domingo, 29 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23308: Convívios (931): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - III (e última) Parte: no total, 69 participantes, dos quais um terço eram "piras"

 

Foto nº 24 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Nas pontas o Celestino Ferreira, à nossa esquerda; e António M. Silva, à nossa direita. Carlos Fortunato ao centro, o presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga.


Foto nº 25 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Ten. Cor. António Andrade (aniversariante no passado dia 28) e Daniel Gonçalves


Foto nº 26 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Todos já ident. Ant. Varanda, e os amigos do Fitas


Foto nº 27 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Não sei o nome, Manuel Saraiva Costa e Celestino Ferreira (já identificados)

Foto nº 28 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  José Mota Pereira, Duque Marques e Celestino Ferreira (este dois  já identificados)



Foto nº 29 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 
>Ten Cor José Robalo Borrego (velhinho nestas andanças), à direita ainda tenho dúvidas.


Foto nº 30 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
Joaquim Anjos Lourenço e João Rebelo



Foto nº 31 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da esquerda para a direita, João Botelha ("pira"), Mário Fitas e Manuel Amaro.


Foto nº 32 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >José de Sousa, António Anjos (irmão do Joaquim Anjos) e Cor Armando Marques Ramos


Foto nº 33 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >– Alpoim Almeida Ribeiro, Carvalho Guerra (já identificado), José Manuel Lúcio Inácio (já identificado)



Foto nº 34 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > António Ramalho e Joaquim da Cruz Coelho ("pira").


Foto nº 35 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > Da direita para a esquerda, Diniz de Sousa e Faro (merece o prémio de assiduidade), José Estrela Soares, António Belo e António Duque Marques.


Foto nº 36 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Da esquerda para a direita, Diniz e Faro, Domingos Robalo e,d e casmira amarela, o António Casquilho Alves (o tal não reconhecido da foto de capa do álbum que mandei).



Foto nº 37 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Augusto Silva Santos e Fernando A. Serrano


Foto nº 38 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >Joaquim Anjos e António Anjos (já identificado)



Foto nº 39 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > António Varanda (já identificado)


Foto nº 40 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O Braima Baldé e o  Hugo Moura Ferreira.


Foto nº 41 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
António Casquilho Alves (já identificado).


Foto nº 42 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >
Este camarada ainda não reconheci. Mais uns telelonemas e talvez consiga.



Foto nº 43 > Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 >  Ten cor d FAP, 
António Mota, do Barreiro, que é a primeira vez que vem, falei muito com ele antes, adorou e é o Presidente da AOFA - Associação de Oficiais das Forças Armadas.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Terceira (e última) parte da publicação de um seleção de fotos da reportagem feita pelo Manuel Resende (*).

Segundo informação colhida junto do fotógrafo (e régulo) da Tabanca da Linha, participaram neste 48º convívio (que não se realizava há dois anos por causa da pandemia de Covid-19) sessenta e nove (69) camaradas e amigos, dos quais 22 eram "piras (19 camaradas e 3 companheiras). O que é um valor muito bom tendo em conta a nova vaga de Covid, a sexta, que na última semana afastou muitos inscritos,

Obviamente, faltam aqui as caras de muitos "históricso" da Tabanca da Linha... Por uma razão ou outra, desta vez falharam. (**)

Em mail posterior, mandou-me o Manuel Resende dizer o seguinte: "
Amigo Luis, devias acrescentar uma foto especial que mando em anexo. É do Ten Cor Força Aérea, creio que não esteve na Guiné, pediu para aderir ao nosso grupo e cá está (excepções há sempre) António Mota, do Barreiro, que é a primeira vez que vem, falei muito com ele antes, adorou e é o Presidente da AOFA - Associação de Oficiais das Forças Armadas."

___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série de: 


26 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23296: Convívios (928): 48.º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 19 de maio de 2022 - Parte I: os "bandalhos" que se estão a tornar clientes...

Guiné 61/74 - P23307: Blogpoesia (767): Eu não sou poeta, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Em mensagem do dia 23 de Maio de 2022, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho em verso, agora dizendo que não é Poeta. Mas nós sabemos que é, genuíno, à sua maneira, e nós gostamos de o ler. 


Eu não sou Poeta

Por Albino Silva

Camaradas aqui da Tabanca
que vão lendo o que tenho feito
para todos os Tertulianos
que muito admiro e respeito.

Por tudo que vou escrevendo
eu só vos quero dizer
que vou escrevendo em versos
pois só isto me dá prazer.

Eu sei que vou fazendo
muita escrita como esta
mas a todos quero dizer
que não sou nenhum poeta.

Até mal sei escrever
Vocês isto tem notado
ao lerem estes meus versos
em erros que tenho dado.

Não eu não sou poeta
mas minha escrita é assim
em versos para os camaradas
e sempre feitos por mim.

Só tenho a Quarta Classe
mas adoro aqui contar
tenha erros ou não tenha
eu nunca irei parar.

Já bem todos repararam
que de tudo vou escrevendo
pois são apenas verdades
o que aqui vou dizendo.

Por aqui nesta Tabanca
sem ser poeta vou escrevendo
lá vou lembrando a Guiné
e os Camaradas vão lendo.

Aprecio os comentários
mas insisto em dizer
que eu nunca fui poeta
só por isto eu escrever.

História do Bat Caç 2845
um Livro que é muito bom
inclui meus Camaradas
que eram do meu Batalhão.

Todos lá tem seu nome
Oficiais Sargentos e Praças
e de muitos guineenses
e de todas aquelas raças.

Mas eu não sou um poeta
escreva eu o que escrever
envio para a Tabanca
sempre com muito prazer.

Sou só o Albino Silva
que lá pela Guiné andei
fui armado para a Paz
e jamais um tiro eu dei.

Fui apenas bom Soldado
e por lá muito escrevia
eram aerogramas e cartas
que a Madrinha recebia.

Minhas Madrinhas de Guerra
chamavam-me de bom menino
até mesmo muitas Senhoras
do Movimento Nacional Feminino.

Era eu assim Soldado
naquele tempo então
longe de minha família
mas defendendo a Nação.

Camaradas da Tabanca
antes de vos deixar
Parabéns ao Luís Graça
pela Tabanca fundar.

Parabéns aos que se esforçam
e que nela participam
aos que lêem minha escrita
minha amizade conquistam.

