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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27029: E as nossas palmas vão para... (27): Rosa Serra, ex-tenente graduada enfermeira paraquedista (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73), homenageada na sua terra natal, Famalicão, no passado dia 9 de julho de 2025

 







Vila Nova de Famalicão > 9 de Julho de 2025 > "40 anos de Cidade" > Sessão solene evocativa do 40º aniversário do Dia da Cidade > Atribuição da medalha de mérito municipal a uma série de munícipes e instiutuições famalicenses, incluinso a nossa grã-tabanqueira Rosa Serra. 

Fotos da págima do facebook do Município de Famalicão, com a devida vénia. (Seleção e edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 


1. Reprodução do discurso de agradecimento da Rosa Serra, ex-tenente ghraduada enfermeira paraquedista (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73):


Famalicão 9 de julho de 2025

 Boa a tarde a todos os presentes nesta cerimónia.

Permitam-me, primeiro, que comece por me dirigir ao Senhor presidente da Câmara, Professor Doutor Mário de Sousa Passos, para, na sua pessoa, agradecer ao município de Famalicão o facto de me incluir no grupo de munícipes, homenageados, hoje.

A todos vós o meu muito obrigado por reconhecerem que a minha participação, como enfermeira paraquedista na Guiné, Angola e Moçambique, durante a Guerra Colonial, entre 1969 e 1973, merece, 52 anos depois, a estima das gentes da minha terra.

Minhas senhoras e meus senhores, gostaria de enquadrar este meu muito breve percurso de vida no qual “prestei cuidados de saúde em zonas de combate", dirigindo-me às gerações, aqui presentes, nascidas após a Revolução de 25 de abril que instaurou a democracia em Portugal e colocou fim à Guerra Colonial.

Nasci na Vila de Ribeirão. Os meus pais criaram seis filhos e, apesar das dificuldades, tiveram a coragem de me pôr a estudar num tempo em que o destino das raparigas, após terminarem a escola primária, era o campo ou a fábrica, casarem e ter filhos. Eu tive a sorte de frequentar, primeiro, o Externato Camilo Castelo e, depois, prosseguir os estudos no Porto, com a ajuda de familiares de meus pais e frequentar o Curso de Enfermagem que terminei no Hospital de Santo António no Porto.

A minha entrada nas Tropas Paraquedista dá-se no final do Curso de Enfermagem, numa altura em que a Força Aérea estava a recrutar voluntárias para frequentarem o Curso de Enfermeiras Paraquedistas. Nunca me passou pela cabeça oferecer-me, mas a minha amiga e colega enfermeira Rosa Mota desafiou-me e, apesar de lhe dizer que não estava interessada, tanto mais que não me estava a ver a saltar da porta de um avião em pleno voo e ficar suspensa no ar num paraquedas.

No entanto, sem me dizer nada e à minha revelia, a minha amiga Rosa Mota inscreveu-me para prestar provas em Tancos, no Regimento de Caçadores Paraquedistas. Lá fomos as duas, fizemos as provas, em tudo igual às dos homens, e ficámos apuradas.

A partir dessa data, fiquei a pertencer, para sempre, ao grupo daquelas 46 jovens enfermeiras Paraquedistas, formadas entre 1961 e 1974.

Durante este nosso percurso ao serviço das Forças Armadas Portuguesas e das populações civis, lembro a morte trágica da enfermeira furriel graduada Maria Celeste Costa, na Guiné, ao ser atingida pela hélice de um avião DO 27 quando se preparava para embarcar para uma evacuação na zona de combate e a sargento graduada Maria Cristina Silva, ferida por tiro inimigo na região de Mueda, em missão de evacuação de feridos em combate.

Este, foi o grupo das primeiras mulheres em Portugal a entrar em quartéis, com postos militares e grau de dificuldade na instrução do Curso de Paraquedismo iguais à dos homens.

Quando terminei o Curso de Paraquedismo fui mobilizada para a Guiné em 1969. Seguiu-se Angola em 1970 e cumpri a última comissão e serviço no Norte de Moçambique, em Mueda, entre 1972 e 73.

Esta foi, seguramente, a zona operacional mais difícil onde tive de exercer a minha atividade como enfermeira. As duas enfermeiras, aí destacadas, para além do apoio às Forças Armadas portuguesas, socorriam, também, a população civil africana que apareciam na enfermaria improvisada, dentro do arame farpado do nosso quartel, para serem tratadas, incluindo, sabíamos nós, alguns elementos da FRELIMO doentes e, que, obviamente, sem serem identificados, eram tratados com a mesma dignidade de outro ser humano. Nós sabíamos que eram, mas nunca os denunciámos à PIDE.

Para terminar, amigas e amigos aqui presentes, e sobre a crueza daquela Guerra, permitam-me que vos leia o que escrevi em 2016 quando fui convidada pela Câmara Municipal de Fafe a dar o meu testemunho no âmbito do evento solidário “Terra Justa”, durante o qual se homenageou o corpo das Enfermeiras Paraquedistas pelo seu contributo humano e solidário prestado durante a Guerra Colonial.

Disse, então:

“Em Mueda existia uma placa que dizia: “Bem vindos a Mueda, Terra da Guerra. Aqui trabalha-se, Luta-se e Morre-se.”

E era bem verdade, morriam muitos! Eu, muitas vezes, olhava para as Companhias do Exército formadas antes das viaturas reiniciarem a progressão pela picada rumo ao objetivo da operação de combate, olhava para as caras daqueles jovens, alguns, ainda, com cara de meninos, e dava comigo a pensar: Daqui a pouco alguém me chamará para embarcar no Helicóptero para socorrer alguns destes jovens em consequência das emboscadas ou rebentamentos de minas.

Era quase sempre assim. Algumas vezes acontecia que, uma vez chegado ao local do combate ou do rebentamento de minas, já nada havia a fazer. Alturas houve em que me entregaram o corpo desfeito em pedaços embrulhado na capa impermeável!

Tudo irreconhecível. Horrível! Só quem viu!...

