Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3382: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (4): Rio Udunduma, destacamento do Xime
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > 1969 > Foto 8 > "Eis-me, quase de corpo inteiro e, considerando o meu aspecto, sem motivos para manifestações narcísicas… Estava mesmo estourado, depois do regresso de uma incursão pela mata. Em que dia? Foram de mais para saber qual".
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > 1969 > Foto 9 > "Udunduma. Quem seria o dono da Piroga? Sei é que o rio era estreito e os putos que chegavam pela hora do almoço, na expectativa de umas sobras, acabavam por infundir-nos alguma tranquilidade… Ora, como poderia o IN flagelar-nos na presença deles? Mas a partir do entardecer, o coaxar das rãs era mesmo infernal!"...
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > 1969 > Foto 18 > "A Ponte do Rio Udunduma não se vê, mas asseguro que ficava a um quarentena de passos. O soldado, pai da criança, passou por ali, com a sua mulher que confessa o propósito de abandonar o marido"...
Fotos (e legendas): © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados (*)
(Continuação da publicação do álbum fotográfico do Renato Monteiro) (**)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)
23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)
(**) Vd. postes anteriores desta série:
13 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3199: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (1): Contuboel (1968/69)
16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3210: Álbum fotográfico de Renato Monteiro (2): O mítico cais do Xime (1969)
2 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3263: Álbum fotográfico do Renato Monteiro (3): Xime, o sítio do meu degredo
Guiné 63/74 - P3381: O meu baptismo de fogo (21): 6 de Outubro de 1970, o primeiro contacto com a realidade das minas (Carlos Vinhal)
Como tinha prometido, venho falar da minha outra experiência de baptismo de fogo (*).
O meu (segundo) baptismo de fogo
6 de Outubro de 1970
O Aquartelamento tinha sido atacado na noite de 5 de Outubro.
De manhã cedo havia que fazer o reconhecimento da zona envolvente, pois o IN esteve muito próximo e normalmente deixava pistas que de alguma forma serviam para recolher ensinamentos para o futuro. Além de tudo, por vezes, antes de retirar, o IN deixava armadilhas nos itinerários utilizados por nós e pela população. Esta acção competia ao Pelotão de Piquete.
Estava de Piquete o Pelotão do alferes Couto, que como eu, tinha o curso de Minas e Armadilhas.
Em virtude das vicissitudes do ataque, o Alferes Couto ter-se-á deitado muito tarde e descansado pouco. Manhã cedo saiu com o seu pelotão para o mato, apoiado pelo meu, o 3.º, comandado pelo Alferes Bento, para proceder ao devido reconhecimento.
Estando eu na altura impedido na Secretaria do Comando, não tinha actividade operacional. Não tenho a certeza, mas julgo que o alferes Couto tinha já alguma experiência na neutralização de minas, mercê da sua actividade operacional. O certo é que passado pouco tempo após a saída dos pelotões, ouviu-se um estrondo e quase de seguida, via rádio, foi pedida evacuação de um ferido e um morto, vítimas da explosão de uma mina antipessoal. Saíram imediatamente algumas viaturas para trazerem os sinistrados.
Quando regressaram, traziam o Alferes Couto já cadáver e o Alferes Bento com alguns ferimentos, pouco graves felizmente, vítima da mesma explosão (**).
Segundo a versão que correu posteriormente, o malogrado Alferes Couto, tinha já recuperado uma mina AP e porque tivesse encontrado alguma dificuldade em desarmá-la, chamou, para o ajudar, o alferes Bento. A detonação deu-se quando este ainda se dirigia para ele.
Acresce que por ordem hierárquica, na CART 2732, a cadeia dos operacionais na área das Minas e Armadilhas eram, o Alferes Couto por ser oficial, eu a seguir e por último o Sousa que tinha nota de curso inferior à minha.
Recolhidos os feridos e os restos do cadáver, havia que voltar ao local do incidente para continuar a neutralizar as outras minas detectadas. Claro que fui logo chamado pelo Comandante de Companhia para substituir o falecido e, mesmo com a farda n.º 2 fui ao mato acabar o trabalho.
Terá sido uma mina como esta, TMD-6, que vitimou o Alf Mil José Armando Santos do Couto em 6 de Outubro de 1970, primeira baixa da CART 2732 em combate.
Foto de David Guimarães © (2008). Direitos reservados.
Editada por CV
Mansabá, 11 de Outubro de 1970 > Cerimónia de homenagem ao malogrado Alf Mil Couto, falecido no dia 6. Na foto o 3.º Pel/CART 2732 a desfilar. Na frente o Cabo Corneteiro Oliveira Barge, seguido dos Furs Mil Nunes, Vinhal e do restante pelotão.
Chegado ao local fatídico, estavam assinaladas mais duas minas antipessoais guardadas por alguns militares com a cara mais assustada e preocupada que jamais tinha visto. Ao verem-me, traumatizados como estavam com a morte do seu alferes, desejaram-me as maiores felicidades e sorte do Mundo.
As minas levantadas davam prémio pecuniário a quem as detectasse desde que fossem levantadas, mas como o dinheiro não é mais importante que o risco de vida, eu tinha prometido a mim mesmo que jamais tentaria levantar alguma mina antipessoal. Depois do acontecido, mais convencido fiquei de que tinha a razão pelo meu lado.
Assim, comecei por juntar às minas detectadas, uns petardos de TNT, que iriam ser rebentados por detonadores pirotécnicos alimentados por cordão lento. Este cordão ardia à velocidade de 1 centímetro por segundo, ao contrário do rápido, cuja velocidade era de 1 metro por segundo. Normalmente fazia um chicote com cerca de 20 centímetros, para ter tempo de estender a manta e esparar calmamente deitado pela detonação.
Claro que isto exigiu que eu andasse por ali às voltas. Examinei tanto quanto pude o terreno por onde iria correr para me proteger enquanto o cordão ardesse e quando aquilo tudo rebentasse. Pus o pessoal em bom recato, peguei fogo ao rastilho e abriguei-me finalmente, esperando pela explosão.
Quando esta aconteceu, fui ao local ver os estragos e deparei que, em vez de duas crateras correspondentes às duas minas detectadas, tinha três. Na realidade não havia duas, mas sim três minas, sendo que a terceira não descoberta rebentou por simpatia e eu não a tinha pisado antes por mero acaso e sorte.
Quando regressei ao aquartelamento vinha tenso. Pudera, tinha sido o meu primeiro trabalho a sério e fi-lo logo a seguir a uma morte violenta. E o dia podia ter-me saído caro também.
A partir deste dia passei a ter actividade operacional. O Alferes Bento estava internado no HM 241 e, se a memória não me falha, o furriel Correia estava de férias na Metrópole, estando o Pelotão entregue só ao Furriel Nunes. Nunca deixei, no entanto de colaborar na Secretaria, mantendo a gerência dos bares como anteriormente. Além disto fiquei com a responsabilidade das actividades relacionadas com as Minas e Armadilhas na Companhia, coadjuvado pelo meu camarada Furriel Rui Sousa.
Bironque, 3 de Dezembro de 1971 > Fruto do trabalho de equipa. Os picadores detectaram esta TM46 e os técnicos, Vinhal e Rui Sousa, levantaram. Pela foto se nota que mais uma vez fui chamado de emergência ao mato, pois estou vestido com a farda n.º 2, divisas e tudo.
Mantida, 11 de Janeiro de 1972 > Levantamento de uma mina AUPS aquando da neutralizaçâo de todos os campos de minas implantados, à responsabilidade da CART 2732. Esta acção coincidiu com o fim de Comissão da CART.
OBS:-Não é pose. A foto é um instantâneo verdadeiro
Foto e legendas de Carlos Vinhal © (2008). Direitos reservados.
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Nota de CV
(*) Vd. postes de
29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3378: O meu baptismo de fogo (20): Galo Corubal, em data incerta (Torcato Mendonça, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3293: O meu baptismo de fogo (7): Mansabá, 21 de Abril de 1970 (Carlos Vinhal)
(**) Vd. poste de 18 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P968: A morte do Alf Couto, de minas e armadilhas, CART 2732, Mansabá, Outubro de 1970 (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P3380: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (10): Quanda a guerra era com os copos... ou o elogio do Tosco, em Lisboa (Jorge Félix)
1. Mensagem do Jorge Félix, com data de 27 de Outubro corrente:
Caro Carlos:
Se achares que o texto que segue pode ser postado ficarei satisfeito. Parece que ainda ninguém falou nesta vertente da Guerra.