Voltando ao tema da escrita
e antes de terminar
aceitarei vossas críticas
sem nunca as contestar.

Então como não sou poeta
a todos vos desejo paz
Camaradas Tertulianos
Abraços cá do rapaz.

Fui Soldado fui Maqueiro
só ppoeta isso é que não
em rajadas dou abraços
do fundo do coração.

Vou disparar a G3
Rajadas vou enviando
Abraços para a Tabanca
assim eu vou disparando.

Um obrigado ao Vinhal
só por tanto me aturar
por tudo que vou enviando
e o Carlos a publicar.

Albino Silva sou eu
Camarada e amigo
mesmo que não te conheça
estarei sempre contigo.

Voltarei a escrever
pois é isso minha meta
em versos na minha escrita
mas sem nunca ser poeta.


FIM
Albino Silva, 01100467

____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23300: Blogpoesia (766): O Canchungo e Avenida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

sábado, 28 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23306: (In)citações (207): Tal como a Fénix Renascida, a Tabanca da Lapónia afinal não morreu: continua lá no seu sítio, "de neve e gelo" e com "pão e vinho sobre a mesa" para os amigos, e os cães (e as renas) atrelados ao trenó (José Belo, régulo vitalício)



1. Mensagem de Joseph Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, (i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi  nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida (*); (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.

Data - sexta, 27/05/2022, 18:23 
Assunto - Subjetividades

Caro Luís

Espero que os problemas de saúde estejam todos sob controle.

Tive a oportunidade de efectuar mais uma leitura atenta aos textos de Francisco Baptista publicados no blogue. Leitura que “obrigou” a escrever algumas linhas sobre as descrições e valores tradicionais que d’elas,com tanta genuinidade , emanam.

Vou enviar-te uma carta aberta ao Escritor que aprendi a admirar. 
Um abraço do J. Belo (**)


PS - Tive a oportunidade de, literalmente no minuto antes das zero,  anular a venda da casa da Lapónia. Mais uma vez (!) tive que me render ao facto de as vivências, recordações e exotismos serem demasiado importantes para um tal encerrar de capítulo.

Daí, continuar a Tabanca da Lapónia,  não “de pedra e cal” mas de neve e gelo Árctico como anteriormente. Os passeios em trenó de cães, ou de renas, continuam à disposição dos Amigos que por lá apareçam, assim como o “pão e vinho sobre a mesa “.

Os mais friorentos encontrarão “daiquiris sobre a mesa” em Key West/Florida.
Bem Vindos!
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(**) Último poste da série > 18 de maio de2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1940-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

Guiné 61/74 - P23305: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): Projecto “Querido Pai”, que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole (Joana Ponte e Ana Vargas)

“Querido Pai”

Um projecto para investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole

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1. Mensagem de Ana Vargas enviada ao nosso Blogue em 5 de Maio de 2022:

Boa tarde
Sou filha, neta e sobrinha de militares. Perdi o meu tio mais novo na Guiné, para onde pouco tempo depois partiu o meu pai, para o que seria já a sua terceira comissão.
Os meus irmãos e eu recebemos postais e aerogramas desse período, dado que, pela primeira vez, não o acompanhámos. Receando que uma parte importante da nossa memória desaparecesse com o decurso do tempo, fui sensibilizando amigos e familiares para que fossem preservando os aerogramas e outros testemunhos da guerra colonial.

Em conjunto com a Investigadora Joana Pontes, autora do livro Sinais de Vida, estou neste momento envolvida num projeto de recolha de depoimentos e documentos que testemunhem a relação pais/filhos vivida à distância, quando os pais partiam para a guerra. Leio com frequência este blogue e nele encontrei já referências a esta correspondência, contada por uma neta.
Gostava de saber se seria possível facultarem o contacto de Albano Mendes de Matos para o podermos recolher o depoimento dele, bem como da filha e, ainda, saber da possibilidade de divulgarmos este projeto no vosso blogue.

Antecipadamente grata
Ana Margarida Serpa Soares Menino Vargas

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2. Depois de algumas trocas de mensagens com a Dra. Ana Margarida Serpa Soares Menino Vargas, aqui fica a publicação do texto com a apresentação do seu projecto a levar a cabo com a investigadora Joana Pontes:

Somos Joana Pontes (joanatomaspontes@gmail.com) e Ana Vargas (amssmvargas@gmail.com), autoras de um projecto que nomeámos “Querido Pai” que tem como objectivo investigar e dar a conhecer o modo como os militares mobilizados em África mantiveram uma relação com os filhos que ficaram na Metrópole. Para o efeito, pretendemos recolher depoimentos, aerogramas, desenhos, fotografias ou pequenos vídeos (filmes) que testemunhem essa relação.

O propósito final será a realização de um documentário, a publicação de um livro e a salvaguarda das memórias que nos têm sido confiadas pelos militares e famílias que, muito generosamente, têm falado connosco.
O projeto foi apresentado ao ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual, no âmbito do programa de apoio ao audiovisual e multimédia. Entre mais de 90 candidaturas apenas 7 foram elegíveis, incluindo esta.

Joana Pontes - investigadora e realizadora, autora de Sinais de Vida, correspondência da guerra, 1961-1974, Edição Tinta da China (tese de doutoramento)
e
Ana Vargas - jurista, filha, sobrinha e neta de militares do Quadro Permanente.

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22773: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (92): O nosso camarada Serra Vaz quer fazer um estudo de toda a simbologia das Unidades Militares mobilizadas para as Campanhas de África (Mário Beja Santos / Serra Vaz)

Guiné 61/74 - P23304: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52): Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Desta feita incursão é aos jardins do Palácio Nacional de Queluz, os restauros e as intervenções neste espaço merecem calorosas salvas de palma, sustiveram-se escandalosas ruínas nos azulejos, era uma degradação deplorável, atentatória de um espaço inserido num monumento nacional, os jardins reavivam-se, tal como as estufas, mas ainda há muito para fazer. Aproveita-se a oportunidade para uma referência de apresentação daquele que é o mais importante exemplar de arquitetura palaciana portuguesa associado à vida cortesã, que marcou a segunda metade do século XVIII. Só se vai bisbilhotar a Sala do Trono e Sala da Música, a visita ao palácio fica para mais tarde, é uma magnificência que merece ser vista com bastante cuidado, basta pensar na Sala dos Embaixadores, na Sala das Merendas, no Quarto D.Quixote, nos aposentos régios, inclusive no Pavilhão D. Maria. Por ora, confina-se a viagem aos jardins superiores, as surpresas sucedem-se em catadupa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (52):
Os jardins esplendentes do Palácio Nacional de Queluz - 1

