1. Mensagem do nosso camarada José Brás (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 17 de Dezembro de 2011:
Acabadinho de chegar do Espírito Santo, Hospital de Évora e não banco ou terceira pessoa da santíssima trindade, busquei no sítio do blogue as reacções que o meu último comentário transformado em poste* tinha conseguido reunir e gostei do que li.
Gostei dos que… gostaram e gostei, juro que não menos, dos que não gostaram.
Isto dito assim, pode parecer aquela história da nossa meninice “o Gustavo gostava da Gustava…”, mas acreditem camaradas que não o boto deste modo por brinquedo mas porque seriamente me preocupa muito mais a falta de ideias e de opiniões ou a descoragem (sic) de as colocar, do que o desacordo em si próprio como sinal humano das diferenças ou como prova de que a verdade não será nunca universal, não decorrendo daí mal ao mundo se todos soubermos dessa certeza e nos respeitarmos nas diferenças que aparentemente nos separam mas na verdade dão sentido, coesão e beleza ao mundo.
Sei que dirão alguns que passaram já tantos dias que não se justifica voltar eu à questão, correndo o risco de reabrir querelas e incómodos. Porque assim não creio e porque tenho o debate entre contrários mais por positivo do que por negativo, contrario tais opiniões e aqui estou.
Começo por assegurar que, a meu ver, do que disse então, não há razão para retirar nem uma vírgula, excepto se quisesse imitar estilo e forma de Saramago, coisa que não quero por não gostar de macaqueações e por claramente me sentir incapaz para tal exercício.
E que disse eu, então?
Primeiro, “que não entrava em comentários acerca de torturas e assassinatos praticados por gente do PAIGC a conterrâneos seus que lutaram do nosso lado, alguns mesmo, a quem nunca chamarei heróis porque o que os animava era mais uma sanha guerreira e algumas vezes mesmo ferozmente assassina, do que esse tal amor a uma bandeira que não poderiam sentir enquanto símbolo de centenas de anos de história de um povo que conheciam apenas nas relações coloniais”.
Disse em segundo que “Sempre achei que o seu engajamento nas nossas fileiras se deveu mais a acidentes na sequência das relações de origem tribal ou mesmo pessoal entre os protagonistas dos acontecimentos, do que a devoções nacionalistas, e que alguns ficaram do outro lado obrigados ou por acidente e outros do nosso lado por conveniências de momento".
Em terceiro lugar disse que “não eram melhores uns que os outros, como seres humanos, senão na diferença de carácter que nos distingue a todos, havendo gente boa e má dos dois lados, se quisermos reduzir o conceito de bom e de mau a esta nota simplificada".
Vejamos uma a uma estas três afirmações para tentarmos descobrir nelas a marca que o António Graça Abreu parece detectar que em sua opinião há-de ser na pele da alma como essas tatuagens mandadas colocar pelos nossos soldados na pele do corpo garantindo amor de mãe ou eterno amor à Maria que, em alguns casos casou com outro Manel.
Primeiro! É ou não verdade que esses heróis negros de caçadores especiais se transformaram em verdadeiras máquinas de matar, neste caso a gente da sua terra, gente que provavelmente teria sido de seu convívio, vizinho ou mesmo amigo?
Segundo! É ou não verdade que uma boa parte dos combatentes do PAIGC ficaram daquele lado por acidente como, por acidente poderiam ter ficado do nosso, e que do nosso lado ficaram outros que pelos mesmos acidentes poderiam ter ficado de lá? Obrigados também, muitos, forçados, “politizados” à força, como aliás a maioria dos brancos que daqui saíram contrariados e apenas porque não puderam escapar, igualmente doutrinados nesta ideia de Pátria multirracial e pluri-continental e na afirmação de que bandidos às ordens de potências estrangeiras nos que riam roubar parte da Pátria.
Terceiro! Bem, este terceiro nem me parece que careça de considerações de tão anti-polémico que é.
Sabemos das façanhas desses soldados negros de forças especiais e do jeito que deram aos nossos objectivos quando realizavam coisas que não éramos capazes de realizar, e frequentemente cantamos tais façanhas como exemplo de portuguesismo genuíno na senda dos nossos heróis antigos. Que entre eles havia gente muito boa, também, é uma verdade que conhecemos pessoalmente e que acolhemos com amizade, mas tais andorinhas não fazem a Primavera.
Sabemos dos outros de menor proeminência, soldados milícias integrado nas Companhias ou em grupos especiais, oficiais de segunda linha com autoridade sobre populações e que por isso haviam ganho galões e uns patacos.
Éramos amigos de tal gente que considerávamos companheiros nas andanças das matas e do combate de tal maneira que a um, Rei local, tenente de segunda linha, emprestei três contos que nunca mais vi.
Mas também sabemos que a nossa ocupação nunca foi pacífica e que nem as suas culturas passaram para a nossa nem a nossa passou para as deles.
A teoria que nos faz crer que aquela boa e sofrida gente era portuguesa como nós e que morria em defesa da sua Pátria, Portugal, não tem ponta por onde se pegue num quadro que temos da nação portuguesa, da sua fundação (também em revolta contra mandos indesejados), da sua evolução histórica, das suas lendas, da língua que se foi formando, dos costumes e da cultura, tudo forjado contra invasores frequentes, a poder de pulo e de ânimo, tornando consciência coesa e unida o que era diferente em cada região do território, dando espaço a um povo a que orgulhosamente pertencemos.
E sabemos que desse caldo civilizacional não fazem parte os costumes, as crenças, as línguas dos povos da Guiné, a esta hora ainda muito dificilmente capazes de chamar Pátria em todo o seu território a esse poder que sai de Bissau.
Disse ainda e volto a dizer que “Se há alguma coisa que diferencia portugueses dos restantes europeus é essa ausência de ódio e essa capacidade de dar as mãos sem grandes preconceitos, que atravessou o nosso processo colonial. Prova disso é que no fim, ao contrário do que aconteceu com outros, fomos capazes de manter respeito e amizade uns pelos outros e mesmo de deixar saudades.
No entanto, bom é que não exageremos ao ponto de concluir que somos santos e que não cometemos também algumas atrocidades.”
Mas falemos primeiro das que o Poder que se instalou em Bissau após Abril praticou sobre os seus próprios conterrâneos porque haviam ficado do nosso lado. Coisa hedionda, sem qualquer dúvida, impiedosa e assassina a um tempo, e absolutamente estúpida do ponto de vista político, na hora em que o novo País precisava mais de unidade, de concórdia, de lavar feridas e de criar condições para a construção de uma Pátria que abrigasse as diferenças no esforço colectivo para melhorar a vida das gentes, afinal, a única justificação para encetar e manter uma luta como aquela.
Mas mantenho o que disse no poste anterior “Não conheço maus tratos que o PAIGC tivesse infligido a militares portugueses embarcados em Lisboa para os combaterem, ao contrário, sem colocar em dúvida que tivesse havido algum caso fora do quadro dos prisioneiros em Conakri, o que tenho ouvido são relatos de respeito e de bom tratamento na situação precária em que eles próprios viviam.”
A referência ao triste caso dos oficiais chacinados numa alegada missão de paz, é uma excepção que pela sua causalidade e pela trama que os levou àquele lugar para um encontro com uma facção do PAIGC, já qualificada como caso especial de desconfiança pela Direcção Central da luta, dificilmente caberá como responsabilidade do próprio PAIGC, sendo mais própria de bando em rebeldia, descoberto e com necessidades de se “lavar” a fim de evitar julgamento que, como calculamos, haveria de ter consequências funestas.
De resto, é hoje muito claro que tal manobra não passou de mais uma louca aventura de Spínola, igual a tantas outras que acabaram por se voltar contra nós.
Portanto, meu caro António Graça Abreu, sabendo como sabes que gosto muito de ti, nessa figura humana que escreveu aquele Diário da Guiné; que traduz e nos dá a conhecer tantos poetas daquele País longínquo e ainda misterioso; que é capaz de escrever ele próprio uma poesia de rara sensibilidade e lirismo, plena de busca do mistério humano, irás desculpar-me a ingenuidade e a marca de que falas.
De facto, como gente, cresci na revolta contra poderosos e ladrões que agrilhoaram este nosso povo durante séculos ao atraso, à doença, à crença num destino de besta de carga espoliada da sua força criadora para alimentar poderes e luxos de uns poucos e o lado mais negro de uma igreja que haveria de ser de esperança. Nessa forma de pensar e de agir percorri os anos sem necessidades de máscaras, nem de fingimentos, aguentando as consequências e sempre no prejuízo próprio. Isso porém não obsta a que aceite diferenças e que as tente compreender, nem obsta a que alimente amizades fora deste meu quadro de pensar, às vezes mesmo maiores do que dentro desse quadro.
Já te ofereci a minha casa mais do que uma vez e repito-o aqui publicamente, sem medos nem preconceitos.
Em relação ao Cherno Baldé de quem gosto frequentemente no que escreve, creio que o que digo atrás lhe servirá e quanto ao resto lá saberá as linhas como que se coserá.
