terça-feira, 6 de outubro de 2009

Guiné 63/74 – P5056: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (8): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – Rotinas perigosas II

1. Esta é mais uma pequena porção das memórias do nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda. Esta é a 8º fracção desta sua série, dando assim continuidade aos postes P4877, P4890, P4924, P4948, P4995, P5027 e P5047.

AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ 1965/67

ROTINAS PERIGOSAS II

Nos finais de Julho, mais uma operação foi posta em acção no terreno, em Banjara.

O caminho era sempre o mesmo seguindo pelas proximidades de Sinchã Jobel. Saímos de madrugada, passamos por Tumania, Bantajã e Belel, sem nada de anormal ter acontecido.

Como sempre tinha acontecido, até àquele momento, só no regresso é que eram elas.

Atravessamos a bolanha, que nesta altura tinha muita água, num cruzamento através de uma grande clareira e seguimos em frente por uma pequena subida. Naquela ZO não haviam grandes subidas, entramos no mato denso e logo à esquerda dentro do mato viam-se, mais ou menos bem camufladas, umas palhotas.

Entrei por elas adentro, de rompante, acompanhado pelo pessoal da milícia, efectuando alguns disparos, para um e o outro lado, sem quaisquer consequências práticas, pois não se via vivalma por ali.

Os soldados da milícia começaram a queimar as palhotas e a destruir grandes quantidades de arroz, que por ali encontraram. Olhei em volta e não vi o resto do pessoal da minha companhia, à excepção de um soldado, que ficou comigo, bem como a Milícia que era comandada pelo Alferes Braima, de 2ª linha.

Ordenei então o regresso, mas o Braima disse-me: “Não, vamos em frente!”

O rádio não captava nada e pensei para mim: “Que vou fazer, em frente? Sou maluco mas não tanto!”.

De repente ouvi umas rajadas distantes.

Voltei-me para o Braima e disse: “Aqui quem manda sou eu!”

Era puro suicídio seguir em frente, apenas armados com duas G3 e uma Mauser.

- Vamos para trás! – disse eu.

O Braima lá obedeceu, mais ou menos contrariado, e chegamos à picada donde tínhamos saído.

Chegados à picada, consegui entrar em contacto com o capitão, que me mandou emboscar junto a bolanha. Desloquei-me para lá com o pessoal disponível e pouco tempo depois o capitão voltou a contactar-me, dizendo-me que regressasse ao local onde tínhamos acabado de queimar as palhotas. Recomendou-me que tivesse muito cuidado, quando lá chegássemos, em virtude de eu estar rodeado de nativos e podermos ser confundidos com os “turras”, o que, logicamente, não seria muito saudável para nenhum de nós.

Disse-lhe que todo o pessoal estava dentro do mato e apenas eu ficava junto da picada, por isso logo que os avistasse os avisaria da nossa posição.

Assim foi, e quando o capitão chegou junto de mim, contei-lhe o sucedido, ao que ele respondeu, que só eu e os milícias, é que atingimos o objectivo, pois ele tinha sido informado, por uma avioneta que nos sobrevoava, que o objectivo tinha sido destruído.

Regressamos a Geba percorrendo o mesmo percurso, atravessamos a bolanha e quando todo pessoal saiu para fora da água, seguimos por uma clareira subindo um pequeno declive e entramos na mata. Caímos aí numa emboscada, iniciada com o rebentamento de granadas de mão, seguida de várias rajadas de metralhadora. Deixei-me cair de costas na picada e rebolei para junto de dois soldados, que estavam atrapalhados, tentando reparar as suas armas que estavam encravadas.

Dei uma rajada única com a minha G3 em direcção de onde provinham os disparos do IN, larguei a minha arma e peguei nas 2 que estavam encravadas. Utilizando a “técnica” de bater com as coronhas contra uma árvore, acreditem que consegui, com este simples “truque”, que elas ficaram operacionais.

Uns dez ou quinze minutos depois tudo se calou por minha ordem. O capitão ligou-me, via rádio, perguntando-me se havia problemas, ao que eu respondi que estava tudo bem pois não haviam feridos. Mandou-me prosseguir a marcha até Banjara. Nada mais de irregular se passou no regresso a Geba.

Mais uns dias de descanso, em serenos passeios como habitualmente pela Tabanca, bebendo umas cervejas fresquinhas com uns petiscos e jogando à bola.

Como o descanso não podia durar sempre, seguiram-se mais umas patrulhas, agora fora das áreas do nosso controlo, para verificação se as localidades abandonadas se mantinham nesse mesmo estado.

Numa dessas patrulhas, fomos surpreendidos por uma grande jibóia, da qual só me lembro de ver um soldado da milícia, suspendê-la pela cauda e a “desgraçada” serpenteando para se tentar libertar, o que acabou por conseguir, determinando assim o seu fim, pois o soldado deu-lhe com a Mauser na cabeça, até ela morrer.

Após mais uns dias de folga, um dia de manhã, o Alferes chamou-nos comunicando-nos que a seguir ao almoço íamos sair, sem nos dizer o destino. Eu ficava fulo com estas decisões. Fomos levantar “ponchos” e rações de combate, e ficamos prontos para sair.

O nosso Capitão ficou no aquartelamento, e foi o Alferes Pimenta (mais antigo que o meu Alferes) a comandar a coluna. As viaturas deslizaram parada fora, sem sabermos com que destino, seguindo em direcção a Sare Banda (deduzi que íamos para Sare Dembel) e em Banjara paramos. Mandaram-nos apear, já com a Milícia pronta, contornamos o arame farpado em direcção da bolanha, por onde já tínhamos ido uma vez. Atravessamos a bolanha, dirigidos para Sare Dembel e, aí chegados, voltamos à direita, parando a uns cem metros.

Como o sol já se estava a pôr, comemos uma ração de combate e montamos uma emboscada. Estávamos todos molhados, pois chovia torrencialmente e aí ficamos toda a noite. Quando parava de chover, surgiam os malditos e indesejados mosquitos que não nos deixavam em paz. O dia nunca mais chegava. Finalmente rompeu o dia e o IN sem aparecer.

O Alferes Pimenta, que tinha o curso de minas e armadilhas, colocou diversas armadilhas em todas as picadas, a algumas centenas de metros da bolanha e à entrada da mesma. Colocou algumas no meio da bolanha e nos troncos das palmeiras.

Após estas tarefas regressamos novamente a Geba.