Finalizo: eu e as minhas camaradas enfermeiras sempre nos assumimos como gente que viveu a dor dos outros, gente igual a tanta gente. Gente que tratou gente,

Muito obrigado

Rosa Serra

__________________

Guiné 61/74 - P27028: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (5): Consagração de um grande homem e combatente, o João Gualberto Amaral Leite (1944-2011)




Da esquerda para a direita, Fernando Almeida, Narciso Durão, João Leite e Anselmo Adrião, ex-furrieis da CCaç. 2314. Foto: cortesia de Blogue BART 1914 > 9 de fevereiro de 2011 (Legendagem: Joaquim Caldeira)


Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCACÇ 2314, "Brutos", TIte e Fulacunda, 19689/609; nosso grão-tabanqueiro nº 905; 
vive em Coimbra; autor do livro, "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


Fotos (e legendas: © Joaquim Caldeira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



Consagração de um grande homem e combatente: o João Gualberto Amaral Leite
 
por Joaquim Caldeira (*)


Estávamos nos finais de 1967 e, à entrada  do quartel de Tomar, cruzei-me com o João que trazia um braço ao peito e vinha abatido. Mal nos conhecíamos e não nos víamos desde os tempos da recruta, muitos meses antes. Nem sabia o seu nome tal como ele não saberia o meu. Satisfez a minha curiosidade dizendo que se chamava João Leite e que tinha tido um acidente…

Despedimo-nos nesse dia e só voltámos a rever-nos no seguinte, na caserna que nos foi destinada. Ficámos a saber que o nosso destino era comum. Íamos formar companhia para depois seguirmos para o ultramar, mas nem sabíamos ainda para onde.

Não sabíamos que os dois anos seguintes iriam ser muito cheios de emoções fortes, perigos, mas também de solidariedade só possível de construir nos momentos mais difíceis e de grande perigo.

E vim a conhecer melhor o Leite e toda a equipa com quem fizemos grandes amizades.

Passarei a designá-lo por Leite, pois era o nome que usávamos por lá e mais tarde, já no fim da guerra, quando nos encontrávamos por ocasião dos convívios.

Afinal, era um homem diferente do que conheci à entrada do quartel, em Tomar. Era folgazão, brincalhão, sempre de boa disposição e muito bem humorado.

Cedo demos conta de que se tratava de homem determinado, sabia o que queria, como queria e quando queria.

Quis o destino que tivéssemos de viver o desastre de Bissássema onde ele, mesmo na linha da frente por onde o IN pretendia repetir o assalto, tal como fizera uns dias antes e se apoderara de armamento, equipamento e prisioneiros, soube infligir a maior derrota sofrida pelo IN durante toda a guerra que travou com o Exército português. Esta batalha nem consta da história de guerra do PAIGC.

Outros desastres aconteceram nas nossas vidas e, em todos, o Leite teve participação com vantagens para o nosso lado.

Desgostoso com o conformismo que reinava na companhia, decidiu formar o seu próprio grupo indo buscar os melhores de entre os melhores. E assim nasceu o grupo “Os Brutos ”. E fizeram história deixando um rasto de medo nos grupos do IN.

Estavam sempre na linha da frente. Tive o privilégio de os comandar nas ausências do Leite. Eram o escol da companhia. E ajudaram o seu comandante, o Leite, na conquista de uma condecoração justa e merecida, só atribuída aos bons. Uma “Cruz de Guerra” (**).

Mas nem sempre foi fácil a vida do grupo. Tiveram as suas horas más. Entre outras, talvez a pior, o acidente do Viriato Lopes.

E assim se passaram dois anos de uma convivência fraterna, só possível em teatros de guerra. Fizemos amizades para a vida. Ficaram as saudades dos amigos e de algumas, muitas vivências.

Só voltei a ver o Leite passados alguns anos, por ocasião dos convívios a que ele não queria faltar, mesmo vindo de tão longe.

Por fim, soube da sua doença. Fui dar-lhe o meu abraço numa das suas vindas a Lisboa para tratamentos. A doença venceu o homem. Mas não venceu o marido, o pai, o profissional bem realizado, o amigo e o camarada de quem todos sentimos saudades.

O Leite ainda vive em nós. Até sempre, companheiro.


(Revisão / fixação de texto: LG)


PS - O João Gualberto Amaral Leite nasceu em São Miguel, Açores, em 13/07/1944, e faleceu em 16/02/2011. Era bancário.

______________

Notas do editor:


(*) Último poste da série > 10 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27001: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (4): A carta de condução, tirada na Escola de Condução Angélica da Conceição Racha


(**) Furriel Miliciano de Infantaria JOÃO GUALBERTO AMARAL LEITE, CCaç 2314/BCaç 2834 - RI 15, GUINÉ - Cruz de Guerra, 4." CLASSE



Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


Transcrição da Portaria publicada na OE nº 15 - 3ª série, de 1970.

Por Portaria de 15 de Abril de 1970:

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Cruz de Guerra de 4ª classe, ao abrigo dos artigos 9.° e 10.° do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, por serviços prestados em acções de combate na Província da Guiné Portuguesa, o
Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores 2314/Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria nº 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração.
(Por Portaria da mesma data, publicada naquela OE):

Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar o Furriel Miliciano de Infantaria, João Gualberto Amaral Leite, da Companhia de Caçadores nº 2314, do Batalhão de Caçadores nº 2834 - Regimento de Infantaria n.º 15, pelo modo brilhante e abnegado como se desempenhou de todas as missões de que foi incumbido durante a sua comissão de serviço na Província da Guiné.

Criando um Grupo de Combate tipo Comandos, "Os Brutos", soube logo de início imprimir-lhe notável eficiência para o combate, incutindo nos seus homens o espírito aguerrido e audaz de que ele próprio é' possuidor.

Realizando dezenas de emboscadas, participou em numerosas acções, onde a actuação do seu Grupo de Combate foi bastante influente nos resultados obtidos.

Num ataque sofrido por um dos nossos aquartelamentos, em 24 de Dezembro de 1968, apesar do intenso fogo, deslocou-se para um dos abrigos periféricos mais próximos das posições inimigas, onde dirigiu eficientemente o fogo do pessoal que o guarnecia, tendo ele próprio efectuado o lançamento de dilagramas, de posições a descoberto.

Já antes, em 09 de Fevereiro de 1968, numa acção semelhante, manteve a sua posição num abrigo que guarnecia, apesar de na altura dispor de poucas munições, contribuindo para o aniquilamento de quinze elementos inimigos e para a captura de diverso armamento e outro material.

Numa operação em 26/29 de Maio de 1969, soube conduzir o pessoal do seu Grupo de forma assinalável, no assalto a um acampamento inimigo, debaixo de intenso fogo e na perseguição imediata ao inimigo, até este dispersar.

Militar dotado de elevadas virtudes militares e invulgar capacidade para o comando do seu Grupo, tendo resultado dos seus serviços honra e lustre para a Pátria e para o Exército a que pertence, merece o Furriel Leite que aqueles sejam considerados extraordinários e importantes.

 
 Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 202/203.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

1. O meu concidadão, conterrâneo, vizinho, colega, companheiro, camarada, grão -tabanqueiro, amigo e  'mano',  Jaime Bonifácio Marques da Silva, faz hoje 79 anos.  E vou comer umas sardinhas grelhadas com ele, e outros amigos tabanqueiros como o Pinto Carvalho (somos todos membros da Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo). Faz cá falta o João Crisóstomo, o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona...  Que preza a nossa amizade e adora as nossas sardinhas.

