias, ele foi amado e condecorado pelas autoridades portuguesas que mais tarde traiu sem piedade. O que gostei mais no relato deste Alage Soncó foi uma história passada em 1915 em que o Governador, que na altura vivia em Bolama, então a capital, se deslocou aos regulados do Leste da Guiné, onde se deu um grave incidente.
Infali saiu de Sansão (aqui ao pé de Missirá) acompanhado por músicos em sinal de boas vindas. Foi tal a algazarra dos músicos e o avanço de uma multidão a correr para o séquito do Governador que um alferes, desconhecedor do significado daquela fanfarra, mandou disparar, dando origem ao cerco dos portugueses pela gente de Inafali.
Foi preso um alferes, dois sargentos e catorze praças, que ficaram reféns, enquanto o Governador se punha em fuga. Começaram as hostilidades e um pouco á semelhança do que se passa hoje, começaram os ataques do Geba. Entretanto, o alferes, que vivia perto aqui de nós, em Aldeia do Cuor, apaixonou-se por uma linda negra de nome Cumba Mané. Como numa ópera ou numa tragédia literária, assim que vieram resgatar o alferes, este suicidou-se, há quem diga por insanidade mental, há quem diga que por um grande amor pela Cumba, que ele não queria abandonar (2). O que aqui te escrevo, juro-te que me foi contado e transmiti ao Comandante Teixeira da Mota.
Informo-te que já chegaram camas, lençóis e fronhas para substituir tudo o que foi devorado pelo fogo. Como as obras se vão prolongar por mais um mês e meio, como as casas ainda estão em construção, não é possível viver de outra maneira de que atamancados nos abrigos, à espera de dias melhores.
Dois meninos meus amigos vieram visitar-me, o Mazaqueu e o Abudu Cassamá. Prometi-lhes material escolar e roupa nova no mercado de Bambadinca. Espero dentro de dias passar uma semana em Finete, a dar apoio ao novo Comandante, Bacari Soncó. Vamos fazer um telheiro para as mulheres do chefe de tabanca, instalações sanitárias e dois abrigos.
Como tu achas graça às trivialidades, segue-se mais uma . Através da confidencial 1704/01/69, o Batalhão de Engenharia mandou-nos uma agradável mensagem: "Motoserra segue hoje via barco. Fica como material carga". Um mês depois do ataque a Missirá chegam as malditas chuvas e imprevistos tornados. Tenho casas alagadas, o tecto da casa de Uam Sambu andou pelos ares e veio cair na parada.
Bambadinca informou-me ter dado apoio às propostas para condecoração de três bravos soldados, Cherno Suane, Mamadu Djau e Mamadu Camará. O Almeida e o pelotão 63, que estão em Bambadinca, passaram um mau bocado numa emboscada na zona do Xime, foi uma duríssima hora debaixo de fogo em que foi preciso a aviação vir tirar do apuro e mesmo assim teve três soldados estilhaçados com gravidade.
Deixo boas e más notícias para o fim. Chegou o Casanova que me entregou o Chopin interpretado por Samson François (prelúdios) e por Vladimir Ashkenazy (os dois concertos). Não sei como te hei-de agradecer bem como aos teus pais. Volto a andar sem dinheiro, já tenho idade para resistir a certos impulsos mas apareceu aqui o soldado Sadjo Seidi em pranto com as dívidas do pai que ameaça matar-se se não paga as dívidas e passei-lhe para as mãos os meus últimos 500 escudos...
E logo o Sadjo me perguntou se para o mês que vem lhe posso emprestar dinheiro para comprar nova mulher já que a primeira fugiu com o outro que vive na povoação de Geba. Como te recordas, palmaram-me 1500 escudos que deixara em cima da mesa, ainda não estou recomposto com a violência desta agressão e aproveitei para dizer aos soldados quando nos reunimos que há bandidos que nos queimam as casas e há outros que nos roubam sossegadamente dentro delas. Mudando de assunto, o Djaló Indjai escreveu-me, já está a restabelecer-se e vai contactar-te.
Estou a ler Espera de Deus de Simone Weil. Desculpa hoje não te falar da obra, tal o cansaço. Amanhã quem vai de manhã cedo a Mato de Cão é o Casanova, temos os cibes cortados e quero estar presente na montagem do forro dos abrigos, onde depois metemos cimento dentro e por cima da chapa zincada. Mas este livro tocou-me tão profundamente que resolvi escrevinhar um textinho que é só para ti:
Caminhada
Tu és a minha companhia da viagem.
Quando a minha memória se povoa de pássaros cegos,
quando uma melodia de sal me traz à lembrança o cerco destas bolanhas,
onde os lótus frutificam dentro da água de arroz, insensíveis aos vermes,
tu vens na confidência das línguas de fogo,
tu vences esta solidão que se evapora nos alto fornos
resgatando a esperança
que está imobilizada na estrada acima do rio
para onde vou partir a pensar em ti
e na tua coragem textual.
Tu és a minha companheira de viagem.
Por isso, antes de partir
falo silenciosamente no açude dos tímpanos
e quero que saibas: é fausto este amor, é um concerto polar
este amar.
Graças a ti, há todo o sentido em esquecer estes pingos da noite, conferindo direito de nos ocupares a sombra
neste gigante equatorial de matas que se sucedem,
aguardando a tua mensagem.
Tu és o sentido da caminhada.
Este textinho é um arremedo poético que não mostrarás a ninguém. Quanto à má notícia, as mulheres dos soldados e milícias foram até à fonte de Cancumba e quando estavam a espalhar a roupa a corar explodiu uma daquelas armadilhas que o Reis montou à volta. A mulher do soldado Dauda Seidi teve que ser evacuada com o peito todo estilhaçado. Vou trazer o Reis em breve, já não aguento estes sobressaltos. Desculpa, agora vou mesmo dormir. Recebe todo o meu amor e escreve-me depressa.
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. último post desta série > 30 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1637: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (40): Cartas de além-mar em África para aquém-mar em Portugal (2)
(2) Vd. post de 18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P1656: 2º encontro da nossa tertúlia, Pombal, 28 de Abril de 2007: lista de inscrições (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos)
Actualização da lista de inscritos para o nosso almoço de convívio, no Restaurante Manjar do Marquês, em Pombal, no dia 28 de Abril de 2007 (1)...
Como vêem, a mesa vai-se comendo. Já temos quase 6 dezenas de comensais, devendo-se ultrapassar assim o nº de presenças do nosso primeiro encontro, na Herdade da Ameira, Ameira, Montemor-o-Novo (2)
Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida: A ou B) (1)
A. GRAÇA DE ABREU (1A)
A. MARQUES LOPES (3B)
ALBANO COSTA (1A)
ANTÓNIO BAIA (2B)
ANTÓNIO DUARTE (1A ou B)
ANTÓNIO FIGUEIREDO PINTO (2A)
ANTÓNIO SANTOS (2B)
BENJAMIM DURÃES (1B)
CARLOS MARQUES SANTOS (2B)
CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)
CARLOS VINHAL (2B)
CONSTANTINO (ou TINO) NEVES (2A ou B)
DAVID GUIMARÃES (2B)
FERNANDO CHAPOUTO (2B)
FERNANDO FRANCO (2B)
HÉLDER SOUSA (*)
HUGO MOURA FERREIRA (2A ou B)
HUMBERTO REIS (2A)
IDÁLIO REIS (1A)
J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)
JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)
JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)
JOSÉ BASTOS (1A)
JOSÉ CASIMIRO CARVALHO (1A ou B)
JOSÉ GANCHO (2B)
JOSÉ M. MARTINS (2A)
LUÍS GRAÇA (2A)
LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)
MANUEL LEMA SANTOS (2B)
MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)
PAULO SANTIAGO (2A ou B)
RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)
SOUSA DE CASTRO (2A)
VIRGÍNIO A. BRIOTE (2A)
VITOR BARATA (2A ou B)
VITOR TAVARES (1A ou B)
VITOR BARATA (1A ou B)
(*) Dados a completar.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)
10 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1650: Tod@s a Pombal, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos / Luís Graça)
(2) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será em Pombal (Luís Graça)
Como vêem, a mesa vai-se comendo. Já temos quase 6 dezenas de comensais, devendo-se ultrapassar assim o nº de presenças do nosso primeiro encontro, na Herdade da Ameira, Ameira, Montemor-o-Novo (2)
Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida: A ou B) (1)
A. GRAÇA DE ABREU (1A)
A. MARQUES LOPES (3B)
ALBANO COSTA (1A)
ANTÓNIO BAIA (2B)
ANTÓNIO DUARTE (1A ou B)
ANTÓNIO FIGUEIREDO PINTO (2A)
ANTÓNIO SANTOS (2B)
BENJAMIM DURÃES (1B)
CARLOS MARQUES SANTOS (2B)
CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)
CARLOS VINHAL (2B)
CONSTANTINO (ou TINO) NEVES (2A ou B)
DAVID GUIMARÃES (2B)
FERNANDO CHAPOUTO (2B)
FERNANDO FRANCO (2B)
HÉLDER SOUSA (*)
HUGO MOURA FERREIRA (2A ou B)
HUMBERTO REIS (2A)
IDÁLIO REIS (1A)
J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)
JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)
JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)
JOSÉ BASTOS (1A)
JOSÉ CASIMIRO CARVALHO (1A ou B)
JOSÉ GANCHO (2B)
JOSÉ M. MARTINS (2A)
LUÍS GRAÇA (2A)
LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)
MANUEL LEMA SANTOS (2B)
MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)
PAULO SANTIAGO (2A ou B)
RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)
SOUSA DE CASTRO (2A)
VIRGÍNIO A. BRIOTE (2A)
VITOR BARATA (2A ou B)
VITOR TAVARES (1A ou B)
VITOR BARATA (1A ou B)
(*) Dados a completar.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)
10 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1650: Tod@s a Pombal, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos / Luís Graça)
(2) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será em Pombal (Luís Graça)
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Guiné 63/74 - P1655: Tabanca Grande (6): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil Trms (Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > O Furriel Miliciano de Transmissões Almeida, que acaba de pedir a sua adesão à nossa tertúlia. Privou com a malta da CCAÇ 12 desde meados de 1970 a Março de 1971.
