terça-feira, 22 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21383: Notas de leitura (1309): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte III (Luís Graça): a conquista da Ponta de Jabadá, em 29/1/1965, importante posição na defesa do rio Geba

 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > O alf mil médico Serpa Pinto, natural do Porto, "à entrada do seu apartamento"... Vê-se que o destacamento foi feito com as ruínas do antigo entreposto comercial, florescente até ao início da guerra.

 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > "Uma pausa: o dr, Serpa Pinto a ajeitar o banco [, à esquerda]; a seguir o alferes Alcides Pereira, comandante da força; eu e à frente com óculos o furriel João Vaz"
"
 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > "Sessão de consultas à população local. A tomar notas o [furriel]  enfermeiro Machado, e logo atrás o doutor S[erpa] Pinto" (*)

Fotos (e legendas): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da apresentação do último livro do Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande: foi fur mil at cav, CCAÇ 423 e CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual (1964/65), tendo passado por Bissau, Bolama, S. João, Ponta de Jabadá, e Jumbembem... Nasceu em 1940, em Nova Lisboa (hoje, Huambo, Angola). Está reformado da TAP e vive em Faro. (*).


Capa do livro de Gonçalo Inocentes (Matheos), "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (Vila Franca de Xira, ModoCromia, 2020, 126 pp, ilustrado).

É um livrinho despretensioso, com mais fotos do que texto, mas que tem o mérito de nos fazer desfilar uma série de situações que todos conhecemos no TO da Guiné, no mato, fosse no Norte, no Leste ou no Sul.

Por exemplo, a evocação do médico que, se calhar, nem todos conheceram tão intimamente como a malta da CCAÇ 423. Estamos no início da guerra, em que cada companhia ainda tinha um médico!... Um luxo!... 

Recorde-se que, no meu tempo (1969/71), haveria (, quando havia!) um médico por batalhão. E que ficava no "bem bom" da sede do batalhão, a trabalhar na "psico",  nunca ou raramente saindo para o mato em operações... Era mais médico "civil" do que "militar",,, O mesmo se aplicava ao furriel enfermeiro... (Estamos a falar do tempo de Spínola, em que aumentaram os efectivos militares e o país não tinha médicos  suficientes para mandar para a guerra; por outro lado, a política "Por uma Guiné Melhor" absorvia uma grande parte dos recursos  sanitários das Forças  Armadas.)

Aqui, nesta época,  no tempo ainda da malta do caqui amarelo, há um médico para cada 150/160 homens (=1 companhia), e que dorme no mato, nos mesmos buracos dos "infantes"... E participa em operações, como a conquista da Ponta de Jabadá!

Para poder escrever este livrinho, a vantagem do Gonçalo Inocentes, em relação a muitos de nós, é que tinha um máquina fotográfica Minolta 16 mm Spy que cabia no bolso do camuflado e que levava para o mato. Além disso, tinha um bloco de notas e o hábito saudável de ir tomando notas.. 

Alguns de nós tinham um diário, mas ao fim de seis meses (que era o tempo de provação da "periquitagem"), deixavam de escrever por lassidão, cansaço, exaustão, falta de disciplina... Outros anotavam nas cartas e aerogramas o seu pequeno dia a dia, incluindo a atividade operacional... Enfim, de uma maneira ou de outra, todos temos "pequenos apontamentos" da nossa passagem pelo inferno que foi a Guiné...

Nalguns casos, como o deste livrinho, são "flashes", relampejos da memória, que vêm contribuir, e em muito,  para o preenchimento dos buracos do "puzzle" da nossa memória... 

Por exemplo, quem é que sabia da história da Ponta de Jabadá onde o PAIGC até ao início do ano de 1965 era "rei e senhor", impondo ali o terror à navegação no Geba ?!... 

Quando lá passei, ao largo, em LDG, no dia 2 de junho de 1969,  o nosso medo era a Ponta Varela,  logo a seguir, passada a foz do Corubal, já no Geba Estreito, antes de se aportar ao Xime... (Os barcos civis, ou "barcos-turra", que prosseguiam até Bambadinca tinham, no Geba Estreito, outro temível ponto de passagem que era o famigerado Mato Cão onde se podia, da margem direita,  lançar uma granada de mão para o meio do rio.)

Jabadá ?... Já ninguém se lembrava em 1969,,,

Explica o autor:

"Depois de várias operações infrutíferas à Ponta de Jabadá, os barcos que navegavam no rio Geba, o que banha Bissau, contibuaram a ser castigados vom fogo do IN a partir dali. Da Ponta." (p. 76)

Foi por isso que os "maiores" de Bissau decidiram ocupar  a dita Ponta (que outrora lterá sido uma bela horta de um algum colono cabo-verdiano). Com "um pelotão reforçado" (!), as NT foram mandadas ocupar o "antigo entreposto comercial". 

A força era comandada pelo capitão Monroy, e tinha o apoio de uma fragata [, o autor queria dizer:LFG - Lancha de Fizcalização Grande] da Marinha, postada em frente, no Geba. (Este capitão Monroy  [Garcia] devia ser o oficial de informações e operações do BCAÇ 599.]

"Fomos comandados pelo alferes Alcides Pereira e pela primeira vez foi também o médico, dr. Serpa Pinto, e o furriel enfermeiro Machado" (p. 76).

Ficamos a saber que:

"Jabadá era como que uma ilha. Rodeada a Sul pela grande bolanha, e  Norte pelo rio Geba" (...). 

Mas a fragata [leia-se: LFG]  foi chamada a Bissau, para algum assunto mais urgente do que a guerra (, vá-se lá saber o quê e o porquê), e rapaziada passou a ser "bombardeada diariamente ao cair da noite" (p. 77). Jantava-se às 18h e recolhia-se aos "abrigos" às 19h.

Depois foram "40 dias de trabalho intenso", a construir abrigos "à prova de morteiro": com troncos de cibe, terra, e em cima uma camada de adobe. "De dia o trabalho e de noite o infeno"... Virá depois um reforço, um pelotão da CCAÇ 508, comandada pelo alferes Ferreira,

Pormenor delicioso é a foto (, infelizmente em miniatura) do ten cor [Carlos Barroso] Hipólito, comandante do batalhão [BCAÇ 599,]  sediado em Tite, a atravessar o tarrafe às costas de um soldado, depois da gloriosa conquista da Ponta de Jabadá, em 29 de janeiro de 1965 (. precisamente no dia em que eu fiz 18 anos e dava o nome para a tropa)...  

