Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22774: O meu sapatinho de Natal (1): Outono, uma refexão de Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 e CART 2732
1. Em mensagem do dia 1 de Dezembro de 2021, do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616 / BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos um texto a que deu o título:
OUTONO
As notas da música caem compassadas com suavidade, sobre o meu cérebro, o meu coração já morreu por desgaste e mau uso. Música pura, sem palavras, que ameniza as adversidades e estimula a imaginação.
A estética, comum a todas as artes, cria pontes de comunicação entre elas, quando escrevo procuro muitas vezes a ajuda da música, essa arte tão universal, e tão ancestral como a linguagem. Os povos primitivos actuais e os que desapareceram dizimados pelos colonizadores fazem ou faziam sons com ritmo e harmonia, com conchas, paus, pedras, canas, outros utensílios simples e com as cordas vocais naturalmente.
O meu neto mais novo, agora com dois anos, desde muito cedo começou a tamborilar em todos os objectos disponíveis e adaptáveis que encontrava para esse efeito e a dançar ao ritmo dos sons que produzia.
Já o meu neto mais velho, quando tinha um ano, a avó deu-lhe um bombo que comprou nas festas da Senhora da Agonia, que teve que se tirar do seu alcance, porque ele não parava de batucar. Quando tinha três ou quatro anos ficava enlevado quando ouvia música clássica.
Nos meus tempos de garoto não havia rádio em minha casa, em toda a aldeia haveria rádios somente em duas casas. Alguns homens e rapazes tocavam gaitas de beiços a que chamavam realejos. Havia outros músicos, só já conheci alguns dado que a maioria era do tempo dos meus avós ou mais velhos. Tocavam guitarra, viola, violão, violinos e por vezes juntavam-se à noite a fazer "rondas" com música e cantigas, pelas ruas da aldeia.
Estive dois anos completos na Guiné, durante a vida militar, e nunca tive a sorte de assistir a um batuque africano, mais autênticos e genuínos embora menos elaborados do que os brasileiros. Buba, onde passei mais tempo, tinha uma população reduzida, vinte ou trinta milícias fulas, (tropas auxiliares), e as respectivas mulheres, nunca ouvi falar lá de qualquer cerimônia tradicional, com música e bailado.
Em Mansabá, para onde fui acabar a comissão, havia uma tabanca grande, de mandingas oingas, mas nada recordo das suas festas ou cerimônias.
Considero os povos africanos, apesar da sua pobreza, os mais felizes da Terra, porque dentro deles parece viver a melodia e o ritmo do Universo. Reparem no brilho do olhar e no gingar dos corpos das mulheres africanas, sendo mulheres mais sintonizadas com a criação e com o movimento e com o som, que o acompanha, dos astros.
Dia de outono, frio, com chuva, triste que se derrama, com neblina próxima, quase sem se mostrar. Tempo sem flores, com folhas multicolores que cobrem as árvores caducas e se vão desprendendo para atapetar o solo, ao ritmo da passagem dos dias da estação.
O tempo mudou ainda ontem era um dia de sol claro e eu sentado na esplanada deserta do Parque da Cidade, a admirar a natureza que me envolvia, que ao despedir-se do Verão, mostrava uma imagem decadente e bela.
Sempre gostei de esplanadas desertas ou não, para companhia uma bebida com espírito e a vista duma paisagem natural, com árvores, com campos, com floresta, com rio, mar por onde a vista se alonga e todo o nosso ser entra em comunhão com todos esses elementos essenciais e primordiais.
Dias curtos e claros de Outono, em que os raios solares mais oblíquos e menos fortes dão uma luminosidade mais calma e repousante a esta quadra, que em Novembro nos avivam as saudades dos nossos mortos, das festas com eles, com os magustos, em tempo frio, a descascar e comer os bilhós quentes (castanhas descascadas) à volta da lareira, nos mata-porcos com a companhia e o calor de toda a família alargada, avós, tios e primos.
Na continuação da quadra, com o frio seco do planalto, a ser combatido pelos toros da lareira, em Dezembro, entre verdades, milagres e mitos, a religião católica trazia-nos o renascimento da vida com o Natal que festejávamos como uma verdade sagrada.
Em Janeiro, a vida continuava com o mesmo ritmo, os mesmos trabalhos, com os mesmos deuses, santos e santas dos céus que nos protegiam de todos os males e que sem festejos nos davam entrada no Novo Ano, como se entrássemos na Eternidade que nos era prometida.
Bom Natal e Bom Ano Novo, a todos os camaradas e amigos!
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Nota do editor
Esta é a primeira colaboração, que se espera de muitas, deste Natal de 2021.
O mote está lançado, venham mais reflexões e histórias relacionadas com os nossos natais, seja os passados na Guiné ou os vividos em família.
Guiné 61/74 - P22773: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (92): O nosso camarada Serra Vaz quer fazer um estudo de toda a simbologia das Unidades Militares mobilizadas para as Campanhas de África (Mário Beja Santos / Serra Vaz)
Caríssimo, bons dias
O Serra Vaz telefonou-me, explicou-me o que anda a fazer na heráldica militar, é matéria de que estou completamente afastado, mas acho que o blog pode contribuir.
Pensei no Coronel Pereira da Costa e no Zé Martins, seguramente que há outros camaradas que se interessem pelo estudo.
Vê se é possível fazer um apelo geral. Pedi ao camarada Serra Vaz que contactasse o Arquivo Histórico-Militar, não vejo outra instituição, talvez a Associação Portuguesa de Heráldica, mas tenho para mim que eles se dedicam mais à Heráldica da Nobreza.
Vê como podemos ajudar.