E tu, meu camarigo grande e maior de alma ao que sei e tenho visto. A ti, acho que nunca ofereci casa mas é como se o fizesse, amigo de Montemor, do fado, da forcadagem, do bem comer e beber, das gentes, e nisso tudo meu irmão.
A ti te direi que colocas o carro à frente dos bois. Quer dizer, achas que ganharíamos a guerra se não tivéssemos perdido a política, com isso subalternizando a política à guerra e esquecendo que primeiro vem a política e só depois a guerra; que a guerra, qualquer guerra, as que se ganham e as que se perdem, são sempre consequência de determinadas políticas.
Esta nossa, já a tínhamos perdido há muito, quando africanistas inteligentes perceberam o caminhar do mundo e a necessidade de alterar o rumo da nossa politica ultramarina. Nota que nem lhe chamo colonial porque acho que de colonialistas tínhamos muito pouco na autêntica noção de colonial.
Quando Salazar gritou “para África em força”, coisa com a qual concordo em absoluto em face do horror do Norte de Angola, era tarde para arrepiar e ganhar a guerra do diálogo, a única saída verdadeiramente vitoriosa para todos.
Nunca, em nenhum dos meus escritos eu disse que havíamos perdido a guerra na Guiné. Que era difícil, sabemos que era, como era também para o PAIGC. Mas aguentaríamos na capacidade de sofrimento que nos caracteriza e que nos deu força para cruzar os mares do mundo, até que o regime em Lisboa dissesse, como já dizia, não há mais meios.
Por outro lado, Joaquim, deixa que te faça um reparo àquela coisa dos livros editados contra o discurso directo. O discurso que aqui se faz, exactamente como nos livros (fora dos relatórios) nunca é o discurso directo e ainda menos o discurso directo de cada um no tempo e no espaço em que vivemos as dores do combate. Eu também lá andei e conheci-me a mim e aos meus camaradas do corredor de Guilege. Sei bem como eram e como reagiam e por isso prefiro calar-me quando nos almoços oiço bravatas. Grande respeito tenho por eles e não alimento preconceitos por quem teve medo.
Abraços
José Brás
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9149: (Ex)citações (161): Fomos capazes de manter respeito e amizade uns pelos outros e mesmo de deixar saudades (José Brás)
Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9178: (Ex)citações (165): Agora já não há contenda, embora às vezes me pareça que para alguns, ela, a contenda, ainda perdure (Francisco Godinho)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 18 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 – P9224: Memórias de Gabú (José Saúde) (18): A caminho do campo
1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Esta catarse de memórias de Gabu - Guiné 1973/74 - que ultimamente tenho dado à estampa no nosso blogue - Luís Graça & Camaradas da Guiné - foram, de facto, uma alavanca primordial para remexer com o meu passado e, logicamente, deparar-me com a minha comissão militar em solo guineense.
Reconheço, e julgo apresentar-se como verídico, que cada momento relatado ao longo das “MINHAS MEMÓRIAS DE GABU”, nos chama à nostalgia. Todos, em geral, nos revemos em situações partilhadas e constatadas no meio onde coabitámos, não obstante o local da Guiné onde prestamos serviço.
Aliás, a minha intenção foi, e é, partir para o além do conflito armado no terreno. Todos trouxemos outras recordações que jamais esqueceremos. E foi justamente nessa base de um oportuno auto-entendimento, que resolvi deixar escrito a minha (nossa) vivência naquele território, reconhecendo, contudo, que as narrações se enquadram em pleno com o nosso modo de vida como militares na Guiné.
Revejam, por exemplo, os quotidianos percursos das mulheres da tabanca a caminho do campo!
A caminho
do campo
Uma jornada de trabalho
Gabú, ao longe, ainda se vislumbrava. O caminho, de terra batida, era com frequência palmilhado pela população. As mulheres, normalmente descalças, caminhavam em direcção ao campo. Com a trouxa à cabeça lá iam elas para mais uma jornada de trabalho.
O seu labor encorajava-me. Sentia prazer na sua firme determinação. Recordo que a mulher assumia-se como alavanca do modesto lar. Da tabanca. Era ela que cavaca a terra com desusados apetrechos, que semeava e colhia o milho, a mancarra (amendoim), a mandioca e que procurava os meios de subsistência.
O homem, deitado numa esteira descansava e… dormia. Esperava, quiçá, que o mango caísse de maduro que ir ao cimo da árvore colher a respectiva fruta já pronta a comer.
Comecei então a perceber que a mulher, com os seios de fora e um simples pano que prendiam à cintura e calçando um velho par de chinelos, às vezes, assumia-se como a matriarca do clã familiar.
Era comum vê-las no campo. Os estreitos trilhos do mato eram-lhes familiares. Algumas vezes me interroguei se a sua leveza no andar em veredas apertadas não se tornava perigoso? Uma mina anti-pessoal poder-lhes-ia ser fatal. Diziam-me que não. Voltava a interrogar-me: Porquê? Elas lá saberiam a razão que as movia.
Em Gabu existia um campo de minas que servia de protecção ao Quartel. As minas estavam colocadas em pontos estratégicos entre dois arames farpados. Não tive conhecimento de nenhum acidente pessoal. Uma vez entrou uma vaca para aquele espaço proibido, resultado: rebentou uma mina e a vaca, logicamente, morreu.
A população tinha conhecimento do perigo que aquele espaço reservado detinha e recusava, naturalmente, uma aproximação ao campo de minas.
Aquele êxodo constante das mulheres tinha, também, outros contornos: o caminhar para a bolanha. No tempo do arroz eram elas que assumiam o trabalho.
Numa análise feita à mulher guineense, estou convicto, e assumo, que o seu labor e entrega a uma sociedade que conhece no seu contexto um multifacetado número de etnias é e será sempre sobejamente reconhecida.
Esta é a minha singela opinião!
Mulheres na sua deslocação para o
campo
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
9 DE DEZEMBRO DE 2011 > Guiné 63/74 – P9171: Memórias de Gabú (José Saúde) (17): Um povo de costumes
Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)
1. Com votos, telegráficos, mas quentes, do nosso alfero, enviados a 16:
" Amigos! Bom Natal! Abraços. Jorge Cabral"...
2. Comentário de L.G.:
Tomei a liberdade de transformar esta mensagem natalícia em mais uma estória cabraliana que, como sempre, nos emociona, nos faz sorrir e/ou nos põe a pensar... Que raio de sítio, Missirá, a última tabanca do Cuor, para se pensar o Natal de 1970, meu irmão!... De qualquer modo, que as rabanadas, as filhós, o arroz doce e a aletria de Missirá de 1970 não te faltem à mesa da consoada da Lisboa de 2011!... Quentes e boas!... Um xicoração. Luís.
3. Estórias cabralianas > Onde mora o Natal? (*)
por Jorge Cabral
Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada, os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais.
Dizia um:
– Na minha terra…
E acrescentava outro:
– A minha Mãe fazia…
E a mesa por encanto encheu-se. Rabanadas, filhós, arroz doce, aletria... Juro que vi e até saboreei.
Eis quando o Sitafá interrogou:
– Onde mora o Natal?
Ninguém lhe respondeu... mas eu ainda vou a tempo:
– Está cá dentro, se calhar é um neurónio. E sabes, Sitafá, neurónios, já perdi muitos, mas não quero perder este. Porque Natal, Natal, só existe quando mora no mais fundo de nós.
Jorge Cabral
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 4 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8992: Estórias cabralianas (68): Zina, a bordadeira do Pilão (Jorge Cabral)
(...) Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado. (...)
" Amigos! Bom Natal! Abraços. Jorge Cabral"...
2. Comentário de L.G.:
Tomei a liberdade de transformar esta mensagem natalícia em mais uma estória cabraliana que, como sempre, nos emociona, nos faz sorrir e/ou nos põe a pensar... Que raio de sítio, Missirá, a última tabanca do Cuor, para se pensar o Natal de 1970, meu irmão!... De qualquer modo, que as rabanadas, as filhós, o arroz doce e a aletria de Missirá de 1970 não te faltem à mesa da consoada da Lisboa de 2011!... Quentes e boas!... Um xicoração. Luís.
3. Estórias cabralianas > Onde mora o Natal? (*)
por Jorge Cabral
Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada, os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais.
Dizia um:
– Na minha terra…
E acrescentava outro:
– A minha Mãe fazia…
E a mesa por encanto encheu-se. Rabanadas, filhós, arroz doce, aletria... Juro que vi e até saboreei.
Eis quando o Sitafá interrogou:
– Onde mora o Natal?
Ninguém lhe respondeu... mas eu ainda vou a tempo:
– Está cá dentro, se calhar é um neurónio. E sabes, Sitafá, neurónios, já perdi muitos, mas não quero perder este. Porque Natal, Natal, só existe quando mora no mais fundo de nós.