Foto actual do José Armando Ferreira Almeida, o ex-Fur Mil Trms da CCS do BART 2917 (1970/72), 60 anos, aposentado da PT, onde trabalhou na Direcção de Aveiro, na área da Gestão de Recursos Humanos. Casado, com uma filha, reside em Albergaria-A-Velha (1).
Fotos: © José Armando (2007). Direitos reservados.
Mensagem do José Armando (Almeida), com data de 4 de Abril de 2007:
Amigo e Camarada Luís Graça (Henriques):
Desde há algum tempo, tenho vindo a seguir com profundo interesse e emoção o que vai sendo escrito e documentado neste espaço de opinião e partilha, num verdadeiro espírito de sã camaradagem e amizade.
Para ti, desde já, os meus agradecimentos e admiração pela iniciativa que em devido tempo felizmente promoveste e em que continuas esforçadamente empenhado, agora com a colaboração dos restantes tertulianos.
Pois também eu, ex-Fur Mil de Transmissões Almeida, da CCS/BART 2917 (1), que partilhei contigo, então Henriques, e com o Levezinho, o Reis, o Moreira, o Rodrigues, o Fernandes, o Branquinho, para só falar de alguns da CCAÇ 12, do mesmo espaço em Bambadinca, gostaria de ser admitido na Tertúlia, agora também com a certeza - e já não só uma esperança - de poder voltar a reencontrar, se não todos, pelo menos alguns dos velhos - de mais de 35 anos - camaradas e amigos.
Teremos, certamente, oportunidade noutras ocasiões para falar de alguns aspectos mais particulares. De qualquer modo, aí vão alguns, à laia de curriculum:
Já estou aposentado da PT, onde trabalhei na Direcção de Aveiro - é verdade, já fiz 60 anos !... fui responsável na área dos Recursos Humanos, sou casado e tenho uma filha, já licenciada em Design.
E por agora, fiquemos por aqui que a prosa já vai adiantada!
Até breve, e um abraço amigo para todos os camaradas tertulianos do
Zé Armando (Almeida)
Comentário de L.G.:
Almeida: Reconheci-te logo pela foto, apesar de tantos anos já passados. É uma alegria ver-se alargar o círculo de camaradas de Bambadinca. Da tua CCS só cá tínhamos, até agora, o Luís Moreira - o vosso alferes miliciano sapador, ferido em mina anticarro, à saída de Nhabijões, a 13 de Janeiro de 1971, e evacuado para Bissau - (2), o Benjamim Durães (3) e o Abílio Machado (4), para além do David Guimarães (que pertencia à CART 2716, sedeada no Xitole, e que é um dos camaradas mais antigos desta terúlia).
Pois muito bem, faz como dantes, na nossa saudosa messe e bar de sargentos em Bambadinca: entra, acomoda-te e... paga um copo à gente! O mesmo é dizer, que fico/ficamos à espera das tuas estórias.
Um grande abraço do... Henriques.
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de
15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1527: Lista de ex-militares da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas (Benjamim Durães)
1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1556: 1º Convívio da CCS do BART 2917: Setúbal, 9 de Junho de 2007 (Benjamim Durães)
(2) Vd. posts de:
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)
(3) Vd. post de 21 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1618: Tertúlia: Benjamim Durães, ex-furriel mil da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)
(4) 29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel
"Na região de Forreá e nas imediações do rio Balana, uma grande coluna provinda de Guileje havia de parar, desfazer-se das suas cargas, para desde logo se dar início aos trabalhos de construção do aquartelamento de Gandembel"...
Foto 206 > "Tanto trabalho por realizar, com pás, picaretas e outros artefactos manuais, criando calos nas mãos, que por vezes sangravam" (IR)
"Urgia arranjar uns abrigos (tocas escavadas), que nos garantisse alguma segurança, mesmo diminuta, durante o período da construção das casernas-abrigo"... Foto 205 > "A parte das escavações, em que os utensílios manuais, por vezes eram arrojados para o chão, para serem substituídos pelas armas" (IR)...
"Outras infra-estruturas, as mais essenciais e vitais, surgiram no imediato, tais como o posto-rádio e a cozinha; estes, foram sendo melhorados no delongar do tempo"...
Foto 204 > "A cozinha, quedou-se naquele local. Teve que levar um telhado em chapa, para a abrigar das inclemências das chuvas. Mas a qualidade dos alimentos postos à sua mercê foi, em grandes períodos, manifestamente má" (IR)...
Foto 203 > "O posto-rádio tornou-se uma infra-estrutura bem consolidada; desde cedo, constatou-se que a vida em Gandembel seria impossível, sem um funcional centro de transmissões" )(IR)...
Foto 202 > "Uma das primeiras prioridades, consistiu na limpeza de duas pequenas áreas, de molde a colocar uma tenda para servir de posto de enfermagem e também onde o helicóptero pudesse aterrar" (IR)...
Foto 201 > "De um lado, um monte de baga-baga à espera de uma picareta para o destruir, e tantas árvores para derrubar numa imensa zona para limpar" (IR)
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Instalação e início da construção do aquartelameto de Gandembel.
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
III Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 11 de Fevereiro de 2007.
Meu caro Luís
Após ter exercido o meu direito cívico, estive o resto da tarde, à volta desta narrativa. E também contribuiu para contactar com alguns, saber-lhes das suas vidas e saúde. Infelizmente, tive a notícia que o coração arredou mais um do nosso seio. E estas notícias custam!
Seguem mais 2 capítulos, de 4 sobre Gandembel/Ponte Balana.
Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.
Parte III - Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel
por Idálio Reis (Subtítulos do editor do blogue)
Resumo: Em Gandembel, vinga a insensatez, a obrigarem-nos a penar um inextinguível tempo de arrastados sacrifícios. Do período mediado entre o início da construção do aquartelamento e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio.(Ganembel/Balana, Parte Ia/IV)
O dia 8 de Abril de 1968 alvoreceu para um conjunto de homens inquietamente sós, desunidos de um futuro confiante, porque, por mais que se procurasse predizer, não lhes era possível reconhecer se se podia atingir. Um imenso manto de silêncio ali estava especado, com secretas sombras negras a envolver-nos.
Restava-nos apenas um singelo e frágil elo de ligação, com o presente a reclamar esperança, ainda que tão ténue e falível.
No chão do PAIGC....
Tudo estava pronto para se tomar rumo por uma estrada, onde as NT já lá não passavam há um ror de meses (desde quando?), por força do maior poder bélico que o PAIGC mantinha na zona.
A coluna partiu, e foi fácil atingir o cruzamento de Guileje. Aqui, virou-se à esquerda, e entrou-se numa estrada como tantas outras, em terra batida, a romper adentro de uma densa floresta.
A vegetação arbustiva já tinha começado a assenhorear-se do seu assento, e muitas árvores estavam tombadas, a dificultar o andamento da longa coluna. De quando em vez, encostadas sobre as bermas, jazendo no local de abandono, apareciam torcidos os destroços de viaturas carcomidos pela voragem do tempo.
Desde esse cruzamento, tão cruel para a Companhia ainda há dias, o avanço processou-se vagarosamente, com muitas paragens de permeio. E desde cedo, o Sol começou a lançar os seus inclementes raios, que nos começava a entorpecer os movimentos e a ressecar as gargantas, onde a preciosidade da pouca água que ia minguando no cantil, era de uma premente tentação a preservar para saciar uma outra secura, a sorver aquando da desidratação que proviesse do arfar do cansaço.
Apesar desta agonia, ao entardecer, sem grandes incidentes a registar, a coluna chegava junto ao corredor de Guileje, nas imediações do rio Bundo Boro, onde bivacou numa nesga de terreno que apresentava uma clareira mais rala, e onde o grande número de viaturas se dispôs em formato circular, cada uma guardada por pequenos grupos de militares.
Abatia-se sobre todos nós uma tensa e suspeita inquietação, e uma extenuante fadiga que se tinha apoderado facilmente, impelia-nos ao descanso. Se alguma ração se abriu, foi a boca sedenta a buscar algum líquido, embora na coluna viesse uma grande cisterna com água, a mesma que trouxéramos de Cacine; todavia, vinha fortemente defendida para ninguém ousar fazer abuso, e por isso até houve o cuidado de a colocar numa defendida posição de salvaguarda.
E parece que os homens do PAIGC deixaram assentar com toda a quietude este grande efectivo humano, serenamente, para amainar da canseira da jornada.
As boas-vindas do IN...
Fez-se então noite, e tudo se preparou para o próximo dia, encontrando cada um a melhor forma de fruir algum possível repouso, não descurando os que haviam de manter a indispensável vigília.
Amargamente, esta doce sensação de paz e tranquilidade, teve uma duração pouco mais que efémera. Num relance, um imenso tiroteio desencadeia-se, como resultado dos disparos de metralhadoras ligeiras até às fortes detonações das granadas de morteiros e de rockets, com uma repetição de acções quase consecutivamente.
Como tudo era escuro como breu, os estampidos dos projécteis indicavam-nos para nossa satisfação, que não atingiam o seu destino. Contudo, já na visibilidade da alvorada, os seus impactos cada vez mais se aproximavam, o que nos atemorizou ao ponto de muitos de nós ter que rastejar sob as viaturas à procura de um eventual refúgio mais seguro. Cruciantes momentos de arrepiar!
Felizmente que não houve agravos para o pessoal ou para o material. Os homens que guardavam a cisterna também se vieram a assustar, perderam o seu controlo, o que serviu para muitos, em sofreguidão, preferirem encher os cantis, enquanto os silvos estalavam na periferia...
Tudo me leva a crer que foi este imenso tiroteio que determinou a que a coluna se refizesse e avançasse mais cerca de meia dúzia de quilómetros para norte, em busca de uma linha de água que nos viesse a proporcionar o fornecimento desse elemento tão vital, e que, dado o adiantado da época seca, se tornava um bem bastante escasso.