Um abraço do
Mário
Amigo e antigo camarada D´Armas Dr. Beja Santos
Os meus cumprimentos.
Na sequência do nosso telefonema, tal como lhe disse, sou também um antigo militar (Fur. miliciano) e actualmente na situação de reforma, dedico-me ao estudo de diversas matérias sobre a Guerra do Ultramar, sendo UMA das principais:
HERÁLDICA MILITAR. O estudo de toda a simbologia de TODAS as Unidades militares mobilizadas para os três teatros de operações das Campanhas de Africa 1961/74.
São milhares de Guiões; flâmulas; bandeiras; emblemas; crachás e também incluo o estudo das Divisas e nomes de guerra porque as duas coisas são indissociáveis: a imagem gráfica procura visualizar o sentido expresso pela Divisa, bem como, muitas vezes é esta que reforça a imagem.
Mas toda essa colorida panóplia decorativa que nós, os antigos combatentes (que nada sabíamos de heráldica) produzimos, deve ser analisada em termos de design gráfico e não como heráldica porque o não é.
Contudo ela está lá; está presente na muita influência e inspiração nas simbologias dos respectivos Regimentos mobilizadores.
Eu entendo que a investigação e o estudo destas matérias é também uma maneira de fazer Historia. É um “nicho” da história; é uma “pequena história“ ou uma “história menor", ou lá o que lhe queiram chamar, mas é HISTORIA.
Grato pela atenção dispensada, me subscrevo
Serra Vaz
E-mail:serlipe14@gmail.com
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Nota do editor
Último poste da série de 6 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22603: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (91): Agradecimento da investigadora Sílvia Espírito-Santo pela colaboração dos nossos camaradas em projecto sobre o Movimeno Nacional Feminino
Guiné 61/74 - P22772: A nossa guerra em números (9): dizia-se que a velha GMC, do tempo da guerra da Coreia, gastava no CTIG "cem aos cem"... E as nossas aeronaves, o AL III, o DO-27, o C-47, o T-6 e o Fiat G-91, quanto é que "mamavam" por hora ?...
Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > O célebre e velhinho caça-bombardeiro T6 G, tanbém conhecido por "ronco", na pista de aviação de Bafatá, Em primeiro plano, o fur mil at nf da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) Arlindo T.Roda (, o grande fotógrafo da CCAÇ 12, juntamente com o Humberto Reis). Os T 6G vão desempemhar um importante papel no final da guerra.... Mas eram "poupadinhos" em combustível (menos de 200 litros por hora em média), quando comparados com os "glutões" dos Fiat G-91 (c. 1800 litros em média, por hora).
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
(*) Último poste da série > 30 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22764: A nossa guerra em números (8): CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67): mais de 3500 km percorridos a pé, e mais de 4700 km em viatura...
Guiné 61/74 - P22771: Parabéns a você (2010): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Nova Sintra, Guileje e Nhacra, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22767: Parabéns a você (2009): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá) e Rep ACAP (Bissau) (1970/71)
quarta-feira, 1 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22770: Efemérides (359): o 1º de Dezembro, as bandas filarmónicas e o patriotismo de ontem e de hoje...
Lisboa > Av da Liberdade > 1 de dezembro de 2017 > 6.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas > Uma representação da banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cuja origem remonta a 1878: da esquerda para a direita, Pedro Margarido, presidente da União das Freguesias da Lourinhã e Atalaia; Paulo José de Sousa Torres, diretor da AMAL (e meu primo em 3.º grau) e a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro... O puto é o "porta-estandarte" da AMAL que tem uma escola de música e um grupo de teatro...
Estava previsto realizar-se hoje o 9.º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, mesmo com um número reduzido de bandas participantes (19, por comparação com as 37 que atuaram em 2019, espectáulo que teve transmissão direta pela RTP), e juntando músicos de várias gerações e dos mais diversos pontos do país. A saúde pública falou mais alto.
2. O nosso editor LG tem acarinhado, no nosso blogue, esta iniciativa (e outras mais antigas), sobretudo pelas suas recordações desta efeméride, que remontam à sua infância. Mesmo sem música, podemos recordar aqui alguns comentários que foram sendo deixados nos diversos postes (*):
(i) Tabanca Grande Luís Graça (Poste P18033)
Era uma festa, o 1º de dezembro, na minha vila da Lourinhã . Primeiro, porque era feriado, não se ia à escola, e segundo, porque a filarmónica local (, fndadada em 2 de janeiro de 1878) percorria as ruas principais, com o povo e os putos atrás... Era um tradição que já vinha da Monarquia Constitucional, da República e que se manteve no tempo do Estado Novo... Como não sabíamos a letra do hino da restauração, cantarolávamos: "Ó Tí Zé da pêra branca"...
Vou ter o prazer de ver a banda da minha infãncia, a AMAL Associação Musical e Artística Lourinhanense, participar hoje. na Av da Liberdade, em Lisboa, na 6ª Desfile Nacional de Bandas Filarmónica...
É um banda centenária, fundada em 1878... Creio que é a 1ª vez que vemn a este desfile...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/11/guine-6174-p18029-agenda-cultural-614.html
1 de dezembro de 2017 às 12:04
O 1.º de Dezembro na vila de Alhandra é celebrado desde as 6/7 horas. A Banda Filarmónica da SEA (, Sociedade Euterpe Alhandrense, fundada em 1/12/1861) percorre toda a vila e presta Homenagens a todas as colectividades da terra. Curiosamente, quase todas foram fundadas a 1 de Dezembro. Em cada sede tocam e sobem os músicos para beberem um copo.
Tinha 12/13 anos, no dia 1º de dezembro lá estavam as escolas da Grande Lisboa, representadas nos Restauradores, devidamente perfiladas com os uniformes da Mocidade Portuguesa, cantando o hino da Restauração.