2. Aquelas noitadas...
por Jorge Félix
Em 1969 a noite de Lisboa, tinha que ser à noite, escondia uma guerra que vou tentar recordar. Destaco três nomes: O Comodoro, o Café Gelo e o Tosco.
O Comodoro tinha a particularidade de receber o que de melhor tinha a Política de então. Da parte da tarde recebia os Velhos e de noite recebia a malta mais nova. (ponto final). Nos meus 20 anos aprendi muito no ninho dos Ballets Rose.
O Gelo vendia whisky a cinco escudos. Frequentado por Colonialistas, era o local onde se emborcava até mais não, mas onde se tinha que ter muito cuidado com o que saía da boca. Encerrava muito cedo.
O Tosco, meus amigos, o Tosco... era o local que mais fazia lembrar a ZOPS [zonas operacionais] de qualquer colónia em guerra.
Não eram pedidas evacuações pois já tinham sido evacuados. Só não havia tiroteio porque todos já eram vítimas. Ali só se matavam as mágoas, os desgostos, as vergonhas, as incapacidades...
No Tosco ninguém era bonito, todos se sentiam desfigurados.O Tosco era uma casa com gajas, pretas, mulatas e brancas (haviam brancas ?), que faziam de conta que percebiam de emboscadas e quadrícula, para na primeira volta da picada cravarem uma Taça.
No Tosco, apesar das meninas, o ambiente era de guerra. Era a Guiné , era Angola, era Moçambique, num tosco local, reunidos num só , a mostrarem as suas entranhas. Estranho, era palavra que não existia no Tosco. Tudo era possível, até falar de Deus...
No Tosco, ria-se muito, às vezes chorava-se. Havia muito barulho, havia música, havia como que por artes mágicas, silêncios sepulcrais. Até parece que alguns, sem o admitirem, nestas alturas sentiam medo.
No Tosco, apareceram os primeiros apanhados pelo clima.
O Tosco era muito pequeno e recebia gente muito grande. Do Exército, da Marinha e da Força Aérea, mas ninguém reparava. Ninguém reparava que todos eram deficientes. O choque pós-traumático ainda não tinha sido inventado.
No Tosco não havia lugar para certos gajos que nos ficavam a espreitar à saída.
O Tosco ficava na rua Conde Redondo, a meio da subida, onde o eléctrico proveniente da Estrela descarregava a lotação esgotada de deficientes das FA. Uns em cadeiras de rodas, outros de canadianas, outros às cavalitas, outros ...
Aqueles que alguma vez assistiram a este desembarque nunca o poderão esquecer. Mas se a chegada ao Tosco era dantesca, imaginem como era a partida.
Vou ficar à espera de alguém que queira acrescentar algo que me tenha escapado. Testemunha viva é um dos Conchas, músico que na altura era o proprietário e contratava as piquenas que nos iam aturando.
O Tosco recebia todos os dias umas dezenas de estropiados que faziam tratamento no Hospital da Estrela e tinham um mínimo de mobilidade.
Assisti a estes encontros no mês de Julho de 1969, altura em que também estive a ser observado pela medicina aeronáutica em Lisboa.
Parecido com o Tosco não havia mais nada.
Na Avenida da Liberdade, ali a 400 metros, ninguém sabia que existiam estes antros.
Felizmente que já não há razão para manter o Tosco activo.
Jorge Félix
3. Comentário de L.G.:
Obrigado, Jorge, pelo teu texto que é simplesmente antológico. Quando o último dos bloguistas postar o último poste, e nós decidirmos (ou alguém por nós decidir...) fechar o blogue, eu guardarei religiosamente o teu escrito. Por que ele é um verdeiro hino, de glória, de ternura e de humanidade, à noite lisboeta dos anos 60 onde, apesar de tudo, havia pequenos e inusitados espaços de liberdade, de afecto, de camaradagem. Não conheci o Tosco. Fico, depois de te ler, com uma intolerável, insuportável pena de nunca ter entrado no Tosco, de nem sequer ter ouvido falar do Tosco. Voyeurismo de sociólogo...
Infelizmente, também não encontrei nenhuma referência ao Tosco no Dicionário da História de Lisboa ou no Dicionário de História de Portugal (vd. as entradas Cafés, Prostituição, Tabernas, Tertúlias..). Objectos menores de temas menores para historiadores e sociólogos...
Do Café Gelo, e das suas tertúlias, sabe-se alguma coisa, por que era frequentado por literatos e artistas ligados ao surrealismo, por exemplo, gentes de outras guerras que não eram as nossas. Acabou ingloriamente, como muitos outros cafés, tabernas, bares e outros espaços públicos de Lisboa, catedrais do convívio, do lazer e da boémia, engolidos pela gula dos especuladores imobiliários, pela voracidade da banca, pelo desamor dos autarcas, ou muito simplesmente pela modernização que impôs a segregação sócio-espacial. Fomos expulsos do centro para a tristes periferias, as Porcalhotas, os Barreiros, os Montes Abraão...
Do Comodoro, também tenho uma vaga lembrança. Dos bares e cabarés da Praça da Alegria, ainda conheci um poucochinho. Mas do Tosco, meu Deus, ali no Conde Redondo... não, nunca ouvira falar! Imperdoável, Jorge!!!
Talvez o outro Jorge, o Cabral (o único, o autêntico, o verdadeiro, o nacional,o nosso..., que era um alfacinha de gema e um noctívago inveterado depois do seu regresso a penates, em 1971), te possa dizer algo mais sobre a geografia, a sociologia, a anatomia e a fisiologia da vida nocturna de Lisboa, ou mais especificamente sobre portos de abrigo como o Tosco (*), ali no Conde Redondo.
A verdade é que a guerra produziu uma desvairada fauna humana. Lisboa, capital do império, era então a grande cidade do export-import: exportava, para África, carne para canhão, e acolhia depois gente sofrida, ferida no corpo e na alma, estropiada, cacimbada, apanhada do clima, doente, revoltada, inadaptada, abandonada... Antros como o Tosco (como tu o qualificas) tiveram o seu papel, a sua função, o seu lugar: tinha que haver um lugar qualquer na cidade para os perdidos & achados da noite...
Isto não é dito por um qualquer de nós, bloguistas: é dito por um dos nossos glorios malucos das máquinas voadoras, o nosso Alf Mil Pilav Jorge Félix, que pilotava helis Allouette III, e que um belo mês do ano de 1969 estava em Lisboa, no 'estaleiro', a fazer exames de medicina aeronáutica (um luxo que não era, como o nome indica, para todos).
Concordo, entretanto, com o teu veredicto. Se a guerra acabou (e acabou mesmo, Jorge ?), já não há razões válidas para manter o Tosco activo. Acabou a guerra. Morreu o Tosco. Viva, apesar de tudo, a memória do Tosco e dos camaradas por lá passaram! (Sem esquecer as piquenas que nos aturavam e cuja função era despejar, nas nossas e delas taças e copos, as garrafas de champagne do Poço do Bispo e de uísque de Sacavém).
PS - Não é verdade, Jorge, que a gente não tenha já feito (ou tentado fazer) incursões por estes lados mais ínvios, mais intimistas, mais delicados, da guerra: os copos, o sexo, as tainadas, as loucuras, a solidão, o vazio das férias, a inadaptação do regresso... A nossa história também está por aí espalhada (e espelhada) na noite, nos copos de uísque marado e nas noites de amor barato, a começar por Bissau (**).
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3028: Eu, o Jorge Cabral, o António Graça de Abreu e... o Levezinho, no velho/novo Maxime, com os Melech Mechaya (Luís Graça)
5 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3025: Os nossos regressos (7): Perdido, com um sentimento de orfandade, pelos Ritz Club, Fontória, Maxime, Nina... (Jorge Cabral)
13 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCC: Estórias cabralianas (8): Fá Mandinga no Conde Redondo ou o meu Amigo Travesti
(...) Na década de 80, dava aulas nocturnas numa Escola na Duque de Loulé e costumava descer a Avenida para tomar o Metro. Eis que uma noite, me vejo perseguido por um Travesti que me grita:- Meu Alferes! Meu Alferes! Alferes Cabral!... Tomado de terror homofóbico parei, negando conhecer a criatura, de longas pernas e fartíssimos seios. (...)