Jorge Cabral
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 4 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8992: Estórias cabralianas (68): Zina, a bordadeira do Pilão (Jorge Cabral)
(...) Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado. (...)
Guiné 63/74 - P9222: Agenda cultural (180): O filme Quem Vai à Guerra, de Marta Pessoa (Portugal, 2011), à venda, em DVD, neste Natal
Quem vai à guerra, um filme de Marta Pessoa, produzido pela Real Ficção (Portugal, 2011). Edição em DVD. Disponível nas lojas FNAC de todo o país. Preço: c. 15 €
Foto: Facebook > Quem Vai à Guerra (com a devida vénia...)
Sobre este filme (documental) se disse, por exemplo, na revista Visão, de 15 de Junho de 2011, em artigo assinado por Manuel Halpern, o seguinte:
(...) "Marta Pessoa, a autora de 'Lisboa Domiciliária', faz agora um trabalho de fundo sobre o papel das mulheres durante a Guerra Colonial, que ironicamente se chama 'Quem vai à Guerra', como que deixando claro que ao lado da guerra que quem combate no campo, há uma outra tendencialmente silenciosas, mas também sofrida. Marta Pessoa dá voz a estas mulheres, edificando o seu papel sofrido e as mazelas sobretudo psicológicas. E faz isto cercando o tema, metodologicamente, como que dividindo os exemplos por grupos, socorrendo-se sobretudo de depoimentos, fotografias e das raras filmagens da época
"Assim, o primeiro ponto são as mulheres que realmente ficaram na metrópole... As mães e as namoradas que viram os seus homens partir, numa despedida de lenços brancos que se acenava até ao fio do horizonte... a elas restava esperar, nada mais do que esperar, às vezes até nunca. Em paralelo, as mulheres que foram, que ficaram nos postos de retaguarda, nas cidades e vilas de África, para estarem mais próximas dos seus maridos. E que sofreram uma mudança radical de vida. Uma compara a experiência na Guiné com uma prisão, uma pena que se tem de cumprir com sacrifício.
"Depois há as madrinhas de guerra, aquelas que se correspondiam com soldados, para lhes dar ânimo, num esforço diário. E também as enfermeiras paraquedistas que, por si só, mereciam um documentário à parte, que arriscaram a vida em cenário de guerra, entre homens, no tempo de brandos e bons costumes, em que a sua missão nem sempre era moralmente bem vista". (...)
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Sobre este filme (documental) se disse, por exemplo, na revista Visão, de 15 de Junho de 2011, em artigo assinado por Manuel Halpern, o seguinte:
(...) "Marta Pessoa, a autora de 'Lisboa Domiciliária', faz agora um trabalho de fundo sobre o papel das mulheres durante a Guerra Colonial, que ironicamente se chama 'Quem vai à Guerra', como que deixando claro que ao lado da guerra que quem combate no campo, há uma outra tendencialmente silenciosas, mas também sofrida. Marta Pessoa dá voz a estas mulheres, edificando o seu papel sofrido e as mazelas sobretudo psicológicas. E faz isto cercando o tema, metodologicamente, como que dividindo os exemplos por grupos, socorrendo-se sobretudo de depoimentos, fotografias e das raras filmagens da época
"Assim, o primeiro ponto são as mulheres que realmente ficaram na metrópole... As mães e as namoradas que viram os seus homens partir, numa despedida de lenços brancos que se acenava até ao fio do horizonte... a elas restava esperar, nada mais do que esperar, às vezes até nunca. Em paralelo, as mulheres que foram, que ficaram nos postos de retaguarda, nas cidades e vilas de África, para estarem mais próximas dos seus maridos. E que sofreram uma mudança radical de vida. Uma compara a experiência na Guiné com uma prisão, uma pena que se tem de cumprir com sacrifício.
"Depois há as madrinhas de guerra, aquelas que se correspondiam com soldados, para lhes dar ânimo, num esforço diário. E também as enfermeiras paraquedistas que, por si só, mereciam um documentário à parte, que arriscaram a vida em cenário de guerra, entre homens, no tempo de brandos e bons costumes, em que a sua missão nem sempre era moralmente bem vista". (...)
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Nota do editor:
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9221: Agenda cultural (179): Descerramento de placa toponímica em Ponta Delgada, em homenagem aos combatentes caídos em campanha, dia 19 de Dezembro pelas 16 horas (Carlos Cordeiro)
Último poste da série > 17 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9221: Agenda cultural (179): Descerramento de placa toponímica em Ponta Delgada, em homenagem aos combatentes caídos em campanha, dia 19 de Dezembro pelas 16 horas (Carlos Cordeiro)
sábado, 17 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9221: Agenda cultural (179): Descerramento de placa toponímica em Ponta Delgada, em homenagem aos combatentes caídos em campanha, dia 19 de Dezembro pelas 16 horas (Carlos Cordeiro)
1. O nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), Professor na Universidade dos Açores, enviou-nos para publicação e conhecimento um Convite da Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada dando notícia do descerramento de três placas toponímicas, no próximo dia 19 de Dezembro, sendo que uma delas, que devia servir de exemplo para muitos dos Municípios do Continente, é uma homenagem aos Combatentes do Ultramar, daquela cidade, mortos em campanha.
Apraz-nos registar esta homenagem, de que damos notícia com o maior orgulho, tanto mais que o nosso camarada Carlos Cordeiro vai usar da palavra durante o acto.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9208: Agenda cultural (178): Convite para o lançamento do livro Tempos Sem Remissão, de Diamantino Gertrudes da Silva, dia 17 de Dezembro de 2011, pelas 15h30, no Auditório da Escola Superior de Viseu (Rui Alexandrino Ferreira)
Apraz-nos registar esta homenagem, de que damos notícia com o maior orgulho, tanto mais que o nosso camarada Carlos Cordeiro vai usar da palavra durante o acto.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9208: Agenda cultural (178): Convite para o lançamento do livro Tempos Sem Remissão, de Diamantino Gertrudes da Silva, dia 17 de Dezembro de 2011, pelas 15h30, no Auditório da Escola Superior de Viseu (Rui Alexandrino Ferreira)
Guiné 63/74 - P9220: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (3): Mensagens dos nossos camaradas Giselda e Miguel Pessoa, Sousa de Castro, José M. Matos Dinis e José Martins
MENSAGENS DE NATAL DOS NOSSOS CAMARADAS
1. Dos nossos "estrelados" camaradas Giselda Pessoa, ex-2.º Sarg. Enfermeira Paraquedista, Guiné, 1972/74, e Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, Guiné, 1972/74, hoje Coronel Ref:
Caros editores, e permitam-me também, caros conselheiros
Aqui vão os nossos votos de Festas Felizes e muito ânimo e imaginação para superar a crise.
Com amizade
Giselda e Miguel Pessoa
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2. De Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74:
Camarigos,
Envio em anexo meu postal de Boas Festas/Natal 2011 e também a indicação do nosso próximo convívio que irá ser organizado em Ponte de Sôr, pelo ex-Fur. Mil. António Espadinha Carda.
Um abraço
Sousa de Castro
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3. De José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:
Que o Natal seja todos os dias, e os amigos também.
JD
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4. Do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9212: O nosso sapatinho de Natal: Põe aqui o teu pezinho, devagar, devagarinho... (2): Mensagens dos nossos camaradas
Guiné 63/74 - P9219: Efemérides (82): A invasão da Índia Portuguesa em 18 de Dezembro de 1961 (José Martins)
1. Em mensagem do dia 11 de Dezembro de 2011, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos este brilhante trabalho de pesquisa sobre a invasão da Índia Portuguesa em Dezembro de 1961, há precisamente 50 anos:
A QUEDA DA ÍNDIA
18 de Dezembro de 1961
Há quem atribua a queda da Índia, como marca do início da queda do Império Português. Mas, não. Tal não é verdade.
Em 22 de Agosto de 1415, com a expedição portuguesa e a consequente conquista de Ceuta, dá-se inicio expansão de Portugal rumo ao desconhecido, mas foram necessárias mais de quatro décadas, para que Ceuta consolidasse a sua posição, após a tomada em 1458 da praça de Alcácer Seguer e em 1471 de Arzila e Tânger.
Quando a Índia caiu, Alcácer Seguer, Arzila e Tanger já não faziam parte do Império, assim como o Brasil, que foi descoberto e anexado à Coroa Portuguesa depois da Índia. Também não podemos esquecer que muitas “possessões” que Portugal detinha, ao longo das costas de África e na Ásia, se foram esfumando, umas atrás das outras, independentemente do seu tamanho e/ou importância.
A “perda” de possessões nem sempre se ficou devendo à “sorte das armas”. Por exemplo, na Índia, Bombaim foi cedida ao Reino Unido, em 1661, incluída no dote de D. Catarina de Bragança, na altura do seu casamento com Carlos II de Inglaterra.
Voltemos à Índia, onde a maioria dos Portugueses nunca estiveram. Melhor, voltemos ao princípio da descoberta do caminho marítimo para a Índia, ao Século XV, que quer dizer ao meio da história deste nosso país.
