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quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22197: Usados & Achados: pensamentos para aumentar a nossa resiliência em mais um "annus horribilis" (10): Dia da espiga... para que não nos falte o pão (espiga de trigo), a alegria (videira), a paz (oliveira), a saúde (alecrim), o amor (papoila) e a sorte (malmequer)...






Lourinhã > Tabanca do Atira-te Ao Mar > 13 de maio de 2021 > Dia da Espiga


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já foi, nos anos 30 e 40 do séc. XX, um mar de searas e de vinhas, o concelho da Lourinhã... E havia meia dúzia de moinhos de vento em cada aldeia. Hoje é difícil encontrar uma seara  de trigo (por muito pequena que seja) ou até uma vinha (, mesmo que seja aqui que se produz a famosa aguardente DOC Lourinhã). 

Mas hoje é Dia da Espiga, 5ª Feira da Ascensão. a ascensão de Jesus Cristo ao Céu, segundo a liturgia cristã, 40 dias depois da Ressurreição...Curiosamente, hoje é também, para os muçulmanos, o fim do Ramadão. Saúdo o Cherno Baldé e nossos amigos da Guiné que são crentes e praticantes.

A 5ª Feira da Ascensão deixou de ser feriado (religioso) há quase 70 anos, em 1952, se não erro. Mas ainda sou do tempo de se ir colher a espiga neste dia... Logo pela manhã, ia-se em alegre passeio pelos campos colher espigas, de modo a formar um ramo que devia  incluir  cereais (, com destaque para o trigo), flores campestres (papoila, malmequer, alecrim...) mas também   um pedacinho de  oliveira e de videira,,, 

Os nossos pais e avós ensinavam-nos que cada elemento do ramo do Dia da Espiga tinha um significado ou simbologia próprios: (i) espiga=pão; (ii) videira=alegria; (iii) alecrim = saúde; (iv) oliveira=paz; (v) papoila=amor; (vi) malmequer= sorte, fortuna...

Os povos, e nomeadamente em meio rural, marcados pelo ciclo do solstício do inverno e o solstício do verão,   precisavam destas "festividades cíclicas"... Hoje, citadinos (e globalizados), o nosso "imaginário" é outro... se é que ainda temos "imaginário".  

Recordo-me ainda, na casa dos meus tios da aldeia do Nadrupe e da Quinta do Bolardo,  de o ramo da espiga ser colocado por detrás da porta de entrada, para dar sorte, devendo ser substituído por um novo no ano seguinte. No campo respeitava-se este feriado, não trabalhando. Nalguns concelhos do País, e nomeadamente na Estrmadura e no Ribatejo, ainda hoje é feriado municipal.

Hoje a Alice Carneiro e a Maria do Céu Pinteus, mulheres grandes da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!),  no seu passeio matinal, foram colher a espiga da tradição. Para que não falte,  a todos os tabanqueiros das tabancas da Tabanca Grande,  sorte, saúde, amor, alegria, paz e pão neste ano de 2021...e se realize o nosso desejo de voltar à normalidade das nossas vidas depois de um ano e tal de pandemia de Covid-19, que fez estragos na nossa saúde, nas nossas vidas e nas nossas fileiras!... (LG).

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22196: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A: Depois de Estremoz, fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para o CTIG

 


Foto nº 1 > Portalegre > Convento de S. Bernardo - Séc. XVI > 2021


Foto nº 2 > Portalegre> Arcadas do Convento de S. Bernardo (séc. XVI) > Os belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), fazendo lembrar a belíssima Estação de S. Bento, Porto) > 2021 > A Isabel apontando um pormenor para as esposas de outros camaradas num dos encontros da companhia, neste caso em Portalegre, organizado pelo camarada Parola 

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex- furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A (*)

 
Depois de Estremoz fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para a Guiné (**)

   

Portalegre, de passagem... com direito a fotografia...e discurso

 


Foto nº 3 > Portalegre > 1972 > Uma “carinha” de Lobito 
e um boné de “General”. Foto tirada com o boné do sargento Redondeiro.



Foto nº 4  > Portalegre > 1977 > Resquícios do efeito do “cacimbo” da Guiné... 
Com a minha Diane percorri “seca e meca” no Alentejo


 

Com o fim da instrução em Estremoz (RC3) (**), fomos “despejados” para o quartel de Portalegre,  instalado no Convento de São Bernardo, do Século XVI, com belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), a maior parte deles apresentando cenas da vida de São Bernardo (fazendo lembrar a bela e “mui nobre”, estação de S, Bento no Porto), para permitir o início da instrução de novas companhias.

Permanecemos neste magnífico convento muito pouco tempo (antes que nos transformássemos em monges!!!) a aguardar embarque para a Guiné. O tempo suficiente para tirarmos umas fotografias, com o boné do sargento Redondeiro, que enchemos com folhas de jornal para o mesmo não se enterrar até ao pescoço nas nossas cabeças, para o nosso novo cartão de militar. (Foto nº 3).

Foi aqui que o mesmo sargento, de fisionomia a condizer com a patente, grande e gordo, com uma avantajada barriguinha, decidiu, dado a sua experiência de outras comissões, fazer o discurso de despedida, antes de rumarmos a Lisboa para o embarque. Era suposto um discurso a chamar ao patriotismo mas ao mesmo tempo de ânimo e de tranquilidade e de que tudo iria correr pelo melhor. Contudo o discurso saiu completamente ao lado ao começar logo por dizer:

- Caros militares, infelizmente, alguns de vocês não voltarão a casa…

O moral de todos aqueles rapazes bateu no fundo, pelo que a nossa tarefa, durante e todo o dia, recorrendo aos nossos conhecimentos de psicologia (que não eram nenhuns) e também afetados por aquele discurso, de alguém que sabia do que estava a falar, foi tentar recompor-se e recompor o pessoal.

O Redondeiro, juntamente com um seu colega Pereira (únicos militares de carreira apenas com tarefas logísticas), foram sempre bons camaradas. O Redondeiro desde o primeiro dia assumiu o papel de “paizinho” da companhia. Recordo-o aqui com muita saudade e ternura.