Mário Beja Santos

Para chegar aos belos jardins de Queluz, há que entrar em espaço palatino, um bilhete de apresentação não vem a despropósito. Palácio e jardins estão situados a 12 km de Lisboa e a 15 do centro histórico de Sintra, o edifício é um exemplo notável da arquitetura portuguesa de Setecentos, aqui viveu a Corte, sobretudo no período estival, nenhum visitante ficará insensível às salas de aparato do que foi uma residência real. Aqui se pode ficar com uma bela perspetiva sobre a coleção de artes decorativas portuguesas e europeias. E saindo do edifício é nos jardins que encontramos um cenário entre o fantasioso e o sofisticado, aqui se realizaram festas e passatempos com um enquadramento fora de série, marcado pela Fachada de Cerimónias, a Cascata Grande, o Pavilhão Robillion e o Canal de Azulejos. Como escreve Isabel Cordeiro num livro de divulgação sobre este palácio, da autoria de Margarida de Magalhães Ramalho, “Passeando nos jardins de aparato, ou por entre as alamedas de buxo e bosquetes, encontramos temas galantes e da mitologia clássica que a estatuária italiana e as esculturas de John Cheere retratam; o Canal de Azulejos remete-nos para um passeio por paisagens campestres e portos de mar; os lagos e fontes surpreendem-nos com a delicada harmonia dos jogos de água”. Entra-se, pois, no palácio, percorremos algumas divisões de acolhimento onde não faltam frescos magníficos e chega-se à Sala do Trono, merece contemplação demorada.


De todas as salas do palácio, é a de maior aparato, mesmo desprovida de mobiliário. Foi concebida para o casamento de D. Pedro com a futura rainha D. Maria I, é um amplo salão que abre diretamente sobre os jardins, tudo desenhos de Jean-Baptiste Robillion, espelha a imponente sala o gosto regência-rococó, que se desenvolveu em França nos reinados de Luís XIV e Luís XV. Deve-se esta magnificência aos aspetos decorativos, ali prepondera a talha dourada. Há logo a perceção de que a decoração é leve, desenvolvendo-se delicadamente ao longo das paredes, portas e pilastras. Nos quatro cantos, elegantes Atlantes dourados como que suportam o teto. O teto é de fundo branco com pinturas e harmoniosos desenhos em dourado.
Aqui já se espreita a Sala de Música, uma das que se manteve praticamente inalterada até hoje. A dinastia dos Bragança teve melómanos exigentes, e até músicos e compositores, caso de D. João IV e D. Luís. A sala é decorada a talha dourada com motivos alusivos à função, é também conhecida por Sala das Serenatas, já que aqui se realizavam, quando a Corte estava presente, concertos e serões musicais.
Estamos agora nos jardins superiores, e vale a pena tecer alguns comentários. A Quinta Real de Queluz tinha três tipos de espaços verdes: a zona agrícola, o parque e os jardins superiores. É o que estamos a ver logo na primeira imagem. Foram desenhados por Jean-Baptiste Robillion e funcionaram como prolongamento dos salões do palácio. Foram palco de inúmeras festas, de danças, teatros, concertos, jogos e espetáculos de pirotécnica. São dois os jardins superiores, o de Malta e o Pênsil. Também conhecido por jardim Neptuno, este último desenvolve-se a partir da Fachada de Cerimónias.
Os jardins do Palácio Nacional de Queluz possuem o maior acervo de estátuas de John Cheere (1709-1787) fora de Inglaterra. Entre 1755 e 1756 o futuro rei D. Pedro III encomendou ao escultor inglês estatuária de chumbo para decorar os jardins do seu palácio. Muito utilizado em Inglaterra para decorações de exterior, quer de fachadas quer de jardins, este tipo de estátuas tinha larga vantagem sobre as de bronze e/ou de pedra. Eram de fácil reprodução, tinham acabamentos excelentes e eram muito mais baratas. A escolha do futuro monarca irá refletir o gosto da época: um melting pot onde se podiam encontrar figuras da mitologia clássica, animais exóticos, figuras da Commedia dell’Arte e personagens do quotidiano real. As figuras mitológicas eram pintadas a branco imitando ou mármore ou o dourado. Em 2003, por iniciativa do World Monuments Fund, uma organização internacional vocacionada para a preservação do património a nível mundial, concretizou-se o restauro das esculturas de John Cheere.
Lago de Neptuno, no Jardim Pênsil

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23281: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51): A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23303: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VIII

1. Continuação da publicação do texto de memórias "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra", de António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (BissauBuba e Pelundo, 1969/71)


A MINHA PASSAGEM PELA GUINÉ-BISSAU EM TEMPO DE GUERRA

António Sebastião Figuinha
Ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
CCS/BCAÇ 2884
1969/1970/1971
Parte VIII

Debruçando-me sobre a saúde e os vários casos que durante a comissão tive que enfrentar não só com a parte militar como também com a parte civil.

Sobre a parte militar, como já deixei entender mais atrás, não tive casos de saúde muito graves na CCS do Batalhão 2884 ou seja, durante o tempo que estive no Pelundo.

Descrevendo sobre as necessidades de tratamentos de saúde dos militares, os casos de maior preocupação do Médico e meus, foram os ataques de paludismo “Malária”, doenças sexuais transmissíveis e saúde oral. Sobre a saúde oral, a ela se deveram a maiorias de consultas externas de militares enviados para o Hospital em Bissau.
Quantos aos casos de Paludismo, com mais ou menos dificuldade foram sendo resolvidos no local.

Mais graves e diversos foram os casos de saúde sexualmente transmissíveis. Devo começar por descrever que, casos houve, que tiveram início ainda na metrópole. Destes, lembro-me de um que não conseguimos curar durante toda a comissão.

Numa das minhas idas a Bissau e à Direção de Saúde, o chefe desta, chamou-me ao seu gabinete para trocar informações sobre a saúde dos militares e das populações. Devo confessar aqui, o grande apreço que tive por este militar com a patente de Brigadeiro. Só o conheci lá, mas, a forma carinhosa como sempre me tratou ficará sempre comigo. Eu era o seu menino! A revista do Exército já me tinha colocado na capa de uma das suas edições como militar exemplar a lidar com a saúde da população civil.

