quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21743: Álbum fotográfico de Eduardo Ablú , ex-fur mil, CCAV 678 (Ilha do Sal, Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) - Parte I


Foto nº 1 > Cabo Verde > Ilha do Sal > Monumento à CCE  [Companhia de Caçadores Especiais], 302. Divisa, "O suor poupa sangue". Na foto, o fur mil Eduardo Ablu. A CCE 304 esteve na ilha do Sal entre 25/4/1962 e 18/5/1964



Foto nº 2 > Cabo Verde > Ilha do Sal > CCAV 678  (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) >  Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.


Foto nº 3 > Cabo Verde >Ilha do Sal > Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro Lima, em 17.07.64.



Foto nº 4 > Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga > CCAV 678 > 
Da esquerda para a direita: Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães.

Fotos (e legendas): © Eduardo Ablu (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Eduardo Ablu , ex-fur mil, CCAV 678 (1964/66), que vive em Elvas:

Data - 05/01/2021, 19:16 



Assunto - Envio de fotos


Boa tarde, Luís

Envio estas fotos para publicar no blogue, se assim o entender.
Tenho mais. 

Foto 1-Confirma que a foto do Rui Ferreira é da Ilha Do Sal (*).

Foto 2-Desembarque do Uíge, para terra na Ilha do Sal, em 20.05.64.

Foto 3-Saida do Sal, para a Guiné no Contratorpedeiro LIMA, em 17.07.64.

Foto 4-Em Fá, Furrieis Bastos, Ablu, Ferreira (pai do Rui),  Primeiro Sargento Alberto Mendes, Furrieis Frazão, Matos, Guimarães

Tenho mais fotos de Cabo Verde e Guiné.
Um abraço.
Ablu

2. C0mentário do editor LG:

Obrigado, camarada Eduardo. O nosso amigo Rui Ferreira vai ficar feliz ao ver estas fotos. E nós enriquecemos a informação sobre a vossa CCAÇ 678, da qual só tínhamos até agora um representante na nossa Tabanca Grande, o Manuel Bastos Soares. 

Tu podes ser o segundo, se entretanto aceitares o nosso convite para te juntares aos 824 amigos e camaradas da Guiné (dos quais, infelizmente, 10% j´q faleceu nestes últimos 16 anos).

Manda-nos dpois fotos tuas, 1 atual e outra do tempo da tropa e da guerra. E fala-nos mais sobre os lugares que ambos pisamos, com uma distância de 5 anos: eu estive na CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), e boa parte da nossa atividade  operacional foi no subsector do Xime.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P21742: Parabéns a você (1920): Mário Lourenço, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 (Binar, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21737: Parabéns a você (1919): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21741: (Ex)citações (383): Jaime Frederico Mariz Alves Martins, Major Graduado Infantaria, vítima mortal por derrube de aeronave em 6 de Abril de 1973, na Região de Sambuiá (António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref)

1. Mensagem datada de 4 de Janeiro de 2021, do nosso camarada António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref, professor da Academia Militar e membro da nossa Tabanca Grande (no CTIG foi instrutor da 1.ª CComandos em Fá Mandinga, Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, entre 1970 e 1972), a propósito de um comentário de Carlos Pereira, ex-Fur Mil IOI, deixado no Poste P21391[1]:

Meu caro Vinhal

Em regra sou muito cuidadoso naquilo que escrevo e muito em especial neste melindroso assunto dos Mortos em Combate que resolvi publicar.

1 - Escrevi na ficha biográfica publicada, o constante do Relatório da Acção e despacho do SJD/QG/CTIG que anexo:



2 - Referi o abate por Strela conforme consta na FAP no documento seguinte (extracto):

Fará o favor de informar o ex-Fur Mil Carlos Pereira deste conjunto de documentação que pode ser consultada no Arquivo Histórico-Militar e na Biblioteca do EMFA/Alfragide.

Abraço e muita saúde
Morais Silva

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Notas do editor:

[1] - Vd. poste de 25 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21391: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLIV: Jaime Frederico Mariz Alves Martins, maj grad inf (Oeiras, 1936 - Guidaje, 1973)

Último poste da série de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21719: (Ex)citações (382): Tavira, CISMI, por quem nenhum de nós morreu de amores... (João Candeias da Silva / Carlos Silva / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P21740: O nosso blogue em números (68): em 2020, no "annus horribilis" da pandemia de Covid-19, tivemos uma média de 4,5 comentários por poste (num total de 5410 comentários em 1202 postes)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


1. O número de comentários, em 2020, num total de 5410 (limpos de mensagens Spam) foi foi um pouco inferior ao do ano passado (5819) (Gráfico nº 7) mas está acima da média dos últimos seis anos, que foi de 4128.

A dividir por 1202 postes publicados em 2020, temos uma média de 4,5  comentários por poste, no ano transato  (Gráfico nº 8). Cumprimos assim o nosso voto, para 2020, que era o de  manter a média anual dos útimos 15 anos, que era de 4 (, em rigor, 3,9) comentários por poste!

O nosso recorde são os  6 comentários, em média, por poste, nos anos de 2011 e 2012 em que publicámos um total de 1756 e 1604 postes, com 11 mil e 10,5 mil comentários, respetivamente... 

 A partir daí, a participação dos nossos leitores na caixa de comentários,  foi progressivamente  diminuindo: em 2018 ficou mesmo abaixo dos 4 mil comentrários. Houve uma clara recuperação em 2019 e 2020.

 Considerando os nossos  16 anos de existência (2004-2020), a média anual de comentários por poste anda pelos 3,9 ( 85749 comentários para 21727 postes publicados). 

Convém sublinhar, no entanto, nos nossos primeiros anos de vida (2004-2008), em que  publicamos 3690 postes, o número de comentários foi reduzido: 1200,o que dá 0,3 comentários por poste.

Estas "médias",como todas as médias estatístias, são "enganadoras": há muitos postes sem um único comentário, a maior parte tem um, dois, três, quatro, cinco ou seis ... Às vezes 10. Outros podem ter, excecionalmente,  algumas dezenas: 20, 30, ou até mais... Tu depende do conteúdo, do interesse, do autor, da ilustração fotográfica, etc. 