O pouco tempo que aqui permanecemos não deu para conhecer esta bela região alentejana e o seu fantástico triângulo: Portalegre, Marvão, Castelo de Vide. (Vd. fotos da nossa visita em 2021: Nºs 1,2, 5,6,7,8)

Só me lembro da nossa infantilidade ao entrarmos na escola secundária, em frente do quartel, “matando o tempo”, deliciando-nos com os nomes, para nós, invulgares, mesmo bizarros, dos alunos afixados nas pautas, e, quem sabe, arranjar uma (ou mais) madrinha de guerra…

Esta ida à escola foi premonitório já que no ano letivo de 1977/78, fui colocado nesta mesma escola (nesta cidade lecionou José Régio – reclamado por Vila do Conde onde nasceu e por Portalegre onde viveu, sempre no meio da sua imensa coleção de Cristos), onde conheci a minha mulher (na altura professora de matemática de uma das minhas turmas), pelo que esta região ficou para sempre marcada, pela positiva, nas nossas vidas. Em 72 não houve madrinha de guerra mas em 79 houve casamento…

O contacto com os invulgares nomes dos alunos afixados nas pautas no ano de 1972 não me livrou de pequenos percalços em 1977:  logo no primeiro dia de aulas, como era habitual, promovi as respetivas apresentações, com um aluno, de sorriso rasgado, apresentando-se como (V)Bagina. Fiquei à espera de um “bruaá” na sala, que não aconteceu. Como bom nortenho, escrevi Vagina na minha caderneta;

Na apresentação dos professores do meu grupo disciplinar, um dos mais efusivos apresenta-se como Lacão. Devido à minha surdez do ouvido direito (ainda hoje penso que devido aos disparos do canhão sem recuo no fogo real para a ilha de Tavira) entendi “Lacrau”. Passei todo o meu tempo de Portalegre a chamar Lacrau ao homem e ele, como bom alentejano, nunca nada me disse!

Nada me tira o meu Minho (… e o meu Douro vinhateiro e...) mas o Alentejo e os Alentejanos estão no meu coração, inclusive o homem que “deitou abaixo” o meu pequeno garrafão de verde tinto nos longínquos anos 60 a caminho de Ermidas Sado. (**)

Na passagem em trânsito para a Guiné, em 1972, não deu para conhecer a bela região do Alto Alentejo, desforrando-me “à tripa forra” em 1977/78.

Jamais esquecerei:

• as tertúlias na esplanada do Tarro, depois do jantar, até que os funcionários arrumando as mesas vazias e limpando o lixo debaixo dos nossos pés nos davam ordem de saída;

• o cimbalino (termo que sempre fiz questão de utilizar, com o empregado sempre retorquindo: uma bica?) depois do almoço no café “Facha”, em frente ao imponente plátano, lendo as gordas do jornal da casa;

• uma ou outra vez tomando o cimbalino, depois do jantar, no café Central, a meio da rua direita, mas que é muito “torta”, onde grandes jogadores de xadrez se juntavam;

• um pingo (com o empregado sempre a retorquir: um garoto?) e uma nata, a meio da tarde, no lindo e histórico café Alentejano (felizmente hoje ainda aberto e mantendo o mesmo “glamour”), em frente à estátua do “Semeador” namorando […]; 

• as tardes mais quentes passadas debaixo do frondoso plátano (hoje quase monumento nacional), namorando […];

• o lanche com um grupo de amigos habituais (no qual se incluía o “Lacrau”!), depois dos jogos de futebol, na tasquinha do Marchão, bebendo umas espetaculares imperiais (que eu insistia em chamar finos) acompanhadas com perninhas de rã (que eu nunca fui capaz de comer) e umas divinais empadinhas de frango, que eu devorava com sofreguidão;

• as idas a um magnífico restaurante na Serra de S. Mamede, do qual já não me lembro o nome, com paragem obrigatória no magnífico miradouro...para namorar;

• a Pensão 21 onde me instalei com outro colega e amigo de Viana do Castelo. Aqui fomos tratados como filhos pelo proprietário (o Sr. Mourato) e pela simpática empregada que nos servia as refeições. No dia em que decidimos fazer um estendal, na varanda do quarto, com as nossas cuecas a secarem ao sol, foi o dia em que não só o proprietário e a empregada bem como todos os hóspedes ficaram definitivamente rendidos aos jovens e prendados professores do Minho!;

• as refrescantes idas a uma fonte de água pura e fresca; nos dias de maior calor, a caminho da serra, onde sempre éramos alertados por simpáticas mulheres que aí vendiam fruta; que no alto da sua sabedoria espelhada nos seus cabelos brancos, que bebendo água da fonte o feitiço o ligaria ao Alentejo pelo casamento; o meu amigo de Viana do Castelo casou com uma jovem e simpática professora de Marvão (Escusa) e eu com a Isabel, uma alfacinha de Alcântara,  (embora natural de Idanha), professora também deslocada na cidade, ou como diz o provérbio, “Tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia fica lá a asa”!!!

• as idas às tasquinhas da Serra de S. Mamede, onde aprendi a letra do “Fado do Embuçado” (2);

• o calcorrear, milímetro a milímetro das ruas e tasquinhas de Marvão e Castelo de Vide;

• as incursões a , Elvas, Alegrete, Monforte, Nisa, Vila Viçosa, Campomaior, etc.;

• um fim de semana passado na casa de um colega de Évora, comendo uma divinal sopa de Cação preparada pela sua simpática esposa; a  noite passada numa taberna, estilo Zé d’Alter (2), onde o fado aparecia de onde menos se esperava devorando um magnífico gaspacho; terminando a noite a ver nascer o Sol numa das zonas altas da cidade;

• a abordagem de uma patrulha da polícia, às 4 horas da manhã quando esperava-mos o nascer do sol, pedindo-me a carta de condução, que tinha ficado na pensão, o BI, o título de propriedade da minha Diane, que também não tinha - com o polícia já desesperado a pedir, qualquer documento com fotografia que também não tinha. Dada a minha calma, adocicada com algum humor nortenho, o polícia esboçou um sorriso dizendo: parecem boas pessoas aproveitem bem o fim de semana em Évora;

• uma incursão a Badajoz com o regresso já com a fronteira fechada (chegamos 5 minutos depois da meia noite), voltando a Badajoz, esperando a abertura dos primeiros cafés para o pequeno almoço e acelerar para a primeira aula da manhã;

• assistir ao dérbi da cidade entre os Estrelas de Portalegre e o Desportivo Portalegrense com as rivalidades levadas ao extremo durante o jogo, mas logo esvaziadas nas inúmeras tabernas da cidade;

• participar numa manifestação contra a Lei Barreto, já com o PREC a perder força, com direito a carga policial (e tudo o mais a que tinha-mos direito nestas manifestações…) com fuga ao cassetete com o meu amigo deixando a sua mala de engenheiro para trás;

• as viagens de comboio (sempre adorei viajar de comboio) a caminho de casa nas pausas escolares na direção: Chança, Mata, Crato… e no regresso ao Alentejo na direção: Crato, Mata, Chança...como gostavam de dizer os portalegrenses;

Viajo de comboio sempre com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira vez. Com o comboio cheio de gente sinto-me personagem de um filme no meio de um turbilhão de cenas do quotidiano. Sozinho sinto-me numa sala de cinema vendo passar o mundo lá fora pela janela do comboio como se de uma tela se tratasse.