Naquele dia tinha uma informação importantíssima a transmitir-me em primeira mão, portanto, antes de ser enviada para o Comando do meu Batalhão.
Tratava-se dum tema ligado às doenças sexualmente transmissíveis e, sobre a forma como o PAIGC a estava a utilizar. Estes começaram a introduzir prostitutas infetadas para contaminação das nossas tropas, enfraquecendo-as moral e fisicamente. Os americanos utilizaram este esquema contra os japoneses na segunda Grande Guerra Mundial. Os japoneses, logo que descobriram, começaram a fuzilar os seus militares infetados para imporem regras.

Logo que naquela tarde e mal a escolta chegou ao Pelundo, fui de imediato falar com o Capitão da CCS dando-lhe conta do que pensava fazer em relação ao pedido do Brigadeiro Médico da Direção de Saúde da Guiné. A resposta do Capitão, que por sinal já tinha recebido as mesmas instruções de Bissau, deu-me carta branca para atuar junto das prostitutas que frequentavam o nosso meio e, proporcionou-me os meios para as trazer ao Quartel a fim de serem observadas por mim, já que o Médico se encontrava ausente em férias no Continente.

Alem das prostitutas, havia a necessidade de ter uma conversa muito séria com os militares sobre minha responsabilidade na saúde.
Uma a uma, elas me foram entregues pela patrulha destinada a esta missão. Dentro dos meus conhecimentos, fiz-lhes uma prévia observação.

Para espanto meu, logo que soube que já se encontrava a primeira no Posto Médico, encontrei a porta deste fechada, mas com som de música no seu interior. Bati na porta, dando ordem para que a mesma fosse aberta. Mal esta se abriu, encontrei um dos Maqueiros a querer ensinar a prostituta a tirar a roupa como se estivesse num cabaré. Não gostando do que vi, levantei a voz para que terminasse o espetáculo. Ordenei novamente que fosse fechada a porta do Posto Médico para, deste modo, tentar dar alguma privacidade à paciente.

Mal eu tinha dado esta ordem, senti a voz do Major ordenando que queria entrar para verificar o que se estava a passar. De imediato, dirigi-me à porta para saber o que o Major Pinho queria. Foi-me dizendo que tinha ouvido música e, como tal, queria observar as suas razões. Disse-lhe que era assunto interno e que o já tinha resolvido. Porém, ao aperceber-se que a mulher se encontrava meio despida tentou forçar a entrada, mas eu não deixei, dizendo-lhe que se tratava de assuntos de saúde com ordens superiores de Bissau e como tal, só a mim diziam respeito. Pouco convencido, lá foi praguejando.

Das cinco prostitutas por mim observadas, duas foram enviadas para o Hospital para melhor observação médica e, às outras três, apliquei-lhes um tratamento com antibiótico injetável correspondente a um tratamento diário de uma semana. De Jipe foram levadas cada uma para sua residência onde permaneceram sem poder exercer a sua profissão durante cerca de quinze dias por causa das dores que as suas nádegas lhe transmitiam.
Este tratamento começou a ser dado pelo Médico aos homens civis para evitar que nenhum não mais aparecesse no Posto Médico após a primeira injeção e, se tornassem possíveis doentes crónicos.

Quanto aos Soldados da Companhia, fui chamando um a um ao Posto Médico para lhes falar dos objetivos do PAIGC com as prostitutas e, como a partir dos meus conselhos, todo aquele que me aparecesse contaminado seria tratado. Em cima da minha secretária tinha colocado uma seringa de vinte centímetros cúbicos com uma agulha de doze centímetros de comprimento. Alguns deles desmaiaram só pela visão da agulha.
Às prostitutas, aconselhei-as a obrigarem os Soldados a usar o preservativo. Umas responderam-me que tinham receio que o preservativo ficasse dentro delas fazendo balão. Disse-lhes que tal não aconteceria. Tentei durante a comissão evitar este flagelo de saúde pública.

O interesse por aumentar os meus conhecimentos na saúde foram uma realidade com o tempo e a população civil deu-me esta possibilidade. A minha dedicação foi uma constante. Desde ajudar em partos, detetar apendicites e outras mazelas originais de África. Direi que o serviço militar em África foi uma grande escola de saúde para mim e para muitos dos Médicos que por lá passaram. Até aos dias de hoje, tenho ao longo destes anos tirado partido desses conhecimentos, não só para mim, como também para os meus familiares.

Como já referi em páginas anteriores, uma tarde o Comandante chamou-me ao seu gabinete para me anunciar que teria que ir para o Quartel de Có dar assistência sanitária aos nossos militares que lá se encontravam como também à população que de mim necessitasse.
Com um sentimento de revolta perguntei-lhe porque eu? Sendo o mais qualificado do Batalhão porque não era indicado outro? Respondeu-me que não havendo Médico nem Furriel Enfermeiro naquela Companhia, eu era o Enfermeiro mais bem preparado para dar confiança aos nossos militares que lá se encontravam. Agradeci o elogio, mas que bem o dispensava porque iria contrariado. Acabava de receber um balde de água fria na minha cabeça. Senti vontade de gritar pela revolta que sentia. Na minha mente senti a vingança dele pelas afrontas que lhe fiz não cedendo aos seus caprichos. Também o Médico que comigo se encontrava no Pelundo enalteceu os meus conhecimentos em saúde, mas para proveito próprio. Desta forma, evitava ter que se deslocar em escoltas a Có numa altura que se aproximava o fim da nossa estadia na Guiné.

Um dos motivos para ter havido necessidade de se deslocar para a povoação de Có um Furriel Enfermeiro deveu-se, primeiro, porque o Furriel Enfermeiro daquela Companhia e do meu curso ter sido preso de acordo um artigo das regras militares sobre a conduta que todo o militar devia ter naquela altura, bem como não possuírem lá Médico.
Dias antes deste acontecimento, fui surpreendido ao ver na prisão do Quartel do Pelundo o Furriel Enfermeiro de Có. O Lemos, de seu nome, era um daqueles que juntamente comigo tiraram o curso e dos mais pacatos e até divertidos, tendo muito jeito para o Teatro. Porem, quando soube das causas, não fiquei muito surpreendido. Nos dias de hoje, até ficaria famoso já que passou a ser um ato de afirmação que as minorias de hoje nos tentam impor. Devo ainda acrescentar, que sendo o Lemos natural de Braga, foi também para o Porto tal como eu, realizar o estágio do curso no Hospital Militar local. Um quase fim de Comissão drástico para ele. Anos mais tarde, e já em Lisboa, voltei a encontrá-lo na Calçada da Estrela, onde possuía uma loja de decoração.