O início de Gandembel/Ponte Balana
E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.
Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada — a CART 1689 —, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.
Mas antes do mais, houve que proceder à limpeza arbórea da zona, onde a única ferramenta mecânica — a moto-serra —, nos propiciou uma ajuda preciosa. Não foi assim, mestre-soldado Horácio Almeida?, tu que desde criança, tens tido uma vida mancomunada com a floresta.
Tratou-se de uma tarefa bastante penosa, de uma luta travada sem tréguas contra o tempo que se esvaía, porquanto muito repentinamente tomámos plena consciência que potestades infernais tinham desabado sobre as nossas cabeças. Para tentar impedir ou minorar o absurdo das desgraças, mesmo dos desalentos, prestes a acontecerem a todo e qualquer momento, havia que arranjar forças em suficiência, sacadas aos recônditos de cada um de nós, dispostas a sobrepujar tais contrariedades.
Cada grupo de combate teve que arranjar num espaço de tempo de pouco mais de uma semana, e distanciados a cerca de uma dezena de metros, 2 buracos rectangulares escavados a uma profundidade da ordem do 1,5 metros, que depois foram cobertos por troncos de árvores justapostos, atapetados por chapas de latão aplainadas dos bidões, com um recoberto final de terra. Havia uma única entrada, que servia também de posto de sentinela.
9 de Maio: inauguração da luz eléctrica
A vivência nestes abrigos durou cerca de um mês, precisamente até 9 de Maio, que corresponde à inauguração da luz eléctrica, e que pelo simbolismo da data representa um forte «ronco», e que desejo que seja de marca maior, para lhe dar a primazia para o primeiro excerto a focar sobre Gandembel/Ponte Balana.
Este acontecimento correspondia à maior façanha atingida até então, pois se outrora as noites eram guiadas pela audição e cheiros, propiciava-se desde agora a ter luminosidade externa, que correspondia à visão alcançar para além das trevas. Aclaravam-se alguns dos negrumes, que impiedosamente se vinham abatendo sobre Gandembel.
Sentíamo-nos mais defendidos, uma vez que as noites sem luz eram aterradoras, em que o ecoar do mínimo ruído correspondia quase sempre a um constante tiroteio, e as noites sobre noites eram passadas em constante sobressalto, ante o sibilo das G3 em acção, a que se juntavam os estouros das flagelações inimigas que iam recrudescendo.
E o sossego dos corpos, tão fundamental, ia-se passivamente desestruturando. E tornava-se tão crucial manter elevado e coeso o moral desta tropa sempre briosa e intrépida. E era fundamental enfrentar as adversas agruras, com muita coragem, sem nos deixarmos abater.
A qualidade de vida que se nos deparou nestes abrigos, é de uma extrema precariedade, dada a crueldade das situações em presença, violentas e severas, desde o calor que se fazia sentir pelo efeito estufa resultante de um espaço quase nulo, os colchões de borracha que ao fim de poucos dias acabaram todos furados, os cheiros fétidos de corpos sujos de pó e bafientos do meio envolvente.
A Gandembel das morteiradas...
Havia também o reconhecimento que o grau de segurança minimamente necessário, era muito pouco fiável, em especial para as largas centenas de morteiradas que rebentavam sobre aquela zona. Felizmente que nenhuma granada explodiu sobre o coberto de qualquer destes abrigos.
Mas a situação mais angustiante para nós, era a audição das saídas das granadas de morteiros sem antevermos onde viriam a cair e deflagrar; parece que o record, como me afirmou há pouco tempo o Carlos Alentejano, foi de 32 (trinta e duas). Mais de uma trintena de granadas de grande potência, a curvar nos ares, para tombarem aqui ou além (onde?).
Durante o movimento imprevisível destes projécteis, ficávamos naqueles breves instantes, suspensos de uma qualquer intercessão, num silêncio persistentemente surdo, de ansiedade e expectativa. Eram momentos de um pavor incontrolável, em que se tremia de susto.
Foram empolgantes desafios de vida, estes consecutivos dias de escravatura, que se prolongariam principalmente até ao aquartelamento declarar algum estatuto de forma definitiva, e que impuseram um gigantesco esforço braçal quase constante, pois houve que proceder à execução das seguintes tarefas prioritárias:
— abertura de latrinas, e sua preservação com os mínimos requisitos de alguma salubridade;
— limpeza de uma área que possibilitasse uma descida rápida de um helicóptero, essa máquina voadora tão fundamental nas emergências;
— construção de abrigos de consistência bastante sólida, para a implantação do posto rádio e do comandante da Companhia;
— criação de um posto de primeiros socorros;
— arranjo de uma cozinha e de um forno para cozer pão;
— construção de abrigos consolidados, para servirem de paiol ou de defesa para localização dos obuses e de metralhadoras;
— arranjo dos abrigos definitivos, de execução mais demorada, a obrigar a um conjunto consecutivo de trabalhos específicos;
— limpeza de um vasto perímetro circundante ao arame farpado, a fim de poder manter um grau de visibilidade de algum alcance;
— ida à água que o Balana poderia fornecer; enquanto o período das chuvas não chegou, buscava-se ao longo do leito e que era uma tarefa a requerer sempre o maior cuidado, pois desde logo se começou a notar a utilização de minas e armadilhas.
(Continua > Ib/IV)
____________
Nota de L.G.
(1) Vd. posts anteriores:
Foto 206 > "Tanto trabalho por realizar, com pás, picaretas e outros artefactos manuais, criando calos nas mãos, que por vezes sangravam" (IR)
"Urgia arranjar uns abrigos (tocas escavadas), que nos garantisse alguma segurança, mesmo diminuta, durante o período da construção das casernas-abrigo"... Foto 205 > "A parte das escavações, em que os utensílios manuais, por vezes eram arrojados para o chão, para serem substituídos pelas armas" (IR)...
"Outras infra-estruturas, as mais essenciais e vitais, surgiram no imediato, tais como o posto-rádio e a cozinha; estes, foram sendo melhorados no delongar do tempo"...
Foto 204 > "A cozinha, quedou-se naquele local. Teve que levar um telhado em chapa, para a abrigar das inclemências das chuvas. Mas a qualidade dos alimentos postos à sua mercê foi, em grandes períodos, manifestamente má" (IR)...
Foto 203 > "O posto-rádio tornou-se uma infra-estrutura bem consolidada; desde cedo, constatou-se que a vida em Gandembel seria impossível, sem um funcional centro de transmissões" )(IR)...
Foto 202 > "Uma das primeiras prioridades, consistiu na limpeza de duas pequenas áreas, de molde a colocar uma tenda para servir de posto de enfermagem e também onde o helicóptero pudesse aterrar" (IR)...
Foto 201 > "De um lado, um monte de baga-baga à espera de uma picareta para o destruir, e tantas árvores para derrubar numa imensa zona para limpar" (IR)
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Instalação e início da construção do aquartelameto de Gandembel.
Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.
III Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 11 de Fevereiro de 2007.
Meu caro Luís
Após ter exercido o meu direito cívico, estive o resto da tarde, à volta desta narrativa. E também contribuiu para contactar com alguns, saber-lhes das suas vidas e saúde. Infelizmente, tive a notícia que o coração arredou mais um do nosso seio. E estas notícias custam!
Seguem mais 2 capítulos, de 4 sobre Gandembel/Ponte Balana.
Até breve. Um cordial abraço do Idálio Reis.
Parte III - Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel
por Idálio Reis (Subtítulos do editor do blogue)
Resumo: Em Gandembel, vinga a insensatez, a obrigarem-nos a penar um inextinguível tempo de arrastados sacrifícios. Do período mediado entre o início da construção do aquartelamento e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio.(Ganembel/Balana, Parte Ia/IV)
O dia 8 de Abril de 1968 alvoreceu para um conjunto de homens inquietamente sós, desunidos de um futuro confiante, porque, por mais que se procurasse predizer, não lhes era possível reconhecer se se podia atingir. Um imenso manto de silêncio ali estava especado, com secretas sombras negras a envolver-nos.
Restava-nos apenas um singelo e frágil elo de ligação, com o presente a reclamar esperança, ainda que tão ténue e falível.
No chão do PAIGC....
Tudo estava pronto para se tomar rumo por uma estrada, onde as NT já lá não passavam há um ror de meses (desde quando?), por força do maior poder bélico que o PAIGC mantinha na zona.
A coluna partiu, e foi fácil atingir o cruzamento de Guileje. Aqui, virou-se à esquerda, e entrou-se numa estrada como tantas outras, em terra batida, a romper adentro de uma densa floresta.
A vegetação arbustiva já tinha começado a assenhorear-se do seu assento, e muitas árvores estavam tombadas, a dificultar o andamento da longa coluna. De quando em vez, encostadas sobre as bermas, jazendo no local de abandono, apareciam torcidos os destroços de viaturas carcomidos pela voragem do tempo.
Desde esse cruzamento, tão cruel para a Companhia ainda há dias, o avanço processou-se vagarosamente, com muitas paragens de permeio. E desde cedo, o Sol começou a lançar os seus inclementes raios, que nos começava a entorpecer os movimentos e a ressecar as gargantas, onde a preciosidade da pouca água que ia minguando no cantil, era de uma premente tentação a preservar para saciar uma outra secura, a sorver aquando da desidratação que proviesse do arfar do cansaço.
Apesar desta agonia, ao entardecer, sem grandes incidentes a registar, a coluna chegava junto ao corredor de Guileje, nas imediações do rio Bundo Boro, onde bivacou numa nesga de terreno que apresentava uma clareira mais rala, e onde o grande número de viaturas se dispôs em formato circular, cada uma guardada por pequenos grupos de militares.
Abatia-se sobre todos nós uma tensa e suspeita inquietação, e uma extenuante fadiga que se tinha apoderado facilmente, impelia-nos ao descanso. Se alguma ração se abriu, foi a boca sedenta a buscar algum líquido, embora na coluna viesse uma grande cisterna com água, a mesma que trouxéramos de Cacine; todavia, vinha fortemente defendida para ninguém ousar fazer abuso, e por isso até houve o cuidado de a colocar numa defendida posição de salvaguarda.