Durante as viagens faço sempre um esforço tremendo para não adormecer, já que um minuto dormido é um minuto não vivido.

Nos primeiro anos depois da Guiné vivi sofregamente os dias, “engasgando-me” aqui e ali na ânsia de agarrar o mundo todo num só dia. Fui há procura de resgatar os três anos “roubados” da minha juventude, até hoje ainda não devolvidos.


Foto nº 5 > O famoso Plátano de Portalegre. Candidato, em 2021, a árvore da Europa > 2021

 

Foto nº 6 > Castelo de Vide > 2021


Foto nº 7 > Marvão > 2021 > A Isabel, minha esposa



Foto nº 8 > Portalegre > Café Alentejano, um dos “ex libris” da cidade > 2021 (1)

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor:

(1) O Alentejano não é apenas um café mas um museu. Um museu vivo, que recupera memórias de gentes e de acontecimentos. O Café Alentejano foi concebido pelo pintor e decorador Benvindo Ceia, o maior artista de Portalegre, embora tenha sido depois ligeiramente alterado o projeto original. É precisamente o Alentejano, aquele que José Régio mais frequentou, de onde há notícia mais exata pelo relato escrito de David Mourão-Ferreira sobre os belos bifes que ali saboreavam, é precisamente o Alentejano que se mantém quase idêntico a esses tempos distantes mais de meio século.

(2) ...Aproveitando o descanso de um dia de instrução, reunimos um pequeno grupo de amigos e lá fomos à taberna do tão falado Zé D’Alter , para beber uns canecos e ouvir o afamado fado espontâneo. Entramos, e logo nos apercebemos que não estávamos a entrar em mais uma taberna mas sim numa casa onde estavam reunidos um grupo de amigos, tal a cumplicidade dos presentes: pessoal da terra e muitos militares. Todos falavam com todos ninguém servia ninguém cada um servia-se, da pipa, do garrafão, do tacho, da frigideira etc. Ao terceiro copo já um representante da terra dava o mote ao tocar uns acordes na sua viola cantando, timidamente, o primeiro fado da noite. O esvaziar das canecas libertou os fadistas espontâneos e já todas se achavam capazes do seu número. O ambiente foi aquecendo ao ponto do Zé D’Alter dar um murro na mesa e dizer: "Silêncio, que isto agora é para quem sabe!"... Fez-se um silêncio de ouro e o fado surge na sua nobreza e pureza maior da taberna na voz do Zé D’Alter. No fim houve palmas, lágrimas e vivas ao fado…e ao Zé.

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Notas do editor:

(*) Vd. útimo poste da série > 1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

Restantes postes da série > 


24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22195: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (85): Pedido de colaboração a pessoas maiores de 18 anos, pertencentes a qualquer país da CPLP para participar num inquérito sobre aspectos psicológicos associados ao bem-estar: resposta anónima e confidencial, demorando cerca de 20 minutos (Prof Doutor Henrique Pereira, Universidade da Beira Interior, Covilhã)


1. Mensagem de Henrique Pereira, psicólogo clínico, professor e investigador da UBI - Universidade da Beira Interior:
 
Date: domingo, 9/05/2021 à(s) 12:25
Subject: Pedido de Divulgação - Solicitação de participação em investigação
 

Olá. Estamos a realizar uma investigação, cujo objetivo é avaliar os aspetos psicológicos associados ao bem-estar, ajustamento, risco psicossocial e fatores protetores em cidadão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 

 

Este inquérito está dirigido a pessoas:


(i) com 18 anos de idade;


(ii)  e que vivam ou sejam nacionais de um dos países da CPLP: 


Portugal

Brasil

Cabo Verde

Angola

Moçambique

Guiné-Bissau

São Tomé e Príncipe

Macau

Timor-Leste. 

 

Para participar, só tem que clicar no link abaixo (que é seguro) e seguir todas as indicações: 


Ajustamento, Risco Psicossocial e Fatores Protetores nos cidadãos da CPLP

 


Desde já muito obrigado pela participação e divulgação pelos seus contactos.

Henrique Pereira, Ph.D.

Professor Associado com Agregação




Departamento de Psicologia e Educação - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
Universidade da Beira Interior | Covilhã | Portugal
Ψ 2001-2021: 20 anos de Psicologia na UBI
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22194: Historiografia da presença portuguesa em África (262): Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (4) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Abril de 2021:

Queridos amigos,
Atenda-se a uma expressão lapidar de Chelmicki neste documento: “Eis aqui o que nos resta depois de 400 anos de posse; miseráveis presídios, nenhuma indústria, falta de comércio e de cultura, um deplorável estado de ruína. Tudo, tanto nas Ciências e Artes, como nas administrações, não tendo melhoras, não tendo progressos, ficará estacionário, em breve é retrógrado. Portugal, com os olhos fitos no novo hemisfério com a riqueza das minas, não se importou com as possessões africanas. Aquelas estão perdidas para sempre, mas com estas que ainda existem na posse, Portugal, em poucos anos, com boa administração, tornará a ganhar o seu esplendor".
O documento de Chelmicki é de um diagnóstico frio e sem concessões, mas não lhe falta sonho, ele admite que a ocupação da possessão explorará as enormes potencialidades que a terra oferece. Bem curioso neste documento, e naturalmente compreensível, nunca se fala no que o mar oferece, os estudos hidrográficos eram incipientes, pensava-se que aquele peixe dos rios era bom para a subsistência das populações, não se imaginava minimamente a riqueza das pescas da Guiné. Pois este documento procura cativar o decisor político para apostar na fertilidade da agricultura guineense. Mas exigia-se uma renovação de métodos, uma administração eficiente, e Portugal ainda caminhava vagarosamente para uma nova etapa de desenvolvimento, a Regeneração. Esta Corografia Cabo-Verdiana é verdadeiramente o retrato da Guiné da primeira metade do século XIX, magistralmente complementado com a Memória sobre o estado atual da Senegâmbia Portuguesa de Honório Pereira Barreto.