Lá tive que fazer o saco e despedir-me daqueles que me eram mais próximos e parti em escolta para Có. Porém, antes de partir, vim a confirmar as minhas suspeitas que uma das razões porque tive que ser transferido se deve ao Médico que comigo se encontrava no Pelundo ter receio de alguma emboscada que sofresse sempre que tivesse que ir a Có dar consultas. Não me senti nada orgulhoso por este grau de confiança já que estava a pouco mais de cinco meses do fim da Comissão, e portanto, do regresso definitivo a casa.
Fiz as minhas despedidas dos Maqueiros e Cabo Enfermeiro que tinha a meu cargo, do Médico e de alguns amigos da população, mas de forma muito especial, de quem tinha o cuidado de zelar pela minha roupa.

Cheguei a Có e, surpresa minha, tinha já à minha espera uma jovem para tomar conta da minha roupa que tivesse necessidade de ser lavada. Perguntei-lhe porquê ela? Respondeu-me que tinha recebido ordens da sua amiga do Pelundo para ser ela e não uma outra pessoa a tomar conta da minha roupa a lavar. Fiquei sem fala. Não mais fiz perguntas e pensei para mim o quanto se preocupava comigo a jovem do Pelundo.
De seguida fui-me apresentar ao Capitão da Companhia, que já conhecia, mas apenas de vista, pois só tinha falado uma ou duas vezes com ele no Pelundo. O Capitão Miliciano Rodrigues era natural de Macau. Excelente pessoa que já não vive. Voltei a encontrar-me com ele anos mais tarde em Lisboa, na zona do Marquês do Pombal. Fomos beber café algumas vezes.

As apresentações continuaram de seguida, primeiro aos Sargentos (Primeiro e Segundo) e depois aos Cabos Enfermeiros que no momento lá se encontravam. De seguida fui conhecer os meus aposentos que ficavam junto ao Posto Médico e dar uma espreitadela a este.
Fiquei parvo com o que me era dado a observar. Era uma bagunça total. Além da desordem observada, toda a gente entrava e mexia a seu belo prazer e, numa das paredes laterais, por cima de um banco corrido que servia para se sentar quem lá fosse para consulta, qual escola, fotografias do Presidente da República e do Ministro do Ultramar na altura.
Chamei os Cabos Enfermeiros presentes nesse momento no Quartel para lhes comunicar que a partir daquele instante só eu autorizava as entradas ao Posto Médico.

Depois de uma pequena conversa com os Cabos Enfermeiros, dirigi-me ao gabinete do Primeiro-sargento (Gabinete da companhia onde eram tratados todos os assuntos com papeis) para o informar que não queria fotografias ou outros quadros no Posto Médico que não fossem alusivos à saúde e portanto, que enviasse alguém para retirar de lá tudo o que fosse estranho à saúde. Acrescentei que o lugar daquelas molduras seria na Escola como era natural na altura.
Reagiu mal. As ameaças começaram de seguida dizendo que não seriam retirados os quadros de lá. Respondi-lhe com um ultimato. Ou o Primeiro os retira ou enviava alguém para o fazer. Já os tirei da parede e foram colocados em cima do banco corrido, ou então, eu não vejo outra solução, que não seja colocá-los no bidão do lixo. Olhou para mim de feições iradas dizendo para que eu pensasse bem nas palavras que tinha acabado de proferir. Calmamente respondi-lhe que não me assustava. Leve o assunto para a política que não lhe tenho medo. Voltei-lhe a reafirmar que no Posto Médico eu só aceitava propaganda de saúde. Leve-os para a Escola, voltei a dizer-lhe. Arranjei mais um inimigo. Até ao último dia em que nesta Companhia permaneci, não mais nos demos bem e não mais lhe falei até aos dias de hoje.

Para agravar mais o nosso relacionamento e dado a aproximação do fim da Comissão, recusei-me a assinar um termo de responsabilidade de tudo o que se relacionava com material sanitário sem que fosse feito um inventário ao mesmo. Mais zangado ele ficou comigo. Com isto, o Segundo Sargente esteve até ao último dia que lá permaneci a trabalhar para mim elaborando autos de consumo ou extravio de materiais.

Um outro caso muito estranho lá fui encontrar nesta Companhia. Um dos quatro Cabos Enfermeiros não fazia mais nada que não fosse comer e dormir. Achei muito estranho este ter tirado o Curso de Cabo Enfermeiro e já se terem passados dezassete meses de Comissão e, vir a saber, que esta criatura nada fazia porque dizia não ter coragem para ver sangue e para dar qualquer injeção. Resumindo, este lorde diariamente castigava os outros três Cabos Enfermeiros com uma sobre carga de trabalho.
Fui primeiro ter uma conversa com o Capitão da Companhia acerca deste caso. Pedi-lhe que me fornecer dados sobre aquela situação.
Respondeu-me que nenhum militar confiava nele e, como tal, só os outros três acompanhavam as patrulhas e atendiam todas as necessidades do Posto Médico.

Este espertalhão natural de Almada passou até então meses gozando com o pessoal. Como foi possível darem-lhe o posto de Cabo Enfermeiro? Interroguei-me eu! Vou ter aqui mais uma dor de cabeça, mas não irá terminar a Comissão sem que vá nem que seja uma única vez numa patrulha para o mato, meditei de seguida.
Falando com o Capitão, acertei com ele os detalhes. Disse-lhe que a partir daquele dia eu iria verificar os conhecimentos de saúde daquele Cabo.

Pedi ao Cabo Enfermeiro para arranjar uma almofada velha para treinar à minha frente como espetar uma agulha. Recuou uns passos e foi dizendo que não ia resultar dado que muitas vezes tinha tentado e não conseguia sequer olhar para a agulha. Reafirmei-lhe que era uma ordem minha que teria de cumprir. Assim aconteceu, mas tentando sempre fazer batota.
Como o inventário que eu juntamente com o Segundo Sargento estávamos a realizar a todo o material sanitário, este trabalho ocupava-me muito tempo. Deste modo nem sempre era possível pôr o Cabo treinar a dar injeções como também fazer um penso.

