sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3538: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CArt 2339) (2): De Évora a Mansambo... instrução, viagem... Adeus ao meu País


Estórias de Mansambo






Torcato Mendonça
ex-Alf Mil
CArt 2339
Mansambo, 1968/69





2 - Instrução, embarque e viagem até á GUINÉ da CArt 2339

2 -1 - O 2º GrComb

Concentração em Évora

RAL 3, Setembro de 1967, local de concentração dos graduados da Companhia Independente 2339.
Dias depois chegariam os soldados, a maioria saída da recruta, para receberem a especialidade de atiradores. As outras especialidades seriam dadas noutras Unidades Militares e mesmo no RAL.
Nos primeiros dias as habituais reuniões de graduados, a constituição de grupos para ministrar a instrução e outros assuntos.

Os Cabos Milicianos escolhiam os aspirantes para a formação dos quatro pelotões de instrução. O meu era, devido á classificação, o 2º Grupo. Fui escolhido pelos futuros Furriéis – Rei, Rodrigues e Sousa. Todos tínhamos tirado, na mesma altura e local, Vendas Novas, a especialidade: Atirador de Artilharia.
O Comandante de instrução fora um Capitão, a puxar forte por nós pensando, talvez assim, preparar “melhor” os graduados para a defesa do Império. Certo é que ficamos a perceber mais de equipas de cinco, sentido de punho fechado e “coisas de comando” do que secções de nove elementos, pelotões e outras. Misturaram-se, durante a instrução dada á Companhia, os conhecimentos adquiridos e saiu algo de jeito.

Vieram os soldados, foram integrados nos vários grupos, creio que de forma aleatória, ou mais pelo conhecimento, que tinham entre eles, da recruta ou vida civil.

Eram quase todos homens do Norte. O meu grupo tinha só dois alentejanos. Todos os outros eram do Porto, Póvoa, Lousada, etc.

Com os graduados era metade, metade: O Alferes era algarvio, criado no Alentejo e um Furriel natural de Vila do Bispo, algarvio portanto. Os outros dois Furriéis eram da zona do Porto.

Já na Guiné houve mudanças. O Sousa (Fernando Luís, desportista e professor conhecido) foi ao segundo ou terceiro mês para a 3ª ou 5ª de Comandos. Ficou nos Comandos, mudando de Companhia, até ao fim da comissão. Não perdeu o contacto connosco e regressamos juntos. Foi substituído pelo Sérgio, natural de Angola. Estudou e trabalhava na zona do Porto. O Rei, ficou sempre, felizmente, no grupo a corrermos Guiné fora.

O Rodrigues, algarvio, foi ferido com alguma gravidade na Lança Afiada. Evacuado para Bissau, teve que ficar a tirar estilhaços até ao fim da comissão. Nunca foi substituído por razões óbvias. Regressou connosco. Parece viver no Algarve a tentar esquecer aquele tempo. Óptimo se o conseguir.
Infelizmente não regressaram três militares do 2º Grupo. Dois porque morreram e outro por ferimentos e doença, o Pimenta. O Bessa morreu em combate e o Casadinho por acidente, em Bissau, já no fim da comissão.

Um outro devia ter sido evacuado mas nunca o foi.

Ainda em Évora, o grupo adoptou o nome de "Panteras Negras". No fim da instrução diária, ao destroçar, havia sempre o grito: Panteras e batimento forte com o pé esquerdo. Hoje, penso nisso e interrogo-me: Porquê?

Mas estes relatos, estas estórias para reproduzirem, o mais fielmente possível o que se passou têm, tanto quanto possível, ser vistas com os “olhos” de outrora. Era um grupo, a procurar união, a mais ou a melhor preparação para “ a guerra colonial”, um espírito próprio e coeso. Não procurava ser melhor, pior ou diferente dos outros. Tinha, isso sim a auto estima, a vontade de contribuir para uma Companhia unida, onde todos fossem solidários com todos e os Viriatos fossem um conjunto forte e coeso. Parece-me que isso foi conseguido. Creio mesmo que se mantém até hoje.

Ordem de embarque

Terminada a instrução, depois de curtas férias aparece a ordem de embarque. Numa gélida manhã de Janeiro, que certamente ninguém esquece devido aos gritos, choros e ao dramatismo de uma despedida, para muitos a ser vivida como final, embarcámos no Ana Mafalda, rumo á Guiné.

Ao quinto dia aportámos, por horas, em Cabo Verde. No dia seguinte, aí estava a Guiné. Fizémos o treino operacional no Xime. A

 1ª operação ao Galo Corubal.

Caímos em emboscadas e montámos outras; flagelaram e tentaram assaltar o nosso aquartelamento muitas vezes, assaltámos e destruímos alguns do IN; detectámos e rebentámos minas, deixámos outras para os adversários; apreendemos material ao IN, construímos tabancas em autodefesa, sentimos a vida a esfumar-se e a voltar, vimos morrerem camaradas nossos – brancos e negros ou, se preferirem, metropolitanos e guineenses – deixámos um dos nossos ser apanhado. Matámos e apanhámos adversários nossos. Foi uma campanha dura, violenta, desgastante e demasiado longa.

Nunca o Grupo ou a Companhia sentiu o peso da derrota.

No fim éramos homens bem diferentes, amadurecidos ou precocemente envelhecidos. Em tão pouco tempo amámos e odiámos, fomos humilhados e ofendidos, trataram-nos e tratamos outros, justa e injustamente, vimos, sentimos e vivemos situações dispensáveis, para gentes civilizadas.

Regressámos. Despedimo-nos, aos poucos, num fim de tarde e princípio de noite de Dezembro, novamente, de onde, cerca de dois anos antes havíamos saído: Évora.

Partimos por esse País fora, á procura da Vida interrompida. Só que antes já tinha partido o melhor da nossa juventude, o tempo perdido, as transformações em nós operadas, a visão da violência sofrida. Aos poucos recuperamos, talvez ou certamente nem todos o tenham conseguido. Mas certamente tentámos esquecer e viver outras vidas.

Voltámos a encontrar-nos, creio que em 1991, num restaurante da cidade de Aveiro no habitual almoço convívio. Emocionámo-nos. Todos os anos se repetiram os almoços em convívio-terapia. Só voltei, há dois anos a Évora. Julgava ser uma despedida. Ainda por cá estou e talvez volte um dia. Gosto demasiado da malta.

Mas sinto muito a despedida, a falta de brancos e negros que já partiram…e algo de “raiva surda” por certo passado… aos poucos passa…aos poucos encontrarei certamente a paz ou o saber esquecer e perdoar… talvez não…talvez sim…talvez alguém leve os meus fantasmas…

2 – 2 - Breve síntese, desde a formação e instrução em Évora, á Comissão na Guiné e finalmente o regresso. Parece estar tudo dito. Mas não está. Só focar mais dois ou três pontos: a instrução, a preparação e o embarque, a viagem.

Assim:

- A instrução foi em Évora e arredores, tendo o RAL3 por base. Procurou ser a mais consentânea com a guerra que nos esperava, com os conhecimentos adquiridos e com os homens que formavam cada pelotão. A Guiné, o destino não desejado, estava sempre presente. Era muito pouco tempo para ministrar uma instrução adequada.

Carência de meios postos á disposição, alguma falta de conhecimentos dos graduados (excepto dois ou três Sargentos do Q.P., com anteriores comissões) e os militares, os instruendos da especialidade que, uma breve recruta, não tinha sido suficiente para lhes dar a devida preparação para a especialidade.
Tínhamos a vantagem, muitas vezes isso é esquecido, da qualidade do homem português. A origem, da maioria daqueles homens era camponesa, trabalhadora da construção civil ou dos têxteis, a darem duro desde tenra idade. A rusticidade deles, o hábito á dureza da vida era uma enorme vantagem. Alguns eram homens que nunca tinham sido crianças. Outros já eram casados e pais de filhos. Muitos não eram bons ginastas, devido á dureza dos músculos travar a flexibilidade ou a dificuldade na coordenação motora. Relembro três casos: um que não era capaz de saltar o muro de terceira. Não me atrevo, dizia ele. Foi excelente combatente. Outro, casado e camponês, foi o “ bazokeiro” do Grupo. Ao segundo mês de comissão recebeu a noticia que era pai de uma menina. Nunca a conheceu. Faleceu pouco antes do embarque e num acidente em Bissau. Era a brutalidade daquela guerra. O terceiro caso é sobre a dignidade de um homem. Já na Guiné recebeu a noticia que ia ser pai, só que não tinha casado com a mulher a quem prometera, certamente depois do regresso, casar. Assim que pode, não eram permitidas férias ao segundo ou terceiro mês, veio para casar. Era esta, felizmente, a massa humana do segundo Grupo. Estes três casos podemos estendê-los a todo o grupo ou à Companhia.

Com a determinação de todos decorreu bem a especialidade, para alguns um pouco dura mas foi útil em combate. Não sei se ensinei mais ou se aprendi mais. As duas certamente e, volvidos estes anos recordo-os todos como amigos e camaradas.
Terminou a especialidade depois de uma semana de campo.
Antes de um merecido período de férias, veio a notícia do destino: Guiné.

Preparação para o embarque

- A preparação e o embarque tinham que ser feitas com certo cuidado. A notícia da ida para a Guiné, não foi recebida com entusiasmo pela maioria. Até os Militares do Q.P., estranharam nova ida para lá, pois a última fora lá passada.

As praças receberam o fardamento, meteram-no em dois sacos cilíndricos, também fornecidos, puseram-nos ás costas e foram de férias. Passaram o Natal e o Ano Novo em casa e apresentaram-se nos primeiros dias de Janeiro. Os graduados receberam um subsídio, creio que foi isso, e foram ao Casão Militar comprar o fardamento apropriado. Se bem me lembro, o 1º Sargento Clemente ou outro, Silva ou Moura Gomes, fizeram uma listagem e fui com ela ao Casão. Comprei a mala mais feia que encontrei – cinzenta e de plástico duro – e meti lá todo o material constante da lista. Mais tarde em minha casa foi, tanta e esquisita roupagem, posta á medida. Curiosamente até certos pormenores os Profissionais nos indicaram.

Embarque

Passaram rápidas as férias e, no dia indicado, parti para Évora. Não tinha a certeza do dia de embarque. Para a Guiné partiram antes de nós um Oficial e um Sargento. Nós iríamos depois. Não me recordo o dia da apresentação ao certo. Sei que tivemos duas baixas; um alferes que espatifou um pé e o furriel mecânico que, talvez devido ao calor e excesso de humidade guineenses, preferiu a Europa ou a América. Gostos…Os restantes apresentaram-se todos.

