1. Registei com apreço que o historiador francês René Pélissier (que não é um tipo qualquer...) tenha reparado no livrinho do nosso amigo e camarada Fernando Gouveia, Na Kontra Ka Kontra (Edição de autor, Porto, 2011, 160 pp.), orginalmente publicado no nosso blogue em 49 episódios....
René Pélissier [, foto à direita, cortesia do semanário Expresso, na sua edição 'on line',] é conhecido como um leitor compulsivo, tendo em sua casa uma biblioteca de 12 mil volumes...
Em entrevista ao semanário Expresso, conduzida pelo jornalista José Luís Castanheira (vd. Expresso, edição de 31 de julho de 2010, Caderno Atual, pp. 38-40), respondeu do seguinte modo à pergunta "O que é, para si, um bom livro?":
(...) "Se um livro me traz coisas novas, considero-o bom; se me traz muitas coisas novas, é excelente, qualquer que seja a tendência política do autor. Como não tenho nenhuma opção política, se fizer bem o seu trabalho, não tem nenhuma importância que seja de esquerda ou de direita. Desde que faça bem o seu trabalho" (...).
Por outro lado, tomei também boa nota do que ele disse sobre nós, de maneira algo condescendente e paternalista: "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)..
É um elogio ? É uma crítica ? É uma lisonja ? É uma simples constatação de um facto ?...
A pensar nisso, lancei numa sondagem de opinião, glozando o tema: Somos um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude (perdida) ? É verdade ? É isso ou só isso ? Ou também isso e muito mais do que isso ?
O homem, que é historiador, e é gaulês, e é um reputado especialista sobre a colonização portuguesa, e sabe português, e visita-nos com alguma regularidade, lá terá as suas razões para nos catalogar como "veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)... Razões que não explicitou, nem tem que o fazer...
Bom, gostava que os amigos e camaradas da Guiné que nos leem e/ou se reconhecem neste blogue, ou conhecem minimamente este blogue, se pronunciassem, dando a sua opinião... Vamos ter seis dias para responder à sondagem (coluna do lado esquerdo, ao alto)...
Por outro lado, estamos a entrar no verão, o que significa sempre - ou pelo menos de acordo com a experiência dos anos anteriores - uma quebra nas estatísticas sobre a visita e a leitura do nosso blogue...
Registe-se, todavia, o facto de termos atingido, há dias, em 25 de junho passado os 3,8 milhões de visitas... E temos a expectativa de chegar aos 4 milhões, lá para finais de agosto, sem perder de vista a meta dos 600 membros da Tabanca Grande, a atingir no final do ano em curso...
Nota-se, também, alguma quebra na produção e entrega de novos textos, fotos, etc... Sabemos que o blogue é um animal voraz: tem de ser alimentado todos os dias...
As opiniões dos nossos leitores são importantes, mais: são essenciais para nós. Amigo e camarada da Guiné, além de votares ("on line"), dando a tua opinião sincera sobre a pergunta, manda-nos também um pequeno texto, para publicação... Começamos já a publicar os primeiros textos que nos chegaram na tarde de ontem.
________________________________________________________
1. José Martins:
Luis: Tenho, li, e anotei, além de ter sido fonte de conhecimento, os dois livros sobre a Guiné, do René Pelissier. A data em que os adquiri é para mim incontornável. Nesse dia almoçaste [, na tua Escola,]com o Zé Neto e com o Pepito, a quem fui cumprimentar e conhecer: dia 13 de Julho de 2006, vai fazer 6 anos.
Porém,não estou de acordo com a citação do René. Não sou nostálgico da minha juventude. Posso recordá-la, mas não voltava atrás, só se tivesse a certeza de que poderia "emendar" algumas situações.
Sendo impossivel, tudo bem. Siga em frente a... infantaria. Agora tenho a consciência, se é que tenho consciência, do que é preciso transmitir às gerações "emergentes", os nosso netos; porque os nossos filhos já têm outras preocupações, e que preocupações!
Espero que o que vou fazendo, possa ser aproveitavel, ainda que em pequena percentagem, porque nada é zero. (...)