Em suma, o senhor tenente coronel não podia molhar o pezinho,,,

O Gonçalo Inocentes presta depois homenagem ao médico e ao enfemeiro que ficaram no destacamento. Do médico ele diz:

(...) "Ele é o anjo da guarda de todos os dias. (...) A relação de todos com o médico, ali o dr. Torcato Adriano Serpa Pinto, homem do Porto, era de filhos para pai.  O carinho era mútuo" (p. 86).

Teve por isso, direito a um abrigo exclusivo, especial e seguro;

"No destacamento em Jabadá, o abrigo pessoal do doutor era mesmo a dois passos do rio Geba e por isso ele não dormia- Temia uma aproximação a coberto da noite pela margem do rio e o lançamento de uma granada para o sítio onde morava".

Qual foi a solução para pôr o médico "a dormir bem", o que era fundamental para que todos dormissem bem ? A ideia  foi do fur mil Inocentes: "construir duas defesas paralelas rio adentro, que fizessem de anteparo o abrigo do doutor"... Cercado "de arame farpado à semelhança do Rommel nas costas da Normandia", o dr. Serpa Pinto nunca mais teve insónias  nem pesadelos (p. 86). 

É uma bonita história de homenagem e de gratidão aos nossos médicos... (**)

(Contnua)

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Notas do editor:

(*) Vd., postes anteriores:


Guiné 61/74 - P21382: Parabéns a você (1870): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Setembto de 2020 > Guiné 61/74 - P21378: Parabéns a você (1869): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Guiné 671/74 - P21381: Notas de leitura (1308): “Henda Xala”, de Abílio Teixeira Mendes; Círculo de Leitores, 1992 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,

Creio que o primeiro médico a escrever literatura de guerra foi António Lobo Antunes, com o seu inultrapassável "Os Cus de Cudas", no início dos anos 1980. E se não erro foi Abílio Teixeira Mendes o segundo estreante, com este primoroso romance, hoje injustamente esquecido. Na análise que Rui de Azevedo Teixeira fez do seu livro ressaltou a figura do anti-herói, aquele alferes médico, Doc, não dá o peito às balas, não descreve mil e um calvários na vida de ermitão em destacamentos longínquos, não pede qualquer glorificação. Pelo contrário, sai de Lisboa com muitas poucas amarras, e di-lo corajosamente, regressa quase um apátrida, mas inebriado com os esplendores da terra angolana. 

No entrementes, o leitor vai ter acesso a todas as farras e bródios da vida noturna angolana, a todos os bons comes, o autor não perdeu tempo a limpar espingardas, usou até não mais poder, e di-lo sem baixar os olhos com falsa pudicícia. 

Um abraço do
Mário



Henda Xala (fica a saudade) por Abílio Teixeira Mendes

Beja Santos

Abílio Teixeira Mendes
É matéria consabida, sobre a mesma o juízo é consensual, não houve dois teatros de guerra em África com caraterísticas vincadamente semelhantes, daí a prudência em não universalizar as temáticas, os enredos, as próprias encenações da guerra. Dito de outro modo, há sempre distinções profundas nas literaturas de guerra, na Guiné, Angola e Moçambique. 

Contudo, para além de não ser viável comparar o incomparável, uma infinitude de situações aproxima todos os combatentes. Sem querer ser exaustivo: as saudades, o choque da aculturação, a expetativa da chegada do correio, a pedra de gelo que dispara na garganta quando explode o fornilho ou a emboscada, a tensão noturna, a permanente queixa com a alimentação, as febres, o paludismo, o senhor medo.

Não é meu propósito ensaiar um processo de literatura comparada, a Guiné é a questão fulcral da minha investigação. Mas não deixo o crédito por mãos alheias a leitura de obras que se revelam importantes pela narrativa, pela inovação da trama, pelas mexidas e remexidas na construção literária, pela marcada singularidade do autor face aos seus destinatários. 

Tenho para mim que “Henda Xala” de Abílio Teixeira Mendes, Círculo de Leitores, 1992, é uma obra imerecidamente esquecida, se bem que investigadores como Rui de Azevedo Teixeira tenham exaltado o sopro de frescura deste romance de Teixeira Mendes.

Abílio Teixeira Mendes morreu precocemente. Licenciou-se em Medicina e ainda estudante deu prova de militância nas organizações académicas e foi ativista das greves ocorridas em 1962. Entre 1967 e 1970 cumpriu o serviço militar como alferes médico, em território angolano. Após a desmobilização, ingressou no Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria. Além deste seu romance publicou em 1987 um volume de contos: Coisas de África. Arquive-se.

Finda a leitura, fica-nos a convicção que esse alferes médico amou desmedidamente Angola. Na organização da sua narrativa, escolhe como nascente a passagem pela Escola Prática de Cavalaria em Santarém, onde fez aprendizagem militar. Logo, para que o leitor não escape à evidência, marca distâncias sobre a natureza da corporação: 

“O seu ídolo era um major pequeno e magrinho, um rato Mickey que aparecia nos momentos mais desconchavados, olhando os cadetes com manifesto desprezo, e abandonava a cena sem responder às saudações. No seu capote azul, nos olhitos vivos, no rosto moreno, nos lábios pinçados num esgar de amargura, pairava a maldição de um frade-guerreiro, sem uma gota de humanidade. Mesmo o temido comandante de esquadrão se vergava perante ele. Era a consubstanciação daquele terrível militar das bandas desenhadas, sem saudades, sem compaixão, sem amor, sem mulher nem amante, sem legítimos nem bastardos, sem anda para além daquele desentranhado amor à Cavalaria”

E dá conta do seu estado de alma e de quem com ele ali convive: 

“Veterinários e farmacêuticos a beirar os 40 anos, médicos de aldeia e chalengers a professores catedráticos, fardas a faltar aqui e a sobrar além, perfilavam-se, angustiados, enquanto o capitão percorria as fileiras murmurando ‘botas’, ‘barba’, ‘cabelo’ e o cabo miliciano, em seguida, soprava ao pescoço ‘número’. De humilhação em humilhação, a resistência dos nossos cadetes ia quebrando”

Teixeira Mendes lembra muita gente daquele seu curso, discorre da atmosfera do quartel até à sua casa, à sua família, ao círculo de amigos, à Pátria.

Embarca, não perde tempo com muitas observações, já está em Luanda, ao princípio é tudo novidade e paródia, descobrem-se mulheres, cabarés, bons repastos, e vai-nos crescendo a intuição de que naquele caldeirão luandense há muita gente ligada à guerrilha. 