Coube ao Almirante-Mor Vasco da Gama (n. Sines entre 1460 e 1469 † Cochim em 1524), filho ilegítimo de Estêvão da Gama, Cavaleiro da Casa de D. Fernando de Portugal, Duque de Viseu e Alcaide-Mor de Sines, casado com Dona Isabel Sodré, filha de João Sodré (também conhecido como João de Resende), que era de ascendência inglesa e tinha ligações à Casa do Príncipe Diogo, Duque de Viseu e Governador da Ordem Militar de Cristo.
A viagem, para a Índia começa no dia 8 de Julho de 1497 com a saída da barra do Tejo da frota constituída pelas embarcações São Gabriel, São Rafael, Bérrio e São Miguel, com cerca de cento e setenta homens a bordo entre soldados, marinheiros e religiosos.
O objectivo, a Índia, é atingido em 20 de Maio do ano seguinte, tendo Vasco da Gama que enfrentar a hostilidade do Samorim de Calecut. De regresso, a Armada atinge Lisboa, em fins de Agosto de 1499, tendo sido recebida em triunfo. Vasco da Gama realiza ainda mais duas viagens à Índia, sendo a última já com o título de Conde da Vidigueira e na qualidade de Vice-Rei, acabando por falecer em Cochim a 25 de Dezembro de 1524.
O Estado Português da Índia, Estado da Índia ou simplesmente Índia Portuguesa, foi um governo com a função de administrar todas as possessões portuguesas localizadas na zona do Oceano Indico, desde a África Oriental até à Ásia, que viu reduzida a sua área de governo em 1752 com a atribuição de governo próprio a Moçambique, situação que se verificou em relação a Macau, Solor e Timor em 1884, ficando, assim, restringido aos territórios de Goa, Damão, Diu, Ilha de Angediva, Dadrá, Nagar-Haveli, Simbor e Gogolá.
Com a independência obtida, da Coroa Britânica, em 15 de Agosto de 1947, a União Indiana, começou a reivindicar a posse dos territórios portugueses na zona, que foram sendo absorvidos pouco a pouco, até que, com a constituição de uma republica parlamentar, o Primeiro Ministro Pandit Jawaharlal Nehru recupera a declaração feita por Mahatma Gandhi [Mohandas Karamchand Gandhi (n. em Porbandar em 2 de Outubro de 1869 † Nova Déli em 30 de Janeiro de 1948), mais conhecido popularmente por Mahatma Gandhi (do sânscrito "Mahatma", "A Grande Alma") foi o idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da não-agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução (in Wikipédia)], de que “Goa não podia ficar separada”, pelo que resolve reivindicar, formalmente, a abertura de negociações com Portugal, tendente à anexação dos territórios na Índia.
Com o Império Português “em ordem”, depois das “escaramuças” havidas em África, aquando da dobragem do século XIX para o século XX, apesar de se ter prolongado muito para além do regresso das tropas que estiveram em França, e mesmo depois do regresso dos expedicionários aos Açores e Cabo Verde, durante a 2.ª Guerra Mundial, só a Índia, a Jóia da Coroa (mesmo na República), estava a causar alguma perturbação.
Durante o período que este antecede, também na Índia houve situações que, dado os acontecimentos que ocorreram no país, desde a Conferência de Berlim até ao final da Grande Guerra, ao territórios da Índia tiveram de fazer face a uma rebelião dos soldados marathas do Batalhão de Infantaria da Índia. Esta rebelião teve origem na ordem de deslocação, para Moçambique, de duas Companhias. Desenvolveram-se, então, as operações militares em Satary, entre 1895 e 1897.
Para conter esta insurreição, foi enviado à Índia um Corpo Expedicionário do Reino, ainda estávamos no regime monárquico, sob o comando de Sua Alteza real o Senhor D. Afonso, Duque do Porto. Constituíam este corpo expedicionário, as seguintes forças: Comando e Estado-maior (1 oficial e 6 praças); uma Secção de Artilharia de Montanha (1 oficial e 40 praças); uma Companhia de Cavalaria 3 (4 oficiais e 70 praças); duas Companhias de Infantaria 3 (11 oficiais e 444 praças); Serviço de Saúde (4 praças); Serviços Administrativos (1 oficial e 3 praças); num total de 22 oficiais e 567 praças. Convém lembrar que, à época, os sargentos eram considerados praças. Também faziam parte do corpo expedicionário, um contingente de marinheiros do cruzador “Vasco da Gama”, não quantificados na fonte consultado.
Na sequência das perturbações havidas, houve novas Operações de Polícia em 1901 e 1902, dirigidas pelo Governador-geral da Índia Coronel Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo.
Em 1912 foram efectuadas novas operações em Satary, sendo necessário recorrer ao reforço da guarnição da Índia, pelo envio de três Companhias de Moçambique.
Só uma preocupação se colocava ao poder de então, no início dos anos 50 do século passado: Guarnecer os territórios naquele estado com o maior número possível de militares.
Sem negociações, a União Indiana acaba por anexar os territórios de Dadrá e Nagar-Haveli e impede o reforço daqueles territórios, mas Portugal envia mais tropas para a Índia, tendo chegado a cerca de 12.000 homens e três navios de guerra.
No inicio de 1961, o Coronel Francisco da Costa Gomes, na sua qualidade de Subsecretário de Estado do Exército (56.º Ministério, cargo que ocupou de 14 de Agosto de 1958 a 13 de Abril de 1961), sugeriu a redução dos efectivos naquelas paragens para cerca de 3.500 homens, em virtude de se ter constatado que aquele território seria indefensável, perante uma, mais que provável, invasão. Esses efectivos foram deslocados para África, onde se tinham iniciados os conflitos que se prolongariam por cerca de treze anos, e que se propagou a três frentes de combate.
Com uma guarnição de pequena dimensão, mal armada e pouco municiada, dá inicio a alguns combates esporádicos, com forças da União Indiana, em 17 de Dezembro de 1961. Porém, no dia 18, uma força de cerca de 45.000 homens, mantendo na retaguarda como reserva cerca de mais 25.000, dá inicio à invasão simultânea dos três territórios ainda em poder efectivo de Portugal.
Socorro-me, agora, dum trabalho que venho efectuando ao longo dos últimos anos, talvez 10, que intitulei, genericamente de “AD UNUM”, que significa “ATÉ AO ÚLTIMO” e é o lema da Escola Prática de Infantaria, a Casa-Mãe daquela Arma:
17 de Novembro de 1961 – Num incidente na ilha de Angediva, ao sul de Goa, a guarnição abre fogo sobre o navio de passageiros “Sabamati”, sendo transformado no pretexto para uma intervenção militar tendente a libertar os territórios pela força.
12 de Dezembro de 1961 – Na Índia, dá-se a evacuação das mulheres e crianças. A operação é desaconselhada por Lisboa, por contrária ao interesse nacional, mas o General Vassalo e Silva, governador do Estado Português da Índia, não abdica de pôr a salvo os familiares dos seus homens. Com capacidade para cento e cinco passageiros, o navio Índia larga de Mormugão com seiscentos e cinquenta.
14 de Dezembro de 1961 – Na Índia é decretado o estado de emergência, ao mesmo tempo que é recebida a mensagem rádio, enviada pelo Dr. Oliveira Salazar, presidente do Conselho e Ministro da Defesa: “Recomendo e espero a sacrifício total, única forma de nos mantermos à altura das nossa tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidades de tréguas, nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos".
17 de Dezembro de 1961 – Os territórios de Goa, Damão e Diu são cercados por efectivos das forças armadas da União Indiana, num total de quarenta e cinco mil homens e mais vinte e cinco mil de reserva, utilizando carros de combate do último modelo, artilharia, tropas aerotransportadas, unidades anfíbias, engenharia, aviação moderna. Do lado português cerca de três mil e quinhentos militares deficientemente armados e municiados – há quem não tivesse melhor que uma espingarda Kropatcheq, anterior à Primeira Guerra Mundial, espingardas Lee-Enfield, britânicas, modelo de 1917 e metralhadoras ligeiras Lewis -, sem blindados e sem armas anticarro, sem aviação e praticamente sem artilharia.
17 de Dezembro de 1961 – Ao principio da noite aterra no aeroporto de Dabolim um avião da TAP, vindo de Carachi. Prevê-se que traga uma encomenda urgente das desejadas granadas “Instalaza”, destinadas a reforçar a depauperada artilharia anticarro. Os caixotes são abertos com ansiedade, mas ninguém quer acreditar no que vê: em vez de granadas, chouriços, enviados por Lisboa no âmbito da campanha do “Natal do Soldado”.
18 de Dezembro de 1961 – Invasão, pela União Indiana, do Estado Português da Índia. Mal armados e em número reduzido, cerca de três mil e quinhentos efectivos, perante as forças indianas invasoras, cerca de cinquenta mil militares do exército, marinha e força aérea, resistir significava uma cruel e inútil auto-imolação para os efectivos militares portugueses.
