segunda-feira, 25 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23197: 18º aniversário do nosso blogue (3): Um blogue que tem querido e sabido incluir-nos a todos (Hélder Sousa, provedor do leitor)

1. Mensagem de Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, nov 1970/ nov 72 

[ Ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), português, cidadão do mundo; Engenheiro Técnico Electrotécnico e consultor em segurança do trabalho; vive em Setúbal; membro da Tabanca Grande desde 11/4/2007, tem 176 referências no nosso blogue; colaborador permanente, com o pelouro  de "provedor do leitor". ]


O “nosso” Blogue faz anos, novamente! Pois cá estamos, de novo, a comemorar o aniversário do Blogue.

E refiro, salientando “estamos”, porque insisto na ideia de que o Blogue, embora tenha sido criado pelo Luís Graça, de há muito que, como escrevi aquando do seu 17º aniversário, ele foi “apropriado” pelos seus membros.

Quase todos têm esse sentimento de que “o Blogue é nosso”. E têm razão! Se o Luís e os membros iniciais têm o mérito de o terem começado, a verdade é que fomos todos nós, os que de alguma maneira o engrossaram com as suas contribuições, o ampliámos e lhe fomos dando a alimentação e a visibilidade, que contribuíram para a sua longevidade. E isso não é de modo algum despiciendo pois como as pessoas em geral se movem por modas o que agora é mais apetecível são as frases e as ideias curtas, os “twits”, os “facebooks”, etc., pois os tempos são de grande frenesim e não há tempo nem paciência (nem capacidade…) para ler mais que 4 ou 5 linhas de texto. Bastam umas quantas “bocas”, umas provocações, e já está!

Na verdade, no Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, e também como escrevi faz anos, desde que foi criado “já muito, muitíssimo, foi escrito, comentado, muitas fotos ilustraram as palavras, os locais e acontecimentos, muitos livros lá deram à estampa, muita poesia foi apresentada, muitas outras iniciativas foram potenciadas, publicitadas, acarinhadas, muitos estudos com maior ou menor profundidade foram apresentados, muita polémica (bastantes vezes desnecessária) foi desenvolvida.”

Tudo isto foi e é a vida do Blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”.

Mas também acrescentei mais e que acho não perdeu a atualidade e por isso considero que continua a ser verdade que “sobre o tema da guerra em África existem, ou existiam, muitos Blogues. Quase todos relacionados com as Unidades funcionais (do Batalhão, da Companhia, etc.) de quem promoveu esse repositório de memórias que, no geral, começaram por ser individuais ou do coletivo restrito. Ao nível do “Facebook” são os inúmeros os sites, muitos deles em “concorrência” de seguidores”.

No entanto, o “nosso Blogue” tem algo mais! Tem o seu “livro de estilo”, as suas regras. É verdade que as regras se fizeram para serem respeitadas e se assim fosse tudo seria muito bom. Mas também há quem pense que são para serem “quebradas”, torneadas, usadas nas partes convenientes. Afinal há de tudo e o Blogue também, por este aspeto, é realmente uma boa amostra da sociedade.

Esta questão da “representatividade” também chegou a ser tema de discussão. E em tempos também sobre isso escrevi que “é verdade que a representatividade é sempre questionável mas creio muito sinceramente que, pese embora o âmbito das questões que normalmente ocupam os conteúdos, no essencial tendo por pano de fundo a Guiné e as nossas vivências por lá, o universo dos que por aqui vão contribuindo e dos que apenas “espreitam” é bem ilustrativo da diversidade e pluralidade de opiniões, conceitos, participações. Há de tudo!”

Procurando não cometer nenhuma injustiça, por qualquer omissão que pudesse involuntariamente produzir, não citarei nomes dos mais recentes contribuidores que têm enriquecido o Blogue e com isso proporcionado ainda maior longevidade, mas é justo que refira o Cherno, relativamente à revelação da sua entrevista para a tese de mais um trabalho sobre “as coisas do nosso tempo”, pelo que tem de correção, de assertividade (que ele depois nos disse ter sido contida), de estar permanentemente a contribuir para um maior esclarecimento dos usos e costumes da Guiné. São situações destas que animam a vontade do(s) Editor(es) em continuar, pois o cansaço vai aumentando à medida do aumento dos anos e das maleitas.

Também escrevi em tempos que “se quisermos ser mais sentimentalistas para procurar os benefícios do Blogue, podemos lembrar quantas confissões de “blogueterapia” já foram produzidas, quantas romagens de saudade traduzidas nas visitas que já foram feitas e aqui indiretamente incentivadas, quantas iniciativas de solidariedade, quantas colaborações e contribuições para estudos mais ou menos académicos, quantas “tabancas gastronómicas” foram criadas, revelando por si mesmas a satisfação de encontrar pessoas que passaram por situações iguais ou semelhantes”. Tudo isto… não é nada pouco!

Por tudo isto só me posso sentir grato por, em boa hora, ter descoberto o Blogue e através dele ter aumentado o meu conhecimento geral e até particular em muitos aspetos da “guerra da Guiné”, por ter podido conhecer pessoas que estimo verdadeiramente, seja pela sua grandeza humana, intelectual, de solidariedade, de amizade genuína.

Volto a escrever que “O Blogue deve continuar. O Blogue tem que continuar”.

Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
__________


Vd. também 23 de abril de 2022  > Guiné 61/74 - P23190: 18.º aniversário do nosso blogue (1): Entrevista a Cherno Baldé, nosso colaborador permanente, dada a Verónica Ferreira, doutoranda ("Memórias Virtuais. Representações digitais da guerra colonial", Projeto CROME, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)

domingo, 24 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23196: (In)citações (204): As comemorações do dia 25 de Abril de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

Safim, Abril de 1974 - Lendo o jornal República


1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 5 de Fevereiro de 2022:

Amigos e camaradas,
Apesar de muito importantes, as fotografias não dizem tudo sobre nós. Esta mensagem e a fotografia anexa pretende recordar um período da nossa História que eu vivi intensamente.
A fotografia que vos trago hoje é de um membro da Delegação do MFA de 22 anos de idade da CCaç 4541/72, nos balneários do Quartel de Safim a ler o Jornal República.

Fundado em 15 de Janeiro de 1911, o jornal República, foi um Jornal da Oposição moderada ao Governo do Estado Novo e como muitas outras instituições e pessoas deste País não resistiu ao vendaval do PREC.

Na minha opinião, as duas datas mais importantes antes e depois do PREC são o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, por isso dou muita importância às Comemorações do 25 de Abril de 74 porque pôs fim ao Estado Novo e à Guerra Colonial e também dou muita importância às comemorações do 25 de Novembro de 75, porque sem esta data, continuaríamos seguramente a não ter, a democracia, nem o País que ainda temos hoje.

É no entanto necessário falar do que aconteceu entre estas duas datas, isto é - a 5.ª Divisão do MFA e o PREC-, para percebermos como chegámos ao 25 de Novembro de 1975.

Em 17 de Junho de 1974 é publicado na Guiné o Boletim Informativo n.º 2 do MFA na Guiné, em formato A3 que refere nomeadamente na sua pág. 4, cito - Constituição de uma Repartição de Relações Públicas e Acção Psicológica (espécie de 5.ª Repartição) a funcionar ao nível do EMGFA, - que mais tarde se assumiu na Metrópole em 9 de Setembro desse mesmo ano como - 5.ª Divisão do MFA .

Neste documento começam as minhas reservas com a orientação política do MFA na Guiné, que depois irão aumentar durante o período do PREC.
Ler o Jornal República, era comungar daquilo que no Jornal se escrevia, e acompanhar os seus problemas internos durante o PREC e em particular no Verão Quente de 1975, serviu para reforçar as minhas convicções.

Quando finalmente no dia 25 de Novembro de 1975, o Ten. Cor. Ramalho Eanes e o Maj. Jaime Neves puseram novamente o País nos eixos, foi com alívio verificar, que afinal não estava sozinho naquela barricada.
De facto até o Director, a equipa redactorial e colaboradores do Jornal República, nomes que não vou divulgar, nem emitir qualquer comentário, mas que estavam nessa barricada.
Foi necessário esperar 46 anos para receber a triste notícia dum Senhor, rijo mas moderado, o "Velho" Gen. Ramalho Eanes, ex-Presidente da República com apenas alguns "gatos pintados" e aquela coragem, à chuva a dar o exemplo, nas comemorações do último 25 de Novembro.

Foi uma comemoração desvalorizada e apagada, para dar um sinal político ao País, que as coisas tinham mudado e que eles é que mandam. Que mais disseram esses Senhores que mandam nisto tudo? Disseram apenas que o 25 de Novembro é uma data que divide os Portugueses. E é verdade, visto que do lado desses Portugueses, já só falta o casamento, porque a união de facto, há muito que já existe.

Luís de Camões tinha razão, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (...). Será que a próxima data a deixar de ser comemorada, seja o 25 de Abril?

Quando damos tudo por garantido, não damos valor aos melhores, não respeitamos os mais velhos, não defendemos os nossos heróis e procuramos apagar a História, afastamo-nos da razão. Quem sabe se não existe agora mais um problema, à procura de uma solução!

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur. Mil. At. Inf.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23184: (In)citações (203): Nós, os fulas e os nossos (mal-)entendidos. a propósito da expressão "(lavadeira) para todo o serviço" (Cherno Baldé / Mário Miguéis)

Guiné 61/74 - P23195: 18.º aniversário do nosso blogue (2): Bom dia, desde Bolama (Patrício Ribeiro, nosso colaborador permanente para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Porto


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Nascer do dia


Foto nº 3>  Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Praça principal, com a estátua do Ulisses Grant


Foto nº 4 A> Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Vista parcial da praça principal  (1)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Vista parcial da praça principal (2)


Foto nº 4 B > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Vista parcial da praça principal (3): à esquerda, jerricãs à espera de vez para abastecimento de água; à direita, máquinas utilizadas no arranjo das ruas


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Rua


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Rua principal (1)


Foto nº 6A > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Rua principal (2)


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Monumento italiano aos aviadores mortos em acidente na travessia  aérea transatlântica de 1931


 Foto nº 7>> Guiné-Bissau > Bolama > 24 de abril de 2022 > Monumento italiano aos aviadores mortos em acidente na travessia  aérea transatlântica de 1931

Fotos (e legendas): ©  Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem  complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Patrício Ribeiro (português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. XX, fundador, sócio-gerente e ex-director técnico da firma Impar, Lda; membro da nossa Tabanca Grande, com 15 referências no blogue;e, a partir de ontem, data do nosso 18.º aniversário (*), nomeado formalmente "colaborador permanente para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau" (*)

Data - 24 abrl 20222 08:30
Assunto - Bom dia, desde Bolama

Bom dia. Junto algumas fotos desde Bolama no dia 24.4.22, quando o sol começa a espreitar no meio das cabaceiras e mangueiros.

Fotos tiradas da praça principal, em que se pode ver os bidões junto ao fontanário público à espera que se abra a torneira da agua. 

