Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3870: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (14): As minas e o seu poder destruidor
1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, (Có, Mansabá e Olossato, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2009:
Aqui vai mais um texto da CCaç 2402 a iniciar os relatos da sua permanência no Olossato. Vai dividido em duas partes para ser mais rápida a sua leitura e não se tornar pesado, mas fica ao vosso critério parti-lo em dois posts ou não.
Um abraço para vós editores e um bom fim de semana.
Raul Albino
História da CCaç 2402 durante a sua permanência no Olossato
Julho de 1969 - Minas e seu Poder Destruidor (GMC)
Figura 1 – Picagem em terreno firme. A viatura rebenta-minas vem atrás.
Figura 2 – Picagem em terreno alagado. Parece que estão à pesca. E, de facto estão, só que não é de peixe.
Figura 3 – Mina AP (antipessoal) de petardo único e detonador, feita em madeira. Esta, por acaso, está bem conservada. Agora imaginem um objecto destes enterrado em terreno húmido há já algum tempo, meio apodrecida ou semi-decomposta pelo efeito das célebres formigas dos baga-bagas. Removê-las, mais do que um acto de coragem, é um acto de loucura.
Figura 4 – Mina AC (anticarro) semi-apodrecida. Como estará ela por dentro? Já não rebenta de todo ou estará prestes a rebentar.
As minas utilizadas na Guiné pelo inimigo, quer fossem anticarro ou antipessoal, eram, quase na sua totalidade, feitas de madeira, com um ou mais petardos de trotil no seu interior, accionadas por um detonador local. Tudo muito simples, barato e eficiente.
Uma mina AP era pequena (figura 3), do tamanho da palma da mão, só tinha um petardo no interior da sua caixa de madeira, mais do que suficiente para destruir uma perna a quem a pisasse, como foi o caso do nosso Major do BCaç 2851 em Mansabá.
A mina AC (figura 4) era maior como poderão ver nas fotos que acompanham este artigo e o seu poder destruidor variava entre seis a doze vezes o poder de uma AP.
A principal dificuldade que se nos deparava com estas minas era que, sendo elas feitas de madeira, não possuindo qualquer peça de metal na sua construção, os detectores de minas existentes na época não conseguiam detectá-las, tendo as nossas tropas de recorrer a métodos tão primitivos como as próprias minas, ou seja, efectuar uma picagem como a que vemos nas fotos, à frente das viaturas, esperando dar com elas antes da passagem dos camiões, neutralizando-as ou levantando-as após a sua detecção. Podem observar a dificuldade acrescida da sua detecção na época das chuvas.
O levantamento de uma mina AC tinha ainda um risco acrescido, é que ela podia estar armadilhada para que, quem tentasse levantá-la, causar com esse acto o seu rebentamento. Isto só deveria ser feito por pessoal especializado, como acontecia na generalidade.
A outra consequência deste tipo de minas, era fazer com que uma coluna de camiões se deslocasse à velocidade com que a equipa de picagem progredia, ou seja, muito lentamente e sem uma garantia absoluta da eficiência da picagem.
Por essa razão a viatura da frente da coluna, devia ser um veículo pesado, reforçado com sacos de areia para aumentar o seu peso, de modo que, em caso de rebentamento, o veículo não fosse projectado pelo ar, causando danos superiores aos causados se o veículo permanecesse no solo.
Esse veículo deveria transportar de preferência só o condutor, para em caso de acidente não causar muitas baixas. Era chamada a viatura rebenta-minas. A primeira fotografia deste artigo parece contradizer tudo aquilo que eu acabei de afirmar, porque a viatura vem cheia de militares empoleirados na cabina do condutor, a substituir os sacos de areia. Um bom exemplo daquilo que não se deve fazer, mas por vezes a necessidade, a escassez de transportes, ou inconsciência e falta de autoridade de quem chefia a coluna, pode estar por detrás de casos destes.
Muitas vezes o azar dita as suas leis mesmo aos mais cautelosos e o rebentamento duma mina pode ser accionado pela segunda viatura ou terceira e não pela primeira.
A 4 de Julho de 1969, coube a uma coluna de reabastecimento da nossa companhia, a infelicidade de accionar uma dessas minas AC causando a destruição completa de uma viatura GMC como podem observar pelas fotografias anexas.
Em termos de baixas humanas a nossa sorte não podia ter sido maior. O condutor da viatura, segundo o relato dum camarada de armas, era o Cabo Lopes, que sofreu ferimentos ligeiros, possivelmente por ter sido cuspido da cabina. Não posso precisar se mais alguém terá sido ferido.
A escolha do condutor da viatura rebenta-minas era feita por lista entre todos os condutores operacionais, porque, como é óbvio, não havia voluntários.
Neste mesmo dia e cerca de mil metros à frente do local onde rebentou a mina que desfez a GMC, foi encontrada outra mina que a imagem abaixo apresenta.
Como podem ver não existe nada de mais rústico, mas extremamente destruidor para as nossas viaturas em particular. Se considerarmos que naquela altura as nossas tropas possuíam poucos camiões operacionais, sempre sujeitos a avarias, com grande dificuldade de obtenção de peças de reparação, podemos imaginar o drama que nos causava estes incidentes.
Nesta foto que vemos acima, está a mina instalada no local onde o inimigo a colocou. Deparava-se-nos duas opções para resolver o problema: rebentar a mina no local ou removê-la da posição em que se encontrava.
Possivelmente porque a solução de rebentá-la no local, sempre a primeira opção a considerar, não se mostrou adequada à situação, foi tomada a decisão de levantar a mina, missão essa que coube ao Alferes Silva, que nesse dia integrava a protecção à coluna e possuía a especialidade de Minas e Armadilhas, tal como o narrador, que sou eu.
Na fotografia abaixo, vemos o Alferes Francisco Silva, também conhecido por Alferes Chico, em plena actividade de remoção da mina, após uma pesquisa prévia da existência ou não de armadilha anti-levantamento, utilizando neste caso a faca de mato para sondar.
Para quem não acompanhou os meus relatos sobre a CCaç 2402, é relevante informar que este meu companheiro de armas, Francisco Henriques da Silva, veio mais tarde a desempenhar a função de Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau num período particularmente conturbado da vida deste jovem País.
Como podemos ver nesta fotografia, temos pelo menos um espectador curioso a cerca de um metro do Alferes Silva.
Mais uma vez o bom senso e obediência às regras de segurança foi escamoteado. A destruição da GMC acontecida poucos minutos antes, não foi o suficiente para vencer a curiosidade e inconsciência deste mirone militar. Terá ele sequer imaginado o que lhe aconteceria se a mina tivesse rebentado durante a sua remoção? Vimos como ficou a GMC, não é difícil calcular como ele ficaria. Se ele estivesse a ajudar nalguma coisa, mas não, estava simplesmente a observar.
A única baixa aceitável, num hipotético rebentamento, era o elemento encarregado da remoção por inerência da sua especialidade, qualquer outra baixa a existir, implicaria sérias responsabilidades para o comandante da coluna.
Imagens da destruição da GMC
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Nota de CV
Vd. último poste da série de 30 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3156: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (13): Actividade da CCAÇ 2402 em Mansabá
Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)
1. Em mensagem de 6 de Fevereiro de 2009, Libério Lopes(*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos a História da sua Unidade.
COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 526
HISTÓRIA DA UNIDADE
MOBILIZAÇÃO E EMBARQUE PARA O C. T. I. G.
Reuniu-se pela primeira vez, no Regimento de Infantaria n.º 7 o pessoal desta Companhia, no dia 8 de Abril de 1963, sob o comando do Sr. Capitão AGOSTINHO DA COSTA ALCOBIA. Sendo constituída por homens vindos de quase todos os recantos do País, na maioria pertencem à Beira Litoral e Douro Litoral.
A 12 de Abril de 1963, entrou o pessoal no gozo de licença regulamentar, tendo o comando da Companhia passado, a 23 de Abril, para o Sr. Capitão LUÍS FRANCISCO SOARES DE ALBERGARIA CARREIRO DA CÂMARA.
A 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «INDIA», embarcou juntamente com o Comando dos Batalhões de Caçadores n.º 506, 507, 599, e 600.
Desembarcou em BISSAU a 8 de Maio de 1963.
Navio India
Foto retirada do site Navios Mercantes Portugueses, com a devida vénia
ESTADIA EM BISSAU
Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em BRÁ. Ainda neste período, a 29/5/63, partiu um pelotão para CATIÓ, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam. Regressou a 28/6/63.
ENTRADA EM SECTOR
A 1/7/63, partiu a Companhia para o sector Leste ficando a depender do Batalhão de BAFATÁ.
Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2 constituída pelos Regulados de BADORA, XIME, COSSÉ, CABOMBA e CORUBAL (parte Norte).
O Comando da Companhia ficou instalado em BAMBADINCA, tendo sido destacado um pelotão para XIME, nesse mesmo dia 1 de Julho.
A 15JUL63, outro pelotão da Companhia seguiu para o XITOLE em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5AGO63.
Em 26AGO63, assumiu o Comando da Companhia o Sr. Capitão HELDER JOSÉ FRANÇOIS SARMENTO em substituição do Sr. Capitão CARREIRO DA CÂMARA.
Aquartelamento do Xime
Foto: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
Edição de CV
ACTIVIDADE OPERACIONAL
No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:
«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»; «INGLÊS - JAN64»; «MARTE - FEV64»; «BALA - MAR64»; «VAI À TOCA - NOV64»; «BRINCO - DEZ6» e «FAROL - JAN65».
Fora do sub-sector, actuou:
«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; «ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»; «MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; «PATON - AGO64».
No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas.
A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a LESTE de XIME e levar os bandos de terroristas a refugiarem-se nos matos.
Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN. Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros. Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos.
Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um Jeep e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados. As 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população,
A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.
AÇÇÃO PSICOLÓGICA
a) Sobre as NT
Sem necessidade de qualquer doutrinação e quase que instintivamente, todo o pessoal soube compenetrar-se da honrosa missão que estava cumprindo, não se poupando a quaisquer sacrifícios, antes pelo contrário, mantendo um elevado moral tanto mais contagiante quanto mais difíceis eram as situações. Revelou a Companhia uma nítida compreensão da acção do Comando, nunca criando o mais pequeno problema que dificultasse o árduo trabalho que havia a executar.
b) Sobre as populações
Ao entrar em sub-sector, reinava entre as populações um clima de excitação, nervosismo e temor agravado com as recentes flagelações do IN sobre elas.
Em face de tal estado de coisas, foi de primordial importância incutir-lhes confiança, mostrar-lhes que à custa da protecção das NT poderiam enfrentar o IN. Esse trabalho foi coroado de êxito ao fim de alguns meses e, já cheias de confiança, são armadas a seu pedido, passando a acompanhar-nos em operações e defendendo elas mesmas as suas casas, terras, culturas e haveres. Os seus anseios e aspirações realizaram-se ao serem-lhes distribuídas 900 espingardas para auto-defesa.
Plenamente crentes da eficácia da nossa protecção, criam em si mesmas um espírito tal de auto-confiança que as leva a efectuarem um movimento de regresso às antigas tabancas pela reocupação efectiva das terras que lhes pertenciam. E assim é que foram reocupadas com a nossa colaboração 7 tabancas abandonadas há cerca de dois anos.
c) Sobre o IN
Devido à permanente actividade operacional, o IN, ao princípio, audacioso e agressivo reduziu a sua acção, acabando por abandonar zonas que já julgava sob o seu controle.
O resultado desse trabalho exaustivo pode bem traduzir-se nas palavras do Comandante de Batalhão, ao referir-se, em ordem de serviço, ao espírito ofensivo, decisão e desembaraço da Companhia dizendo: «..... que a levou a avançar sem temer o perigo, com tal entusiasmo e tal combatividade que até lhe ficou a fama de que o próprio IN a olhava com admiração e temor».
ACÇÃO SOCIAL
Teve particular relevo a assistência sanitária às populações que diariamente eram atendidas no Posto de Socorros da Companhia e nas visitas às tabancas.
Além de importâncias em dinheiro, roupas e alimentação, forneceu-se transporte para escoamento de produtos agrícolas em zonas que ofereciam menor segurança pela proximidade com o IN.
DISCIPLINA
a) Recompensas
Neste capitulo há a referir:
- Menções especiais do Ex.º Comandante Militar pela actuação da Companhia - 3
- Louvores conferidos pelo Ex.º Comandante Militar - 27
- Louvores de Comando de Batalhão - 31
- Louvores de Comando de Companhia - 4
b) Punições
Houve 22 punições de detenção e 5 de prisão.
Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)
Guiné 63/74 - P3868: Tabanca Grande (115): Carlos Jorge Pereira, ex- Fur Mil Inf Op Inf (COP 6 e COP 3, 1972/74)
Amigos:
Nome: Carlos Jorge Lopes Marques Pereira
Posto: Furriel Miliciano de Informações e Operações de Infantaria.
P.U. : Guiné 01Jun72 a 01Jun74
Local : Mansabá, Bigene e Guidaje.
Trabalhei inicialmente durante cerca de 3 meses no COP 6 até ser extinto.
Em seguida fui colocado no COP 3 em Bigene onde fiquei até ao final da comissão.
Trabalhei directamente sob as ordens dos Comandantes do Comando nomeadamente com:
Sr. Cap. Jaime Simões da Silva (Cmdt interino por morte do Maj. Mariz)
Sr. Major Jaime Frederico Mariz Alves Martins.
Sr. Coronel António Valadares Correia de Campos
Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon da Costa Campos
Coordenei o departamento de Informações criando uma rede de informadores locais e senegeleses.
No departamento de Operações planeava todas as operações do sector e coordenava, juntamente com o Comandante, as operações especiais.
Em 08 de Maio de 1973 fui juntamente com o Sr. Cor Correia de Campos para Guidaje na primeira coluna que consegui passar e o comando passou ser exercido no local.
Regressámos a Bigene na primeira coluna que consegui passar (08Abr) a fim de evacuarmos os feridos.
Tantas outras coisas teria para contar, mas fica para mais tarde.
Obrigado
Carlos Jorge
P.S. Peço desculpa mas não sei como se enviam fotos pelo computador.
Foto: © José Mendonça (2009). Direitos reservados
Edição e legenda de CV
2. Comentário de CV:
Caro Carlos Jorge, como tu, chamo-me Carlos, estive em Mansabá e conheci bem o senhor Coronel Correia de Campos.