Há,naturalmente, postes mais "polémicos" ou mais "interessantes" ou até mais "apaixonantes" do que outros. Tudo depende do assunto e da sua abordagem. Os postes com pontos de vista menos "consensuais" podem originar mais comentários. Em todo o caso, ler e comentar dá trabalho... 


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


2. Estamos a falar de comentários "limpos de Spam" (mensagens não desejadas, publicitárias e outras, como as maliciosas). 

Como se sabe, esta é uma das  pragas com que tivemos de lidar no passado. O nosso servidor, o Blogger, tem, de há muito,  um sistema muito eficiente de filtragem de mensagens não desejadas, na caixa de comentários, se bem que isso  iniba ou desmotive alguns dos nossos leitores, menos familiarizados com este procedimentos de segurança que tivemos de adotar.

Recorde-se que qualquer leitor, mesmo não registado no Blogger ou sem conta no Google, pode comentar como "anónimo"... As nossas regras exigem, no entanto, que no final da mensagem deixe o seu nome e  apelido (,como é conhecido dentro ou fora da Tabanca Grande). 

Como "anónimo", o leitor terá sempre que "clicar" na caixa que diz "Nâo sou um robô"... 

O ideal é, pois, usar a conta do Google (, basta só criar uma conta, o que é gratuito): quase toda a gente, hoje em dia, tem um endereço de @gmail... 

Os comentários dão mais vida ao nosso blogue!... E sáo a prova de que estamos vivos!...Oo comentário não precisa de ser extenso: às vezes basta uma linha ou duas. (Há um limite de cerca de 4 mil carateres por comentário; mas podem desdobrar-se os comentários.)

Recorde-se que uma parte desses comentários pode dar (e tem dado) origem a postes, por iniciativa em geral dos editores mas também, nalguns casos, por sugestão dos autores. 

Por outro lado, alguns camaradas nossos continuam a queixar-se de perderem, às vezes,  extensos comentários, certamente por terem tocado numa tecla errada... Nestes casos, é preferível escrever o texto em word, à parte e no fim, fazer "copy & paste"... É mais seguro.

Hoje, em dia de Reis, reforçamos os votos da Tabanca Grande  para que, em 2021, os nossos leitores.  apareçam mais vezes, a comentar os nossos postes. E quem aparecer será sempre bem vindo, desde que dê a cara...
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

7 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20536: O nosso blogue em números (64): em 2019, tivemos 5819 comentários, uma média de 4,9 comentários por poste... Voto para 2020: manter a média anual dos útimos 15 anos, que é de 4 comentários por poste!

7 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19376: O nosso blogue em números (58): em 2018, tivemos 3900 comentários, uma média de 3,3 comentários por poste... Voto para 2019: recuperar a média de 2015, de 4 comentários por poste..

(**) Últimos postes da série:

5 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21735: O nosso blogue em números (67): no "annus horribilis" de 2020, o número de visualizações de páginas foi de cerca de 800 mil, tendo atingido um total de 12,4 milhões

4 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21732: O nosso blogue em números (66): continuamos vivos: no "annus horribilis" de 2020 publicámos 1202 postes, valor que está dentro da média anual dos últimos 

Guiné 61/74 - P21739: Historiografia da presença portuguesa em África (246): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Fevereiro de 2020:

Queridos amigos,
Não se encontra explicação para o silêncio dos historiadores. José Joaquim Lopes de Lima, vê-se à légua, não fala de cor, era um administrador colonial experimentado e oferece-nos nesta sua digressão por Cabo Verde e Guiné um documento que inventaria, na lógica que se irá consolidar décadas depois, a gama de conhecimentos sobre as gentes, os recursos, a ocupação (fundamentalmente a falta dela), quem era quem nas praças e nos presídios. É um relato algo complementar à Memória sobre a Senegâmbia Portuguesa que um filho da terra, Honório Pereira Barreto, enviará para Lisboa. E assombra como Lopes de Lima propõe soluções, rende-se aos fascínios da natureza e não lhe doem as mãos a falar de tristes realidades como será o caso daquele exército de maltrapilhos e meliantes.
Uma peça singular para a historiografia guineense, da primeira metade do século XIX. De leitura obrigatória. E também quando se lê o que ele escreve sobre Cabo Verde (territórios interrelacionados na época) também se questiona como é que é possível a historiografia cabo-verdiana poder silenciá-lo.

Um abraço do
Mário


Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX:
O capitão-de-fragata da Real Armada José Joaquim Lopes de Lima (2)


Mário Beja Santos

J
osé Joaquim Lopes de Lima foi oficial da Armada e administrador colonial com vasto currículo, governou a Índia e Timor e Solor, entre outras responsabilidades. Cavaleiro da Torre e Espada, membro do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha D. Maria II, deram-lhe uma incumbência graúda, que ele abraçou, dando à estampa seis volumes que a pretexto da estatística das possessões portuguesas revelou-se um emérito plumitivo, um viajante curioso e documentado. O primeiro volume é dedicado a Cabo Verde e às suas dependências na Guiné Portuguesa. Tanto quanto sabemos, e independentemente de na época ser publicada a memória sobre a Senegâmbia Portuguesa, de Honório Pereira Barreto, outra joia narrativa e peça historiográfica incontornável, o relato de Lopes de Lima é o primeiro grande documento sobre a Guiné do século XIX, recorde-se que a data de publicação é 1844.

Logo no proémio, bem curiosa é a carta que Lopes Lima endereça a José Falcão, com data de 15 de junho de 1844:
“É certo que há cerca de dez anos se tem talvez escrito mais sobre as colónias portuguesas do que em todo o século passado; mas todos os escritores do tempo, ricos de saber, tropeçam a cada passo em erros, dúvidas, e lacunas, por falta de dados estatísticos seguros, a que se apegam (…) Cada um destes livros, depois de uma ligeira introdução histórica, será dividido em duas partes, contendo a primeira a estatística geral da respectiva Província e a segunda a estatística topográfica de cada uma das suas divisões naturais, por capítulos. E refere que na primeira parte se dá realce à geografia, à divisão do território, à população, ao clima, solo e produções, indústrias, legislação, força pública, religião, instrução, rendimento e despesa; e depois proceder-se-á a uma notícia geral do país”.