Um abraço do Mário


Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (4)

Mário Beja Santos

José Conrado Carlos de Chelmicki é autor da "Corografia Cabo-verdiana ou Descrição Geográfico-Histórica da Província das Ilhas de Cabo Verde e Guiné", em dois volumes, tendo sido o primeiro publicado em 1841. Este Tenente do Corpo de Engenharia nasceu em Varsóvia, é um jovem quando vem combater pela causa liberal em Portugal, distingue-se pela sua bravura, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, da Torre e Espada, de Nossa Senhora da Vila Viçosa, igualmente condecorado em Espanha, distintíssimo oficial colocado em vários pontos do país, deve-se-lhe uma obra singular, uma descrição ampla e certamente documentada de uma Guiné que poucos anos depois da publicação dos Tomos I e II é alvo de um documento que vem confirmar o que ele observara na sua digressão numa Guiné sem fronteiras, refiro-me concretamente à Memória da Senegâmbia, de Honório Pereira Barreto.

São dois volumes com o recheio precioso de informação, já descreveu uma súmula histórica, percorremos os dois distritos da colónia, Chelmicki alertou para as potencialidades agrícolas, ao tempo o tráfico de escravos caminha para o fim, era crucial encontrar alternativas, atrair investimentos, trazer mais gente. Ao contrário de outros autores, ele não amesquinha o labor indígena, dignifica-o, veja-se como ele fala do artesanato, e com que entusiasmo:
“Quanto à Guiné, nos estabelecimentos portugueses é impossível procurar vestígios de indústria. Não podemos dizer o mesmo dos indígenas: denotam grande aptidão para todos os ofícios mecânicos. Assim os Mandingas Mouros são muito engenhosos. Fiam, tecem, e matizam panos de algodão, ainda que não com a mesma perfeição dos das ilhas de Cabo Verde. São ferreiros, carpinteiros, sofríveis serralheiros. Vi uma espada feita à imitação das nossas, que nada talvez deixava a desejar. Cortam bem os couros e peles, dão-lhes cor, e imitam perfeitamente a marroquim e cordovão. Fazem bolsas para caça, polvorinhos de chifres, primorosamente cobertos com couro. Consertam células, fazem bolsas como carteiras para arrecadar papéis, âmbar, ouro, coral, etc. Encontram-se não menos hábeis ferreiros fazem estruturas para portas, armas de guerra, freios, estribos, esporas, etc.”

Fala também do azeite e vinho de palma, das operações de extração, refere a existência de uma cerveja de milho, e mais adiante escreve: “Os Balantas fabricam sal, fervendo água do mar em tachos de barro. Este sal é claro, mas muito miúdo, pelo que apesar de haver o das ilhas de Cabo Verde, este é preferido pelo gentio. Os Jalofos fazem também a tinta de anil, quase do mesmo modo como em Cabo Verde. Apanham as folhas dos arbustos, antes da sua fortificação, e só a quantidade necessária para tingir imediatamente os seus panos, dos quais, como fica dito, são mui formosos e tão tintos que ficam parecendo cetins”, citando André Alvares de Almada. Noutro lugar, voltará a exaltar a panaria, deste modo: “Os panos, tecidos e colchas atraem a admiração de todos os viajantes, por bem-feitas, cores lindas e lindos lavores: porém, sobretudo, pela maneira como são fabricados”. Descreve minuciosamente o modo de fiar, o tipo de tear (peça única, com muitas camas, feito a obra de arte e o tear vai para o fogo) e carateriza depois os panos: “Estes panos são de algodão, só ou misturado com lã ou seda. Compõem-se de seis ou mais bandas de um pé de largura sobre seis ou oito de comprimento: cozidas umas às outras pelas ourelas, conforme a largura do pano que se quer ter”. Falando da organização militar e do sistema defensivo, dá-nos igualmente informações preciosas. “Numa parte da província, como em Guiné, estão os nossos presídios cercados de hordas selvagens, e são expostos aos seus insultos, ataques e diárias depredações e rapinas”.

Fala do desgraçado estado da Guiné, diz mesmo que presenciou os insultos com muita frequência, tanto dos aliados da Europa como dos gentios da Guiné, e conta uma história que é eloquente:
“No ano de 1836, entrou no porto de Bissau, a esquadrilha francesa de Gorée com artilharia carregada e morrões acesos, exigindo certa quantia, que o governador francês do Senegal quis extorquir do Sr. Caetano Nozolini, negociante português estabelecido nesta praça. Este, suspeito de ter influído para a morte de um capitão mercante francês, chamado Dumège, estava naquela ocasião perante os tribunais de Lisboa, por exigência das mesmas autoridades francesas, livrando-se desta acusação. A esquadrilha fundeou defronte da fortaleza, ameaçando de romper o fogo, não sendo imediatamente pagos os 10 mil francos em que o tribunal de Gorée condenou o Sr. Nozolini. Como, porém, o dito senhor estava ausente, e o governador, ou aliás um negociante que interinamente fazia as suas vezes por 800 mil reis por ano, e por isso não podia com a alma mercantil combinar sentimentos mais nobres, em lugar de repelir agressão tão nefanda, declarou aos piratas visto existirem ali os armazéns do Sr. Nazolini podiam-se indemnizar com as suas mãos; o que não tardou. Oficiais e marinhagem saltaram em terra, e carregaram para bordo couros, peles, marfim, arroz e o mais que acharam. Esta carga foi à praça em Gorée, e depois pagas as despesas e custas da justiça, algumas moedas que sobraram foram religiosamente restituídas. Culpado decerto foi o Governo em não ter resistido; mas mesmo ainda que fosse outro, a artilharia quase toda até sem reparos, e uns 60 pretos, vulgarmente chamados soldados, descalços e nus, com armas que em maior parte não podem mandar fogo, constituíam a guarnição. No ano de 1839, o mesmo Sr. Nozolini roubou uma corveta inglesa da Serra Leoa, uma escuna fundeada no porto da Ilha de Bolama, bem como 200 escravos que lá trabalhavam na roça. Quando voltará o Marquês de Pombal para reprimir semelhantes ultrajes!”