Respiguei uns tantos tópicos da  vida do Jaime,  já longa, mas também sofrida... Vou-lhe oferecer como prenda de anos, a "Arte de Amar", de Ovídio (edição bilingue, português e latim com tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André; Lisboa, Quetzal Editores, 2023, 221 pp.). 



Cortesia de Quetzal
Em  honra do Jaime (e também do grande poeta romano Ovídio, séc. I a.C.), e mostrando-o como exemplo da arte e engenho  não só de amar e ser amado como de promover o envelhecimento saudável e ativo, pedi a vários assistentes de IA que me fizessem  uns versinhos de parabéns, a ele Jaime, à moda do romano Públio Ovídio Nasão, em dístico elegíaco. Em português e depois em latim.  (Uma brincadeira, já que não tive tempo para mais.)

As versões, em português e em latim, foram revistas e fixadas por mim, em curto espaço de tempo , e  tanto quanto me permite o meu já muito esquecido e agora limitado domínio do latim clássico. (Já lá vai o tempo em que eu lia com fluência, e o Jaime também, os clássicos romanos, do Cícero ao Virgílio!).

Jaime Bonifácio Marques da Silva

(i) Nasceu no Seixal, Lourinhã, Portugal, na margem direita do Rio Grande que no tempo do poeta Ovídio, século I a.C., foi navegado pelas naus romanas... E em 711 era conquistada pelos mouros, novos senhores da Península Ibérica... Quatro séculos depois, em 1147, o primeiro rei português, Afonso Henriques, na sua marcha para Lisboa, conquista aquelas terras, donde se avista o "Mare Nostrum" de quinhentos, o Atlântico. A Lourinhã foi entregue aos cavaleiros francos, feros cruzados, cristãos. 

(ii)  Nasceu numa família de gente honesta e trabalhadora, tem ainda 3 irmãs vivas, que o adoram, sendo ele o mais velho. O pai trabalhou as terras dos senhores, a fértil várzea do Seixal e Areia Branca, até conseguir, por fim, montar o seu próprio negócio, como comerciante de frutas e legumes no mercado  da vila da Lourinhã. 

(iii)  Teve uma infância dura, uns vizinhos, ricos e com terras mas sem filhos, quiseram em vão adotá-lo. Era um menino pobre, lindo, de olho azul... Triunfou o amor dos pais e dos irmãos. 

(iv) Feita a escola primária, e sendo um miúdo inteligente, cursou o seminário, na esperança de vir a ser padre. Deus chamou-o mas o não ungiu, como um dos seus eleitos.

(v)  Fez a tropa e a depois a guerra colonial, em Angola, onde comandou um bravo grupo de paraquedistas (1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72). Foi forte e leal. Mas sempre atento aos seus valores humanos, portugueses e cristãos: na guerra não valia tudo.  Tem a cruz de guerra de 3a. classe.

(vi)  Ainda em Angola,  antes da independência, começou a tirar o curso de educação física. Foi professor nesta área, e durante 40 anos viveu e trabalhou  em Fafe, no Norte de Portugal. Para lá foi levado pela paixão pela Dina, que lhe deu dois filhos, o Pedro e a Sofia. Tem muito orgulho neles, que se doutoraram e são hoje professores. 

(vii)  Tem também muito orgulho no seu trabalho, como autarca, no município de Fafe onde foi vereador, em três mandatos, dos pelouros do desporto e da cultura (1986/97). Fala com um brilho nos olhos do seu legado em Fafe: sendo ele "mouro", português do Sul, levou a gente nobre, minhota,  do Norte,  a gostar tanto da música sinfónica tanto como do andebol feminino... 

(viii)  Foi um cuidador excecional da sua Dina, atingida pela terrível doença do Alzhemeir, e já falecida (Fafe, 1946-Lourinhã, 2022). Nunca se deixou abater pelo desânimo, a desesperança, a solidão, minas e armadilhas da sua picada da vida,  ou as suas próprias mazelas... 

(ix)  Cultiva a amizade como poucos e mais recentemente, há uns anos, deixou-se atingir novamente pela seta de Cúpido. O seu coração foi ganho por uma temível feminista e socióloga da Lixa, Felgueiras. Uma mulher culta, inteligente, lutadora e de coração ardente. A doutora Laura, amiga da Alice Carneiro e do padre Mário da Lixa. 

(x) E, com todo o mérito, arte e engenho, o Jaime tem sabido manter e conservar não só a sua saúde física e mental, bem como os seus amores (pela Laura, pelos filhos Pedro e Sofia, pelas manas, Natália, Esmeralda e Maria João, pelos amigos...).

(xi) Gosta de música, toca cavaquinho. Escreveu recentemente, em 2025, o livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"

2. Resposta dos assistentes de IA ao meu desafio. Interessante como a IA pega nas diferentes facetas da biografia do Jaime e quase instantaneamente (mais depressa que o diabo a esfregar um olho)  faz um poema em dístico elegíaco, conforme lhe foi pedido... E nunca sai igual. E tem, a IA,  a "humildade" de por enquanto  aceitar as sugestões e correções dos humanos... (Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

Perplexity ia

Eis os versos em honra do teu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, primeiro em português e depois em latim, à maneira dos dísticos elegíacos de Ovídio:

Em Português:

Ó Jaime, que o Tempo não doma, menino do Seixal, herói de Angola,
tua vida é poema que se entrelaça: guerra, amor, dever, voz que não cala!

Da Lourinhã a Fafe, foste luz, levando a música aos rudes corações;
e até no luto, firme como a cruz, guardaste a graça em todas as estações.

Agora, aos setenta e nove anos (mais sábio que um romano, mais audaz),
mostras que o amor, em seus verdes anos, vence a velhice e o viço do rapaz.


In Latinum Versum (Dactylico Elegiaco):

O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli,
Vita tua carmen est, quod contexit arma, amor, officiumque voxque silentis.

A Laurinhâ Fafemque tulisti lux, ferens musicam duris cordibus;
Et quoque in luctus stans pede certa crux, gratia servasti omni tempore.

Iam septuagenus et novem annos tuos, praeclari prudentior Romanis, audax,
Ostendis amorem viridi praesente aetate vincere senemque iuvenemque.

____

Notas da IA;

(i) Forma e métrica geral: o dístico elegíaco é composto por um verso hexâmetro seguido por um verso pentâmetro. Tentei respeitar esse ritmo clássico para que o poema soe realmente como um epigrama ou elegia de Ovídio;

(ii) Primeiro dístico: “O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli"...