_____________________________________
2. Alcides Silva:
Amigo Luís Graça, ao ler a mensagem onde referiu, o René Pélissier, o nosso blogue como sendo o da nossa juventude perdida, senti um nó na garganta, nós que regressamos do Ultramar, demos tudo que podíamos em sacrifício da Pátria e outros houveram que deram mesmo tudo até a sua própria vida porque não regressaram vivos e outros lá ficaram.(...)
3. Beja Santos:
Luís, Correspondi ao teu solicitado e respondi “discordo”. Dou-te as minhas razões. O historiador René Pélissier poderá ter fundamento quanto à nostalgia que nos irmana. A nostalgia é isso mesmo, uma lembrança, nalguns casos indelével, tratou-se de uma guerra que nos envolveu por inteiro, viemos mudados pela experiência, pela vivência, a personalidade vincou-se, e mais não digo.
Mas há muito mais que a nostalgia que também nos irmana, uma intensa vontade de comunicar com as nossas aptidões e valências: há quem fale em patronos dos exércitos, envie poesia, fotografia, se sirva justamente do blogue como uma sala de conversa ou desconversa. Os blogues não são clubes, nem associações, entra-se e sai-se graças aos livres trânsito, deposita-se uma opinião; um blogue pode fazer amigos, mas não é obrigatório; o que o blogue tem (e o nosso dá e sobra) é a caraterística de nos servir como gabinete de leitura onde tomamos posição onde queremos, é essa transitoriedade que traz a grandeza de nele depositarmos opiniões, saberes; os documentos de incontestável importância que aqui se vão juntando superam o tal conceito de veteranos nostálgicos. (...).
_______________________________________________________________
4. António Figueiredo Pinto [, foto da esquerda, ao meio]
(...) Contra mim falo. Não tenho escrito nada de novo, embora sempre que possa, dê uma espreitadela ao que os AMIGOS vão dizendo. Fotos poucas mais tenho e não têm interesse para a Tabanca. A saúde também vai faltando e os neurónios vão-se "queimando " a um ritmo que vai tirando ânimo. Depois continuo a reparar que ninguém do meu tempo aparece.
Também já há muito tempo pedi para alterarem a minha morada e nº de telefone e ninguém ligou. Compreendo que o vosso trabalho é ciclópico, trabalhoso o que eu louvo sinceramente
Não sei se vale a pena mas já agora volto a dizer os meus dados:
António Figueiredo Pinto
Vila do Conde
______________________
5. Paulo Raposo:
Olá, rapaz, e parabéns.
Para mim o historiador que vá dar uma volta ao bilhar grande.
Desde 1960 que fomos atacados por cobiça do nosso império e cedemos sempre ao inimigo.
Esse historiador não conhece o povo português. Somos demasiadamente bons e humildes. Não há no mundo outro povo como o nosso. O francês é altivo até dizer chega, o alemão acha-se superior e o russo soberbo.
Como estamos unidos pela mesma causa somos como irmãos e não perdemos a nossa juventude, ganhamos sim o nosso orgulho. (...).
________________________________________
6. Domingos Gonçalves:
"É um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)...
A afirmação é, no mínimo, polémica. Por outras palavras: é um ponto de vista, respeitável, e nada mais.
Pessoalmente entendo que o blogue contém imensa informação, sobre a guerra da Guiné, e não só, e expressa a opinião de muitos dos actores da mesma guerra, e de muitas outras pessoas que, mesmo não chegando a participar no conflito, manifestam interesse em saber o que de facto se passou. Penso que, em grande parte, colaboram no blogue pessoas que, sem mágoas, sem traumas, sem ódios, mas por amor à verdade, vão disponibilizando, por recurso à memória, ou a documentos de diversa natureza, a sua versão dos factos.
A verdade, que vai sendo transmitida, pode até ser desagradável para alguns. Mas não pode confundir-se com nostalgia. Os factos que aconteceram, regra geral testemunhados e vividos por muitos actores, foram muitos deles dolorosos,mas dor e nostalgia também não é a mesma coisa.