(**) Vd. alguns dos postes desta série, Estórias de Bissau:
(11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)
11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)
14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)
17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)
24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)
19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)
21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)
6 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2509: Estórias de Bissau (15): Na esplanada do Pelicano, a ouvir embrulhar lá longe (Hélder Sousa)
19 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)
Vd. ainda:
31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação (Vitor Junqueira)
14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3379: Lançamento do Diário da Guiné, 1969-1970, O Tigre Vadio, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)
Capa e contracapa: Cortesia do editor (2008).
O Museu da Farmácia, o Círculo de Leitores e a Temas e Debates têm o prazer de convidar V. Exª para a sessão de lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970, O Tigre Vadio, da autoria de Mário Beja Santos, que se realiza no dia 11 de Novembro, às 18.30, no Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, nº 1 (Bairro Alto).
O livro será apresentado por António Valdemar e Mário Lemos Pires.
Programa:
16.30: Cerimónia da doação de peças históricas ao Museu da Farmácia e visita
18.00: Espectáculo de Ko'ra (Braima Galissá)
18.30: Lançamento do livro
Será servido um porto de honra
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Nota de vb: artigo relacionado em
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2617: Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P3378: O meu baptismo de fogo (20): Galo Corubal, em data incerta (Torcato Mendonça, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Torcato Mendonça
ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo > 1968/69.
Tenho tentado recordar, quando, como e onde foi o meu baptismo de fogo.
A memória, tão pronta de outras vezes, nada me diz agora. Atraiçoa-me.
Leve, levemente, recordo, sem uma certeza ter sido logo na primeira Operação a solo, num dia de Carnaval. Se foi aí tratou-se de um assalto e destruição do acampamento inimigo do Galo Corubal.
Ou teria sido antes com algumas flagelações para os lados do Enxalé? Mas quando e onde foi ao certo? Não tenho a certeza, quando me vi debaixo de fogo.
Atrevo-me até a fazer uma certa analogia com a perda da virgindade, ou quase. Ou é logo trabalho completo ou pode ir aos poucos. Devagarinho, quase a perdê-la hoje, mais ou menos amanhã, um dia acontece e tudo estremece.
Salvo, as devidas comparações parece-me ter sido no Galo Corubal, o baptismo de fogo claro. A analogia atrás citada é problema íntimo…
Podia perguntar aos camaradas do Grupo ou da Companhia. Quase de certeza que foi no assalto ao Galo Corubal. Eu conto:
Avançamos devagar, devagarinho, o meu Grupo a fazer o assalto, os outros três a protegerem. Entrámos na mata, guia a indicar o trilho e, de repente, uma sentinela inimiga, sentada num palanque em cima de uma árvore detectou-nos. Lançou uma granada, felizmente não chegou ao destino, tudo estremeceu e seguiu-se o tiroteio breve e fraco. Esperámos um pouco e mandaram-nos regressar.
Pouco depois aí estavam os T6 e avançámos novamente. Claro que o INpôs-se a milhas. Revistámos rapidamente as “palhotas” e puxámos fogo a tudo o que poderia arder.
Decorreu tudo bem e fez-se a festa do baptizado. Se foi aqui…
Passado pouco tempo caímos em emboscadas, ataques ao aquartelamento e por vezes, a rotina levava a deixar andar.
De outras vezes, cuidado pois eram violentas demais. Os internacionalistas cubanos, davam uma ajuda aos libertadores da pátria e aí estava um arraial dos diabos.
Quantas horas debaixo de fogo? Não sei. Certo é que não me lembro do local do baptismo, digamos que foi no Galo Corubal num dia de Carnaval…
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Notas de vb:
artigos da série em 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
1. Mensagem do camarada Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 28 de Outubro de 2008:
Caros Editores,
Estimados Camaradas,
Aqui envio descrito aqueles que foram o meu Baptismo e Crisma.
Vejam o interesse que eventualmente possa ter e, não lhe chamarei censura, deixo ao vosso critério a sua divulgação ou não.
Um Abraço
BSardinha
2. O Meu Baptismo de Fogo - Como, Porquê e Não Só
Tornou-se leitura diária este Blog/Local, como preferirem.
Nunca falei muito sobre este tempo e quando o fazia era apenas e só com camaradas, tivessem eles estado na Guiné, Angola ou Moçambique. Sempre achei não ser capaz de transmitir cabalmente o que vivemos ou obter de quem me ouvia a sensibilidade para um resumo de acontecimentos com que éramos brindados, não de uma queixa. Se havia a necessidade de libertar fantasmas que eventualmente existissem, quer pelos acontecimentos vividos ou simplesmente conhecidos, nunca me apercebi haver por parte da sociedade em geral esse interesse em ajudar. Não me refiro aos familiares, refiro-me àqueles que nos ouviam quase como obrigação num acto de consolo para com o desgraçadinho ou o apanhado, como muitas vezes disfarçadamente diziam. Talvez por isso nunca o tenha feito tão abertamente como agora neste espaço, se calhar nem com os meus filhos o fiz alguma vez, outros são hoje os tempos e os interesses, felizmente, embora devamos estar atentos aos políticos, especialistas a arranjarem-nos destas situações, mesmo em regimes como a dita democracia.
Talvez também nunca tenha dado grande importância a esta parte da minha vida na Guiné. Foi um assunto em que me vi envolvido, que era pessoal e intransmissível e altamente individual, só partilhado com todos os outros em igualdade de circunstâncias. Porém este Blog/Local tem-me levado a falar convosco e a poder contribuir para quem queira fazer um trabalho verdadeiro e sério sobre o que foi e como foram vividos pelos diferentes protagonistas esses 13 (treze) anos. Por tudo isso, só agora, falando ou escrevendo vou recordando situações e nomes, mas estou certo que coisas há que estão profundas ou mesmo apagadas na memória. Escrevi um dia: as coisas boas recordam-se, as más nunca se esquecem. Hoje não estou tão certo assim.
Nunca achei e continuo a achar pouco importante o que eu passei tendo em atenção as experiências vividas por muitos outros camaradas com quem privei. Mas não me escuso a deixar aqui o meu depoimento sobre como aconteceu o meu baptismo de fogo.
Mansoa, 1972, num dia de Setembro ou Outubro, tanto faz
Os dias eram iguais e as datas não eram coisa que me interessasse, tinham passado pouco mais de 15 (quinze) dias, de um período de 24 meses quando fui para Mansoa, não havia razão para pressas ou preocupações de tempo e muito menos para um registo. Estávamos no ano de 1972 e isso era quanto bastava, sabia que tinha passado já o meio do ano, pois tinha sido nessa altura que havia desembarcado na Guiné e passava já mais algum tempo que estava em Mansoa, seria talvez Setembro ou mesmo Outubro quando pelas, aproximadamente, 20h00 ou 20h30 se ouviu o primeiro rebentamento.
Inexperiente nestas matérias e por isso também mais inconsciente, procurei ver o que faziam os outros para lhes seguir o exemplo, foi assim que dei comigo debaixo de uma placa onde se encontrava o telex dentro do edifício de STM em Mansoa. Foram apenas uns quinze a vinte minutos, se calhar menos, tempo apenas suficiente para nos enviarem a mensagem, seis canhoadas, palavrão ouvido aos operacionais. Caíram todas fora do quartel, mas o pior para aqueles que lá se encontravam havia quase uma comissão, era que no mês de Julho, uma semana antes de eu lá ter chegado, haviam sofrido um forte ataque que deu cabo de parte de várias casas da vila e da bomba de gasolina. Tive oportunidade de ver os estragos.
Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV
Mansoa > Vista aérea do Quartel.
Foto de César Dias, editada por CV
Em Aldeia Formosa, sempre à hora do jantar
Como já referi em nota anterior, por dificuldades de entendimento com um furriel miliciano, fui transferido para Aldeia Formosa.