Eram 4 horas difíceis para a rapaziada que nem podia arredar pé para as necessidades, daí os charcos que se viam na Praça depois do toque de destroçar. Outros tempos.
(iv) Luís Graça (Poste P18047)
Estive, como é habitual, nos Restauradores no desfile nacional de bandas filarmónicas, no 1º de dezembro, gosto que me vem da infância, quando seguia, atrás da banda local, agarrado ao capote do meu pai, pelas ruas da então vilória da Lourinhã, parodiando a letra do hino da
Restauração: "Ó ti Zé da Pera Branca..., pum, pum, pum..."
Ao meu lado estava um casal de turistas, dinamarqueses, com ar de reformados, pessoas viajadas, instalados num hotel da Av da Liberdade... Metemo-nos à conversa, em inglês... Eles estavam encantados com toda esta movimentação de bandas filarmónicas e sobretudo com as crianças, os putos, muito compenetrados do seu papel, que compunham muitas das bandas... Foi um festival de alegria, juventude e saudável patriotismo... Os dinamarqueses, que adoram Portugal mais do que Espanha, diziam-me que no seu país (que eu, de resto, admiro) não havia nada disto...
(v) Luís Graça (excerto do poste P18047)
(...) Afinal, o que é ser hoje português? E o patriotismo, ainda existe e faz sentido? Pode ser uma reflexão (idiota) de um homem que um dia vestiu a farda do exército português para ir "defender a Pátria" a milhares de quilómetros de casa... Na Guiné, em 1969/71...
Qual a diferença e semelhança entre mim e os meus antepassados que lutaram na "guerra da restauração" (1640-1668), na sequência da rutura com a "monarquia dual" sob a qual Portugal viveu (entre 1580 e 1640), o mesmo é dizer sob o domínio do ramo espanhol da casa de Habsburgo.Se a geração que fez a guerra colonial (1961/74) tivesse nascido por volta de 1620, teria lutado contra a Espanha dos Filipes em inúmeras batalhas por ex., Cerco de São Filipe (1641-1642); Montijo (1644); Arronches (1653); Linhas de Elvas (1659); Ameixial (1663); Castelo Rodrigo (1664); Montes Claros (1665); Berlengas (1666)... Mas também contra os holandeses no Brasil, em Angola, em São Tomé e Príncipe].
Que custo tem a independência de um país? O que é hoje ser independente? O que ganharam os aliados que nos apoiaram, e nomeadamente os ingleses? Sabemos que os ingleses ganharam um império e a autoestrada da globalização que lhes permitiu ser o 1.º país industrial do mundo... E os holandeses ocuparam boa parte das posições portuguesas na Ásia...
Não há alianças grátis...nem inimigos de borla... E nesse tempo, os portugueses tiveram mais sorte do que os catalães, debaixo da pata dos Filipes, como nós... Sorte?... Foi apenas a sorte das armas? (...) (**)
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Notas do editor:
(*) 5 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18047: Fotos à procura de... uma legenda (97): O que é ser português hoje na "ponta mais o(a)cidental da Europa"? As coroas de flores, de muitas cores e feitios, das comemorações (oficiais) do 1.º de dezembro de 2017...
Guiné 61/74 - P22769: Historiografia da presença portuguesa em África (292): "Atlântico, a viagem dos escravos", texto de Miguel Real, ilustrações de Adriana Molder, fotografia de Noé Sendas; Círculo de Leitores, 2005 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2021:
Queridos amigos,
O Centro Nacional de Cultura organizou em 2004 uma digressão pela Rota dos Escravos, tudo se iniciou em São Tomé e trepou até Santiago. Faz-se uma incursão pela História e de um modo geral o escritor Miguel Real, encarregado do relato da viagem, incumbiu-se bem, leu, documentou-se e dá o seu testemunho e agenda. Adriana Molder publicou ilustrações e Noé Sendas fotografou (infelizmente em tamanho reduzido). Sente-se que as roças estão gradualmente a ser recuperadas, aquele paraíso vegetal mantém o seu fascínio e estamos neste momento no forte recuperado pela Gulbenkian em 1990 de S. João Baptista de Ajudá, uma das placas giratórias do mercado de escravos do Golfo da Guiné. Já se falou de João Oliveira, grande contratador de escravos para o Brasil, teremos a seguir outra figura que entrou na lenda, Francisco Félix de Sousa, que tinha o título de "Chachá", terá sido o último grande negreiro português.
Um abraço do
Mário
A rota dos escravos, da Senegâmbia ao Golfo da Guiné (1)
Mário Beja Santos
Em setembro de 2004, no âmbito de um ciclo organizado pelo Centro Nacional de Cultura, um grupo partiu para o Atlântico e Costa de África em busca de vestígios da presença portuguesa, o tal ciclo denomina-se “Os Portugueses ao Encontro da Sua História”. Visitaram São Tomé, seguiu-se o Gabão, São João Baptista de Ajudá, o Senegal e depois Cabo Verde. Não se dá explicação por não ter feito parte desta rota a fortaleza de Cacheu, teve um papel primordial na transferência de escravos sobretudo para a ilha de Santiago, de onde depois partiam para vários pontos do continente americano e até Portugal. Pode-se especular não ter havido condições, a Guiné-Bissau vivia um período de turbulência, recorde-se o golpe de Estado que apeou Kumba Ialá, seguiu-se uma Junta Militar. O resultado dessa viagem é o livro "Atlântico, a viagem dos escravos", texto de Miguel Real, ilustrações de Adriana Molder, fotografia de Noé Sendas, Círculo de Leitores, 2005.