Esperámos pelo embarque, adiado pelo menos uma vez. Um dia soubemos: embarque a 14 de Janeiro. Telefonei para casa e pedi a meu pai para ninguém ir a Lisboa. Despedidas não.
No dia 12 recebi a ordem de ir, no dia seguinte para Lisboa tratar do embarque. O resto da Companhia iria depois.

Vestido á civil, roupa militar num saco, a restante entregue para me levarem para Lisboa, na madrugada de um sábado dia treze, aí estou eu a embarcar no comboio em Évora para, poucas horas depois estar em Lisboa. Ida á residencial habitual, telefonar ao Furriel Whanon, que já estava em Lisboa, combinar encontro, vestir a farda e aí vamos nós ver o barco. Lembro-me, a cara de espanto do dono e pessoal conhecido da residencial. Eram meus conhecidos pois, essa e menos outra ali na Braamcamp, eram os meus poisos habituais. Não sabiam que eu era militar. Figurava nos arquivos como estudante. Que é isto? Dizia o Senhor Manuel. Vou para a Guiné amanhã de madrugada. Fiquemos por aqui. Fui e vim, o meu poiso continuou, por muitos anos, a ser lá. Boa gente. Já desapareceu a residencial e o Parque…

Lá fui, com o Furriel Whanon ver o barco. Ou por estar maré vazia, ou porque o barco era pequeno, quando olhei para o "Ana Mafalda" pensei ser uma traineira. Papéis tratados e o resto do dia e noite por minha conta. Passou-se. Às cinco ou seis da madrugada estava eu na Estação Sul Sueste á espera do resto da Companhia. Chegaram, entraram rapidamente nos camiões militares e rumámos ao Cais da Rocha. De noite todos os gatos são pardos ou não dão nas vistas…

Embarque: o reboliço da carga do material, a formatura para um estúpido desfile, os cumprimentos de um membro do Governo (?), não recordo bem, e uma pausa antes do embarque, para as despedidas dos familiares.

Assisti então a uma situação incrível pelo seu dramatismo. Não descrevo pois não seria capaz. As famílias em atroz sofrimento, os militares igualmente, o choro, o grito, que, de tantos que eram, pareciam um só e deixaram-me arrasado. Foi dada ordem de embarque e muitos tiveram que ser “empurrados” até ao barco. Perto do meio-dia afastava-se o barco lentamente e os acenos, de ambos os lados, os gritos e choros mantiveram-se. Indescritível. Penso que só quem embarcou assim consegue recordar todo aquele dramatismo.


Viagem

Deixei as malas no camarote e vim até à amurada. Ali estive, não sei quanto tempo a pensar, a ver o meu País a afastar-se. Ainda o Cabo São Vicente se via ao longe, senti o Rodrigues, Furriel do meu Grupo, ao pé de mim. Disse-me: será que voltamos a ver o nosso Algarve? (lembras-te camarada? Não me deves ler… tentas esquecer…tens esse direito). Respondi-lhe: eu vejo e você também. Com “ganas”e a raiva do não querer estar ali. Porquê? Porque não devia estar ali! Não era guerra minha e devia acabar o curso. Além disso tinha 22 anos e queria viver…mas já estava transformado…

Continuou a viagem, com enjoos de alguns e os dias a escorrerem devagar. Na terça dia 16, ao longe as luzes das Canárias e na madrugada de sexta dia 19, aí estavam o porto de Pedra Lume, Ilha do Sal, Cabo Verde. Carga e descarga de material e nova largada rumo a Bissau.

cont.

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Notas de vb:

1. Continuação e reescrita das Estórias de Mansambo.

2. Artigo anterior em

Guiné 63/74 - P3537: Histórias engraçadas (António Matos) (5): Formigas baga-baga...e um capitão em apuros. (António Matos)


Os Baga-Baga que também serviam de abrigos


Não tendo ainda dado uma vistoria exaustiva ao blogue (faço incursões pontuais quando o assunto me toca mais de perto ou se a curiosidade do tema a isso me leva) já notei referências ao Baga-Baga.
Na convicção de que este tipo de informação interessa como peça da imensa reportagem que aqui estamos a fazer, junto um texto, também ele "apimentado" com uma peripécia da altura, para mais agradável "digestão".

O Alferes Matos em cima de um pequeno monte de baga-baga.

Uma constante no cenário da Guiné é a existência de formações tipo arenoso mas duma consistência à prova de bala, formado pelas formigas.
À semelhança das abelhas, também aquela espécie de formiga (baga-baga) trabalha "em manada" e comandadas pela formiga mestra.
São verdadeiros exércitos deste animal estupidamente feroz (a avaliar pelas dentadas onde deixavam parte da carcaça espetada na vítima - falo do que sei!) que constroem estes formigueiros enquanto o diabo esfrega um olho pelo que, aquando da construção das estradas, a engenharia começava pela destruição desses ninhos.
Porém, não raras eram as vezes em que a estrada acabava de ser construída e já despontavam essas pragas destruidoras!
Mas não há bela sem senão e essas mesmas edificações serviram amiudadas vezes de abrigo pela sua resistência à fogachada quando nos encontrávamos debaixo de fogo.

O Alferes Matos na canal bazooca.

Um capitão em apuros

Por curiosidade vos conto que uma noite, numa progressão em direcção a Ponta Matar, com um luar altamente comprometedor, tivemos que parar durante escassos segundos para consultar a carta e eis senão quando, o capitão entra em desvairado desatino começando a despir-se sob o olhar atónito de toda a gajada.

O seu guarda-costas, o corneteiro, de seu nome Reis, foi imediatamente incumbido de o ajudar sem no entanto saber muito bem o que se estava a passar.
Finalmente percebeu-se que o capitão tinha parado exactamente em cima do trilho das amigas formigas que seguiam em bichinha pirilau à sua vida.
Escusado será dizer que o acontecido poder-nos-ia ter sido fatal tal o chavascal que estava a ser feito mesmo nas barbas do IN.

Resolvida a questão, com o capitão repleto de ferrões espetados desde os pés às virilhas, quisemos pensar que o IN foi compincha e bastou-lhe o gozo da situação para não nos atacar.
Uma vez fora da zona complicada, houve lugar ao humor ainda que os inchaços e as comichões do capitão tivessem sido de alguma gravidade e a requerer cuidados médicos.

António Matos

ex-Alf Mil da CCaç 2790

Bula 1970/72

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Notas de vb:

19 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3482: Histórias engraçadas (António Matos) (4): Quando os serviços de oficial de dia passaram a ser feitos pelos oficiais da CCS...

Guiné 63/74 - P3536: Bibliografia de uma guerra (39): Nó Cego, de C. Vale Ferraz. (Cor Matos Gomes)

Nó Cego

de Carlos Vale Ferraz (Carlos Matos Gomes)

Convite para 4ª Feira, 10 de Dezembro de 2008, às 20H30, no Auditório da FNAC-Chiado, Lisboa.

Mensagem de Carlos Matos Gomes

Meu caro Luís Graça e camaradas

Com os habituais cumprimentos e reconhecimento pelo vosso trabalho que, no meu caso, se traduzem em prazer pelas lembranças e proveito pelo que aprendo, aqui me têm a enviar um convite para a sessão de lançamento do meu romance Nó Cego, que foi editado há mais de 25 anos e que entretanto amadureceu.
Embora situado em Moçambique, a guerra era a mesma e ajuda a perceber como os homens podem influenciar e determinar o modo de fazer a guerra. Neste caso com as interpretações de Kaúlza de Arriaga e de Spínola.

Mas estas são as minhas interpretações, porque o que verdadeiramente queria transmitir aos editores e a todos os membros da Tabanca é o prazer de vos convidar e de vos ter neste momento em que se falará dos tempos que a nossa geração viveu em África.

Recebam os melhores cumprimentos e um abraço de camaradagem do
Carlos Matos Gomes
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Notas de vb:

1. Carlos Matos Gomes

(i) Nasceu a 24 de Julho de 1946 em Vila Nova da Barquinha.
(ii) Fez os estudos secundários no Colégio Nun’Alvares de Tomar e o curso de Cavalaria da Academia Militar.
(iii) Fez três comissões, em Moçambique, Angola e Guiné, nas tropas comando.
(iv) Foi ferido e condecorado, participou em grandes e pequenas operações de guerra um pouco por toda a parte.
(v) É actualmente coronel na situação de reserva.
(vi) Paralelamente à carreira militar tem desenvolvido desde 1983, data da edição do romance «Nó Cego», uma continuada actividade literária. Como romancista, com o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou, além do referido "Nó Cego", os romances «ASP - De Passo Trocado», «Soldadó», «Os Lobos Não Usam Coleira», adaptado ao cinema pelo realizador António-Pedro de Vasconcelos com o título «Os Imortais», «O Livro das Maravilhas», «Flamingos Dourados» e ainda este ano «Fala-me de África».
Tem sido editado pelas editoras Bertrand, Nova Nórdica, Circulo de Leitores, Editorial Notícias e Casa das Letras.
A sua obra consta das antologias de literatura portuguesa organizadas por João de Melo e foi tema da tese de doutoramento do Professor Rui Teixeira na Universidade de Colónia.
(vii) No cinema foi autor do argumento do filme «Portugal SA» do realizador Ruy Guerra, colaborou com Maria de Medeiros no filme «Capitães de Abril» e com Joaquim Leitão nos filmes «Inferno» e «20.13 – Purgatório».
(viii) Escreveu para a RTP a série «Regresso a Sizalinda», baseada no romance «Fala-me de África», a exibir proximamente e que é a primeira co-produção entre as televisões públicas de Portugal e de Angola na área de ficção.
(ix) Participou ainda na área dos áudio visual na ficção «Conta-me Uma História» de João Botelho.
(x) No âmbito da história contemporânea é co-autor, com Aniceto Afonso, das obras «Guerra Colonial» e «Portugal e a I Grande Guerra» editadas em fascículos pelo Diário de Notícias.
(xi) É co-autor, com Fernando Farinha, da obra «Repórter de Guerra», da Editorial Notícias.
(xii) É autor da obra «Nó Górdio – Moçambique 1970», da Colecção Batalhas de Portugal editada pela Tribuna da História.
(xiii) É autor de textos para a História de Portugal dirigida por João Medina para o Ediclube e da História Militar Portuguesa, dirigida por Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira para o Circulo de Leitores.
(xiv) Foi consultor da série de três documentários para televisão «Isto Aconteceu» produzidos por Pedro Efe e da série a “Guerra” de Joaquim Furtado.
(xv) Participou nas séries documentais da SIC e da RTP sobre o Século XX.

resumo elaborado por Luís Graça e publicado em

30 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3251: Em Busca de ... (41): Notícia sobre o ataque a Sedengal, em 21/12/1970 (Cor Carlos Matos Gomes)

2. Artigos relacionados em

5 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)

3. Artigos "Bibliografia de uma Guerra" em

Guiné 63/74 - P3535: Blogues da Nossa Blogosfera (8): Portal Guerra do Ultramar, do António Pires, de novo em velocidade de cruzeiro


1. Às 4h47 da manhã, o António Pires mandou-nos uma mensagem a dizer que o portal Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, estava de novo on line... O que já hoje de manhã confirmámos... Foram seguramente muitas horas de sono que o António Pires (a eu...quipa do Terraweb) perdeu, para poder pôr de novo a 'máquina' em movimento... Reproduz-se aqui a sua mensagem:

Caros Antigos Combatentes, Companheiros, Camaradas e Amigos,

Depois de termos procedido à reparação de algumas 'mazelas' no sistema informático, voltámos ao nosso posto, pelo que ficamos a aguardar as vossas notícias.