Não sei se estarei a falar da mesma zona que o nosso mestre Luís Graça refere não ser atacada, ou se isso reporta apenas à data que ele refere no comentário que faz no final da tradução do documento do PAIGC, mas os camaradas já lá colocados, quando cheguei diziam ser prato habitual e sofriam de alguma ansiedade se estavam muitos dias sem que houvesse um ataque ou flagelação, diziam poder estar o IN a estudar um plano para um ataque pior ao que que estavam já habituados.
Que me lembre, existiam neste quartel, Aldeia Formosa, além de duas anti-aéreas de 4cm mais duas ou três quádruplas, um Obus 14 e outro mais pequeno, salvo erro 11, não sou especialista de armas e posso estar a dar-lhes o nome errado tecnicamente, mas isso poderá ser confirmado por outros camaradas que por lá passaram ou pelos registos militares que certamente existirão .
Voltando à questão dos ataques, como a festa anterior tinha sido de pouco efeito e digamos sem interesse e tinha apenas o baptismo, foi-me possibilitado fazer o crisma e assim ver melhor como funcionavam estas coisas dos ataques aos quartéis. Nos três meses que passei em Aldeia Formosa averbei 9 (nove) ataques ao quartel, sendo um deles ao arame, por volta das 21h00 ou 22h00.
Como era habitual estava a entrar no bar do pelotão das chaimites, com quem fazia, por vezes, a ronda fora do quartel, quando ouvi um barulho que me fez olhar para trás e ver o céu cheio de luzes, balas tracejantes.
Tinham começado um ataque do lado de lá da pista de aterragem, sem que tivesse sido detectada qualquer movimentação ou rebentamento que provocasse o alarme.
Pouco depois começou a nossa resposta a esse ataque, mas as anti-aéreas quádruplas encravaram com excepção de uma manuseada por um experiente velhinho. Houve depois quem dissesse que tinham ido lá testar os periquitos que tinham chegado para substituírem os atiradores daquelas armas e que estas encravaram por terem feito fogo abaixo dos 0 graus.
Mas para mim, o pior, com excepção deste ataque nocturno ao arame, foi que todos os outros foram sempre próximo da hora do jantar ou quando este decorria. Embora não fossemos trajados com fatos de gala nem houvesse baile depois, fez que numa das vezes, ao despejar o prato para o caldeiro e correr para a vala, feita com bidões cheios de terra, tivesse despejado também as ferramentas da refeição, ou sejam, o garfo e a colher.
Considerado já um especialista que averbava no curriculum 10 ataques aos quartéis por onde tinha passado, regressei a Bissau e aí fiquei, até ir render a Bolama um camarada que ia de férias.
E porquê?
Tinha já passado mais de metade da comissão e tinha estado de férias da Metrópole.
O então 1.º Sargento Vasco, Chefe do Posto Director do STM em Bissau, havia-me pedido, ou mandado, levar-lhe um capacete para se passear de mota, dizendo-me qual o modelo e inclusive onde o deveria comprar, na altura, na esquina da Rua das Pretas com a Avenida da Liberdade. Como não se tinha chegado à frente com o dinheiro, na altura entre 1.500$00 a 1.800$00, nem via nele grande interesse em o querer pagar, quando regressei disse-lhe que estavam esgotados. Não gostou. Daí a ter-me oferecido para ir substituir a Bolama o camarada que ia de férias foi um passo.
Por outro lado pensei que se Bolama servia para gozarem as férias muitos dos que não iam à Metrópole, nada melhor do que eu ir até lá, era como sair de Lisboa ou Porto e ir passar um mesinho em Cascais ou Foz do Douro.
Chegado e instalado, num quartel de instrução militar destinado ou pelo menos na altura a recrutas, dos quais grande parte ou todos muçulmanos, onde a carne de porco não fazia parte da ementa e onde acompanhavam as refeições com leite, procurei o entendimento com o cozinheiro e levantava os géneros e confeccionava eu o tacho no espaço do STM.
Mas não tenho razão para me queixar do trabalho, talvez mais da falta dele, dormia todas as noites sem a preocupação dos turnos 00h00/04h00 - 04h00/08h00 - 08h00/12h00 - 12h00/16h00 - 16h00/20h00 - 20h00/24h00 obrigatórios em Bissau, estava mesmo de férias não fosse lembraram-se de fazer um ataque ao quartel, imaginem dois ou três rebentamentos e acabou, felizmente e sem consequências.
Depois deste nunca mais passei por outro, passados os 30 (trinta) ou 40 (quarenta) dias que estive em Bolama regressei a Bissau e ao Posto Director do STM até final da comissão.
Como poderão ver, tenho razões para me considerar um privilegiado em relação a muitos dos camaradas que dão o seu contributo a este Blog/Local e não vejo grande interesse nas minhas situações pessoais. Contudo, não deixarei de contribuir, modestamente, para o Blog/Local que, sendo do Luís do Vinhal e do Briote, nos reúne e permitam-me a ousadia, já é de todos nós.
Um abraço para todos.
BSardinha
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Notas de CV:
Vd. último poste da série de 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3365: O meu baptismo de fogo (18): Cufar Nalu, 15 Maio de 1965 (Mário Fitas, CCaç 763, Cufar)
Vd. postes de Belarmino Sardinha de
14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2942: O Nosso Livro de Visitas (16): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)
1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3009: Com sangue na guelra: Nós e a mística dos comandos da 38.ª, em Mansoa (Belarmino Sardinha)
6 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3026: Convívios (69): Pessoal do BCAÇ 3832, no dia 31 de Maio de 2008 na Covilhã (Germano Santos/Belarmino Sardinha)
10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3047: Os nossos regressos (9): Uma viagem tranquila...(Belarmino Sardinha).
20 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (19): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)
Guiné 63/74 - P3376: Álbum das Glórias (48): Paunca, CCAÇ 11: Maio de 1974: a rendição da guarda (J. Casimiro Carvalho)
Guiné > Zona Leste > Paunca > Abril/Maio de 1974 > Os Furriéis Milicianos J. Casimiro Carvalho, à esquerda, e Cláudio Moreira, à direita... O primeiro, mais novo, veio substituir o segundo, um velhinho dos Lacraus.
Foto: © Cláudio Moreira (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do J. Casimiro Carvalho, o Pirata de Guileje, o ex-Ranger, da CCAV 8350, que esteve em Guileje de Dezembro de 1972 a Maio de 1973 e que depois de muitas peripécias foi terminar o resto da comissão em Paunca, na CCAÇ 11, Os Lacraus.
Luís:
Reencaminho este mail, com foto tirada em Paunca, sede da CCAÇ 11, Os Lacraus. Aqui estou eu. Legenda:
(i) Paunca, 1974: Convivendo com o pira (qual deles é o pira ?);
(ii) Ex-Fur Mil Op Esp Cláudio Moreira, velhinho, que eu (pira ?) fui render, em Abril/Maio de 1974.
Um abraço,
J. Casimiro Carvalo (*)
2. Recorde-se as peripécias do nosso ranger, depois do pesadelo que foi Guileje e Gadamael:
(...) Depois do 25 de Abril: Com uma arma apontada nas costas pelos fulas da CCAÇ 11
[Em 8 de Julho de 1973, saímos de Cacine, em LDG, a caminho de Bolama, e daqui] fomos para o Cumeré tirar outro IAO . Eu fui para Prabis com mais 12 homens, outros foram para Quinhamel ou Bijemita (??). Depois fomos para Colibuía-Cumbijã, e aí fui destacado para rendição individual, sendo transferido para Bissau a fim de tirar estágio de Companhias Africanas, e durante esse estágio deu-se o 25 de Abril [de 1974].
Fui então para Paunca, CCAÇ 11 – Os Lacraus, onde me mantive até ao fim da minha comissão. Não sem antes levar um susto de morte, pois os militares africanos da CCAÇ 11 sublevaram-se. Quando eu estava a dormir, ouvi tiros, vim em calções com a Walther à cintura até ao paiol. Quando lá cheguei, eles estavam a armar-se e a disparar para o ar e eu, quando os interrogava pelo motivo de tal, senti o cano de uma arma nas costas, ordenando-me que seguisse em frente (até gelei)...Juntaram todos os quadros brancos e puseram-nos no mato...assim mesmo.
Humilhados e ofendidos… socorridos no mato pelos inimigos de ontem!