  • “O Iacome” (forma latina de Jaime);
  • "Numen” (uma força divina ou o espírito do tempo, uma palavra-poética para o tempo);
  • “quem Numen nihil domat” (quem o poder divino não subjuga);
  • “puer Seixalensis” (menino do Seixal, adjetivo derivado do nome), etc.

Gemini IA

Parabéns para o Jaime, à Maneira de Ovídio

Setenta e nove anos celebra o valoroso Jaime,
Nascido onde o Rio Grande outrora as naves romanas viu.
Do Seixal, terra fértil, onde o Atlântico se espraia,
Um homem de virtude, cujo espírito floresceu.

Em tenra idade, o trabalho e a honra o guiaram,
Dos pais, que o amaram, o pobre menino se fez forte.
Do seminário à guerra, onde a lealdade brilhou,
Comandou bravos, em Angola, mas a humanidade foi seu norte.

Em Fafe, o amor da Dina e filhos, Pedro e Sofia,
Na educação, um mestre, em quarenta anos de paixão.
Como autarca, a cultura e o desporto enriqueceu,
Unindo Norte e Sul, num só coração.

Na dor, cuidador fiel, sem se render ao desespero,
Sua Dina viu partir, mas sua alma permaneceu.
A amizade cultiva, e o amor o reencontrou,
Com a Laura, a feminista, seu coração renasceu.

Saúde e amores guarda, com arte e sabedoria,
Pelos filhos, irmãs, e amigos, o carinho infindo.
No cavaquinho a melodia, na escrita a memória,
Jaime, és exemplo de vida, um presente tão lindo!


Em Latim (em Dístico Elegíaco)

Septem et septuaginta annos Jaime noster celebrat fortis,
 Ubi flumen magnum naves Romanas olim vidit. 
Seixal terra fecunda, ubi Oceanus se ostendit, 
Vir virtutis, cuius animus floruit per saecla.

In teneris annis, labor et honor eum duxerunt, 
Parentes dilexerunt, puer pauper factus est fortis. 
A seminario ad bellum, ubi fides resplenduit, 
Ducens audaces, sed humanitas eius finis fuit.

Fafe in urbe, amor Dinae, filiorumque, Petri et Sophiae, 
In doctrinis magister, quadraginta annis cum amore. 
Ut magistratus, culturam et ludum auxit, 
Septentrionem et Meridiem univit, in uno corde.

In dolore, custos fidelis, spe non victus tristis,
Dina decessit, sed anima eius mansit integra. 
Amicitiam colit, et amor eum invenit rursus, 
Cum Laura, feminista, cor eius rediit iuvenile.

Salutem et amores servat, arte et sapientia mira, 
Filiis, sororibus, amicis, amor est infinitus.
 In cavaquinho melos, scriptis memoria vivit, 
Iacobe, vitae exemplum es, donum tam pulchrum!

Chatpgt

Parabéns elegíacos para o  Jaime (em português)

Jaime, que o tempo honra, com passos de herói persistente,
Setenta e nove outonos, vividos com alma ardente.

Da margem do Rio Grande, nasceu sob o céu lusitano,
De olhos de céu azul, menino pobre mas soberano.

Não foi o ouro que o moldou, mas o amor fiel dos pais,
Rejeitou adoções ricas, escolheu raízes reais.

No seminário sonhou com Deus, mas o destino era outro,
Na guerra foi justo e firme, com coração resoluto.

Em Angola, e depois em Fafe, ensinou corpos e almas,
Com saber e com paixão, promoveu saberes e palmas.

Do andebol ao concerto, o “mouro” domou o Norte,
Fez da Cultura um brasão, do Desporto, força e sorte.

Cuidou a sua Dina, com devoção e ternura,
E o Amor, como o vinho velho, voltou com nova doçura.

Hoje é pai, avô, amigo, guardião de um tempo digno,
E mostra como se vive com sentido e com ritmo.


 Salve, Jaime (em latim)

Iamus, quem decorat tempus, gressibus heros,
Septuaginta novem vitae complevit amoros.

Ex ripa fluminis magni natus sub caelo Lusitano,
Caeruleis oculis, pauper puer, sed urbano.

Non aurum formavit eum, sed amor parens fidelis,
Divites sprevit adoptantes, amplexus est originis melis.

In seminario deum quaesivit, sed fata vetabant,
In bello justus et firmus fuit, cor non vacillabat.

In Angola docuit, postea Favae manebat,
Corpora mensque regebat, scientia palmas dabant.

A ludo ad musicam, Maurus domuit Aquilonem,
Cultus signum fecit, ludum fortem coronem.

Dinam curavit amore, dulcedine plena fide,
Et amor rediit, ut vinum vetus, dulci ridente ride.

Nunc pater, avus, amicus, temporis custos honesti,
Et monstrat vivere sensu plenoque motu festi


Em português (à maneira de Ovídio):

Jaime, flor de virtude e vigor, na serena alvorada dos anos,
Tece com mãos firmes a trama do tempo: justo e fiel.

Filho da várzea pura, onde o vento romano passou,
Sul e Norte unindo, em teu peito há um fado imortal.

Nem guerra nem dor dobraram teu estofo de ferro e ternura,
Com alma cristã, encheste o mundo de luz sem igual.

A Dina, teu porto, amaste até à mais doce saudade,
E depois a Laura, chama viva, amante e igual.

Ergues os dias com riso, cavaquinho e memória,
Do passado fazes honra, teu ideal é real.

Aos filhos das tuas entranhas deixaste um legado de estrelas,
E a Fafe do teu labor canta-te em hino triunfal.

Hoje, ao sopro do tempo, brindamos à tua jornada,
Jaime, que sejas eterno, como o amor sem final.


 Em latim (meticulosa adaptação ao estilo elegíaco):

Iámius, exemplo virum, sub lucida tempora vitae,
Dextra tenet vitam, iustus et aequus homo.

Natus in ubertate, Seixale, ubi flamina Romae,
Cordis in ore canis,  lusus et arma tenens.

Nec bellum fractum, nec dolor flexere viriles,
Sed pietate valens, lumen in orbe tulit.

Dinam amavisti, dulcem usque ad limina somni,
Et Lauran postea, fortis amore pari.

Cantibus et risu surgis cum luce diei,
Praeteritae memorem, vivis et arte fide.

Filiis et Fafae lucem reliquisti perennem,
Te celebrant vates, gloria longa manet.

Nunc, inter annos, carmina tibi damus alma,
Iámi, vive diu,  amor aeternus erit!

_____________

Notas da IA sobre a composição:

O dístico elegíaco é composto por um hexâmetro seguido de um pentâmetro, utilizado pelos romanos sobretudo na poesia amorosa (elegia), mas também em epigramas laudatórios.