Bolama, a antiga capital da Guiné. Neste momento é um museu a cair aos poucos. Em que a estrada principal, entre o porto e Bolama de Baixo, está a ser reparada. Que tenham um bom dia. Enviado pelo telemóvel. (**)

Patrício Ribeiro
___________

Notas do editir:

(*) Vd. a sua série habitual > 28 de outubro de2021 > Guiné 61/74 - P22666: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (19: ilha de Soga, arquipélago dos Bijagós, junho de 2021: II (e última) Parte: Os fantasmas da Op Mar Verde (invasão de Conacri, em 22/11/1970)

Guiné 61/74 - P23194: Parabéns a você (2056): David Guimarães, ex-Fur Mil Art MA da CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23169: Parabéns a você (2055): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70)

sábado, 23 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23193: Blogpoesia (766): Com que idade começaste a sonhar? (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 19 de Abril de 2022, desta vez com um poema dedicado ao sonho e à realidade do 25 de Abril de 1974:

Carlos e Luís
Vai uma pequena participação para celebrar esta data, que apesar de talvez não ter sido a solução de todos os problemas que afectam Portugal, é mesmo assim um marco na minha vida e de muitos camaradas.
Juvenal Amado



Com que idade começaste a sonhar?
Foi num Verão cálido,
de ondas e areia sem fim.
Talvez num Outono dourado,
de uvas e parras perfumadas.
Ou Inverno rigoroso,
mãos enregeladas e lábios gretados.
Os sonhos na poeira da picada
Como saberemos os que os sonhos nos reservam.
Os jovens tendem a ter bons sonhos
A vida não os atingiu ainda.
Envelhecemos e sonhamos acordados
a dormir temos mais pesadelos
Delineamos como gostaríamos de ter sido
o que ganhamos e o que perdemos
Aproximamo-nos de uma data sonhada
Julgada impossível
Carregávamos o passado tormentoso
O Futuro incerto explodiu.
Numa suave Primavera
Saímos para a rua de cravo na mão
Tivemos orgulho do nosso tempo
Não trocaríamos esse dia por nenhum outro
Pátria numa coroa de verde caqui
Magnifica esplendorosa
Enfim o melhor sítio do Mundo.
Comecei a sonhar com Portugal
25 de Abril Sempre

____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23000: Blogpoesia (765): "Para ti, Ó Mulher Grande", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

Guiné 61/74 - P23192: Convívios (923): XII Almoço/Convívio do pessoal do BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), dia 28 de Maio de 2022 em Venda da Serra-Mouronho-Tábua (Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário)

1. Mensagem do nosso camarada Constantino Neves (mais conhecido por "Tino Neves", ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71), com data de 22 de Abril com o convite para o próximo Convívio do seu Batalhão a levar a efeito no próximo dia 28 de Maio em Tábua:


CONVITE

Caro Camarada


É com grande entusiasmo que vimos convidar-te para mais um almoço de celebração do nosso regresso no ano em que assinalamos 50 anos, e que constitui o 12.º Convívio e que é um marco histórico após a pandemia que nos vai assolando.

Agendamos o dia 28 de Maio para o nosso almoço convívio e marcamos a Quinta da Hortinha como servidor do citado almoço, como consta do meu anexo, cuja localização é Venda da Serra-Mouronho, com concentração às 12 horas junto à Câmara Municipal de Tábua.

Relembramos a todos a importância de se juntarem neste almoço, após a pandemia e que tanto tem coagido a nossa liberdade de conviver.

Como já é prática usual deste Grupo, as nossas Famílias são também convidadas a estarem presentes, para que em conjunto, possamos passar este dia da melhor forma e celebrarmos o nosso presente através de um passado que faz de nós o que em parte somos hoje, de forma a construir laços fortes para um futuro preenchido de convívio e boa companhia.

É salutar tirar do baú das recordações a nossa vivência dos longínquos anos 1969/1971, o que só se consegue com a presença e envolvimento de cada um de nós. Queremos que permaneça, que se repita e que traga a todos nós mmentos de amizade e conforto, capazes de alimentar a nossa vida, afastar fantasmas que ainda permanecem no nosso subconsciente e isto consegue-se, relembrando a nossa história... para a contarmos aos nosso netos.

Concluindo: o nosso convívio tem a principal função rever amizades, partilhar experiências, sendo uma forma de enriquecer o futuro e de dizer presente, porquanto para muitos camaradas a vida findou.

O almoço está marcado para as 13 horas do dia 28 de Maio, mas quanto mais cedo vierem, mais tempo terão para partilhar a presença de todos.

Valores:
38,00 euros/pessoa
19,00 euros/crianças até 12 anos

A confirmação da tua presença deverá ser feita até 21 de Maio

Os contactos deverão ser feitos para:
carlosalmeidasantos@gmail.com, tlm 932 794 190, telef 239 718 598
valejorge480@gmail.com, tlm 966 371 688
António Castanheira - tlm 967 010 413

Com estima e consideração um abraço do amigo Carlos Santos, do Jorge Vale e do António Castanheira


____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23147: Convívios (922): XXXVII Encontro Nacional dos Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá/Bissau/Guiné, a ter lugar no dia 25 de Junho de 2022 na Tornada/Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil)