Chelmicki vai fazendo súmulas ou pontos de situação, é irresistível o que ele escreve depois de uma descrição pormenorizada a ilhas do arquipélago dos Bijagós em que há presença portuguesa:
“Eis aqui o que nos resta depois de 400 anos de posse; miseráveis presídios, nenhuma indústria, falta de comércio e de cultura, um deplorável estado de ruína. Tudo, tanto nas Ciências e Artes, como nas administrações, não tendo melhoras, não tendo progressos, ficará estacionário, em breve é retrógrado. Portugal, com os olhos fitos no novo hemisfério com a riqueza das minas, não se importou com as possessões africanas. Aquelas estão perdidas para sempre, mas com estas que ainda existem na posse, Portugal, em poucos anos, com boa administração, tornará a ganhar o seu esplendor. Consideremos as possessões da Guiné como colónias comerciais e agrícolas, isto é, de cultura de plantas exóticas. Elas estão em muito melhor situação que as inglesas e francesas. Cinco grandes rios, como o de Casamansa, S. Domingos (Cacheu), Geba, Rio Grande (Buba) e Nunez (Guiné Conacri), navegáveis muito para o interior, oferecem fáceis meios de navegação. Ocupando as embocaduras destes rios com pequenos fortes, cuja construção muito pouco custará ao Governo, em razão da sua utilidade, dilataremos a fronteira marítima desde o Rio de S. Pedro até ao Cabo da Verga, e proibindo de facto a exportação de escravos de toda esta costa, os habitantes voltarão às pacíficas ocupações de agricultura, retomarão o nobre e perdido caráter da humanidade; penetrarão as Artes, indústria e comércio nestes selvagens mas férteis países, e Portugal senhor de todos estes rios conservará facilmente o monopólio desta nova esfera de atividade.
As ilhas do arquipélago adjacente dos Bijagós, habitadas hoje por uns ferozes negros, em breve, de facto, serão sujeitas à Coroa Portuguesa que, assim, antes de 100 anos, concluída esta grande obra de civilização, contará aqui mais de um milhão de súbditos.
Os terrenos obtêm-se com facilidade dos indígenas: estes devem ser repartidos em grandes sesmarias, a proprietários ricos, zelosos do bem público e inteligentes nos seus interesses. Mandem-se vir colonos da Holanda, Suíça e Alemanha, de onde eles trarão a indústria e civilização, e aumentarão assim a população branca sem diminuirmos a do Reino. Favorecendo o Governo os açorianos, eles hão-de preferir estabelecer-se aqui, e com trabalho, sabendo que o ganho é deles, enriquecer-se em pouco, do que servirem de escravos brancos aos brasileiros. Os degredados formarão debaixo da polícia colónias agrícolas militares; e assim após o acréscimo da agricultura e comércio, teremos força real”
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(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE MAIO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22172: Historiografia da presença portuguesa em África (261): Corografia cabo-verdiana das ilhas de Cabo Verde e Guiné, 1841-1843 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22193: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - XVI (e última) parte: epílogo: 4 baixas mortais em combate, 7 Prémios Governador da Guiné... O número de baixas infligidas ao IN é impressionante: 178 mortos e 49 prisioneiros



1. Começámos a publicar, há mais de seis meses, em 17/11/2020, uma versão da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamego e Guiné, 1966/68), a primeira, de origem metropolitana, a operar no CTIG. (Hão de seguir-se lhe, até 1974, mais as seguintes: 5ª, 15ª, 16ª, 26ª, 27ª, 35ª, 38ª e 4041ª CCmds.)


O documento mimeografado, de 42 pp., que nos chegou às mãos, é da autoria de João  José Marques Borges, ex-fur mil comando, infelizmente já falecido (em 2005), e que vivia em Ovar. (Foi ferido em combate, em 14 de abril de 1967.) Trata-se de um exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória: "Quanto mais falamos na guerra, mais desejamos a paz. Do amigo João Borges".

Uma cópia foi entregue pelo José Lino, ao nosso blogue, para publicação. Publicamos agora a parte final do documento (*), expurgada apenas do quadro das punições, por razões éticas, de direito ao bom nome, ao sigilo e à proteção da privacidade dos nossos camaradas da 3ª CCmds.

Acrescentaremos só o seguinte: 

(i) foram punidos 12 militares, dois mais do que uma vez;

 (ii) na lista não aparece o nome do Dionísio S. Cunha, cuja histórica "rocambolesca" já aqui foi contada por ele e pelo José Ferreira da Silva (**); 

(iii) as punições representaram um total 85 dias de prisão disciplinar, e 55 dias de detenção.

 O pessoal da 3ª CCmds regressou a casa em 29 de abril de 1968.


História da 3ª Companhia de Comandos
(1966/68)


3ª CCmds
(Guiné, 1966/68) / João Borges


XVI (e última) parte (pp. 37 - 42 )













 

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Notas do editor:

(*) Último de 18 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22114: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte XIV: atividade operacional, abril de 1968, destaque para a penúltima operação, a Op Rolls Royce, em Salancaur, corredor de Guileje

(**) Vd. 5 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21855: O segredo de... (34): Dionísio Cunha, desertor e bravo soldado comando (testemunho recolhido por José Ferreira da Silva)

terça-feira, 11 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22192: 17º aniversário do nosso blogue (10): por que é que das "lavadeiras" ao "sexo em tempo de guerra" vai um passo ? (Carlos Arnaut / Cherno Baldé / Luís Graça)


Baião > Ancede > Mosteiro de Santo André de Ancede > Mosteiro, masculino, cuja origem remonta aos primórdios da nacionalidade,,, Vale a pena uma visita,,, Está em restauro, com projeto de Siza Vieira... São quase mil anos de história que nos contemplam e nos confrontam ... Faz parte também da "rota do românico" (Vale do Tâmega)...

Mas tem também uma capela, octognal, do séc. XVIII, chamada do "bom despacho", que merece uma visita especialmemte guiada... Foi lá que descobrimos  a 'anjinha de Ancede', que parece passar despercebida aos visitantes e aos guias locais (*)... Uma delícia, essa e todas as demais peças da arte barroca popular, sob a forma de cenas de teatro, relativas aos mistériso da vida de Cristo... com destaque para a cena da circuncisão do menino Jesus...  Questão do foro teológica com muitos século, entre os cristãos, é a a discussão (por vezes acolarada, apaixonada e dramática) do "sexo dos anjos": são meninos ou meninas, ou não têm sexo ? Se são meninas, faz-se a "infibulação" (ou cobre-se com um véu para "tapar as vergonhas", os "pipis", ou o "pito", como se diz no Norte em bom calão); se são meninos... "cortam-se... as pilinhas", como aconteceu há décadas na igreja da frequesia de Paredes de Viadores, Marco de Canaveses (!)... (A arte islâmica tem  uma vantagem: não permite a figuração, seja humana, seja animal...)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste P22173 (**)

(i) Carlos Arnaut  
 
Caro Luís: curiosa a questão das lavadeiras e o imaginário da contratação de "só roupa" ou "corpo todo".