Prova comprovada que estudou e inventariou, é o rol que ele nos dá das plantas e dos animais. Nas plantas, é minucioso, e parece um tanto inacreditável que ele tenha visto o que escreve: abóbora, agrião, alface, ananás, anil, arroz, árvore de cera, bambu, bananeira, beldroega, cabaceira ou calabaceira, café, papaia, feijão, figueira-brava, inhame, laranjeira, limoeiro, malagueta, manga, melancia, milho-miúdo, palmeira de cola, palmeira de dendém, pau de incenso, pepino, poilão, cibe, tamarindo, tomateiro. E passando para os animais, outro rol em extenso: boi, búfalo, cabra, cão, carneiro, cavalo, cavalo-marinho, chacal, elefante, fritambá (uma espécie de antílope), gazela, javali, leão, lebre, lobo, macacos, onça, porco, Sim-sim, tigre (?) e veado.

É lapidar quando chega a altura de falar da educação, nada de ilusões: “Não tratarei em separado da instrução pública nas Praças e Presídios da Guiné: que é coisa de que lá nunca houve nem o menor vestígio: os filhos da Guiné, que têm instrução, foram educados fora do seu país; e algum que de lá nunca saiu, e sabe ler, escrever e contar, obteve o ensino (à custa de presentes) de algum oficial ou inferior da guarnição da respectiva Praça. Mais adiantados estão os Mandingas, sabem quase todos ler e escrever árabe”.

Ao esmiuçar quem habita na Guiné, diz que a população possui três classes:
“1 – dos poucos negociantes brancos, pretos ou mulatos que vivem honestamente à Portuguesa ou à Inglesa ou à Francesa, enfim, quase à Europeia, acomodando-se às práticas ou exigências dos povos brutais, há por vezes belas da Guiné, activas e laboriosas, e diz-se que destas ligações têm nascido mui grossas fortunas;
2 – soldados, mal vestidos, mal nutridos, mal disciplinados, enervados pelo vício, e pelas doenças inseparáveis dele, que ali há longos anos vegetam languidamente; por vezes, se tem procurado melhorar esta miserável milícia (composta de malfeitores de Portugal e soldados incorrigíveis, vadios e ratoneiros de Santiago); mas esses melhoramentos serão sempre de pouca duração sem um sistema novo – uma reforma radical, começando por oficiais e sargentos;
3 – os chamados Grumetes, gentios baptizados, oriundos de diversas nações, que vivem apinhados em casa-palhoças à roda dos nossos fortes, servindo como marinheiros as canoas, e muitas vezes corretores no comércio interno; estão sujeitos aos governadores das praças, contra os quais amiúde se revoltam. Estes negros só mostram ser cristãos em ir à missa, quando a há, e misturam palavras santas da nossa religião com as erróneas da sua gentilidade; em tudo o mais, vivem soltamente, entregues à embriaguez e à libertinagem. Quando se casam, é mister que a noiva ao sair da igreja venha escoltada por gente bem armada, porque é de uso acometerem o préstito e roubam à viva força a desposada, a qual tem depois de ser resgatada a aguardente”
.

Lopes Lima deixa bem claro que são mais os estrangeiros a fazer negócio na Senegâmbia que os portugueses:
“Há todo o fundamento para supor que as exportações da Guiné Portuguesa estão entregues a estrangeiros; além de dois ou três navios americanos, há umas vinte e tantas escunas, e chalupas inglesas, e francesas, da Gâmbia e da Goreia, que fazem duas ou três viagens por ano, levando aos nossos portos (e às vezes directamente às povoações do gentio dentro dos nossos rios) carregações valiosas, e transportando em retorno géneros de maior valia ainda, que os poucos negociantes das nossas praças lhes aprontam de boa vontade, porque disso tiram lucros razoados (Portugal é que não os tira), e com os quais carregam grandes navios para Inglaterra e França.
Este mal vem de longe: já em 1594 se queixava André Alvares de Almada que os portugueses residentes em Guiné andavam lançados com os ingleses, e franceses, que os traziam muito mimosos: e a razão disso era então, e é hoje, o terem os portugueses de cá deixado de ir àquele resgate, como o mesmo Almada lamenta, queixando-se de que o ouro ia fugindo para outras terras por não haver nas nossas com que o comprar, pois que se passavam oito anos sem irem lá os navios: é o mesmo que hoje acontece; o mesmo que tem sempre ali acontecido desde que as carregações de escravos foram pelos nossos reputadas única exportação de Guiné”.


E a seguir, depois de elencar as forças militares existentes vai falar das fortificações.

(continua)

Carta hidrográfica do golfo da Guiné, de José Joaquim Lopes Lima, por amabilidade da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21709: Historiografia da presença portuguesa em África (245): Guiné, o seu primeiro grande relato no século XIX: O Capitão-de-Fragata da Real Armada, José Joaquim Lopes de Lima (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21738: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (79): pedido de colaboração no âmbito de doutoramento: cedência de imagens: foto de José Nunes junto ao monumento a Teixeira Pinto, em Bissau (Ana Lúcia Mendes, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa)



Guiné > Bissau > s/d  [c. 1960] > Monumento a Teixeira Pinto < Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, nº 112. (Edição Foto Serra, C.P. 239,  Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL) (*)

 
Colecção de postais ilustrados do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.Selecção dos postais,  digitalização, edição de imagem e legendagam: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)
 


Guiné > Bissau > c. 1968/70] > O nosso camarada Jo´se Nunes junto ao monumento a Teixeira Pinto <
(José Silvério Correia Nunes), ex-1º Cabo, BENG 447 (Brá, 1968/70) esteve na Guiné de 15jan68 a 15jan70).(**)

Foto (e legenda): © José Nunes (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de Ana Lúcia Mendes, doutoranda em Escultura, Faculdade de Belas Artes,  Universidade de Lisboa:  

 
Data: terça, 5/01/2021 à(s) 19:49
Assunto: pedido de colaboração - ambito de doutoramento
 

Caro Luís Graça, 

 O meu nome é Ana Lúcia e sou estudante de doutoramento em Escultura, na Faculdade de Belas Artes - Universidade de Lisboa. 