Para quem dúvida deste amor desalmado a Angola, tome-se o discurso que se vai tornando cada vez mais luso-angolano, desordenadamente, nem o glossário constituído pelo autor é suficiente para acabarmos uma qualquer página suficientemente esclarecidos, porque há xingos (ralhos), calcinhas (forma depreciativa de designar os assimilados), biaque ou cangundo (formas insultuosas de designar o branco), monandengue (criança), mangonha (preguiça), malanginhos (designação semi-irónica para os habitantes de Malange), mutopas (espécie de cabaças por onde se fuma), tonga (plantação de café), barona (garota de costumes livres mas não propriamente prostituta, essa é uma quitata). 

Dá-nos quadros muito impressivos da vida airada em Luanda, dos vínculos fortes e fracos da vida social, o leitor submerge na versatilidade de todos aqueles usos e costumes. Ficamos a saber que os mufete é peixe assado nas brasas e que o melhor são os mufete de cacusso, um peixe com mais espinhas que o sável, mufete que deve se comer com a polpa do peixe a esmagar-se num jindungo amassado com sal, a moda de Dalatando, ou azeitando-se com dendém, sente-se a heresia de chamar peixe grelhado a essa iguaria de deuses.

Há aqui qualquer coisa de Jorge Amado nos arrebatamentos amorosos, a Lu deixa-o pelo beicinho. Mas a vida no batalhão também está carregada de peripécias e Teixeira Mendes não perde pitada de trazer o humor à conversa militar:

“- Cada um tem o inimigo que merece – suspirou o Marcelino.
- Se o camarada citasse menos Lenine e cuidasse melhor da sua companhia, talvez a guerra tivesse já acabado – comentou o capitão de operações.
- Quando o camarada quiser saber como eu dirijo a minha companhia, venha para fora do Grafanil. Há de ir ao meu lado, mas, se fizer obséquio, traga um camuflado velho porque com esse que vai levar amanhã, tão vivinho, sem uma chapada de lama, dá um rico alvo e eu não me responsabilizo”.


É um alferes médico que escreve na terceira pessoa do singular, é o Doc, e nada mais, despretensioso, anti-herói. Já estamos na guerra, há colunas, minas e armadilhas, gente que merece nomes depreciativos como o Mirandinha Espalha-Merda, os nomes dos quartéis mal são enunciados, a significação da guerra mal passa pelos dizeres da carta geográfica, o mais importante é não fazer esquecer que a guerrilha, mesmo fragilizada, está ali ao pé da porta, que há aspetos divertidos nas relações humanas que se entabulam, como aquela condessa que vive lá no fundo da mata. 

Inevitavelmente, há as perdas, dentro da contabilidade dos imprevistos, assim vai girando Doc pela sua tão atribulada comissão, regressa sorumbático, em desnorte, vacilante, não sabe a que terra pertence, a família a que regressa pouco lhe diz, foi à guerra, divertiu-se à grande, fez hospital na cidade e em campanha, conheceu o horror. Regressa apátrida e cheio de saudades. É preciso ler esta obra primorosa do princípio ao fim para perceber o seu título: “Henda Xala”.

Bem merecia ser reeditado, este primoroso romance.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2020 > Guiné 671/74 - P21359: Notas de leitura (1307): "Admirável Diamante Bruto e outros contos", por Waldir Araújo; Livro do Dia Editores, 2008 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21380: (In)citações (169): Onde esteve a Cruz Vermelha Portuguesa durante a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África ?







1. Onde esteve a Cruz Vermelha Portuguesa durante a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África ?

O camarada António J. Pereira daCostra, cor art ref, comentou (*):

(...) "Nunca dei pela acção da secção feminina (ou masculina) da Cruz Vermelha Portuguesa, mas admito que tenha apoiado os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Como? Não sei. Admito que as suas missões fossem discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)... Era interessante esclarecer esta questão e qual a atitude do Governo para com ela.(..)

Na Internet também não encontrámos grande coisa... Pode ser que algum dos nossos leitores traga mais alguma achega...Meio século depois do fim da guerra,  os portugueses devíamos ter direito a saber algo mais sobre este assunto... 

Enfim, temos de quebrar o silêncio dos arquivos:

(...) "Para mais informações sobre a história da Cruz Vermelha Portuguesa e assuntos relacionados, bem como para marcação de visitas aos nossos arquivos, contacte directamente o nosso Serviço Histórico-Cultural pelo email biblioteca@cruzvermelha.org.pt (...)


Cruz Vermelha Portuesa (CVP) - História

Por nomeação do Rei D. Luís I, o médico-militar José António Marques [1822-1884] representou Portugal na Conferência Internacional realizada em Agosto de 1864, em Genebra.

Nesta reunião, deliberava-se sobre a neutralidade "das ambulâncias e dos hospitais, assim como do pessoal sanitário, das pessoas que socorressem os feridos e dos próprios feridos no tempo de guerra.”

Portugal foi, assim, um dos 12 países que assinou a I Convenção de Genebra de 22 de Agosto de 1864, destinada a melhorar a sorte dos militares feridos dos exércitos em campanha.

Regressado a Portugal, José António Marques organizou, a 11 de Fevereiro de 1865, a "Comissão Portuguesa de Socorros a Feridos e Doentes Militares em Tempo de Guerra", primitiva designação da Cruz Vermelha Portuguesa.

No ano seguinte, o Professor Doutor José Maria Baldy (General) daria início à primeira presidência da nossa instituição.
 
Ao longo da sua história a Cruz Vermelha Portuguesa prestou auxílio em todas as guerras e grandes catástrofes que Portugal esteve envolvido. Prestou também auxílio internacional em situações de catástrofes e guerras no estrangeiro.

Fonte: Adapt. de
Cruz Vermelha Portuguesa: breve hostorial


Hospital Cruz Vermelha (HCV)

Inaugurado em 1 de Fevereiro de 1965, teve a sua génese no Hospital de Santo António da Convalescença ou Casa de Saúde de Benfica, mandada construir pela Cruz Vermelha Portuguesa para dar resposta na avaliação, diagnóstico e tratamento dos doentes com graves ferimentos sofridos na guerra colonial, desenvolvendo as áreas da traumatologia e neurocirurgia.

Sempre na vanguarda da prestação clínica o Hospital da Cruz Vermelha, em 1981, inaugurou a Clínica de Hemodiálise e a primeira Unidade de transplante renal, realizando os primeiros transplantes renais e de fígado do país.