Por tudo o que fui ouvindo ao longo da comissão, embora a amostra ao inquérito seja pequena, acredito que as percentagens encontradas estejam muito próximas da verdade . Acredito ainda que um contrato que englobasse a cláusula "corpo todo",  fosse mais fácil de conseguir com umas etnias do que com outras. 

Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem, pelas razões conhecidas,  o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura. Mais uma variável, a étnica, para aprofundamento do estudo. 

A minha lavadeira, ao longo de 21 meses, desde que passei a comandar o 16º Pel Art, foi sempre a mesma, mulher do meu municiador Bona Baldé já referido anteriormente, e que sempre tratou da minha roupa com um desvelo sem par. (...)

6 de maio de 2021 às 12:23


(ii) Cherno Baldé

 Caro Arnaut,  interessante o teu ponto de vista sobre a variável étnica, mas não no sentido em que tu referes: "Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem pelas razões conhecidas o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura". 

Na Guiné do periodo da guerra colonial ou na Guiné-Bissau actual, não existiu antes e não existe hoje nenhuma etnia em relação a qual "o sexo pouco ou nada dizia", isto não existia em África. É um fenomeno que surgiu com o período colonial e se acentuou com as independências e o alargamento da globalizaçao. 

Sociologicamente falando, o sexo sempre foi e ainda é um importante factor sócio-cultural que as sociedades, de uma forma ou outra, tentaram e tentam regular ou controlar de forma a influenciar o comportamento da reprodução e sustentabilidade das mesmas, assim como manter um nível aceitável de saúde materno-infantil. 

Em África, muitas vezes, o sexo estava ligado não só à procriação dos filhos, mas também à dinâmica da produção económica,  ou seja, na orientação dos mais jovens e mais fortes em relação ao factor trabalho,  etc. De modo que, e aí concordo, pode-se estudar o comportamento das mulheres usando as variáveis étnica e, talvez religiosa, no sentido de saber que factores podiam entrar nesse jogo, assim podemos questionar: 

(i) Quais eram os grupos populacionais ou étnicos maioritários no território em geral ou em determinadas regiões? 

(ii) Quais eram os grupos mais próximos em termos de aliança estratégica com os Portugueses e que mais facilmente podiam interagir com os soldados metropolitanos? 

(iii) Em que grupos populacionais os casos dos "filhos de vento" foram mais numerosos ?

(iv)  Quais eram as confissõs religiosas desses grupos populacionais e em que medida o factor religião facilitava ou dificultava a interaç~zo com os militares portugueses? 

A análise dos outros aspectos sociais como a maior ou menor dependência das mulheres e/ou a liberdade sexual entre outros, ja são mais difíceis de avaliar. Por exemplo, é geralmente consensual a opinião segundo a qual a mulher Bijagó é a mais livre e autónoma e, logo a seguir, vem a mulher Balanta e Manjaca. 

De todas, as mulheres muçulmanas são consideradas as menos livres e com menor grau de autonomia de decisão, aparecendo em primeiro lugar as mulheres Fulas, seguidas das Mandingas e outras da mesma religião. Todavia, dos casos de filhos vivos de portugueses com nativas que conheci, as mulheres muçulmanas (sobretudo fulas) aparecem em primeiro lugar, logo seguidas das Balantas (animistas) e em terceiro lugar vem as Manjacas (animistas). 

Mas, eu não me coloco no lugar de um estudioso desta matéria, pois eu, sendo nacional e pertencente a uma região e a um certo grupo étnico,  não posso ter o distanciamento necessário para o efeito. Sá queria demonstrar, se necessário fosse, que a variável étnica pode ajudar, mas não sera suficiente, de per si, para explicar toda a dimensão do fenómeno em discussão.  (...)

6 de maio de 2021 às 14:22


(iii) Luís Graça

Infelizmente, o tema ("lavadeiras", que já tem mais de 4 dezenas de referências no blogue...) tende a cruzar-se (e a sobrepor-se) com outros como bajudas, sexo, etnias, mutilação genital feminina, filhos do vento... mas também religião, etc. É um terreno um pouco "minado". E, como tal, tem que ser tratado com serenidade, informação, conhecimento, e sobretudo sem pré-conceitos.

Talvez o Carlos Arnaut possa explicitar melhor o que escreveu: "Refiro-me concretamente às bajudas fulas, a quem, pelas razões conhecidas, o sexo pouco ou nada dizia, enquanto que as balantas, por exemplo, tinham nessa questão toda uma outra postura."

O simples convívio, na Guiné, há 50/60 anos, com populações desta ou daquela etnia, e nomeadamente com a população feminina, não nos autoriza (, a menos que tenhamos feito estudos aprofundados sobre o assunto, ou tenhamos um grande conhecimento da literatura especializada...) a fazer comparações entre grupos e sobretudo a tirar conclusões numa matéria tão complexa e sensível como a sexualidade humana...

Julgq que o Carlos Arnaut quando diz que, naquela época, "o sexo pouco ou nada dizia" às raparigas e às mulheres fulas, "pelas razões conhecidas", estava a subentender o facto, estatisticamente fundamentado, da generalização da MGF (Mutilação Genital Feminina, para usar uma expressão adotada pela OMS - Organização Mundial de Saúde, e outras instâncias internacionais), entre as mulheres de religião muçulmana (e nomeadamente fulas).

Na época, poucos de nós tinha informação sobre este problema (que é antes de mais de saúde pública tanto quanto o é de direitos humanos). Nem as autoridades portuguesas nem o PAIGC se preocupavam com a tragédia imensa que representava então a MGF (,ou, de maneira mais grosseira, o "fanado" feminino, que também era e é um rito de passagem, um ritual de iniciação, com profundo significado sociocultural).

Em resumo, as fulas são (ou eram) "excisadas", as balantas não... Sabe-se que não é um problema de religião, opondo muçulmanas contra cristãs e animistas... É um problema mais vasto, de natureza socioantropológica, com raízes históricas complexas.

Que a MGF tem imnplicações, não só na saúde sexual e reprodutiva das mulheres, mas também na vivência da plena sexualidade (de mulheres e homens), isso tem... Mas eu seria incapaz de fazer comparações neste domínio (da sexualidade humana) baseado no factor étnico... E, por formação sociológica, não o faria...