Continuem! Sem receio da tal nostalgia, mas motivados pelo amor à verdade, mesmo quando ela ponha em causa alguns supostos heróis. (...)
_______________________
7. Henrique Cerqueira:
(...) Resolvi aceitar o teu desafio. No entanto tenho algumas duvidas se o meu texto é ou não publicável. É que eu não sei escrever o “publicável”, só sei escrever o que me vai na alma e em especial quando me sinto motivado por qualquer situação. E esta foi uma das situações, no entanto reafirmo que normalmente e desde que entrei para esta maravilhosa família do blogue;quando escrevo algo é sempre ao correr da pena ,e muito raramente corrijo a escrita, pois que a minha insegurança quanto ao interesse do que escrevo me faria de imediato apagar tudo que escrevi. Já o tenho feito em especial em alturas de comentar certos artigos publicados, pois que tenho sempre receio de ofender camaradas. (...)
Guiné? Tropa? Guerra ?Juventude Perdida... medo... muito medo. Sim, sim é verdade . Da minha parte e muito serenamente eu confesso que esses sentimentos me acompanharam constantemente durante os três anos em que fui militar do exército Português.
Não posso esquecer que todos os dias eu era lembrado que teria de ir para a tropa,mas que seria forçosamente para o Ultramar. O Homem para ser Homem tinha que ir á Guerra. Diziam os meus pais:
- Estuda, filho, para não seres um simples soldado...
Diziam os amigos:
- Estás lixado pá vais mas é morrer,ou então virás sem pernas, como o Floriano (era um nosso amigo um pouco mais velho).
Enfim era uma parafernália de lembretes que das duas uma, ou fugias para França como alguns dos meus amigos ou te resignavas que o teu destino era mesmo o ir para a tropa e posteriormente para a Guerra.
É então que eu com os meus dezanove anos tenho que tomar decisões e como sou filho único e muito amante dos meus pais não consigo acompanhar os amigos na fuga para França. Aliás quando esses amigos fugiram foi um escândalo no meio em que vivíamos, pois que os "pobres" foram considerados como fugitivos ao dever patriótico. Nós tínhamos um grupo que para a época era um pouco "revolucionário" pois que aqui e ali lá intervínhamos com umas ações de contestação ao regime (de certo modo estava na "moda" por causa do Vietname).
E então após essas fugas os restantes amigos tiveram, e eu incluído, umas visitas da PIDE às nossas casas e com algumas ameaças aos nossos pais de despejo da habitação (eram do Estado) e percas de emprego dos pais, funcionários públicos.
Ora com todos esses condimentos eu decidi mesmo que lá teria que ser tropa e mais tarde "combatente". Mas para ajudar resolvi me apaixonar perdidamente ao ponto de decidir casar com 20 anos e aos 21 anos ter um filho, ou seja, ele nasceu quando estava na recruta nas Caldas da Rainha.
Como aconteceu à maioria dos jovens dessa altura, lá passamos por toda aquela formação de Homens para a "Guerra". Também sabemos que essa formação era altamente deficiente, o que viríamos a sentir na pele mais tarde.
Medo...muito medo, senti sempre desde o primeiro dia de tropa, senão veja-se: (i) era medo de ser castigado e não ir de fim de semana a casa; (ii) medo de chumbar nos testes e não ser promovido (e tanto que minha mãezinha me dizia para estudar); (iii) medo de ir para a Guerra e não saber o que iria acontecer; (iv) medo de alguns " estupores" que encontrei a mandarem na minha vida; (v) medo das emboscadas e ainda (vi) medo, ao vir para casa, do emprego iria ter (ou não).
Poderia enumerar muitos Medos mas seria enfadonho ,até porque tudo passou. Passou??? E os TRÊS ANOS OBRIGATÓRIOS,longe da família ,longe de projetos, sonhos e sabem que mais... Senti-me tão Adulto quando fui fazer o espólio no Ralis e tão desamparado que só hoje ao escrever estas linhas é que me dei conta...Por isso Foi mesmo Juventude Perdida.