Bem-vindo ao nosso Blogue, teu a partir de agora, onde vais, concerteza, contar as peripécias vividas por ti naquela terra africana que nos marcou definitivamente.
Quanto às fotos da praxe, é pena que não tenhas ainda conhecimentos suficientes para as mandar, mas um dia destes vais aprender. A informática, no campo do utilizador, é muito fácil. Nós os mais velhotes é que complicamos um pouco.
Quando quiseres, começa a mandar as tuas histórias, que poderás escrever directamente no corpo da mensagem que nós cá trataremos de as editar e publicar.
Como diz o nosso Editor Luís Graça, não deixes que sejam os outros a contar aquilo que tu próprio sentiste e viveste.
O COP6 foi reactivado em Novembro de 1970, em Mansabá e, quando saí de lá (FEV72) para terminar a minha comissão de serviço uns dias depois em Bissau, ainda existia, se bem me lembro. Julgo que pouco tempo depois chegaste tu a Mansabá.
Durante algum tempo foi comandante do COP6, em Mansabá, o então Ten Cor Correia de Campos. Depois diz-me se estou certo.
Caro Carlos, estás apresentado, podes começar a trabalhar.
Recebe um abraço da Tertúlia.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3867: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (9): Periquito quase depenado
1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 8 de Fevereiro de 2009:
Vinhal
Com um abraço extensivo, segue uma estória fora do normal.
Naqueles tempos de Guiné onde as situações mais bizarras aconteciam, também houve os bafejados pela sorte e guardados por Deus, entre os quais me incluo.
Até mais
Luis Faria
Bula > Luís Faria parece dizer: - Salta periquito
Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados
Bula – Periquito quase depenado
Estamos em primeiros de Setembro de 1972, sou já um velhinho que deveria estar com a Força no Cumeré a gozar os últimos dias para regresso a casa, mas não, nem o cheirei pois só na véspera de apanhar o Boeing da FA, cheguei a Bissau. Esqueceram-se que tinha promessa de poder gozar esses poucos dias onde quisesse, na Guiné. Sonhei logo com os Bijagós e foi… um belo sonho !!
Fiquei por Bula continuando no levantamento do extenso campo de minas já referido pelo António Matos e por mim, mas que felizmente estava nos finais. Dessa odisseia espero contar algumas peripécias.
Vamos à estória
A 26 Agosto, chegou para render a 2791 Força, a periquitagem da 3.ª CCAV do BCAV 8320 que, se bem me recordo, era liderada pelo falecido Cap. Salgueiro Maia
À altura, como disse, andava eu a levantar minas e quando íamos para o campo acompanhavam-nos um ou mais GComb para fazer a segurança, emboscando nos sítios que indicávamos.
Nesse dia, o Grupo que me escoltou era pira e chegados os 404 à zona da desminagem (k12/13) não recordo exactamente, há que saltar dos unimogues. Assim fazem e qual é o meu espanto ao ver os piras perfilarem-se de costas para a mata, quase ombro a ombro, aguardando ordem do Alferes! Pareciam estar na parada!! Não sei o nome do Alferes, só recordo que ele usava um testo do caraças na cabeça!!
Mandada corrigir a situação, chamo o Alferes, pego no croquis do campo de minas,vejo o azimute e pergunto-lhe, apontando-lha, se estava a ver uma árvore que se destacava de tudo o que lhe estava próximo. Não há confusão? Não, responde descrevendo a árvore.
Digo-lhe então:
- O meu Alferes leva o pessoal daqui sempre em linha recta, não desvia um metro que seja, ok? Quando o homem da frente esbarrar na árvore, a bicha de pirilau pára e cada homem fica nesse sítio, certo? - Assentiu e lá foram. Chegados ao local comunicaram, tudo bem
Avanço para o campo de minas, com a minha vara-medida, com a faca, com a pica e com a Walter para o que desse e viesse. Começo a lançar, picar,… levantar, lançar, picar levantar… e às tantas deito a vara-medida que me aponta para um cag… humano ainda fresco ??!! Pico e lá está ela, a mina mesmo por baixo! Este turra teve uma sorte do car… f…! e pego na Walter. Depois pensei e…
- Está alguém aqui? - Perguntei. Nada.
- Alguém esteve a cagar atrás desta moita, f…? - Perguntei elevando a voz. Sai detrás de um arbusto um pira que me diz, à rasca:
- Fui eu meu Furriel e explicou-se.
- Venha cá, (na tropa não tratava os soldados por tu) andou com uma sorte do ca… quer ver? - E levantei a mina ! O rapaz ficou sem pinta de sangue, coitado! De certeza nunca mais na vida se esqueceu e se calhar de ler isto vai suar outra vez!
Não o admoestei, a culpa não tinha sido dele. Mas que tinha tido uma sorte daquelas, isso teve. Ele e outros que tivessem entrado no campo.
Agora havia o problema de os tirar de lá. Chamei o Alferes e disse-lhe:
- Está pessoal no campo de minas; o último gajo da fila segue a direito para a estrada pelo mesmo caminho que veio e os outros seguem-no em linha recta, sem desvios. - Assim foi feito e ninguém graças a Deus saiu ferido
Conclusão: tinham passado, enganados, a árvore, mas Deus esteve com essa rapaziada pelo menos nessa hora.
Um abraço à Tertúlia
Luís Faria
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 7 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3849: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (8): Bula, vésperas do Natal de 1970
Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)
Guiné > Região do Oio > Rio Mansoa > 1970 > Restos do Helicóptero Alloutte III, que se despenhou no dia 25 de Julho de 1970, no Rio Mansoa, em consequência das condições climatéricas. Nele morreram, além do piloto (Alf Pilav Francisco Lopes Manso), o Cap Cav José Carvalho Andrade e mais 4 deputados em visita à Província (entre eles Pinto Leite, o então chefe da Ala Liberal da Assembleia Nacional, e o guineense Pinto Bull).
Cortesia de: © Victor Barata (2008) /Blogue Especialistas da BA12, Guiné 1965/74. Direitos reservados.
1. Mensagem do editor L.G.:
Em complemento do que já escrevi em poste anterior (*):
No passado dia 31 de Janeiro, sábado, por volta da hora do almoço, recebi um telefonema do Jorge Caiano (espero ter ouvido bem o nome) que era o mecânico do heli do Alf Pilav Manso, no dia 25 de Julho de 1970... Ele informou-me que tinha chegado ao conhecimento do nosso blogue através do blogue do Victor Barata...
O Caiano vive no Canadá, na região de Toronto, desde 1974. É, portanto, um português da diáspora. Nascido em Louriçal, Pombal, foi cedo viver para Aveiro. Tem hoje cerca de 60 anos.
Na tropa, era mecânico da FAP, esteve na BA12, Bissalanca, cerca de 22 meses (1969/70). Regressou em Novembro de 1970.
Prometeu mandar-me um mail. Não está muito familiarizado com a Internet. E eu prometi resumir, no nosso blogue, a conversa que tive com ele ao telefone. Manda um abraço para todos os camaradas da FAP e em especial para os pilotos Félix e Coelho, que ele conheceu em Bissalanca e com quem voou (mais com o Coelho do que com o Félix).
Eis, no essencial, a conversa que ele teve comigo, ao telefone, sobre o trágico acidente do ALL III, que causou seis vítimas mortais:
Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante).
Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...
O Manso, que era periquito (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o conrolo da situação...