O escritor tece considerações sobre o fenómeno da escravatura, descreve o seu histórico e como todo este fenómeno entrou na nossa civilização e na nossa cultura. Os portugueses, como outros povos europeus, investiram a fundo na industrialização e internacionalização deste tráfico que era permutado com mercadorias europeias e brasileiras (têxteis, álcool, armas de fogo, cavalos, pólvora, aguardente, tabaco da Baía de terceira qualidade, entre outras). Os escravos africanos destinavam-se a mão de obra nas plantações de algodão, açúcar e café na América. “Ao longo de cerca de 400 anos, entre a segunda metade do século XV e a primeira metade do século XIX, teriam sido comprados em África entre 10 a 15 milhões de escravos, a maioria destinada ao continente americano, do Brasil e Perú até aos atuais Estados Unidos da América”. Está comprovada a presença de escravos africanos em Portugal já em meados do século XVI, exerciam trabalhos servis como o das calhandreiras (recolha matinal dos dejetos da noite em calhandras de barro malcozido). Miguel Real tece a seguinte consideração: “A cultura portuguesa não é uma cultura escravocrata, a civilização e o tempo histórico europeu em que nos integrámos, sim: a passagem em tempo longo da ruralidade medieval para o mercantilismo mundial forçou os europeus a procurarem mão-de-obra intensiva para a produção, vendo no negro a tábua de salvação económica”.
A viagem começa no Museu Nacional de São Tomé e Príncipe, instalado no antigo forte português de São Sebastião. Os visitantes são confrontados com as estátuas de Pêro Escovar, João de Santarém e António da Nóvoa e o escudo de Portugal derribado e quebrado em três partes. Visitaram numa das salas principais as barbaridades do massacre de Batapá, em 1953, cometidas contra a população negra revoltada pelos abusos do poder colonial português. “A ferida civilizacional abriu-se e cada um de nós, percorrendo o museu, sentiu-se confrontado com os atuais fantasmas malignos da História de Portugal – a escravatura, a exploração económica, o esmagamento da cultura negra. Pena foi que quando a Europa se pacificou e descolonizou, não a tivéssemos acompanhado, assumindo a nossa condição de verdadeiros colonialistas logo a seguir à II Guerra Mundial”. E tece considerações mais alongadas sobre a Rota dos Escravos e a respetiva economia, enfatiza a importância do açúcar para a transferência compulsiva de milhões de africanos transferidos para o continente americano, mas não esquece que tudo começou na Madeira (onde não houve escravos na plantação) e depois São Tomé, mais tarde as plantações brasileiras. Estimam-se em cerca de 13 milhões os africanos da sua terra natal e forçados a colonizar a América ao longo de cerca de 400 anos. A compra de escravos tornou-se um investimento vultuoso. No final dos tempos de escravatura, o tráfico negreiro transportava sobretudo crianças e adolescentes, tentando prolongar-lhes a vida ao máximo e reproduzindo-os em uniões forçadas (os criatórios). “Com a plantação do açúcar no Brasil e nas colónias espanholas da América Central, nasce uma nova economia de âmbito internacional, preparando a futura globalização do mundo: mão-de-obra africana, vastas terras americanas e organização e capitais europeus. Nesta fase, Madeira, Cabo Verde e São Tomé tinham abandonado a sua antiga importância colonial, as duas últimas limitavam-se a ser entrepostos de escravos”.
E o grupo prossegue viagem, visitará roças, algumas delas em completa ruína. O autor vai fazendo citações sobre a importância das carreiras de escravos, como São Tomé, São Jorge da Mina, as feitorias da Guiné e adianta uma referência: “Colónia açucareira e plataforma giratória da frota negreira, São Tomé reexporta para a América Portuguesa indivíduos mais resistentes às doenças europeias ou oriundas do litoral africano, falando a ‘língua de São Tomé’. Para o colonato são-tomense, traficar negros torna-se mais interessante do que plantar cana. No início do século XVI a ilha contava com 2 mil escravos fixos e de 5 a 6 mil itinerantes à espera de embarque para outros mercados. Nos anos seguintes, os são-tomenses passam a fazer o trato entre Benim e a Mina ao mesmo tempo que puxam os mercados do Congo para o sistema atlântico”. São elementos retirados de um historiador brasileiro, Luís Felipe de Alencastro.
E o autor volta a fazer uma citação, desta vez retira-a do livro A Manilha e o Limbambo, A África e a escravidão de 1500 a 1700, do embaixador Alberto da Costa e Silva, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2002: “São Tomé mostrou um rápido progresso. Era todo um êxito como centro experimental do que viria a ser a colonização e a exploração europeia nos trópicos húmidos. Ali faziam-se ensaios com gente, plantas, animais, formas de trabalho e fontes de lucros. Ali testavam-se novas maneiras de tratar a terra, de adaptar os vegetais importados, de organizar a mão-de-obra servil e dela retirar o maior proveito possível, de unir numa só classe proprietários da terra e comerciantes, de fazer dos mestiços intermediários entre senhores e escravos”. Visitam as roças, ficam assombrados com o folclore, e era inevitável assistir à peça Tchiloli representada pelo grupo de teatro Formiguinhas da Boa Morte, o grupo representou o seu espetáculo maior, a Tragédia do Imperador de Mântua e do Imperador Carlos Magno, inspirado no auto do século XVI do dramaturgo cego madeirense Baltasar Dias, da Escola Vicentina. Para além desta tragédia do Marquês de Mântua, o grupo tem em cartaz a Tragédia do Capitão Congo e o Auto da Floripes, peças provindas dos séculos XVI e XVII. A descrição das roças é de grande beleza.