Nota: Estou a escrever estas letras e nem sei se a pontuação está correta, se a escrita está ou não boa para se ler, mas aceitei o desafio do Luís Graça, porque na verdade EU JÁ NÃO TENHO MEDO!
8. Ricardo Figueiredo:
(...) Em boa verdade, não me parece que se possa catalogar o “nosso” blogue de nostálgicos ou sequer "nostálgicos da nossa juventude”.
Se todos fizermos uma introspecção á nossa memória, veremos que tivemos duas reacções distintas quando acabamos o nosso serviço militar obrigatório e sobretudo connosco, que enfrentamos a guerra no teatro de operações da Guiné.
A primeira reacção foi tentar varrer da nossa memória os episódios que lá vivemos, os menos bons e até os bons , esquecer até ao ínfimo pormenor a vivência nesse teatro .
A segunda reacção adveio com a idade , com o retomar dos arquivos de memória, que na verdade nunca foram totalmente eliminados e a natural saudade que se aproxima quando estamos a chegar ao fim !
Que seriam dos nossos netos se não tivéssemos estórias e histórias para lhes contar …!?
Ora e aqui surge o Blogue do Luis Graça & Camaradas da Guiné ! É com esta iniciativa e a partir desta iniciativa que, aos poucos, mas a um ritmo alucinante , os velhos Combatentes se vão perfilando e, conduzidos pelo arquivo da sua memória, vão narrando, aqui e ali, capítulo a capítulo, a sua visão das “suas” guerras, cada um à sua maneira e ao seu estilo, às vezes personalizando os factos outras generalizando-os, mas dando um contributo único de um testemunho pessoal e intransmissível .
Estaríamos assim dispostos a dizer que o Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, mais não é que uma janela aberta à memória de todos os ex-Combatentes da Guiné, que de forma livre e intemporal lhes permite gritar aos quatro ventos tudo o que lhes vai na alma, consubstanciando nesse grito, não só os episódios da sua vivência enquanto militares e combatentes, mas sobretudo enquanto homens que, nas entrelinhas, múltiplas vezes deixam passar a solidariedade actual, a amizade, a camaradagem, o espírito de corpo e a saudade, este sentimento tão português, que os ex-combatentes sentem como ninguém.
Que me perdoe o historiador francês M. René Pélissier, mas estou perfeita e absolutamente em desacordo com a classificação nostálgica que atribui ao nosso blogue.
Há ainda um aspecto interessante que convirá trazer à colacção . Durante muitos anos foi-nos impedido de publicitarmos a nossa condição de ex-Combatentes, pelas razões que todos conhecemos. Ainda hoje somos olhados de soslaio e muitos não entendem o amor Pátrio…! Mas também por isso o nosso blogue teve uma importância enorme, ao permitir que, sem qualquer tipo de censura prévia, todos nos expressássemos livremente e comentássemos e criticássemos os posts publicados. Naturalmente que nessas exposições, nessas criíticas e nesses comentários, alguma nostalgia poderá transparecer.
Mas julgar a árvore pela floresta vai uma distância muito grande…!
Classificaria o nosso Blogue como um arquivo estórico e histórico de enorme interesse nacional, importante para os historiadores vindouros ,com uma mescla de erudito e popular, mas sobretudo como o Único Repositório da verdadeira Guerra da Guiné, contada pelos seus directos intervenientes.
Um blogue elementar e essencial, escrito e movido não pela nostalgia dos seus escribas, mas pela capacidade narrativa e de precisão que lhe pretendem atribuir , com a alegria do dever cumprido pela sua Pátria .Quiçá o último contributo vivo que lhe pretendem dar – a verdadeira narrativa da Guerra da Guiné, transcrita por palavras simples e singelas com a alegria de quem a ela sobreviveu , sem contudo esquecer os milhares de mortos , cujos nomes são permanentemente referidos com respeito e saudade nas diversas transcrições que constituem o acervo do blogue Luís Graça.