O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e s0bretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....
O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal da então Assembleia Nacional), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca, BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte. (***)
O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida.
O Jorge vive perto do Toronto. Responde-me que a crise (económica) também já chegou lá. É amigo de alguns tipos da minha terra, Lourinhã, como o Manuel do Rosário (que ainda é meu parente afastado e é do meu tempo de escola) e do José Jorge.
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Notas de L.G.
(*) Vd. poste de 31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)
ÚLtimo poste desta série > 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
(**) Vd, postes do nosso blogue:
20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3335: Controvérsias (6): O acidente aéreo de 25 de Julho de 1970 (Carlos Ayala Botto)
11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3296: Controvérsias (4): O acidente aéreo de 26 de Julho de 1970 (Jorge Picado)
10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3292: Controvérsias (3): O acidente de helicóptero que vitimou Pinto Leite (J. Martins / J. Félix / C. Vinhal / C. Dias)
10 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3291: (Ex)citações (4): Pinto Leite, em Bambadinca, dois dias antes de morrer em desastre de helicóptero: Não há solução militar
(***) Vd. postes no blogue so Victor Barata, sobre o malogrado Alf Pilav Manso:
4 de Novembro de 2008 > 514 - UM APELO DA IRMÃ DO ALF PILAV MANSO.
(...) Boa tarde, sou irmã do saudoso Alf Piloto Av FRANCISCO LOPES MANSO. Logo que descobri este blogue sobre os camaradas da Guiné, comecei a ler pois falavam muito vagamente no meu irmão. Era Piloto Aviador, formado na Academia Militar, e foi parar à Guiné com os helicópteros.
Nunca soubemos a verdade sobre o acidente . Os meus Pais faleceram com esse desgosto. """DESAPARECIDO""" e pronto!!!!!.
Fiquei muito sensibilizada com a sua recordação do meu querido mano Mano. Ficámos 5 irmãs com esta dúvida no nosso coração. Ele era português, nascido nos Envendos distrito de Mação em 4 de Março l944.
Muito obrigada pela recordação dele. Pois ele nem aparece no monumento aos combatentes do Ultramar.Sem o conhecer envio um abraço muito comovida.Vivi em Luanda , agora vivo em Aveiro.
Natália Maria
7 de Novembro de 2008 > 521 A RESPOSTA À IRMÃ DO MANSO
(...) No passado dia 4.11,através do Post 514, publicámos um apelo feito pela irmã do nosso companheiro Alf Pilav Francisco Manso, falecido em Mansoa, Guiné a 25.7.1970, no sentido de recolher elementos que a pudessem esclarecer melhor sobre este assunto visto à data do acontecimento,e ainda hoje,nunca ter sido indicado as causas do acidente.
Chegaram já até nós dois apontamentos que nos merecem os agradecimentos e que transcrevemos:
Salgado Gonçalves
Sarg Chefe 1ª/68 Guiné
UMA RESPOSTA PARA A IRMÃ DO ALF PILAV FRANCISCO MANSO
Companheiro Victor, na tua pessoa mais uma vez saúdo todos os companheiros. Quase diariamente passo pelo 'nosso' blog para ficar a par das novidades, hoje vi o pedido da irmã do falecido companheiro, Alf Pilav Manso.
Não tenho muito para dizer... Foi na época da minha estada na BA12 69/71, lembro-me que a missão consistia em transportar uns deputados da então Assembleia Nacional, parece-me que à povoação de Mansoa que dava nome ao rio, onde o heli caiu.Todos quantos iam no Heli faleceram além do Manso e, entre outros, ia um deputado natural da Guiné, penso que de nome Pinto Bull, não tenho a certeza. Da missão faziam parte pelo menos dois Helis, o outro julgo que era pilotado pelo comandante da esquadra Capitão Cubas.
A perda do Manso foi muito sentida por todos nós pois era uma excelente pessoa. Junto envio umas fotos do Heli depois de recuperado. Por hoje é tudo cumprimentos para toda a rapaziada.
Salgado Gonçalves, Cabo MMA 1ª 68 (...)
ARQUIVO HISTÓRICO DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA
Exmo Senhor,
Em resposta ao Vosso email sobre o acidente do ex ALF/PILAV Francisco Lopes Manso, local do acidente, Rio Mansoa, junto à Ilha de Lisboa. Originou a morte do Piloto desaparecido e de um Capitão do Exército e mais quatro civis, o acidente deu-se com um ALLIII que caiu no Rio Mansoa derivado a um tornado e muita chuva, os corpos do CAP do Exército e dos civis apareceram sem vida e o corpo do piloto não apareceu.
Mais informo que o ex Piloto consta na lista dos falecidos da Força Aérea no Arquivo Histórico da FAP.
Com os melhores Cumprimentos
AHFA (...)
O editor do blogue, o nosso camarada Victor Barata, escreveu o seguinte, em jeito de nota final:
"A causa imputável, as condições meteorológicas. Tornado tropical: Ventos violentos com turbilhão, Chuvas, Visibilidade zero. Estas condições meteorológicas foram confirmadas por tripulações de helicópteros que voavam na proximidade da zona. A marinha efectuou busca no rio. Recuperação da estrutura, sem os corpos da tripulação, e dos passageiros". (...)
Guiné 63/74 - P3865: Antropologia (13): A arte popular guineense (Beja Santos)
Legenda: "Guiné: Grupo de mulheres bijagós com os seus apetrechos e trajes de dança".
Legenda: "Guiné: Amuletos de prata usados por mandingas e fulas"
Legenda: "Guiné: Máscaras bandá (à esquerda) e nimba (à direita)"
Fonte: A arte popular em Portugal : ilhas adjacentes e ultramar (ed. lit Fernando de Castro Pires de Lima): Lisboa: Verbo, 1968. (*) (Com a devida vénia...)
1. Texto e imagens enviadas pelo Beja Santos em 4 de Fevereiro último:
Foi o último grande acontecimento editorial de envergadura, no campo da etnografia, etnologia e antropologia, abraçando todos os povos do Portugal do Império. A Verbo investiu muito, de colaboração com a Junta de Investigação do Ultramar e da Agência Geral do Ultramar: a direcção foi de Fernando de Castro Pires de Lima, a responsabilidade gráfica coube a Fernando Lanhas, o capítulo dedicado à Guiné foi escrito por Fernando Rogado Quintino (**).
As matérias versadas são as seguintes: técnica de construção, as formas arquitectónicas e os respectivos sistemas de vida; mobiliário e utensilidade, as camas, os bancos, banquetas e canapés, objectos de cozinha, peças de vestuário e equipamento agrícola; artesanato, com a riqueza de artigos em couro, olaria, cestaria e panaria; vestuário e adorno, com a espantosa versatilidade de amuletos; música e dança, danças recreativas, religiosas, o korá , as marimbas; pintura e escultura, onde predominam as geniais máscaras e feitiços de madeira, caso do Ninte-Kamatchol.
Vou entregar esta pequena preciosidade com uma tão cuidada descrição de manifestações, que vimos nas nossas comissões, ao blogue, para ser vendida em leilão para apoiar as nossas despesas de manutenção.