Como já andava a sentir umas dores intestinais à uns dias atrás, fui ao médico a Bafatá. Ele suspeitou que fosse apendicite e aconselhou-me a ir a uma consulta ao Hospital Militar de BISSAU.

Pedi uma guia de marcha, e uns dias depois, já autorizado, segui para BISSAU de avião.

No dito hospital fizeram-me exames radiológicos e análises, mas nada se registou de anormal.

Fiquei mais descansado, e passei a recuperar o tempo “perdido” no hospital, a circular pelos bares de BISSAU, saboreando umas apetitosas ostras acompanhadas por umas deliciosas cervejinhas, até acabar o dinheiro.

De tal modo gastei o “cacau” que tinha, que nem para pagar as refeições na messe em Santa Luzia ficou algum. Tive que pedir emprestado a um Furriel de Chaves (que estudava na referida cidade), e, logo que cheguei a Geba, enviei-lhe a importância em questão.

No hospital deram-me “alta” e passada uma semana tive de regressar a Geba. Como não havia lugar no avião, tive que me desenrascar na Bor até Bambadinca, rio Geba acima, que me compensou com um grande e belo espectáculo da natureza, que foi ver os ninhos de várias espécies de aves, nas árvores, ao longo das margens do rio.

Chegado a Bambadinca, foi difícil arranjar boleia para Bafatá, até que soube de uma viatura que se deslocaria para lá. Pedi para me levarem Geba, pois era mais fácil para mim, dado que a nossa oficina mecânica estava aí instalada. Com um pouco de boa vontade deixaram-me finalmente em Geba.

Em finais de Agosto, mais uma operação foi preparada para a zona operacional mais perigosa da companhia, situada a sul de Banjara.

Previamente, foram tomadas todas as medidas de segurança e, manhã cedo, arrancamos a caminho do objectivo. Aparentemente tudo se encontrava normal, tal como dantes sem população, e o que nós havíamos destruído assim continuava… destruído.

Regressamos, mais uma vez “provocatoriamente”, pelo mesmo itinerário, e, pela primeira vez, chegamos a Banjara sem que o inimigo nos tivesse criado qualquer tipo de problemas.

Foi bom, visto que bem precisávamos de descansar psiquicamente, da tensão e do cansaço das diversas patrulhas e operações.

Chegados a Geba, ainda de dia, ficamos também, por este motivo muito satisfeitos, pois de noite o trajecto era muito mais perigoso.

(Continua)

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Imagem 1: © Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.
Imagem 2: © Jornal do Exército - Anos 60 (2009). Direitos reservados.
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Nota de MR:

Vd. postes anteriores desta série, do mesmo autor, em:

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)

Caros camaradas e amigos tertulianos.
Há muito que venho trocando mensagens de trabalho, com o nosso camarada Carlos Cordeiro (*).

Os mais atentos devem lembrar-se que já se fez referência no nosso Blogue à sua qualidade de irmão do malogrado Cap Pára-quedista João da Costa Cordeiro (**), e tio do já nosso amigo Pedro Cordeiro, filho do Cap João Codeiro.

O nosso camarada Carlos Cordeiro, que teve já várias intervenções no Blogue, é um ex-combatente em Angola, onde fez a sua comissão como Fur Mil At Inf, no Centro de Instrução de Comandos, nos anos de 1969/71. É presentemente professor de História Contemporânea em Ponta Delgada e está a fazer um trabalho relacionado com as Unidades mobilizadas para o Ultramar pelos BII 17 e BII 18. Se se proporcionar poderemos ainda ver aqui publicado esse trabalho.

Tudo isto para dizer que convidei este nosso camarada para o grupo dos nossos amigos, tendo ele aceitado com gosto.

Assim passo a publicar a troca de mensagens entre nós.


1. Mensagem de Carlos Cordeiro, com data de 4 de Outubro de 2009:

Em fins de Novembro irá ter lugar, na Universidade dos Açores, um colóquio internacional intitulado "Representação de África e dos Africanos na História da Cultura (Séculos XVI-XXI".

Estou a preparar uma comunicação, que terá por fonte essencial o blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné", que venho a acompanhar, como leitor muito assíduo, há já alguns meses. Além das questões afectivas (que o meu amigo conhece) que me ligam ao blogue, trata-se também de, como profissional (professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores), considerar o blogue como uma fonte importantíssima para a abordagem científica de diversos aspectos da Guerra do Ultramar, no caso, da Guiné. Tenho já algumas ideias bem assentes de como desenvolver a comunicação, mas agora terei que pôr mãos à obra com mais afinco, pois o tempo passa depressa.

É por isso mesmo que recorro à boa vontade do amigo para me auxiliar num aspecto: gostaria de apresentar dados estatísticos sobre os "camaradas e amigos" que participam no blogue (data da comissão, posto, miliciano, do quadro), mas não encontro maneira de lá chegar. Haverá algum modo de, através de busca automática no blogue, conseguir estes dados? Estive a ver nos marcadores para tentar descobrir algum que me abrisse os postes de apresentação dos bloguistas, mas não vi nada.
Será que o meu amigo me pode ajudar com alguma dica que me facilite a busca?

Um abraço amigo do
Carlos Cordeiro


2. A minha resposta com data de hoje:

Caro Carlos
Será isto que quer?
Já agora aproveito para o convidar a fazer parte dos amigos do nosso Blogue.

Não sendo ex-combatente da Guiné, é no entanto um ex-combatente da guerra colonial, e um acontecimento infeliz acaba por o ligar anós.

Para não andar a procurar a nossa correspondência antiga, lembre-me o seu posto, Unidade e anos de permanência em Angola.

Com um abraço do camarada e amigo
Carlos Vinhal


3. Resposta imediata do nosso novo amigo Carlos Cordeiro:

Obrigadíssimo, meu caro Carlos. Era mesmo isto. Aliás, fico com a papinha toda feita!!! Depois perguntarei como fazer a indicação dos créditos.

Tenho também a informação das companhias dos BII 17 e 18 que foram para a Guiné (na totalidade, 25). Parece-me que vai ficar um trabalho interessante, ainda que reconheça que, dado o seu carácter científico, digamos assim, possa não vir a ser de leitura interessante. Veremos.

Quanto a ser amigo do blogue, é, sem dúvida, uma grande honra que aceito com imenso gosto. Era, como sabe, amigo, ainda que informal. Agora ficarei formalmente, o que me alegra muito.