Busquei conservar o ritmo, a imagética, e sobretudo o tom celebratório e inesquecível que Ovídio poderia usar para um herói moderno como o Jaime.

Parabéns ao Jaime! Que continue a ser uma inspiração e que a sua vida seja celebrada como um verdadeiro clássico da humanidade!


Dísticos Elegíacos – Ao Jaime, aos 79 anos

Nas margens do Rio Grande  nasceu o Jaime, de olho azul,
Homem de honra e memória, firme como rochedo ao sul.

Na infância pobre e bela, recusou adoção dourada,
Preferiu o lar humilde, a alma pela fé guardada.

Serviu a pátria em Angola, bravo, íntegro, decidido,
Mas foi brando no gesto, jamais o ódio o teria vencido.

Fez-se mestre do corpo, e no Norte deixou marca viva,
Fafe ganhou com cultura, e com desporto em deriva.

Foi amante fiel, cuidador de alma e de dor,
Guardião de memória, um farol contra o temor.

Hoje, aos setenta e nove, Jaime é arte de viver,
Sabe amar, resistir, sem jamais se perder.

Louvor ao homem que canta, que escreve, que não cede,
Que viva cem anos, ou mais, com graça, saúde e sede!

Em Latim:

In Ripa Magna natus est Jaime, oculis caeruleis,
Virtute clarus erat, firmus ut rupes australis.

Pauper et pulcher puer, adoptari noluit umquam,
Parentes, patriamque fovit corde benignum.

In Angola militavit, fortis et mente valens,
Sed lumen humanum secutus, mitis et acer.

Magister motus factus, terras Borealis amavit,
Fafam donavit cultu, lusibus atque docuit.

Fidus amator erat, custos memor atque dolorum,
Firmus in adversis, lux inter nocte malorum.

Septem novem annos nunc Jaime laetus agit,
Amor et virtus illi sunt arma quibus sapit.


Laus tibi, qui cantas, scribis, sperasque serenum,
Vivas centenos annos, plus, si fata sinerent!

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Nota do editor:

Último poste da série: 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

Guiné 61/74 - P27026: Agenda cultural (894): Comemoração do 1.º Aniversário do MASM (Museu Aristides de Sousa Mendes) e dos 140 anos do nascimento de Aristides de Sousa Mendes, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, a partir das 17h30, na Casa do Passal - Cabanas de Viriato - Carregal do Sal


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Nota do editor

Último post da série de 16 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27023: Agenda cultural (893): Lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes - Na Encruzilhada de uma Carreira", de Lina Alves Madeira, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, pelas 16 horas, na Biblioteca Pública Municipal João Brandão, Rua Dr. Francisco Beirão, 3 - Tábua. O livro será apresentado pelo Doutor Luís Reis Torgal

Guiné 61/74 - P27025: Humor de caserna (204): O Padre Aurélio (Alberto Branquinho, "Cambança", 2ª ed. revista, 2009, pp. 70-73)


Capa do livro de Alberto Branquinho, "Cambança: Guiné, morte e vida  em maré baixa", 2ª ed. revista. Lisboa, SeteCaminhos, 2009, 99 pp. (Capa: Hugo Neves)




1. Mais uma história de "cambança"(*)  do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-alf mil art,  CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69; advogado, escritor, duriense de Foz Coa, a viver em Lisboa, depois de ter passado por Coimbra como estudante).

"Cambança", para ele, é mais do que  "passagem para o outro lado" do rio. É uma metáfora: "por vezes uma fuga ou uma mudança- Pode ser uma partida ou um regresso. Quase sempre com a vida em maré baixa" (pág. 6).

Qualquer semelhança com a realidade da Guiné é pura coincidência, avisa o autor. Mas quem não conheceu o Padre Aurélio ? 

A vida também não foi fácil para os nossos "capelães militares", que o exército formou, à pressa, e graduou como alferes. É pelo lado da caricatura e do humor de caserna, que podemos hoje perceber o "choque cultural" que foi para todos nós o conhecimento  e a experiência da guerra e da Guiné. Quando regressou à metrópole, o Padre Aurélio já não era o mesmo homem nem o mesmo represente de Cristo. Aliás, nenhum de nós era o mesmo, no regresso a casa.

Citando o nosso crítico literário (**), "ficamos todos com uma enorme dívida de gratidão com o Alberto Branquinho: o picaresco dos desastres dos afazeres da guerra tem aqui uma galeria memorável de fotografias tipo passe que nunca mais esqueceremos."


Humor de caserna > O Padre Aurélio

por Alberto Branquinho




Notas do autor; (11) Bajuda com cabaço = rapariga virgem


In: Cambança, op. cit., 2009, pp. 70-73

(Seleção, digitalização, recorte, título: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 16 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27020: Humor de caserna (203): O aeorgrama e a (in)comunicação (Alberto Branquinho)

(**) Vd. poste de 16 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6747: Notas de leitura (131): Cambança Guiné Morte e vida em maré baixa, de Alberto Braquinho (Mário Beja Santos)

Vd. também poste de 2 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4627: Bibliografia de uma guerra (52): Andanças e... Cambança(s), de Alberto Branquinho (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P27024: Parabéns a você (2396): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista da 1.ª CCP/BCP 21 (Angola, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 13 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27010: Parabéns a você (2395): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27023: Agenda cultural (893): Lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes - Na Encruzilhada de uma Carreira", de Lina Alves Madeira, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, pelas 16 horas, na Biblioteca Pública Municipal João Brandão, Rua Dr. Francisco Beirão, 3 - Tábua. O livro será apresentado pelo Doutor Luís Reis Torgal



1. Mensagem de Luís Reis Torgal, Historiador e Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra (ex-Alf Mil TRMS do CMD AGR 2952 e COMBIS, Mansoa e Bissau, 1968/69), com data de 15 de Julho de 2025:

Caros Amigos
O envio de um convite tem para mim um duplo significado: exprime um desejo que estejam presentes (no caso de poderem e quiserem) ou simplesmente quer informar sobre a saída de um livro. É nesse duplo sentido que envio este convite, que acaba de me chegar. Não é, pois, pelo facto de eu ir dizer duas palavras informais sobre a obra, mas sim pela obra em si e pela sua autora.