É, de resto, um domínio onde há uma imensão de mitos e de preconceitos...ainda hoje, em pleno séc. XXI.

10 de maio de 2021 às 22:50
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Notas do editor:

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22191: Casos: a verdade sobre ...(22): A deflagração de um engenho explosivo no Café Ronda, em Bissau, em 26 de fevereiro de 1974 (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde)



Guiné > Bissau > Café Ronda > Interior e exterior > s/d> Fotos de Francisco Carrola (, da página do Facebook), recolhidas por Hélder Sousa, com a devida vénia...

 Teor da mensagem (classificada como confidencial) enviada pelo Com Chefe da Guiné ao Ministério da Defesa Nacional, em 27 de fevereiro de 1974:

Em 26 de fevereiro [ 1974] , pelas 22h10, deflagrou um engenho explosivo no café “Ronda”, principalmente frequentado por militares de várias patentes. É uma café situado na principal artéria da cidade [ de Bissau] . Da explosão resultaram 1 morto civil africano,  14 feridos civis, sendo um grave, e 49 feridos militares, sendo cinco graves.

A análise dos estilhaços leva a admitir com probabilidae elevada que o engenho fosse constituído por 1 ou 2 granadas defensivas F-1 (russa), com espoleta de retardamento, MUV-2 , do mesmo tipo dos engenhos colocados no autocarro da FAP  em 21 de janeiro [ de 1974] e em viatura miliatr em Bula em 24 de agosto de 1972.

Iniciadas averiguações pela PSP local,  DGS-Bissau  e autoridades militares, Comando da PSP difundiu  comunicado geral de informação. Não houve o menor incidente durante festejos do Carnaval. Idêntico comunicado segue para o Ministério do Ultramar.


[Revisão / fixação de texto: LG ]


Informação errada no nosso blogue: o atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital... 

Felizmente que a incursão pela "guerrilha urbana" ficou por ali...mas foi o suficiente para causar algum alarme entre os militares e suas famílias, que viviam em Bissau... (Resta saber se Amílcar Cabral, se fosse vivo, aprovaria este tipo de escalada da guerra, com recurso a atentados cegos, causando vítimas também entre a população civil.) 





I. Mensagem do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Santa Luzia, Bissau, 1973/74, natural de Cabo Verde (n. São Vicente, Mindelo, 1950), radialista, jornalista, músico, escritor, estudioso da morna e de outras formas da música de Cabo Verde, membro da Tabanca Grande, nº 7901
 
Date: quarta, 5/05/2021 à(s) 15:06
Subject: Disparidades de datas da ocorrência: Bomba no Café Ronda em Bissau
 

Caro amigo e camarada:

Como já sabes,  estou a finalizar o meu livro "Heróis do Mar, Bombolom, Cimboa" sobre a minha estada na Guiné, entre 3 de Março de 1973 a 22 de Agosto de 1975 quando regressei a Cabo Verde e os primeiros cinco anos aqui.  

Grosso modo, a 1.ª parte, Heróis do Mar, é essencialmente a minha vivência do último ano da Guerra em Bissau, pois cheguei em 3 de Março de 1973; a 2.ª parte é já a situação depois do 25 de Abril de 1974, a retirada da tropa portuguesa, o meu trabalho na Rádio Bissau (inicialmente Rádio Libertação); a 3.ª parte é a minha experiencia na Rádio Voz di Povo, depois Emissora Oficial, aqui na Praia, Cabo Verde. 

Comigo, estão vários convidados, pessoas que comigo viveram muitos acontecimentos, tudo com o apoio de documentação, jornais, etc. Na primeira parte, socorri-me de muitos dos depoimentos/testemunhos de acontecimentos de 1973/74 narrados no teu Blog, assim como documentos que foram publicados. Obrigado pois ao Blog, que permite esta comunicação entre antigos militares e obrigado ao seu coordenador/moderador, que me deu a possibilidade de utilizar muita dessa informação publicada, citando é claro a fonte, um dever sagrado do jornalista.

Posto isto, devo dizer que entrei numa fase de verificação, reverificação, confirmação de fontes, datas, etc. e é justamente por isso que agora entro em contacto contigo para te expor o seguinte, sobre o acontecimento que foi a explosão de uma bomba no Café Ronda, em Bissau:

1.  Na seguinte página do nosso  blog,

6 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13698: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (9): 7 de Abril de 197

 https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/10/guine-6374-p13697-os-ultimos-anos-da.html  

 encontram-se várias efemérides e na parte «Acontecimentos no período relacionados com a Guiné», diz o seguinte: 

"26 de Fevereiro de 1973 explosão de uma granada de mão no Café Ronda em Bissau causando 1 Morto e 62 feridos."

2. Na seguinte pagina do nosso blog

27 de fevereiro de  2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/02/guine-6374-p11164-um-amanuense-em.html

o meu camarada Abílio Magro, que comigo esteve em Santa Luzia, no QG, diz nas suas recordações: 

(...) Bomba no Café Ronda

O Cafe Ronda situava-se na Av da República, um pouco mais abaixo do cinema UDIB e do lado contrário ao deste. Segundo me recordo, possuía uma espécie de esplanada coberta e ali se juntavam muitos militares (uns fardados, outros trajando à civil) que lá bebiam o seu cafézinho ou "bejeca", entre outras coisas. Tinha também um pequeno balcão que dava para uma rua transversal e onde também se podia beber o "cimbalino" ou a "bejeca", de pé e do lado de fora, com um atendimento muito mais célere.

Numa determinada noite do ano de 1973, eu e mais dois ou três camaradas meus, tomamos o nosso cafézinho no balcão referido e seguimos de imediato para o cinema UDIB para assistir à exibição de um qualquer filme que por lá andava.

Poucos minutos depois do início da exibição do filme, dá-se um tremendo rebentamento lá fora e, quase de seguida se ouvem diversas viaturas com buzinadelas e sirenes, indiciando haver constante transporte de feridos. É interrompida a exibição do filme e surge uma voz aos altifalantes do cinema, solicitando a todos os médicos que,  eventualmente,  por ali se encontrassem, o favor de se dirigirem de imediato ao Hospital Militar.

Estão mesmo a ver onde este vosso camarada se dirigiu para ver o resto do filme, né? Pois, acertaram! Direitinho às Instalações Militares de Santa Luzia, onde se encontrava implantado o seu maravilhoso "T2"!