Guiné 61/74 - P23191: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (47): De Jardim Colonial a Jardim Botânico Tropical (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Nesta cerca do Palácio de Belém houve zona de caça, herbário real suburbano, Jardim Colonial multifuncional, lugar de mostra da Exposição do Mundo Português, foi uma das mais importantes zonas de estudo das plantas do Império, nestes hectares podem ser vistas espécies tropicais e exóticas das mais fascinantes. Recordo que em 1976 a Fundação Gulbenkian promoveu um colóquio que teve à frente Teixeira da Mota e Orlando Ribeiro com a finalidade de no pós-Império todo este imenso acervo científico ser posto à disposição da cooperação com os novos Estados independentes. Bem curioso seria fazer-se hoje o ponto da situação desta nova passada riqueza de alta perícia tropical estar, ou não, ao serviço da cooperação portuguesa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (47):
De Jardim Colonial a Jardim Botânico Tropical

Mário Beja Santos

O segundo volume do Guia de Portugal Artístico, dedicado aos jardins, parques e tapadas de Lisboa, coordenado por Robélia de Sousa Lobo Ramalho, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1935, é uma verdade preciosidade de quem hoje pretende estudar e até comparar o que efetivamente existe e o passado com o Jardim Botânico da Ajuda, o antigo Jardim Botânico da Faculdade de Ciências (de quem há já uma itinerância), o Jardim Guerra Junqueiro (atual Jardim da Estrela), o Jardim da Praça Rio de Janeiro (atual Jardim do Príncipe Real), uma série de pequenos jardins, caso do Jardim Alfredo Keil, na Praça da Alegria, o Jardim das Amoreiras, o Jardim Braamcamp Freire, no Campo dos Mártires da Pátria, o Jardim Cesário Verde, o Parque do Campo Grande, o Parque Eduardo VII, o Parque Silva Porto, a Tapada da Ajuda (de quem já se fez também uma itinerância), a Tapada das Necessidades (outra itinerância efetuada) e dá-se o devido relevo ao que então se denominava Jardim Colonial. Oiça-se a descrição: “Ocupando a maior parte da antiga Cerca do Palácio de Belém e situado entre o majestoso Templo dos Jerónimos e o Museu Nacional dos Coches, tem o Jardim Colonial a sua principal entrada ao fundo da Calçada do Galvão. Criado em 1906, como dependência do antigo Instituto de Agronomia e Veterinária, instalou-se, no ano seguinte, no Jardim Zoológico, onde passou ocupar as antigas estufas do Conde de Farrobo. Em 1912 resolveu o governo transferi-lo para a Cerca do Palácio de Belém que nessa altura se encontrava devoluta e semiabandonada”. Nascia assim o Jardim Colonial, com objetivos multifuncionais: demonstrações experimentais do ensino, há reprodução, multiplicação, seleção e cruzamento de plantas úteis a fornecer às colónias, ao estudo de culturas e doenças dos vegetais tropicais e ao tirocínio dos funcionários agronómicos que desejem servir o ultramar; fornecer plantas e sementes às colónias portuguesas e promover a introdução de novas culturas nas referidas colónias.

Um antigo ministro da agricultura e prestigiado professor catedrático de agronomia, Mário de Azevedo Gomes, escrevia numa revista em 1928, a propósito deste jardim que é hoje monumento nacional: “A sua curta vida tem sido agitada; uma crise de pobre e má vontade orçamental por pouco lhe não liquidava, há tempos, custosas coleções e plantas raras; hoje, porém, e depois que as colónias interessam pelo custeio das despesas, convencidos da utilidade da instituição, os ventos sopram fagueiros e aqueles que visitam o Jardim, mesmo os mais exigentes, encontrarão nele motivos de íntima satisfação ao verificar a obra feita”.

A visita foi efetuada em época natalícia, havia no interior do Jardim Botânico Tropical um espetáculo dedicado a Alice no País das Maravilhas, razão pela qual o leitor encontrará imagens que induzem uma viagem de som e luz com as figuras prodigiosas imaginadas por Lewis Carroll.


Acompanhou a criação do Jardim Colonial um conjunto de estufas, prendia-se com as variedades de café e até o ananás açoriano. Este conjunto de hectares que constituem um dos mais fabulosos herbários tropicais em Portugal tem uma história anterior ao século XX. Aqui houve um hospício de frades arrábidos, depois D. João V criou a Casa e Quinta do Pátio das Vacas, era um horto real suburbano. Arrasado o Palácio dos Duques de Aveiro e salgado o chão, foi a cerca ampliada com os terraços do Jardim de Aveiro. O Infante D. Fernando, irmão de D. João V aqui andou a correr corças entre ulmeiros, loureiros, choupos e olaias. Na década de 1940, o Jardim acolheu motivos coloniais graças à Exposição do Mundo Português, de que resta hoje um espaço em forma de estufa e um apreciável conjunto de esculturas de etnias do Império Português, entre África e Ásia, uma série delas já recuperadas.
Na parte rústica do Jardim o visitante pode contemplar estatuas de fino mármore de Carrara, reproduções de modelos clássicos de museus italianos, a última imagem que aqui se mostra intitula-se a Caridade Romana, simbolizada numa rapariga amamentado o seu próprio pai, é de Bernardo Ludovici. Durante uma parte da vida do Jardim Colonial, ele funcionou como dependência pedagógica do Instituto Superior de Agronomia. O Jardim teve sempre a sua vida ligada a passantes que ali procuraram sombras nas tardes amenas, dilui-se, é certo, o ar balsâmico dos cervos, dos eucaliptos e das casuarinas, e lê-se no Guia de Portugal Artístico que naquela época dos anos de 1930 ali apareciam alguns oficiais do ultramar reformados, o Jardim mitigava-lhes as saudades nostálgicas dos meios coloniais. Mas não há dúvida nenhuma, depois das alterações institucionais mais recentes, o Jardim mantém-se como local de aprazimento, de remanso, palmeiras e araucárias, buxos e cortinas flores são elementos de sedução que o ajardinamento oferece aos visitantes.
Amostra do conjunto de bustos alusivos aos povos coloniais