Aproveitamos para agradecer a todos aqueles que expuseram nos seus blogues ou sites o nosso problema e, também, àqueles que nos escreveram ou nos telefonaram a manifestarem a sua solidariedade e nos incentivaram a continuar.

Obrigado e um Bem Hajam.

A equipa do Terraweb



Da nossa parte, resta-nos dar-lhe os parabéns e desejar que o portal entre rapidamente em velocidade de cruzeiro, em segurança. (Convém aqui lembrar que a segurança inmformática é um problema de todos nós, utentes, e não apenas dos criadores e editores de páginas e de blogues na Internet; também aqui é preciso usar camisinha, perdão, ter nos nossos computadores um bom software de segurança; no caso dos blogues, é preciso ter cuidado com o IN que usa software do tipo com adware, malware ou spyware)...

Reproduzimos a seguir mais algumas mensagens que nos chegaram, de solidariedade (*) com os camaradas do Ultramar Terraweb.

2. Mensagem do Albano Costa, com data de 26 de Novembro:

Caros Editores

Hoje levei um murro no estômago!... Mas que grande maldade!...

E eu sempre a teimar comigo mesmo, que nada era como dantes!...

Não vou discutir as razões que levaram o autor a suspender o seu, e nosso «terraweb», mas que fiquei muito defraudado, aí isso fiquei, só tenho pena que a história ainda ia no princípio, e já teve que se ir embora, lamento muito o sucedido, mas meus amigos estou esperançado que estas coisas não podem morrer assim, a história sobre a guerra (do ultramar ou colonial) vai ter de continuar, afinal andamos nela e mesmo obrigados não tivemos medo de morrer.

Desejo-vos boa saúde para todos, Albano Costa


3. Do José Martins, com data de hoje, de manhã:

Caro António Pires e restante equipa

Foi com imensa alegria que tomei conhecimento do REGRESSO DA PÁGINA.

Como te disse, telefonicamente, estou solidário contigo e com a equipa. Ainda ontem falei no caso da Ultramar.Terraweb, no encontro que houve na Biblioteca Museu Republica e Resistência sobre o livro Braço Tatuado de Cristóvao de Aguiar.

Mais uma vez saúdo o regresso da página que agrega, não só TODOS OS COMBATENTES, mas tambem os amigos da verdade.

Força e em frente.

Um abraço

José Martins


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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

24 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3513: Blogues da nossa blogosfera (5): Quem quer calar o portal Guerra do Ultramar ? (José Martins / Luís Graça)

26 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3523: Blogues da Nossa Blogosfera (6): Solidários com o portal Guerra do Ultramar, do António Pires

27 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3530: Blogues da Nossa Blogosfera (7): Intervalo na democracia, já?...(António Matos)

Guiné 63/74 - P3534: Braima Galissá, grande representante da cultura guineense na diáspora (1): Djidiu e tocador de corá

Lisboa, Museu da Farmácia, 11 de Novembro de 2008. Cerimónia de lançamento do livro Diário da Guiné: 1969-1970: O Tigre Vadio, da autoria do nosso camarada Mário Beja Santos (Lisboa: Círculo de Leitores, e Temas & Debates, 2008, 440 pp.).

Excerto da actuação do mestre Braima Galissá, guineense, mandinga do Gabu, nascido em 1964, a viver em Portugal desde 1998, tocador de kora, e cantor (djidiu). Reprodução autorizada pelo mestre a quem dirigi um convite para integrar a nossa Tabanca Grande. (LG)

Vídeo: © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo (3' 50'') alojado em: You Tube >Nhabijoes.

(No caso de dificuldade de visionamento do vídeo, clicar em watch in high quality).

Filho, neto, bisneto e tetraneto de tocadores de kora, um instrumento inventado no Gabu pelo seu tetravô, o mestre Braima Galissá vive na diáspora, em Portugal, onde tem sido, nos últimos dez anos, um generoso, competente e empenhado defensor da cultura musical mandinga.

Da sua página, oficiosa, na Net, consta que o José Braima Galissá foi compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau, responsável instrumental do mini Ballet Nacional e professor de Kora na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz durante 11 anos. Já participou em actividades culturais em vários países. Fugido da guerra civil de 1998, está em Portugal desde então, executando vários projectos culturais.

Braima Galissá nasceu em 1964, no Gabú, no Leste da Guiné-Bissau, capital do antigo império do Gabú que por sua vez sucedeu ao antigo império do Mali.

Começou a aprender o Kora com 5 anos de idade pela mão do seu pai, também ele músico, tocador de kora e didjiu, uma profissão que é hereditária, de acordo com a tradição mandinga. Em meados de 1979 iniciou a sua carreira, primeiramente cm os pioneiros Abel Djassi. Com eles teve acesso à escola e com eles participou em acampamentos da juventude na Guiné e no estrangeiro, tendo então portunidade de conhecer outras culturas. Deixou a casa do pai, e por isso foi para Bissau onde se dedicou ao estudo da música. "O Kora envolve misticismo e simbologia. É o instrumento que o acompanha nos espectáculos e é o suporte principal do género musical que interpreta. Desde que começou a actuar em público houve um momento que o marcou, que foi quando com mais 11 crianças estava a representar a Guiné-Bissau num acampamento em Cabo-Verde em 1979. As pessoas gostaram porque o kora nunca tinha chegado ao arquipélago. As pessoas seguiam-no por todo o lado, faziam-no perguntas sobre o instrumento, queriam tocá-lo, queriam saber tudo. Nessa altura apercebeu-se do 'peso' do Kora. A partir daquele momento em Cabo-verde decidiu que devia continuar nessa vida. Nos anos seguintes participou em vários eventos." (Continua) Contactos do artista:

(i) Telefone: 938325723 / 964660125 (ii) Email: braimagalissa@gmail.com (iii) Endereço postal: José Braima Galissá Rua Cidade de Manchester nº6 - cv 1170-100 Lisboa

Guiné 63/74 - P3533: (Ex)citações (7): A reciclagem das garrafas de cerveja na Ponta do Inglês (José Nunes / Manuel Moreira)

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Humor (negro): Um dari [chimpanzé do Cantanhez] , em cativeiro, numa aula prática sobre reciclagem do lixo...

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados

Quem disse que a fome e a sede, aos vinte anos, não eram boas conselheiras ? Na Ponta do Inglês, o melhor soldado do mundo (que era o nosso, pois claro!) reciclava tudo, a começar pela garrafa da cerveja, a bazuca mais desejada do mundo, e que vinha de lancha. E ainda não se falava, nesse tempo e nesse lugar, em crise energética, economia do lixo, ecologia, ecopontos, economia sustentável, e por aí fora... (Se calhar queriam uma estância balnear, não?!).

Na Ponta do Inglês (que nada tinha a ver com o Ultimato Inglês de 1890!), nada se perdia, tudo se transformava... Claro que eram todos voluntários e patriotas, os rapazes que heroicamente defendiam a Ponta do Inglês, na Foz do Corubal... Eram gajos com brio, porra! Tugas dum carago!



1. "Ponta do Inglês, local onde estive 2 a 3 horas, o tempo da maré... Na altura a iluminação do quartel era feita com garrafas de cerveja, cheias de petróleo, e o alarme era as ditas quase juntas para tilintarem e darem o alarme, só que os macacos davam p'ra se agarrar ao arame farpado e tilintar as garrafas... Pelo sim pelo não, o melhor era uma rajada"

José Nunes,
ex 1º Cabo Mec Electri Centrais
Beng 447
1968/70

Comentário de 27 de Novembro de 2008 ao poste do memso dia > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

2. Da Canção da Fome:

(...) Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.



Poste de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69




3. (...) "Se não queriam ir que não fossem, mas não venham, agora velhos, lamentarem-se e quase pedir desculpa por terem sido soldados... Tenham brio, porra!"

Jorge Fernandes


Extracto de poste de 27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3529: Controvérsias (13): Se não queriam ir que não fossem...(V. Briote)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3532: O Nosso Livro de Visitas (47): Rogério Pereira, filho do 1º Cabo Manobra Jorge António Pereira, morto em combate na Guiné em 1973

1. Mensagem de Rogério Pereira, filho do nosso camarada Jorge António Pereira, Cabo Manobra, que morreu no dia 5 de Agosto de 1973 a bordo da LDM 113, durante um ataque IN a esta embarcação.

Boa tarde,
Antes de mais um grande bem haja pelo V/blog que vou seguir de perto no futuro (http://rogerio-pereira.blogspot.com/).



Chamo-me Rogério Pereira, natural de Peniche e a viver em Angra do Heroísmo e sou filho do patrão da LDG, Cabo Manobra, citado no post Guiné 63/74 - P1665: Operação Larga Agora, Tancroal, Cacheu, local maldito para a Marinha (Parte I) (Lema Santos) do V/camarada Manuel Lema Santos.

Ao ler o seguinte excerto do post:

- Em 5 de Agosto de 1973 as LDM 113 e 412, navegando em comboio de Ganturé para Farim, foram emboscadas violentamente no Tancroal com armamento diverso incluindo RPG. A LDM 113, que ocupava a 2.ª posição na coluna, foi atingida por RPG em cheio no sector de ré, zona da cabine, toldo e convés. O patrão, Cabo M, teve morte quase imediata e o Mar C (telegrafista), gravemente ferido, veio a falecer no Hospital Militar de Bissau. Depois de reagirem aportaram a Bigene

foi com emoção que senti que o meu pai morreu entre amigos e homens de coragem cuja memória a Pátria deve honrar.