Beja Santos (***)
___________
Notas de L.G.:
(*) Ficha bibliográfica tal como consta no sítio Memória de África:
[62036] LIMA, Fernando de Castro Pires de
A arte popular em Portugal : ilhas adjacentes e ultramar / direcção de Fernando de Castro Pires de Lima. - Lisboa : Editorial Verbo, 1968 (Lisboa : Oficinas de Gris Impressores, S.A.R.L.. - 2 vol. : il., col., fotografia. - Esta obra foi publicada com o alto patrocínio da Junta de Investigações do Ultramar e da Agência Geral do Ultramar.
Descritores: África lusófona Madeira Açores Timor Arte popular Artesanato
Cota: D 2136UCDA ¤ D 2137UCDA
(**) Fernando Rogado Quintino é, juntamente com António Carreira, um dos grandes especialistas da cultura da Guiné (colonial)... É autor de (entre muitas outras obras e artigos sobre a Guiné):
Eis a Guiné! : Breve notícia da sua terra e da sua gente
Lisboa : Sociedade de Geografia de Lisboa, 1946, 64 pp.
(***) Vd. postes anteriores desta série Antropologia [ a disciplina das ciências socais que estuda as estruturas e as culturas produzidas pelo Homo Sapiens Sapiens, a única espécie humana - raça, dizíamos nós até há pouco tempo - a que pertencemos todos nós: nharros, tugas, gringos, chinocas, etc... Na Europa também é sinónimo de Etnologia, incluindo a Etnografia]:
9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2252: Antropologia (1): A guerrilha invisível ou o Poder da Invisibilidade (Virgínio Briote / Wilson Trajano Filho)
25 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3238: Antropologia (12): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.
14 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3206: Antropologia (11): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.
5 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3175: Antropologia (10): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.
29 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3154: Antropologia (9): O Crioulo da Guiné. Mário Beja Santos.
11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3128: Antropologia (8): Exposição Bijagós no Museu Afro Brasil, São Paulo
23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)
18 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz)
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)
12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2434: Antropologia (4): Kasumai, bons augúrios na cultura felupe (Luís Fonseca / Pepito)
2 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2322: Antropologia (3): 1952: Mulher mandinga da... Colónia da Guiné (Luís Graça / Beja Santos)
20 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2289: Antropologia (2): A literatura infanto-juvenil dos anos 40 e os estereótipos coloniais (Beja Santos)
9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2252: Antropologia (1): A guerrilha invisível ou o Poder da Invisibilidade (Virgínio Briote / Wilson Trajano Filho)
Guiné 63/74 - P3864: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (3): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 5-6
As páginas 5 e 6, agora transcritas, foram traduzidas do francês para português pelo Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, os Tigres de Cumbijã (1972/74).
Foto: (da direita para a esquerda)
- Comandante FRANCISCO MENDES (CHICO TÉ), membro do Secretariado Permanente do CEL, Comissário Principal;
- Comandante JOÃO BERNARDO VIEIRA (NINO), membro do Secretariado do CEL, Comissário para as Forças Armadas;
- Comandante PEDRO PIRES, membro do Secretariado Permanente do CEL, Comissário Adjunto para as Forças Armadas;
- Dr. VASCO CABRAL, economista, membro do CEL, Comissário para a Economia e Finanças;
- Chefe JOSÉ ARAÚJO, membro do CEL, Comissário do Secretariado Geral de Estado;
- Comandante ABDULAY BARY, membro do CEL, Comissário do Interior;
- Chefe FIDELIS CABRAL D’ALMEIDA, membro do CSL, Comissário da Justiça;
- VICTOR SAÚDE MARIA; membro do CEL, Comissário dos Negócios Estrangeiros.
O Comandante Francisco Mendes, membro do Secretariado Permanente do CEL, foi escolhido para presidir ao Conselho dos Comissários de Estado, na qualidade de Comissário Principal.
As atribuições do Conselho dos Comissários de Estado têm como objectivo a elaboração do programa político, económico, social e cultural do Estado, bem como a sua defesa e segurança. Dirige, coordena e controla os diversos Comissários de Estado, os outros Serviços Centrais, os Comités regionais de Estado e os Comités de Sector de Estado. Nomeia e demite os funcionários de Estado.
O primeiro executivo do nosso Estado
Foto: (da direita para a esquerda)
- Eng JÚLIO SEMEDO, Sub-Comissário para o Desenvolvimento dos Recursos Naturais;
- Eng MÁRIO CABRAL, Sub-Comissário para o Controlo Económico e Financeiro;
- ARMANDO RAMOS, membro do CSL – Sub-Comissário do Comércio;
- Comandante MANUEL SATURNINO, membro do CSL, Sub -Comissário para a Educação e Cultura;
- Eng ADELINO NUNES CORREIA, Sub-Comissário para a Juventude e Desportos;
- JOÃO da COSTA, membro do CSL, Sub-Comissário para a Saúde e Assuntos Sociais.
O engenheiro SAMBA LAMINE MANÉ, Sub-Comissário para a Agricultura e Pecuária, e o Dr. LUIZ SANGA, Sub-Comissário para a Estatística e Planificação, que não aparecem nas fotografias, completam a lista dos camaradas que constituem o primeiro executivo do nosso Estado.
Após o discurso de encerramento do secretário geral do PARTIDO, Aristides Pereira, e do hino nacional Esta é a nossa pátria bem amada, cantado por um grupo de pioneiros do Boé, um grandioso desfile das FARP e manifestações populares assinalaram o encerramento da primeira reunião da ANP
Numa mensagem dirigida à Assembleia por Sua Excelência o Presidente Ahmed Sékou Touré em nome do Comité Central do PARTIDO DEMOCRÁTICO DA GUINÉ, e do Governo guineense, lido pelo chefe da delegação da imprensa guineense, senhor Fodé Berété , a República irmã da Guiné reconheceu no terreno o nosso jovem Estado da Guiné Bissau, cujo aparecimento constitui um acontecimento sublime na história da libertação dos povos africanos.
Ao separarem-se, por entre a emoção, o entusiasmo, e a plena consciência das responsabilidades do Partido, os deputados á ANP, os militantes e responsáveis do partido mostraram mais do que nunca a convicção de que o caminho traçado ao nosso povo pelo nosso bem amado líder Amílcar Cabral, é o caminho da liberdade, da dignidade e da glória.
Eis, pois, porque a participação na luta pela liberdade total da Pátria e a defesa da sua soberania, constituem a honra e o dever supremo do cidadão do nosso Estado da Guiné Bissau.
Elevado número de jornalistas e cineastas africanos e estrangeiros assistiram aos trabalhos da ANP que também tiveram a cobertura da nossa RÁDIO LIBERTAÇÃO e de uma equipa de cineastas dos nossos serviços de informação.
_______________
Notas de L.G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série:
2 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3828: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (1): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 1-2
5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3846: PAIGC Actualités (Magalhães Ribeiro) (2): O nº 54, Outubro de 1973, dedicado à proclamação da independência: pp. 3-4
(**) Estes homens seguiram depois percursos diferentes: alguns conheceram a morte, a traição, o exílio... Eis alguns dados biográficos, muito sumários, de alguns dos elementos do Primeiro Governo da República da Guiné-Bissau:
Luís Cabral (n.1931)> Foi o primeiro persidente da Repúblcia da Guiné-Bissau, desde 1973 a 1980, altura em que foi deposto por um golpe de Estado. Vive exilado em Portugal.