Direi, pois, para finalizar, que o nosso blogue é um compêndio indispensável aos velhos combatentes da Guiné que nele exprimem os seus sentimentos, do passado, do presente e até do futuro, mas, no essencial, libertos de qualquer nostalgia, antes de um sentimento teatral, pois todos eles foram e são os únicos actores!
Um abraço forte de continuidade pelo bom caminho que tem sido desbravado.
Bem Hajas !
Ricardo Figueiredo
Ex-Fur Mil At Art - 2ª Cart/Bart 6523
Abutres de Cabuca
(...) "Se um livro me traz coisas novas, considero-o bom; se me traz muitas coisas novas, é excelente, qualquer que seja a tendência política do autor. Como não tenho nenhuma opção política, se fizer bem o seu trabalho, não tem nenhuma importância que seja de esquerda ou de direita. Desde que faça bem o seu trabalho" (...).
Por outro lado, tomei também boa nota do que ele disse sobre nós, de maneira algo condescendente e paternalista: "um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)..
É um elogio ? É uma crítica ? É uma lisonja ? É uma simples constatação de um facto ?...
A pensar nisso, lancei numa sondagem de opinião, glozando o tema: Somos um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude (perdida) ? É verdade ? É isso ou só isso ? Ou também isso e muito mais do que isso ?
O homem, que é historiador, e é gaulês, e é um reputado especialista sobre a colonização portuguesa, e sabe português, e visita-nos com alguma regularidade, lá terá as suas razões para nos catalogar como "veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)... Razões que não explicitou, nem tem que o fazer...
Bom, gostava que os amigos e camaradas da Guiné que nos leem e/ou se reconhecem neste blogue, ou conhecem minimamente este blogue, se pronunciassem, dando a sua opinião... Vamos ter seis dias para responder à sondagem (coluna do lado esquerdo, ao alto)...
Por outro lado, estamos a entrar no verão, o que significa sempre - ou pelo menos de acordo com a experiência dos anos anteriores - uma quebra nas estatísticas sobre a visita e a leitura do nosso blogue...
Registe-se, todavia, o facto de termos atingido, há dias, em 25 de junho passado os 3,8 milhões de visitas... E temos a expectativa de chegar aos 4 milhões, lá para finais de agosto, sem perder de vista a meta dos 600 membros da Tabanca Grande, a atingir no final do ano em curso...
Nota-se, também, alguma quebra na produção e entrega de novos textos, fotos, etc... Sabemos que o blogue é um animal voraz: tem de ser alimentado todos os dias...
As opiniões dos nossos leitores são importantes, mais: são essenciais para nós. Amigo e camarada da Guiné, além de votares ("on line"), dando a tua opinião sincera sobre a pergunta, manda-nos também um pequeno texto, para publicação... Começamos já a publicar os primeiros textos que nos chegaram na tarde de ontem.
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1. José Martins:
Luis: Tenho, li, e anotei, além de ter sido fonte de conhecimento, os dois livros sobre a Guiné, do René Pelissier. A data em que os adquiri é para mim incontornável. Nesse dia almoçaste [, na tua Escola,]com o Zé Neto e com o Pepito, a quem fui cumprimentar e conhecer: dia 13 de Julho de 2006, vai fazer 6 anos.
Porém,não estou de acordo com a citação do René. Não sou nostálgico da minha juventude. Posso recordá-la, mas não voltava atrás, só se tivesse a certeza de que poderia "emendar" algumas situações.
Sendo impossivel, tudo bem. Siga em frente a... infantaria. Agora tenho a consciência, se é que tenho consciência, do que é preciso transmitir às gerações "emergentes", os nosso netos; porque os nossos filhos já têm outras preocupações, e que preocupações!
Espero que o que vou fazendo, possa ser aproveitavel, ainda que em pequena percentagem, porque nada é zero. (...)
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2. Alcides Silva:
Amigo Luís Graça, ao ler a mensagem onde referiu, o René Pélissier, o nosso blogue como sendo o da nossa juventude perdida, senti um nó na garganta, nós que regressamos do Ultramar, demos tudo que podíamos em sacrifício da Pátria e outros houveram que deram mesmo tudo até a sua própria vida porque não regressaram vivos e outros lá ficaram.(...)