O meu pai, Jorge António Pereira, Patrão da LDG, Cabo Manobra n.º 2404, era natural do Bombarral e vivia em Peniche onde tinha servido na Capitania local.

Obrigado.


2. Comentário de CV

Caro Rogério
Muito obrigado pelo seu contacto

Apesar da mágoa por ter perdido o seu pai, sente-se que tem orgulho na forma como ele faleceu. Perdeu a vida no cumprimento do seu dever de militar e honrou a farda da Marinha que vestia.

As missões impostas às Unidades da Marinha de Guerra, que navegavam nos sinuosos rios da Guiné, eram muito perigosas. Não raras vezes aconteceram ataques, com baixas nos nossos valorosos homens da Armada. Eles foram o garante dos reabastecimentos de víveres e armamento de Norte a Sul da Guiné, quer navegando nos grandes rios, quer em pequenos cursos de água, com o perigo espreitando a cada curva. Muitas vidas dos militares do Exército, em missão de quadrícula em locais onde não era possível o abastecimento por terra, dependiam da valentia e da coragem dos seus camaradas da Marinha.

Estamos orgulhosos pelo seu pai e solidário com a sua dor de filho.

Disponha do nosso Blogue sempre que queira e considere-se desde já nosso amigo. Parafraseando o nosso tertuliano José Martins, os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Receba um abraço da Tertúlia
Carlos Vinhal
Co-editor
______________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3524: O Nosso Livro de Visitas (46): A. Paulo, Pel Caç 953, Guiné, 1964/66

Guiné 63/74 - P3531: Controvérsias (14): PAIGC/FLING, Tite/São Domingos...(Carlos Silva)

Quando começou a Luta de Libertação?



Início da Guerra Colonial – Guerra do Ultramar [Guiné]
Início da Luta Armada – Início da Luta pela Libertação da Pátria [Guiné]
Início da Luta Armada pela Independência dos Territórios Ultramarinos da Guiné e Cabo Verde


As expressões referidas em epígrafe em minha modesta opinião e salvo o devido respeito, que é muito, por opiniões contrárias, consubstanciam ou podem traduzir vários sentidos ou interpretações, que neste momento, me dispenso de desenvolver.

Não sou Historiador e nem tenho formação académica na área de História e desconheço quais os factos relevantes que os Historiadores lançam ou irão lançar mão, neste caso concreto para qualificar o início da luta armada do povo da Guiné e Cabo Verde que conduziu à Independência destes dois territórios.

Da vasta bibliografia que possuo e li sobre a Guiné, Guerra da Guiné, Guerra Colonial, cerca de 200 livros, jornais, revistas e filmes que tenho visto na TV e em DVDs, sempre ouvi, li e vi referências que o início da luta armada pelo PAIGC que conduziu à independência daqueles dois territórios, iniciou-se com o ataque ao Aquartelamento de TITE, em 23 de Janeiro de 1963, levado a efeito pelos guerrilheiros nacionalistas, data invocada em todos os meios de comunicação referidos, sendo que, alguns fazem breves referências a tais acontecimentos, não desenvolvendo algo sobre os factos que ali se passaram, a não ser a data em que efectivamente teve lugar o início da luta armada levada a efeito pelo PAIGC.

Ataque ao Aquartelamento de Tite – 23-01-1963

Algumas Referências Bibliográficas

Sobre o começo das hostilidades ou início da luta armada pelo PAIGC em 23-01-1963 com o ataque ao Aquartelamento de Tite, situado no Centro-Sul da Guiné, por estranho que pareça, não encontramos qualquer narração escrita de forma desenvolvida sobre os factos que se passaram, quer do lado português, quer do lado do movimento nacionalista.

Da bibliografia aqui indicada, apenas se encontram breves referências alusivas a tão importante facto histórico no seguinte sentido:

1 - "... Em Janeiro de 1963, foi a sede do Batalhão atacada com armas automáticas e de repetição e granadas de mão. Deste ataque resultou 1 morto e 1 ferido das NT e 8 mortos confirmados e vários feridos graves IN. Depois deste ataque foram intensificados os patrulhamentos de que resultou a morte de Papa Leite, elemento IN que actuava na área e que facultou a recolha de valiosíssimos elementos da Ordem de Batalha IN..."

In, Carta de 7-07-1981 do Ten Cor Manuel José Morgado, enviada ao Director do Arquivo Histórico Militar, em resposta ao assunto " História das Unidades".

Resumo da Actividade do BCaç nº 237/BCaç nº 599 - Maio de 1963 a Maio de 1965 [Caixa nº 123 - 2ª Div/4ª Sec., do AHM]

2 - A propósito da detenção de alguns dirigentes do PAIGC em Conakry, por alegado contrabando de armas, diz Luís Cabral:

“... O Aristides respondeu em poucas palavras, justificando o nosso acto pelo interesse da luta comum e pedindo-lhe [ao Ministro da Defesa da República da Guiné-Conakry, Keita Fode] que transmitisse o nosso reconhecimento ao presidente pela sua fraterna compreensão. Quanto ao regresso do Amílcar, falando com toda a franqueza, não acreditávamos que ela pudesse ter lugar antes da nossa libertação, mesmo com a mensagem.

"Era lógico que ele fosse aconselhado a reflectir muito sobre a questão pois, se havia razões para estarmos ainda detidos, essas razões seriam certamente mais válidas em relação a ele, como primeiro dirigente do Partido.

"Entretanto, nas diferentes zonas do interior do país, ao tomarem conhecimento da nossa detenção, os combatentes decidiram juntar o pouco material de que dispunham e agir prontamente contra as posições colonialistas, onde isso fosse possível.
A 23 de Janeiro era realizado o primeiro ataque das forças nacionalistas do PAIGC, contra o quartel de Tite, sede administrativa da circunscrição de Fulacunda...”


In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição 1984, pág. 144

3 – “…Malogradas as tentativas pacificas, só restaria a luta armada e, após uma declaração de Amilcar Cabral à Imprensa, em Dacar, de 26 de Agosto de 1962, verificou-se o ataque de guerrilheiros ao quartel de Tite, a 23 de Janeiro de 1963…
No caso do Senegal, conquanto inicialmente o seu apoio se evidenciasse mais favorável à FLING, Léopold Sédar Senghor viria a transferi-lo para o PAIGC…”

In, Sambu, Queba, TenCoronel – Dos Fuzilamentos ao caso das Bombas da Embaixada da Guiné, Edições Referendo, 1989, pág 18

4 - "... 23 Janeiro de 1963 - O PAIGC assalta o quartel de Tite e inicia a guerra na Guiné.

"Cabral tentou ainda fazer-se ouvir, com apelos ao diálogo, mas é pelo efeito das armas que a minúscula Guiné se torna a segunda frente de contra-ataque português...."


In Antunes, José Freire, A Guerra de África 1961-1974, volume 1, Temas & Debates, Outubro de 1996, pág. 34.

5 - António E. Duarte Silva, citando Amílcar Cabral "O Desenvolvimento..." Cit. Obras...Vol. II, pág.37, sobre este facto salienta:

"...b) O início da luta armada

"A luta armada de libertação nacional começou efectivamente em 23 de Janeiro de 1963 com o ataque, por uma centena de guerrilheiros ao quartel de Tite, na margem sul do Rio Geba, onde estava instalado o comando de um batalhão português:

"(...) vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas distantes surgiam então os combatentes do nosso partido. Não vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo. (...)

"Em Julho de 1963 a guerra atingiu as florestas de Oio, a norte do Geba, de modo que, ao chegar-se ao final de Agosto de 1963, a situação na enorme região que abrange Bissorã, Binar, Encheia, Mansoa, Mansabã e Olassato, não era muito diferente da existente em grande parte do sul da Província: populações fugidas, tabancas abandonadas ou destruídas, estradas obstruídas, a vida administrativa e actividade comercial profundamente afectada"...


In Silva, António E. Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Março de 1997, pág. 47

6 - "... Na Guiné, as acções de guerrilha foram iniciadas pelo PAIGC em Janeiro de 1963, com um ataque ao quartel de Tite, a Sul de Bissau, junto ao rio Corubal [1], embora outras pequenas acções tivessem ocorrido antes. As operações estenderam-se rapidamente a quase todo o território, em contínuo crescendo de intensidade, que exigiu o empenhamento de efectivos portugueses cada vez mais numerosos..."

In Afonso, Aniceto, Gomes, Carlos Matos, Guerra Colonial - Angola, Guiné, Moçambique - Ed. Diário de Notícias, em fascículos.

[1] - Lapso dos Autores, porquanto, Tite situa-se a poucos quilómetros da margem esquerda do rio Geba. Enquanto o rio Corubal é um afluente da margem esquerda do rio Geba e desagua próximo das povoações de Ganjaurá, Ganturé e Ponta do Inglês, situadas a Norte de Fulacunda.


7 - "... O Partido procurou, deste modo, responder às reivindicações destes estratos, que pretendiam ascender a um patamar superior na hierarquia social. A mobilização dos camponeses iniciou-se após os acontecimentos do Pidjiguiti, altura em que foi decidida a preparação para a luta armada.

"O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, em Tite..."


In Pinto, Jorge, Paulo, Manuel, Duarte, Paula - Guiné Nô Pintcha! - Para uma análise Socio-económica da Guiné-Bissau, Edições Universitárias Lusófonas, Outubro de 1999, pág. 33

8 - "... Em 23 de Janeiro de 1963, o PAIGC desencadeia a luta armada na Guiné-Bissau. Três dias depois, o governo de Salazar fixa os vencimentos dos elementos das Forças Armadas em serviço nas Províncias Ultramarinas.....

"23 de Janeiro de 1963 - Início da luta armada, com ataque ao Quartel de Tite, no Sul da Guiné-Bissau. Chegam a Conakry os primeiros recrutas a fim de receberem treino militar..."


In Cabral, Amílcar - Sou um simples africano, Fundação Mário Soares, 2000, págs. 32 e 83.

9 - “ ... A Guiné apresentava características diferentes. De acordo com o censo de 1960, a sua população era de aproximadamente 500.000 habitantes, cerca de dez vezes menos do que a de Angola, estando concentrada no delta costeiro ocidental e dividida em vinte e oito grupos etnolinguísticos distintos. O PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde], fundado em Lisboa em 1956, arrancou para a luta armada em 23 de Janeiro de 1963 com um ataque ao Quartel de Tite.

"O seu líder era Amílcar Cabral, engenheiro agrónomo licenciado em Lisboa e aí convertido à doutrina marxista-leninista.