A minha investigação incide no estudo da estatuária portuguesa do século XX, tendo como caso de estudo a obra do escultor Euclides Vaz [Ílhavo,1916 - Colares, Sintra, 1991].

Encontro-me de momento a redigir um artigo sobre o monumento a Teixeira Pinto, tendo encontrado uma fotografia no seu blog do seu colega José Nunes junto da estátua. Gostaria de solicitar o uso da mesma no meu projecto.

Como sabe as estátuas foram todas removidas dos locais originais após a independência das colónias e tem sido extremamente difícil encontrar fotografias das mesmas nos seus contextos de origem. Assim, a vossa colaboração seria uma enorme ajuda.

Muito agradeço,
Ana Lúcia

2. Resposta do editor LG:

Obrigado, Ana, pelo seu contacto e o seu pedido. O nosso blogue é, modéstia àparte, uma importante fonte de informação e conhecimento sobre a presença histórica de Portugal na Guiné (hoje, Guiné-Bissau).

O seu pedido tem o melhor acolhimento, da nossa parte, tanto dos editores do blogue como do nosso camarada José Nunes, fotografado junto à estátua do Teixeira Pinto em Bissau (*). Não sabia que um ilhavense, o Euclides Vaz, era o autor da escultura. Tenho em Ílhavo alguns bons amigos. E é, de resto, uma terra que muito prezo, pela sua secular ligação à nossa epopeia marítima (incluindo a pesca do bacalhau).

Fará o favor, depois,  de nos citar, ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné e ao nosso camarada José Silvério Correia Nunes. 

Fica também ao seu dipor a imagem (digitalizada)  do Monumento a Teixeira Pinto, Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, nº 112., Edição Foto Serra, Bissau, c. 1960/70. (**)

Sobre o capitão [João] Teixeira Pinto (Moçâmedes, Angola, 1876 — Negomano, Moçambique, 1917) temos mais de um meia centena de referências.

Desejo-lhe o melhor sucesso académico e votos de boa saúde e bom trabalho. Luís Graça. (***)
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P21737: Parabéns a você (1919): Paulo Santiago, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21728: Parabéns a você (1918): António Ramalho, ex-Fur Mil da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)


Brasão da CCAV 678

1. Comentários ao poste P21726 (*)


(i) Rui Ferreira:

Caro Luís,

Antes de mais obrigado pelos desejos de bom ano, recíprocos para si e todos os camaradas desta Tabanca Grande. 

O meu poste no Facebook foi curto e difícil de escrever devido a problemas técnicos com o meu telemóvel (estas armas também encravam). 

Sou jornalista no jornal "O Jogo", como percebeu no meu perfil, e a guerra na Guiné despertou-me a curiosidade desde cedo.

Na primeira foto não disponho de qualquer legenda nem sequer as habituais dedicatórias à minha mãe e à minha irmã. É, de facto, possível que tenha sido tirada em Cabo Verde, onde sei - e tenho fotos - que o meu pai esteve com a CCAV 678. Também poderá ser de Tavira, onde o meu pai fez parte da recruta. Estremoz não será, porque eu cumpri lá o serviço militar no RC3 (depois da recruta na EPC) e nunca vi semelhante monumento.

Em relação às segunda fotografia, esta com dedicatória, a legenda é precisamente "Escolta, Catió" e data de setembro de 1964. Tenho outra foto com data semelhante, com mais camaradas e igual legenda. Desconheço o porquê de ter estado nessa zona, fora do sector leste L1.

Colocarei à vossa disposição todas as fotos de que disponho, com mais qualidade, já que estas foram reproduzidas com o meu telemóvel. Deixo-lhe também o meu contacto telefónico (917203938), pois seria um prazer falar consigo sobre os locais e as histórias que conheceram e viveram.

Um grande abraço e obrigado pelo post.
Rui Ferreira


(ii) Eduardo dos Santos Roque Ablú:
Cabo Verde > Ilha do Sal > 1964 >
Miitares da CCAV  678 junto ao memorial
da CCE 304 (1962/64)


Sr. Rui Ferreira:

O meu nome é Eduardo dos Santos Roque Ablú, sou natural de Elvas onde vivo. 

Fui colega do seu pai, na CCAV 678,e só ontem dia 3/1/21, pelo colega Manuel Bastos Soares, que através deste blogue soube da morte do seu pai, pela sua publicação. 

Está correcto,o seu pai ter ido a fazer escolta a Catió,porque enquanto nos mantivémos em Bissau no Quartel General, alguns colegas foram fazer escolta a barcos que iam fazer reabastecimento a tropas no mato. 

A fotografia a que se refere. é de facto da Ilha do Sal, em Cabo Verde, é um memorial da CCac que fomos render. 

O meu contacto: Telem  914750585. 

Guiné 61/74 - P21735: O nosso blogue em números (67): no "annus horribilis" de 2020, o número de visualizações de páginas foi de cerca de 800 mil, tendo atingido um total de 12,4 milhões


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)



1. O nosso blogue atingiu, no final do ano de 2020 (*), os c. de 12, 4 milhões de visualizações de páginas (grosso modo, de "visitas", o que não é exatamente igual a "visitantes"...), segundo as estatísticas do nosso servidor, o Blogger: 

(i) 1,8 milhões desde o início do blogue, em 23/4/2004 até maio de 2006;

e (ii) c. 10,6  milhões, desde então até 31/12/2019 (Gráfico 5).

 De 2011 a 2020, temos um média anual de cerca de um milhão de visualizações.

Importa recordar que, no início do blogue, no período de abril de 2004 a maio de 2010, tínhamos um outro contador; o saldo acumulado de visualizações de páginas não transitou automaticamente, a partir de maio de 2010. Quando o Blogger disponibilizou um contador, começou a contagem no zero....