Tenho divulgado o blogue a amigos que estiveram na Guiné. Ainda a semana passada falei com o Alferes (João Carlos Carreiro - CCAÇ 2444 (*)) que comandava o grupo de combate dos tais três açorianos que morreram no mesmo dia da grande desgraça dos afogamentos. Pedi-lhe para entrar e se tornar membro de pleno direito do blogue, mas ele ainda não entrou. Vou novamente falar com ele, pois diz-me que tem muito material, sobretudo fotos.

Na Universidade dos Açores só temos no activo quatro camaradas que fizeram a guerra do ultramar: um, o Tomás (que foi ao encontro nacional e há vários postes sobre ele); um professor que é leitor habitual, mas que nunca se inscreveu (72-74, na região de Oio); um que esteve em Moçambique e eu. Isto, no fundo, quer dizer alguma coisa: estamos cada vez mais na reforma!

Carlos Cordeiro
ex-Fur Mil Atirador de Infantaria.
CIC (Centro de Instrução de Comandos),
Angola (sede, em Luanda).
Comissão: Abril de 69 a Abril de 71.

Muito obrigado por tudo.
Um abraço camarada e amigo do
Carlos


4. Comentário de CV:

Caro Carlos Cordeiro.
Muito obrigado por aceitar o nosso convite para fazer parte do núcleo de amigos do nosso Blogue, que reservamos para as pessoas que de algum modo se identificam connosco, não sendo ex-combatentes da Guiné.

O seu caso é muito particular, porque sentiu como ninguém a dor provocada pela perda de um entequerido, irmão neste caso, vítima do infortúnio, causa não directa de uma acção guerra, mas na guerra, no TO da Guiné.

Ao tentar ser-lhe útil, mais não fiz que retribuir a sua colaboração neste blogue, fazendo os seus comentários e dando as suas achegas sempre oportunas.

Poderá, como é lógico, servir-se do nosso espólio para fins didáticos, cuja paga será só mencionar a fonte. Julgo que em casos particulares, poderá contactar directamente o(s) camarada(s) em causa, que com toda a certeza colaborarão.

O mentor desta página, Luís Graça, directamente ou delegando, estará disponível para esclarecimentos adicionais.

Resta-me mandar-lhe o tradicional abraço de boas-vindas da tertúlia, desta feita para o meio do Oceano onde se encontra, mais propriamente na bonita Ilha de S. Miguel. Já sabe que tem a incumbência de dar um abraço, da minha parte, ao meu Primeiro Rita, amigo para sempre depois de com ele conviver na CART 2732.

Ilha de S. Miguel - Furnas

Foto: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4853: Dando a mão à palmatória (23): Verdadeira causa da morte de três camaradas açorianos da CCAÇ 2444 (Carlos Cordeiro/Carlos Vinhal)

(**) Sobre as causas da morte do Cap Pára-quedista João Costa Cordeiro, vd. postes:

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4216: Comentários que merecem ser postes (4): Homenagem à memória do Capitão Pára-quedista João Costa Cordeiro (João Seabra)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)

24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

Guiné 63/74 - P5054: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (2): Ponte para o regresso

1. Mensagem de José Eduardo Oliveira (JERO) (*), ex-Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), dirigida ao nosso Editor Luís Graça, com data de 30 de Setembro de 2009:

Ganda Luís
Agradavelmente surpreendido pela tua postagem 4943 acerca da Blogoterapia (126) e dos considerandos acerca do periquito de Alcobaça, que se assina JERO.
Fico-te grato pela atenção e, acerca da tua feliz expressão do "Blogando e andando..." tenho que te confessar um pesadelo desta noite... Que, não vais acreditar, mas que eu vou arriscar...

Sou do Benfica desde pecanino e tenho-me habituado ultimamente a ver os jogos dados pela TV com a companhia de um tal "James Martin's", de 20 anos.
Durante o Belenenses-Benfica - o tal de ontem à noite - festejei cada golo com um golinho do 20 years old...

Acabou o jogo e quando ia a rolhar o "James Martin'" pareceu-me ouvir uma voz cavernosa dizer:

- JERO não me voltes a fechar na garrafa onde estou há 20 anos. Agora, que já bebeste tudo, concede-me a liberdade que... eu te concederei um desejo.

Fiquei sem palavras. O que hei-de pedir ao génio da garrafa!?Pensei, pensei e lembrei-me de um trauma dos anos 90!

- Génio posso xingar o Homem Cardoso que uma vez me disse que uma fotografia não deve levar nenhuma legenda!?.

- Podes. Escreve ao Luís Graça, da Lourinhã, que ele põe isso no blogue e toda a malta da tropa te irá razão.

Fui-me deitar às escuras. Esqueci-me de tomar o Xanax 0,5 e dormi que nem uma pedra.

Acordei esquisito. A garrafa da noite anterior estava na bancada da cozinha desarolhada. Comecei a arrumar ideias e procurei por toda a casa o génio. Não o encontrei mas... a janela da cozinha, que dá para as traseiras estava aberta.

Vim para o computador e escrevi-te. Está feito. Agora é contigo.
Já bloguei.
Agora vou andando.
JERO


PONTE PARA O REGRESSO

Contrariando a opinião do Mestre Homem Cardoso (1) que defende que “uma fotografia não tem que ter título”, esta minha fotografia precisa de um título que tentarei defender nas considerações que se seguem.
A fotografia em questão foi tirada em finais de 1964 no Rio Cacheu-Guiné, numa povoação à beira rio chamada Binta. A viagem não tinha sido de recreio e o “Alexandre da Silva”, que tinha navegado de Bissau até aquele local - mais ou menos a oitenta quilómetros acima da foz do Cacheu - levava tropas e não turistas. O navio era de carga e tinham sido precisas cerca de 17 horas de navegação para acostar ao pontão da fotografia, pomposamente apelidado de cais. O nome de cais tinha no entanto alguma lógica pois as tábuas estavam tão desconjuntadas que cair no cais era mais do que certo e seguro para quem não estivesse a pau com as tábuas. Mas… adiante.