Até 1944, o Jardim Colonial exerceu as funções que acima se refiram, incluindo o suporte pedagógico ao Instituto Superior de Agronomia. Nessa data o Jardim Colonial fundiu-se com o Museu Agrícola Colonial e deu origem ao Jardim e Museu Agrícola Colonial, deixou de estar da dependência pedagógica do Instituto Superior de Agronomia. Anos depois, em 1951, a nomenclatura evoluiu para Jardim e Museu Agrícola do Ultramar e com o 25 de Abril o Museu com a Junta de Investigações do Ultramar passou a designar-se Instituto de Investigação Científica Tropical, com sede no Palácio Calheta, que ainda está em restauro. Mas vamos prosseguir viagem.

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23174: Os nossos seres, saberes e lazeres (501): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (46): Trancoso é muito mais do que o seu núcleo histórico (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23190: 18.º aniversário do nosso blogue (1): Entrevista a Cherno Baldé, nosso colaborador permanente, dada a Verónica Ferreira, doutoranda ("Memórias Virtuais. Representações digitais da guerra colonial", Projeto CROME, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > 
Sector L1  (Bambadicna) > Subsector do Xitole > 2/3 janeiro de 1970 > 

Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2.º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho) atravessando uma bolanha, a caminho da península de Galo Corubal -Satecuta, na margem direita do Rio Corubal. O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco. 

Não aparecço na foto mas participei na Op Navalha Polida, em 2 e 3 de janeiro de 1970,  integrado desta vez no 4.º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão de nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos me disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra ... (LG)

Foto da autoria de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, etc. , sem referência ao autor e ao nosso blogue.

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Com a devida autorização do Cherno Baldé (entrevistado) e da doutoranda Verónica Ferreira (entrevistadora), divulgamos hoje, dia em que o nosso blogue faz 18 anos (a maioridade...) as interessantes e extensas respostas dadas pelo nosso colaborador permanente, que vive em Bissau,  às questões que lhe foram colocadas por escrito,  no âmbito do doutoramento da autora (que irá defender a sua tese em meados deste ano, na Universidade deCoimbra

Mensagem de ontem, 22 de abril de 2022, 16:51 :

Boa tarde, Professor Luís Graça,

No seguimento da nossa conversa, venho apenas confirmar a nossa autorização para a utilização da entrevista. Mais uma vez parabéns pelo aniversário do blogue e um abraço para os restantes membros!

Cordialmente,

Verónica Ferreira
PhD student | Junior Researcher

CROME - Crossed Memories, Politics of Silence.
The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times
(European Research Council - ERC-2016-StG-715593)
Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra (CES)


Doutoramento >Verónica Ferreira >
 “Memórias Virtuais. Representações digitais da guerra colonial” 

 
Trabalho de campo. Entrevista a Cherno Baldé, colaborador permanente do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 
(com a devida vénia...)



Cherno Baldé economista,
Bissau. Tem 260 referências
no blogue.

1. Conte um pouco da sua história pessoal.


R: Esta parte tu podes encontrar no Blogue de forma mais desenvolvida e com todos os detalhes que eu poderei completar caso vier a ser necessario.

Eu nasci em meados de 1959/60, na aldeia de Farimbali, arredores da vila de Fajonquito, no sector de Contuboel, região de Bafatá. 

Comecei a dar os primeiros passos e conhecer o mundo a minha volta na nova aldeia fundada pela familia que recebeu o nome de Luanda (mais tarde descobri que, havia em Bolama, cidade onde ele tinha prestado serviço como policia gentilica ao serviço da administraçao colonial, um bairro com esse nome), mas que todos chamavam de Sintchã Samagaia (Samba Gaia era o nome do patriarca a quem todas as crianças da familia chamavam de pai), porque a nossa comunidade ainda era muito conservadora e não aderira a ideia por ser estranha a nossa língua e aos usos e costumes tradicionais.

Em meados de 1963/64, começou o movimento de deslocação das populações das suas aldeias devido à guerra que se alastrava a partir do Sudoeste, dos regulados vizinhos de Oio, Caresse e Cola que foram completamente abandonados. Assim, a nossa familia foi obrigada a deslocar-se para uma aldeia perto da fronteira do Senegal.

Numa noite escura e de chuva fomos atacados e ouvimos tiros e rebentamentos, fugimos juntamente com a nossa avó materna, primeiro para uma aldeia do Senegal e depois para a vila de Cambaju onde trabalhava o meu pai como empregado comercial da casa Barbosa, um Luso-Caboverdiano.

Em 1967/68 o meu pai foi transferido para uma outra loja do mesmo comerciante em Fajonquito, mais para o interior e com ele veio toda a familia numa coluna militar de soldados metropolitanos.

Em 1970, comecei a frequentar oficialmente a escola portuguesa local e ao mesmo tempo que fazia incursoes frequentes ao aquartelamento dos soldados metropolitanos, onde acabei por fazer amizades e encontrar trabalho como faxina junto dos condutores a partir de 1972 e frequentar com certa assiduidade a oficina mecânica de reparação de viaturas onde alguns dos meus amigos trabalhavam como mecânicos-auto.

Com a independencia em 1974, a situação mudou drasticamente e, para acompanhar estas mudanças, tive que mudar a minha atitude em relação aos estudos, único meio que me permitiria acompanhar a evolução do mundo, encarando-os com atenção redobrada.