E partem para o Museu das Artes e Tradições do Gabão, Miguel Real aproveita para comentar a similitude de instrumentos musicais africanos e brasileiros, a miscigenação do animismo africano com a doutrina cristã e lança-se depois numa narrativa sobre a chamada Passagem do Meio (travessia do Atlântico), o escravo depois de capturado era acartado num batel para o navio veleiro e daqui transportado para a América. Chegado a uma outra realidade, o escravo conhecia os rudimentos da religião cristã, aprendia uma nova língua, era enquadrado numa atividade laboral intensa, adaptava-se a um novo regime alimentar. De novo o autor destaca a mortalidade no decurso destas viagens, a seleção feita nas feitorias por mestres negreiros, embarcado cada um para o seu lugar de trabalho, o pai podia ir para o Recife, a mãe para Hispaniola, o filho para a Jamaica e a filha para a Virgínia, nunca mais saberiam uns dos outros. Visitam Cotonou, uma das mais importantes cidades do Benim, embrenham-se nos cheiros africanos, na cor dos mercados, dá-se uma pitada de História. “Diferentemente de S. Tomé, o Benim possuía já uma História milenar antes dos portugueses aportarem ao Golfo da Guiné na segunda metade do século XV. Presume-se ter sido João de Santarém e Pêro Escobar que, ao serviço do mercador Fernão Gomes, teriam pela primeira vez navegado pelo litoral do atual Benim, embora Rui de Pina afirme ter sido João Afonso de Aveiro, em 1484. As primeiras amostras de malagueta africana terão vindo do Benim para Lisboa, que as reenviaria para a feitoria da Flandres, iniciando assim um comércio intenso que conduzirá à designação inicial da Costa do Benim como Costa da Malagueta, posteriormente substituída por Costa dos Escravos”.
E fala-se do vodu, admite-se que mais de metade da população dos países do Golfo da Guiné e quase 80% das comunidades rurais da região o praticam, independentemente das regiões monoteístas que aqui se implantaram, a população continua a adorar os seus deuses primitivos. A palavra vodu significa potência invisível ou em português espírito. Os vodus são os espíritos que tomam conta das forças naturais. Retomando a história, Portugal foi dos poucos países europeus com fortes contactos com o reino do Daomé, hoje incluído no Benim. Desde o século XV, traficando malagueta, marfim, algum escasso ouro, depois escravos, em troca de ferro, tabaco de baixa qualidade, vidro, sedas e cetins, armas, pólvora e muita quinquilharia. “Até ao século XVII, a forte procura dos escravos situa-se na zona Norte do Golfo da Guiné, entre os atuais Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau e Guiné Conacri, e na vasta região entre o Congo e Angola com o transporte dos escravos feito por S. Tomé e Cabo Verde. É a partir de inícios do século XVIII que a Costa da Malagueta é amplamente buscada por europeus, pela compra e venda de escravos, instalando-se então no litoral do Daomé feitorias (sem a imponência do Forte de São Jorge da Mina) por Portugueses, Franceses, Ingleses e Dinamarqueses que passaram a abastecer de negros os mercados de escravos de toda a América".
E o autor, em 9 de setembro de 2004, por aquelas terras de Benim, passa à reflexão:
“Aqueles de entre nós que conhecem o Brasil sabem que a terra que hoje pisam constitui o berço cultural e social de mais de metade do povo brasileiro e que os veios nervosos de grande parte da atual cultura brasileira radicam-se nos costumes religiosos, gastronómicos e antropológicos desta vasta região, da Nigéria ao Togo e à Senegâmbia, tendo como centro ativo os diversos cais de embarque da costa do Benim, mormente de Ajudá, Onim e Porto Novo. Da religião das etnias do Benim nasceu o vodu jamaicano, antilhano e haitiano, e o candomblé brasileiro, da sua alimentação nasceu a moqueca e o acarajé brasileiros, das festas religiosas e dos instrumentos musicais de iniciação vodúnica das etnias fon e ioruba nasceram o agôgô, os atabaques, o berimbau, e do panteão dos seus deuses nasceu o panteão dos orixás”.
O passo seguinte é a visita a S. João Baptista de Ajudá, que foi recuperado pela Fundação Calouste Gulbenkian na década de 1990. Com o país independente, em 1960 dirigiu-se ao regime de Salazar o abandono do forte, o ditador mandou incendiá-lo. E vem a descrição: “O forte, de um quilómetro quadrado de área, construção de 1721, foi transformado em museu histórico de Ajudá em 1967. Dependente do governador de São Tomé e Príncipe, depois integrado no vice-reinado do Brasil e, ainda, durante o tempo do consulado do Marquês de Pombal dependente da Companhia Geral de Cabo Verde e Rios de Cacheu, o forte atravessou um conjunto de vicissitudes, ao longo dos séculos XVIII e XIX, que espelham bem a política colonial portuguesa para África, apenas interessada, até ao Ultimatum inglês de 1890 na exploração das riquezas costeiras, sobretudo escravos, ao mais baixo custo possível, totalmente divorciada de uma política de povoamento (…) O forte, ainda que formalmente português, viveu sempre em profunda dependência dos caprichos dos reis do Daomé, tendo sido inúmeras vezes assaltado e os seus diretores presos e expulsos de Ajudá consoante os interesses dos régulos e a quantidade de prendas que os portugueses lhes ofereciam em armas de fogo e pólvora, rolos de panos de seda e cetim e barricas de aguardente”.