E parece que os homens do PAIGC deixaram assentar com toda a quietude este grande efectivo humano, serenamente, para amainar da canseira da jornada.
As boas-vindas do IN...
Fez-se então noite, e tudo se preparou para o próximo dia, encontrando cada um a melhor forma de fruir algum possível repouso, não descurando os que haviam de manter a indispensável vigília.
Amargamente, esta doce sensação de paz e tranquilidade, teve uma duração pouco mais que efémera. Num relance, um imenso tiroteio desencadeia-se, como resultado dos disparos de metralhadoras ligeiras até às fortes detonações das granadas de morteiros e de rockets, com uma repetição de acções quase consecutivamente.
Como tudo era escuro como breu, os estampidos dos projécteis indicavam-nos para nossa satisfação, que não atingiam o seu destino. Contudo, já na visibilidade da alvorada, os seus impactos cada vez mais se aproximavam, o que nos atemorizou ao ponto de muitos de nós ter que rastejar sob as viaturas à procura de um eventual refúgio mais seguro. Cruciantes momentos de arrepiar!
Felizmente que não houve agravos para o pessoal ou para o material. Os homens que guardavam a cisterna também se vieram a assustar, perderam o seu controlo, o que serviu para muitos, em sofreguidão, preferirem encher os cantis, enquanto os silvos estalavam na periferia...
Tudo me leva a crer que foi este imenso tiroteio que determinou a que a coluna se refizesse e avançasse mais cerca de meia dúzia de quilómetros para norte, em busca de uma linha de água que nos viesse a proporcionar o fornecimento desse elemento tão vital, e que, dado o adiantado da época seca, se tornava um bem bastante escasso.
O início de Gandembel/Ponte Balana
E por via disso, na superior linha de festo do rio Balana, nos viemos a quedar nessa manhã, para de imediato dar início à odisseia que representou a construção de um posto militar fixo, que se viria a chamar Gandembel e mais tarde a uma anexa afastada apenas de poucas centenas de metros, de nome Ponte Balana.
Sob a vigilância directa de uma tropa já bastante mais experimentada — a CART 1689 —, que já reconhecera o local antecipadamente, e que teve uma acção extraordinária durante a permanência que teve connosco até à sua retirada a 15 de Maio, e que é de elementar justiça salientar o papel relevante que sempre demonstrou, começámos a arranjar as nossas guaridas colectivas, autênticos abrigos-toupeira, que nos ofertassem uma maior segurança pessoal durante o tempo de construção dos abrigos definitivos.
Mas antes do mais, houve que proceder à limpeza arbórea da zona, onde a única ferramenta mecânica — a moto-serra —, nos propiciou uma ajuda preciosa. Não foi assim, mestre-soldado Horácio Almeida?, tu que desde criança, tens tido uma vida mancomunada com a floresta.
Tratou-se de uma tarefa bastante penosa, de uma luta travada sem tréguas contra o tempo que se esvaía, porquanto muito repentinamente tomámos plena consciência que potestades infernais tinham desabado sobre as nossas cabeças. Para tentar impedir ou minorar o absurdo das desgraças, mesmo dos desalentos, prestes a acontecerem a todo e qualquer momento, havia que arranjar forças em suficiência, sacadas aos recônditos de cada um de nós, dispostas a sobrepujar tais contrariedades.
Cada grupo de combate teve que arranjar num espaço de tempo de pouco mais de uma semana, e distanciados a cerca de uma dezena de metros, 2 buracos rectangulares escavados a uma profundidade da ordem do 1,5 metros, que depois foram cobertos por troncos de árvores justapostos, atapetados por chapas de latão aplainadas dos bidões, com um recoberto final de terra. Havia uma única entrada, que servia também de posto de sentinela.
9 de Maio: inauguração da luz eléctrica
A vivência nestes abrigos durou cerca de um mês, precisamente até 9 de Maio, que corresponde à inauguração da luz eléctrica, e que pelo simbolismo da data representa um forte «ronco», e que desejo que seja de marca maior, para lhe dar a primazia para o primeiro excerto a focar sobre Gandembel/Ponte Balana.
Este acontecimento correspondia à maior façanha atingida até então, pois se outrora as noites eram guiadas pela audição e cheiros, propiciava-se desde agora a ter luminosidade externa, que correspondia à visão alcançar para além das trevas. Aclaravam-se alguns dos negrumes, que impiedosamente se vinham abatendo sobre Gandembel.
Sentíamo-nos mais defendidos, uma vez que as noites sem luz eram aterradoras, em que o ecoar do mínimo ruído correspondia quase sempre a um constante tiroteio, e as noites sobre noites eram passadas em constante sobressalto, ante o sibilo das G3 em acção, a que se juntavam os estouros das flagelações inimigas que iam recrudescendo.
E o sossego dos corpos, tão fundamental, ia-se passivamente desestruturando. E tornava-se tão crucial manter elevado e coeso o moral desta tropa sempre briosa e intrépida. E era fundamental enfrentar as adversas agruras, com muita coragem, sem nos deixarmos abater.
A qualidade de vida que se nos deparou nestes abrigos, é de uma extrema precariedade, dada a crueldade das situações em presença, violentas e severas, desde o calor que se fazia sentir pelo efeito estufa resultante de um espaço quase nulo, os colchões de borracha que ao fim de poucos dias acabaram todos furados, os cheiros fétidos de corpos sujos de pó e bafientos do meio envolvente.
A Gandembel das morteiradas...
Havia também o reconhecimento que o grau de segurança minimamente necessário, era muito pouco fiável, em especial para as largas centenas de morteiradas que rebentavam sobre aquela zona. Felizmente que nenhuma granada explodiu sobre o coberto de qualquer destes abrigos.
Mas a situação mais angustiante para nós, era a audição das saídas das granadas de morteiros sem antevermos onde viriam a cair e deflagrar; parece que o record, como me afirmou há pouco tempo o Carlos Alentejano, foi de 32 (trinta e duas). Mais de uma trintena de granadas de grande potência, a curvar nos ares, para tombarem aqui ou além (onde?).
Durante o movimento imprevisível destes projécteis, ficávamos naqueles breves instantes, suspensos de uma qualquer intercessão, num silêncio persistentemente surdo, de ansiedade e expectativa. Eram momentos de um pavor incontrolável, em que se tremia de susto.
Foram empolgantes desafios de vida, estes consecutivos dias de escravatura, que se prolongariam principalmente até ao aquartelamento declarar algum estatuto de forma definitiva, e que impuseram um gigantesco esforço braçal quase constante, pois houve que proceder à execução das seguintes tarefas prioritárias:
— abertura de latrinas, e sua preservação com os mínimos requisitos de alguma salubridade;
— limpeza de uma área que possibilitasse uma descida rápida de um helicóptero, essa máquina voadora tão fundamental nas emergências;
— construção de abrigos de consistência bastante sólida, para a implantação do posto rádio e do comandante da Companhia;
— criação de um posto de primeiros socorros;
— arranjo de uma cozinha e de um forno para cozer pão;
— construção de abrigos consolidados, para servirem de paiol ou de defesa para localização dos obuses e de metralhadoras;
— arranjo dos abrigos definitivos, de execução mais demorada, a obrigar a um conjunto consecutivo de trabalhos específicos;
— limpeza de um vasto perímetro circundante ao arame farpado, a fim de poder manter um grau de visibilidade de algum alcance;
— ida à água que o Balana poderia fornecer; enquanto o período das chuvas não chegou, buscava-se ao longo do leito e que era uma tarefa a requerer sempre o maior cuidado, pois desde logo se começou a notar a utilização de minas e armadilhas.
(Continua > Ib/IV)
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Nota de L.G.
(1) Vd. posts anteriores:
Guiné 63/74 - P1653: Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos (Paulo Santiago) (8): A pontaria dos artilheiros de Aldeia Formosa
Guiné-Bissau > Saltinho > Contabane > Fevereiro de 2005 > "Foto Tirada no antigo reordenamento de Contabane, hoje Sinchã Sambel. De roupa verde está a viúva do Régulo Sambel, mãe do actual Régulo Suleimane, ex-cabo do Pel Caç Nat 53. Foto tirada pelo meu filho João em Fevereiro de 2005.O Suleimane estava em Portugal, nesta data" (PS).
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Saltinho > Contabane > Pel Caç Nat 53 > 1972 > "Foto tirada quando, após tensas relações com o Lourenço (o Capitão-Proveta) (1) fui viver para Contabane. Junto encontra-se um canhão s/r 82B-10 de origem russa. Primeiramente
esta arma encontrava-se no quartel do Saltinho, tendo transitado para aquele reordenamento, após a sua construção. No quartel seria ineficaz, visto Contabane ficar no enfiamento, do outro lado do Corubal, indo na direcção da picada para Aldeia Formosa" (PS)
Fotos: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados.
VIII Parte das memórias do Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho , 1970/72). O Paulo é natural de Águeda.
Em Abril de 71, apesar de algumas casas já prontas e ocupadas, continuava-se com a
construção do Reordenamento de Contabane.
Um fim de tarde, o Cap Clemente [, comandante da CCAÇ 2701, unidade de quadrícula do Saltinho 1970/72] chamou-me, informando-me, de seguida, ter sido recebida uma informação de grau A2 (penso ser esta a designação), prevendo um ataque ao referido Reordenamento. Uma informação com aquela classificação teria quase 90% de possibilidade de ser infalível. Havia que tomar providências, para fazer face ao previsível ataque.
Logo no início da construção tinha sido aberta uma vala de defesa. Era essa vala que deveria ser ocupada, de imediato, pelo Pel Caç Nat 53, reforçado com duas secções de um dos pelotões da CCAÇ 2701.