Em 1985, o Hospital da Cruz Vermelha passou a dispor de um TAC, que veio contribuir para a melhoria do diagnóstico em várias especialidades clinicas.

Em 1998 o Hospital da Cruz Vermelha foi objeto de profunda reestruturação e modernização.

Continuando desde sempre a apostar nas tecnologias mais avançadas e na inovação técnica dos seus recursos humanos o Hospital da Cruz Vermelha é hoje uma unidade hospitalar de referência a nível nacional.

Fonte: Hospital da Cruz Vermelha


O MNF e CVP


(...) O Movimento Nacional Feminino, dirigiu a acção para os militares activos nos teatros de operações; a secção da Cruz Vermelha Portuguesa dedicou-se principalmente ao apoio aos militares feridos e estropiados, cujo número aumentava e para os quais não havia sistema nem de recuperação nem legislação aplicável. 

Os dois movimentos aproveitaram as boas relações das suas dirigentes com o apoio do regime para incentivar a publicação de leis e normas correctoras de erros e injustiças administrativas, entre as quais se contava a alteração à situação dos feridos em combate, conseguindo que estes não perdessem direito aos vencimentos e aos subsídios de campanha quando evacuados para os hospitais centrais; a revisão das pensões dos deficientes militares, que era regulada ainda pelas normas da 1ª Guerra Mundial; o apoio às famílias dos mortos, que permitindo que os corpos dos mortos fossem trasladados para as terras de origem destes, sem qualquer custo para as famílias; e ainda a legislação de apoio aos militares estudantes.(...)

Fonte: Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21379: (In)citações (168): Por favor não misturem as instituições, o Movimento Nacional Feminino e a Cruz Vermelha Portuguesa (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

Guiné 61/74 - P21379: (In)citações (168): Por favor não misturem as instituições, o Movimento Nacional Feminino e a Cruz Vermelha Portuguesa (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)



Logo da CVP. Cortesia da Wikipedia


1. Mensagem de José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:

 
Date: domingo, 20/09/2020 à(s) 07:24
Subject: Cuidados a serem usados quanto a misturas de instituições


Caro Luís:
 
Dentro do espírito do texto "Não há só dinossauros na Lourinhã "...

Deverá haver cuidados vários quanto a não misturar, ou mesmo associar, o Movimento Nacional Feminino com a Cruz Vermelha Portuguesa. (*)

A criação, estatutos, objetivos, em muito ultrapassavam, e felizmente ainda hoje ultrapassam, a criação e os objetivos do MNF [, Movimento Nacional Feminino].

O MNF,  criado com o fim de propagandear e apoiar o esforço de guerra de um regime. No período referido, um regime retrógrado de ditadura.

Muito se pode debater a figura (carismática?) da Senhora de Supico Pinto e os seus passeios pela Guiné. Assunto certamente tão interessante para as novas gerações como (ou menos),as descrições  de dinossauros.

Para os que "viveram" a guerra da Guiné, quase escreveria os "dinossauros", colocam-se as seguintes perguntas:

(i) Por muito boas que fossem as intenções dos passeios da Senhora de Supico Pinto, quais os seus resultados práticos?

(ii) Quais as melhorias reais obtidas para o dia a dia dos militares visitados?

Certamente que algumas "plumas coloridas" terão adornado as folhas de serviço dos militares organizadores, acompanhantes, e não menos dos  (alguns!) de...alta-graduação.
 
Quanto ao resto lá caímos nas ...Caridadezinhas! (**)

Um abraço,

J. Belo

2. Comentário anterior do editor LG (*):


Temos falado aqui do papel, mais "mediático",  do Movimento Nacional Feminino (que teria, no seu auge, cerca de 80 mil mulheres inscritas), no apoio psicossocial aos combatentes e suas famílias... 

Papel que numa fase inicial (, com o início da guerra em Angola), substituiu a instituição militar nesse apoio,,,, O Exército não tinha pessoal especializado para exercer essas tarefas... Parece que fomos todos apanhados com os "acontecimentos de 1961", quando havia sinais por todo o lado de que o "terrorismo", a "subversão", os "ventos da história", o "nacionalismo" dos povos africanos e asiáticos, o "anticolonialismo", etc,.também chegariam à(s) nossa(s) porta(s)...

Mas temos ignorado a secção feminina da Cruz Vermelha Portuguesa, que apoiou sempre os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Esta instituição teve menos visibilidade na comunicação social...E as suas missões eram mais discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)...

A Cecília Supico Pinto ocupou a ribalta, ofuscou o papel, discreto mas valioso, de outras mulheres... Por analogia com o "eucalipto", poder-se-ia dizer que secou tudo à sua volta... E no entanto irá criticar, no fim da sua vida, a sua biógrafa por falar "excessivamente" da Cilinha... Autocrítica serôdia ?!...

3. Comentário de António J. Pereira da Costa:

Olá,  Camaradas

Mesmo estando a "gastar cera com ruins defuntos", venho recordar que o Movimento Nacional Feminino nunca teve nem no seu auge, nem no sei fim cerca de 80 mil mulheres inscritas.
Se assim fora,  a sua acção teria sido mais eficaz e visível.

No apoio psico-social aos combatentes e suas famílias os resultados foram pobres, como se sabe. Talvez numa fase inicial (no início da guerra em Angola), tenha substituído a instituição militar, mas pontualmente.

O Exército não tinha pessoal especializado para exercer essas tarefas (e nunca teve), mas o MNF também se "desgastou" depressa. Meios materiais também eram escassos e, sendo caros... era necessário embaratecer a guerra, como sabemos.

Fomos todos apanhados com os "acontecimentos de 1961", quando havia sinais por todo o lado de que o "terrorismo", a "subversão", os "ventos da história", o "nacionalismo" dos povos africanos e asiáticos, o "anticolonialismo", etc,.também chegariam à nossa porta...
É isto que é indesculpável, mas foi assim!

Nunca dei pela acção da secção feminina (ou masculina)  da Cruz Vermelha Portuguesa, mas admito que tenha apoiado os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Como? Não sei. Admito que as suas missões fossem discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)... Era interessante esclarecer esta questão e qual a atitude do Governo para com ela.

A Cecília Supico Pinto ocupou a ribalta, ofuscou o papel, discreto mas valioso, de outras mulheres(?)... Quais?

Pelos apoios de que dispunha e pela necessidade do Regime se mostrar apoiado pelas "mulheres portuguesas", foi sempre apresentada como exemplo a seguir, numa manobra de propaganda, pura e simples, que não teve qualquer resultado palpável.