Dá para perceber na fotografia que o rio era bastante largo frente a Binta, povoação com alguns grandes armazéns com telhados de zinco. Para lá desta zona urbana havia ainda 4 ou 5 habitações de pedra e cal de madeireiros e um perímetro delimitado por arame farpado apelidado de quartel, com uma forma mais menos rectangular.
Vivemos neste local - cerca de 170 militares da Companhia de Caçadores 675 - durante dois anos. Dois longos anos!... Vezes sem conta nos sentámos nas tábuas deste pontão, habitualmente frequentado por pescadores indígenas, que remendavam as suas redes, enquanto fumavam cachimbo e mascavam cola. (2)
Vezes sem conta olhávamos para lá do pontão sonhando com o regresso, curtindo saudades, relendo cartas dos familiares e das namoradas, chorando lágrimas furtivas, lambendo feridas do corpo e da alma, quando regressávamos das patrulhas das matas do Norte da Guiné.
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1- António Homem Cardoso, nascido em São Pedro do Sul em 11 de Janeiro de 1945, é um dos mais prestigiados e premiados fotógrafos portugueses, sendo ainda escritor com numerosas publicadas. Conheci-o profissionalmente na SPAL- Sociedade de Porcelanas de Alcobaça, SA., numa reunião de trabalho e foi então ,por volta dos anos 90, que tivemos a tal conversa sobre as fotografias terem ou não tem necessidade de legenda. Cabe aqui dizer que fui responsável pela área comercial da SPAL(mercado nacional) cerca de 30 anos.

2- Para os não iniciados nos costumes africanos esclarecemos que esta cola não é das que se usa para colar selos nem para snifar. Estas colas crescem na África tropical, onde estão representadas por uma dúzia de espécies. As sementes da árvore que se parece com os castanheiros, são conhecidas pelo nome de noz de cola e têm um poder excitante superior ao do café e do chá (Dicionário da Lello Universal, Volume I).

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Vezes sem conta pareceu-me ver, esfumadas no horizonte, as Torres do meu Mosteiro, do Mosteiro de Alcobaça.
Deste pontão descobrimos amanheceres cinzentos, carregados de neblina que anunciavam um novo dia a descontar na conta-corrente dos dois anos de comissão.
E ao fim da tarde - quando nos conseguíamos abstrair da guerra desse dia ou da que estava marcada para o dia seguinte – descobríamos o fim do dia avermelhado, o pôr do Sol da África, misterioso, quente, sufocante, agressivo, mas com um cheiro único, envolvente, pesado que nos esmagava os sentidos, entranhando-se na pele e na memória do olfacto.


Havia dias em que este pontão fervilhava de agitação no desembarque de géneros de pequenos barcos a motor que subiam o rio até Farim, onde se situava a sede do Batalhão 490, cerca de 20 quilómetros mais acima. Devido à guerra, o rio era uma via mais segura para as populações se deslocarem e as LDM (lanchas de desembarque do tipo daquelas que se celebrizaram no desembarque da Normandia) partiam apinhadas de mandingas e fulas da região, que em cada viagem transportavam quase todos os seus haveres – galinhas, cabritos, máquinas de costura, bicicletas e crianças, muitas crianças.

De vez quando chegava um navio patrulha o que animava o nosso dia a dia, pois a guerra da Marinha sempre foi melhor do que a dos caçadores - leia-se guerra do ar condicionado, da cerveja fresca para os praças e de alguma garrafa de whisky para as patentes mais elevadas. Há que referir que a chegada da Marinha também resultava para nós, caçadores, numa sessão de cinema com energia fornecida pelos geradores do navio.

Deste pontão arriscava-se de vez em quando uma viagem em piroga para apanhar uns peixes para melhorar o rancho ou, para alguns mais aventureiros, dar um tirinho nalgum crocodilo sonolento que estivesse a apanhar sol nas margens. Para trazer uma pele para uma mala ou para uns sapatos para a namorada, tinha de se levar para essas caçadas furtivas uma “Mauser” porque as balas da ”G3” não furavam a pele dos crocodilos. Quando havia crocodilo para esfolar havia também chatice com os habitantes de Binta que eram protegidos pela tropa mas que não davam baldas no que respeita aos crocodilos do seu rio. Queres levar a pele (a do crocodilo e a própria) para Lisboa pagas...

A vida nocturna do povoação era animadíssima como se calcula e quando não havia guerra para o dia seguinte, vinha-se apanhar o fresco junto ao pontão. Das variedades constava habitualmente tentar descortinar na noite os olhos de alguns crocodilos que vinham até junto da margem comer restos de comida deitados para o rio pelos cozinheiros da Companhia.

Numa noite em que o patrão estava fora – leia-se Comandante da Companhia - quatro malucos pediram emprestado ao cabo-quarteleiro um cartucho de dinamite de 100 gramas e com os restos de um cabrito prepararam uma armadilha mortal junto à margem, encostada como não podia deixar de ser a um dos suportes do pontão. A primeira vítima foi um cão, que lhe cheirou a cabrito e quando deu por si estava a sobrevoar a fronteira com o Senegal, que ficava a cerca de 25 quilómetros. O estoiro foi tão grande que o resto da tropa saiu dos seus quartos para repelir o ataque dos turras.

Muitos tiros depois conseguiu-se alguma calma para o grupo dos quatro explicar à rapaziada que estava em curso uma caça ao crocodilo. Perante a grandeza do estoiro anterior, reduziram a dose para 50 gramas de dinamite, com mais uma dose de cabrito fornecida por uma mandinga, a quem se prometeu a pele do dito crocodilo antes propriamente de... a ter. O risco mais elevado do negócio continuava a ser... para o mandinga e para o crocodilo...

Desta vez o crocodilo vem ao engodo, a dinamite rebentou, o pontão voou, o quartel ia caindo, mas o crocodilo... não ficou por ali! Recuperada a surdez dos caçadores e respectivos mirones alguém se lembrou de que os crocodilos não são parvos de todo e que o bicho deve ter feito detonar a dinamite quando puxou os restos cabrito para comer em local sossegado – o fundo do rio. Conclusão triste – o crocodilo deve ter apanhado um grande cagaço, talvez tivesse ficado surdo ou mesmo gago, mas a pele continuou agarrada ao seu corpo... Lixou-se o mandinga, o cão e o Estado Português, com menos 150 gramas de dinamite nos seus paióis. E o pontão é bem de ver, que teve de ser reparado em horas extraordinárias antes do regresso do Capitão Tomé Pinto, que não era para brincadeiras...

Como estão a perceber pela amostra este pontão do Cacheu dava para escrever um livro, sendo certo que ele ficou para sempre guardado nas nossas memórias
Porque foi ao longo do tempo a nossa... PONTE PARA O REGRESSO.

Ali chegámos em meados de 1964... meninos, de vinte e poucos anos, putos e dali partimos... homens de traços vincados e... almas marcadas pela dureza da guerra. Vimos este pontão pela última vez em Maio de 1966.