Assim se procedeu e, ao escurecer, estava o pessoal instalado ao longo da vala. A frente e parte lateral do Reordenamento, de onde poderia vir ataque , estava fortemente minada e armadilhada. Havia, contudo, a antiga picada em direcção a Aldeia Formosa, que por ser utilizada pelos djilas [,vendedores ambulantes, de etnia futa-fula], não se encontrava armadilhada, apenas ao anoitecer, se colocava uma granada com arame de tropeçar, perto do arame farpado, distante uns cinquenta metros da vala. O IN poderia perfeitamente utilizar aquela via, era um dos pontos fulcrais a ter em atenção e vigilância.
A tensão era elevada. O Clemente tinha-me informado que iria, entre as 18,30 e as
19,00 horas, bater a zona com o morteiro 10.7, existente no quartel do Saltinho, o que não me levantava problemas, meses atrás tinham sido bem marcados os pontos de tiro, com auxílio de um heli.
Seriam perto das 19,00 horas, ouvem-se, pareceu ali muito perto, três saídas quase
simultâneas. Cornos dentro da vala, os assobios a passar e três fortíssimas explosões logo à frente do arame farpado. Levanta-se a cabeça, mas volta-se a afocinhar, repetem-se mais três saídas e mais três explosões, ali muito perto, e ouve-se o barulho produzido por algumas chapas de zinco das casas, quando atingidas por estilhaços e arrancadas dos cibos onde estavam pregadas.
Porra para esta merda! Isto não é o 10.7, mas... serão morteiradas do IN ? Ligo através do AVP 1 para o quartel, donde me informam que a zona está a ser batida pelos obuses 14 de Aldeia Formosa e para o pessoal se manter calmo e protegido. Passo palavra a avisar da informação dada. Ainda houve mais uma meia dúzia de rebentamentos da Artilharia.
O Cap Clemente não me tinha falado nesta hipótese dos obuses, daí a nossa apreensão e cagunfa inicial. Aquelas bojardas, à nossa beira, metiam respeito.
Na manhã do dia seguinte, feito um patrulhamento, nas redondezas, não se encontraram vestígios de presença do IN, encontraram-se foi dentro do Reordenamento alguns
estilhaços, bem grandes, de granadas de obus, alguns dos quais tinham lixado paredes e chapas de várias casas.
Após esta cobertura de fogo amigo fiquei com duas certezas:
(i) Os gaijos da Artilharia eram certeiros. Enfiaram as ameixas nos locais pedidos, via rádio, do quartel do Saltinho.
(ii) Dificilmente o Reordenamento de Contabane seria flagelado pelo PAIGC, após esta demonstração de fogo. Poderia haver era um ataque ao arame, que tornava complicado, senão impossível, responder com a Artilharia.
____________
Notas de L.G.:
(1) Referência ao Capitão da CCAÇ 3490 (Saltinho), pertencente ao BCAÇ 3871 (Galomaro, 1971/74). Vd. posts de:
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P985: CCAÇ 3490 (Saltinho), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
(2) Vd. posts anteriores:
5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1564: Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos (Paulo Santiago) (7): Fogo no capinzal
13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)
4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha
13 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1275: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (4): tropa-macaca, com três cruzes de guerra
19 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1192: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (3): De prevenção por causa da invasão de Conacri
13 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1170: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (2) : nhac nhac nhac nhac ou um teste de liderança
12 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1168: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (1): Periquito gozado
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Saltinho > Contabane > Pel Caç Nat 53 > 1972 > "Foto tirada quando, após tensas relações com o Lourenço (o Capitão-Proveta) (1) fui viver para Contabane. Junto encontra-se um canhão s/r 82B-10 de origem russa. Primeiramente
esta arma encontrava-se no quartel do Saltinho, tendo transitado para aquele reordenamento, após a sua construção. No quartel seria ineficaz, visto Contabane ficar no enfiamento, do outro lado do Corubal, indo na direcção da picada para Aldeia Formosa" (PS)
Fotos: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados.
VIII Parte das memórias do Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho , 1970/72). O Paulo é natural de Águeda.
Em Abril de 71, apesar de algumas casas já prontas e ocupadas, continuava-se com a
construção do Reordenamento de Contabane.
Um fim de tarde, o Cap Clemente [, comandante da CCAÇ 2701, unidade de quadrícula do Saltinho 1970/72] chamou-me, informando-me, de seguida, ter sido recebida uma informação de grau A2 (penso ser esta a designação), prevendo um ataque ao referido Reordenamento. Uma informação com aquela classificação teria quase 90% de possibilidade de ser infalível. Havia que tomar providências, para fazer face ao previsível ataque.
Logo no início da construção tinha sido aberta uma vala de defesa. Era essa vala que deveria ser ocupada, de imediato, pelo Pel Caç Nat 53, reforçado com duas secções de um dos pelotões da CCAÇ 2701.
Assim se procedeu e, ao escurecer, estava o pessoal instalado ao longo da vala. A frente e parte lateral do Reordenamento, de onde poderia vir ataque , estava fortemente minada e armadilhada. Havia, contudo, a antiga picada em direcção a Aldeia Formosa, que por ser utilizada pelos djilas [,vendedores ambulantes, de etnia futa-fula], não se encontrava armadilhada, apenas ao anoitecer, se colocava uma granada com arame de tropeçar, perto do arame farpado, distante uns cinquenta metros da vala. O IN poderia perfeitamente utilizar aquela via, era um dos pontos fulcrais a ter em atenção e vigilância.
A tensão era elevada. O Clemente tinha-me informado que iria, entre as 18,30 e as
19,00 horas, bater a zona com o morteiro 10.7, existente no quartel do Saltinho, o que não me levantava problemas, meses atrás tinham sido bem marcados os pontos de tiro, com auxílio de um heli.
Seriam perto das 19,00 horas, ouvem-se, pareceu ali muito perto, três saídas quase
simultâneas. Cornos dentro da vala, os assobios a passar e três fortíssimas explosões logo à frente do arame farpado. Levanta-se a cabeça, mas volta-se a afocinhar, repetem-se mais três saídas e mais três explosões, ali muito perto, e ouve-se o barulho produzido por algumas chapas de zinco das casas, quando atingidas por estilhaços e arrancadas dos cibos onde estavam pregadas.
Porra para esta merda! Isto não é o 10.7, mas... serão morteiradas do IN ? Ligo através do AVP 1 para o quartel, donde me informam que a zona está a ser batida pelos obuses 14 de Aldeia Formosa e para o pessoal se manter calmo e protegido. Passo palavra a avisar da informação dada. Ainda houve mais uma meia dúzia de rebentamentos da Artilharia.
O Cap Clemente não me tinha falado nesta hipótese dos obuses, daí a nossa apreensão e cagunfa inicial. Aquelas bojardas, à nossa beira, metiam respeito.
Na manhã do dia seguinte, feito um patrulhamento, nas redondezas, não se encontraram vestígios de presença do IN, encontraram-se foi dentro do Reordenamento alguns
estilhaços, bem grandes, de granadas de obus, alguns dos quais tinham lixado paredes e chapas de várias casas.
Após esta cobertura de fogo amigo fiquei com duas certezas:
(i) Os gaijos da Artilharia eram certeiros. Enfiaram as ameixas nos locais pedidos, via rádio, do quartel do Saltinho.
(ii) Dificilmente o Reordenamento de Contabane seria flagelado pelo PAIGC, após esta demonstração de fogo. Poderia haver era um ataque ao arame, que tornava complicado, senão impossível, responder com a Artilharia.
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Notas de L.G.:
(1) Referência ao Capitão da CCAÇ 3490 (Saltinho), pertencente ao BCAÇ 3871 (Galomaro, 1971/74). Vd. posts de:
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P985: CCAÇ 3490 (Saltinho), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)
(2) Vd. posts anteriores:
5 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1564: Memórias de um Comandante de Pelotão de Caçadores Nativos (Paulo Santiago) (7): Fogo no capinzal
13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)
4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha
13 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1275: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (4): tropa-macaca, com três cruzes de guerra
19 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1192: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (3): De prevenção por causa da invasão de Conacri
13 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1170: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (2) : nhac nhac nhac nhac ou um teste de liderança
12 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1168: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (1): Periquito gozado
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Guiné 63/74 - P1652: Tabanca Grande: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 > 1974 > A azáfama dos últimos dias, antes da partida das NT... (1)
Foto: © João Carvalho (2006). Direitos reservados
1. Mensagem de José Pereira, de Penude, Nova Lamego, com data de 24 de Março de 2007:
Amigo Luís Graça: Também estive na Guiné, na CCAÇ 3 e CCAÇ 5 em 1966/68, em Nova Lamego, Cabuca, Cheche e Canjadude, além de outros destacamentos.
Fiquei muito satisfeito por ter entrado neste site. Sou de Lamego, n mais propriamente de Penude, onde fica situado o quartel dos rangers e comandos. Quando posso visito sempre este site. Tambem gostava de entrar para este grupo mas ainda não sei como entrar.
Um abraço deste amigo, Jose Pereira
Comentário do editor do blogue:
Camarada Zé Pereira: As regars de funcionamento do nosso grupo constam do sítio Tertúlia de ex-Combatentes da Guiné. Mandas duas fotos (uma do tempo da tropa e outra actual). E falas um pouco mais detalhadamente de ti, da tua unidade e do teu empod e Guiné. Temos muito gosto em que faças parte dos bravos do pelotão... Aparece. É conveniente teres um endereço de e-mail que utilixzes com frequência. L.G.
2. Mensagem de Helder Sousa, que vive em Setúbal. Data: 10 de Abril de 2007
Sr. Professor e camarada da Guiné:
Peço desculpa de entrar desta maneira no seu (teu) endereço mas penso que é desta forma que se contacta o blogue.
Sou leitor assíduo do Luís Graça & Camaradas da Guiné, desde finais de Fevereiro, altura em que encontrei, comprei e li o livro Diário da Guiné do António Abreu e, através da informação lá disponibilizada, tomei conhecimento do blogue.
A Guiné sempre provocou em mim um misto de atracção e de nostalgia mas não me tinha dado ao trabalho de procurar coisas que afinal estão por aí e já há bastante tempo e com bastante qualidade.