Em 1975, com mais ou menos 14/15 anos de idade, terminei a escola primária e com isso transferi-me para a cidade de Bafatá para a continuação dos estudos. No ano lectivo de 1979/80 terminei o curso geral dos Liceus de então e mudei-me para a Capital, Bissau onde funcionava o unico Liceu da época (Liceu Honório Barreto, rebaptizado Kuame N’krumah).

Em 1982 terminei o curso complementar dos Liceus (7º Ano) e depois fui recrutado, como se fazia na época, para dar aulas numa escola da região de Biombo (Quinhamel), onde trabalhei durante 3 anos.

Em 1985 (Setembro), viajei para a URSS na companhia de meia centena de jovens guineenses, para frequentar o curso de economia numa universidade de Kiev (Ucrânia) que terminei em 1990, tendo antes passado um ano na cidade de Kichinev (capital da Moldavia) para preparação e aprendizagem da língua Russa.

Com o regresso, ingressei novamente na função pública guineense, tendo feito algumas incursões em varios projectos e organizações internacionais.


2. Que tipo de contacto teve com os combatentes das Forças Armadas Portuguesas durante a guerra colonial (de libertação)?

R: Os meus primeiros contactos com soldados metropolitanos ocorreu em Cambaju, em meados de 1964/65 e consolidou-se em Fajonquito, tendo acabado por trabalhar como faxina em pequenas tarefas caseiras.

O inicio foi de terror pelo insólito de ver pessoas completamente diferentes, de ver pessoas com caras e olhos semelhantes às criaturas diabólicas que povoavam o nosso imaginário nascidos dos contos tradicionais africanos da época, onde os Irãs ou seres satánicos ( chamados em fula de Djinnés, do árabe Jinn) eram de cor branca e cabelos compridos.

Depois pouco a pouco, fomo-nos habituando e entrando dentro dos aquartelamentos onde viviam, para satisfazer as nossas curiosidades crescentes à medida que os conheciíamos e descobríamos o seu mundo e os seus hábitos alimentares, muito diferentes dos nossos, na época.


3.  Qual foi o motivo que o fez interessar-se e aderir à Tabanca Grande? E em que data pediu a adesão?


R: Devo ter entrado em meados de 2008/9 (as datas estão no Blogue), logo depois de descobrir o Blogue por acaso.

Num dia em que, talvez, não tinha muito que fazer, deu-me vontade de saber o que é que o Google sabia sobre Fajonquito, a minha aldeia. Foi um assombro, pois a pesquisa conduziu-me para um trabalho do José Marcelino Martins (um dos colaboradores permanentes do Blogue), sobre uma lista resumo das companhias que tinham passado por Fajonquito de 1964 a 1974 com datas, nomes dos comandantes entre outras informações.

De repente foi como o rebobinar de uma fita magnética com milhares de imagens, de acontecimentos e de momentos que se encontravam adormecidos na minha cabeça. Não conseguia dormir com tanta excitação e então resolvi escrever aos editores o meu percurso de infância e a experiência que tivera com as tropas metropolitanas entre os quais tinha feito amizades, mesmo que passageiras, e que ainda não tinha esquecido. Os Editores, todos ex-combatentes, acho que ficaram sensibilizados e me receberam de braços abertos, passando de simples e curioso seguidor para colaborador permanente, passados alguns anos.


4. Existem outros guineenses a contribuir para a Tabanca Grande?

R: Sim, conheço 2 ou 3 casos, o que é muito pouco pela importância que o Blogue pode ter para o nosso país do ponto vista histórico e da (re)construção dos laços de amizade e fraternidade entre os três paises (Guiné-Bissau, Cabo-Verde e Portugal).


5. Como é que o blog Luís Graça & Camaradas da Guiné evoluiu ao longo dos últimos anos e como se organiza, atualmente?

R: Questão que remeto para os Editores, especialmente para o Editor Chefe, Luis Graça.


6. Que tipo de contribuições faz para o blogue?

R: Eu encaro a minha contribuição como uma forma pedagógica de tentar corrigir as interpretações que muitas vezes os ex-combatentes fazem sobre a Guiné e suas gentes e que parecem-me enviesadas ou deturpadas por lembranças que já perderam objectividade e/ou realidades mal compreendidas na época.

Também, por incentivo, dos Editores tenho enviado alguns trabalhos sobre história da antiga provincia portuguesa da Guiné, pequenas narrativas sobre personalidades históricas e localidades antigas, a cultura dos diferentes grupos étnicos que conheço e diferentes temas de natureza etno-linguística.


7. Revê-se nas histórias e na forma como os ex-combatentes portugueses descrevem a Guiné e os Guineenses?

R: Nem sempre, dai a importância que eu atribuo à minha colaboração no Blogue, com a finalidade de atenuar os impactos negativos das interpretações erróneas que algumas pessoas trazem ao universo do Blogue e que, muitas vezes, não correspondem à realidade dos factos ou são deliberadamente deturpadas para gozar e divertir a malta, como costumam dizer.

Todavia, tenho evoluido positivamente e aprendido muito com os ensinamentos, relatos e experiências muito ricas dos antigos combatentes em geral e que não podia deixar de aferir e valorizar. No Blogue interessa-me tudo, até os aspectos banais que poderiam passar despercebidos e outros claramente menos positivos e que tendem para o menosprezo e a caricatura dos africanos em geral e guineenses em particular, tudo serve para apreender e compreender o outro, uma ferramenta que já trazia comigo desde os tempos em que frequentava os aquartelamentos onde já tinha cruzado com o comportamento excessivamente etnocêntrico dos soldados portugueses diante das nossas populações e culturas, provavelmente resultante da imposição e cultura colonial da época.