Caminhámos muito, de noite, desarmados, e fomos até um acampamento de guerrilheiros do PAIGC, contámos a situação e eles mandaram um punhado deles a Paunca. Gritaram então lá para dentro:
- Têm 5 minutos para se entregaram e restituir o quartel aos brancos ou destruímos tudo! - Eles, os fulas, entregaram-se.
No fim, já de abalada, fomos ao paiol, juntámos todas as granadas e explosivos, e eu fui encarregado de os fazer explodir , ao redor de uma enorme árvore. Que cogumelo de fogo, impagável !
Deixei a G3 em Guileje...
Fui encarregado de comandar uma coluna de 22 viaturas até Bissau, por Fajonquito, Jumbembem Farim, Mansoa, Nhacra…Bissau. Ao fazer o espólio, não tinha G3, mas , como não tinha…
- Ó pá, estiveste em Guileje ?... Então ‘tá bem, não entregas.
A seguir vim de avião para a peluda. (...).
3. Comentáio de L.G.:
Cláudio Moreira: Onde quer que estejas, aqui fica o nosso muito obrigado e um convite para te juntares à nossa Tabanca Grande. É simples, é barato mas não dá milhões... Faz vai-te bem, a ti e a todos nós quantos estivémos na Guiné, mesmo nunca tendo ido a Paunca nem ter conhecido ninguém da CCAÇ 11.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
25 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3354: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão
25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)
Notável entrevista do escritor de Arquipélago da Insónia (o seu último livro, 2008…) em que se fala dos temas que lhe são caros, recorrentes, obsessivos: a literatura, a escrita, a infância, as figuras do do avô e do pai, a psiquiatria, as mulheres, o amor, a amizade, a vida, a doença, a morte…
Há duas referências à guerra colonial... O escritor passou recentemente, em 2007, por uma situação, bem dura, a experiência de (e o combate contra) a doença, uma neoplasia. Tudo se relativiza (incluindo a hipótese da obtenção de um merecido e almejado Prémio Nobel da Literatura) quando um homem ganha este round e se prepara para o próximo… A vida é um combate de boxe contra a morte.
Eis os dois excertos em que faz referência à sua experiência da guerra colonial, em Angola:
(…) Não queria falar sobre isso, mas eu estive na guerra. Matar é muito fácil. Quando o Melo Antunes estava doente, nunca tínhamos falado sobre a guerra e ele começou a falar; a mulher aproximava-se e ele dizia: "Não podemos falar mais." Perguntava-lhe: "Ernesto, porque é que não sentimos culpabilidade?" Assisti e participei em coisas horríveis. E ainda hoje não sinto culpabilidade. Porquê? Ele também não soube responder. É estranho. Porque sinto culpabilidade por ter ferido uma pessoa verbalmente, por ter sido injusto para alguém.
Sente culpabilidade por que pensa que vai sobreviver àqueles que estão na mesma sala, à espera da radioterapia.
Sentia-me culpado porque eu ia viver e eles não. Eles eram melhores do que eu. Tinham coragem. Eu estava todo borrado. Li um bocadinho das cartas da guerra, cartas que me oferecia para ganhar o meu respeito; cheguei a ir sentado no guarda-lamas dos rebenta minas.
Porque me achava um cobarde e me enojava a cobardia física. Assisti uma única vez ao espectáculo da cobardia física, e é repelente. Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Agora vão para a discoteca, naquela altura iam dar tiros. Iam matar e morrer. Voltando ao livro: o que eu queria era meter lá a vida toda, e não acho que seja triste. Acho que sou agora mais alegre do que era. (…).
Nesta entrevista, o escritor parece rejeitar os livros anteriores ao Esplendor de Portugal (1997), incluindo os três primeiros, a trilogia da guerra colonial - Memória de Elefante (1979), Os Cus de Judas (1979) e Conhecimento do Inferno (1980)... "Quando comecei a fazer os livros de que gosto, mais ou menos a partir d'O Esplendor de Portugal - até lá, se voltasse atrás, ia tudo fora - deixei de ter planos. Sei que me faltam três capítulos [do que estou a escrever agora] para acabar a primeira versão. Mas depois aquilo é tão trabalhado, emendado, reescrito" (*).
______________
Nota de L.G.:
(*) Para saber mais, ler o sítio não oficial do António Lobo Antunes, da iniciativa e responsabilidade de José Alexandre Ramos.
Vd. também a biografia do escritor, nascido em 1942, e que de 1971 a 1973 foi Alf Mil Médico, no leste de Angola, onde conheceu e fez amizade com o então capitão Melo Antunes, o ideólogo do MFA.
Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? ( José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)
Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.
Um observação, mais uma vez, por parte do editor do blogue, para não se deixar passar, impunemente, uma crassa asneira que pode ser atribuída, no mínimo, a ligeireza ou a santa ignorância e, no máximo, a racismo encapotado, a incultura geral, a apressada exploração comercial, por parte do editor deste postal, a Foto Iris, do exotismo da Guiné - aos olhos dos tugas que chegavam, aos milhares, nos T/T Niassa, Uíge, Alfredo da Silva, Ana Mafalda... (Tratava-se, aliás, de um negócio altamente lucrativo, dada a procura dos postais ilustrados).
Primeiro, não há uma 'raça maoematana' (!!!). Aliás, não existe o conceito (antropológico) de raça aplicado aos seres humanos. Só há uma raça (ou melhor: uma espécie), a do Homo Sapiens Sapiens... Os grupos humanos distinguem-se sobretudo pela cultura (etnia, língua, apropriação do espaço, usos e costumes, produção, religião...), embora haja diferenças a nível do fenótipo (por exemplo, a cor da pele).
Por outro lado, não havendo mais do que uma raça (o que remete para o genótipo e não para o fenótipo), também não poderá existir um raça...maometana. Tal como não existe uma raça... cristã. Maomé e Cristo são apenas fundadores de religiões, o islamismo e o cristianismo. Há cristãos e muçulmanos... "brancos, pretos e amarelos"!
Na Guiné-Bissau, o que havia (e há) são diferentes grupos étnico-linguísticoss, alguns dos quais islamizados, como os fulas, os mandingas e os biafadas, que tendiam (tendem) a adoptar o vestuário árabe, de resto generalizado entre as populações norte-africanas e sub-saharianas, porque muito mais apropriado ao clima, e mais confortável e saudável, do que o vestuário ocidental.
Por razões de aliança histórica e estratégica, as autoridades portugueses, sob o governo de Spínola (1968-1973), deram um tratamento especial às autoridades tradicionais locais, políticas e religiosas, ligadas aos grupos islamizados e, em especial, aos fulas que habitavam maioritariamente na Zona Leste (concelhos de Bafatá e Nova Lamego) . O Cherno Rachide Djaló, futa-fula, que vivia em Aldeia Formosa e que já morreu, era naquele tempo a autoridade máxima religiosa do Islão na então província portuguesa da Guiné.
Sobre o Islão e a Guiné Portuguesa, vd. o texto, em linha, de Francisco Proença de Garcia > Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974) (LG).
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2381 (1968/70) > O Maioral Zé Teixeira, 1º cabo enfermeiro, junto ao obus 14 que batia a zona fronteiriça...
Fotos: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.
1.José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)
Sobre o Cherno Rachide, sempre o tive como agente duplo. Recordo que o então Major Carlos Azeredo em 1968, todos os dias o ia visitar, quando ele estava em Quebo. Um dia chegou ao refeitório e deu ordens para irmos todos para a paliçada as 17.30 h. Precisamente a essa hora começou um ataque de armas pesadas. Só que as granadas rebentaram todas para além da pista, exactamente o lado oposto da população.
Comentava-se que era para evitar que o Cherno corresse riscos de vida. Dizia-se por lá que o comandante de zona do PAIGC era sobrinho do Cherno e por isso Quebo estava bem protegido. De facto ali à volta toda a gente sofria ataques e Quebo apreciava à distância ou enviava granadas de obuz 14 mm para a tabanca atacada, como aconteceu com Mampatá e Chamarra.
2. Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)
Meu Caro Luís Graça,
Eu conheci pessoalmente o Cherno Rachide Djaló, chefe dos muçulmanos, em Aldeia Formosa. E confirmo que este grande marabu era amigo do General Spínola e de mais alguém em S. Bento, Lisboa, que lhe pagava as viagens para Meca.