Chamo-me Hélder Valério de Sousa, vivo actualmente em Setúbal, fui Furriel Miliciano de Transmissões, do STM, cumprindo a comissão de serviço na Guiné entre 9 de Novembro de 1970 e 10 de Novembro de 1972, tendo estado cerca 7 meses em Piche (contemporâneo do BCAV 2922) e o resto da comissão ao serviço do Centro de Escuta e de Radiolocalização do Agrupamento de Transmissões da Guiné.
Das minhas leituras do blogue devo começar por dizer que concordo inteiramente com os estatutos do mesmo. Penso até que só mesmo com enquadramentos colectivos com essa abrangência e ao mesmo tempo com esses compromissos, se pode criar e manter uma ampla plataforma de entendimento onde as diferenças se assumam mas se respeitem.
Não estou ainda a fazer um pedido formal para ser aceite como membro da Tertúlia porque não tenho ainda cumprida uma outra condição para ser membro e que se prende com as fotografias. Tenho que resolver essa lacuna pois tenho que procurar as fotos antigas e essas andam guardadas em algures.
Sendo assim, então qual o motivo deste contacto? Simples, como está previsto o almoço/convívio em Pombal (e não no, conforme recomendação expressa), a pergunta é se, não sendo membro, se pode participar e, caso sim, se se deve enviar a comunicação para o editor do blogue (para poder testemunhar que embora não sendo tertuliano de facto, já tem contacto preliminar no sentido de se efectivar) ou para o organizador do almoço (Vítor Junqueira).
Saudações e até breve.
Hélder Sousa
Nota: para efeitos de endereço de mail é melhor usar soushelder@gmail.com
Comentário de L.G.:
Camarada Hélder:
Fico feliz por saber que és um fiel leitor do nosso blogue, que és nosso camarada e que queres entrar para a nossa caserna virtual… Os aspectos formais (o envio de duas fotos e uma estória) são importantes como mecanismo para estimular a produção de conteúdos. Como sabes, o nosso lema é : conta a tua estória, antes que alguém a (re)conte por ti…
O teu depoimento é importante. Toda a gente pode e deve testemunhar: neste caso, exprimir, em palavras e imagens, a sua passagem pela Guiné, entre os anos 60 e meados e a primeira metade de 70. A Guiné e a guerra da Guiné marcou-nos a todos, desde a malta de transmissões (temos bastantes camaradas a de transmissões) aos operacionais. Aqui somos todos camaradas e dispensamos títulos, as formalidades sociais…
Considera-te, desde já, como tertuliano. O Vitor Junqueira e o Carlos Marques dos Santos, que estão a organizar o nosso encontro em Pombal, ficarão radiantes por te conhecer e receber. Vou-lhes fazer uma recomendação nesse sentido. De qualquer modo, respeito a autonomia de decisão deles. Terás que contactar um deles, enviando por email o teu pedido de inscrição. Quando puderes, mandas-me duas ou mais fotos (duas pessoais e outras que aches que têm interesse documental sobre a Guiné do nosso tempo). Escreves também mais qualquer coisa sobre a tua vida como Furriel de Transmissões em Piche e em Bissau. Hélder, que sejas bem vindo. Recebe um grande abraço do Luís Graça.
3. Mensagem de Jorge Teixeira, com data de 10 de Abril de 2007:
Caro Graça:
Só agora me disponibilizei a dar seguimento ao mail do João. Sim, em tempos te escrevi, para saber se poderia colaborar e mesmo fazer parte do grupo.
Acredito que tenha passado despercebido, e não tem mal nenhum isso ter acontecido, pois o mais importante é ver e ler o que se passa no espaço. De qualquer forma, como atrás disse, gostaria de fazer parte do grupo.
Estive na Guiné entre Maio/68 e Abril/70. Por acaso fez anos ontem que passei à disponibilidade.
Fico esperando as tuas notícias e até lá recebe um abraço do
Comentário de L.G.
Jorge: És bem vindo… O João Tunes (2) veio lembrar-me a minha descortesia ao não responder-te em tempo útil... Houve um lapso qualquer... Peço-te que me perdoes... Não tenho a tua mensagem original, a pedir a entrada na nossa tertúlia... Cumpres o resto das formalidades (duas fotos, uma estória...). Apresento-te depois ao grupo. Não queres aparecer, entretanto, em Pombal, no dia 28 de Abril ? Um abraço. Luís Graça
________
Notas de L.G.:
(1) Sobre Canjadude e a CCAÇ 5, vd. por exemplo os seguintes posts do João Carvalho:
4 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCV: A última noite em Canjadude (CCAÇ 5) (João Carvalho)
4 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIV: Os últimos dias de Canjadude (fotos de João Carvalho)
27 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)
23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIV: O nosso fotógrafo em Canjadude (CCAÇ 5, 1973/74)
(2) Mensagem do João Tunes, de 24 de Março de 2007:
Caro Luís,
Este camarada queixa-se que te escreveu e não lhe respondeste (imagino o volume da tua caixa do correio!). Pelo visto, é um tertuliano em lista de espera. Queres dar-lhe uma palavrinha? (3)
Abraço do
João Tunes
(3) Email do Jorge Teixeira enviado ao João Tunes, em 24 de Março de 2007:
Caro João,
Obrigado pela tua resposta (4). Na realidade foi por pouco o nosso desencontro. Eu saí de Catió em meados de Março e o meu pelotão em fins do mesmo. Regressámos a 3 de Abril.
Tenho visto o espaço do Graça e em tempos lhe escrevi, mas por qualquer motivo não recebi resposta.
Tenho contactado com outros ex-camaradas que por lá tenho encontrado. Vou andar por lá, sim.
Um abraço de amizade do
Jorge
(4) E-mail do João Tunes, de 24 de Março de 2007:
Caro camarada Jorge Teixeira,
Eu fui colocado em Catió (5), como alferes de transmissões, em Abril de 1970. Devemos ter estado sob ordens do mesmo comandante de batalhão (Ten Cor Mello de Carvalho), só que não nos encontrámos (por pouco). [antes de ter estado em Catió, eu estive no Pelundo].
Recomendo-te que adiras à ciber-tertúlia de antigos combatentes na Guiné (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/) que é superiormente dirigida pelo nosso camarada (agora também blogo-comandante) Luís Graça. Lá encontrarás muitos depoimentos e material vasto de consulta (incluindo várias fotos antigas e recentes do quartel e da vila de Catió). E certamente não deixarás de dar o teu testemunho e as tuas opiniões.
E, para inscrição, em que não se paga quota nem jóia, basta a identificação civil e militar e duas fotos – uma do tempo de militar na Guiné e outra da actualidade. E depois entrares em catarse colectiva em que a única regra é que, como camaradas, nos tratamos todos por tu, independentemente do posto militar que tivemos e da posição social e profissional actual. Para te inscreveres, basta contactares o Nosso General Luís Graça (cujo mail está inscrito neste no sítio para conhecimento).
Espero encontrar-te lá. Em breve.
Um abraço do
João Tunes
PS – Obviamente que o meu blogue pessoal continua disponível para, com todo o agrado, continuar a receber os teus comentários.
(5) Sobre Catió, vd. posts do João Tunes:
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P999: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (I): tudo bons rapazes!
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1003: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes)(II): tirem-me daqui!
2 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1018: Eu, cacimbado, me confesso (João Tunes) (III): E o jipe nunca voou
Guiné 63/74 - P1651: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (4): Historietas
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um dia alguém irá estudar o nosso humor de caserna, aqui tão bem tipificado por esta e outras deliciosas historietas do Fernando Barata... Legenda da foto: "Aspecto parcial da Enfermaria, vendo-se um militar (pela nuca parece ser o Alferes Barros) entregue aos cuidados das mãos milagrosas de um fisioterapeuta estagiária, natural de Paiai Numba e que, na altura, estava a recibo verde"...É claro que não havia enfermaria nenhuma em Dulombi, e muito menos fisioterapeutas com mãos de fada, oriundas de Paiai Numba (que ficava a sul de Padada, vd. carta da Padada, e que era zona de guerra).
Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Um pote de fumos
Fotos: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.
IV parte do resumo da história da CCAÇ 2700 (Dulombi, Maio de 1970/ Abril de 72), unidade que pertenceu ao BCAÇ 2912, e foi render a CCAÇ 2405 do BCAÇ 2852 (1968/70). O autor do texto é o ex-Alf Mil Fernando Barata, da CCAÇ 2700 (1).
3 - HISTORIETAS
Delírios etílicos
3.1. Numa altura em que o nosso Capitão tinha ido a Bissau e porque o Alferes Correia se encontrava de férias na Metrópole, eu assumi a chefia da Companhia.
Durante a noite aparece-me no abrigo uma alta patente, muito esbaforida, alertando-me para o facto de estar eminente o ataque dos turras ao nosso aquartelamento, pois tinha visto no ar um Boro Naice (*) que seguramente funcionaria como sinal para um ataque concertado.
Rapidamente contacto os sentinelas que, para meu espanto, referem não terem visto nada, o que foi corroborado por outros soldados que se encontravam acordados. Depois mais calmo e perante o bafo do visionário, conclui que o tintol deveria ter LSD. Só me apeteceu dar-lhe uma pantufada.
Uma boleia de jipe até Galomaro
3.2. Volta e meia, aparecia no nosso aquartelamento um fotocine que projectava um filme para distracção das tropas. Terminada a sua função e como não estivesse prevista qualquer coluna que o recambiasse, o indivíduo já começava a desesperar. Até que o Alferes Correia (estava na altura a comandar a Companhia) me propôs que levasse o dito a Galomaro no jeep do Comando.
Perante o fascínio de dar uma volta a sério, lá me meti a caminho acompanhado pelo Meirim com a sua G3 e pelo Mesquinhata com o seu morteiro. Hoje arrepio-me ao pensar no perigo em que me constitui e os constitui (embora fossem voluntariamente) só pelo prazer de ter um volante nas mãos.