"As condições topográficas da província e o apoio de Conakry aos terroristas do PAIGC fizeram da guerrilha da Guiné a mais dura de todas as que se travaram nas frentes do Ultramar. Afectado por convulsões internas [como as que originaram o assassínio de Cabral em 1973], sem nunca ter conseguido resolver o problema da rivalidade existente entre guinéus e cabo-verdianos, o PAIGC, em 1974 e ao invés do que proclama a versão oficial estava disposto a entender-se com os portugueses e a abandonar o mato...”


In, Santos, Bruno Oliveira – Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, 2ª edi. 2000, pág. 93

10 - "... O primeiro ataque armado eclodiu a 23 de Janeiro de 1963, contra as instalações de um aquartelamento das Forças Armadas Portuguesa, em Tite..."

In Atlas da Lusofonia, 1º Vol. – Guiné-Bissau, Ed. Instituto Português da Conjuntura Estratégica e do Instituto Geográfico do Exército, Maio 2001, pág. 25

11 – "... Instalados nos territórios estrangeiros limítrofes, os atacantes preparados e armados por potências interessadas em expulsar os portugueses de África, à sombra da bandeira da independência, sob o lema da 'África para os africanos', passaram a realizar acções violentas com a continuidade, na Guiné, desde 23Set63, [ataque ao aquartelamento de Tite] {aqui, a data está errada e para a qual já alertei a Comissão…} e na sequência de alguns ataques esporádicos, o primeiro dos quais levado a efeito na noite de 20 para 21 de Julho de 1961, em S. Domingos por iniciativa do Movimento para a Libertação da Guiné [MLG], antecessor do PAIGC na luta pela independência do Território… “

………
"....Bat Caç nº 237 - Síntese da Actividade Operacional

Após o início das primeiras acções contra as NT, com o ataque ao aquartelamento de Tite, em 23 Janeiro de 1963, comandou e coordenou a actividade operacional das suas forças numa série de acções ofensivas nas áreas do Quitifane, Cantanhez, Quinara e Jabadá - Gã Chiquinho."


In Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 7º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 6 e 40

Posto isto, relativamente aos Postes nº 3294, 3298 e 3308 relativos ao ataque a Tite em 23-01-1963; Postes 3459 e 3492, CCaç 84 em Defesa de Guidage, Bigene, 1961; Poste 3503, Comentário de Santos Oliveira, e Post 3514, posição do nosso Camarada Mário Dias, publicados no Blogue, em que ressaltam os entendimentos destes Camaradas sobre o [início da guerra na Guiné??..] parece-me de salientar principalmente o seguinte:

Carlos Silva

1 – Parece que é aceite pela opinião pública em geral [portugueses, guineenses e cabo-verdianos] que o início das hostilidades pelo PAIGC que conduziram à independência dos dois territórios, tiveram lugar com o ataque ao Aquartelamento de Tite em 23 de Janeiro de 1963, para findarem apenas após atingido o seu objectivo principal, a independência alcançada após o 25 de Abril de 1974.

S. Domingos

2 – O nosso camarada Mário Dias no Poste 3514 diz que "...é falso. O PAIGC pretende os louros de ter iniciado o que se passou a designar por luta de libertação. Mas não foi assim. Em Julho de 1961, a FLING (Frente de Libertação e Independência da Guiné, liderada por François Mendy e sediada no Senegal) atacou com armas de fogo o quartel de S.Domingos onde se encontrava instalada parte (julgo que apenas um pelotão) da Companhia de Caçadores 5, destacada na Guiné…

(...) "Foi um ataque deliberado a um quartel e a uma unidade militar feito por um movimento que também lutava pela independência mas cuja existência o PAIGC procura ignorar e até negar….

(...) "Falei com alguns dos militares pertencentes a essa unidade destacada em S.Domingos e um furriel…

(...) "Quanto à posterior ocorrência de incidentes em Guidaje, conforme já relatei, não me recordo deles e, por isso, nada posso acrescentar…]"


Carlos Silva

O Mário tem a sua razão, depende da perspectiva de interpretação que cada um de nós dê à referida expressão.

Pois se a mesma significar um sentido global, então a Luta de Libertação não começou em 1961, mas, com certeza, começou após a ocupação do território ou a partir de outras campanhas, como por exemplo foi o caso no tempo de Teixeira Pinto, creio que em 1912 ou 1913 contra os revoltosos do Oio.

Carlos Silva


3 - Contudo, é de salientar o que é referido pela Comissão de História das Campanhas de África 1961-1974 “…e na sequência de alguns ataques esporádicos, o primeiro dos quais levado a efeito na noite de 20 para 21 de Julho de 1961, em S. Domingos por iniciativa do Movimento para a Libertação da Guiné [MLG], antecessor do PAIGC na luta pela independência do Território… “

vd ponto 11 das Referências Bibliográficas.

Daqui resultam informações contraditórias.

A Comissão, refere que o ataque que se verificou em S. Domingos é da iniciativa do MLG, antecessor do PAIGC…, embora eu, de momento, não me recorde de ter lido algo sobre este MLG e que o mesmo tivesse reivindicado tal ataque - o que tenho lido é sobre o MING -Movimento para a Independência da Guiné, fundado por Amilcar Cabral e Rafael Barbosa, e não li em parte alguma a reivindicação por este Movimento relativamente ao citado ataque.

O Mário refere-se à FLING - Frente de Libertação e Independência da Guiné, liderada por François Mendy e sediada no Senegal, como sendo quem efectuou o ataque.

Efectivamente eu não sei quem efectuou o ataque e desconheço, de momento, para além destas duas, outra qualquer referência a tal facto, ficando agora na dúvida. - Quanto às datas do ataque parecem ser coincidentes no que se refere ao mês e ano.

Bigene e Guidaje

4 – […Quanto à posterior ocorrência de incidentes em Guidaje, conforme já relatei, não me recordo deles e, por isso, nada posso acrescentar…], isto dito pelo Mário.

Carlos Silva

Eu também nunca ouvi falar sobre estes incidentes naquela localidade, assim como em Bigene, segundo vem referido no Poste 3459 do Alberto Nascimento [que não presenciou os factos] que diz:

“…Agora era só meter no saco o estritamente necessário para uso pessoal e desandar para Farim porque tinha havido um ataque em Bigene….

"…e toca a correr para Bigene, onde passámos a noite à espera “que o assassino voltasse ao local do crime”, mas como não voltou, de manhã cedo voltámos a Farim…

"…Estávamos a começar a entrar na rotina militar, quando se deu um ataque a Guidaje e lá fomos nós ver os prejuízos…

"É óbvio que nos limitámos a verificar as marcas deixadas pelos tiros que dispararam, a olhar para o armazém de mancarra parcialmente queimado e a conversar com alguns habitantes, após o que o comando da coluna decidiu, ao fim da tarde, regressar a Farim" (...).


Carlos Silva

Enfim, não há notícias de mortos, feridos, se eram muitos ou poucos os guerrilheiros, quais os estragos causados, porque não avançou para lá o mencionado Esq ou Pel de Cavalaria estacionado em Farim, não há registos militares elaborados por essa Unidade, etc, etc…

Poste 3492

“… a ida para Farim e o recebimento da G3 são um dado que está absolutamente correcto, seja qual fôr a data convencionada para o início da história da guerra na Guiné"…

Carlos Silva

Provavelmente serão estes ataques a que a dita Comissão se refere quando menciona “…e na sequência de alguns ataques esporádicos"!...

5 - Do atrás exposto verificámos:

A ausência de outras referências e outros testemunhos, pelo menos, ao nível do Blogue, embora daquilo que li e vi, como já disse, não registei qualquer alusão a estes factos.

Um lapso de tempo de ano e meio que vai de Julho de 1961 a Janeiro de 1963, sem se ouvir contar que houvesse continuidade de escaramuças.

6 – Prosseguindo, continuação do Poste 3459

“ 3. Comentário de L.G.:

"…Em terceiro lugar, os acontecimentos que tu nos relatas, obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue.

"Pelo que tu nos contas, já usavas G3 em meados de 1961, em substituição da velhinha Mauser. E devias também usar capacete de aço! Imagino o suplício, com aquela torreira toda... Esta é, de facto, uma história da velhice mais velha! Portanto, em meados de 1961, os camaradas - possivelmente gente da FLING, e não do PAIGC - já andavam aos tiros aos nossos comerciantes e aos seus armazéns de mancarra, lá na região do Cacheu , na fronteira com o Senegal, em Bigene e em Guidaje….”


Carlos Silva

7 – Donde, embora respeite a opinião do nosso Camarada Luís Graça, não comungo da mesma, com o fundamento no relato de apenas dois camaradas, quando afirma “... obrigam-nos a rever a história da guerra da Guiné. Afinal, a guerra não começou em Tite, em 23 de Janeiro de 1963. Essa é a lenda que nos contam os camaradas do PAIGC, e que os historiógrafos (guineenses, portugueses e outros) tendem a reproduzir... tal como nós, aqui no blogue... ”

8 – Porquanto, nesse sentido, tal como atrás referi, se considerarmos esses ataques esporádicos de Julho de 1961, como refere a Comissão e sem qualquer continuação, então poderemos considerar que o início da luta da libertação ou a guerra da Guiné, como lhe queiram chamar, remonta à época da sua ocupação... ou às campanhas de Teixeira Pinto, etc., etc.

9 - Tenho para mim, como facto assente, público e notório que o início da luta armada levada a efeito pelo PAIGC e que conduziu à independência dos dois territórios aqui mencionados, iniciou-se com o ataque ao Aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro de 1963, efectuado por guerrilheiros nacionalistas pertencentes àquele Partido, sem qualquer interrupção até atingirem o seu objectivo, a independência, que veio a concretizar-se após o 25 de Abril de 1974.

10 – Seria bom que outros Camaradas, presentes na Guiné em 1961 e posteriormente, conhecedores de elementos comprovativos destes factos relevantes para a História Contemporânea dos nossos Países, dessem a conhecer por qualquer meio sobre o que sabem ou presenciaram.

Aqui deixo o repto

Carlos Silva

Ex-Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879
Massamá, 26 de Novembro de 2008

________

Notas de vb:

1. O nosso muito obrigado por este contributo do Carlos Silva, nosso ilustre camarada e jurista e que mantém um blogue com muita informação pouco conhecida.

2. Em referência ao artigo publicado em

25 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3514: Controvérsias (12): A G3, a FLING, o PAIGC, o Pdjiguiti, São Domingos, Tite e outras lendas (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P3530: Blogues da Nossa Blogosfera (7): Intervalo na democracia, já?...(António Matos)

Já estaremos no período de 6 meses de intervalo da democracia ?