O simbolismo da sua imagem, desta fotografia com alma está pendurada na sala de estar da minha casa, em Alcobaça.
A maioria das pessoas que me visita quase não dá por ela.
Para mim, no capital do meu património de recordações, ela diz muito.
Para mim e cento e setenta irmãos esta fotografia do pontão do Cacheu representa a magia de uma época.

Sem palavras... recorda-me os afectos, a minha juventude, a minha generosidade, o meu gosto pela fotografia... e a minha nostalgia pelas Torres do meu Mosteiro.

Vezes sem conta pareceu-me ver, esfumadas no horizonte, as Torres do meu Mosteiro, do Mosteiro de Alcobaça


Continuo a tirar umas fotografias.

Mas... o que me apetece dizer para terminar... é que cada vez me custa mais passar um dia sem ver as Torres do Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

A incurável nostalgia dos anos sessenta... quando nos aproximamos dos setenta!!!

José Eduardo Reis de Oliveira
(Setembro de 2009)

Nota: Tratamento de imagem da responsabilidade do meu amigo Marco Correia, a quem expresso o meu agradecimento pela sua competência e... paciência.
JERO

Estas imagens foram posteriormente editadas pelo Editor do Blogue para efeitos de publicação
CV

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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5048: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (16): Leões na Guiné em 1966!

Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4943: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (1): O gasóleo do Amílcar e a emboscada de Sare Dicó

Guiné 63/74 - P5053: Agradecimento colectivo ao ilustre grupo de amigos do Blogue (Hélder Sousa)

1. Comentário de Hélder Sousa (*), ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72, deixado no dia 4 de Outubro de 2009 no poste 5046, a propósito do seu aniversário:

Meus caros amigos
Sendo eu um bocado sentimental não podia deixar de ficar sensibilizado com as vossas manifestações de simpatia.

Deste modo quero fazer um agradecimento colectivo a este ilustre grupo de novos amigos que o Blogue proporcionou, quer aos que aqui postaram os seus comentários, quer aos que me escreveram directamente, quer também aos que me telefonaram.

Sem dúvida que o Blogue é grande e possui o mérito em pôr em contacto toda esta enorme quantidade de gente boa.

Ao António Graça quero-lhe dizer que não precisa agradecer as referências que lhe faço. São justas e merecidas! Nem sempre estou de acordo com ele mas quem quer unanimismos? Recebo os dez mil abraços e formulo o desejo que cem mil flores desabrochem, que cem mil flores floresçam.

Ao Juvenal Amado agradeço os seus votos com a certeza que são retribuidos.

Ao incortornável alfero Jorge Cabral digo que o abração foi aceite e que se mantém de pé a intenção do almoço, apenas aguarda a melhor oportunidade.

Ao camarigo Mexia Alves não vou repetir o que já lhe tenho dito, que fico mais enriquecido por o ter conhecido, que o considero um amigo indefectível, com um coração enorme, muitas vezes ao pé da boca, é certo, mas sempre franco e leal. É verdade, também não estou sempre de acordo com ele mas são as diferenças que nos completam.

Ao Vasco, grande Vasco, amigo recente, sempre lhe digo que essa ideia de ser atraído pelo estômago é pura invenção do Carlos Vinhal, que é um criativo...

Ao Magalhães Ribeiro, homem generoso e de constante trabalho solidário, quero agradecer os votos formulados e prometer que serão retribuídos.

Ao Mário Pinto, homem também generoso e activamente solidário, agradeço as suas felicitações.

Ao Colaço, que também admiro, agradeço igualmente as felicitações.

Ao vate Manuel Maia (não é o único, aliás, em termos de poesia, o nosso Blogue está recheado de valores) sempre lhe digo que agora já sei que ele sabe que eu sei que ele sabe, mas que o que importa é agradecer os seus votos... com uma dúvida: porquê até aos cem?

Ao Manuel Moreira os meus agradecimentos com a certeza de que serão retribuídos.

Ao Amílcar Ventura os meus agradecimentos pelos parabéns cantados.

Ao José Câmara, homem que costuma emprestar ao Blogue frescura, humor, bom senso e notícias de outras paragens, agradeço a referência ao brinde da coca-cola com o whisky em homenagem aos tempos da Guiné, mas confesso que agora já só muito raramente bebo dessa água suja do imperialismo devido a recomendação médica.

Ao Luís Graça, ao também incontornável Luís Graça, responsável por esta coisa que é o nosso Blogue, quero agradecer todas as suas palavras e dizer de forma explícita de como as estimo. No entanto fazes cada pergunta! E estavas à espera de respostas, era? Querias um postzinho, não? Tem calma, amigo, ainda andam por aí muitos piratas desejoso de reescrever a história ao seu modo...

Ao António Paiva, homem do HM de quem leio sempre com grande respeito e emoção as suas histórias, quero agradecer as suas palavras.

Ao Mário Fitas, grande Mamadu, temos então mais algo em comum para além da nossa amizade... tens então uma filha a fazer anos no meu dia... pois então, agradecimentos pelos teus votos e já agora te peço que endereces os meus à tua filha.

Ao Torcato Mendonça, homem da planície, da beira-mar, das serranias, de Portugal, os meus agradecimentos pelos seus votos e pelos abraços fortes pessoais e que envolvam fraternalmente toda esta Tertúlia.

A todos e também aos que não se expressaram por este meio, os meus agradecimentos.
Hélder S.

2. OBS:
Uma pequena nota para pedir desculpa ao Hélder. Nunca julguei que interpretassem à letra a expressão: atraído pelo estômago. Foi uma brincadeira para alegrar ainda mais um dia já de si alegre.

Hoje, muito a sério, reformulo para: atraído pela oportunidade de um são convívio com camaradas da Guiné.

Esta é a verdade, para pesar de mentes maliciosas que esperam qualquer coisinha para destruirem a reputação de um homem.
Caso para dizer, caro Hélder, com amigos destes, nem precisamos de inimigos.

Agora a sério, caro Hélder e restantes camaradas.
Pela nossa parte é um prazer fazermos esta pequena homenagem no dia em que alguém faz anos. É uma oportunidade para nos conhecermos mais um pouco, trocarmos algumas palavras e reforçarmos estes laços que se querem cada vez mais fortes, a camaradagem e a amizade. Haverá algum sítio onde se utilize o adjectivo camarigo para designar alguém de que gostamos mesmo?