O jipe que andava sozinho
3.3. O jeep do Comando tinha a deficiência (uns diriam característica) que se traduzia no facto de quando se virava totalmente o volante para a direita a direcção ficava presa.
Um dia, aproveitando tal característica, pus o dito jeep a descrever círculos no campo de futebol, sem que alguém o conduzisse. Fui chamar o Semba para que este me explicasse este fenómeno paranormal. Após alguns segundos de verificação, saltou para o jeep impulsionado como que por uma mola, endireita o volante e grita:
-Alfero, era demónio não, era volante preso.
Um médico mais doido que o doido do soldado
3.4. Um soldado a partir de determinada altura desequilibrou, tornando-se extremamente agressivo chegando mesmo a apontar a arma a alguns colegas.
Perante este quadro, o médico do Batalhão, Dr. Vítor Veloso (2**) , passa--lhe uma credencial para que se apresente nos Serviços de Psiquiatria do Hospital Militar.
Qual não é o meu espanto quando passados 4/5 dias, o doentinho já se encontrava em Galomaro, vindo de Bissau e pronto a seguir para Dulombi. Assim que me vê, remata:
- Oh meu Alferes, o médico que me atendeu era mais doido que eu.
- Porquê? - retorqui.
- Então não quer lá saber que me perguntou o que me apetecia fazer naquele momento. Disse-lhe que me apetecia deitar a secretária dele pela janela fora e o que me espantou é que ele se levantou para me ajudar o fazê-lo, pegando logo num dos bordos da mesa. Nunca mais lá ponho os pés.
Na realidade foi uma terapia espectacular, o moço nunca mais deu problemas.
Um mecânico (improvisado) de helis
3.5. Como devem estar recordados, éramos frequentemente visitados por helis, quer para nos trazer frescos, quer para transportar algumas individualidades que nos visitavam. Certo dia, um desses helis estava com dificuldade em pegar. Perante este facto e como o Rosa, que era mecânico, estava a presenciar a situação, o nosso Capitão disse-lhe, a brincar, para ir buscar a mala da ferramenta. Aquele tomou a ordem a sério e lá foi buscar a mala, sem que antes não dissesse:
- Meu Capitão, mas olhe que eu de helicópteros não percebo nada.
Claro, quando o Rosa chegou com a mala já o héli ia ao nível de Duas Fontes. Ficou-me na memória o respeito por uma ordem dada.
O ronco do Pelotão de Milícias
3. 6. Naquela fase final em que já não queríamos correr riscos, incumbiu o nosso Capitão o Pelotão de Milícias de fazer um patrulhamento ao Vendu Qualquer-Coisam [ havia várias localidades começadas por Vendu, a sudoeste de Dulombi: por exemplo, Vendu Cachitol, Vendu Coima, Vendu Bambadela...].
Passados alguns minutos de terem saído, ouvimos um tiroteio imenso. Logo aquele espalhafato nos pareceu mise-en-scène.
Quando chegou o Pelotão ao aquartelamento, depois de algum aperto, o Comandante acabou por confessar que não havia turra nenhum e que era só para fazer ronco e para puderem justificar uma quantidade de munições que tinham em falta.
É só fumaça!
3.7 . Certo dia, fumo intenso é detectado a sair do paiol. Perante o eminente rebentamento de todo o arsenal que lá se encontrava armazenado, rapidamente o quartel é abandonado por todos nós para além do arame farpado, não fosse presentear-nos algum estilhaço ou mesmo o sopro que iria gerar.
Como passados bons minutos a deflagração não acontecesse, o Alferes Ravasco, perdoem-me mas não encontro neste momento expressão mais apropriada, teve tomates e a serenidade necessária para enfrentar a situação. Que acontecera? Um pote de fumos ao cair no chão - que se encontrava alagado - entra em reacção química com a água, gerando o espectáculo que acabo de referir.
Chegámos a pensar que seria um acto de sabotagem do inimigo. Pena é que o Almirante Pinheiro de Azevedo, na altura ainda não tivesse pronunciado a célebre frase O povo é sereno, isto é só fumaça. Na realidade vinha mesmo a propósito.
O dialecto de Cabeçudos
3.8. Em determinada altura, um indígena pretendia reclamar ou peticionar algo junto do nosso Comandante. Como aquele tivesse certa dificuldade em se fazer compreender, alguém sugeriu que se fosse chamar o Carneiro Azevedo para servir de intérprete.
Estiveram seguramente cinco minutos numa troca de jametus, tá na mala e sapodidis, arregalando, o Mamadu, cada vez mais, os olhos na tentativa de entender o que o Azevedo lhe dizia. Até que passados os tais cinco minutos, o fula chega à brilhante conclusão que aquele arrevesado do Azevedo não seria dialecto fula, mas sim dialecto de Cabeçudos (terra natal do Azevedo).
O padeiro de Trancoso
3.9. Mal chegados a Dulombi logo se abeirou de mim o Cândido Nunes disponibilizando o seu know-how em matéria de panificação para exercer a função de padeiro da Companhia. Argumentou que em Trancoso era a profissão que exercia. Falei com o nosso Capitão, sendo o Nunes admitido de imediato, mesmo sem prestar provas, na função que ele dizia conhecer tão bem.
Ao longo da comissão desempenhou a sua tarefa cabalmente e com o benefício de ser dispensado da actividade operacional a qual encerrava alguns riscos e grande esforço físico, como todos sabem.
No final da comissão, já em Bissau, diz-me:
- Meu Alferes, de padaria eu só conhecia o local por lá ter entrado nas poucas vezes que a minha mãe me mandava comprar pão.
Sorri e dei-lhe os parabéns pela sua astúcia.
Eu, pecador, me confesso: A tentação das ostras do Pelicano
3.10. E para acabar. Adivinhem qual era o Alferes que já tinha carta de condução civil e foi tirar a militar só para ter motivo para passar pelo menos mais uma semanita em Bissau? É que aquelas ostras no Pelicano mereciam qualquer estratagema.
_________
Notas de F.B.:
(*) Queria-se referir a um Very-Light
(**) Hoje, Presidente do Conselho de Administração do do IPO/Porto - Instituto Português de Oncologia, Porto.
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores:
22 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1541: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (1): Introdução: a 'nossa Guiné'
26 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1550: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (2): A nossa gente
15 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1595: História da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) (Fernando Barata) (3): minas, tornados, emboscadas, flagelações e acção... psicossocial
terça-feira, 10 de abril de 2007
Guiné 63/74 - P1650: Tod@s a Pombal, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Carlos Marques dos Santos / Luís Graça)
1. Amigos & camaradas:
O editor do blogue andou desenfiado estes dias todos de Semana Santa & Aleluia… E ontem quando chegou a casa, vindo directamente de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, era tardíssimo… Hoje de manhã, tinha mudanças de piso e de gabinete, no local de trabalho: subiu um piso, mudou de gabinete… Se quiserem tomem nota: Gabinete 3A41; telefone (directo): 21 751 21 90…
Sabem como é que são as mudanças: no meu caso (que sou prof), toneladas de papel, de livros, de dossiês, de pastas… Um pandemónio… Já tinha tudo encaixotado antes das miniférias de Páscoa… Hoje foram as mudanças (de diversos professores e investigadores) a cargo de uma empresa especializada… Tudo isto para explicar (e pedir desculpa por) a nossa fraca produção bloguística destes últimos dias…
2. Mensagem (poético-satírica, mas bem humorada, e inspiradíssima) do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira, que tem a incumbência máxima de nos reunir a todos, amigos e camaradas da Guiné, em Pombal, no próximo dia 28 de Abril de 2007... (Por favor, não digam no Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz!)…
Enfim, não caio no exagero de dizer que ele tem a missão de pôr Pombal no mapa de Portugal, porque Pombal já lá está, com todo o mérito, e bem no centro... (Por favor não digam o Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz). Compete-lhe, pelo menos, convencer-nos, a todos nós, amigos e camaradas da Guiné, de que vale a pena ir a Pombal e que Pombal não se resume à estação de serviço onde alguns de nós às vezes paramos, para o chichi e o café, na autoestrada A1, em viagem Sul-Norte ou Norte-Sul...
Escreveu o Vitor, a meio da tarde de ontem:
Esta tanga é especialmente dedicada aos retardatários. Os que já se inscreveram só têm que apreciar o repentismo em linguagem estrebo*- brejeira. Estou a ver que nem dando-lhes música eles reagem!
Vá lá, amigos e camaradas! Digam qualquer coisa, falem, pronunciem-se. Ainda que seja para dizer que não podem vir. Aceito qualquer resposta. Até uma desculpa esfarrapada. VJ____________
(*) de estrebaria (VJ)
Camaradas,
A Páscoa já lá vai e ...
Das coisas que sabem bem
Neste período Pascal
Houve amêndoas a rodos,.
Os ovos marcharam todos
e os coelhinhos também.
E o nosso encontro em Pombal?
O tempo tem estado lixado ...
Nesta fria Primavera
Venha o tempo primaveril
Que eu já sinto o cheiro a férias
E tudo o resto são lérias.
Aguentai a dura espera
Até ao vinte e oito de Abril
Depois virá o Verão. Tempo de recordações...
Nesta fraterna Tertúlia
Sossegai, oh camaradas,
Homens de feitos tamanhos,
Havemos de ir a banhos
Em Quarteira ou na Apúlia
Teremos sol às carradas.
E quem não sonha ...?
Dos frémitos da juventude
Gostamos de nos lembrar,
Faziamos cada vergonha ...!
(Só é velho quem não sonha)
Desprezávamos a virtude,
Era o sangue a borbulhar
Há sempre uns tristes ...
E para dizer a verdade
Só conheço uma vergonha
Que é a do jovem casado
Pobre, triste, coitado
Está perdendo a mocidade
Por não ter em quem se ponha
E já agora, por falar em virtude ...
Todos dizem: está no meio
Venham cá, à minha terra
Não vão por aí à toa
Entre o Porto e Lisboa
Para acolher-vos no seu seio
Está Pombal à vossa espera.
E tu?
Tens a distinta lata,
De a todos deixares mal?