19 de Dezembro de 1961 – O contingente português acabou por se render, tendo o governador, general Vassalo e Silva, ordenado a “suspensão de fogo” às suas tropas. Mais de três mil militares portugueses foram feitos prisioneiros, entre eles o próprio Comandante. O Presidente do Conselho, Dr. Oliveira Salazar que queria “Só soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”, puniu e perseguiu alguns dos oficiais em serviço na Índia, o que abriu dolorosa ferida nas Forças Armadas Portuguesas e foi uma das raízes do derrube do regime Salazar, doze anos depois da queda de Goa, Damão e Diu.
19 de Dezembro de 1961 - Foram feitos prisioneiros em Goa (3412), Damão (853) e Diu (403), entre civis e militares, metropolitanos, africanos e indianos. Os 4668 prisioneiros foram enviados para os campos de concentração de Goa localizados em Nevelim, Praça da Aguada, Pondá e Alparceiros.
20 de Dezembro de 1961 – O General Chaudhury, das Forças Armadas Indianas, dirige-se ao campo de Alparqueiros, para uma visita ao já ex-Governador, no seu quarto-cela. O General Vassalo e Silva quis levantar-se para cumprimentar o indiano, mas este, pousando-lhe a mão no ombro, não deixou, puxando de seguida uma cadeira, sentou-se. O General português recusa a oferta de tratamento preferencial enquanto o indiano louva os militares portugueses, pelo seu comportamento nos combates travados em Mapuçá, Bicolim, Damão e Diu. O general indiano, no final, apertou a mão ao general português, colocando-se à disposição do vencido para o que fosse necessário.
27 de Dezembro de 1961 – Jawahalal Nehru, primeiro ministro indiano, manifesta-se contra os ataques internacionais de que foi alvo por ter invadido os territórios portugueses de Goa, Damão e Diu.
3 de Janeiro de 1962 – Estabelecimento, em Lisboa, de um governo do Estado da Índia.
12 de Janeiro de 1962 – O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Franco Nogueira, entrega ao Presidente do Conselho de Ministros, Dr. Oliveira Salazar, um documento intitulado “Notas sobre a Política Externa Portuguesa”. Neste documento, de dezoito páginas, era preconizada a entrega de Macau à China e Timor à Indonésia, enquanto à Guiné e São Tomé e Príncipe seria dada a autonomia e independência. Os territórios de Angola, Moçambique e Cabo Verde seriam mantidos como colónias essenciais.
27 de Janeiro de 1962 – Acordo entre Portugal e a União Indiana para o repatriamento de mais de três mil prisioneiros.
Maio de 1962 – Começa a repatriação dos prisioneiros, com o estabelecimento de uma ponte aérea até Carachi no Paquistão, sendo, a partir daí, a viagem efectuada por mar nos navios enviados pelo Governo de Lisboa:
• Vera Cruz – Sai no dia 8 e chega a Lisboa a 22, com 2968 pessoas a bordo;
• Pátria - Sai no dia 12 e chega a Lisboa a 26, com 1265 pessoas a bordo;
• Moçambique - Sai no dia 15 e chega a Lisboa a 30, com 1382 pessoas a bordo. Foram transportadas mais de 5600 pessoas, entre militares e civis.
Quando chegam a Lisboa os navios que transportam os ex-prisioneiros de guerra da Índia, os militares repatriados só saíram a coberto da noite, debaixo de forte dispositivo de segurança militar, sendo esta atitude justificada “pela necessidade de os proteger da população, que os queria linchar pela cobardia demonstrada”.
No cais apenas alguns familiares e amigos dos regressados.
Em memória dos camaradas de armas tombados em nome de Portugal, deixamos o registo dos seus nomes, para que a História e os Homens, os não esqueçam, e não se tornem em SOLDADOS ESQUECIDOS:
Militares tombados em Defesa da Índia Portuguesa
Abel Araújo Bastos – Soldado
Abel dos Santos Rito Ribeiro – Alferes Miliciano de Infantaria
Alberto Santiago de Carvalho – Tenente Infantaria
Aníbal dos Santos Fernandes Jardino – Marinheiro
António Baptista Xavier - 1.º Cabo
António Crispim de Oliveira Godinho - 1.º Cabo
António Duarte Santa Rita - 1.º Sargento da Armada
António Fernando Ferreira da Silva - 1.º Cabo
António Ferreira – Marinheiro
António José Abreu Abrantes – Alferes Miliciano Infantaria
António Lopes Gonçalves Pereira – Alferes Miliciano Engenharia
Cândido Tavares Dias da Silva - 1.º Cabo
Damuno Vassu Canencar – Soldado
Fernando José das Neves Moura Costa - Soldado
Jacinto João Guerreiro – Soldado
João Paulo de Noronha - Guarda 2.ª classe
Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo - 2º Tenente Armada
José A. Ramiro da Fonseca - Furriel Miliciano
José Manuel Rosário da Piedade - 1.º Grumete Armada
Joviano Fonseca - Guarda-Auxiliar
Lino Gonçalves Fernandes - 1.º Cabo
Manuel Sardinha Mexia – Soldado
Mário Bernardino dos Santos – Soldado
Paulo Pedro do Rosário - Guarda Rural
Tiburcio Machado - Guarda-Rural
OBS: Esta lista pode estar incompleta
Os Soldados da Índia só foram “reabilitados” do ostracismo a que foram votados, após o 25 de Abril. Todos os prisioneiros de guerra, foram condecorados com a Medalha de Reconhecimento (*) em 03 de Maio de 2003, pelo então Ministro de Estado e da Defesa Nacional Dr. Paulo Portas.
Odivelas, 10 de Dezembro de 2011
José Marcelino Martins
(*) Sobre a Medalha de reconhecimento, criada em 27 de Dezembro de 2002, pode ver-se a descrição da mesma no Poste de Sexta-Feira, 30 de Outubro de 2009, Guiné 63/74 - P5184: Controvérsias (40): Carta Aberta ao Senhor Ministro da Defesa Nacional (José Martins)
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Notas de CV:
Vd. também Dossier Goa 1961 em Super Goa
Vd. último poste de José Martins de 14 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9200: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (5) (José Martins)
Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9218: Efemérides (60): Como os acontecimentos de Goa, Damão e Diu foram vividos em Luanda (Antº Rosinha)
Guiné 63/74 - P9218: Efemérides (81): Como os acontecimentos de Goa, Damão e Diu foram vividos em Luanda (Antº Rosinha)
1. Comentário do nosso camarada António Rosinha (que, em 1961, era Fur Mil do Exército Português em Angola), ao poste P 9202 (*)
Torcato, a 19 de Dezembro de 1961, estavam praticamente todas as unidades de mãos sobre a cabeça. E só a 18 tinham começado os aviões a ameaçar a sério.
Falam ex-furrieis milicianos, participantes, de 73 anos de idade, hoje.
Cumprimentos
Antº Rosinha
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão por tropas indianas dos territórios de Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro de 1961
Torcato, a 19 de Dezembro de 1961, estavam praticamente todas as unidades de mãos sobre a cabeça. E só a 18 tinham começado os aviões a ameaçar a sério.
Falam ex-furrieis milicianos, participantes, de 73 anos de idade, hoje.
Pouco depois dessa data, em Luanda batiam-se palmas a discursos inflamados, aplaudindo a resistência dos nossos heróis de Goa (, de mãos na cabeça, ) e fazia-se recolha pública de dinheiro para aquisição de um porta-aviões para substituir o Afonso de Albuquerque que os indianos tinham afundado.
Do meu salário de furriel foi-me descontada uma quantia, que não me lembro de quanto, mas voluntariamente, tás-a-ver!
Salazar mentiu e mandou mentir com todos os dentes, e conscientemente pouca gente de nós engolia todas as petas do Botas. Antes pelo contrário, mesmo quando dissesse algumas verdadeiras, já se ficava de pé atrás. Mas a história um dia virá dizer se eram mentiras necessárias para resistir ao que se sabia que aí vinha, e foram mentiras oportunas, ou antes pelo contrário.
Uma coisa é certa, poucos alferes milicianos e furrieis milicianos se propuseram a escrever como tu, Torcato, fizeste com a tua guerra. E isso era preciso, para ajudar a compreendermos melhor, como fomos nós, a nossa geração, no seu todo.
Ficou pelo caminho Goa e São João Batista de Ajudá (**) e o Mapa-Cor-de-Rosa. (***)
Cumprimentos
Antº Rosinha
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão por tropas indianas dos territórios de Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro de 1961
(**) Hoje Museu de História de Ouidah, República do Benin
Fernando Ribeiro, no seu blogue, A Matéria do Tempo, escreveu em 10 de Janeiro de 2007 o seguinte sobre o Forte de São João Baptista de Ajudá (Ouidah):
(...) "Este é o Forte de São João Baptista de Ajudá, situado em Ouidah, na República do Benim, que foi erguido no séc. XVIII para servir de entreposto e de protecção militar ao tráfico português de escravos para o continente americano e Caraíbas.