Importa dizer que o grande tráfico de escravos sob a bandeira portuguesa iniciou-se ainda na primeira metade do século XVIII e centrou-se nos embarcadouros de Ajudá, de Porto Novo, Jaquim e Onim, todos perto do primeiro. É altura de falar de um escravocrata lendário, Francisco Félix de Sousa, que fora antecedido pelo negro João de Oliveira como atravessador de escravos entre África e o Brasil, este João Oliveira notabilizou-se como exportador para Pernambuco, Baía e Rio de Janeiro, é do seu tempo a introdução do negócio das folhas de tabaco como material de permuta por escravos. Falemos então de Francisco Félix de Sousa.
(continua)
Nota do editor
Último poste da série de 24 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22746: Historiografia da presença portuguesa em África (291): O estudo "Gonçalo de Gamboa de Aiala, Capitão-mor de Cacheu, e o Comércio Negreiro Espanhol, 1640-1650", por Maria Luísa Esteves; Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga, 1988 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22768: Efemérides (358): Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, Lisboa, 19 de outubro de 2021 (João Crisóstomo, Nova Iorque)
Foto nº 2 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > A arquitecta Luisa Pacheco Marques tem sido uma das pessoas que muito tem trabalhado para a reabilitação da memóia de Aristides de Sousa Mendes. Entre os seus trabalhos contam-se as grandes exibições "Portugal, last hope” em Nova Iorque; no Luxemburgo: "Portugal, país de esperança em tempos difíceis"; o Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes e o Museu em Vilar Formoso, um trabalho conjunto com a jornalista Margarida Ramalho, maioritariamente sobre Aristides e refugiados salvos por ele.
No meu lado direito está Leah Sills, cuja família foi salva por Sousa Mendes e esteve aí representando a “Sousa Mendes US Foundation”.
Foto nº 3 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > Um grupo de "participantes/activistas” presentes na cerimónia. No meio do grupo pode-se facilmente reconhecer Gerald Mendes, neto do nosso humanista, presente frequentemente, senão mesmo em quase todos as cerimónias em honra de seu avô. Já no ano 2001 eu tive oportunidade de realçar o seu muito interesse em trabalhar pelo reconhecimento de seu avô, dando-lhe, em nome da International Raoul Wallenberg Foundation, a medalha “Aristides de Sousa Mendes” que esta na altura mandou cunhar para o efeito.
Foto nº 4 > Lisboa > Panteão Nacional > 19 de outubro de 2021 > Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes > A placa alusiva a Aristides de Sousa Mendes, honrando a sua presença no Panteão.
Foto nº 5 > Carregal do Sal > Cabanas de Viriato > Cemitério local > c. setembrro de 2021 > Ainda recentemente tinha visitado o jazigo da família de Aristides de Sousa Mendes em Cabanas de Viriato onde, por decisão da família, os restos mortais de Aristides de Sousa Mendes continuam, não obstante a Concessão de Honras de Panteão Nacional que foi dada pelo Parlamento Português a este nosso herói. No cimo do jazigo pode-se ver o brasão de Aristide de Sousa Mendes.
Fotos (e legendas) : © João Crisóstomo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de João Crisóstomo, um dos activistas que, desde 1996, mais contribuiu em todo o mundo para a reabilitação da memória de Aristides de Sousa Mendes (*). A residir em Nova Iorque desde 1975, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67). É membro da nossa Tabanca Grande.
Assunto - Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes
Caro Luís Graça,
Devo confessar que para mim este foi para mim, e verifiquei com muita satisfação para alguns outros presentes que comigo têm trabalhado nesta causa e aí se encontravam, um momento emocionante.
Em 1996 uma pessoa amiga, Anne Treseder, uma advogada americana amiga de Portugal e dos portugueses que vivia na Califórnia e que quando tentava aprender português tinha sabido da vida de Aristides por um dos seus netos, Carlos de Sousa Mendes, falou-me de Aristides de Sousa Mendes. E constatei na altura que, como eu até aquele momento, ninguém em Nova Iorque conhecia este homem e o que ele tinha feito em 1940.
Este reconhecimento agora vinha ao encontro e era resultado dos muitos esforços de muitos indivíduos e de longos anos também. Alguns deles, como Jaques Riviere em França e Anne Treseder nos Estados Unidos até já não se encontram entre nós; e outros, estando longe, como Manuel Dias em França, não puderam estar presentes. Mas para os presentes este não podia deixar de ser um momento muito especial. Mesmo que, como muito apropriadamente me fez notar um dos presentes, a maioria dos que por muitos anos tinham trabalhado a sério para a reabilitação deste nosso herói, se encontrassem naquele momento em "lugares discretos" no meio da audiência "fora das luzes”, enquanto indivíduos que, em comparação pouco tinham feito, se encontravam agora na frente nas "filas importantes”… Como sucede sempre em casos assim.
Mas isso não interessava no momento. O importante era que Aristides de Sousa Mendes estava finalmente entre alguns dos muitos que contribuiram para o melhor da história de Portugal.
E digo “alguns" porque nem todos os grandes e insignes da nossa história constam aí. Encontram-se aí sepultados (ou transladados) os restos mortais de alguns (não de todos os que deviam, mas compreende-se a dificuldade!) dos nossos grandes como Almeida Garret (1799- 1854) o primeiro por ordem cronológica, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro, Humberto Delgado, e outros de lembrança relativamente recente. Aristides de Sousa Mendes, cujos restos mortais continuam no jazigo da família em Cabanas de Viriato fica aqui homenageado com uma placa. Mas está bem acompanhado, como se pode ver por outros também representados aqui em semelhantes circunstancias: D. Nuno Álvares Pereira, Luís de Camões, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, Infante D. Henrique, Pedro Álvares Cabral.
A modo de reflexão se me permites: Este momento em que Aristides de Sousa Mendes entrou no nosso Panteão Nacional foi, de alguma maneira também um momento de alívio. Ainda recentemente vimos a sua memória lembrada e reconhecida no Vaticano quando o Papa Francisco a 17 de Junho de 2020 mencionando nesta data Aristides de Sousa Mendes e o seu agir em 1940 consagrou este dia como o “Dia da Consciência” (**).