CV
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5046: Parabéns a você (31): Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF, Piche e Bissau (1970/72) (Editores)

Guiné 63/74 - P5052: Notas de leitura (26): Os Heróis e o Medo, de Magalhães Pinto (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (*), ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70, com data de 29 de Setembro de 2009:

Caríssimo Carlos,
Penso que és tu que estás à testa do nosso glorioso negócio.
Espero enviar-te o segundo texto nos próximos dias, depois faço uma pausa.
Por favor, publica antes deste a terceira e última parte das memórias do sargento Talhadas.

Recebe um abraço do
Mário


Meus bravos, de que cor é o medo?
Beja Santos

Magalhães Pinto (economista, publicista, biógrafo e romancista) dedicou o seu segundo romance às memórias da sua comissão na Guiné (“Os heróis e o medo”, Magalhães Pinto, Âncora Editora, 2003). Tudo gira à volta de um batalhão, o 600 e tal, os Águias, com sede em Mansoa, é governador e comandante-chefe Arnaldo Schultz. A tónica fundamental, assegura o autor, gravita em torno da heroicidade, que não se mede pelo número de adversários mortos mas pelo profundo sentido de humanidade, pelo saber fechar as portas ao medo, dando aos outros a nossa coragem, a nossa solidariedade.

Magalhães Pinto apresenta o seu romance como uma história ficcionada. Há um narrador, Mário, para o qual convergem outras histórias, outras vidas. É imobilizado imprevistamente, a sua vida já estava rotinada, resigna-se, informa a família, casa, forma batalhão em Santa Margarida, ruma no Uige para Bissau. O comandante do batalhão é António Soveral, para quem a Pátria não se discute. O filho fora feito prisioneiro na Índia, a filha envolve-se na contestação académica, namorisca mesmo com alguém que é contra a guerra colonial. Amélia, a mulher do tenente-coronel Soveral suporta a solidão e todas estas contradições familiares. Os protagonistas vão aparecendo, um a um: Álvaro, o Manel fadista, José António, o namorado de Rafaela, a filha do tenente-coronel Soveral, uma chusma de gente embarca para Santa Margarida, assim apresentada: “Aquilo não era um quartel. Era um exército de quartéis. Uma longa avenida, larguíssima, ladeada pelos típicos edifícios militares mais recentes. Ao fundo, a servir de rolha à avenida, uma capela. Estilo moderno. A presença da Igreja num local onde se ensinava a matar. Onde se ensinava, também, a morrer”. A divisa do batalhão será: bravos, leiais e fiéis. É em Santa Margarida que chega a notícia da mobilização: Guiné, que todos tinham ouvido dizer ser o teatro de guerra mais violento e perigoso.

António Soveral vive os seus dramas: o filho Ricardo já foi libertado, abandona a vida militar, vai refazer a sua vida em França; o Pais, da PIDE, quis falar com ele sobre as relações da filha com gente do contra, recomenda ao tenente-coronel que encontre modos de controlar melhor a sua filha. E depois o embarque: “Firme!... Sent...op!... Direita... er! Em frente... arche!... O rufar dos tambores. A marcha militar, de novo. As botas, nessa altura ainda de sola, a baterem no empedrado, como se fossem um par apenas. Desarmados. A G3, companheira fiel de cada um deles nos próximos dois anos, não era para mostrar ali. Assim, a imagem a perdurar nos familiares pendurados na varanda do cais seria a de um passeio”. E o navio afasta-se, os oficiais na primeira classe, os sargentos na turística e os soldados nos porões. Álvaro faz poesia, assim se partiu para África, assim rapidamente se chegou a Bissau, ao seu pequeno cais, todos partem em lanchas de desembarque numa coluna de camiões Berliet, irão ser despejados junto ao quartel-general. E começa o fascínio dos contactos descrito pelo Mário: “Bô miste lavadêra? Bô miste pillha, branco? Miste missanga bonita pra mandá tua senhora?... Qué mancarra, branco?... Dois saco um peso...”

O batalhão parte para Mansoa, sua sede, as companhias dispersam-se por Mansabá, Bissorã e Olossato. Pior do que o Oio só Guilege e Gadamael, lá mais para o sul, e a ilha do Como. Antes de partirem, Mário, Álvaro e Manel percorrem Bissau. Samba Jau leva-os ao Pilão, ao bordel. Zé António, o namorado da Rafaela, é metido na tropa, vai para um quartel em Bragança.

Magalhães Pinto ficciona uma primeira operação e dá-lhe o tom mais polémico possível: o capitão Soares da Cunha, depois de uma emboscada, comanda uma chacina: “Ordenou a alguns homens para irem às viaturas buscar morteiros e granadas. Quando eles voltaram, mandou armar os morteiros e apontar à aldeia. Os homens ainda o olharam, interrogativos. Mas o rosto duro do capitão não deixava espaço para diálogos. Foi ele mesmo a enfiar no tubo a primeira granada. Ouviu-se o deslizar da granada cano abaixo, fazendo silvar o ar expelido. O barulho do choque do fulminante com o percutor confundiu-se com o assobio da granada a ser expelida do tubo e a cruzar os ares. A explosão. Em cheio na aldeia. Soares da Cunha mandou esgotar o cunhete. As granadas sucederam-se ao ritmo das explosões. Pam... pam... pam... Pancadas secas de pilão a esboroar fragilidades de adobe e colmo. Quando o cunhete ficou vazio, novamente o silêncio. A tabanca tinha deixado de existir. Toda. As moranças. As mulheres. As crianças. Os velhos”. Mário entra em solilóquio: “Tudo perde sentido aqui. Esta violência não fere, queima. É este silêncio que mais me confrange, que mais me dói. É preciso ser herói para assistir a tudo isto em silêncio”. Magalhães Pinto lá terá as suas razões para ter forjado este Wiriamu na Guiné, escrever em pleno século XXI um massacre de que nunca ninguém ouviu falar, é obra, sabe-se lá qual o alcance da parábola sobre estas populações açoitadas pela presença do guerrilheiro e das forças portuguesas.