8. Existiram ou existem tensões e conflitos de opinião? Se sim, em que assuntos?

R: De uma forma geral, os intervenientes do Blogue sao ex-combatentes, muito maduros e diametralmente opostos aos jovens irrequietos e irreverentes (para não dizer insolentes) que eram quando pisaram solo guineense como soldados e por isso, temos tido discussões e troca de ideias de forma serena e amistosa, mas às vezes aparece um ou outro com ideias muito fixas e com atitudes e palavrões menos dignos e respeitosos quando os seus discursos são colocados ao crivo da crítica e do contraditório. E quando isso acontece, os Editores ou colaboradores, qual bombeiros diante do fogo posto, intervêm para acalmar os ânimos e tudo volta ao normal.


9. Qual a sua opinião sobre a guerra?

R: Eu nao fiz a guerra, fui vitima da mesma e, hoje, os ex-combatentes são unânimes em considerar que a guerra foi injusta e nunca poderia ser resolvida por via das armas, logo não deveria acontecer, mas aconteceu, sobretudo, devido a irreductividade das posições da parte a parte e, penso eu, porque o regime de Lisboa, por razões históricas e geo-estratégicas de interesses nacionais, quiça imperiais, não conseguia vislumbrar uma saída que não fosse a guerra para acabar com a insurreição armada, da mesma forma que já acontecera no passado, sem ter em devida conta os ventos da história e as mudanças de paradigma ocidental em relação à colonização à escala mundial.

Se dependesse da opinião dos chefes tradicionais fulas, não haveria guerra contra os portugueses nos anos 60/70 como pretendiam os nacionalistas originários das elites urbanas, e aqueles, com ou sem razão, eram de opinião de que a presença dos portugueses era necessária para consolidar os alicerces do território e seus fundamentos.

Constituido colónia apenas em finais do sec. XIX, ocupado e pacificado de facto no séc. XX, coexistiam, no território da Guiné, mais de 30 grupos étnicos de diferentes credos e modos de vida que muitas vezes não se entendiam entre si.


10. Essa opinião mudou ao longo dos anos? Se sim, de que forma? O blogue contribuiu para essa mudança?

R: Claro, na vida tudo muda no dia a dia, e cada vez estou mais convencido que a guerra só podia acabar com a desistência de uma das partes, como veio a acontecer com o 25 de Abril. As duas partes tinham objectivos irreconciliáveis, logo não podiam haver negociações a bom termo.

Com a desistência de Portugal, tudo ficou resolvido a contento dos nacionalistas que queriam ocupar o lugar dos colonizadores e usufruir das benesses daí inerentes em detrimento das populações em geral como já acontecia noutros paises africanos independentes.

O Blogue foi fundamental para poder fazer uma leitura mais abrangente do contexto, dos objectivos e meios postos á disposiçao na contenda e descartar algumas núvens e fumos artificiais que existiam na minha cabeça, fruto das diversas campanhas de propaganda de parte a parte e responder a algumas questões de que até à data desconhecia as motivações de fundo. O Blogue foi mais que uma enciclopedia para mim, nos últimos anos.


11. Como é que avalia a contribuição do blogue para a preservação da memória da guerra?

R: Positivamente, pois acho que, inclusive, o governo português já devia patrocinar ou ajudar a patrocinar a produção do Blogue de forma a valorizar e projectar o seu conteúdo de forma a que possa atingir patamares mais elevados e ganhar mais visibilidade no mundo em geral e na sociedade portuguesa em particular.

Os ex-combatentes, pelo que dizem, mostram ter uma consciência clara de que, se não fizerem nada para a preservação da memoóia da guerra, onde foram obrigados a combater, serão os bodes expiadores de todos os horrores que aconteceram e as suas histórias serão simplesmente colocadas debaixo do tapete, por outras palavras, do lixo da história como a pátria sempre fez para com as suas vitimas ao longo da sua existência como nação.

Em relação à Guiné não posso dizer nada porque ela ainda não está livre e, em consequência, não acordou para poder falar sem amarras da sua verdadeira história, talvez um dia.


12. Considera que a memória da guerra que os combatentes das Forças Armadas portuguesas constroem no blogue é incompatível com a memória dos combatentes da liberdade da pátria? Quais são as suas críticas aos textos do blogue?

R: Trata-se de visões diferentes sobre o mesmo objecto histórico. Há muita poeira ao ar e muitas coisas escondidas dos dois lados e que, talvez, nunca viremos a saber, seja por constituirem actos menos abonatórios e dignos do ponto de vista humanitário, seja porque os seus autores simplesmente não conseguem dar a voz, como faz o Blogue da Tabanca Grande, e transmitir às gerações vindouras os feitos e proezas que protagonizaram na sua juventude em condições das mais imprevisiveis e impensáveis.

Apesar dos estímulos e desafios lançados, não tem havido muita vontade de falar da guerra por parte dos combatentes do partido “libertador”. Mas, por outro lado, considero que as reacções menos favoráveis e mesmo agressivas dos ex-combatentes portugueses inibem a participação dos combatentes e guineenses em geral da narrativa da guerra no Blogue, pois existem irreductíveis que não querem ouvir o outro lado da barricada e preferem acantonar-se nas suas trincheiras num terreno e numa lingua que é mais dele que dos outros.