É neste contexto que espero a sua memória venha a ser invocada e objecto de foco e ênfase a partir de agora: que o seu exemplo em seguir a sua consciência em momentos e situações de difícil escolha seja agora inspiração para todos. Situações e casos não faltam na situação de perigo e ansiedade em que o nosso planeta, devido à nossa irresponsabilidade em todos os campos e sentidos se encontra já neste momento.
Para ti e Alice (e a Vilma associa-se mim neste) um grande abraço, extensivo a todos os meus caros "camaradas da Guiné".
João Crisóstomo, Nova Iorque
(*) Vd poste de 13 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22623: Convite (18): O nosso camarada João Crisóstomo vai estar presente na Cerimónia de Concessão de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes, no próximo dia 19 de Outubro pelas 11 horas
(***) Último poste da série > 29 de novembto de 2021 > Guiné 61/74 - P22759: Efemérides (357): 50.º aniversário da chegada da 35.ª CComandos à Guiné (Ramiro Jesus)
Guiné 61/74 - P22767: Parabéns a você (2009): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá) e Rep ACAP (Bissau) (1970/71)
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22752: Parabéns a você (2008): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guileje, Nhacra e Bissau, 1971/73)
terça-feira, 30 de novembro de 2021
Guiné 61/74 - P22766: Fichas de unidades (22): CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Safim, 1972/74)
Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar e Sanfim, 1972/74) > c. março de 1974 > Caboxanque > "Monumento em memória dos combatentes da CCaç 4541, "Os Impossiveis". A companhia regressou a Bissau em março de 1974.
Foto (e legenda) : © José Guerreiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Identificação: CCaç 4541/72
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Cmdt: Cap Mil Inf António Pais Dias da Silva | Cap Cav Fernando Emanuel de Carvalho Bicho
| Cap Mil Inf António Pais Dias da Silva
Divisa: "Os Impossíveis"
Partida: Embarque em 21Set72; desembarque em 21 Set72 | Regresso: Embarque em 25Ag074
Em 01Dez72, substituída por dois pelotões da 2ª Comp/BCav 8320/72, recolheu, transitoriamente, a Bissau.
Em 12Dez72, a subunidade deslocou-se para a zona Sul, sendo colocada em Caboxanque, onde assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, então criado, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 4 e depois do BCaç 4514/72. Por períodos variáveis, destacou, temporariamente, pelotões para reforço da guarnição de Cadique.
Em 12Fev74, apó a chegada da CCav 8355/73 para treino operacional e a sua rendição no subsector de Caboxanque pela CCav 8352/72, ali colocada do antecedente em reforço da guarnição, seguiu para Safim, a fim de substituir a CArt 3521.
Em 06Mar74, assumiu a responsabilidade do subsector de Safim, com destacamento em João Landim e Capunga, ficando integrada no dispositivo e manobra do COMBIS.
Em 15Ag074, foi rendida no subsector de Safim pela CCav 8355/73 e seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso. (**)
Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 114 - 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).
Fonte : Adapt de CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 417
(*) Último poste da série > 26 de outubro de 2021 > Guiné 61/74 - P22662: Fichas de unidades (21): CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama, Contuboel, Cuntima, Farim, Binta, Jumbembem, Canjambari, Saliquinhedim / K3, 1969/71)
(**) Vd. postes com referências à CCAÇ 4541/72:
31 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11034: Facebook...ando (22): José Guerreiro, natural de Portimão, em busca dos seus camaradas da CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar, 1972/74)
7 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11353: Facebook...ando (26): A CCAÇ 4541/72 em Caboxanque, donde saiu em LDG em maio de 1974, a caminho de Bissau (José Guerreiro)
Guiné 61/74 - P22765: Tabanca Grande (528): Victor Manuel Ferreira Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974). Senta-se no lugar n.º 855, à sombra do nosso poilão
Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Victor Manuel Ferreira Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72, com data de 27 de Novembro de 2021:
Camarada Luís Graça:
Há cerca de dois meses que tenho conhecimento desta vossa iniciativa e desde então que tenho seguido uma pequena parte das vossas publicações, mas nem preciso de ver mais para considerar este trabalho muito importante para que se escreva a verdade histórica sobre o que foi a Guerra Colonial e em particular na Guiné.
Não há em Portugal consciência da coragem manifestada por estes combatentes neste teatro de Guerra, apesar da insuficiência quer em quantidade quer na qualidade do nosso equipamento Militar, comparado ao do IN.
É também a nossa obrigação, darmos a conhecer aos nossos netos este período da nossa vida, resistirmos e denunciarmos a manipulação dos factos feita por alguns jornalistas sobre os nossos heróis com o intuito de apagar a história, nomeadamente o 25 de Novembro de 1975.
Todos nós temos opiniões diferentes sobre os vários temas abordados, mas ainda bem que é assim, da discussão nasce a luz e já temos idade suficiente para sabermos ouvir mantendo as nossas convicções.
Penso ter em meu poder alguns documentos classificados sobre o MFA na Guiné do período pós-25 de Abril, que ainda não vi publicados. Se acharem que o tema tem algum interesse, estou à vossa disposição para os dar a conhecer.
Sinto que pertenço a esta cruzada e pretendo entrar nesta casa desde que o permitam.
O meu nome é Victor Manuel Ferreira Costa, sou natural da freguesia de S. Julião da Figueira da Foz e resido na freguesia de Lavos do mesmo concelho, nasci a 17 de Abril de 1952, fui recenseado pelo DRM 12 de Coimbra, com o NM 01271573.