Francisco Mendes, Chico Té (1939-1973) > Será assassinado em 7 de Julho de 1988;
João Bernardo Vieira, Nino (n. 1939) > Presidente da República desde 1 de Outubro de 2005;
Pedro Pires (n. 1934) > Presidente de Cabo Verde desde Março de 2001 (Primeiro-ministro, de 1975 a 1991);
Vasco Cabral (1926-2005) > Escapou, por um triz, ao atentado que vitimou Amílcar Cabral; não se opôs ao golpe do 'Nino' Vieira que depôs, em 1980, governo de Luís Cabral;
José Araújo > Caboverdiano, hábil jurista;
Fidelis Cabral de Almada > Terá sido ele quem, após a morte de Amílcar Cabral, propôs o nome de 'Nino' Vieira para secretário-geral do PAIGC;
Abdulai Bari > [ Não se dispõe de elementos];
Vitor Saúde Maria (1939-1999) > Exilado entre 1984 e 1990;
Manuel Saturnino da Costa (n. 1942) > Virá a ser secretário-geral do PAIGC e depois 1º ministro (1994-1997).
Outras fontes > Vd. blogue do Virgínio Briote > Guiné, Ir e Voltar - Tantas Vidas > 18 de Dezembro de 2008 > PAIGC: alguns dos protagonistas
Vd. ainda postes do Virgínio Briote:
18 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - P2114: Bibliografia de uma guerra (17): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte I)(V. Briote)
24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2128: Bibliografia de uma guerra (18): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte II)(V. Briote)
27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2136: Bibliografia de uma guerra (19): Guiné-Bissau e Cabo Verde, uma luta, um partido, dois países (Parte III) (V. Briote)
Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)
1. Mensagem de Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sargento da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, com data de 6 de Fevereiro de 2009:
Caro amigo
Junto, em anexo, um pequeno contributo para a historia da guerra da Guiné.
Se o mesmo tiver alguma utilidade queiram publicá-lo no respectivo blog.
Um abraço
Libério
2. Carta para Luís Graça
Libério Candeias Lopes
Ex-2.º Sarg Mil Inf
Guiné: Bambadinca e Xime
1963/65
Caro Luís Graça
Sou um assíduo leitor do teu blog e tenho acompanhado com grande interesse as inúmeras histórias descritas por quem as viveu e sentiu intensamente. São elas que estão a contribuir para que se escreva a verdadeira história da guerra da Guiné.
Cumpri o serviço militar obrigatório durante 48 longos meses. Quando estava para passar à disponibilidade, fui agraciado com um prémio: um cruzeiro (com tudo incluído) até à Guiné...
É normal que estes 4 anos acabassem por ser vividos intensamente, embora sem quaisquer contrapartidas no aspecto pessoal e profissional. É também natural que, embora tente esquecer os dois anos de Guiné, o não consiga fazer.
E, por isso mesmo, sempre que posso lá estou eu ligado ao teu blog.
Certamente que não irei contribuir ou acrescentar muito mais ao que tenho lido. Mas gostaria de deixar alguma coisa sobre os locais e a companhia a que pertenci.
Há nomes que nunca esqueci ao longo destes 4 anos:
Amedalai, Samba Silate, Ponta Varela, Ponta do Inglês, Taibatá, Chicamiel, Xitole, Saltinho, Fá Mandinga, e, principalmente, Bambadinca e Xime.
Fiz parte do primeiro pelotão a instalar-se no Xime, no dia 1 de Julho de 1963. O resto da Companhia 526 ficou instalado em Bambadinca.
Vivi intensamente 9 meses no Xime.
Dias felizes e outros menos felizes, nem uns, nem outros foram esquecidos. Houve tempo para tudo.
Do Pelotão, de cerca de 30 homens, faziam parte o Alf Mil Correia Pinto (já falecido); os Furriéis Milicianos Tibério (falecido), Virgílio e eu próprio.
Para terminar, segue uma historieta passada comigo no Xime, e em separado, o resumo da história da Companhia 526, que por mero acaso fui guardando ao longo destes anos.
Aquartelamento do Xime
Ponte de Saltinho
Fur Mil Virgílio e Tibério, Alf Mil Correia Pinto e Fur Mil Libério
3. Um libanês no Xime
Além da casa onde nos instalámos no Xime, havia uma outra em frente, onde habitava um italiano. Indivíduo afável, que fazia, como ninguém, um frango à cafreal, e que tinha a profissão de alfaiate.
Em determinada altura arranjei uma cadeira onde poderia descansar e dormir alguma sesta, já que, durante a noite, pouco dormia. Faltava-me, porém, o tecido para a referida cadeira de encosto. Tiradas as medidas pelo alfaiate, vou à moradia mais acima, onde o libanês Amin tinha o seu comércio. Dei-lhe as medidas, escolhi o pano e entreguei-o novamente ao alfaiate, para o coser.
No dia seguinte vou colocar o pano na cadeira e, em vez de ficar abaulado, para nele me deitar, ficou esticadinho, resultando daí a sua ineficácia. Chamei o alfaiate para lhe mostrar a sua obra e fiz-lhe ver que se tinha enganado nas medidas. Jurou que não e que as medidas estavam correctas, pelo que deveria ir ao Amin ver o que tinha acontecido. Lá regressei novamente ao comerciante e pedi-lhe para rectificar as medidas do tecido que tinha comprado, tendo-lhe eu explicado o que sucedera com a cadeira. Pela reacção dele, vi logo que ali havia marosca, e que ele nem atava nem desatava. Perante a minha reacção, um pouco menos amigável, começou a titubear e acabou por me pedir desculpa, porque se tinha enganado no metro. Convidei-o a contar toda a história, e não é que o indivíduo tinha um metro para o branco e outro para o preto?! O do branco estava correcto, mas o outro tinha menos cerca de 20 cm.
Ao olhar em frente, vejo duas balanças decimais no meio do estabelecimento. Resolvi ir pesar-me em ambas. E eu, que pesava na realidade cerca de 75 quilos, pesei, numa, perto de 100 quilos e, na outra, sessenta e pouco! Cheguei à conclusão lógica de que uma era para vender e a outra para comprar os produtos locais.
Aí, a minha consciência é alertada e pensei: - Mas, afinal, o que andamos nós aqui a fazer? Os habitantes desta terra terão assim boas razões para se revoltarem...
Resumindo: Disse ao Amin que, se à noite ainda estivesse no Xime, eu iria ter com ele. Não foi preciso. Pegou na sua velha camioneta, carregou-a com o que pôde, e desapareceu de vez daquela tabanca.
Foi mais uma casa livre dentro do arame farpado...
À esquerda a nossa vivenda. À direira o comércio do libanês Amin
3. Comentário de CV
Caro Libério, cabe-me receber-te na nossa Tabanca Grande. Bem-vindo. És um dos pouco mais velhos do nossa Tertúlia e um dos ex-combatentes do início da guerra na Guiné, logo com direito a uma saudação especial.
Pelo modo como entraste, prometes ser um elemento activo, com muitas histórias para contares a nós, periquitos da década de setenta.
Instala-te, puxa da caneta e continua a escrever as tuas memórias que muito contribuirão para a memória futura da guerra colonial, da Guiné particularmente.
Em nome da Tertúlia, deixo-te um abraço fraterno.