 No "annus horribilis" de 2020, com mais pessoal em casa, devido ao confinamento, tivemos uma média dia diária de 2185 visualizações de página por dia, mais de 90 por hora, 1,5 por minuto,,,


Gráfico nº 6 - Evolução das visualizações de página nos últimos 12 meses. 
Fonte: Blogger (2021)


2. Não podemos (ou achamos que não vale a pena) desagregar este número pelos meses do ano. Mas sabemos que o movimento é variável conforme os meses, as semanas, os dias e as... horas (Gráfico nº 6):  por exemplo, houve vários picos em janeiro, março, maio, julho, outubro e dezembro.

Sabemos, pela experiência passada, que os dias com menor movimento tendiam a ser ao fim de semana (sábado e domingo) e aos feriados,,,

No ano de 2020, foi o dia de 22 de fevereiro o que registou menos visitas (em rigor, visualizações);  975; e o maior foi o 19 de março com 8007 visualizações...

E os dias com mais movimento, nos anos anteriores, eram os do início da semana (segunda e terça-feira). Também sabíamos que, em geral, depois do almoço e depois do jantar havia mais movimento, mas isso já tendia a mudar com a generalização das Redes Sem Fio e da Internet móvel.

(Continua)
 
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Notas do editor:



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21734: Notas de leitura (1332): Espaço social e movimentos políticos na Guiné-Bissau (1910-1994), por Philip Havik, na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 18-22, 1995-1999 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Desdobram-se os ensaios e estudos em torno das estruturas sociais, económicas, culturais e políticas guineenses, cada investigador escolhe os seus quadros de referência. Philip Havik considerou importante encetar o seu trabalho com a mudança social operada pela Liga Guineense que teve vida efémera (1911-1915) mas que o primeiro movimento de cariz nacionalista, estudou depois a ascensão dos movimentos nacionalistas a partir de finais de 1940, o que se passou na luta armada e no pós-independência, procurando um quadro explicativo para os sucessivos desaires com as políticas de Luís Cabral e Nino Vieira.
Como outros autores, Havik considera que a Guiné-Bissau é um Estado ‘fraco’ mas devido à particularidade notável da sua ágil sociedade civil mantém um facho de esperança aceso para melhores dias que virão.

Um abraço do
Mário


Mundasson i Kambansa:
Espaço social e movimentos políticos na Guiné Bissau (1910-1994) (2)


Beja Santos

Philip Havick
O
ensaio de Philip J. Havik publicado na Revista Internacional de Estudos Africanos nº18-22, 1995-1999 visa observar e comentar certos padrões de articulação política em termos sociais e geográficos na sociedade guineense, interpretando certos saltos qualitativos, entre 1910 e 1994.

O autor regista a composição da classe civilizada e assimilada dos núcleos urbanos. Conquistada a independência, o PAIGC fracassou nas cidades, isto quando, na luta armada recusou estrategicamente os núcleos urbanos e mudou-se para o mato onde organizou comités de tabanca e enveredou por um impulso democrático de participação popular. Amílcar Cabral sabia que a criação de um Estado dominado por um único partido pressupunha contrapesos como a consulta popular, todo esse esforço caiu por terra a seguir à independência, o PAIGC descurou o meio rural, congeminou grandes projetos económicos demonstradamente dispendiosos e ineficientes, cedo se esbarrondaram. Os movimentos em torno dos jovens, das mulheres e dos sindicatos também esfriando, a cúspide política foi-se divorciando das suas bases. Numa tentativa de retomar o poder local, retomaram-se as chefias tradicionais, houve um complexo processo de negociação entre certas linhagens, no caso dos Manjacos, tudo foi mais fácil com Mandingas, Fulas e Biafadas. Os produtores rurais começaram a resistir devido à política de controlo apertado, tanto administrativo como policial, sobre a economia. Por ironia do destino, era o reverso, ressalvadas as distâncias, da resistência dos agricultores à extorsão pelos preços, nomeadamente do coconote e da mancarra.

O PAIGC, no seu sonho de nacionalizar a economia, viu as companhias de comércio nacionalizadas falirem pela corrupção, pela inépcia e pela falta de articulação entre uma estratégia nacional e as redes de comercialização locais, voltaram os comerciantes ambulantes e as vendedeiras de mercado. Em meados da década de 1980, o Programa de Ajustamento Estrutural, que visava criar alavancas para o desenvolvimento acabou por ter efeitos contraditórios em termos sociais, ao criarem-se linhas de crédito para o desenvolvimento agrícola a clique do regime teve acesso a esses benefícios, criaram pontas para benefício próprio e, de um modo geral, não pagaram os seus empréstimos, o que se saldou no agravamento financeiro.

Nino Vieira
Assim se foi aprofundando o vazio político e emergiram aspirações de se constituir uma oposição política. Em 1986 criou-se o Partido da Resistência da Guiné-Bissau, vulgo ‘Movimento Bá-Fata’, cuja base de apoio social era constituída por meios ligados a antigos Comandos e tropas auxiliares africanas, sobretudo oriundos das zonas islamizadas, este partido defendia uma cooperação mais estreita entre a Guiné-Bissau e Portugal, irá denunciar o crescimento das pontas. Entretanto, agudizaram-se os conflitos no seio do PAIGC, tudo tinha a ver com o agravamento das condições de vida, soçobravam os regimes comunistas, o partido único era posto em causa. O regime ditatorial de Nino Vieira procura reagir em várias direções: patrocinar o regresso dos régulos, à procura de apoio político; repressão brutal na direção política e nas Forças Armadas, o tristemente célebre caso “Paulo Correia”, que deixou marcas insanáveis com a etnia Balanta; explodiu o comércio informal, as mulheres constituíram ‘mandjuandades’ (grupos etários de entreajuda), ao princípio ligadas ao PAIGC, mais tarde desfiliadas.