António Matos

ex-Alf Mil da CCaç 2790

Bula 1970/722





Cheguei a uma altura em que consigo discernir algumas tendências no blogue ainda que o tempo seja curto para daí tirar ilações.


Já percebemos que há dúvidas quanto ao início da guerra na Guiné (1961 ou 63?) porquanto algumas acções de flagelação assim são consideradas por uns enquanto outros as intitulam como verdadeiro pontapé de saída nas hostilidades.
Serve de curiosidade histórica.

A questão das G3, legais ou ilegais, com guia de remessa para a fiscalização verificar, alemãs ou portuguesas, de coronha de madeira ou de plástico, enfim de curiosidade histórica incontornável.
A procura de camaradas esquecidos ou desaparecidos e postos na rota dum resgate moral; a temática de guerra ganha ou guerra perdida, tem igualmente animado as hostes.
Paralelamente, tenho notado a derivação mais ou menos evidente do que me pareceu ser o leitmotiv deste espaço - as estórias da guerra vividas por cada um de nós e aqui transcritas para memória futura.
Nesse sentido já foram publicitados outros blogues (concorrência?) e nem sempre sobre a temática Guiné 63/74 o que me leva a dizer-vos que também rascunho umas palavras para o Já percebemos que há escritores e poetas oriundos dos mais variados pelotões; relatos trágico-cómicos de notável qualidade literária; palavras sentidas de emoção comovente; Solidariedades transmitidas e com desejo de chegarem aos ouvidos certos.
Mas, agora aparece um post - o P3513 - que não chego a percebê-lo por evidente falta de pormenores ainda que dê a entender que algo se assemelha a uma coisa chamada de censura e que julgávamos arredada dos nossos dias.
Já houve quem preconizasse um intervalo de 6 meses na democracia e, com o teor daquele post, espero que não tenha começado esse período!
__________

Notas de vb:

1. Refª ao artigo de

2. Artigo do António Matos em

Guiné 63/74 - P3529: Controvérsias (13): Se não queriam ir que não fossem... (V. Briote)

Estranhezas

1. Mensagem de Jorge Fernandes , enviada em 22 de Novembro de 2008:

Sr. Luís Graça,

De vez em quando vou visitar o seu blog e levanto as seguintes dúvidas aos que por lá passam: será que na altura em que foram chamados a servir nas FAs tinham consciência de que apenas estavam a cumprir com a obrigação de defender Portugal, de acordo com aquilo que os nossos familiares falavam e a escola ensinava.
Iam de livre e espontânea vontade de acordo consigo próprios, mas também contrariados alguns pois aos vinte anos é idade de nos divertirmos se pudermos.

Agora virem ao fim de 40 anos, lamentarem-se de terem feito a tropa e alguns poucos terem combatido, apontando erros a torto e a direito a tudo e todos (só concordo com o apontar aos erros, traições e omissões dos oficias do QP do Exército, que tirando os das Forças Especiais são os mesmos que espatifaram Portugal e o futuro dos meus netos).
Se não queriam ir que não fossem, mas não venham agora velhos lamentarem-se e quase pedir desculpa por terem sido soldados, tenham brio porra.
Os meus cumprimentos.
Jorge Fernandes

2. Falo por mim. Não tenho procuração de nenhum Camarada do blogue para a resposta que lhe estou a enviar.

Caro Jorge Fernandes

Grato pela sua mensagem, pelas dúvidas que levanta e pelo apelo ao brio.

1. De facto, naqueles tempos tínhamos vinte e poucos. E como é geralmente aceite, naqueles anos a margem de escolha que os jovens dessa idade tinham estava muito condicionada. Nos nossos espíritos (posso generalizar, contra as excepções que ocorreram), depois da escola e do trabalho seguia-se a apresentação às sortes que, na década de sessenta e metade da de setenta estava traçada. Não havia sortes nenhumas.

O destino estava traçado para a grande maioria: Guerra do Ultramar, canhota na mão, dois anos. Foi o que caiu em sorte à juventude daqueles anos. O poder político gozou mais de uma dezena de anos para resolver a questão. Não conseguiu, não quis ou não foi capaz.

Entretanto, dezenas e dezenas de milhares de jovens interrompiam as suas vidas, pisavam trilhos, encharcavam-se até aos ossos, combatiam. Cumpriam o que o País lhes estava a pedir. Em troca recebiam uns trocos para os cigarros, para os selos e cartas para a Família e Amigos. Como é sabido e é próprio de uma guerra, quase uma dezena de milhar morreu em combate, centenas regressaram amputados de partes do corpo e, segundo o que dizem e escrevem alguns especialistas, muitos mais trouxeram as suas mazelas para a então Metrópole e obrigaram os Pais, Mulheres e Filhos a conviverem com a guerra até hoje, com os benefícios conhecidos.

2. Os combatentes eram na grande maioria Milicianos: Praças, Sargentos e Alferes faziam as despesas da guerra, muitas vezes bem enquadrados por excelentes profissionais, outras vezes nem tanto. Mas não foi por eles, milicianos ou do quadro que a Guerra durou tantos anos.

Estamos conscientes de que fizemos o que podíamos e de que demos o que de melhor se pode dar a uma Pátria. Erros, sim, houve muitos. Cometidos por profissionais e milicianos excelentes e por outros também, como é sabido. E na guerra os erros costumam ser dolorosos, como também sabem por experiência os que por eles passaram.

3. Quase quarenta anos depois estamos de novo reunidos nesta página, com muitos de nós a reviverem acontecimentos de que foram protagonistas ou testemunhas e que, hoje, fazem parte da História do nosso País.

E quer agrade a muitos ou a poucos, estamos em tempos em que nos é reconhecido o direito de, mesmo velhos, contarmos a história que vivemos.

vb
__________

Notas de vb:
1. Estive dois anos consecutivos na Guiné. Depois do regresso, quando procurava estabilizar a minha vida, continuou a guerra: a notícia do grave ferimento em combate, em Moçambique, que inutilizou para a vida o meu único Irmão trouxe para a minha pequena Família consequências irreversíveis. Tive guerra que chegasse.

2. Artigos da série em

25 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3514: Controvérsias (12): A G3, a FLING, o PAIGC, o Pdjiguiti, São Domingos, Tite e outras lendas (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P3528: A guerra estava militarmente perdida (31)? Perdida pela ganância, incompetência e nas relações internacionais (José Manuel Dinis)

José Manuel Dinis

ex-Fur Mil da CCAÇ 2679

Bajocunda, 1970

A guerra estava perdida

Sobre o tema que o blogue lançou, foram expandidas teses, maioritariamente, no sentido de que a guerra não estava perdida. Que reflectem a generosidade da nossa juventude, capaz de dilatar o esforço exigido, sem quebrar perante as investidas do IN, quiçá, disposta a persegui-lo.

Li num dos últimos posts, que o esforço de guerra português, durante a guerra colonial nas três frentes africanas, foi dez vezes superior ao esforço americano no Vietname.
Vou aceitar como boa a afirmação. Mas se atentarmos que havia 50 a 60 mil jovens deslocados em África para o serviço militar (1), os Estados Unidos com uma população vinte vezes superior à de Portugal, não teriam, seguramente, um milhão de militares mobilizados.

No que respeita à questão orçamental, a comparação proporcional dilata, donde, o esforço português terá sido maior que vinte vezes.
A máquina de guerra portuguesa estava montada, e os custos na compra de equipamentos afectavam sobremaneira, a balança de pagamentos, enquanto os americanos produziam a grande parte do equipamento que consumiam, incrementando a produção interna.
A "máquina" portuguesa não contemplava luxos de guerra, mas parecia suficiente.
Aqui chegados, qualquer opinião já é susceptível de gerar polémica, mas eu corro o risco de prosseguir, sinteticamente:

Portugal perdeu a guerra por ganância, incompetência, e nas relações internacionais.

Quanto à ganância: todos ouvimos falar, durante a guerra, de militares dedicados a várias negociatas, à custa do sacrifício dos subordinados.
Em 1970, na Guiné, constou-me haver um processo pendente sobre um major de intendência, e falava-se nas esplanadas sobre um desfalque de onze mil contos, que, aos valores de hoje, equivaleriam a um euromilhões.
Mas o que posso assegurar, relativamente à CCaç 2679, quando entrou em quadricula, é que "aceitou" várias viaturas de motores escancarados, que jaziam encostadas, mas, nos mapas para Bissau, continuavam a funcionar e a gastar combustível sofregamente, a que correspondiam verbas que se dizia irem direitinhas para o pecúlio de alguns, enquanto o pessoal se amontoava nas deslocações, com o consequente aumento do risco e o furriel mecânico andou numa roda viva, e foi impedido de gozar umas férias.
Também no que respeita aos géneros alimentares era um fartar vilanagem. A tudo o que fosse susceptível de meter a unha, lá estavam os negociantes, sempre prontos. Sem capa. Sem vergonha.

Quanto à incompetência, são vários os relatos que se referem, no âmbito do blogue, a situações dessa qualificação, a mais explícita na guerra da Guiné foi a leviana e vergonhosa invasão de Conakry. Mas as contradições do Caco Baldé sobre as decisões bélicas, as negociações diplomáticas, e os suportes da psico com inusitados excessos, contrariando-se, estampavam a perplexidade junto da tropa.

Também é sabido, muitos militares do QP estavam com a vida económica organizada, e distinguiam-se entre os clientes da Torralta e da Matur, por exemplo, empresas onde detinham acções ou títulos de rendimento, como, aliás, referiu ter sido intermediário um destacado membro do MFA.
Ora, a ganância combina com a incompetência, na medida em que uma parte dos militares do QP escudava-se nos aquartelamentos, nas tintas para acções realistas, bem avaliadas e melhor executadas, já que a mão-de-obra disponível manifestava capacidade e generosidade.

Neste aspecto, a cadeia de comando foi manifestamente incapaz de inverter o laxismo. Desse bem-estar económico atingido, da saturação das sucessivas comissões em África, e do esvaziamento das relações familiares, resultou o movimento militar, sem pés nem cabeça, que desabrochou em 25 de Abril.

Falta, todavia, a abordagem ao enquadramento político.