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3. Beja Santos:
Luís, Correspondi ao teu solicitado e respondi “discordo”. Dou-te as minhas razões. O historiador René Pélissier poderá ter fundamento quanto à nostalgia que nos irmana. A nostalgia é isso mesmo, uma lembrança, nalguns casos indelével, tratou-se de uma guerra que nos envolveu por inteiro, viemos mudados pela experiência, pela vivência, a personalidade vincou-se, e mais não digo.
Mas há muito mais que a nostalgia que também nos irmana, uma intensa vontade de comunicar com as nossas aptidões e valências: há quem fale em patronos dos exércitos, envie poesia, fotografia, se sirva justamente do blogue como uma sala de conversa ou desconversa. Os blogues não são clubes, nem associações, entra-se e sai-se graças aos livres trânsito, deposita-se uma opinião; um blogue pode fazer amigos, mas não é obrigatório; o que o blogue tem (e o nosso dá e sobra) é a caraterística de nos servir como gabinete de leitura onde tomamos posição onde queremos, é essa transitoriedade que traz a grandeza de nele depositarmos opiniões, saberes; os documentos de incontestável importância que aqui se vão juntando superam o tal conceito de veteranos nostálgicos. (...).
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4. António Figueiredo Pinto [, foto da esquerda, ao meio]
(...) Contra mim falo. Não tenho escrito nada de novo, embora sempre que possa, dê uma espreitadela ao que os AMIGOS vão dizendo. Fotos poucas mais tenho e não têm interesse para a Tabanca. A saúde também vai faltando e os neurónios vão-se "queimando " a um ritmo que vai tirando ânimo. Depois continuo a reparar que ninguém do meu tempo aparece.
Também já há muito tempo pedi para alterarem a minha morada e nº de telefone e ninguém ligou. Compreendo que o vosso trabalho é ciclópico, trabalhoso o que eu louvo sinceramente
Não sei se vale a pena mas já agora volto a dizer os meus dados:
António Figueiredo Pinto
Vila do Conde
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5. Paulo Raposo:
Olá, rapaz, e parabéns.
Para mim o historiador que vá dar uma volta ao bilhar grande.
Desde 1960 que fomos atacados por cobiça do nosso império e cedemos sempre ao inimigo.
Esse historiador não conhece o povo português. Somos demasiadamente bons e humildes. Não há no mundo outro povo como o nosso. O francês é altivo até dizer chega, o alemão acha-se superior e o russo soberbo.
Como estamos unidos pela mesma causa somos como irmãos e não perdemos a nossa juventude, ganhamos sim o nosso orgulho. (...).
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6. Domingos Gonçalves:
"É um blogue de veteranos nostálgicos da sua juventude" (sic)...
A afirmação é, no mínimo, polémica. Por outras palavras: é um ponto de vista, respeitável, e nada mais.
Pessoalmente entendo que o blogue contém imensa informação, sobre a guerra da Guiné, e não só, e expressa a opinião de muitos dos actores da mesma guerra, e de muitas outras pessoas que, mesmo não chegando a participar no conflito, manifestam interesse em saber o que de facto se passou. Penso que, em grande parte, colaboram no blogue pessoas que, sem mágoas, sem traumas, sem ódios, mas por amor à verdade, vão disponibilizando, por recurso à memória, ou a documentos de diversa natureza, a sua versão dos factos.
A verdade, que vai sendo transmitida, pode até ser desagradável para alguns. Mas não pode confundir-se com nostalgia. Os factos que aconteceram, regra geral testemunhados e vividos por muitos actores, foram muitos deles dolorosos,mas dor e nostalgia também não é a mesma coisa.
Continuem! Sem receio da tal nostalgia, mas motivados pelo amor à verdade, mesmo quando ela ponha em causa alguns supostos heróis. (...)