Andava eu naquela azáfama, quando num dia, ao começo da tarde e encontrando-me a descansar um pouco no meu quarto, eis que surge o Cabo Enfermeiro Carlos Gomes muito aflito dizendo-me que se encontrava no Posto Médico um jovem com parte da rótula do joelho em mau estado e sangrando bastante.
Reagi logo e pedi-lhe para colocar o jovem em cima da maca, e esta em cima duma mesa que lá se encontrava. Também que fosse preparando o material como pinças, tesouras, estilete e tudo mais necessário para fechar o golpe, bem como, desinfetar e isolar o local do referido joelho para eu o tratar.

Vesti-me e passando água pelos olhos, lá me dirigi ao meu posto de trabalho.
Espanto meu quando o vi com os dedos segurando num pouco de algodão embebido em mercúrio ou cromo e, passando a medo em volta do golpe, mas com o rosto virado para as suas costas como tivesse nojo do que tinha na sua frente. Passei-me, e, com o meu braço esquerdo, segurei-o pelo pescoço encostando-lhe a cara ao joelho ferido do jovem, ao mesmo tempo que gritando com ele lhe dirigi palavras amargas. Nunca pensei ir encontrar tamanho malandro e matreiro com o posto de Cabo Enfermeiro.

Embora eu tivesse naquele momento os nervos à flor da pele, olhei para o jovem ferido que gemia de dores e dediquei-me sem demoras tratando-o.
Comecei por isolar devidamente a zona do joelho a tratar, mas sempre dizendo ao Cabo Enfermeiro para não deixar de olhar para as minhas mãos e para o golpe. Abri um buraco numa compressa para que a linha de sutura apenas tocasse em zona desinfetada. Lentamente fui retirando, com o auxílio de uma sonda, pequenos pedacitos de ossos da rótula e comecei a fechar-lhe o golpe sem que antes lhe tivesse aplicado anestesia local. Acabei de fazer a sutura, ensinei o Cabo a desinfetar de novo toda a zona, e a proteger devidamente o joelho do jovem com compressas e respetiva ligadura. Transpirei não só pelo calor que aquela hora se fazia sentir como também pela zanga que aquele traste me provocou.

Continuei a dar-lhe ensinamentos e, certo dia, combinei com um Alferes o levar numa das patrulhas que habitualmente fazia. Ficou receoso da responsabilidade que ele iria ter para com os seus homens no caso de poderem ser atacados pelo PAIGC.
Disse-lhe que estivesse tranquilo que ele iria dar conta do recado. Confesso que eu próprio continuava a não ter total confiança naquele traste. Foi ao mato e tudo correu bem para alívio do Capitão, do Alferes e meu. Deste modo deixou de gozar com o pagode. A partir daquele dia passou a dar injeções, mas só a pessoas da população já que os soldados continuavam a não confiar nele.

Vinte anos depois e no primeiro encontro de convívio do Batalhão, este cavalheiro fez queixas à mais tarde minha mulher dum tabefe que lhe tinha dado na Guiné. Disse-lhe que explicasse à minha mulher o acontecido e todos os porquês. Calou-se.

(Continua)

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Nota do editor

Último poste da série 26 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23295: "A Minha Passagem pela Guiné-Bissau em Tempo de Guerra" (António Sebastião Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro) Parte VII

Guiné 61/74 - P23302: Parabéns a você (2069): António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23294: Parabéns a você (2068): Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (BA 12, 1969/70)

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23301: Lembrete (39): Cerca de 80 participantes no 26º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 + CCAÇ 1439 (1965/67), que se realiza amanhã, nas Caldas da Rainha



Lista dos cerca de oitenta inscritos no 26º convívio do pessoal de Bambadnca 1968/71 + CCAÇ 1439 (1965/67)



José Fernando Almeida, o organizador do 26º Convivio,
ex-fur mil trms, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71)


Guiné - Bambadinca 1968-1971


CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12;
Pel Caç Nat 52, 54 e 63;
Pel Mort 22106 e 2268;
Pel Rec Daimler 2046 e 2206;
e outros, inclinida maeirense CCAÇ 1439 (1965/67)


1. Mensagem de José Almeida Fernando, organizador do 26º convívio de Bambadinca 1968/71:

Data - sexta, 20/05/2922, 11:49

Assunto - 26º  convívio do pessoal de Bambadinca 1968/71

Bom dia, Luís

Como decorre a tua recuperação, estás a responder bem à fisioterapia? Faço votos que recuperes bem.

Conforme combinado anexo a Lista dos participantes no 26º Convívio. Neste momento contabilizamos 81 com probabilidade de chegar aos 83. Aguardo a confirmação amanhã do Bernardo Valente.

Dia 17 por motivos de saúde desistiram cinco (5), e no dia 18 com receio do Covid, (dois vizinhos testaram positivo ) e a conselho dos filhos desistiram sete (7).

Temos o apoio do Pelouro de Turismo das Caldas da Rainha. Presidente da Câmara, que assume o Pelouro do Turismo

Anexo lista dos participantes.

Um abraço
Fernando Almeida

2. Comentário de LG:

Zé: alimentei-te a esperança de ainda poder aparecer aí amanhã, mas no outro fim de semana a Alice deu positiva para a Covid-19, no âmbito da 6ª vaga e eu também, no dia seguinte. O meu isolamento acaba no domingo. Não quero, em consciência, poder contaminar alguém. 

Fica posta de lado a hipótese inclusive de ir aí dar uma salto para tomar café e dar dois dedos de conversa. O João Crisóstomo ficou desolado, e eu também. Mas ele leva um grande abraço meu para todos, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, outras subunidades adidas e ainda a CCÇ 1439 (a cujo convívio já fui uma vez, o último, na Ericeira). 

Acredita que tenho muitas saudades desses bambadinquenses todos!... Não são muitos, mas são bons, pelos nomes que vejo na lista

Que corra tudo bem, mas protejam-se. 

Só há dias tirei os pontos mas ainda tenho a recuperação atrasada. Só para a semana começo a fisioterapia, parte dos/das fisioterapeutas do hospital também esteve de baixa com Covid.  Em suma, a pandemia ainda não terminou nem dá tráguas. 
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Nota do editor:

Últmo poste da série > Último poste da série > 20 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23279: Lembrete (38): Convívio do pessoal de Bambadinca (1968/71), Caldas da Rainha, 28/5/2022: a participação especial da madeirens CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P23300: Blogpoesia (766): O Canchungo e Avenida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Em mensagem do dia 23 de Maio de 2022, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho em verso, agora dedicado a Teixeira Pinto (Canchungo) e à sua Avenida. 