Fui incorporado em 26 de Abril de 1973 no RI 5 das Caldas da Rainha, que constam da minha Carta Militar.
No fim da recruta, fui transferido para o CISMI de Tavira, tendo completado o curso de Sargentos Milicianos de Infantaria na especialidade de Atirador de Infantaria e de acordo com a minha classificação passo à categoria de rendição individual.
Colocado no CICA 2 da Figueira da Foz, exerço a função de instrutor, durante 4.º Turno de 73 e o 1.º Turno de 74.
Mobilizado em 4 de Março de 1974 para a Guiné, beneficio de 10 dias de licença e no dia 16 de Março do mesmo ano, a bordo de um Boeing 727 da FAP, chego ao aeroporto de Bissalanca e daí em transporte rodoviário para Bissau, a fim de render um camarada Fur Mil, morto em combate na região de Bafatá.
Fico instalado no QG e aguardo ordens, que chegam uns dias depois. Fazer o espólio de guerra do camarada acima citado.
No final do mês de Março sou colocado na CCaç 4541/72 em Safim.
Nesta Unidade é-me atribuído o comando de uma Secção constituída por mim, 3 Cabos e 7 praças e dou início à minha actividade operacional realizando patrulhas e controlos em João Landim Sul, Impernal, arredores da BA 12 e Capunga. A Norte do Rio Mansoa no destacamento de João Landim Norte, segurança e patrulhas do Rio Mansoa até Bula.
Em Maio de 1974, fui eleito membro da Delegação do MFA na CCaç 4541/72.
Regresso à Metrópole a 3 de Outubro desse ano em avião da FAP.
Com os melhores cumprimentos,
Victor Costa
Caro Victor, sê bem-vindo à nossa tertúlia. Ficas no lugar n.º 855, bem à sombra do nosso poilão. Ficas registado como Victor Costa, como podes verificar na coluna estática do nosso blogue, lado esquerdo, na TABANCA GRANDE - LISTA ALFABÉTICA DOS 855 AMIGOS & CAMARADAS DA GUINÉ.
Quase, quase te libravas da chatice da guerra. Foste dos camaradas que fecharam o conflito, e daqueles que felizmente não sofreram uma sombra daquilo que nós os mais velhos sofreram. Ficámos felizes por isso.
Como dizes, queremos que o nosso Blogue, além de um repositório de memórias, seja um sítio onde se possa discutir abertamente o problema da guerra na Guiné, particularmente, sem prejuízo de se abordar genericamente o que se passou nos outros TO. Só pedimos às pessoas que respeitem as diferenças de opiniões. Une-nos o mais importante, o enorme rol de sacrifícios passados, a incerteza do regresso, o temor de cada passo dado, a fome, a sede, etc.
Aceitamos o teu desafio pelo que ficamos à espera que nos envies a documentação que tens e aches importante para retratar os últimos dias de guerra que antecederam a paz na Guiné.
Estamos ao teu dispor nos e-mails constantes na aba da nossa página.
Para ti, um abraço dos editores e da tertúlia.
CV
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Notas do editor
(*) Último poste da série de 25 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22661: Tabanca Grande (527): António G. Carvalho, a viver em Ponta Delgada, ex-fur mil op esp, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14 (Bolama e Cuntima, 1969/70). É Deficiente das Forças Armadas. Senta-se no lugar nº 853, à sombra do nosso poilão
(**) Vd postes de:
31 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11034: Facebook...ando (22): José Guerreiro, natural de Portimão, em busca dos seus camaradas da CCAÇ 4541/72 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar, 1972/74)
7 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11353: Facebook...ando (26): A CCAÇ 4541/72 em Caboxanque, donde saiu em LDG em maio de 1974, a caminho de Bissau (José Guerreiro)
Guiné 61/74 - P22764: A nossa guerra em números (8): CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67): mais de 3500 km percorridos a pé, e mais de 4700 km em viatura...
Identificação: CArt 1525
Unidade Mob: RAC - Oeiras
Cmdt: Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão
Divisa: "Falcões de Bissorã"
Partida: Embarque em 20Jan66; desembarque em 26Jan66 | Regresso: Embarque em 04N6v67
adaptação operacional e substituir a CArt 644 na função de reserva e intervenção do sector do BCaç 1857.
Em 21Fev66, por rotação com a CCaç 1420, foi transferida para o subsector de Bissorã, em reforço da guarnição local até 31Out66, tendo ainda actuado em diversas operações realizadas nas regiões do Tiligi, Biambe, Morés e Queré e sendo também deslocada para operações na região de Jugudul, de 23Jul66 a 17Ag066; de 18Jun66 a 06Ju166, destacou, ainda, um pelotão para Ponte Maqué.
Em 310ut66, assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, após saída da CCaç 1419, tendo passado a integrar o dispositivo e manobra do BCav 790, após reformulação dos limites da zona de acção dos sectores daquela área em 01Nov66, e depois do BCaç 1876.
Em 10Out67, foi rendida no subsector de Bissorã pela CCav 1650, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Observações > Tem História da Unidade (Caixa n." 81 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte : Adapt de CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 446.
(xiii) 21 militares punidos (pena máxima aplicada; 10 dias de prisão disciplinar agravada; pena de menor relevância: 5 dias de detenção)
(*) Último poste da série > 29 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22760: A nossa guerra em números (7): a carga da CCAÇ 1420 (Fulacunda e Bissorá, 1965/67), a transferir para a CART 1525 (Bissorã, 1966/67), era composta por 17 viaturas (2 camiões Mercedes, 4 Jipes e 11 Unimog), dos quais só estavam a funcionar um jipe e um Unimog.