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7. Henrique Cerqueira:
(...) Resolvi aceitar o teu desafio. No entanto tenho algumas duvidas se o meu texto é ou não publicável. É que eu não sei escrever o “publicável”, só sei escrever o que me vai na alma e em especial quando me sinto motivado por qualquer situação. E esta foi uma das situações, no entanto reafirmo que normalmente e desde que entrei para esta maravilhosa família do blogue;quando escrevo algo é sempre ao correr da pena ,e muito raramente corrijo a escrita, pois que a minha insegurança quanto ao interesse do que escrevo me faria de imediato apagar tudo que escrevi. Já o tenho feito em especial em alturas de comentar certos artigos publicados, pois que tenho sempre receio de ofender camaradas. (...)
Guiné? Tropa? Guerra ?Juventude Perdida... medo... muito medo. Sim, sim é verdade . Da minha parte e muito serenamente eu confesso que esses sentimentos me acompanharam constantemente durante os três anos em que fui militar do exército Português.
Não posso esquecer que todos os dias eu era lembrado que teria de ir para a tropa,mas que seria forçosamente para o Ultramar. O Homem para ser Homem tinha que ir á Guerra. Diziam os meus pais:
- Estuda, filho, para não seres um simples soldado...
Diziam os amigos:
- Estás lixado pá vais mas é morrer,ou então virás sem pernas, como o Floriano (era um nosso amigo um pouco mais velho).
Enfim era uma parafernália de lembretes que das duas uma, ou fugias para França como alguns dos meus amigos ou te resignavas que o teu destino era mesmo o ir para a tropa e posteriormente para a Guerra.
É então que eu com os meus dezanove anos tenho que tomar decisões e como sou filho único e muito amante dos meus pais não consigo acompanhar os amigos na fuga para França. Aliás quando esses amigos fugiram foi um escândalo no meio em que vivíamos, pois que os "pobres" foram considerados como fugitivos ao dever patriótico. Nós tínhamos um grupo que para a época era um pouco "revolucionário" pois que aqui e ali lá intervínhamos com umas ações de contestação ao regime (de certo modo estava na "moda" por causa do Vietname).
E então após essas fugas os restantes amigos tiveram, e eu incluído, umas visitas da PIDE às nossas casas e com algumas ameaças aos nossos pais de despejo da habitação (eram do Estado) e percas de emprego dos pais, funcionários públicos.
Ora com todos esses condimentos eu decidi mesmo que lá teria que ser tropa e mais tarde "combatente". Mas para ajudar resolvi me apaixonar perdidamente ao ponto de decidir casar com 20 anos e aos 21 anos ter um filho, ou seja, ele nasceu quando estava na recruta nas Caldas da Rainha.
Como aconteceu à maioria dos jovens dessa altura, lá passamos por toda aquela formação de Homens para a "Guerra". Também sabemos que essa formação era altamente deficiente, o que viríamos a sentir na pele mais tarde.
Medo...muito medo, senti sempre desde o primeiro dia de tropa, senão veja-se: (i) era medo de ser castigado e não ir de fim de semana a casa; (ii) medo de chumbar nos testes e não ser promovido (e tanto que minha mãezinha me dizia para estudar); (iii) medo de ir para a Guerra e não saber o que iria acontecer; (iv) medo de alguns " estupores" que encontrei a mandarem na minha vida; (v) medo das emboscadas e ainda (vi) medo, ao vir para casa, do emprego iria ter (ou não).
Poderia enumerar muitos Medos mas seria enfadonho ,até porque tudo passou. Passou??? E os TRÊS ANOS OBRIGATÓRIOS,longe da família ,longe de projetos, sonhos e sabem que mais... Senti-me tão Adulto quando fui fazer o espólio no Ralis e tão desamparado que só hoje ao escrever estas linhas é que me dei conta...Por isso Foi mesmo Juventude Perdida.
Nota: Estou a escrever estas letras e nem sei se a pontuação está correta, se a escrita está ou não boa para se ler, mas aceitei o desafio do Luís Graça, porque na verdade EU JÁ NÃO TENHO MEDO!
8. Ricardo Figueiredo:
(...) Em boa verdade, não me parece que se possa catalogar o “nosso” blogue de nostálgicos ou sequer "nostálgicos da nossa juventude”.