Assim se chegou ao II Congresso Extraordinário do PAIGC nos princípios de 1991 onde se decidiu uma abertura política com base nas ‘profundas mutações que se verificam na cena política internacional’ e ‘nas transformações operadas no tecido económico guineense’. Recomendava-se a eliminação de vários artigos da Constituição associados ao partido único e a introdução de sufrágio universal através de eleições livres e periódicas dos órgãos representativos do Estado, mais se sugeria a despartidarização das forças de defesa e segurança e a desvinculação dos sindicatos do PAIGC. Em consequência, aprovou-se a Lei Quadro dos Partidos Políticos, a Constituição passou a permitir a liberdade de associação partidária, surgiram outras leis como a Lei de Imprensa, Lei da Liberdade Sindical e a Lei da Greve; e apareceram sinais de contestação dentro das Forças Armadas, apelando-se à sua neutralidade.

Surgiram partidos em catadupa, Frente Democrática, Frente Democrática Social, Partido Unido Social Democrata, Partido da Convergência Democrática… Os seus dirigentes, regra geral, eram antigos ministros e antigos dirigentes do PAIGC, caso de Aristides Menezes, Vitor Mandinga, Rafael Barbosa e Vitor Saúde Maria; numa outra fase, apareceram o PRD, o MUDe, o PRS, a FLING, e outros mais. Constituiu-se com o PAIGC, em 1992, a Comissão Multipartidária de Transição, irá aparecer a Comissão Nacional das Eleições, completa-se a revisão constitucional em fevereiro de 1993, que confirma um regime presidencialista, e aprova-se uma nova lei eleitoral.

Philip Havik aprecia os resultados: uma maioria relativa para o PAIGC, que beneficiou do método de Hondt, que lhe assegurou uma maioria absoluta na nova Assembleia Nacional Popular, o movimento Bá-Fata e o PRS ficaram em segundo e terceiro lugares. Nas eleições presidenciais, Nino Vieira bateu Kumba Yala na segunda volta, a despeito deste último ter denunciado inúmeras irregularidades. Meses depois, Manuel Saturnino Costa era empossado como Primeiro-Ministro.

Nas conclusões, o investigador recorda que as mudanças políticas na África subsariana, com imposição de modelos democráticos nem sempre conhecedores da estrutura cultural das populações têm intervenções dos doadores e credores internacionais, da notória debilidade administrativa do Estado, da generalização de práticas de patrimonialismo, nepotismo e corrupção, faltam estruturas eficazes, recursos humanos ou até meios financeiros para cumprir as promessas com que os agentes políticos se apresentam perante os eleitores. E daí a facilidade com que medidas que tinham como objetivo reduzir a função pública tenham levado à paralisia do aparelho administrativo, causando uma deterioração das condições de vida para a maioria dos cidadãos.

No final das suas conclusões, vê-se que Philip Havik anda muito próximo de Joshua Forrest: existe um Estado ‘fraco’ na Guiné-Bissau, mas a sociedade civil permanece de pé, o partido foi-se diluindo, alienou o capital político granjeado na luta, irá continuar a manter uma confiança junto do eleitorado devido à incapacidade de todos os outros partidos de se dotarem de uma estratégia nacional mobilizadora que reinstale uma ampla confiança nacional. Philip Havik lembra igualmente que é da agricultura que a população resiste. Esse poder da sociedade civil continua a ser a alavanca da esperança democrática da Guiné-Bissau, a despeito de todos os impasses e da desqualificação da jovem classe política.

Presidente José Mário Vaz (Jomav)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21701: Notas de leitura (1331): Espaço social e movimentos políticos na Guiné-Bissau (1910-1994), por Philip Havik, na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 18-22, 1995-1999 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21733: História da 3ª Companhia de Comandos (1966/68) (João Borges, 1943-2005) - Parte VII: atividade operacional: dezembro 1966 / fevereiro de 1967: destaque para a Op Valquíria, Catió, Cufar


Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cufar, rio Cumbijã, e estrada Cufar - Príame - Catió (a azul) bem como as "barracas" do PAIGC em Cansalá e Cangalai, e o local da emboscada, Afiá, sofrida pela 3ª CCmds em 8 de janeiro de 1967.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)


1. Continuação da publicação da História da 3ª Companhia de Comandos (Lamego e Guiné, 1966/68), a primeira, de origem metropolitana, a operar no CTIG. Hão de seguir-se lhe, até 1974, mais as seguintes: 5ª, 16ª, 26ª, 27ª, 35ª, 38ª e 4041ª CCmds.


Documento mimeografado, de 42 pp., da autoria de João Borges, ex-fur mil comando, já falecido (em 2005). Exemplar oferecido ao seu amigo José Lino Oliveira, com a seguinte dedicatória: "Quanto mais falamos na guerra, mais desejamos a paz. Do amigo João Borges". Uma cópia foi entregue ao nosso blogue para publicação.

[O José Lino [Padrão de] Oliveira foi fur mil amanuense, CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 12-7-1974 / 15-10-1974, a mesma unidade a que pertenceu o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro; é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/12/2012; tem dezena e meia de referências no nosso blogue; vive em Paramos, Espinho]




História da 3ª Companhia de Comandos 
(1966/68) (*)

3ª CCmds
(Guiné, 1966/68) / João Borges
Parte VII (pp. 18-20)








(Continua)

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Nota do editor:


Guiné 61/74 - P21732: O nosso blogue em números (66): continuamos vivos: no "annus horribilis" de 2020 publicámos 1202 postes, valor que está dentro da média anual dos últimos seis anos



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)



1. Eu sei que ninguém lê isto,  mas isto é como o "relatório e contas" das empresas... Tem de ser feito, para memória futura...

Em boa verdade, à força de ouvir, ver e ler todos os dias, há 10 meses,  a estatística da pandemia de Covid-19,   os nossos leitores ficam, compreensivelmente, com alergia ou intolerância aos números...

Mas é já uma tradição, esta, a  da prestação de contas aos nossos leitores, no princípio do ano seguinte, com a publicação de estatísticas do nosso movimento bloguístico durante o ano anterior (*).