" Esteve na posse de Portugal até depois da independência do Daomé (como a República do Benim se chamava então), tendo sido abandonado e incendiado por ordem de Salazar em 1961, ano em que o Daomé decidiu ocupá-lo. Foi recuperado das cinzas ainda na década de 60 e nos anos 80 foi objecto de novas obras de restauro, as quais foram pagas pelo Estado português.
"O forte é agora um Museu de História daquela região de África, de onde foram tantos os escravos que dela partiram que ela era chamada Costa dos Escravos. O sítio do museu na Internet merece uma visita, ainda que só esteja em francês e em inglês. É pena que não esteja também em português, pois as raízes de milhões de afro-brasileiros estão naquela parte do mundo, donde os seus antepassados saíram em condições ultrajantes". (...)
Na Wikipédia, atribui-se à Fundação Calouste Gulkenkian a obra de recuperação do forte, que ocupa(va) um espaço de 2 ha: (...) "A anexação (em 1 de Agosto de 1961) foi reconhecida por Portugal em 1985, tendo os trabalhos de recuperação e restauro sido desenvolvidos em 1987, com orientação e recursos da Fundação Calouste Gulbenkian" (...).
(***) Último poste da série > 15 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9217: Efemérides (59): O Gen Carlos de Azeredo recorda, em entrevista à TSF, a invasão de Goa (que faz hoje 50 anos)
Guiné 63/74 - P9217: Efemérides (80): O Gen Carlos de Azeredo recorda, em entrevista à TSF, a invasão de Goa (que faz hoje 50 anos)
1. Em entrevista à TSF, conduzida ontem pelo jornalista Rui Tukayana, o Gen Cav Ref Carlos Azeredo, de 81 anos, nascido em Marco de Canaveses, lembra que "em Goa ninguém queria acreditar na invasão indiana". Ouvir aqui o registo áudio (duração: 11' 24'').
Recorde-se que Carlos de Azeredo cumpriu cinco comissões no Ultramar, duas no antigo Estado Português da Índia – onde foi prisioneiro de guerra das tropas indianas - uma em Angola (Cabinda) e duas na Guiné.
(...) "Na véspera do 50.º aniversário do avanço da união indiana sobre os antigos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu, o general Carlos Azeredo, na altura comandante da polícia em Goa, recorda, em declarações à TSF, o princípio do fim do império.
"O general lembrou a forma rápida como as tropas inimigas invadiram o território, o desequilíbrio na balança de forças, a rendição em lágrimas do ultimo governador do território a e intransigência de Salazar.
"Carlos Azeredo contou ainda que em Goa ninguém queria acreditar na invasão, mas os preparativos indianos eram evidentes para todos" (Fonte: TSF 'on line').
2. Sobre este militar português, ver ainda a seguinte entrada da Wikipédia:
(...) Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme, GCC, ( Várzea da Ovelha e Aliviada, Marco de Canaveses, 4 de Outubro de 1930 – ) é um general do Exército Português. Monárquico, participou activamente no 25 de Abril de 1974.
Foi Comandante da Região Militar do Norte e Chefe da Casa Militar do Presidente Mário Soares. Foi candidato à Presidência da Câmara Municipal do Porto nas eleições autárquicas de 1997 à frente de uma coligação entre o PSD e o CDS-PP, tendo sido derrotado por Fernando Gomes. Em 1996 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Editou um livro sobre a sua vida "Trabalhos e Dias De Um Soldado Do Império". (...) [Lisboa: Livraria Civilização Editora, 2004, 496 pp. 7 €]
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão por tropas indianas dos territórios de Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro de 1961
Recorde-se que Carlos de Azeredo cumpriu cinco comissões no Ultramar, duas no antigo Estado Português da Índia – onde foi prisioneiro de guerra das tropas indianas - uma em Angola (Cabinda) e duas na Guiné.
(...) "Na véspera do 50.º aniversário do avanço da união indiana sobre os antigos territórios portugueses de Goa, Damão e Diu, o general Carlos Azeredo, na altura comandante da polícia em Goa, recorda, em declarações à TSF, o princípio do fim do império.
"O general lembrou a forma rápida como as tropas inimigas invadiram o território, o desequilíbrio na balança de forças, a rendição em lágrimas do ultimo governador do território a e intransigência de Salazar.
"Carlos Azeredo contou ainda que em Goa ninguém queria acreditar na invasão, mas os preparativos indianos eram evidentes para todos" (Fonte: TSF 'on line').
2. Sobre este militar português, ver ainda a seguinte entrada da Wikipédia:
(...) Carlos Manuel de Azeredo Pinto Melo e Leme, GCC, ( Várzea da Ovelha e Aliviada, Marco de Canaveses, 4 de Outubro de 1930 – ) é um general do Exército Português. Monárquico, participou activamente no 25 de Abril de 1974.
Foi Comandante da Região Militar do Norte e Chefe da Casa Militar do Presidente Mário Soares. Foi candidato à Presidência da Câmara Municipal do Porto nas eleições autárquicas de 1997 à frente de uma coligação entre o PSD e o CDS-PP, tendo sido derrotado por Fernando Gomes. Em 1996 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Editou um livro sobre a sua vida "Trabalhos e Dias De Um Soldado Do Império". (...) [Lisboa: Livraria Civilização Editora, 2004, 496 pp. 7 €]
__________
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9202: Efemérides (58): A invasão por tropas indianas dos territórios de Goa, Damão e Diu, em 18 de Dezembro de 1961
Guiné 63/74 - P9216: O nosso fad...ário (8): O Fado BART 2857: Parte II: a Cavalaria em Piche... (José Luís Tavares / Manuel Mata)
Guiné > Zona Leste > Bafatá > Esq Rec Fox 2640 (1969/71> Viatura Chaimite anfíbia com canhão. As primeiras que foram distribuídas às NT. O EREC 2640 tinham, segundo o relato do Manuel Mata, "oito Viaturas White"...
A White, "rápida também em picadas, com bom poder de fogo devido ao carril onde as metralhadoras eram montadas, podendo deslocar-se para qualquer ponto frontal ou lateral da viatura, era ao mesmo tempo um excelente abrigo devido à sua forte estrutura metálica"... Ponto fraco: "tornava-se, porém, difícil a sua deslocação na época das chuvas"... Mas não só: (...) "começaram a ter problemas mecânicos, não havia material sobressalente em armazém, para reabastecimento, tendo esta situação levado a uma diminuição da nossa actividade operacional"... Razão por que no último trimestre de 1970, vieram à Metrópole um Alferes, o Primeiro-Sargento Mecânico, e cinco Praças, "afim de receberem cinco viaturas Chaimite, destinadas a este Esqadrão. Havia uma certa expectativa pois eram as primeiras viaturas do tipo para o Exército Português".
Foto: © Manuel Mata (2006). Todos os direitos reservados
Guiné > Zona Leste > Piche > BART 2857 (1968/70) > Aqui uma futebol era uma paixão...
Fonte: Album Picasa, do João Maria Pereira da Costa / Blogue BART 2857 (Com a devida vénia...)
1. O Esq Rec Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) tinha um pelotão destacado em Piche. Não teve, porém, vida fácil, apesar de ter "campo e piscina", e dar-se ao luxo de ter duas equipas de futebol, como se depreende das letras do radiotelegrafista Tavares...
Leia-se aqui, a propósito, um excerto da história desta garbosa subunidade de cavalaria, contada na I Série do nosso blogue pelo Manuel Mata:
(...) Mês de Outubro de 1970: O Pelotão destacado em Piche fez mais uma das muitas escoltas, a Nova Lamego, sofreu uma forte emboscada, as viaturas White reagiram de imediato pelo fogo e movimento. Uma delas foi atingida por sessenta tiros e um dos nossos atiradores teve uma reacção inesperada e de grande bravura, sai da viatura para o meio da picada de bazuca em punho, mantendo-se ali de pé até disparar todas as granadas que havia de momento...
"Apenas sofreu queimaduras ligeiras no rosto o nosso bravíssimo camarada Eduardo Pereira Subtil (mais conhecido pelo 'Minhoca'. Houve um outro militar ferido mas sem gravidade. As forças escoltadas sofreram um morto e sete feridos.
"Notava-se na zona um aumento significativo das ameaças e flagelações pelo IN, basta recordar o dia 25 de Outubro, mais uma em Piche sem consequências para o Pelotão Rec, mas o mesmo não aconteceu aos militares do Batalhão que sofreram um morto e um ferido, e também quatro feridos da população". (...)
Publicamos a II parte daquilo a que chamámos o Fado do BART 2857 (*), o batalhão que esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, segundo nos confirma o nosso camarada J. M. Pereira da Costa, um dos administradores do blogue do BART 2857...
Este batalhão era constituído pela CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche).