O Canchungo e Avenida

Por Albino Silva


Muitas vezes tenho dito
Escrevo aquilo que sinto
hoje lembro da Avenida
que tinha Teixeira Pinto.

Era uma grande Avenida
com certeza não me engano
com piso de terra batida
e bem ao estilo africano.

Era grande a Avenida
como eu a via assim
começava no Quartel
terminava no Fortim.

Numa grande rotunda
este Fortim lá ficava
e no centro da rotunda
o Teixeira Pinto lá estava.

Naquela grande Avenida
casas em ambos os lados
frequentada por todos
fossem civis ou soldados.

No começo da Avenida
os Correios e Administração
também lá tinha o Clube
e tudo aquilo era bom.

Lá tinha a casa do Médico
tinha a Messe de Oficiais
tinha o Hospital Cívil
uma Escola e muito mais.

No Canchungo na Avenida
onde passei muitas vezes
em muitas lojas entrei
e que eram de Libaneses.

Libaneses que vendiam
artigos de porcelana
vendiam roupas bem feitas
e abertos toda a semana.

Carpetes e muitos tapetes
em muitas casas haviam
muitas vindas de Macau
e eles lá tudo vendiam.

No Canchungo na Avenida
tinha um mercado e bom
lá se comprava de tudo
roupas alimentos e sabão.

Mais à frente na Avenida
tinha a Igreja que então
sempre aberta para todos
os que tinham devoção.

Naquela pequenina Igreja
tinha lá um Capelão
era sempre auxiliado
por um tal Sacristão.

Quando não estavam na Igreja
estavam na Sacristia
e quer um e também outro
eram da minha Companhia.

Logo ao fim da Avenida
a Casa Escada lá estava
era a maior do Canchungo
onde toda a tropa comprava.

Era grande a Casa Escado
e nela nada faltava
roupa louças gravadores
e rádios que a tropa comprava.

Na Rotunda da Avenida
um Libanês lá vivia
tinha bombas de combustíveis
e muitos depósitos enchia.

As casas na Avenida
nem todas eram pintadas
e a cobertura era feita
com as chapas ondeladas.

Pelo centro da Avenida
tinha um passeio bom
com postes em toda ela
que eram de iluminação.

Também tinha um restaurante
do Libanes Viriato
boas carnes lá se comia
que ele caçava no mato.

Por lá cheguei a comer
e nunca nada faltava
como éramos bons amigos
eu comia e não pagava.

Baticã Ferreira era o Régulo
junto à Avenida morava
e tantas vezes no Quatel
aquele Régulo lá estava.

O Canchungo e Avenida
sempre muito movimentada
viaturas tropa e cívis
nesta Vila encantada.

O Canchungo e Avenida
gostei de lá passear
hoje só tenho saudades
não me importava lá estar.

Caravela da Saudade
Saudades é o que sinto
bazucas que lá bebia
era sim Teixeira Pinto.

Caravela da Saudade
onde toda a tropa lá ia
Café vinho ou cerveja
tudo por lá se bebia.

Aos domingos quantas vezes
no Canchungo por lá andava
e com outros camaradas
na Avenida passeava.

Era sempre um vai e vem
naquela Avenida andando
não só tropa mas civis
aos domingos passeando.

Naquela grande Avenida
que Teixeira Pinto tinha
dava gosto andar nela
por estar sempre limpinha.

O Canchungo das Tabancas
que naquela Vila haviam
sempre limpas bem zeladas
mas muito fumo faziam.

Da Rotunda tinha uma estrada
mas não tinha esta só
ela ia para o Pelundo
para Jolmete e também Có.

Outra ia para o Bachile
para a Ponte e para o Cacheu
mais uma para Bassarel
e nelas todas andei eu.

Era assim Teixeira Pinto
uma Vila com muita vida
sendo ela bem povoada
o Canchungo e Avenida.

Canchungo Tchon Manjaco
que saudades de ti sinto
Homem Grande e Bajudas
até um dia Teixeira Pinto.


FIM

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23292: Blogpoesia (766): Adeus Guiné, vou-te deixar, minha missão está cumprida, por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

Guiné 61/74 - P23299: Notas de leitura (1449): “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Luís de Cadamosto, veneziano, pôs-se ao serviço do Infante D. Henrique entre 1455 até 1457. Falecido o Infante, regressou a Veneza, terá altas incumbências, na Dalmácia, no comando de galeras armadas para o comércio de Alexandria. Este vívido relato, cheio de sol e pormenor, dá-nos a conhecer (ou a confirmar) o que era o projeto henriquino, o que se pretendia conhecer, Cadamosto vai chegar à costa da Senegâmbia e tudo quanto ele escreve supre lacunas sobre a crónica da Guiné de Zurara. Os historiadores puseram objeções ao rigor do que ele escreve, mas inquestionavelmente as viagens são uma obra histórica. É incompreensível como obras de divulgação como esta não chegam às mãos das novas gerações, com ortografia atualizada é inegável tratar-se de um documento vibrante e que nos faz entender o conhecimento da costa africana entre territórios povoados de árabes até se entrar na terra dos negros, será aí que se irá firmar a Senegâmbia e dentro dela a Senegâmbia Portuguesa.

Um abraço do
Mário



Viagens de Luís de Cadamosto e Pedro de Sintra:
Relatos incontornáveis e de alto nível da literatura de viagens (1)


Beja Santos

De Cadamosto e Pedro de Sintra já aqui se fez larga referência ao trabalho do professor Damião Peres na Academia das Ciências, em 1948. Procura-se agora cotejar alguns aspetos essenciais de uma obra de divulgação que estranhamente não se reeditou, intitulada “Viagens”, de Luís de Cadamosto, introdução e notas de Augusto Reis Machado, na Biblioteca das Grandes Viagens, Portugália Editora, sem data. Esta obra de divulgação foi extraída da Coleção de Notícias para a História e Geografia das Nações Ultramarinas que vivem nos Domínios Portugueses, tomo organizado pelo académico Sebastião Francisco de Mendo Trigoso (1773-1821). Figura nas anteriores edições com o título de “Navegações”. Estas viagens foram publicadas em Itália pela primeira vez em 1507. Tornaram-se numa peça fundamental da historiografia dos Descobrimentos para se falar do projeto henriquino com a propriedade de lhe conhecer os fundamentos e de revelar um viajante de primeira grandeza, capaz de registar fauna e flora, usos e costumes, o poder dos reinos africanos, o que se comerciava. Acresce a fluidez que timbra toda a narrativa de Cadamosto, do princípio ao fim. Saiu de Veneza, atravessou Gibraltar resolvido a navegar no mar Oceano, encontrou-se com o Infante D. Henrique, dá conta dos sonhos do príncipe, dos seus propósitos em avançar mais avante.