Na realidade, os números mostram que ainda estamos vivos, depois de quase 17 anos a "blogar"... Recorde-se que o nosso blogue nasceu timidamente, e por acaso,  em 23/4/2004... E nesse ano só se publicaram... quatro (!) postes. Ninguém, seguramente, previa a sua longevidade... (**)

2. O número de postes publicados, durante o ano de 2020, o "annus horribilis" de 2020, que ficará na nossa memória como o da pandemia de Covid-19, foi de 1202, ligeiramente acima do ano anterior, 2019 (n=1157) e de 2018 (n=1187) (Gráfico nº 1). 

O número de postes anuais tem estabilizado nos últimos 6 anos (2015-2020): média anual de 1268... 

O nosso record foi o ano de 2010, em que atingimos um valor máximo de 1955 postes publicados. 

A média anual dos melhores seis anos (2009-2014) foi de 1735 postes.



Gráfico nº 2  - Distribuição dos postes lançados, por editor e por mês (Os do Jorge Araújo 
estão incluídos na estatística do Luís Graça)



Infografia: Carlos Vinhal (2021)

3. Mantem-se, pois,  a média dos 3,4 postes publicados por dia, nos últimos seis anos ( 2015-2020) contra os 4,7 dos nossos melhores anos (2009-2014).

Do  postes publicados, a distribuição pelos três editores foi a seguinte (Gráficos nº 2 e 3);

Carlos Vinhal > 53,0%
Éduardo Magalhães Ribeiro > 1,6%
Luís Graça > 45,4 %

A semana em que se publicou mais postes foi, no mês de dezembro último: 32 postes, na semana de 20 a 27. E a pior foi a  semana de 1 a 8 de março: 14 postes.  O nosso melhor mês foi o de Abril, já em plena pandemia (com 130 postes publicados), seguido do mês de Dezembro (n=124). O pior foi o Fevereiro (n=84) (Gráfico nº 4)

Como gostamos de dizer (e fazemos questão de provar com números), a  particularidade do nosso blogue é que, quer faça sol, quer faça chuva, seja domingo ou feriado, há sempre alguém a trabalhar e a publicar, todos os dias, um poste... E isso verificou-se ao longo destes já mais de 10 meses de pandemia de Covid-19.

Alguns dos postes que editamos todos os dias podem ficar "agendados" de um dia para o outro (, é o caso, por exemplo,  dos postes da série "Parabéns a vocês", que estão ao cuidado do Carlos Vinhal)... Como se costuma dizer, é comida pronta a usar, que fica no frigorífico de um dia para o outro...Há uma boa articulação entre os  editores, em especial o Carlos Vinhal e o Luís Graça, que se apoiam mutuamente... Estão de resto, os dois sempre á distância de um clique... tal como o Jorge Araújo e o Eduardo Magalhães Ribeiro (que também se reformou o ano passado).



Gráfico nº 4  - Distribuição dos postes lançados, em 2020,  por mês

Infografia: Carlos Vinhal (2021)



4. Embora haja, desde março de 2018, um novo coeditor, o Jorge Araújo, tem sido o editor Luís Graça a ultimar a edição dos seus postes (por razões logísticas e técnicas), pelo que não nos é possível discriminar a sua valiosa produção.

O Jorge Araújo tem passado, desde 2019, algumas temporadas na Tabanca dos Emiratos...onde a sua esposa é professora numa prestigiada universidade árabe.  Por outro lado, ele próprio mantem-se no activo, como professor do ensino superior politécnico, deslocando-se com frequência entre Almada e Portimão. É possível que este ano lectivo, o de 2020/21, seja também o ano da sua aposentação. 

Por estas e outras razões, ele ainda não teve disponibilidade de frequentar o "workshop de edição" que lhe vai permitir a plena autonomia como coeditor do nosso blogue.  Foi, em todo o caso, uma excelente e feliz "aquisição" (, usando a linguagem futebolística...) para a nossa equipa. desfalcada desde que o Virgínio Briote se jubilou, por razões de saúde.

Em 2020 há mais de meia centena de referências com o marcador "Jorge Araújo". Boa parte tem a ver com os postes da sua autoria, relacionados com séries como "(D)o outro lado do combate"  ou "Memórias cruzadas" ou ainda "Ensaios"... Esses postes são enviados diretamente por ele para o blogue, em formato de rascunho. A inserção de fotos e os "acabamentos" ficam por conta do editor Luís Graça. E como tal são contabalizados. Esperemos poder resolver esse problema, com tempo e vagar, dando assim o seu a seu dono. 

Como fazemos todos os anos,  fica aqui, desde já, registado, em letra de forma, um voto de louvor aos nossos dois coeditores, os dois  do Norte, o Carlos Vinhal e o Eduardo Magalhães Ribeiro, e o outro do sul, o Jorge Araújo: na qualidade de fundador do blogue, não me canso de louvar a sua lealdsde, dedicação, generosidade e competência. 

São valores que não têm preço, a par do forte espírito que nos anima há muito. Mas tenho que destacar aqui o nome do Carlos Vinhal que, na realidade, tem sido o pilar do blogue, desde há muito; se ele cair, o blogue cai...Por isso rezo todos os dias, aos nosos bons irãs, acocorados no alto do poilão da Tabanca Grande para nos deem vida e saúde para continuar a poder dar voz aos "amigos e camaradas da Guiné". 
 
Outros agradecimentos (a autores, colaboradores permanentes, leitores, comentadores, amigos do Facebook...) ficam para mais à frente.

(Continua)
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(**) Último poste da série >  10 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20543: O nosso blogue em números (65): Quem nos visita vem sobretudo de Portugal (41%) mas também dos EUA (24%) e do Brasil (6%), usa o Chrome (38%) como navegador, e o Windows (77%) como sistema operativo...

domingo, 3 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21731: Fotos à procura de... uma legenda (136): Pistas de leitura para um casamento Balanta-Mané, em 1973, em Bigene, região do Cacheu (Texto: Cherno Baldé; fotos: António Marreiros)


Foto nº 1 >Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 3 (1973/74) > "Um casamento em Bigene"... 