Não sabemos se esta letra do Tavares chegou a ser musicada e cantada, em Piche e/ou em Bafatá... De qualquer modo achamos que vai bem com o Fado Corrido... Chamámos a esta 2ª parte, A Cavalaria em Piche... (Com a devida vénia, ao autor da letra e ao Manuel Mata, que a recolheu) (**) (LG).
2. Fado do BART 2857: Parte II: A Cavalaria em Piche
Piche tem campo e piscina,
Qu' já foi a inaug'ração,
São obras de grande valor,
Feitas pelo Batalhão.
Até parece mentira
Aquilo que eu vou contar,
O Batalhão fez um campo
P'ra Cavalaria jogar.
A Cavalaria é um posto,
Já vem de tempos atrás,
Imaginem um Batalhão
Fazer um campo para nós.
Nós temos duas equipas,
Como toda gente as vê:
Temos a boa equipa A,
Não desfazendo na B.
Têm equipamento novo,
Que aquilo é um asseio,
E o dirigente da equipa
É o nosso alferes Feio.
São duas equipas rivais
Que mandam o seu respeitinho,
E, de árbitro permanente,
O nosso amigo Agostinho.
José Luís Tavares - Radiotelegrafista
1 de Julho de 1970
[Recolha: Manuel Mata, 2006]
[Revisão: LG]
__________________
Notas do editor:
(*) Vd, poste anterior da série > 13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P9189: O nosso fad...ário (7): O fado do BART 2857: Parte I: Obras em Piche: letra de José Luís Tavares, recolha de Manuel Mata (Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71)
(**) Vd. I Série > 31 de Março 2006 > Guiné 63/74 - DCLXVI: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (2): Piche, BART 2857
Guiné 63/74 - P9215: Blogpoesia (173): Natal da raiva e solidão (Armor Pires Mota, 1974)
Um poema de Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488, Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, 1963/65).
Reproduzido com a devida vénia (e com a autorização do autor), do seu livro de poesia O tempo em que se mata, o mesmo em que se morre (Braga: Editora Pax, 1974, pp. 15).
Capa do livro que está esgotado. Foi oferecido pelo autor um exemplar, fotocopiado, à biblioteca da nossa Tabanca Grande. Capa do livro: Zé Penicheiro
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 10 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9177: Blogpoesia (172): Uma a uma, tomei nas mãos as Kalashs... (António Graça de Abreu)
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Guiné 63/74 - P9214: O meu Natal no mato (35): Um Santa Claus na forma de um barquinho (José da Câmara)
1. Mensagem de José da Câmara* (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 11 de Dezembro de 2011:
Caro amigo Carlos Vinhal, camaradas, amigos,
No dia 24 de Dezembro de 1972, num presépio chamado Guiné, eu marquei encontro com o Pai Natal. Aqui fica a história desse encontro, que também seria o último que teria com Ele em terras africanas.
Por muitas razões da vida que vivi, eu acredito que há um velhote simpático de barbas brancas, chamado Santa Claus, que faz os possíveis para me acompanhar todos os dias. Ele também vos tem no coração, disso tenho a certeza.
Quando ele bater à vossa porta, deixem-no entrar e descansar um pouco no seio da vossa família. Ele, depois de passar por aqui e de atravessar este Atlântico imenso que nos une, apenas quer desejar-vos um Feliz e Santo Natal.
Um grande abraço do
José Câmara
Guiné, um presépio de Natal
Na linda ilha das Flores, terra que me viu nascer e crescer, as celebrações do Natal tinham como atenção o nascimento do Menino Jesus em Belém e as prendas que Ele, no seu infinito amor, distribuía pela pequenada.
Como criança que era não percebia porque é que o Menino gostava tanto dos meninos mais ricos e, muitas vezes, se esquecia de mim, dos meus irmãos e de outros meninos tão pobres como eu. Levei alguns anos para me aperceber que o Menino também me amava como aos outros. A verdade era que a minha pequenina casa não tinha chaminé por onde Ele pudesse entrar e, mesmo que arranjasse outra forma de se infiltrar, nunca poderia encontrar os meus sapatinhos porque eu não os tinha. Apesar de todos esses problemas, na sua infinita bondade, às vezes arranjava maneira de deixar debaixo do travesseiro um saquinho com figos passados. Quando isso acontecia, o Natal era enorme no meu coração de criança.
No Faial, para onde fui com a idade dos 10 anos, talvez por influência das companhias estrangeiras de cabos submarinos (americana, inglesa e alemã), de algum consumismo já evidente na pequena cidade da Horta e mesmo dos emigrantes resultantes da erupção vulcânica dos Capelinhos, o Menino era mais rico e, por isso mesmo, costumava contratar um ajudante, o Pai Natal, por altura dos festejos natalícios. Era este Ajudante que trazia as boas novas do Menino.
O Pai Natal, o Santa Claus como alguns lhe chamavam, viajava por entre estrelas, vindo das zonas frias da Lapónia. Talvez porque o trenó, puxado por renas de nariz vermelho, tinha mais espaço para sacos de prendas o Natal, na minha casa passámos a contar com algumas alegrias extras, entre as quais, há um alfinete de gravata que ainda hoje é o único que uso em homenagem ao grande amor e sacrifício do meu Menino Jesus.
Todavia, para compreender o Natal em toda a sua beleza humanística faltava, de facto, ter um encontro com o Menino Jesus, com o Pai Natal. A oportunidade aconteceu a meia tarde do dia 24 de Dezembro de 1972.
Ao tempo eu era, com muita honra, militar no Exército de Portugal, em fim de comissão de serviço na Guiné.
O presépio, devidamente preparado para essa efeméride, era completamente diferente daqueles a que estava acostumado na minha meninice. Este fora desenhado e construído com belas bolanhas e matas esplendorosas de palmeirais, cajueiros, capim, às quais não faltavam javalis, veados, pombos verdes, cobras, lagartos, sapos, mosquitos, formigas e os demais requintes da flora e fauna tropicais. A completar todo esse quadro maravilhoso que extasiava os corações mais sensíveis, as cascatas das ribeiras da freguesia deram lugar a um espelho imenso de um rio calmo que reflectia o sorriso quente do astro-rei. Era na verdade um presépio que deixaria imensas recordações, alegres umas, bem tristes outras, porque não saudades das boas, vida fora!
Foi nesse ambiente que o Pai Natal, ansiosamente esperado, apareceu por detrás de um pequeno ilhéu colocado no meio do rio. Era diferente de tudo o quando imaginara até então. Vinha vestido de cinzento. Conduzia, com mestria, as renas que mais pareciam peixinhos vestidos de muitas cores que, alegremente, puxavam nas águas mansas do rio um trenó em forma de barquinho. Graciosamente, com lentidão cautelosa, aproximou-se da terra e aos poucos foi abrindo os seus braços até descansá-los na margem do rio. De peito bem aberto, deixou ver o seu imenso coração onde caberiam todos aqueles que o esperavam e que não se fizeram rogados em entrar nele.
Descansou o suficiente para receber a sua preciosa e alegre carga. Depois, talvez imitando Santo António, segredou algo aos peixinhos que, por ali, se mantinham em alegres brincadeiras. Fechou os seus enormes braços num amplexo imenso àqueles que acabara de receber junto do seu coração. E partiu. Tal como chegara, sem alaridos, havia que cumprir o final da sua nobre missão. Havia que levar a bom porto todos aqueles que confiaram no seu convite.
Aos poucos as margens do Enxudé foram-se perdendo no entardecer do dia para dar lugar à noite que se aproximava. Tite, Bissássema e as suas gentes passavam a ser nomes guardados na neblina da memória. Bissau foi o porto de acolhimento.
Encostado ao cais, exausto pelo cansaço, aquele Pai Natal ainda teve forças para um último aceno. Foi a última vez que o vi em terras da Guiné. A CCaç 3327 regressava à casa e às barracas que a receberam vinte e três meses antes, o Depósito de Adidos, em Brá.
A partir da esquerda: 1.º Sarg. Baltazar Lopes e Fur. Mil. Fernando Silva (ambos já falecidos), Fur. Mil. Pinto. A foto não oferece condições para identificar os outros com segurança. De costas, a ser servido, o Fur. Mil. Câmara
© Foto cedida pelo Fur. Mil. João Cruz, Natal de 1972
Nessa noite de Natal, alguns de nós ainda conseguiram desenfiar-se para a cidade. O Coelho à Caçador andou às correrias pelas mesas que juntámos no restaurante que nos acolheu. Uma noite diferente e alegre para nós. Só possível pelo amor e amizade de um Santa Claus que quis que, nesse ano de 1972, tivéssemos um Feliz e Santo Natal.
Porque ainda acredito na existência do Pai Natal, hoje, tal como ontem, que a Amizade e o Amor, a Paz e a Esperança do espírito do Natal, sejam companheiras diárias das vossas vidas e da dos vossos familiares.