Viras as costas e pronto
Marimbas-te p'ró Encontro,
Estás-te cagando p'rá malta.
Não queres vir a Pombal?
Quero ouvir o refrão:
A vinte e oito de Abril,
Não chegávamos a ser mil,
Decidimos atacar
Bela arena, a do Manjar,
Foi grande o arraial
Na cidade de Pombal .
Versalhada às três pancadas da autoria do
Vitor Junqueira
3. O negócio, ontem, ainda estava fraco, mas hoje já recebi uma lista mais composta, enviada pelo Carlos Marques dos Santos, que vive em Coimbra e que também faz parte da comissão organizadora...
Ao todo, havia cerca de quatro dezenas de inscrições, mas não tenho dúvidas que, depois da chicotada psicológica do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira (na tropa usava-se outro termo que eu não posso aqui repetir, sem pôr a corar as nossas amigas...), estou convencido que os mails vão começar a disparar na caixa de correio do Vitor Junqueira (Ele também aceita mensagens no telemóvel > 965517918).
Até ao momento, eram as seguintes as inscrições para o almoço de convívio da nossa tertúlia, em Pombal, dia 28 de Abril de 2007, no Restaurante Manjar do Marquês (15 € por cabeça) (1). Alguns camaradas não indicam se trazem acompanhantes nem qual a ementa preferida (**).
Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida) (1)
A. GRAÇA DE ABREU (1A)
A. MARQUES LOPES (3B)
ALBANO COSTA (**)
ANTÓNIO BAIA (2B)
ANTÓNIO SANTOS (2B)
CARLOS MARQUES SANTOS (2B)
CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)
CARLOS VINHAL (2B)
DAVID GUIMARÃES (2B)
FERNANDO FRANCO (2B)
HUMBERTO REIS (2A)
IDÁLIO REIS (1A)
J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)
JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)
JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)
JOSÉ GANCHO (2B)
JOSÉ M. MARTINS (2A)
LUÍS GRAÇA (2A)
LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)
MANUEL LEMA SANTOS (2B)
MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)
PAULO SANTIAGO (2A ou B)
RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)
SOUSA DE CASTRO (2A)
TINO NEVES (**)
VIRGÍNIO BRIOTE (**)
VITOR TAVARES (1A ou B)
VITOR BARATA (1A ou B)
(**) Dados a completar.
4. Há camaradas e amigos que, na data escolhida, não poderão estar presentes, conforme email que deverá circular pela tertúlia. A seu tempo, divulgaremos também aqui a lista dos presentes em espírito. Reproduzo aqui a ficha de inscrição, a enviar directamente ao Vitor Junqueira ou ao Carlos Marques dos Santos:
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)
O editor do blogue andou desenfiado estes dias todos de Semana Santa & Aleluia… E ontem quando chegou a casa, vindo directamente de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, era tardíssimo… Hoje de manhã, tinha mudanças de piso e de gabinete, no local de trabalho: subiu um piso, mudou de gabinete… Se quiserem tomem nota: Gabinete 3A41; telefone (directo): 21 751 21 90…
Sabem como é que são as mudanças: no meu caso (que sou prof), toneladas de papel, de livros, de dossiês, de pastas… Um pandemónio… Já tinha tudo encaixotado antes das miniférias de Páscoa… Hoje foram as mudanças (de diversos professores e investigadores) a cargo de uma empresa especializada… Tudo isto para explicar (e pedir desculpa por) a nossa fraca produção bloguística destes últimos dias…
2. Mensagem (poético-satírica, mas bem humorada, e inspiradíssima) do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira, que tem a incumbência máxima de nos reunir a todos, amigos e camaradas da Guiné, em Pombal, no próximo dia 28 de Abril de 2007... (Por favor, não digam no Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz!)…
Enfim, não caio no exagero de dizer que ele tem a missão de pôr Pombal no mapa de Portugal, porque Pombal já lá está, com todo o mérito, e bem no centro... (Por favor não digam o Pombal, que lhe sobe logo a mostarda ao nariz). Compete-lhe, pelo menos, convencer-nos, a todos nós, amigos e camaradas da Guiné, de que vale a pena ir a Pombal e que Pombal não se resume à estação de serviço onde alguns de nós às vezes paramos, para o chichi e o café, na autoestrada A1, em viagem Sul-Norte ou Norte-Sul...
Escreveu o Vitor, a meio da tarde de ontem:
Esta tanga é especialmente dedicada aos retardatários. Os que já se inscreveram só têm que apreciar o repentismo em linguagem estrebo*- brejeira. Estou a ver que nem dando-lhes música eles reagem!
Vá lá, amigos e camaradas! Digam qualquer coisa, falem, pronunciem-se. Ainda que seja para dizer que não podem vir. Aceito qualquer resposta. Até uma desculpa esfarrapada. VJ____________
(*) de estrebaria (VJ)
Camaradas,
A Páscoa já lá vai e ...
Das coisas que sabem bem
Neste período Pascal
Houve amêndoas a rodos,.
Os ovos marcharam todos
e os coelhinhos também.
E o nosso encontro em Pombal?
O tempo tem estado lixado ...
Nesta fria Primavera
Venha o tempo primaveril
Que eu já sinto o cheiro a férias
E tudo o resto são lérias.
Aguentai a dura espera
Até ao vinte e oito de Abril
Depois virá o Verão. Tempo de recordações...
Nesta fraterna Tertúlia
Sossegai, oh camaradas,
Homens de feitos tamanhos,
Havemos de ir a banhos
Em Quarteira ou na Apúlia
Teremos sol às carradas.
E quem não sonha ...?
Dos frémitos da juventude
Gostamos de nos lembrar,
Faziamos cada vergonha ...!
(Só é velho quem não sonha)
Desprezávamos a virtude,
Era o sangue a borbulhar
Há sempre uns tristes ...
E para dizer a verdade
Só conheço uma vergonha
Que é a do jovem casado
Pobre, triste, coitado
Está perdendo a mocidade
Por não ter em quem se ponha
E já agora, por falar em virtude ...
Todos dizem: está no meio
Venham cá, à minha terra
Não vão por aí à toa
Entre o Porto e Lisboa
Para acolher-vos no seu seio
Está Pombal à vossa espera.
E tu?
Tens a distinta lata,
De a todos deixares mal?
Viras as costas e pronto
Marimbas-te p'ró Encontro,
Estás-te cagando p'rá malta.
Não queres vir a Pombal?
Quero ouvir o refrão:
A vinte e oito de Abril,
Não chegávamos a ser mil,
Decidimos atacar
Bela arena, a do Manjar,
Foi grande o arraial
Na cidade de Pombal .
Versalhada às três pancadas da autoria do
Vitor Junqueira
3. O negócio, ontem, ainda estava fraco, mas hoje já recebi uma lista mais composta, enviada pelo Carlos Marques dos Santos, que vive em Coimbra e que também faz parte da comissão organizadora...
Ao todo, havia cerca de quatro dezenas de inscrições, mas não tenho dúvidas que, depois da chicotada psicológica do nosso tenente general graduado Vitor Junqueira (na tropa usava-se outro termo que eu não posso aqui repetir, sem pôr a corar as nossas amigas...), estou convencido que os mails vão começar a disparar na caixa de correio do Vitor Junqueira (Ele também aceita mensagens no telemóvel > 965517918).
Até ao momento, eram as seguintes as inscrições para o almoço de convívio da nossa tertúlia, em Pombal, dia 28 de Abril de 2007, no Restaurante Manjar do Marquês (15 € por cabeça) (1). Alguns camaradas não indicam se trazem acompanhantes nem qual a ementa preferida (**).
Nome (entre parênteses, o nº de comensais e a ementa escolhida) (1)
A. GRAÇA DE ABREU (1A)
A. MARQUES LOPES (3B)
ALBANO COSTA (**)
ANTÓNIO BAIA (2B)
ANTÓNIO SANTOS (2B)
CARLOS MARQUES SANTOS (2B)
CARLOS OLIVEIRA SANTOS (1A ou B)
CARLOS VINHAL (2B)
DAVID GUIMARÃES (2B)
FERNANDO FRANCO (2B)
HUMBERTO REIS (2A)
IDÁLIO REIS (1A)
J. L. VACAS DE CARVALHO (1A ou B)
JOAQUIM MEXIA ALVES (1A)
JOSÉ A. F. ALMEIDA (1A)
JOSÉ GANCHO (2B)
JOSÉ M. MARTINS (2A)
LUÍS GRAÇA (2A)
LUÍS RODRIGUES C. MOREIRA (1B)
MANUEL LEMA SANTOS (2B)
MÁRIO BEJA SANTOS (1A ou B)
PAULO SANTIAGO (2A ou B)
RUI ALEXANDRINO FERREIRA (1A ou B)
SOUSA DE CASTRO (2A)
TINO NEVES (**)
VIRGÍNIO BRIOTE (**)
VITOR TAVARES (1A ou B)
VITOR BARATA (1A ou B)
(**) Dados a completar.
4. Há camaradas e amigos que, na data escolhida, não poderão estar presentes, conforme email que deverá circular pela tertúlia. A seu tempo, divulgaremos também aqui a lista dos presentes em espírito. Reproduzo aqui a ficha de inscrição, a enviar directamente ao Vitor Junqueira ou ao Carlos Marques dos Santos:
POMBAL - 28 DE ABRIL DE 2007
2º ENCONTRO DA TERTÚLIA LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ
EU VOU ESTAR PRESENTE!
Nome:______________________________________________________________
Número de acompanhantes: _______________________________________________
A minha preferência vai para a ementa (A ou B):_________________________________
2º ENCONTRO DA TERTÚLIA LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ
EU VOU ESTAR PRESENTE!
Nome:______________________________________________________________
Número de acompanhantes: _______________________________________________
A minha preferência vai para a ementa (A ou B):_________________________________
___________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 9 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1649: 2º Encontro da nossa tertúlia: Pombal, Restaurante Manjar do Marquês, 28 de Abril de 2007 (Vitor Junqueira / Luís Graça)
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