CV
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3857: Tabanca Grande (113): José Manuel Moreira Cancela, ex-Soldado AM da CCAÇ 2382 (Guiné, 1968/70)
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Guiné 63/74 - P3862: As Grandes Operações da CART 2339 (Carlos Marques Santos) (1): Operação "Grão Mongol", a primeira
Amigo Carlos:
Hoje mando um texto, simples, sobre a 1.ª operação da minha CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo 68/69. Pretendo recordar a operação que nos iniciou na guerra a sério.
Um abraço,
CMSantos
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1970 > Vista aérea do aquartelamento. Ao fundo, da esquerda para a direita, a estrada Bambadinca-Xitole.
Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
2. Em 1968 e a recordar pelo louvor do BART 1904
Operação Grão Mongol – 1.ª OP. da CART 2339
Iniciada em 25 de Fevereiro de 1968, às 05.00, com a duração de três dias e com a finalidade de executar em duas fases uma acção ofensiva sobre os acampamentos IN do GALO CORUBAL, SATECUTÁ, PONTA JAI e SILI BALDÉ.
Nota: A CART 2339 tinha um mês de Guiné e estava aquartelada em FÁ MANDINGA. PERIQUITOS.
Tomaram parte na Operraçã9o:
O CMD do BART 1904
Dest A – CART 2339 (a 4 Gr Comb) e 1 Secção de Pel/Mil
Dest B – CART 1646 + 1 Gr Comb
Dest. B – CART 2338 + 4 Gr Comb
Dest. B – Pel Caç Nat - Xitole
Desenrolar das acções:
O Destacamento A saiu de Fá em 24/17.30h em direcção a Mansambo (que era um lugar algures no mapa da Guiné, e que viria a ser a sua sede futura como aquartelamento construído de raiz a partir de Abril), onde pernoitou (???).
Cerca das 06.00 do dia 25, saiu de Mansambo para atingir o ponto determinado, recebendo um guia – DEMBO – no ponto cota 25 antes de atravessar a bolanha.
Na madrugada do dia 26, cerca das 04.30h iniciou-se a corta mato (!!!) a marcha para o objectivo.
Ao aproximar-se do acampamento do GALO CORUBAL, o Dest foi detectado por uma sentinela.
Ao entrar na referida mata o IN resistiu fortemente com Morteiro 82, MP, LGF e armas automáticas.
Dada a impossibilidade de manobra, foi dada ordem para a instalação fora da mata e pedido APAR (apoio aéreo).
Nota: A cada bomba largada o salto de cada um de nós, instalados no terreno, era de pelo menos meio metro.
Depois da actuação dada pelo APAR, a CART 2339 iniciou a progressão sobre o objectivo, que atingiu e destruiu, sendo, mesmo assim, flagelada durante o movimento.
Nota: A mata era impenetrável. Eu estava lá e confirmo. A minha Secção era a da bazuca e fui dos primeiros a entrar. Tiros por cima da minha cabeça foram muitos.
Também fui dos últimos a sair. Lançámos fogo a tudo com granadas incendiárias.
O acampamento era grande (100 casas). Apreenderam-se documentos.
2 Gr Comb seguiram para DANDO, onde efectuaram fogo de morteiro sobre Satecutà e PONTA JAI.
Ao iniciar a retirada fomos brindados com 2 tiros de Morteiro 82 provenientes de Gã Júlio.
Pernoitámos em Mansambo e regressámos a 27 a Fá Mandinga.
O regresso a casa é sempre BOM.
Mal sabíamos que a nossa casa seria, no futuro, MANSAMBO por nós edificada.
25 de Fevereiro, 41 anos depois, dia de anos do meu pai, ainda vivo (91 anos).
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2887: Em busca de...(27): José Alberto Machado, Alf Mil Médico (Carlos Marques Santos)
Guiné 63/74 - P3861: Memória dos lugares (17): Nova Lamego, a raínha do Gabu (Tino Neves)
Gabu > Fonte da Bajudas
Tino Neves. Ao fundo a Estação dos CTT de Gabu
Praças convidados para a festa de despedida das filhas do Administrador de Gabu
Gabu > Estação dos Correios (Foto actual)
Tino Neves
Peluda > Gravura feita em stencil
1. Mensagem de Contantino Neves (Tino Neves), ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71, com data de 5 de Fevereiro de 2009:
Caros Camaradas e amigos: Luís, Carlos e Briote e restantes membros da Tabanca Grande.
Já há uns tempos que não vos enviava quaisquer apontamentos por mim escritos, mas desta vez, houve algo que há muito estava à espera que acontecesse, foi alguém que, descrevesse a Vila de Nova Lamego tão bem, que, nem um dos melhores criadores de Guias Turísticos o teriam feito com a mestria do nosso camarada José Manuel Dinis no post P3834 de 29 de Janeiro.
Mas, um Guia Turístico nunca está totalmente completo, daí o meu desejo, não de o completar, não tenho essa pretensão, mas sim, dar mais uma ajuda para alcançar então esse fim, se possível, outros o completarão.
Como já disse atrás, a descrição feita de Nova Lamego está muito bem feita, não faltando de facto um dos ex-libris, do qual achei até muita graça, da "GMC" e do "Unimog", de que me recordo perfeitamente, mas há muitos mais, assim como a Fonte das Bajudas, (que junto imagem), que era a fonte onde as bajudas, nossas lavadeiras, iam lavar as nossas roupas, que ficava no caminho vindo, julgo eu, de Piche, ao entrar-se em Nova Lamego. Passava-se junto da Administração do Gabu, de que também junto foto actual (Fev/2005), passava-se então pelo cruzamento (onde estou eu na foto à civil, no dia 8/02/70). Sei que foi tirada nesse dia, porque foi dos poucos dias em que eu me vesti à civil, em Nova Lamego. E porquê? Porque no BCaç 2893, quem fizesse anos tinha como prenda a folga de quaisquer serviços e autorização para se vestir à civil, portanto essa foto foi-me tirada no dia em que fiz 22 Invernos, no cruzamento, entre os CTT, correios civis (que junto 2 fotos, antiga e actual), o Cine Gabú e a loja do Sr. Caeiro, um português de raça branca. Era uma loja essencialmente de electrodomésticos, mas não só, e na ponta que falta, a do meu lado direito, um dos edifícios civis utilizados para o quartel velho.
Por falar da loja do Sr. Caeiro, o telhado da referida loja era simplesmente uma placa de cimento, não sendo muito grande, talvez pudesse lá pousar um helicóptero, mas foi utilizado para outra coisa diferente. Estando lá um Capitão pára-quedista que estava a preparar-se para uma competição no estrangeiro, de salto em queda livre, resolveu fazer uma aposta em como iria saltar e pousar no telhado da loja do Sr. Caeiro. Assim fez, saltando de um helicóptero que subiu em espiral, tão alto, até deixar de se ver.
O segundo dia em que fui também autorizado a trajar à civil, foi para ir a uma festa de despedida das filhas do Sr. Administrador do Gabu, que era de origem caboverdianas, que estavam em Portugal, segundo me recordo, na região de Évora, num colégio de freiras a estudar. Tinham passado lá em Nova Lamego um mês de férias e estavam de partida. Foi então organizada uma festa com baile, julgo que pelo próprio Sr. Salomão, pai das ilustres homenageadas, que eram muito giras e simpáticas. (Também junto foto dos únicos praças (Cabos), que foram convidados).