Fotos (e legenda): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


António Marreiros

1. Respondendo pronta e generosamente  ao desafio do nosso editor LG ("Fotos a precisarem da ajuda de etnólogo ou, talvez ainda melhor, do 'conselho sábio' do nosso assessor para os assuntos etnolinguísticos, o Cherno Baldé que 'firma' em Bissau"), o nosso amigo e colaborador permanente, sacrificando o seu descanso, acaba, às 13h00 de hoje, de fazer o seguinte comentário ao poste P21729 (*) . 


O nosso editor agradece ao Cherno Baldé: mais do que um longo comentário, trata-se  de uma verdadeira lição de etnografia guineense, à volta do tema (fascinante) do casamento. Voltamos a reproduzir, embora em formato mais reduzido, as belíssimas imagens captadas pelo nosso camarada António Marreiros, um algarvio que vive há muito no Canadá e que, noutra encarnação, foi alf mil, CCAÇ 3544, Buruntuma, 1972, e CCAÇ 3, Bigene, 1973/74.(*)


Legendas para as fotos de um casamento balanta-mané, em Bigene, em janeiro de 1973





A Guiné-Bissau é um pequeno país, um enclave territorial que, paradoxalmente, alberga um número de etnias mais diversificado que qualquer dos seus vizinhos mais próximos e maiores em extensão territorial.  

Foto nº 2 
E o Sector de Bigene (oficialmente a sede do Sector, mas que, devido às dificuldades de acesso, está a perder este estatuto, pouco a pouco, a favor de Ingoré, cidade situada na via principal de acesso a S. Domingos e que dá acesso também à cidade senegalesa de Ziguinchor), é habitado maioritariamente pelo grupo Balanta-Mané que, sob o domínio do império mandinga de Gabu (Séc. XII-XIX), foram submetidos a uma dupla conversão à cultura mandinga e à religião islâmica, mesmo que superficialmente.

Culturalmente e por força de um longo dominio, militar, político e comercial na região no periodo pré-colonial, toda a região e, particularmente, o corredor desde Ingoré, Bigene, Binta, Guidage até Farim e arredores faz-se sentir fortemente a influência mandinga em todos os domínios da vida social e cultural dos diferentes grupos que aqui conviveram ao longo dos tempos.

Falando concretamente das bonitas imagens captadas pela objectiva do ex-Alf MilAntónio
Marreiros em Bigene em meados de 1973, provavelmente no mês de Janeiro a julgar pelas flores dos mangueiros, como o próprio faz notar, tenho a tecer as seguintes considerações (**):


I. Pelos detalhes e o ritual presentes na imagem, não se trata de um casamento Manjaco, longe disso, nem Mandinga ou Felupe, pelo que acredito que se trata de um casamento da etnia Balanta-Mané (a confirmar).

Foto nº 3
Estamos na presença de uma cerimónia que, visivelmente, apresenta elementos rituais animistas (o lenço vermelho na cabeça e o pano preto a cobrir o corpo da noiva) e muçulmanos (a noiva depois do ritual do arroz/milho e a cambança do pilão em casa dos pais num ambiente de festa (foto 1 e 2) é carrregada à cabeça de um jovem possante e só pisará o solo em casa do noivo, ou seja, realiza-se a simbologia da transferência definitiva da morada da mulher que, para todos os efeitos, deixa a casa dos pais e passa a fazer parte da familia do marido (fotos 3, 4 e 5) e não é suposto fazer o percurso inverso salvo por necessidade inadiável e/ou razões de força maior (divórcio).


II. A noiva ostenta ainda nos dois lados do rosto e preso aos cabelos, nozes de cola de cor vermelha (foto 1) 

.... que tem um significado especial para os muçulmanos e que simboliza o carácter sagrado e inviolável do casamento que tem o consentimento de Deus, a benção dos pais e dos mais velhos da comunidade (o correspondente ao ritual cristão que diz:  "O que Deus uniu que o homem não separe").
 
Foto nº 4

III. A chegada a casa do futuro marido a noiva, por algumas horas, fazem-na sentar-se numa esteira à  porta da casa do marido (foto 5)..
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... e aqui repete-se a festa da chuva do arroz sobre a noiva que simboliza abundância e prosperidade e realiza-se o ritual da recepção por parte da família do marido que dá a entrada/aceitação e promete protecção e apoio à noiva na sua vida futura de mulher dedicada à vida do marido e da familia que doravante fará parte até ao fim da sua vida.

Ao mesmo tempo é dada a todos os membros da familia do futuro marido a oportunidade de se pronunciar, de apresentar ou não suas objecções quanto à futura esposa e que doravante fará parte da familia. 

É ocorrespondente Cristão do "Digam agora ou calem-se para sempre". Todavia, é muito raro que hajam pronunciamentos contrários, pois os investimentos já feitos desaconselham tais atitudes num meio de per si já pobre e bastante precário. E mesmo que houvesse dúvidas sobre o comportamento da noiva prevalecerá a confiança na sua mudança radical a partir desse momento fulcral na vida de uma mulher casada.


Foto nº 5
No fundo, o mundo é transversal e a cultura é universal e, muitas vezes, lá onde queremos ver grandes diferenças, são simplesmente variações de um mesmo fenómeno que é diversificado e vestido de outras roupagens e matizes culturais. 

Antes da chegada dos europeus à Africa, o Império do Mali e sua expansão ja tinham feito chegar outras culturas, técnicas e influências sociais globalizantes.

Actualmente os casamentos continuam a ser feitos com os mesmos rituais e simbologias, mesmo se há algumas inovaçõs e mudanças em função da evolução e da dinâmica multicultural que a globalização está a acelerar a bom ritmo, onde a inclusão da música global em detrimento da tradicional é um dos marcos mais visíveis.


Cherno Baldé, Bissau, 3 jan 2021, 13h
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(**)  Último poste da série > 17 de outubro de  2020 > Guiné 61/74 - P21459: Fotos à procura de... uma legenda (128): Levantamento de minas A/P no carreiro de Uane, em julho de 1974 (António Murta, ex-alf mil inf, MA, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)... E um grande texto de antologia, um grande documento humano de um grande português, dilacerado entre dois imperativos antagónicos, a sua consciência humana e as suas obrigações militares.