Encontrou-se com o Infante no Algarve, numa povoação chamada Raposeira, ali se acordou que ele iria viajar explorando a costa africana:
“Tendo eu ficado no Cabo de S. Vicente, o Senhor Infante mostrou com isso grande prazer e me fez muito agasalho e mandou armar uma caravela nova, de lote de 45 toneladas, da qual era Patrão um Vicente Dias, natural de Lagos, que é uma povoação a 16 milhas de distância do Cabo S. Vicente. E abastecido de todo o necessário, partimos do sobredito Cabo de S. Vicente aos 22 de março de 1445, o nosso rumo para a ilha da Madeira”. Fala das Canárias, de Porto Santo, da Madeira, e depois rumam do Cabo Branco da Etiópia (não esquecer que era conceito da época de que se estava a avançar para a Baixa Etiópia ou Etiópia Menor, e quando se chegou ao rio Senegal pensava-se, por falta de informação geográfica rigorosa, que se estava nas proximidades dos rios Níger e Nilo). Enquanto se percorre à distância terras dos mouros, a quem ele chama a costa da Barbaria, e todo o Sara Ocidental, chega-se aos negros da Etiópia, passa-se pelo Golfo de Arguim e informa-se que o Infante tinha feito na ilha de Arguim um contrato com o qual ninguém pudesse entrar naquele golfo para traficar com os árabes, salvo aqueles que entrassem no contrato e teriam então direito de comerciar na feitoria, economia de troca, quem chegava recebia negros como escravos e recebia panos, tecidos, prata e trigo. Tem algo de fantástico o que os Azenegues (berberes) julgaram ser os Portugueses: “Posso certificar que quando viram as primeiras velas creram que fossem pássaros grandes com asas brancas que voassem, alguns deles pensaram que fossem peixes, outros diziam que eram fantasmas que andavam de noite. E diziam isto, porque, às vezes, no princípio da noite eram assaltados em um lugar e naquela mesma noite pela madrugada acontecia o mesmo cem milhas adiante pela costa, outras vezes mais atrás, segundo ordenavam os das caravelas; e diziam entre si: se fossem criaturas humanas como poderiam fazer tanto caminho em uma noite quanto nós não poderíamos andar em três dias?”.

Iniciam-se as atividades comerciais e fala-se no império dos negros, menciona-se Tombuctu. Antes de chegar à terra dos negros, e sempre falando da Barbaria ou terra de alarves, diz que naquela terra não se bate moeda alguma, todo o tráfico é trocar coisa por coisa ou duas coisas por uma, são pardos. Passado o Cabo Branco, navegou-se à vista até ao rio do Senegal, passado o deserto chegou-se ao país dos negros, a primeira descrição daquela região lacustre é como se tivessem chegado a um paraíso terrestre e então Luís de Cadamosto refere o reino do Senegal e os seus limites:
“O primeiro reino de negros da Baixa Etiópia é este que fica sobre o rio do Senegal. Os povos que habitam as suas margens chamam-se Jalofos, e toda esta costa e país acima declarados é terra baixa até Cabo Verde (entenda-se, ponto continental, não tem nada a ver com o arquipélago) que é a terra mais alta de toda aquela costa. Segundo eu pude perceber, este reino do Senegal confina pela terra da parte do Sul com o reino da Gâmbia, do poente com o mar Oceano e do nascente com o reino acima dito, que extrema os amulatados destes primeiros negros”.

É interessantíssima a sua narrativa sobre a eleição dos reis do Senegal, costumes, família, crenças, os seus trajes, as guerras que faziam e as armas que utilizavam. E assim se chegou ao país de Budomel, “povoação distante do rio Senegal coisa de oitocentas milhas pela costa, a qual nesta extensão é toda baixa e sem montes. Este nome Budomel é título do senhor e não nome próprio do lugar”. A região já fora visitada por outros navegadores, Cadamosto tinha consigo alguns cavalos de Espanha, “que eram boa mercadoria no país dos negros, não obstante de ter muitas outras coisas, como panos de lã e peças de seda mourisca, e outras mercadorias, determinei provar com ele (Budomel) a minha fortuna”. Budomel veio ao seu encontro, recebeu-o com grande festa, Cadamosto deu-lhe os cavalos e foi convidado a ir a casa de Budomel. Outra narrativa espantosa, a estadia em terras do senhor Budomel e do seu neto chamado Bisboror.

Ficamos a conhecer um cerimonial do tipo de Rei Sol, Budomel é praticamente um Rei Deus: “Homem algum teria atrevimento de vir falar-lhe sem que primeiro se tivesse despido todo, salvo as bragas de cor, que conservavam, estando daquela maneira um bom espaço de tempo, deitando areia para cima de si; depois não se tornavam a levantar, mas, arrastando-se com os joelhos e pernas pelo chão, se iam avizinhando ao senhor, e, quando estavam a coisa de dois passos de distância paravam para falar e dizer o seu negócio, não cessando entretanto de deitar areia para trás, com a cabeça baixa em sinal de grandessíssimo acatamento”. E depois deste espetáculo descreve o modo terrífico como comem: “Comem no chão bestialmente, sem nenhum preparo: e com eles não come ninguém, salvo aqueles mouros que lhe ensinam a lei e um ou dois negros dos principais. Toda a gente miúda come a dez ou doze juntos, põem um grande cesto de carnes no meio, e todos metem a mão dentro; comem muito pouco de cada vez, porém muitas vezes, isto é: quatro ou cinco cada dia”.

Carta náutica de Lázaro Luís, 1563, Academia das Ciências, Lisboa.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23285: Notas de leitura (1448): “Guerra Colonial – Uma História por Contar”, trabalho dos alunos do Externato Infante D. Henrique (Ruílhe-Braga) (Mário Beja Santos)