13. Quais são os seus elogios aos textos do blogue?

R: Tenho lido, no Blogue, textos maravilhosos e que me ajudaram a ser melhor e mais humano e sobretudo a compreender as razões porque combateram, alguns por convicção patriótica, outros por obrigação e ainda aqueles que, não o afirmando abertamente, mas que era uma forma de progredirem na vida, saindo das suas aldeias onde não acontecia nada, para as cidades, à procura de uma vida melhor.


14. Gostaria de acrescentar alguma história, informação ou reflexão?

R: Por agora não, mas existem diversos textos já produzidos no Blogue que, caso sejam de interesse para o vosso trabalho, sempre poderão ter à vossa disposição e utilizar dentro das regras impostas pela comunidade e Editores da TG.

[ Cópia do guião da entrevista  com as respostas escritas, disponibilizada pelo Cherno Baldé. Revisão / fixação de texto / negritos,  para efeitos de publicação  no blogue: LG]
___________

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23189: Memória dos lugares (440): A antiga pista de Cufar...e uma torre de vigia do tempo da CART 2477 (1969/71) (Martin Evison, Action Guinea-Bissau, Catió e Cufar)

 












Guiné-Bissau >Região de Tombali > Catió > Cufar  > A antiga pista de Cufar, usada pela Força Aérea Portuguesa durante a guerra colonial (1961/74). Posto de sentinela do tempo da CART 2477 (Cufar, 1969/71).

Fotos (e legenda): © Martin Evison  (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > c. 1973 > O Nordatlas na pista de Cufar... Posando junto dele o Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) (*)



Guiné > Região de Tombali > Cufar > c. 1973 > O Nordatlas na pista de Cufar (*).

Cufar era uma placa giratória de apoio logístico para o Sul e, por esse motivo, originava um movimento muito fora de vulgar, quer em meios aéreos, quer em viaturas e pessoal militar.


Fotos (e legendas): © Eduardo Campos  (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de 20/04/2022 à(s) 20:31, enviada por Martin Evison, através do formulário de contacto do Blogger:

Estive em Cufar na semana passada. Tenho algumas fotos da pista de pouso (sic).
 
Um tem um prédio marcado como CART 2477. Por favor, deixe-me saber se eu posso enviá-los para você. Martin.


2. Respondemos-lhe de imediato nestes termos:

Olá, Martin, teríamos todo o gosto... Temos poucas referências a essa companhia de artilharia, a CART 2477, que por lá passou, em Cufar, em 1969/71, durante a guerra colonial. 

 Saudações, "mantenhas". Luís Graça


3. Nova mensagem do Martin Evison, quinta, 21/04, 19:48  


Olá, Luis,

Anexo algumas fotos. Há algumas mullheres na passarela secando arroz.

Tive problemas por tirar as fotos e tive que me apresentar ao comandante em Buba. Acho que também era um acampamento do exército português. A pista tem sido usada por traficantes de drogas. O exército colocou toras 
 [, toros, em português dePortugal] na pista para controlar seu uso. Supõe-se que a recente tentativa de golpe de Estado tenha sido relacionada a drogas.

Tive o prazer de encontrar uma foto de blog mostrando a 'torre de controle' (?), com um Nord Nordatlas.

4. Depois de recebermos as fotos, perguntámos, com data de ontem, 11:53 e 14:36:

Olá, Martin, está tudo OK. Vou publicar  as fotos com o teu nome. Podemos identificar o autor das fotos ? Não há problema (de segurança, por exemplo) ?

 Gostava de resto que, enquanto amigo da Guiné-Bissau e falando português, te juntasses a esta "tertúlia" ou "comunidade virtual", a Tabanca Grande, que tem 860 "amigos e camaradas da Guiné"... E faz amanhã 18 anos de existência na Net, um grande longevidade... 

 É apenas um blogue de "partilha de memórias (e de afectos)", sem quaisquer "bandeiras" (político-ideológicas, religiosas, étnicas, etc.)... Claro que a maioria dos participantes (90%) são antigos combatentes...E gostariámos que houvesse mais guineenses

Vives na Guiné-Bissau ? Vai dando notícias...  Mantenhas. Luís

5. Resposta do Martins Evison, com data de ontem, 16:05

Olá, Luis,

Obrigado por suas respostas.

Não sou guineense - sou inglês e estava visitando Guiné a convite de uma instituição de caridade inglês - "Action Guinea Bissau" - que ajuda a restaurar poços de água, casas de banheiro e prédios escolares, e patrocinar  uns estudantes de direito e mediina, por exemplo.

Estou aprendendo português, mas meu progresso é lento. Interesso-me pela história portuguesa, de que nós, em Inglaterra, não conhecemos o suficiente.

Por isso, tirei as fotos da pista e da torre, e pouso (sic) e encontrei a foto de 69/71 do Nordatlas com a torre de controle mostrada nele em seu blog! (*)

Tudo bem,  você usar meu nome como autor. Seria possível incluir algumas fotos do trabalho da "Action Guinea-Bissau", uma  instituição de "charity" (beneficência) em Catió e Cufar, e um link para projetos anteriores - se você acha que é apropriado?   (**)

https://www.actionguineabissau.org.uk/project-gallery

Publicaremos a seguir um poste, com as fotos referentes  à " Action Guinea Bissau", " uma organização sem fins lucrativos,  fundada em 2020", sediada no Reino Unido, e que  "está a trabalhar para resolver questões relacionadas com a igualdade de género, desemprego e ambiente na Guiné-Bissau."
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31  de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5569: Histórias do Eduardo Campos (2): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 2): 5 meses como operador de mensagens em Cufar