Como sabem, sempre entendi a História como uma Ciência e não como um Tribunal ou uma Hagiografia. Desta forma, a indiscutivelmente notável figura de Aristides de Sousa Mendes passa a ficar apresentada de uma forma mais completa. De resto, a temática do livro foi retirada de uma tese de doutoramento apresentada na Universidade de Coimbra no já longínquo ano de 2014, intitulada O mecanismo de (des)promoção do MNE. O caso paradigmático de Aristides de Sousa Mendes. Só agora vem a público de forma impressa pela editora Âncora, apresentada em Tábua (concelho natal da mãe do Cônsul de Bordéus) e em 19 de Julho, em dia do 140.º aniversário do seu nascimento, porque a autora (a quem se deve também um trabalho importante sobre Veiga Simões) manifestou sempre um cuidado extremo em apresentar o seu estudo de forma rigorosa, com base num amplo trabalho baseado em documentos que se encontram sobretudo no Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Numa palavra, com defeitos e qualidades (como todas as obras), tem origem na única tese de doutoramento apresentada numa Universidade pública portuguesa.

Figueira de Lorvão, 15 de Julho de 2025
Luís Reis Torgal

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Nota do editor

Último post da série de 1 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26972: Agenda cultural (892): "Filhos de tuga": documentário em três episódios, com a duração de 52 minutos cada: começa amanhã na RTP1, às 22:29

Guiné 61/74 - P27022: Convívios (1040): O pessoal da 2.ª CART do BART 6521/72 reuniu-se no passado dia 5 de Julho de 2025, em Rio Maior para comemorar os 51 anos da chegada da Guiné (José Morgado, ex-Soldado CAR)


1. Mensagem do nosso camarada José Joaquim Martins Morgado, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da 2.ª CART/BART 6521/72 (, 1972/74), com data de 12 de Julho de 2025:

Boa tarde Carlos Vinhal,
Na véspera da inauguração do memorial, tinha estado em Rio Maior em confraternização com a minha Companhia da Guiné, a comemorar os 51 anos do nosso regresso. São encontros que tenho promovido com a ajuda de alguns Camaradas, neste caso com os mais próximos do local do evento.
Para mim o processo é simples por estarmos informatizados quer no WhatsApp, quer na plataforma de comunicação Facebook.

Para divulgação, envio o texto e duas fotos do grupo.

Cumprimentos,
José Morgado

A 2.ª Companhia do BART 6521 com o cognome “Quatro Chapos e Bolinha Baixa” reuniu-se mais uma vez, este ano em Rio Maior no Restaurante O Talego.
Vários Camaradas vão faltando à chamada passados 51 anos do nosso regresso da Guiné, não como desertores, mas por dificuldades de locomoção e outras situações como transporte, outros ingressaram numa outra companhia para a qual todos nós iremos fazer parte mais tarde.
Por eles e por todos, foi guardado religiosamente um minuto de silêncio.

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Notas do editor:

Vd. post de 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27004: Efemérides (461): Foi inaugurado no passado dia 6 de Julho de 2025 um Memorial dedicado aos antigos Combatentes da guerra do ultramar da freguesia de Areias de Vilar, concelho de Barcelos (José Morgado, ex-Soldado CAR)

Último post da série de 12 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27006: Convívios (1039): Rescaldo do XLIV Convívio do pessoal da CCAV 2639, levado a efeito no passado dia 21 de Junho de 2025, em Azoia - Leiria (António Ramalho, ex-Fur Mil Cav)

Guiné 61/74 - P27021: Historiografia da presença portuguesa em África (490): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, ainda 1928 e 1929 (44) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Fevereiro de 2025:

Queridos amigos,
Estamos a revisitar os últimos anos da década de 1920, e não podendo contar, a partir de agora com o acervo documental de Armando Tavares da Silva, bateu-se à porta do livro de René Pélissier, "História da Guiné, Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936", o olhar do historiador abarca a pacificação continental devido a Teixeira Pinto, a Guiné no Pós-Guerra, a continuação de expedições aos insubmissos Bijagós, o historiador desenvolve a queda de Abdul Indjai (que nesta súmula não se aborda, dá-se como exaustivamente tratada noutros textos); a década inicia-se com os dois mandatos de Vellez Caroço, ele próprio comandará uma expedição a Canhabaque, Vellez Caroço deixará o seu posto com o derrube da 1.ª República, suceder-lhe-á António Leite de Magalhães, antigo governador do Cuanza Norte, vinha cheio de ideal para o desenvolvimento económico, irá assistir ao desaparecimento de companhias e sociedades agrícolas; reflexo de austeridade imposta pela Ditadura Nacional, reduzem-se as despesas, corta-se nos efetivos militares e no número de circunscrições e de postos, o que significa uma diminuição da presença da administração no Norte e no Leste. O regime militar ganhou o hábito de deportar para a Guiné opositores políticos também condenados de direito comum. Um ponto bastante curioso é a vinda de um alemão para uma missão dita de ciência, viagem de longos meses, os germânicos terão armazenado uma fantástica recolha de arte dita primitiva, durante o Terceiro Reich serão publicados vários estudos abarcando a Guiné a particularmente os Bijagós.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, ainda 1928 e 1929 (44)


Mário Beja Santos

Tenho procurado destacar no Boletim Oficial informações que nos habilitem a entender a evolução do nosso processo colonial, a disseminação da administração e uma ocupação efetiva, a resolução de conflitos e diferendos, campanhas e expedições, a melhoria das condições do colonizado, os aspetos fundamentais do desenvolvimento económico, etc., etc. Somos confrontados com um quadro de rotina burocrática, muitos destes aspetos procurados aparecem noutras fontes. Não foi por mero acaso que se tentou um certo contraponto aqui fazendo reaparecer o monumental acervo documental organizado por Armando Tavares da Silva sobre a presença portuguesa na Guiné entre os tempos da separação de Cabo Verde e até 1926. Havia que suscitar um outro olhar, é a razão pela qual convocamos um outro investigador, desta feita René Pélissier, e a sua História da Guiné, Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. Porque se estava a viver uma época de transformação, havia brigadas agrícolas e zootécnicas, já forjavam relatórios, procurava-se inclusivamente instituir o acompanhamento das movimentações da população nativa. Pode ler-se no Boletim Oficial n.º 2, de 14 de janeiro de 1928, que “Nenhum indígena maior de 18 anos poderá transitar no território da colónia sem estar munido de caderneta. O portador de caderneta será dispensado solicitar qualquer autorização para se deslocar da área da jurisdição a que pertence, ficando apenas obrigado a efetuar a sua apresentação nas sedes de circunscrição e postos por onde passar, a autoridade respetiva visará a caderneta, o nome e a naturalidade do indígena.”

Com o reforço da organização administrativa, emergem questões jamais sonhadas no passado recente. Em 1932, no Boletim Oficial n.º 1, de 2 de janeiro, é promulgada uma Portaria que fala na proteção das espécie e variedades da fauna que são mais raras ou com tendências a rarear por abuso na sua caça, tendo sido nomeada uma Comissão de Caça com poderes para elaborar uma carta da colónia da Guiné indicando as zonas onde predominam determinadas espécies zoológicas, especialmente das ordens dos mamíferos e aves, elaborando igualmente um projeto de organização das reservas de caça – não era ainda uma preocupação ecológica, era uma salvaguarda onde não faltavam motivações de ordem turística.