A formação das elites africanas nas universidades dos países colonialistas, desenvolveu ideias emancipalistas, para resolução apressada, que os estudantes julgavam poder concretizar durante as suas vidas, glória, vã glória, e receberam carinhos dos países nórdicos, que ainda hoje não conhecem África, bem como apoios logísticos, conforme os interesses em presença.
Os movimentos emancipalistas surgidos nos territórios sob administração portuguesa receberam apoios, quer da órbita americana, quer da órbita soviética, ambas em conflito com Portugal (Salazar não gostava dos americanos, e a questão do petróleo foi decisiva, e, relativamente aos soviéticos, havia a questão geoestratégica e a Nato).
Durante o agudizar do problema, Portugal só contava com o apoio da Espanha nas decisões dos grandes fóruns, principalmente nas Nações Unidas e Nato, enquanto crescia a animosidade internacional.
Logo, o esforço de guerra tenderia a aumentar cada ano que passava.
Internamente, desenvolveram-se vozes e movimentações políticas, difíceis de aplacar, principalmente por iniciativa dos estudantes, e de uma parte da ala liberal no parlamento, manifestações anacrónicas a qualquer regime. Desenvolviam-se as cisões.

Nos territórios do ultramar acentuava-se a negritude, a arregimentação das populações autóctones, pelo argumento de que os colonos brancos as exploravam. Era evidente, que as províncias ultramarinas privadas da administração portuguesa, sem capacidade para garantir a funcionalidade e sistematização das instituições e serviços, ficariam à mercê das potências, que fizeram, exactamente, o que se poderia esperar delas: abandonaram os novos países sem estruturas, não lhes dando os necessários apoios à estabilização política, social e económica, deixando-os em clima de guerra civil (Guiné e Moçambique), e exploraram as riquezas angolanas. Por isso, ainda hoje, grande parte das populações africanas daqueles territórios, sonha com o tempo dos portugueses.
Face aos argumentos aduzidos, a guerra estava perdida.

__________

Notas de vb:

1. Na década de setenta os números de metropolitanos envolvidos nas três frentes ultrapassaram a centena de milhar. Lembrar que, segundo alguns, só na Guiné chegaram aos 30 mil.

2. Artigos da série em 13 de Novembro de 2008 > > Guiné 63/74 - P3448: A guerra estava militarmente perdida (30)? Nem perdida, nem ganha. António Matos

3. Artigos do Autor em 18 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3477: História da CCAÇ 2679 (7): Quotidianos (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P3527: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (1): Lançamento do livro, 13/12/08, 17h, na Academia Militar, Amadora



Convite > "A Academia Militar e a DG - Edições têm o prazer de convidar V.Ex* para o lançamento do livro A Retirada de Guileje, do Coronel Coutinho e Lima. O livro será apresentado pelos jornalista Eduardo Dâmaso e General Loureiro dos Santos. 13 de Dezembro de 2008 - 17h00. Auditório da Academia Militar. Amadora. Será servido um Alvarinho de Honra, oferta especial das Câmara Municipal de Melgaço e Câmara Mnuicipal de Monção"

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (*) associa-se a esta iniciativa, dá os parabéns ao autor, membro da nossa Tabanca Grande, e espera poder encontrar muitos amigos e camaradas da Guiné, no dia 13 de Dezembro de 2008, às 17h, no auditório da Academia Militar, na Amadora.

A RETIRADA DE GUILEJE

Brevíssimo Resumo:

(i) Em 4 SET 72, com o Posto de Major, iniciei a 3ª. Comissão por imposição, na GUINÉ.

(ii Em 8 JAN 73 fui nomeado, pelo Sr. Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Sr. General ANTÓNIO DE SPÍNOLA, Comandante do Comando Operacional nº. 5 (COP 5), com sede em GUILEJE. Na Zona de Acção do COP 5 passava o “ Corredor de GUILEJE”, através do qual o PAIGC introduzia 70 a 80% dos abastecimentos (armas, munições e outros), para todo o território da GUINÉ.

(iii) Em 25 MAR73, foi abatido na região de GUILEJE, o 1º. Avião a jacto FIAT G – 91, atingido por um míssil terra-ar STRELA; o Piloto foi recuperado, com um pé partido. O aparecimento destes mísseis provocou grandes alterações e limitações no emprego da nossa Força Aérea.

(iv) Em 18 MAI73 pelas 7:00 horas, 2 Grupos de Combate e 1 Pelotão de Milícia, saídos de GUILEJE, foram emboscados por um grupo Inimigo (IN) estimado em 100 elementos; as Nossas Tropas (NT) sofreram 1 Morto, 7 Feridos graves (um dos quais veio a falecer 4 horas mais tarde por falta de evacuação) e 4 Feridos ligeiros.

(v) Em 11 MAI 73, o Sr. General SPÍNOLA, na sua última visita a GUILEJE, afirmara, perante formatura geral de todos os militares que, não obstante os condicionamentos de actuação da Força Aérea, esta faria a evacuação dos feridos graves; esta promessa não foi cumprida.

(vi) Face à situação, solicitei a ida a GUILEJE de Delegados da Repartição de Operações e da Força Aérea; porque estes não apareceram, desloquei-me no dia seguinte (19 MAI) a CACINE, comandando a evacuação das baixas da emboscada, através do rio; esperava lá encontrar os Delegados referidos.

(vii) No dia 20 MAI, ao fim da tarde, fui transportado de helicóptero a BISSAU, onde apresentei ao Sr. General SPÍNOLA a necessidade de reforços, já solicitada antes por mensagem; respondeu-me que não me dava qualquer reforço, que devia regressar na manhã seguinte a GUILEJE e que ia mandar para lá o Sr. Coronel Paraquedista RAFAEL DURÃO, passando eu a 2º. Comandante.

(viii) Cheguei a GUILEJE ao fim do dia 21 MAI, depois me ter deslocado de sintex (barco com motor fora de borda) de CACINE (onde a Força Aérea me deixou) para GADAMAEL; o percurso de GADAMAEL para GUILEJE foi feito em coluna apeada, utilizando um trilho da população; durante o trajecto, ouvimos a flagelação que GUILEJE estava a sofrer, a mais violenta de todas, que provocou a morte de um Furriel Miliciano e vários estragos materiais, entre os quais a destruição total do Centro de Comunicações, incluindo as antenas, o que impedia a ligação rádio com qualquer entidade.

(ix) Face à forte pressão do IN, à não atribuição de reforços e a outros factores (falta de água no quartel, escassez de munições de Artilharia, não evacuação de feridos, etc), decidi retirar para GADAMAEL, no dia seguinte ao romper do dia, todos os militares (cerca de 200) e toda a população (cerca de 500 elementos), por considerar a posição insustentável.

(x) A alternativa era aguardar a chegada do Sr. Coronel DURÃO, que eu não sabia quando se iria verificar e que, em minha opinião, não resolveria a situação, porque, seguramente, não viria acompanhado de reforços, nem tão pouco tinha condições para solucionar vários problemas, tais como: a falta de água, a evacuação de feridos, o reabastecimento de munições de Artilharia e das Armas Pesadas e, principalmente, a forte pressão do IN, que cada vez era mais acentuada.

(xi) Desde as 20:00 horas do dia 18 MAI até às 4:00 horas do dia 22MAI (80 horas), GUILEJE sofreu 37 flagelações. A retirada efectuou-se, em coluna apeada, com pleno êxito, tendo surpreendido totalmente o IN, que continuou a bombardear GUILEJE, onde só entrou em 25 MAI 73.

(xii) O Sr. General SPÍNOLA não sancionou a decisão, ordenando a minha prisão preventiva e a instauração de um Auto de Corpo de Delito; estive preso, em BISSAU, desde 27 MAI 73 até 12 MAI 74.

(xiii) Como consequência do 25 ABR 74, os “crimes” que supostamente me eram imputados, foram amnistiados por Decreto-Lei da Junta de Salvação Nacional e o processo foi arquivado.

Os factos descritos são relatados, no livro que agora publico; o processo é, também, analisado e criticado, com pormenor.

O livro A RETIRADA DE GUILEJE não estará à venda nas livrarias; estou disponível para o enviar, pelo correio, para qualquer parte do Mundo. Os meus contactos são:

- Rua TOMÁS FIGUEIREDO, nº. 2 - 2º. Esq. 1500 – 599 LISBOA
- Telefone: 217608243
- Telemóvel: 917931226
- Email: icoutinholima@gmail.com

O Autor
Alexandre da Costa Coutinho e Lima
(Coronel de Art)

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. alguns dos nossos muitos postes relacionados com Guileje e a retirada de Guileje:

7 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3277: Memórias literárias da guerra colonial (4): A retirada de Guileje - 22 de Maio de 1973 (Coutinho e Lima, Cor Art Ref)

10 de Abril de 2008 > 10 de Abril de 2008 >Guiné 63/74 - P2744: Fórum Guileje (14): Folclore (Cap Inf José Belo) ou Gratidão (Cor Art Coutinho e Lima) ? A homenagem da população local

16 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2650: Uma semana involvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (6): No coração do mítico corredor de Guiledje

17 de Março de 2008 > Guine 63/74 - P2655: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (7): No corredor de Guiledje, com o Dauda Cassamá (I)

17 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2656: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (8): No corredor de Guiledje, com Dauda Cassamá (II)

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2667: Uma semana memorável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (9): O grande ronco de Guiledje

23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2673: Uma semana memorável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (10): Guiledje: Homenagem ao Coronel Coutinho e Lima

Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

1. Primeira mensagem de Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, com data de 12 de Novembro passado, enviada ao nosso Blogue.

Olá, Luis Graça.

Sou Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CART 1746 que esteve em Bissorã de Julho de 1967 a Janeiro de 1968 e Ponta do Inglês, onde fiz a "Canção da Fome" (*), enviada pelo meu grande amigo e conterrâneo Paulo Santiago (somos ambos de Aguada de Cima) e Xime de Janeiro de 1968 a Junho de 1969.

Teria muito gosto em saber o endereço do nosso amigo Sousa de Castro.

Um Grande Abraço.



2. No dia 15 de Novembro foi enviado ao Manuel Moreira o endereço do nosso velhinho camarada, o minhoto Sousa de Castro.


3. No dia 24 de Novembro recebemos nova mensagem do nosso camarada Moreira:

Caro Luis,

Em 12/11/2008, enviei uma mensagem como apresentação, não sei se chegou, gostaria de participar na Grande Família que passou pela Guiné.

Um Grande Abraço



4. Comentário de CV:

Caro Manuel Moreira, a única mensagem tua que recebemos, foi aquela em que pedias o contacto do camarada Sousa de Castro, com data de 12 de Novembro. A resposta seguiu no dia 15.

Se queres pertencer à nossa Tabanca Grande, entra e instala-te à vontade. Afinal já pagaste o teu ingresso, pois no poste 1009 do dia 31 de Julho foi apresentada a letra da tua Canção da Fome, que reproduzimos mais abaixo.