Deste lado do oceano, um abraço enorme, quente e amigo do
José Câmara
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9088: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (29): Quando o destino cruel desabafa a sua ira
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9213: O meu Natal no mato (34): Empada, 24 de Dezembro de 1969, em tempo de guerra (José Teixeira)
Caro amigo Carlos Vinhal, camaradas, amigos,
No dia 24 de Dezembro de 1972, num presépio chamado Guiné, eu marquei encontro com o Pai Natal. Aqui fica a história desse encontro, que também seria o último que teria com Ele em terras africanas.
Por muitas razões da vida que vivi, eu acredito que há um velhote simpático de barbas brancas, chamado Santa Claus, que faz os possíveis para me acompanhar todos os dias. Ele também vos tem no coração, disso tenho a certeza.
Quando ele bater à vossa porta, deixem-no entrar e descansar um pouco no seio da vossa família. Ele, depois de passar por aqui e de atravessar este Atlântico imenso que nos une, apenas quer desejar-vos um Feliz e Santo Natal.
Um grande abraço do
José Câmara
Guiné, um presépio de Natal
Na linda ilha das Flores, terra que me viu nascer e crescer, as celebrações do Natal tinham como atenção o nascimento do Menino Jesus em Belém e as prendas que Ele, no seu infinito amor, distribuía pela pequenada.
Como criança que era não percebia porque é que o Menino gostava tanto dos meninos mais ricos e, muitas vezes, se esquecia de mim, dos meus irmãos e de outros meninos tão pobres como eu. Levei alguns anos para me aperceber que o Menino também me amava como aos outros. A verdade era que a minha pequenina casa não tinha chaminé por onde Ele pudesse entrar e, mesmo que arranjasse outra forma de se infiltrar, nunca poderia encontrar os meus sapatinhos porque eu não os tinha. Apesar de todos esses problemas, na sua infinita bondade, às vezes arranjava maneira de deixar debaixo do travesseiro um saquinho com figos passados. Quando isso acontecia, o Natal era enorme no meu coração de criança.
No Faial, para onde fui com a idade dos 10 anos, talvez por influência das companhias estrangeiras de cabos submarinos (americana, inglesa e alemã), de algum consumismo já evidente na pequena cidade da Horta e mesmo dos emigrantes resultantes da erupção vulcânica dos Capelinhos, o Menino era mais rico e, por isso mesmo, costumava contratar um ajudante, o Pai Natal, por altura dos festejos natalícios. Era este Ajudante que trazia as boas novas do Menino.
O meu alfinete de gravata, homenagem ao meu Menino Jesus
De nós para vós, um Santo Natal
©Foto de J. Câmara
O Pai Natal, o Santa Claus como alguns lhe chamavam, viajava por entre estrelas, vindo das zonas frias da Lapónia. Talvez porque o trenó, puxado por renas de nariz vermelho, tinha mais espaço para sacos de prendas o Natal, na minha casa passámos a contar com algumas alegrias extras, entre as quais, há um alfinete de gravata que ainda hoje é o único que uso em homenagem ao grande amor e sacrifício do meu Menino Jesus.
Todavia, para compreender o Natal em toda a sua beleza humanística faltava, de facto, ter um encontro com o Menino Jesus, com o Pai Natal. A oportunidade aconteceu a meia tarde do dia 24 de Dezembro de 1972.
Ao tempo eu era, com muita honra, militar no Exército de Portugal, em fim de comissão de serviço na Guiné.
O presépio, devidamente preparado para essa efeméride, era completamente diferente daqueles a que estava acostumado na minha meninice. Este fora desenhado e construído com belas bolanhas e matas esplendorosas de palmeirais, cajueiros, capim, às quais não faltavam javalis, veados, pombos verdes, cobras, lagartos, sapos, mosquitos, formigas e os demais requintes da flora e fauna tropicais. A completar todo esse quadro maravilhoso que extasiava os corações mais sensíveis, as cascatas das ribeiras da freguesia deram lugar a um espelho imenso de um rio calmo que reflectia o sorriso quente do astro-rei. Era na verdade um presépio que deixaria imensas recordações, alegres umas, bem tristes outras, porque não saudades das boas, vida fora!
O Pai Natal da CCaç 3327 fazendo a aproximação à margem do Enxudé, Zona de Tite
© Foto de J. Câmara - Dezembro 24, 1972
Foi nesse ambiente que o Pai Natal, ansiosamente esperado, apareceu por detrás de um pequeno ilhéu colocado no meio do rio. Era diferente de tudo o quando imaginara até então. Vinha vestido de cinzento. Conduzia, com mestria, as renas que mais pareciam peixinhos vestidos de muitas cores que, alegremente, puxavam nas águas mansas do rio um trenó em forma de barquinho. Graciosamente, com lentidão cautelosa, aproximou-se da terra e aos poucos foi abrindo os seus braços até descansá-los na margem do rio. De peito bem aberto, deixou ver o seu imenso coração onde caberiam todos aqueles que o esperavam e que não se fizeram rogados em entrar nele.
Descansou o suficiente para receber a sua preciosa e alegre carga. Depois, talvez imitando Santo António, segredou algo aos peixinhos que, por ali, se mantinham em alegres brincadeiras. Fechou os seus enormes braços num amplexo imenso àqueles que acabara de receber junto do seu coração. E partiu. Tal como chegara, sem alaridos, havia que cumprir o final da sua nobre missão. Havia que levar a bom porto todos aqueles que confiaram no seu convite.
Aos poucos as margens do Enxudé foram-se perdendo no entardecer do dia para dar lugar à noite que se aproximava. Tite, Bissássema e as suas gentes passavam a ser nomes guardados na neblina da memória. Bissau foi o porto de acolhimento.
Encostado ao cais, exausto pelo cansaço, aquele Pai Natal ainda teve forças para um último aceno. Foi a última vez que o vi em terras da Guiné. A CCaç 3327 regressava à casa e às barracas que a receberam vinte e três meses antes, o Depósito de Adidos, em Brá.
A partir da esquerda: 1.º Sarg. Baltazar Lopes e Fur. Mil. Fernando Silva (ambos já falecidos), Fur. Mil. Pinto. A foto não oferece condições para identificar os outros com segurança. De costas, a ser servido, o Fur. Mil. Câmara
© Foto cedida pelo Fur. Mil. João Cruz, Natal de 1972
Nessa noite de Natal, alguns de nós ainda conseguiram desenfiar-se para a cidade. O Coelho à Caçador andou às correrias pelas mesas que juntámos no restaurante que nos acolheu. Uma noite diferente e alegre para nós. Só possível pelo amor e amizade de um Santa Claus que quis que, nesse ano de 1972, tivéssemos um Feliz e Santo Natal.
Porque ainda acredito na existência do Pai Natal, hoje, tal como ontem, que a Amizade e o Amor, a Paz e a Esperança do espírito do Natal, sejam companheiras diárias das vossas vidas e da dos vossos familiares.
Deste lado do oceano, um abraço enorme, quente e amigo do
José Câmara
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9088: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (29): Quando o destino cruel desabafa a sua ira
Vd. último poste da série de 16 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9213: O meu Natal no mato (34): Empada, 24 de Dezembro de 1969, em tempo de guerra (José Teixeira)
Guiné 63/74 - P9213: O meu Natal no mato (34): Empada, 24 de Dezembro de 1969, em tempo de guerra (José Teixeira)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 10 de Dezembro de 2011:
Caros amigos editores
Como estamos a chegar ao Natal revisitei o “meu diário” e recolhi este pequeno texto escrito no dia 24 de dezembro de 1969.
Natal em tempo de guerra
No dia 24 de Dezembro de 1969, escrevi no “meu diário":
Dezembro 69, Empada 24
É Natal. No ar uma camada de cacimba que nos dificulta a visão. Ao longe o troar das armas, o ribombar dos canhões, lembram os sinos da paz e pela sua insistência recordam-nos que é Natal.
Então, o espírito, o coração, todo o nosso ser, sente o Natal. Não o Natal que vivemos na hora presente, preocupados com a morte que nos espreita pela boca de um canhão, atentos ao menos sinal de perigo, para de arma em posição de rajada fazermos frente ao Inimigo. Sente-se o Natal de nossas casas, a paz dos nossos lares e sofre-se não propriamente por estarmos em guerra, mas porque nos lembramos dos nossos. O seu Natal, não é Natal, porque falta alguém querido, alguém que sente e vive o Natal e outra maneira, em circunstâncias muito difíceis. Eles nem sonham!
Ontem, saí em patrulhamento e quando regressávamos ao quartel ouviram-se umas rajadas à retaguarda na direção por onde tínhamos passado. Presume-se que o IN vinha atacar Empada e notou os nossos rastros ou qualquer ruído na mata e, pensando que estávamos emboscados por perto, abriu fogo. Como não houve reação da nossa parte, calaram-se novamente.
O meu diário
Empada > Fotos do meu Natal de 1969
Zé Teixeira
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9160: (Ex)citações (162): Confesso que estou profundamente chocado com a posição de alguns camaradas acerca da política seguida pelo nosso blogue (José Teixeira)
Vd. último poste da série de 7 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9148: O meu Natal no mato (33): Um conto natalício (Juvenal Amado)
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