Quem não a viu ou não sentiu a sua acção (a grande maioria), só se deixou enganar com a manobra se desistiu de observar.

Como, já disse, cumpriu o seu papel histórico e nada mais.

4. Comentário de Manuel Carvalho (*):

Caros camaradas,

Um amigo da Tabanca de Matosinhos e do meu Batalhão que foi ferido e passou algum tempo no Hospital Militar em Bissau diz que a Dona Maria Helena Spínola que era a Presidente da Cruz Vermelha na Guiné e nessa qualidade ia muitas vezes ao Hospital visitar os doentes e levava revistas, tabaco, livros e ia perguntando pelos problemas de cada um e ele como tinha sido evacuado por ferimentos estava sem dinheiro, não demorou muitos dias a aparecer lá o 1º Sargento da Companhia e levar-lhe algum dinheiro. 

Todos sabemos que alguns prisioneiros foram libertados por ação da Cruz Vermelha e esta Senhora terá tido alguma influência nisso certamente. 

Estas duas Senhoras, cada uma com o seu estilo,  tiveram na minha opinião uma atividade muito importante no sentido de minorar o sofrimento,  principalmente das nossas Praças que ganhavam miseravelmente mal e qualquer ajuda por pequena que fosse era sempre bem vinda daí a popularidade da Dona Cecília.

Guiné 61/74 - P21378: Parabéns a você (1869): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 15 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21360: Parabéns a você (1868): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

domingo, 20 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21377: Fotos à procura de... uma legenda (131): a borboleta Almirante-vermelho europeu (Vanessa atalanta)...que, para fugir do frio, chega a percorrer distâncias até 2 mil quilómetros









Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2020 > Borboleta diurna, Almirante-vermelho (Vanessa atalanta) (Linnaeus, 1758),  da família dos ninfalídeos, com asas castanhas, com manchas pretas, alaranjadas e brancas...
 
É um extraordinário insecto que desafia todas as leis da natureza e sabe defender-se dos predadores... Aprendamos com a Vanessa atalanta...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No meio das vindimas, aqui na Tabanca de Candoz, e depois das chuvas matinais de ontem, "cacei" (com a máquina fotográfica...) esta borboleta que, não o sabia, se chama "Almirante-vermelho" (devido às suas cores que fazem lembrar as divisas dos marinheiros norte-americanos).

Leia-se na Wikipedia:

(...) O Almirante vermelho europeu (Vanessa atalanta) é uma borboleta da família Nymphalidae encontrada em regiões temperadas da Europa, Ásia e América do Norte. (...=  Medindo cerca de 6,5 centímetros esta espécie durante o frio migra para lugares mais agradáveis chegando a percorrer mais de 2000 km a procura de um ambiente melhor para sua sobrevivência. Voador poderoso desloca-se até mesmo durante a noite.

Esta é uma das maiores borboletas da América do Norte e Europa. Esta presente na Europa meridional, no Norte de África e na Ásia. Recentemente foi introduzida em várias regiões, desde o Canadá ao Hawai e à Nova Zelândia. Em Portugal é bastante frequente podendo ser observada em todo o País.

Os adultos preferem espaços abertos com flores, bosques, prados, jardins e florestas pouco densas. É mais frequente nas zonas baixas, mas pode ser encontrada nas regiões costeiras e no topo da Serra da Estrela.

Esta espécie usa técnicas de camuflagem para escapar de seus predadores. Quando pousa em campo aberto e em rochas mantém suas asas fechadas ficando camuflada devido às cores da face inferior das asas. Quando pousa em locais de flores mantém suas asas abertas confundindo os predadores com o colorido da paisagem.

Alimentam-se de folhas de urtiga, pequenas lagartas, néctar de flores e partes de frutas em decomposição. (...).

2. Fico também a saber, através do portal Wilder:

(...) Mundialmente, estima-se que há entre 160.000 a 175.000 espécies, tanto borboletas diurnas como nocturnas, todas elas agrupadas na ordem dos lepidópteros.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, a esmagadora maioria das borboletas são nocturnas, com cerca de 2.600 espécies inventariadas. Já o pequeníssimo grupo das diurnas representa à volta de 135 espécies. (...)


3.  Comentário do editor LG:

Amigos e camaradas da Guiné, tiro o chapéu à Vanessa!...

Como é que uma borbolea, que tem uma esperança média de vida de escassos meses, consegue uma proeza destas: voar 2 mil quilómetros, incluindo de noite, camuflar-se, despistar os seus inimigos, reproduzir-se e adaptar-se aos quatro cantos do mundo, em países de clima temperado (, não, não existe nos países tropicais, como a Guiné-Bissau, e  também não deve ser visita da Tabanca da Lapónia)...

Esta, que ontem apanhei, numa das nossas videiras, em plenas vindimas, devia estar "cansada": tinha acabado de chover, veio um sol radioso, ela posou numa parra de uva, abriu as asas para relaxar (mas expondo-se, ao mesmo tempo, aos gaios, rouxinóis, andorinhas, etc.)...

Tive tempo de lhe tirar mais de uma dúzia de fotos e de até de fazer um vídeo (que não ficou grande coisa)...Aproximei, até 10/20 cm, a objetiva... Ela devia estar mesmo exausta...Por fim, ganhou fôlego e alento e se calhar partiu para a terra dos mouros, mais a Sul, onde as temperaturas são mais altas... Quiçá, voou para a minha terra, Lourinhã, a 350 quilómetros daqui... Hoje já não a encontrei, apesar de percorrer os camp9s, de muleta numa mão e máquina na noutra!... Como cão por vinha vindimada... (Que tristeza, que nostalgia, a vinha depois de ser vindimada!)...

Há por aqui muito inseto, o que faz as delícias das nossas andorinhas que há várias gerações nidificam na Tabanca de Candoz e têm a "morança", o ninho, mais original que eu até agora vi, uma verdadeira obra-prima de "arquiteto"... Há a igreja do Siza Veira na sede do concelho e o nosso ninho de andorinhas, na Quinta de Candoz...

Fico fascinado por estas pequenas criaturas que nos dão lições de vida!

Guiné 61/74 - P21376: Blogues da nossa blogosfera (140): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (51): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.