Tinham colocado uma bomba no Café Ronda, que explodiu quando este se encontrava repleto de clientes, tendo causado alguns mortos e muitos feridos. Nesse atentado ficou gravemento ferido um "piriquito" com 2 ou 3 dias de Guiné e que eu tinha conhecido no dia anterior, pois tratava-se do "pira" que ia substituir na CSJD o meu camarada Fur Mil Costa que terminara a sua comissão e tinha já viajado para a Metrópole. Aquele "piriquito" acabou por ser evacuado para Lisboa e soubemos mais tarde que aí falecera. Recordo-me do nome - Romão. (...)

3 . O meu colega jornalista Nelson Herbert refere no nosso blog

26 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9401: Memória dos lugares (171): A minha Bissau, nas vésperas do 25 de Abril de 1974 (Nelson Herbert)

 https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9401-memoria-dos-lugares.html

(...) Tive vários colegas portugueses, grandes amigos de infância que gostaria um dia poder rever (...)  

Entre esses amigos, recordo-me perfeitamente do Zé (ligeiramente mais velho, 1 a 2 anos pelo menos), do Becas, seu mano mais novo, da minha idade... colega das pescarias no lodoçal das bolanhas, junto ao quartel da Marinha! O pai era militar... habitavam uma residência, mesmo em frente à messe dos sargentos da Força Aérea, por sinal meus vizinhos. Hoje calculo que o pai fizesse parte da "psico", contavam ingenuamente os filhos, ante a inocência geral...
 
(...) Era precisamente, no muro frontal dessa residência, que o pessoal da Forca Aérea aguardava pelo autocarro azul que os levava às sessões nocturnas de cinema na base aérea de Bissalanca... E mais seria esse mesmo muro frontal da residência em questão, a escassos 100 metros da minha casa, o alvo de um dos atentados a bomba relógio registado durante a guerra em Bissau... (entre 73 a 74, por aí) (...).

Armadilhado pelas células clandestinas do PAIGC, numa bela noite, o muro foi-se pelos ares… Isto, minutos depois do autocarro azul ter partido do local para a viagem do costume! Nesse dia felizmente bem mais cedo que o habitual! 

Não houve vítimas, nem entre o pessoal da Forca Aérea nem entre a "meninada" que nas redondezas costumava brincar ao cair da noite!!! (...)
 
4. No nosso blog também se pode  ler

18 de janeiro de 2018 >  Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I) 

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9368-situacao-militar-no-to.html

(...) A partir de Janeiro de de 1974, o PAIGC passava verdadeiramente à ofensiva, a qual se caracterizava pela definição de duas áreas de incidência de esforço, diametralmente opostas, uma no extremo Nordeste do Teatro de Operações onde desenvolvia a Operação “Abel Djassi” (pseudónimo de Amílcar Cabral) e a outra a sul, no Cubucaré, para o que inclusivamente tinha constituído um novo órgão coordenador das operações de guerrilha nesta Zona, o Comando Sul (...)

(...) Nas restantes áreas do Teatro de Operações da Guiné aumentava igualmente de modo significativo a atividade de guerrilha dispersa em superfície, com relevo para o emprego de engenhos explosivos e ações de terrorismo urbano que alastravam até à própria capital (Bissau). 

Como exemplo citam-se as 17 flagelações com armas pesadas a outros tantos Aquartelamentos ou Povoações, num único dia (20 de Janeiro de 1974, data do aniversário da morte de Amílcar Cabral), o rebentamento de engenhos explosivos num café de Bissau (26 de Fevereiro de 74) que provocou um morto e a sabotagem no próprio QG/CTIG (em 22 de Fevereiro de 74), onde parte do edifício principal foi destruído. (...)

5. Nma reportagem na RTP intitulada Canquelifá, a última operação dos Comandos - YouTube  já no final aparece esta imagem que refere a data 27Fev74 !!!!

Vd. fotograma do vídeo reproduzido acima e cujo teor é reproduzido


6 Na minha recordação, a Bomba no Café Ronda aconteceu em 1973, pouco tempo antes de eu ir de férias a S. Vicente, em Cabo Verde, a partir de 1 de Outubro…. portanto em Setembro daquele ano… 

Lembro-me que a noticia não foi escondida, e várias pessoas em S. Vicente-Cabo Verde, me perguntaram sobre isso. No dia desse acontecimento, eu, estava de serviço de Guarda na porta principal das instalações de Santa Luzia; no dia seguinte estava de folga, fui a Bissau, vi que cobertura de zinco do Café Ronda, estava todo entortado e voltado para cima, o que demonstrava a força do sopro da explosão! O Café estava fechado. Ouvi na messe, as «estórias» do que aconteceu… disseram que houve pessoas, que foram projectadas, sentadas na cadeira, para o outro lado da rua! Não sei se é verdade, porque como disse não presenciei!

Caro Luis, face a tantas datas e desencontros, estou na dúvida quanto à minha recordação! Poderei estar errado! Eis porque entro em contacto contigo e com os camaradas, talvez consiga mais algum depoimento/informação sobre esse acontecimento…. 

 Chamo atenção, como jornalista, para o facto de o relatório «sobre a situação militar no TO da Guiné no ano de 1974» ter a data de 1975, logo ter sido elaborado pelo menos 3 anos depois.... A mensagem confidencial  que envio, leva a varias interrogações, sobre a hora e a data do acontecimento… Será que houve duas, ou mais, explosões no Café Ronda?!

Espero que este assunto possa despertar algum interesse e eu possa receber alguma luz.

Apresento melhores cumprimentos e desejos de muita saúde

Forte abraço

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

II. Resposta do editor LG:

Meu caro Carlos Filipe: obrigado pelo desafio que nos colocas... Tens toda a razão, vai por aqui um grande trapalhada de datas... E tu próprio estás equivocado. 

A análise da mensagem (confidencial) que o Com-Chefe do CTIG manda para Lisboa, não deixa qualquer dúvida: o engenho eplosivo (uma ou duas granadas de mão defensivas, de origem russa,com espoleta ao retardor) lançada no Café Ronda foi no dia 26 de fevereiro de 1974, portanto ao tempo do gen Betencourt Rodrigues e não do Spínola.

Tanto o José Martins como o Abílio Magro apontam o ano de 1973. A informação está errada.  O atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital...  Mas parece que nesta altura as BR - Brigadas Revolucionárias, da Isabel do Carmo e do Carlos Antunes, também deram um arzinho da sua graça, colocando um engenho explosivo no QG, em Santa Luzia (quatro dias antes...). O seu a seu dono.

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Nota do editor:

Último poste da série > 31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)