Ficas no entanto ainda em dívida para connosco, porque embora já apresentado e em pleno gozo de todos os direitos inerentes à qualidade de membro da nossa Tabanca, não tens cá as fotos da praxe, muito importantes para te reconhecermos na rua ou num dos próximos Encontros da Tertúlia.

Um abraço
CV


5. Algumas notas de L.G. sobre a Ponta do Inglês

A Ponta do Inglês foi um “matadouro”, para as nossas tropas e para as do PAIGC, sendo um sítio de trágica memória para muitos ex-combatentes que lá participaram em operações.

Era um destacamento (estratégico), na margem direita do Rio Corubal. Foi abandonado pelas NT em Novembro de 1968. Na altura era guarnecido por forças da CART 1746, a unidade de quadrícula do Xime:

vd post de 19 de Março de 2006 >Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado

A queda (ou o abandono) da Ponta do Inglês significou a interdição do Rio Corubal à nossa navegação, quer civil quer militar. E, como muito bem lembrava Amílcar Cabral, "o único rio de facto a sério, na nossa terra, é o Corubal"...

Há dias, na festa do Beja Santos, o Embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa, disse que voltara a reocupar a sua antiga propriedade agrícola (“ponta”) que era um destacamento no tempo do Moreira e do Gilberto Madail, o Alf Mil Madail. Vd. poste de 23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P979: O Gilberto Madail pertenceu à CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69) (Paulo Santiago)

O Embaixador em Lisboa da República da Guiné-Bissau, Constantino Lopes, um antigo Combatente da Liberdade da Pátria, que esteve preso no Tarrafal, de 1962 a 1969, é hoje o único herdeiro e proprietário da Ponta do Inglês (exploração agrícola, de 50 hectares; o seu pai, Luís Lopes, tinha por alcunha o Inglês).


Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > Emocionado, Beja Santos agradeceu a presença de tantos amigos e camaradas que ali se deslocaram, e fez questão de sublinhar o significado da presença do embaixador guineense em Portugal, Constantino Lopes. Este, por outro lado, reafirmou o desejo profundo dos guineenses de viverem em paz e de ganharem o direito a completar a sua luta de libertação.

Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > CCAÇ 2520 (1969/70)

Foto: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados.



CANÇÃO DA FOME

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com Bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:

Manuel Vieira Moreira

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968
_____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3486: Tabanca Grande (98): António Paiva, ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3525: Blogoterapia (79): Gabriel, Cruz de Guerra na Guiné, coveiro na freguesia...(V. Briote)

Camaradas até à cova


40 anos, é mesmo. Parece que foi ontem, que Manuel Alves e o Gabriel "Gago" tinham recebido em Extremoz a guia de marcha para casa e o papel que os mandava para a peluda, 30 e tal meses depois, 24 na Guiné.

Apanharam o comboio em Santa Apolónia. Mala velha cheia de tralha, umas calças, camisa, meias, cuecas e um sabre feito por um mandinga, de cápsulas de G3 derretidas. Era o que o Gabriel trazia da guerra. E um coração tatuado a azul no braço esquerdo, um desenho bem feito, com um senão, tinha-lhe dito o furriel uma vez na formatura, o Albino tinha-se enganado nas letras, tinha escrito amor de fetura noiva.

Na altura, nem um nem outro, tinham ideia do que iam fazer. De riqueza tinham os braços e trabalho na terra era igual ao dos pais.

Na minha terra, não há futuro, ruminava alto, o Manuel.
Com a enxada nas mãos, os meus pais andaram a vida inteira, a mãe com 79 ainda se levanta antes das galinhas. O pai já se foi quase há um ano. Agora para o último, passou-os em bagaço.
Estava eu ainda em Mansoa, quando o alferes me leu uma carta, não contes com grandes novidades. Era o padre Bernardino a dar conta do mal sucedido, e ainda me lembro de como terminava. Mal sentiu a morte, estava como um cacho, o médico, às primeiras impressões, até disse que o velho estava mas era a morrer de bêbado.
Meses depois de ter chegado à metrópole, Manuel fez como os outros, pôs-se a salto, para França. Tinha sido o seu irmão mais velho a quem tratava por padrinho que adiantou o dinheiro, e o entregou ao passador, lá para os lados da fronteira.

Sem saber ler nem escrever, viu-se em Paris, numa grande gare, com a mesma mala na mão e as mesmas roupas que trouxera da Guiné, e pouco mais. Fez tudo de tudo, homem a dias, acarretou blocos e cimento nos bâtiments, fez mudanças, até acabar por ser admitido na Mairie de Paris, como empregado do lixo, para a zona de Saint-Dennis. Um emprego fixo, pegava às 8 da noite, a carregar o lixo para o camião, às 5, às vezes 6, entrava em casa para descansar um pouco até às 10. Porque às 11 começava noutro trabalho que lhe arranjaram como arrumador num supermercado.

Todos os meses transferia para uma conta que partilhava com o padrinho, o dinheiro que juntava. Os dois rapazes na escola, a mulher às limpezas em casas particulares, levavam uma vida austera, poupavam no que podiam, excepto no comer, à barriga não se corta, costumava dizer à mesa. Roupas, frigoríficos, tvs, rádios, gravadores, gravuras antigas e modernas, as coisas mais inesperadas que encontrava no lixo, tudo servia para pôr a render. Juntou muito dinheiro, que o padrinho foi aplicando em propriedades. Muitos anos depois, dois andares em Barcelos para os filhos quando fossem grandes, e terras nas proximidades de Vila Seca. E sem nunca ter conseguido juntar duas letras. Mas nas contas, gabava-se para quem o ouvia, juntava os números tão bem ou melhor que muitos guarda-livros.

O Gabriel foi-se deixando ficar por ali, ajudava os pais no campo, fazia de coveiro quando alguém morria, passava pelo café do Tino, ouvia os outros. Que a falar era bem gago, passavam o dia a gozá-lo, gaguejavam também quando se dirigiam a ele. Gabriel corava, baixava mais ainda os olhos, ia à vida.
Um dia, resolveu dar troco a um, disparou-lhe de rajada, gago de boca posso ser, de dedos não, em Morés, foi nestas mãos que a MG calou os gajos. Espero que tu, grande cabrão, quando para lá fores, não ponhas os dedos a gaguejar. Ouviu tocar o sino. Pôs-se a andar para o cemitério.

E hoje, quarenta anos depois, nesta tarde chuvosa e fria calhou-lhe fechar a cova do seu velho camarada Manuel Alves. Enquanto o enterrava, pazada em cima de pazada, choros abafados, sinos e silêncio, imagens umas atrás das outras vinham-lhe à cabeça. A ida no Ana Mafalda para a Guiné, o Funchal, S. Vicente, Bissau ao nascer do sol, na Berliet a caminho de Brá, as bajudas com tralhas nas cabeças e mamas ao dependuro, as gargalhadas nervosas, os exercícios no Cumeré, os meses de Mansoa, a emboscada em Cutia, o ataque a Morés...


Num cemitério algures no nosso País, era assim que os os nossos Camaradas eram enterrados. Bombeiros, Legião Portuguesa ou uma secção de alguma unidade do Exército acompanhados de cornetins e tiros de pólvora seca ajudavam a encerrar mais uma vida.

Lágrimas? Não, é da chuva...

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Notas: artigos da série em

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3522: Blogoterapia (71): Abrir uma mala de pano...(António Matos)

Guiné 63/74 - P3524: O Nosso Livro de Visitas (46): A. Paulo, Pel Caç 953, Guiné, 1964/66

1. Mensagem do nosso camarada A. Paulo, com data de 23 de Novembro de 2008

Amigos e Camaradas.
Eu sou mais um dos milhares apanhados do clima, como tal passo horas junto do computador a ler a net.

Também sou dos que já regressaram à Guiné (três vezes), a última ia no mesmo avião que o Luís Graça e esposa, no dia 29 de Fevereiro de 2008. Não fui a Guileje pois a minha zona era o Norte, Cacheu, Farim, Canjambari e Jumbembem. Fui por duas semanas com o Carlos Silva.

Estive na Guiné nos anos 1964 a 1966. Sobre eu enviar fotos e falar de mim, o Carlos Silva está e publicar o meu diario no blog dele.

Eu era do Pelotão Caçadores 953 e é precisamente por isso que me estou a dirigir ao companheiro Carlos Vinhal, pois no P2936 de 8 de Junho de 2008, o filho do meu colega do Pelotão 955, queria conhecer colegas do Pai, infelizmente já falecido (*).

Pois eu sou o que organiza os almoços anuais dos 4 pelotões (953, 954, 955 e 956) e dos companheiros do Joaquim António de Sousa Dias - Sold n.º 464/64.

Mais uma vez no próximo mês de Maio de 2009 nos vamos encontrar para o almoço em Azeitão e eu e os colegas gostávamos de convidar o filho Joaquim Dias para fazer parte dos apanhados do clima, no nosso almoço, onde vão estar muitos colegas do 955.

Sem outro assunto a mim vai no gosse gosse para outra guerra

Parto mantenhas
A. Paulo


2. Face a esta mensagem do Paulo, foi enviada a que se segue ao Joaquim Dias, filho do nosso camarada Joaquim António Dias.

Caro Joaquim Dias
Estou a reenviar uma mensagem que lhe vai interessar muito.
Foi-me enviada pelo meu camarada Paulo que é do tempo de seu pai.
Contacte com ele para acertarem pormenores.

Um abraço
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Comentário de CV

Mais um contacto para um filho de um camarada nosso, que infelizmente não está entre nós.
É gratificante saber como há a vontade de integrar os filhos dos camaradas falecidos, nos convívios das Unidades a que pertenceram seus pais. É como querer fazer o prologamento de uma vida terminada, através deles.

Bem haja quem assim procede e perpetua a memória de quem nos deixou já.

Caro Paulo, não queres fazer parte da nossa Tabanca Grande?
Dizes que o Carlos Silva está a publicar o teu diário no Blogue dele, mas isso não impede que sejas membro do nosso. O próprio Carlos é um exemplo, porque tendo um Blogue, participa activamente connosco.

Não te faças escusado e envia as tuas fotos da praxe e manda um texto que fale de ti e da tua Unidade. Tens tanto para contar das tuas viagens à Guiné-Bissau. E fotos actuais? Também gotariamos de vê-las.

Um abraço para ti e obrigado pelo teu contacto.
CV
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2936: Em busca de... (31): Companheiros do Pel Caç 955, 1964/66 (Joaquim António Sousa Dias)

Vd. último poste da série de 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3497: O Nosso Livro de Visitas (45): Augusto Pereira da 2.ª CART/BART 6521 e António Ribeiro, ex-Fur Mil