 GUERRA NA GUINÉ (PEQUENAS MEMÓRIAS)

ADÃO CRUZ

A Minha Chegada e os Primeiros Três Meses


O velho Uíge atracou em Bissau no dia 13 de Maio de 1966. Entrámos dentro do forno da cidade. Aí aguardei um mês até ao meu destacamento para o mato. Eu e o meu colega e amigo Gomes Pedro, hoje professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Pediatria do hospital de Santa Maria. Ele seguiu para Cuntima, no norte da Guiné, perto da fronteira do Senegal, e eu embarquei para Canquelifá, no leste, próximo da fronteira com a Guiné-Conackry.



Um velho Dakota levou-me até Bafatá. Dentro do avião, além de mim, ia o piloto, o co-piloto que tinha meia cara feita numa cicatriz, uma mulher negra sentada sobre o caixão do filho e um capitão que eu não conhecia de lado nenhum. Este capitão desembarcara momentos antes no aeroporto de Bissalanca, vindo do Porto, e seguia directamente para o mato. Confessou-me que transportava consigo alguma angústia, pois deixara para trás mulher e nove filhos. Três meses depois encontrámo-nos em Begene, no norte. Reconhecemo-nos e tornámo-nos muito amigos. Era o capitão Brito e Faro. De Bafatá segui numa Dornier (foto) até Canquelifá, fazendo uma curta escala no Gabu-Sara, pequena povoação chamada cidade de Nova Lamego. Permaneci em Canquelifá durante o terceiro trimestre de 1966. Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo. Relatá-las levava um livro. Na foto o “corpo clínico”. Eu, o meu furriel enfermeiro Alvim e maqueiros.



Como sempre gostei muito de crianças, deixo aqui apenas três momentos como referência das coisas boas dessa minha estadia, e que são três pequeninos poemas dentre os muitos que em mim floriram nesse tempo.


Fátima Demba, a minha companheira de todos os dias.


Este miúdo, cujo nome já se me escondeu no fundo da memória, percorria semanalmente cerca de vinte quilómetros pelo meio do mato, para me vir consultar, trazendo-me sempre uma velha lata com meio litro de leite. Tinha um fígado do tamanho da barriga.



Os dois gémeos filhos do Anso, dois enternecedores bebés que me preencheram alguns momentos de solidão. O Anso era chefe da milícia integrada na nossa companhia. Emprestava-me, muitas vezes, uma velha espingarda de carregar pela boca, para eu caçar uns patos na bolanha. Constou-me que fora fuzilado após a independência.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21356: Blogues da nossa blogosfera (139): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (50): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P21375: Blogpoesia (697): "Passos perdidos", "O abraço" e "O convite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Passos perdidos

A caminhada mal calculada origina erros e perdas de tempo irreparáveis.
Quando não é a própria vida.
Escolher sempre segundo a nossa aptidão é a condição básica.
Todos temos nossas tendências naturais.
Aquilo onde somos mais capazes.
Aí, é mais provável o sucesso.
Pelo menos o pessoal.
Cada faz como sabe e pode fazer.
Daí a variedade de ofertas.
E a riqueza da convivência.
Poder escolher onde bater à porta com vista a ser melhor servido.
É notória a existência de frustrados sentados por essas cadeiras do poder.
A todos os níveis.
Servem mal.
Lesionam sempre o bem-comum...


Berlim, 16 de Setembro de 2020
10h38m
Jlmg


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O abraço

A força dum abraço
Dois braços que se abraçam pondo fim a uma ausência.
Dois braços que selam o começo duma nova vida.
Acabam bem o que começou mal.
Somam forças para um novo projecto.
Dois caminhos que se cruzaramo para bem duma união.
E, muitas vezes, são a porta duma nova ausência.
Quantas contrariedades poderiam ter-se evitado com um simples abraço na hora exacta.
Sempre abraçada deve permanecer a humanidade.
Só assim será fraterna e justa.


Berlim, 18 de Setembro de 2020
7h47m
Jlmg


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O convite

Dum rosto límpido, pode surgir a simpatia.
Da simpatia pode vir a aproximação.
Da proximidade pode nascer, como planta verde um simples convite.
Depois, se lhe der sol, poderão nascer muitos frutos.
Vigorosamente, poderão multiplicar-se.
Assim se constroem as amizades.
Daí poderá nascer o amor se vencerem as afinidades.
É como um rio.
Quando abastecido por bons afluentes.
Daí ao mar só é precisa a inclinação.
Nas suas margens crescerão, por certo, os prados amplos e as searas verdes...

Berlim, 19 de Setembro de 2020
10h50m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21355: Blogpoesia (696): "África tropical", "Sementes de paz" e "Candelabros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 19 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21374: (De) Caras (163): A Cilinha veio de helicóptero a Nova Sintra, em março de 1973: na despedida estávamos todos a olhar para o helicanhão... (Carlos Barros)



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011).  O terceiro, a contar da esquerda para a direita, "magricelas e de bigode", era o Carlos Barros.

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde  (, não visível na foto).  Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros esclarece agora o "mistério"...
 
Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros


1. M
ensagem do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande, nº 815, natural de Esposende]

Date: sábado, 19/09/2020 à(s) 16:00
Subject: A visita da Cilinha a Nova Sintra, 1973

Luís:

Para não adensar o "mistério", pelo contrário, quero "desmistificá-lo, penso que tenho uma explicação sobre os "olhares" dos militares na despedida da Cilinha do MNF. (*)

Ela chegou de helicóptero e vinha um "helicanhão" na sua proteção e estávamos todos a olhar para o Héli que sobrevoava a pista,  daí a razão da nossa observação e admiração pela atuação do helicóptero na vigilância sobre a mata que circundava o destacamento de Nova Sintra.

Ela fez um discurso sobre o valor e coragem dos nossos soldados, fazendo a "apologia" da Guerra Colonial e não o combate ou crítica à mesma, o que era natural já que o regime assim o exigia.

Estávamos quase todos em tronco nu porque fazia muito calor e o Comandante Interino Alferes Figueira deixava-nos à vontade... O tempo era de guerra e o "rigor da farda" era e tinha de ser "esquecido"... (**)

Um abraço
Carlos Barros

PS - A Cilinha usava aquele estilo de cabelo na sua visita a Nova Sintra. A Segurança, por outro lado,  estava garantida e era dentro do destacamento, perto da pista, que ela foi recebida.


2. Pedido de esclarecimento do editor Luís Graça, em 12/9/2020:

Carlos: Esclarece lá o "mistério" desta foto... Ninguém olha para a Cilinha...Isto deve ter acontecido em março de 1973... Confirma. Um ano depois, em março de 1974,  ela está estava de visita a Nhala...