Se todos fizermos uma introspecção á nossa memória, veremos que tivemos duas reacções distintas quando acabamos o nosso serviço militar obrigatório e sobretudo connosco, que enfrentamos a guerra no teatro de operações da Guiné.
A primeira reacção foi tentar varrer da nossa memória os episódios que lá vivemos, os menos bons e até os bons , esquecer até ao ínfimo pormenor a vivência nesse teatro .
A segunda reacção adveio com a idade , com o retomar dos arquivos de memória, que na verdade nunca foram totalmente eliminados e a natural saudade que se aproxima quando estamos a chegar ao fim !
Que seriam dos nossos netos se não tivéssemos estórias e histórias para lhes contar …!?
Ora e aqui surge o Blogue do Luis Graça & Camaradas da Guiné ! É com esta iniciativa e a partir desta iniciativa que, aos poucos, mas a um ritmo alucinante , os velhos Combatentes se vão perfilando e, conduzidos pelo arquivo da sua memória, vão narrando, aqui e ali, capítulo a capítulo, a sua visão das “suas” guerras, cada um à sua maneira e ao seu estilo, às vezes personalizando os factos outras generalizando-os, mas dando um contributo único de um testemunho pessoal e intransmissível .
Estaríamos assim dispostos a dizer que o Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, mais não é que uma janela aberta à memória de todos os ex-Combatentes da Guiné, que de forma livre e intemporal lhes permite gritar aos quatro ventos tudo o que lhes vai na alma, consubstanciando nesse grito, não só os episódios da sua vivência enquanto militares e combatentes, mas sobretudo enquanto homens que, nas entrelinhas, múltiplas vezes deixam passar a solidariedade actual, a amizade, a camaradagem, o espírito de corpo e a saudade, este sentimento tão português, que os ex-combatentes sentem como ninguém.
Que me perdoe o historiador francês M. René Pélissier, mas estou perfeita e absolutamente em desacordo com a classificação nostálgica que atribui ao nosso blogue.
Há ainda um aspecto interessante que convirá trazer à colacção . Durante muitos anos foi-nos impedido de publicitarmos a nossa condição de ex-Combatentes, pelas razões que todos conhecemos. Ainda hoje somos olhados de soslaio e muitos não entendem o amor Pátrio…! Mas também por isso o nosso blogue teve uma importância enorme, ao permitir que, sem qualquer tipo de censura prévia, todos nos expressássemos livremente e comentássemos e criticássemos os posts publicados. Naturalmente que nessas exposições, nessas criíticas e nesses comentários, alguma nostalgia poderá transparecer.
Mas julgar a árvore pela floresta vai uma distância muito grande…!
Classificaria o nosso Blogue como um arquivo estórico e histórico de enorme interesse nacional, importante para os historiadores vindouros ,com uma mescla de erudito e popular, mas sobretudo como o Único Repositório da verdadeira Guerra da Guiné, contada pelos seus directos intervenientes.
Um blogue elementar e essencial, escrito e movido não pela nostalgia dos seus escribas, mas pela capacidade narrativa e de precisão que lhe pretendem atribuir , com a alegria do dever cumprido pela sua Pátria .Quiçá o último contributo vivo que lhe pretendem dar – a verdadeira narrativa da Guerra da Guiné, transcrita por palavras simples e singelas com a alegria de quem a ela sobreviveu , sem contudo esquecer os milhares de mortos , cujos nomes são permanentemente referidos com respeito e saudade nas diversas transcrições que constituem o acervo do blogue Luís Graça.
Direi, pois, para finalizar, que o nosso blogue é um compêndio indispensável aos velhos combatentes da Guiné que nele exprimem os seus sentimentos, do passado, do presente e até do futuro, mas, no essencial, libertos de qualquer nostalgia, antes de um sentimento teatral, pois todos eles foram e são os únicos actores!
Um abraço forte de continuidade pelo bom caminho que tem sido desbravado.
Bem Hajas !
Ricardo Figueiredo
Ex-Fur Mil At Art - 2ª Cart/Bart 6523
Abutres de Cabuca