1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Outubro de 2018:
Queridos amigos,
Nenhum investigador do período colonial pode descurar o acervo informativo das publicações da Agência, repertoriavam tudo o que tinha a ver com legislação, colónia a colónia, e a respetiva imprensa.
Havia também publicações na Europa, é o caso da Gazeta das Colónias, que apareceu no final da I República, há igualmente que a estudar, foi através da sua consulta que encontrei a Companhia Estrela-Farim, quando pesquisava no Arquivo Histórico do BNU.
Na última fase do Estado Novo verifica-se ter existido uma diversificação das publicações, tome-se em consideração a revista Ultramar que era propriedade do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, era uma aposta na formação da juventude, em simultâneo com a divulgação das coisas do Império, por vezes com artigos de estudo de grande importância. Começa-se finalmente a ter um grande ecrã de todas estas publicações, que irão facilitar a vida dos investigadores e estudiosos, não se pode estudar o que quer que seja sem consultar esta rosa dos ventos, onde se inclui a propaganda colonial.
Um abraço do
Mário
Laudes para o Império Português:
A Agência Geral das Colónias/Ultramar (1932-1974)
Beja Santos
No conjunto dos trabalhos publicados na obra
“A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, destaca-se um trabalho de José Luís Lima Garcia sobre a Agência Geral das Colónias/Ultramar, permite conheceu o itinerário das preocupações ainda na I República quanto à informação/formação que se pretendia dar aos portugueses sobre as colónias, de Cabo Verde a Timor. A Agência Geral das Colónias foi de facto criada na I República, em 30 de setembro de 1924, Armando Zuzarte Cortesão foi o seu primeiro responsável. Com a Ditadura Nacional, tomou posse Júlio Garcez de Lencastre, a grande missão era fazer compreender a ideia da unidade do império colonial, à Agência eram atribuídos novos acometimentos como a informação na recolha e divulgação de dados estatísticos. O serviço de informação da Agência era o de abastecer de notícias os jornais diários, liam-se os boletins oficiais e periódicos das colónias, tinha-se acesso a informações na área administrativa colonial e até a publicações, conheciam-se os negócios, a investigação científica, as inaugurações, a abertura de estradas, tudo era canalizado para os meios de comunicação social da época. Uma secção de propaganda preparava mostruários e expositores com produtos, cartazes e gráficos que pudessem circular pelos municípios. O primeiro evento a que se meteu mãos foi na Exposição Industrial de Lisboa, apresentou-se um mostruário das atividades coloniais. Passaram a organizar-se as
“Semanas das Colónias”, em parceria com as instituições científico-pedagógicas, neste caso a Sociedade de Geografia de Lisboa e a Escola Superior Colonial.
Multiplicaram-se as sessões de divulgação, o Ministro das Colónias, Armindo Monteiro, não fugia à participação, o Tenente Henrique Galvão era outra presença obrigatória, como o jornalista António Eça de Queirós. Produziram-se filmes e houve sessões promocionais logo em Lisboa e arredores (Voz do Operário, Cinema Condes e Casino do Estoril). A primeira grande prova de fogo foi a grande Exposição Colonial do Porto, jamais se investira tanto, trouxeram-se comunidades nativas, simularam-se aldeias e modos de vida, era um corrupio constante de mirones, chegou mesmo a haver um concurso de beleza para premiar as grandes beldades. Em 1937, a Agência participou na organização da Exposição da Ocupação e no Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo. Desde a sua fundação até 1937 a Agência divulgara 450 obras que representavam cerca de um milhão de exemplares. Em 29 de abril de 1938, a Agência prestou homenagem ao Marquês de Sá da Bandeira, junto do monumento que lhe foi erigido na Praça D. Luís em Lisboa, por ocasião do 80.º aniversário do decreto que abolia a escravatura. E assim se chegou à Exposição Colonial do Mundo Português, 1940, a Agência participou ativamente com publicações e a realização de eventos, no ano seguinte a Agência foi em missão oficial ao Brasil, apresentou uma mostra da sua obra cultural. Em 1942, aproveitava-se a Emissora Nacional para fazer palestras sobre o Império Colonial Português, ano em que a Agência passou a ter um delegado junto do Secretariado da Propaganda Nacional, o nomeado foi Augusto Cunha, um advogado que dirigia a revista
“O Mundo Português” e estivera empenhado na organização dos cruzeiros de
“Férias às Colónias” e dos
“Estudantes das Colónias à Metrópole”.
Marcello Caetano sobraçou a pasta das colónias a partir de setembro de 1944, adotaram-se novas estratégias para a divulgação do império. É nesse contexto que a Agência aparece em 1945 na Feira Popular com um pavilhão artístico decorado por Jorge Segurado. Qualquer data era um ensejo para comemorações, foi assim em 1946, com as comemorações nacionais do V Centenário da Descoberta da Guiné que trouxeram a visita das autoridades tradicionais da Guiné a Lisboa, a inauguração de um monumento a Nuno Tristão e houve mesmo guineenses no
“Desfile dos Municípios”, a propósito do VIII Centenário da Conquista de Lisboa. Em maio de 1950, inaugurava-se no Palácio da Independência o primeiro Centro de Estudos de Formação Imperial da Mocidade Portuguesa, a Agência estava implicada.
Com recurso aos meios audiovisuais, a Agência dispunha de uma viatura para o cinema, para missões de propaganda, abordavam-se os mais variados assuntos desde a coroação de Nossa Senhora de Fátima passando pelos desfiles da Legião Portuguesa até à viagem de Marcelo Carmona ao Porto. 1951 é o ano da Reforma Constitucional, a Agência passou a ser de Ultramar. Foram criados os Centros de Informação e Turismo em Angola, Moçambique e Índia. E assim chegamos a 1961, o ano das mudanças radicais.
Lembra o autor que em outubro de 1964 se realizou na Agência a primeira reunião que chamava a atenção para o início da guerra colonial. A Agência está muito próxima do Ministério do Ultramar. A partir de 1967 a Agência passa a ser um organismo destinado a difundir informações relativas ao património tropical, a superintender e impulsionar o turismo. Passa a ter assento na RTP, apresentava um programa de 15 minutos, primeiro quinzenal, depois semanal, produzido pela Agência Geral do Ultramar e intitulado
“Portugal Além Europa”. A publicação mais evidente era o Boletim Geral, primeiro
“Boletim Geral das Colónias”, depois
“Boletim Geral do Ultramar”, a revista
“O Mundo Português” e também desde 1970, a revista
“Permanência”. Lembra o autor que com o intuito de estimular o interesse dos intelectuais pelos interesses tropicais, instituiu a Agência Geral o
“Concurso de Literatura Colonial”, anualmente promovido, desde 1926 até 1951. Em 1954, o certame foi melhorado com a criação de quatro prémios que viriam a subsistir até 1974, contemplando géneros literários tão diversos como o conto, a poesia, o romance e o teatro. Foram muitos os contemplados com os prémios
“Camilo Pessanha”,
“Frei João dos Santos”,
“Fernão Mendes Pinto”,
“João de Barros” e
“Pêro Vaz de Caminha”, cada um no valor de 20 contos; para além destes, havia ainda o prémio
“D. João II”, no valor de 50 contos, que distinguia o melhor estudo sobre o tema que a propaganda do Estado Novo, já no período final, procurava consagrar, a Unidade Nacional.
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Nota do editor
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Guiné 61/74 - P19966: Historiografia da presença portuguesa em África (166): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - II (e última) Parte