Começam as baixas no batalhão 600 e tal, o estado de ânimo de António Soveral começa a desagregar-se. Mário escreve à mulher, está-se nas tintas para um potencial censura, confessa que precisa do seu carinho, fala em saudades. Mas aqui também não se entende a parábola de Magalhães Pinto, como se os militares portugueses vivessem em estado de sodomia: “Esta semana tenho andado com uma amigdalite. E o médico da companhia receitou-me uns supositórios. Foi o Álvaro quem mos introduziu. Havias de ver os cuidados dele com a minha doença. Deixei de chamá-lo pelo nome próprio e chamo-lhe agora, sempre, irmão. E ele também me chama irmão. Bem, às vezes, quando procuramos desabafar as tristezas numa alegria postiça, chamamo-nos manas. Ó mana, queres vir tomar um café? Devia ser um chá. Mas ninguém se lembra de bebidas tão finas, apesar de tratamento tão delicado. Tão feminino”.

As distracções são escassas, há a esplanada do Clube dos Balantas, cinema aos sábados, ao ar livre, e os livros eróticos de Cassandra Rios. Joga-se o “abafa”, um jogo de cartas de pura sorte ou azar. É nesta atmosfera que se anuncia a ida de os Águias ao acampamento de Morés. De Bissorã, Mansabá e Olossato saíram as companhias operacionais e de Mansoa partiram os comandos. As companhias foram reforçadas pelos pelotões de milícias. Mário é emboscado. As nossas tropas reagiram, o inimigo recuou. Mário e Mamadu, um mandinga, combatem lado a lado. Não havia tabanca que Mamadu não conhecesse em toda a região do Oio, ostentava uma cruz de guerra por actos de bravura. Naquele dia foi ferido. Mário parte em seu auxílio, imobiliza a força atacante. As nossas tropas capturaram um guerrilheiro, Mamadu é evacuado com um feio buraco no abdómen. Avança-se para o Morés, a água acabou, o sofrimento é enorme: “A boca adquire rugosidades desconhecidas. A língua enrola-se no palato. A garganta arde como lenha. O cérebro embota-se na ideia fixa de torrentes cristalinas. O tempo alonga-se insuportavelmente. A distância ganha dimensão de infinito. A arma, segura e fiel companheira dos momentos de perigo, torna-se um objecto supérfluo e incómodo, que apetece deixar encostado a um mangueiro qualquer”. É uma longa e lenta caminhada para o Morés.
(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5040: Historiografia da presença portuguesa (22): Bolama, Farim... Álbum fotográfico de 1943 (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 29 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5031: Notas de leitura (25): "Memórias de um guerreiro colonial", de José Talhadas - Parte III (Beja Santos)

Guiné 63/74 – P5051: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (23): Os malditos fornilhos

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 23ª estória:

Camaradas,

Sempre que os meus afazeres profissionais e familiares mo permitem, continuo a vasculhar o meu velho baú de recordações e vou passando, para o PC, alguns textos que rabisquei durante a minha comissão.
Como penso que são de interesse geral, dadas as matérias tratadas (por todos nós conhecidas), mas muitas delas já a caminho do esquecimento vou-oas enviando, com alguma nostalgia, para publicação no blogue.

Hoje abordo um dos nossos maiores pesadelos diários, a par com as assassinas minas, em cada uma das nossas saídas dos aquartelamentos:

OS MALDITOS FORNILHOS

Numa guerra traiçoeira, inúmeras vezes sem inimigo á vista, que procurava por todos os meios causar baixas às NT, tudo valia para levar adiante os seus fins.
Talvez a mais traiçoeira e eficaz de todas as armas utilizadas pelo IN, contra as nossas forças armadas, foram os amaldiçoados fornilhos.

Nas picadas e estradas, por nós percorridos, os nossos experientes picadores, descobriam imensas minas (A/C e A/P), mas os fornilhos poucos conseguiam detectar.

Os fornilhos eram montados em buracos feitos nas estradas, ou nas picadas, que eram preenchidos com material de guerra obsoleto e eram detonados á distância, semeando o pânico e o inferno entre o nosso pessoal.
Foram os causadores do maior número de mortes, estropiados e feridos nas NT, sofrendo alguns de nós, ainda hoje, de graves efeitos físicos e psíquicos dos mesmos.

Numa guerra cruel e desumana como foi a da frente da Guiné, nós também utilizamos fornilhos, nomeadamente em defesa dos nossos aquartelamentos. Em Mampatá haviam vários á volta do arame farpado.

No dia 17 de Agosto de 1970, aquando do grande ataque de surpresa do PAIGC, à Tabanca de Mampatá, o nosso principal meio de defesa foram os ditos fornilhos. O IN só retirou da sua acção agressiva que desenvolveu sobre nós, quando os mesmos rebentaram.

Constatou-se então que o inimigo tinha sofrido fortes baixas devido às explosões dos mesmos.
Também utilizamos fornilhos, em acções de emboscadas, mais precisamente no corredor de Missirã, tanto mais não tivessem servido, pelo menos foi uma forma psicológica de nos sentirmos mais seguros.

Era a lei de “quem com ferro mata… com ferro morre”. Na maior parte das vezes quem morria eram os carregadores dos equipamentos do IN, muitos deles obrigados pelo PAIGC a seguirem à frente das suas colunas.

De tanto picar estradas e trilhos, aqui deixo este verso da autoria do meu camarada Fur Mil Edmundo:

De pica na mão
lá ia a maralha
com toda a metralha
de olhos no chão
p’ra não haver falha
piquem bem o trilho
tomem atenção
sou de opinião
que se houver FORNILHO
ai que Deus nos valha


Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

domingo, 4 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)



1. O nosso canarada e amigo Patrício Ribeiro é membro da nossa Tabanca Grande. Mais conhecido em Bissau como o verdadeiro embaixador... dos tugas, pertence à Associação Ajuda Amiga. É natural de Angola, foi fuzileiro durante a guerra colonial na sua terra e vive já há 25 na Guiné, sua segunda pátria.

2. O Patrício enviou ao Luís Graça uma interessante mensagem, da qual o Luís me solicitou a publicação com o seguinte comentário: Eduardo, O Patrício Ribeiro ("o pai dos portugueses da Guiné") tem uma tese de alto interesse: não foi em Madina do Boé que foi proclamada a independência da Guiné, como nos é historicamente contado, mas sim em Lugajole, a sudeste de Beli.

Lugajole fica na estrada Béli - Vendi Leidi (na fronteira), sob o lado esquerdo, logo abaixo de Béli... Pelo mapa (tenho o de Béli mas ainda não está 'online'), ainda é longe de Madina...

3. A mensagem enviada pelo Patrício Ribeiro é a seguinte:

A minha história… da História.