Em Dezembro de 1969, era eu professor do Posto Escolar Militar de Aldeia Formosa. Já tinha ouvido algumas histórias sobre a influência, o poder e os "poderes" do Cherno.Um dia fui abordado por um milícia, com ar preocupado, porque o filho (ou sobrinho?) do Cherno queria falar comigo, mas como não falava português, então ele, o milicia, seria o intérprete.
Recebi o visitante, que estava nervoso, mãos a tremer, que não falava português, mas percebia perfeitamente as minhas respostas. A preocupação do Cherno centrava-se na possibilidade de as cerca de trinta crianças que frequentavam a escola, serem aliciadas com o ensino da religião católica.
- Nada disso... zero... zero... - respondi, gesticulando. - E mais, se necessário, eu próprio vou falar com o Cherno, para garantir que não será ensinada religião católica.
Proposta aceite. Reunião marcada. No dia seguinte, lá fui à tabanca grande do Cherno Rachide Djaló.
Primeira surpresa, agradável, o aspecto luxuoso dos tapetes que cobriam aquele chão.Tirei as botas e sentei-me. Segunda surpresa, desagradável. Tinha na minha frente um homem abatido, com ar doente, olhar distante, que nem as vestas brancas, debroadas de amarelo torrado, conseguiam amenizar. O grande marabu estava mesmo preocupado.
Falei-lhe em voz baixa, pausadamente, reafirmando o que já tinha dito ao ajudante. Apenas ia ensinar os alunos a ler, escrever e contar. Fora da Escola, ao ar livre, faríamos educação física, jogos e canções. Mas nada de religião.
Enquanto o milícia traduzia, o Cherno fazia pequenos gestos de concordância.
Depois, fez uma pausa e disse que se era assim os meninos podiam frequentar a Escola.
Ficou tranquilo. Menos tenso, mas nunca sorriu. Despediu-se afectuosamente, como se estisse a abençoar-me. Agradeci, por mim e pelos alunos.
Regressei ao Quartel, mas pelo caminho uma dúvida permanecia no meu espírito.
Alguma coisa não estava certa. Um chefe religioso, mesmo ali, naquele sítio, naquela situação de guerra, não tem aquele comportamento. E hoje ao ler o post do Luis Graça, fez-se luz. Era isso, o "agente duplo".
O Cherno Rachid Djaló era um homem de confiança do PAIGC, pois embora estivesse no terreno ocupado por Portugal, tinha muita influência na população e não deixaria avançar a difusão da cultura e muito menos da religião dos portugueses. Aliás, nos ataques a Aldeia Formosa, os danos civis são quase nulos.
Manuel Amaro
ex-Fur Mil Enf
CCaç 2615,
1969/71
3. Torcato Mendonça (ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Olá, Boa Noite, muito breve numa, nem é comentário, pequena chamada de atenção para o titulo - Agente Duplo. Se me é permitido, falar assim daquele homem, pelo conhecimento que tenho é violento.
Mas ficam muitas interrogações no ar, desde as apontadas pelo Zé Teixeira, as visitas dos Governadores (conheci dois), os antecedentes e a implementação do PAI e PAIGC... e muito, muito! Quantos agentes duplos haveria na Guiné? Porque teria o Cherno de Aldeia Formosa tanto poder?
Isto dava uma bela conversa. Sim, porque há assuntos que se falam...só [, ou a sós ', meu caro José ?].
Os duplos...os duplos... e hoje???
Um tri-abraço do Torcato
Torcato Mendonça
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 27 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3361: PAIGC - Docs (2): O grande marabu Cherno Rachide, de Aldeia Formosa: um agente duplo ? (Luís Graça)
Vd. também:
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).
(**) Vd. poste des
18 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3326: O meu baptismo de fogo (12): Aldeia Formosa, 23 de Abril de 1970: realiza-se a premonição de um furriel enfermeiro (Manuel Amaro)
29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)
Guiné 63/74 - P3373: História de Vida (17): O Costa e a Madrinha de Guerra (José Martins)
Assunto: Será possível o contacto?
Boa tarde
Estando deliciado com as minhas leituras de fim de semana, que são a continuação das leituras de fim de dia, o programa que passava na TV chamou-me a atenção: Falava dos anos 60 e tinha, entre outras coisas, imagens da guerra. A páginas tantas, entram dois convidados (*): Ele, um camarada nosso que esteve em Tite. Ela, a madrinha de guerra, que só este ano se tinham conhecidoum ao outro. O José da Costa e a Maria da Graça. Ele, tanto quanto me lembro, era Operador de Mensagens, ela funcionária autárquica.
O José da Costa mostrou, então, um pequeno baú onde tinha guardado, nestes 40 anos, a correspondência quer tinha recebido (familia, namorada, amigos, madrinha de guerra).
Disse ter estado em Tite entre 1967 e 1969.
Se as minhas investigações não me atraiçoam, deve ter estado no BART 1914 ou no Pelotão de Morteiros 1208 (neste caso teria sido destacado para serviço no Batalhão, o que também aconteceu ao nosso António Santos).
O interesse deste assunto, além de ser um camarada dos mais antigos, tem um espólio com a correspondência trocada com a sua madrinha, que nos poderá elucidar de que assuntos tratavam e, sobretudo, o blogue pode ser (é de certeza) um óptimo veículo para rendermos homenagem às moças da nossa juventude que, tirando tempo ao seu lazer e entrando num campo que lhes era desconhecido, mantiveram a autoestima de muitos camaradas nossos.
Será que o José da Costa nos lê? Será que quer partilhar connosco as suas memórias?
Um Abraço
José Martins
Ex-Fur Mil Trms
CCAÇ 5
Canjadude,
1968/70
2. No dia seguinte, recebemos do José Martins a seguinte mensagem:
Assunto: José Pinho da Costa
Boa tarde camaradas
Acerca do que escrevi sobre o programa da RTP 1, A Minha Geração, consegui, graças à gentileza da Junta de Freguesia de Ovar, a quem publicamente agradeço, localizar o camarada José Pinto da Costa, Operador de Mensagens do BART 1914 (Tite, Abril de 1967 a Fevereiro 1969).
Falei com ele e fui autorizado a informar-vos do seu contacto, tendo-me esclarecido que também a 1914 tem um blogue, editado pelos camaradas Leandro Guedes, Pica Sinos e José Justo:
http://bart1914.blogspot.com/ (**)
In illo tempore
Já agora, um texto retirado desse blogue, e que tem a data de 6 de Outubro (com a devida vénia, ao blogue e ao Zé Justo).
Um abraço
José Martins
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Nasceu mais um vedeta televisiva !! O sr. José Costa deu um show, que embora curtinho foi de alta qualidade!!
Estiveste mesmo à altura, companheiro. E com a coragem de dizer umas verdades bem reais: ...que vão para lá seis meses...não disparam um tiro...e ganham balúrdios !!
É assim mesmo. Até tem direito a reportagens na televisão, como se fossem para o "horror das trincheiras"!!.
Logicamente os tempos são outros, felizmente para todos, mas é abismal o contraste, e dói saber como são tratados muitos camaradas de armas que levam vidas abaixo de cão devido ao ferrete que os marcou para o resto das suas tristes e sofridas vidas.
E de certeza que estes militares em missão não se alimentam como nós em Tite, durante dois anos !! Enternecedor, ver-vos aos dois! e o relato do vosso reencontro pós 40 anos... Imagino a sensação.
A velha malinha com as cartas, não lembra a ninguém, passados tantos anos ?!
Pela tua prestação, manda o Governo da República que sejas promovido a General por mérito.
Amigo, os meus parabéns, e como disse a Catarina: "vão falando os dois"...
Um grande abraço
Zé Justo
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3. Comentário de CV (***):
O nosso camarada José Costa resolveu ao fim destes anos todos procurar a sua madrinha de guerra e tentar reconstituir o passado. A D. Maria da Graça por sua vez confessou já não se lembrar muito bem daqueles tempos, nem sequer possui as cartas que o José Costa lhe enviou. Ele sim, mantém as dela num pequeno baú, que levou consigo, junto com outras cartas e aerogramas enviadas quiçá por familiares e amigos.