Procurava aperfeiçoar-se a divisão administrativa da colónia, já se falava na etnografia; referiu-se anteriormente que houve um inquérito etnográfico a que respondeu o administrador da circunscrição da Costa de Baixo. Por não haver referências neste período a quadros de insubmissão e rebeldia deve-se ao facto que as campanhas de Teixeira Pinto deixaram as etnias do continente guineense num quadro de acatamento da ordem colonial. Como recorda René Pélissier no livro acima citado, o período de 1909-1925 foi caracterizado, no plano da conquista, por quatro grandes campanhas e cinco operações secundárias que tiveram lugar quando Teixeira Pinto era o chefe de Estado-maior da província. Canhabaque e o arquipélago dos Bijagós continuaram a ser a pedra no sapato. Mas Pélissier também explica o que há de verdadeiramente de impressionante nas campanhas do capitão Teixeira Pinto: a fraqueza dos efetivos dos auxiliares recrutados, como foi evidente na campanha de 1915. Com efeito, com o máximo de 1600 homens contra os Papéis e os Grumetes, chega-se a um efetivo inferior a 7 mil, quando era triplo entre 1891 e 1908. Os portugueses já não estavam à mercê da debandada de auxiliares altamente voláteis, confiavam no mercenarismo de Abdul Indjai, era gente disposta a tudo e que tudo pilhava.

Quem saiu severamente punido pela drástica lição foram as etnias animistas, Papéis, Manjacos, Baiotes, Felupes, Balantas. Militarmente, os Grumetes acabaram por ser marginalizados; manteve-se o pacto de aliança entre o colonizador e os regulados muçulmanos. Fulas e Biafadas foram totalmente eliminados da lista dos inimigos de Bolama. Estas duas etnias acabaram por substituir a equipa de Abdul Indjai com a entrada em força dos regulares, quando se tratou de vencer os animistas.

Pelissier aborda o Pós-Guerra. A entrada em guerra de Portugal ao lado dos Aliados (10 de março de 1916), teve incidências secundárias para a Guiné, a opinião pública em Bissau e Bolama mantinha-se pró-germânica, a relação com os franceses nunca fora boa. Os súbditos alemães (9 casas comerciais, 11 alemães em julho de 1916) e sírio-libaneses serão temidos em Cacheu nesse mês de julho; os bens alemães ficaram sequestrados, os cidadãos seguiram para os Açores; intensificou-se a cultura do arroz, a Guiné transformar-se-á num país exportador de arroz.

Dá-se como dado assente a classificação continental, o mesmo não se pode dizer dos Bijagós, em março de 1917 o governador Manuel Maria Coelho decretou estado de sítio e organizou uma coluna de polícia (que por razões desconhecidas não embarcará). Havia a má memória de acontecimentos de maio desse ano, um desembarque de 150 homens que terminou com 3 mortos e 22 feridos; quase sem munições, houve que reembarcar. Constitui-se uma coluna sob a direção do chefe de Estado-maior da província, mobiliza-se uma companhia de atiradores com três oficiais, são nomeados auxiliares o alferes de 2.ª linha Mamadu Sissé, Abdul Indjai recusou-se a ir pessoalmente. Acreditou-se que a rebelião ficara sufocada, nada de mais falso. Seguir-se-ão outras expedições, há que voltar à região de Cacheu, em janeiro de 1918 régulos de Canhabaque vêm assinar a sua demissão em Bolama, mas as hostilidades irão manifestar-se até 1936.

O historiador francês analisa a chamada rebelião de Abdul Indjai, é assunto que se dá aqui como tratado. Temos agora Vellez Caroço como governador, o seu primeiro mandato conhecerá uma febre de construções no sertão, o governador é um homem das estradas e das pontes, esforçar-se-á por desenvolver a instrução pública dos guineenses; é também moralizador, proíbe as importações de álcool superior a 50º. Estamos na década de 1920, a Guiné está solidamente ancorada no ciclo das oleaginosas (representam 95% das exportações em valor). O governador Vellez Caroço informa o ministro em 1922 que a Guiné está pacificada, o que não correspondia à verdade, os Balantas de Nhacra revoltaram-se contra o chefe de posto, caroço desloca-se com três peças de artilharia e metralhadoras, a população sente-se intimidada, apresenta-se ao governador, o estado de sítio é levantado, e virá o tempo em que Vellez Caroço irá à frente de uma exposição em Canhabaque.

Deixamos para o próximo texto tudo quanto vai acontecer até 1936, Pelissier terminará o seu trabalho fazendo um balanço da resistência de guineenses ao colonizador e dando-nos um quadro do desenvolvimento económico.

Os empréstimos falhados que levaram os próceres da Ditadura Nacional chamar Salazar para ministro das Finanças
Primeira referência a Salazar como ministro das Finanças
Medidas tomadas para evitar a peste, um terror constante
Cacheu, monumento em homenagem do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, século XXI
Bissau, década de 1950
Capela de Nossa Senhora da Natividade, Cacheu

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26999: Historiografia da presença portuguesa em África (489): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1927 e 1928, por inteiro (43) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27020: Humor de caserna (203): O aerograma e a (in)comunicação (Alberto Branquinho)



Capa do livro de Alberto Branquinho, "Cambança: Guiné, morte e vida  em maré baixa", 2ª ed. revista. Lisboa, SeteCaminhos, 2009, 99 pp.




1. Pode o humor ser "cruel" ? Sim, não tem que ser "meigo". Sobretudo o "humor de caserna"... 

Numa folha A4, de 24 linhas, o nosso camarada Alberto Branquinho (ex-alf mil art, CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), escreve um tratado sobre a (in)comunicação e os desastres que pode causar, agravada pela distância e a impossibilidade de "feedback" imediato. 

Há 60 anos atrás, recorde-se, não havia o telemóvel, a internet, as videochamadas, o whatsapp... Nem sequer, na maior parte dos casos, na Guiné, rede telefónica analógica...  

É um pequena obra-prima, esta história.  O aerograma, tão ansiado na volta do correio (por ambas as partes), também podia ser cruel, um punhal espetado no peito, a 4 mil km de distància, quando entre o emissor e o recetor surgia a dúvida, o equívoco, o mal-entendido, ou então, o ciúme, a suspeita, a repreensáo, o desalento, a incompreensão, a "boca foleira"...É um microconto de antologia, este. Parabéns, Alberto!