Mantenhas. Luís
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Guiné 61/74 - P21373: Os nossos seres, saberes e lazeres (411): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Digamos que foi uma visita colateral, os Arcos, em rigor, não faziam parte do universo do meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, a cuja memória estou neste peregrinar. Mas que grande surpresa, que património, que paisagens, que casario, que velhos aldeamentos, até apetecia, houvesse mais tempo, regressar ao Núcleo dos Espigueiros do Soajo, quanto gostaria de pôr os pés no Núcleo do Mosteiro de Ermelo, a lição recebida é de que é indispensável vir com mais tempo, fica sempre uma grande deceção passar como cão por vinha vindimada nestes rincões onde se fundou a nossa nacionalidade, há vestígios da Pré-História, há cultura castreja, há vestígios do início da Idade Média, ruínas de estruturas defensivas. A vila dos Arcos tem templos esplendorosos, como aqui se procura ilustrar, e o ponto alto da visita foi o que se nos deparou do Centro Interpretativo do Barroco, sediado na Igreja do Espírito Santo, uma riqueza que iremos mostrar na etapa seguinte.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (7)

Mário Beja Santos

Desta vez é de vez, vou a Arcos de Valdevez, a terra e seu concelho rarissimamente vinham à baila nas minhas conversas com o meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, mas um amigo comum, Luís Saraiva de Meneses, era dos Arcos e tinha oferecido uma tela a óleo com a casa de família que estava no corredor da entrada da casa do Carlos Miguel, desconhecendo o local da mesma, decretei que a ida aos Arcos tinha o poder simbólico quanto baste. Antes porém, fui bater à porta em Ponte de Lima do escritório de Manuel da Silva Fernandes, um camarada da Guiné, alguém que combateu em Gadamael e resolveu passar a escrito a sua vivência. Já conhecia a sua obra, por portas e travessas, saí do seu local de trabalho com esta lembrança, nós, os camaradas da Guiné, somos mesmo assim.

Preparei-me para a visita aos Arcos, tenho sempre à mão o livro Alto Minho, de Carlos Ferreira de Almeida. No capítulo dedicado a Arcos e Soajo, vejamos a referência histórica: “Valdevez poder-se-á considerar até ao século XII como cabeça da Ribeira-Lima, tal a sua importância estratégica. Era uma região nevrálgica de apoio a uma linha desde Monção a Lindoso, a da fronteira com a Galiza tantas vezes pressionada por Leão. Era a retaguarda dos castelos de Monção, de Melgaço e de Castro Laboreiro. A refrega do Encontro de Valdevez, entre D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, acontecida aqui, perto da Portela do Extremo, bem o elucida”. E chegamos aos Arcos, eram assim descritos como o autor os viu nesses anos de 1980: “Engloba duas freguesias, S. Salvador e S. Paio, que o rio (Minho) separa mas a ponte une. Na margem direita do Vez temos S. Salvador dos Arcos, a mais urbanizada. Tem um importante património artístico constituído por um bom conjunto de igrejas de rico recheio, sobretudo em talha, e meia dúzia de excelentes casas, dos séculos XVII, XVIII e XIX, testemunho das potencialidades das confrarias, da nobreza e da burguesia locais”. E depois enuncia a Capela da Praça ou a Capela da Conceição, arte gótica e seguidamente a Igreja da Lapa, com belíssimo altar. Nossa Senhora da Lapa é a mais esplendorosa igreja dos Arcos, atribui-se o seu traçado a André Soares, mestre bracarense. Tem planta centrada coberta por alta cúpula. No seu interior, três aparatosos altares de cuidada talha rococó. Era poderosa a confraria que encomendou estas obras, e enorme a devoção a Nossa Senhora da Lapa, de origem beirã. Não confundir a Igreja da Lapa com o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, em Sernancelhe.


Altar da Igreja da Lapa

Pormenor do altar

A Capela da Praça é um edifício de grande severidade, gótico rural, deve-se ao abade João Domingues que destinou o templo para sua capela funerária, nos princípios do século XV.



Dois pormenores do interior da Capela da Praça

Houvesse tempo e percorria-se os Arcos a pente fino, como o professor Ferreira de Almeida sugere no seu livro Alto Minho: Igreja da Misericórdia, os Cruzeiros, a Igreja de S. Paio. Contempla-se uma raridade, o pelourinho, do início do século XVI, até 1700 esteve colocado no centro da Praça Municipal, andou em bolandas, aqui está desde 1998. A autoria é de João Lopes, a sua singularidade é óbvia: pilar torso e roca cónica, apresentante um fuste robusto enrolado por três colunelos, colmatado por um capitel em forma de taça. Que beleza!


Que o leitor me perdoe, encaminhei-me, depois de ter andado às voltas do Pelourinho para outro importante templo, a Igreja do Espírito Santo, onde funciona o Centro Interpretativo Barroco. Abriremos o próximo episódio com esta visita, obra de uma outra importante Confraria que pôs de pé esta igreja de tradição maneirista com exterior remodelado no século XIX. Cresce a convicção de que é imperativo retornar a estas paragens, ficam para ver as casas solarengas, percorrer o concelho e avançar para o Soajo, são as casas, são as pontes, os mosteiros, as igrejas e capelas, é um património formidável, fica para a próxima. Vou amesendar e aliviar as fraquezas do corpo, ponho-me a olhar a ponte que liga as duas margens da vila dos Arcos, uma construção de truz datada do século XIX, substituiu uma ponte medieval. É pena não restarem quaisquer elementos arquitetónicos da anterior construção, só referências: tinha quatro arcos de volta redonda e uma estrutura marcadamente românica. Já agora, vamos dar um salto até aqui perto, ao Paço de Giela.


O Paço de Giela assenta num pequeno outeiro na outra margem do rio Vez, é monumento nacional: é um exemplar único de habitação de nobre em meio rural, há à sua volta elementos construtivos que vão desde o século XIV até ao século XVIII. Trata-se de um pequeno castelo rural a quem competia a defesa da fronteira desde os inícios da Idade Média pelo menos até meados do século XI. Foi sobre estas estruturas, entretanto destruídas e abandonadas, que em meados do século XIV se construiu a atual torre, adossada à torre está um edifício habitacional de dois pisos. No final do século XX, o Paço foi adquirido pela autarquia e em 2014 deu-se início à valorização e requalificação do conjunto edificado do Paço de Giela. É indispensável visitá-lo, vir aos Arcos e não desfrutar deste rico património é como ir a Roma e não ver o Papa. Finda a visita, regressamos ao Centro Interpretativo do Barroco. É magnificente, impõe-se uma visita cuidadosa, fica para o próximo episódio.