Aqui fica um pouco reforçada a ideia do quanto eram importantes as madrinhas de guerra para os militares, ao ponto de muitos de nós ainda conservarmos a nossa correspondência intacta. Claro que as ditas madrinhas de guerra, ao restabelecerem família, talvez por uma questão de pudor, se desfaziam daquela correspondência que seria hoje um suporte de enorme importância para a feitura de memória futura.
Deixamos aqui um convite público ao camarada José Costa para, sem prejuízo do blogue do seu Batalhão, nos contar algumas das suas histórias. Não faz mal que estejam por ventura já publicadas, não queremos ser exclusivos.
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Notas de CV:
(*) Podem ver um vídeo, disponível no You Tube, na Conta do camarada Pica Sinos, com o início da entrevista em http://www.youtube.com/watch?v=u4BrCqMjx1k&eurl=http://bart1914.blogspot.com/
(**) Sobre o BART 1914 e seu Blogue, vd. respectiva apresentação:
Batalhão de Artilharia 1914 - em Tite, na Guiné/Bissau
A CCS do Batalhão de Artilharia 1914 esteve aquartelada em Tite, em pleno mato no Sul da Guiné, de Abril de 1967 até Março de 1969. Permaneceram também em Tite durante esse tempo a Comp. de Artilharia 1743, o Pelotão de Morteiros 1208, o Pelotão Daimler 1131 e uma Secção de Obuses. Faziam parte desta Unidade o destacamento do Enxudé, no rio Geba, S. João, Nova Sintra e Jabadá. Lembraremos neste blog "aqueles que da lei da morte se libertaram", dando generosamente a própria vida.
(***) Vd. último poste da série História de Vida > 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3181: História de vida (16): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)
Guiné 63/74 - P3372: Unidades que passaram por Mansoa, de Maio de 1969 a Fevereiro de 1971 (César Dias)
Unidades que passaram pelo sector de Mansoa no período de 8 de Maio de 1969 a 15 de Fevereiro de 1971
por César Dias
(i) BCAÇ 2885 substitui o BCAÇ 1912 em 14 de Maio de 1969
Composição do Batalhão
CCS - Não teve mortos em combate; 6 Evacuados para Lisboa: 21 evacuados para o HM 241 (Bissau)
CCAÇ 2587 > 1 morto; evacudos: 10 (Lisboa) + 26 (HM 241)
CCAÇ 2588 > 7 mortos; evacuados: 14 (Lisboa) + 31 (HM 241)
CCAÇ 2589 > 6 mortos; evacuados: 8 (Lis) + 21 (HM 241)
(ii) Outras Forças adstritas ao Batalhão
CART 2411 nos destacamentos de Porto Gole, Bissá e Enxalé até 15-03-1970 > Não teve mortos; Evacuados: 5 (Lisboa) + 14 (HM 241)
CCAÇ 2403 em Mansabá, desde 10-69 a 21-04-1970 > 2 mortos e 3 evacuados: 1 (Lisboa) + 2 (HM 241)
CART 2732 em Mansabá desde 21-04-1970 até 11-11-70 para COP6 > 1 morto; 5 feridos (evacuados para Lisboa); mais 6 (HM 241).
CCAÇ 15 em Mansoa desde 4-03-1970 > Evacuados: 4 (Lisboa) + 15 (HM 241)
CCAÇ 17 em Mansabá 17-10-1970 (sem baixas)
PEL CAÇ NAT 54 no destacamento de Porto Gole e Enxalé até 26-10-69 : 1 ferido (HM 241)
PEL CAÇ NAT 57 no destacamento de Cutia até 28-01-70 sendo rendido pelo PEL CAÇ NAT 61 > 1 ferido (HM 241)
PEL CAÇ NAT 58 no destacamento de Infandre desde 16-11-69: 6 mortos; 2 feridos evacuados para Lisboa e 1 para o HM 241
PEL CAÇ NAT 61 em Mansabá até 28-01-70: 8 feridos (HM 241)
PEL CAÇ NAT 62 no destacamento de Braia, extinto em 16-11-69 e substituído pelo
PEL CAÇ NAT 58: sem baixas
PEL MORT 2172 > feridos graves: 1 (LIsboa) + 1 (HM 241)
11º PEL ART 8,8 em Mansoa: sem baixas
PEL MORT 2004: 2 feridos evacuados para o HM 241
- 1 secção em Mansoa
- 1 Esq em Cutía
- 2 Homens em cada destacamento: Bindoro, Infandre, Rossum, Bissá, Porto Gole, Enxalé, Jugudul, Braia e Uaque
21º Pel Art /ga 7: 1 ferido evacuado para Lisboa
2 Auto Metr / Pel AM 2048 em Mansoa e Mansabá > Feridos evacuados: 1 (Lisboa) + 2 (HM 241)
PEL MILÍCIA 155 depois 250, em Mansoa: 1 morto; 1 ferido grave (HM 241)
PEL MILÍCIA 156 depois 251, em Mansoa: 1 morto; 1 ferido grave (HM 241)
PEL MILÍCIA 159 depois 253, em Mansabá: 1 morto, 1 ferido grave /HM 241)
GRUPO DE CAÇADORES BALANTAS, este grupo foi transformado em PEL MILÍCIA 186 depois 252 em 1-12-69: Mortos: 5; feridos evacuados: 1 (Lisboa) + 2 (HM 241)
PEL SOLDADOS BALANTAS, sem Quadros (esteve 2 meses em Mansoa, voltando depois para Bolama): sem baixas.
28º PEL ART 14, substitui o 11º PEL ART 10,5 indo este para Bissorã para o BCAÇ2861 em 19-07-70: sem baixas
1 PEL AML PANHARD com 3 viaturas, em Mansabá: sem baixas
(iii) Outras unidades:
COP6 em Mansabá
CCAÇ 15, a 2 grupos de combate
PEL SAP da CCS do BCAÇ2885 em 21-11-70 até 09-02-71
13º PEL ART, substitui o 21º PEL ART que foi para Olossato em 21-11-70
BCAÇ 3832, substitui o BCAÇ2885 que em 15-02-71 ruma ao Cumeré a aguardar transporte para Lisboa.
Guiné 63/74 - P3371: Bibliografia de uma guerra (35): Desertor ou Patriota, de David Costa: da brincadeira ao pesadelo... (V. Briote)
Título > Desertor ou Patriota
Autor > David Costa
Editora > Ausência
Local > Vila Nova de Gaia
Ano> 2004
Nº pp > 160
Preço > 12 €
David Costa nasceu na freguesia de Fânzeres, concelho de Gondomar, a 12 de Dezembro de 1945. Incorporado em Julho de 1966, casado à pressa para ver se se livrava da mobilização, nem com um filho recém-nascido e outro a caminho escapou. Como ele diz a certa altura, só os cegos e os paralíticos podiam ter alguma esperança.
Tudo começou em Fevereiro de 1967. No cais da Rocha Conde de Óbidos ouviu a prelecção habitual:
- Soldados de Portugal! É grande a vossa honra, pois a Pátria chama-vos a defender aquelas terras tão orgulhosamente portuguesas.
Embarcou no Uíge num daqueles dias frios para cinco dias depois respirar o ar quente de Bissau. Nem deu tempo para dar uma volta pela cidade. Encaixotados nas viaturas, lá rumaram, ele e os camaradas, a caminho de Mansoa.
Um tipo cheio de sorte. Ainda em Lisboa deram-lhe a notícia:
- O teu serviço vai ser trabalhar na secretaria, incorporado na CART 1660.
Em Mansoa encontrou-se com os velhinhos do BCAÇ 1912, que não deixaram passar a oportunidade de praxar a periquitada:
- A vossa chegada não tarda vai ser condignamente festejada...Não vai faltar molho! - E, de facto, assim aconteceu.
Numa daquelas noites, a gozar o cinema ao ar livre, aí vai aço, tugas de um raio! “Corríamos inseguros à procura de qualquer coisa que nos abrigasse”, remata o infeliz amanuense condutor que, afinal, estava a ver que também sobrava alguma coisa para ele.
Mas nessa noite como em outras que se seguiram estava longe de adivinhar o que, dezenas de anos depois, chamou “a extraordinária aventura que eu vivi”.
Foi no fatídico dia 17 de Maio de 1967 que começou a odisseia do David. Brincalhão, cheio de arte e manha, era o encarregado do transporte do correio, o que o levava a Bissau sempre que havia avião.
“Tudo não passou de uma simples brincadeira com uma carta mal fechada, da qual caíra uma foto de uma linda rapariga. Com essa fotografia, destinada ao Floriano, resolvi fazer umas graças, exibindo-a como troféu de grande conquistador que eu era. Brincadeira de mau gosto, certamente, imperdoável também, com certeza, mas que me saiu tão cara!...”
Condenado pelos camaradas que lhe viraram as costas, resolveu ir dar uma volta pela povoação.
Foi andando, diz ele, a matutar, acabrunhado, andando até dar por ela que era noite e já estava fora de Mansoa e sem sequer vislumbrar qualquer referência. Em pânico, desorientado, meteu-se pelo mato, andou para trás e para a frente e para os lados possivelmente, até que pela madrugada viu um holofote a girar. Era um destacamento das NT que ele não fazia ideia qual fosse.
Entra, não entra, arrisca a entrar por baixo do arame farpado, a desaparecer pelo chão, quando lhe vem à cabeça a ideia de poder ser visto à distância por alguma sentinela que, certamente, não o identificaria e, o mais certo, pensou para ele, fura-me todo.
Escapa-se do aquartelamento (ao longo de toda a história vê-se que conjuga o verbo escapar de trás para a frente) e decidiu internar-se no mato ao encontro, não sabia ainda, de uma pequena coluna da guerrilha.
Estava ele a dizer “Tem calma David!”, quando uns vultos estacam à frente dele. Curvados, observam-lhe a cara, murmuram entre eles, até que um se chega à frente de um David a tremer por todos os lados.
- Que andas aqui a fazer fora do quartel?
- Fugi, ontem à noite - saiu-lhe pela boca, sem pensar, diz ele.
Começa assim a odisseia do soldado raso David Costa. Levado pelo Comandante Alexandre Dias Correia e mais seis elementos bem armados e equipados com fato camuflado, dirige-se à mata de Morés. Sempre bem tratado pela guerrilha e pela população, conhece José Landim, que se apresenta como chefe militar da base de Morés.
Depois foi a viagem por trilhos, bolanhas e ribeiros, em direcção ao Senegal. No trajecto ainda conheceu em Iracunda, bem perto do Olossato, o Aristides Pereira, futuro Presidente da República de Cabo Verde que, contente pela deserção do soldado, o abraçou e tratou com muita simpatia. Foi aí que assistiu a uma sessão política, que o deixou boquiaberto. Acarinhado por todos, rumou novamente em direcção à linha de fronteira, conduzido pelo Comandante Alexandre Correia e pelos seus homens. Dois ou três dias depois chegaram.
Antes de embarcar numa camioneta que o aguardava, chorou abraçado ao Comandante, que à despedida lhe disse:
-Vai em paz e que Deus te acompanhe. Obrigado por seres dos nossos…
Em Ziguinchor teve honras de ser recebido por Luís Cabral e pelo Mário Pádua, um médico português que desertara do Exército Português em Angola e tratava agora dos feridos e doentes do PAIGC.
Levaram-no a um alfaiate, tirou medidas para um fato, comprou camisas e sapatos, fumou Craven-A e Rothelmans, parecia-lhe tudo surreal, diz ele.
Numa noite, após jantar com Luís Cabral, duas senhoras e o Mário Pádua, este entrou-lhe no quarto e perguntou-lhe a quem queria dar notícias.
Que pergunta! O David não parava de pensar na sua jovem mulher. Então, o Pádua passou-lhe para as mãos uma carta escrita e uma folha de papel de avião em branco com o respectivo envelope.
“Quando me deixou só, comecei a ler aquela folha e fiquei muito desanimado. À medida que a ia lendo, ia perdendo a vontade de continuar. Não entendia nada de política, mas qualquer um perceberia que aquela carta era uma condenação. Eu ia dizer à minha mulher para não se preocupar comigo. Que estava muitíssimo bem e não me faltava nada. Que tivesse confiança, pois mais tarde ou mais cedo iria ter comigo, onde quer que eu estivesse. E pelo meio destas mensagens cheias de esperança dizia-se que quem tinha a culpa de tudo era Salazar…Que Salazar e Tomás eram doidos e o Cardeal Cerejeira também. Mesmo ignorante, logo percebi que jamais voltaria a Portugal sem problemas gravíssimos…”, escreve o David no seu livro.
Fez o que lhe sugeriram, copiou com a sua letra a folha que o Pádua lhe entregara.
Depois o David continua a contar as atribulações que diz ter passado. Deram-lhe uma espécie de dinheiro de bolso e deixavam-no passear sozinho. Dias depois, diz ter escrito uma carta para a mulher contando a sua própria versão e pedindo que fizesse a entrega da carta no QG, no Porto.
A aventura no Senegal continua em Dakar para onde foi levado e conhece na sede do PAIGC um tal José Augusto, natural de Braga, ex-apontador de morteiro de uma unidade militar portuguesa, que desertara em tempos e que vivia no Senegal com a mulher e a avó.
A odisseia do David no Senegal acaba num Convento em Dakar, levado por um padre que o encontrara desanimado numa igreja. Não falta nesta história uma freira, jovem e bonita… Foi, aliás, através das freiras que obteve um passaporte e foi levado para Bathurst, Gâmbia, de onde depois de ter enviado um telegrama ao Comando Chefe das FA em Bissau, regressou numa avioneta civil à Guiné.
Bom, depois começou outra história. Prisão, interrogatórios, julgamento, condenação por deserção, chapada de Spínola...
Ironia ou não, o David regressou em 20 de Junho de 1971 no mesmo navio que, em Fevereiro de 1967, o transportara para a Guiné...Passou à disponibilidade em 29 de Agosto de 1971.
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Nota de vb:
(*) Sobre Dr. Mário Pádua, vd. o filme-documentário As Duas Faces da Guerra, de Diana Andringa e Flora Gomes:
AS DUAS FACES DA GUERRA
DIANA ANDRINGA E FLORA GOMES
DOCLISBOA 2007 - INVESTIGAÇÕES
Luta de libertação para uns, guerra de África para outros: o conflito que, entre 1963 e 1974, opôs o PAIGC às tropas portuguesas é visto, desde logo, de perspectivas diferentes por guineenses e portugueses. Mas não são essas as únicas “duas faces” desta guerra: mais curioso é que, para lá do conflito, houve sempre cumplicidade: “Não fazemos a guerra contra o povo português, mas contra o colonialismo”, disse Amílcar Cabral, e a verdade é que muitos portugueses estavam do lado do PAIGC. Não por acaso, foi na Guiné que cresceu o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril. De novo duas faces: a guerra termina com uma dupla vitória, a independência da Guiné, a democracia para Portugal. É esta “aventura a dois” que é contada pelas vozes dos que a viveram.
EXTRAS
Capítulos
Diana Andringa, Flora Gomes Filmografias
Legendas: Inglês
Chico Bá Paulo de Jesus Filinto de Barros Agnelo Lourenço Fernandes Sulei Balde Carlos Sambú Amílcar Domingues António Iria Revez Teresa Barbosa António Lobato Manecas Santos Osvaldo Lopes da Silva João Marques Dinis Vasco Lourenço Pedro Pires Ansumane Sambú António Marques Lopes Lassana Njai Alfredo Santi Mário Pádua Manuel Boal Maria da Luz (Lilica) Boal Fernando Baginha Amélia Araújo Leonel Martins Pedro Gomes José Mendes Sentieiro Mbana Cabra Manuel Monge Agnelo Dantas Dalme Embunde Féfé Gomes Cofre Assana Silá Alexandre Coutinho e Lima Mamadi Danso e Assana Silá Dauda Cassamá Aladje Salifo Camará Isabel Coutinho e Lima Manuel Batoréo
Argumento e Realização: Diana Andringa e Flora Gomes; Imagem: João Ribeiro; Som: Armanda Carvalh; Montagem: Bruno Cabral; Produtor: Luís Correia; Produção: Lx Filmes.
Portugal, 2007, 105’, P/B e Cor, Betacam Digital, som 2.0, formato 4:3, Português e Crioulo
© Lx Filmes 2007
(P) Midas Filmes 2007