Por detrás de mim, nesse cruzamento, mais atrás do meu lado direito, fica a porta de armas do quartel, onde eu estou ao telefone e sensivelmente mais atrás do meu lado esquerdo ficava um pequeno Destacamento de Engenharia. Entre os poucos elementos que o compunham, estava um Furriel, nome do qual já não me recordo, mas para quem trabalhei muitas vezes a pedido do meu capitão, pois ele tinha que fazer todas as semanas a listagem de pagamentos aos civis a seu cargo e muitas das vezes não o conseguia fazer sozinho e atempadamente. Eram bastantes folhas com 4 ou 5 cópias cada lista. Com o papel e o químico em 5 cópias, tinha que se bater bem forte nas teclas da máquina de escrever e, como as letras como o "a", "o", "b" e "d" cortavam o papel, sendo a lista composta pela maioria de "Baldés" e Djalós", os duplicados passariam por vezes a serem os originais, por estes estarem tão esburacados.
Noutros trabalhos feitos em Stencil (ou folhas de cera) com aquela máquina, tinha que se ser muito suave ou utilizar o verniz, para repor a letra cortada. Com as folhas de Stencil eu fazia qualquer tabela criada a régua e estilete, incluído este boneco, de que não sendo o seu autor, me foi concedido para fazer subscritos (envelopes) para cartas e serem enviadas por nós aos nossos familiares e Madrinhas de Guerra.
Falei do senhor libanês que tinha uma loja muito concorrida e uma esposa muito bonita. Posso afiançar que era verdade, cheguei a vê-la, só bonita não chega, mas fiquemos por aqui, não terei adjectivos suficientes para a descrever.
Havia mais uma loja de outro libanês que não ficava atrás, talvez fosse até mais popular, que era o Sr. Magid Danif. Era ele e a mãe do qual não me lembra o nome, mas estando eu lá na altura, suponho que no Inverno de 1970, talvez em Dezembro, a senhora veio cá a Portugal, porventura passar o Natal ou outro assunto, o certo é que faleceu num quarto de pensão, asfixiada com um calorífico a gás.
Do Sr. Madid Danif tenho uma estória que me aconteceu cá em Portugal, a qual nunca contei a ninguém. Vai ser contada agora pela primeira vez.
Eu era caixa na Agência do Totta & Açores, na Cova da Piedade e, no inicio dos anos 90, não tenho presente de facto o ano certo, mas julgo ter sido por essa altura, estava eu na caixa a pagar cheques, quando me aparece uma jovem bonita, alta e elegante bajuda que me entrega um cheque para receber. Nos instantes em que ela procurava o B.I. para eu conferir os dados e assinatura do verso do cheque, passo com os olhos pelo nome de quem pertencia o cheque, quando dei um berro, lendo o nome do apelido lá escrito, MAGID DANIF. Assim o disse, logo recuperei a calma e julgo que ela não se tenha apercebido da minha reacção, pois estava com os olhos metidos na mala na procura da carteira, mas eu fiquei com o coração aos saltos. Ver e ouvir ali à minha frente, uma criatura, que eu talvez tenha visto em pequenina ou simplesmente ser familiar de uma pessoa que eu conheci na Guiné, para mim, e julgo que por todos aqueles que por lá passaram, ficamos vacinados, aliás, não diria vacinados, mas sim contaminados com o vírus Guiné. Qualquer coisa que se relacione com aquele país, o vírus manifesta-se logo e como ia dizendo, depois enquanto a ía atendendo, dialoguei com ela que me confirmou ser filha do Sr. Magid Danif e que estava cá em Lisboa a estudar. Acabei de a atender, dei-lhe o dinheiro do cheque e ela foi-se embora, mas eu não fiquei bem, queria falar um pouco mais com ela, saber mais coisas lá de Nova Lamego, etc., mas não podia, porque tinha um a bicha (fila) de pessoal à espera para atender. Chamei a pessoa que se seguia e aí é que foi o problema, só à terceira tentativa é que eu consegui fazer a operação de lançamento do cheque correctamente, porque naquele momento eu não me encontrava ali, na Agência do Totta da Cova da Piedade, mas sim a milhares de quilómetros, na Guiné, mais propriamente em Nova Lamego, a percorrer as suas ruas, a visitar a loja do Sr. Magid Danif. Acabei de atender essa pessoa, fechei a caixa do dinheiro e desci aos arquivos, a fim de tentar acalmar, pois o meu coração estava aos saltos, estava eufórico, não sabia o que estava acontecer, só sabia que tinha ficado com pena de não ter ficado à fala um pouco mais com aquela encantadora criatura que tinha aparecido à minha frente. Confesso aqui pela primeira vez, que chorei, as lágrimas corriam-me pela face abaixo, que nem torneiras, mas era um choro silencioso e de alegria, satisfação e tristesa ao mesmo tempo, por não saber mais nada de novo. Não me conseguindo controlar, tentei lá no arquivo procurar alguma coisa que me desviasse a atenção e me acalmasse, o que aconteceu passados 15 minutos (o que naquele balcão nessa altura era possível, porque eram várias caixas a trabalhar ao mesmo tempo e eu tinha também ao meu cargo o arquivo). Peguei numa pasta e regressei à caixa para acabar o trabalho que faltava. Já mais calmo, mas já no final do fecho da caixa, procurei o cheque da menina Magid Danif e fui à base de dados procurar os contactos dela, com a intenção de mais tarde a procurar por telefone ou pessoalmente, mas quando já tinha no visor do PC o que procurava e me dispunha a tomar nota, senti uma mão no meu ombro esquerdo.Virei-me quase de imediato e qual foi o meu espanto, não vi ninguém que o tivesse feito, porque estavam todos bastante afastados de mim e eu estava sozinho. Aquela mão invisível fez-me vir à realidade e pensar para mim, o que é que estar a fazer? A pequena não ficou muito satisfeita, apesar de confirmar quem era, não mostrou com sorriso o acontecido, talvez tenha ficado assustada ou qualquer outra coisa. Desliguei o computador sem tomar nota e pensei se de facto ela também ficou curiosa talvez torne a vir cá, apesar da conta ser de Lisboa. E assim acabei o dia e muitos mais dias, meses e anos, sem saber mais nada daquela encantadora criatura nem de Nova Lamego.
Muitos ao lerem este meu desabafo, vão comentar, este deve estar, ou esteve apanhado do clima, mas não se esqueçam que naquela altura, na NET pouco se sabia ou nada e o que sabíamos da Guiné e, do meu caso em especial Nova Lamego, nada. Agora sim com a NET, sabemos tudo o que queiremos, é só procurar.
Antes deste acontecimento, tinha muitos casos em que me dava à fala com guineenses, porque sempre que via um africano, que me parecesse da Guiné, tentava logo saber donde eram e se eram do Gabu ou não.
Fico por aqui, satisfeito e aliviado por ter desabafado, mas só mais uma coisa, o VIRUS DA GUINÉ é do tipo Proteico / Vitamínico, porque quando vemos, ouvimos ou lemos algo sobre a Guiné, de bom, nos dá força e nos rejuvenesce, mas quando é mau, nos deita abaixo, faz-nos dor e sofremos.
Um Abraço
Tino Neves
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3837: Memória dos lugares (16): Cacheu, 1964 (António Paulo Bastos, Pel Caç 953, 1964/66)