Ao ler no livro BATALHAS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL – Guerras de África Guiné – 1963 - 1974, da Academia Portuguesa de História, de Fernando Policarpo, volume 21, na página 135, verifiquei que o autor declara… que a Independência da Guiné foi proclamada em cerimónia, na “localidade de Madina do Boé” (sic), em 24 de Setembro de 1973 (foto 1).

Num passeio, que fiz em 2005 naquela região, via Ché Ché (foto 2), na companhia de uma equipa da RTP África e do correspondente do Jornal Expresso, visitamos, acompanhados pelas autoridades locais, o local onde foi declarada a Independência, junto à localidade de Lugajole, conforme Monumento ali erguido em memória à cerimonia (foto 3), que uma queimada tinha destruído.


Fica em cima de uma colina (morro), num local muito alto, de onde se pode avistar para os lados de Beli (foto 4)… quem vem lá, a diversos quilómetros (foto 5). Aqui ficam as minhas duvidas… qual seria afinal o local da proclamação: Lugajole ou Madina?

A distância entre as duas povoações é de muitos quilómetros, assim como de muitas horas de viagem em jipe.


Fonte junto ao Quartel de Madina do Boé (foto1)

Jangada do Ché Ché (foto 2)


Lugajole: Local onde foi declarado a independência da Guiné (ao fundo o Monumento) (foto 3)

Restos do Quartel de Beli (foto 4)

Em baixo, a actual povoação de Lugajole (foto 5)


Um abraço Amigo,
Patrício Ribeiro


Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados.

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Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:


(*) Vd. também postes de:




(**) Vd. idem postes de:





Guiné 63/74 - P5049: Parabéns a você (32): Artur Conceição, ex-Soldado de TRMS da CART 730, Bissorã, Farim e Jumbembem (1965/67) (Editores)

Há uns bons anos que o nosso camarada Artur da Conceição (*) (ex-Soldado de Transmissões da CART, Bissorã, Farim e Jumbembem, 1965/67), festeja o seu aniversário no dia 4 de Outubro.
Este ano fá-lo de modo um pouco diferente, porque os seus mais de 350 amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, se vêm associar ao acontecimento. Mais, combinam aparecer por aqui sempre e enquanto o Artur nos quiser ter como amigos.

Ao Artur desejamos uma longa vida com saúde e boa disposição, festejando os seus aniversários sempre junto de quem o ama.


O Artur é nosso companheiro desde Maio de 2007, altura em que se dirigiu ao nosso Editor Luís Graça:

Quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página... O meu nome é Artur António da Conceição... Estive na Guiné (1965/1967). Fui Soldado de Transmissões de Infantaria e Condutor Auto. Pertenci à Companhia de Artilharia 730. Estive em Bissorã, Farim e Jumbembem. A minha comissão de serviço foi de 9 de Fevereiro de 1965 a 14 de Fevereiro de 1967.

Permitem-me a entrada na tertúlia ? Em que posso ajudar ?

Sou natural de Campia onde temos anualmente um convívio de todos a ex-combatentes da freguesia. Levantámos um monumento em memória dos ex-combatentes do século XX, conforme foto acima inserida.

Não tenho estado ausente desta causa, e tenho algumas obras feitas, ntre elas uma base de dados onde constam todos os que tombaram, e também os que foram condecorados, a partir da qual é possível tirar muita informação.

O ficheiro Tabela4.xls, que envio em anexo, é uma tabela criada a partir dessa mesma base e onde podemos ver algumas curiosidades. Ver por exemplo que morreram mais em combate na Guiné do que em Angola (que é 35 vezes maior).

Por hoje não mando mais nada, a não ser um grande abraço a todos os elementos da tertúlia.

Conheço dois…. o que é muito bom!!!! Mas gostava de conhecer muitos mais…….!!

Artur António da Conceição



Algumas fotografias do Artur publicadas no nosso Blogue:

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > Estes eram meninos de Jumbembem que eu gostava de ensinar. Na fila da frente e de camisa branca está o Tomás que era esperto que nem um rato. Era o menino querido dos estica fios

Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1965/67) > O que terá acontecido a estas duas meninas ??? Eram de Jumbembem, a Fili e a Djar

O Artur com o Capelão que celebrou a missa, em Brá no dia 18 de Abril de 1965, Domingo de Páscoa

Vouzela > Campia > Monumento aos Combatentes do Século XX > Inaugurado em 13 de Novembro de 1999 e dedicado aos campienses combatentes deste século. Lembra aos vindouros a participação de muitos naturais de Campia na Guerra Colonial, na Primeira Grande Guerra e em expedições a África e à India. A iniciativa inseriu-se no IV Convívio dos Combatentes e Forças Expedicionárias da Freguesia de Campia. Em 2007, realizou-se o XII Convívio. No início da cerimónia, o nosso camarada Artur Conceição no uso da palavra. Ao centro, o Capitão Álvaro Dório Correia Tavres, que esteve em Bedanda.

Guiné > Região do Oio > Jumbembém > CART 730 (1965/67) > Artur Conceição, o hortelão na sua horta onde se gabava de cultivar os melhores tomates e alfaces do CTIG.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

21 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1772: Tabanca Grande (5): Também quero estar ao lado dos que não permitem o virar da página (Artur Conceição, CART 730, 1965/67)

8 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1824: O Aeroporto de Jumbembem e os ecologistas 'avant la lettre' (Artur Conceição)

24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1989: Homenagem ao António da Silva Batista (Artur Conceição, CART 730, Jumbembem, 1965/67)

21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2291: Convívios (36): XII Convívio dos combatentes da Freguesia de Campia, no dia 10 de Novembro de 2007 (Artur Conceição)

8 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2335: A trágica morte do Cap Rui Romero: 10 de Julho de 1966, dia de correio (Artur Conceição)

16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2355: O meu Natal no mato (1): Jumbembem, 1965: Os homens às vezes também choram... (Artur Conceição)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3045: Convívios (72): Em Campia, Vouzela, homenageando os esquecidos da guerra (Artur Conceição / José Manuel Lopes)

12 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3049: Estórias Avulsas (17): As cadelinhas de Jumbembém (Artur Conceição)

16 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4066: Humor de caserna (9): Quando os alentejanos de Jumbembem viram cair-lhes os tomates... a seus pés (Artur Conceição)

5 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4899: Convívios (157): XIV Convívio dos ex-Combatentes da Freguesia de Campia – 22AGO2009 (Artur Conceição)

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2009 >
Guiné 63/74 - P5046: Parabéns a você (31): Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF, Piche e Bissau (1970/72) (Editores)