Humor de caserna  > O aerograma e a (in)comunicação

por Alberto Branquinho






Fonte: Título original "Acto 2 - Passeios".  In" Quatro Actos para Um Ponto de Vista", excerto de "Cambança", op. cit. pág. 18

(Seleçáo, digitalização, recorte, introdução e título: LG)
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 1 de julho de 2025 >Guiné 61/74 - P26971: Humor de caserna (202): Dormir nu por causa do clima à noite e ter sonho "manga di bom": aerograma datado de Bambadinca, 1 de dezembro de 1969, dirigido à sua amada pelo nosso saudoso Fernando Calado (1945-2025)

terça-feira, 15 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27019: Felupes, balantas e outros combatentes que eu conheci (3): Coisas difícieis de acreditar (Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71)


Foto nº 1  > Guiné > Região do Oio > Bissorã > Bolanha de Cate >  1973 >  A 
 população balanta prepara a bolanha  para o cultivo do arroz 


Foto nº 2  > Guiné > Região do Oio > Bissorã > Bolanha de Cate >  1973 >  Uma patrulha da CCaç 13 atravessa uma bolanha de Cate, na época seca, sob o comando do capitão Carlos Oliveira 


Foto nº 3  > Guiné > Região do Oio > Bissorã > Bolanha de Cate >  1973 >  Trilho em Cate 

Fotos (e legendas): © Carlos Oliveira   (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Carlos Fortunato e Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Bissorã > 1969  > Uma patrulha da CCAÇ 13 regressa ao quartel, , ao anoitecer. O fur mil at inf Carlos Fortunato, o mais alto, é o segundo do grupo.  
As capacidades dFotoos balantas permitem-lhes 

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já aqui o dissemos por mais de uma vez: seria uma pena o fabuloso "baú" do Carlos Fortunato, com as coisas & loisas da Guiné, se perder... Referimo-nos nomeadamente à página na Net, Guiné - Os Leões Negros, que esteve alojada no Sapo, até há uma dúzia de anos. Foi depois descontinuada (o "Sapo" tirou o tapete a quem "viajava" de borla...), mas felizmente foi salva, sendo capturada pelo Arquivo.pt.


De vez em quando eu gosto de a revisitar e vou lá repescar algumas das "pérolas literárias" do Carlos (fizemos juntos a viagem para a Guiné no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, ele foi para a futura CCAÇ 13, Bissorã, e eu para a CCAÇ 12, Bambadinca; regressámos, de novo, juntos, no T/T Uíge, em 17 de março de 1971; "sãos e salvos", e com o "bichinho" da Guiné; "Guiné - Os Leões Negros", uma página ou portal, que não é um blogue, criada em 2003, é, cronologicamente, mais antiga que o nosso blogue, de 2004).

Este texto da autoria do Carlos Fortunato, foi  publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 (*). É uma homenagem aos combatentes balantas, que foram grandes soldados, ao serviço tanto do PAIGC como das NT (**).

Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga. Tem sido de uma dedicação extraordinária à causa da solidariedade para com o povo de Bissorã.


Felupes, balantas e outros combatentes que eu conheci (3): Coisas difíceis de acreditar...

por Carlos Fortunato (*)


As capacidades dos balantas permitem-lhes fazer coisas difíceis de acreditar.

Um dos casos ocorreu já em Bissorã, quando numa das acções que realizámos a Cate, creio que em Novembro de 1969. Saímos por volta da meia noite, mas um dos soldado africanos só acordou 2 horas depois de já termos saído. Apesar de desconhecer qual o nosso destino ou o caminho que íamos seguir, conseguiu seguir-nos encontrar-nos, numa noite escura, depois de termos passado por água, mato cerrado, etc.

Devo confessar que eu me perdi nessa patrulha. Já andávamos há mais de uma hora caminhando noite dentro, quase sempre a corta mato, tendo atravessado as inevitáveis bolanhas que nos deixavam totalmente encharcados, quando chegámos a uma zona em que o mato era de tal forma cerrado, que tivemos que o passar rastejando.

Ora como é natural, os primeiros que passaram a rastejar fizeram-no muito lentamente, mas quando retomaram a marcha normal os que vinham atrás tiveram que correr para os apanhar, vindo eu praticamente no fim da coluna, quando acabei de rastejar, só vi o soldado que ia à minha frente largar a correr para não perder a ligação com o resto da coluna.

Mal atravessei o mato cerrado, larguei a correr para não perder de vista o vulto que corria à minha frente, mas era uma noite muito escura, e não vi um enorme buraco feito por um javali, no qual cai numa confusão de corpo, G3, e granadas.

A minha primeira preocupação foi se alguma das cavilhas de segurança das granadas não tinha saído (o que faria rebentar a mesma ao fim de 4 segundos), depois de verificar/repôr corretamente as cavilhas, atirei a arma para fora do buraco, e consegui sair do mesmo com alguma dificuldade.

Neste espaço de tempo a coluna tinha desaparecido, e eu não fazia a mínima ideia onde estava, e sentia-me incapaz de encontrar o caminho de regresso, assim tentei seguir na direcção para onde tinha visto o último soldado correr.

Naquela direcção havia apenas alguns tufos de capim, e a escuridão não permitia procurar um rasto, talvez por o meu nome ser Fortunato (nome de origem italiana, que significa sorte), acabei por encontrar o resto da coluna, a qual tinha parado um bocado mais à frente, pois já tinha sido dado como "desaparecido em combate".

Algum tempo depois deste incidente, e já estando nós a montar uma emboscada, ouvi um ruído de alguém que se aproximava a coberto do capim, alertei os soldados, mas estes disseram-me que era o soldado do nosso pelotão que não se tinha apresentado à partida, e para grande surpresa minha era mesmo...

Como foi possível ele conseguir-nos seguir? Como sabiam os soldados que era ele?

O conhecimento do terreno e os sentidos mais desenvolvidos dos soldados africanos, permitiam-lhes realizar coisas, que para um soldado vindo da metrópole eram simplesmente impossíveis.

O alferes Roda, da CCaç 14, realizou em Bolama uma secção de hipnotismo, em que num dos números dava a cheirar uma folha de papel em branco, e os africanos,  depois de hipnotizados e com os olhos vendados, eram capazes de localizar e apanhar os bocados de papel espalhados pelo chão.


(Revisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor LG:

(*)  Texto do furriel Carlos Fortunato Publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 por Carlos Fortunato. Título original: Realizando o impossível

(**) Último poste ds série > 8 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26245: Felupes, balantas e outros combatentes que eu conheci (2): O Dudu veio para Portugal, obteve a nacionalidade portuguesa, era DFA, vivia em Torres Vedras (Eduardo Estrela, ex-fur mil, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)