O Paço da Giela, antes e depois

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21350: Os nossos seres, saberes e lazeres (410): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (6) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21372: (Ex)citações (371): eu, computodependente me confesso: a notícia da minha "deserção"... foi, afinal, um bocado exagerada... (Valdemar Queiroz)



Lisboa > 20 de junho de 2019 > Quatro Lacraus, da esquerda para a direita. Renato Monteiro, Abílio Duarte, Valdemar Queiroz e Manuel Macias, todos ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), mais conhecidos como "Os Lacraus".


Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do "Lacrau" Valdemar Queiroz (*):

Uff!!! 'té qu'enfim|

Já tenho o meu computador arranjado, tal como eu  estava com falta d'ar, teve que levar uma ventoinha nova.

Foram 15 dias de nervoso miudinho, tratava-se duma... computodependência. No meu caso, com a minha doença e, agora, com os cuidados covid, mais dificilmente saía de casa.

O computador para mim é como estar a conversar com os amigos no café, ler jornais, visitar exposições, ir ao cinema ou ao teatro, entrar à conversa com a rapaziada da Guiné aqui no blogue e principalmente comunicar com os meus netos que vivem na Neerlândia.

Dediquei-me à leitura, relendo a "Viagem a Portugal", de José Saramago, por não aguentar os atestados de estupidez dos programas televisivos da SICi e TVI de manhã, casos de polícia e tal, à tarde casos de doenças e tal,  com promoções das medicare privadas que tratam de tudo não se sabendo o que se paga por tudo tratado.

É um autêntico abuso da paciência das pessoas, que levam de manhã com os crimes do 'estava completamente morto' e à tarde com a doença da mulher que abusava do 'coiso'.

Podiam ter a ideia, que aparece no livro do Saramago, nas manhãs dos crimes e tal desvendarem a história do soldado transmontano José Jorge e nas tardes de doenças e tal visitarem a aldeia minhota de Covide,  sabendo se por causa disso têm mais ou menos convidados.

[Abílio] Duarte, exactamente. 
Não me recordo bem se a pequena [, a Cilinha,] nos foi visitar, mas tenho uma ideia daquela "quem é do Benfica?"  e depois oferecia uma bola de futebol.

Está a passar o tempo das sardinhadas e ainda não foi desta que fomos atacar umas aqui prós meus lados.

Ab., saúde da boa e nada de confiança ao bicharoco.

Valdemar Queiroz 

17 de setembro de 2020 às 03:08

 2. Comentário do editor LG:

Valdemar, entendo a tua "felicidade" e partilho-a... Podes crer que já estava a ficar preocupado com o teu estranho e prolongado silêncio... 

Pensei cá com os meus botões: 

"De duas uma, ou o rapaz teve ordem de soltura e foi apanhar o ar fresco do campo, ou então foi 'co(n)vidado' e nesse caso está amarrado a um dessas terríveis máquinas a que chamamos ventiladores, lá nos cuidados intensivos do hospital mais próximo, de que Deus nos livre!"...

Hipótese ainda mais fantasmagórica e inverosímel: sonhei que estavas em Paunca, e que tinhas sido apanhado à unha!... Mas também havia bocas da reação a dizer que tinhas desertado, com armas e bagagens... Afinal, dali ao Senegal era um saltinho, um passeio turístico...

Confesso que não ganhei para o susto... Afinal, foi apenas a "ventoinha" do teu computador que bifou!...  Nada que não se remendeie... embora, no teu caso, sair à rua é uma operação  complicada...

Bolas, já estava a ver os malditos dos jagudis à volta do telhado da tua morança!... É que os gajos cheiram a desgraça a quilómetros de distância.  

Bem vindo a bordo, de novo, camarada!...  E vê lá se ainda vais a tempo de saborear a última  sardinhada do ano, com os bons amigos e camaradas Abílio Duarte, Manuel Macias e Renato Monteiro (**)... Mesmo com os devidos cuidados que devemos todos ter, já que somos todos de maior ou menor risco...

PS - E a propósito da Cilinha... Também não me lembro de a "Senhora" visitar a nossa tropa-macaca da CCAÇ 12... Também não admira, nunca estávamos no quartel, o nosso poiso era o mato... Tambem nunca nos ofereceu nenhum conjunto musical... A nossa música era outra... Nem sequer uma "chicha", para as futeboladas. 


3. Resposta do Valdemar Queiroz:

Luís, obrigado pela preocupação. 

Fosga-se com essa lembrança dos jagudis, julgo que nem esses querem alguma coisa connosco: este é um daqueles que aguentou a guerra na Guiné, pensarão os passarões lá do alto da sua coca.

Foram uns dias lixados, já que estou muito habituado ao uso do computador para tratar dos mais diversos assuntos devido às dificuldades de me deslocar a qualquer lado. (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21364: Memórias cruzadas na região de Gabu: dia de luto para o EREC 8840/72, na visita de Cecíiia Supinco Pinto a Canquelifá em 6 de Março de 1974 (Jorge Araújo)

(**) Vd, poste de 28 de junho de  2019 > Guiné 61/74 - P19924: Convívios (903): Velhos Lacraus, da CART 2479 / CART 11, juntam-se para comer uma sardinhada e recordar: Abílio Duarte, Manuel Macias, Renato Monteiro e Valdemar Queiroz... O Duarte e o Monteiro não se viam há 30 anos...

Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra >  2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Equipa de futebol dos graduados...

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais uma pequena, pequeníssima,  história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815; vive em Esposende, é professor reformado];


Nos tempos livres, no Destacamento de Nova Sintra, respirava-se futebol.

A Equipa de Condutores/mecânicos era a mais "forte" mas os Graduados conseguiam vencer essa equipa... Bem, nem sempre...

Almeida, grande goleador! Os furriéis Elias, Barros, Mendonça, S. Gonçalves,...eram os craques...

Hoje valiam milhões e milhões... de cêntimos!

A fotografia da equipa de futebol é do ano de 1973 (, não tenho registo do mês...) onde se disputavam jogos, sempre renhidos,  de futebol, entre grupos de combate e os célebres jogos entre Condutores e Graduados, com resultados imprevisíveis mas sempre com "Fair Play".

Chegamos a disputar jogos de voleibol e tínhamos um campo de voleibol, muito improvisado, mas dava para entreter...

Carlos Barros
Nova Sintra 1972/74
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Nota do editor:
 
Último poste da série > 14 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas