FLORA E FAUNA DE GALOMARO
Galomaro > Maio de 1970 > Vista aérea
1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 11 de Novembro de 2010:
Caro Carlos Vinhal,
Dentro do arame farpado de Galomaro houve colegas que tentaram fazer uma horta (semente que caísse à terra, bem trabalhada, germinava em pouco tempo), mas a bicharada tudo comia e nenhuma planta vingava apesar dos esforços de quem inclusive recebia sementes da Metrópole. Experiências não faltaram… só vingou mesmo uma alface… o nosso camarada de Évora, Joaquim J.P. Alface, que nos acompanhou de 01-05-1970 a 23-03-1972.
A fauna da CCS/BCAÇ 2912 tinha um Carneiro, um Pinto e dois Coelhos, sendo um bravo e outro manso, porém as matas do leste da Guiné - Galomaro - eram ricas em coelhos (verdadeiros) selvagens.
Os nossos camaradas, cada um com o seu estilo, não se importavam nada de assim serem tratados e todos os conheciam pelas alcunhas, que nada tinham de depreciativo mas sim de pura camaradagem de combatentes que foram obrigados a uma guerra de guerrilha, na Guiné.
Em 29-05-2004, na Curia, XI Convívio co-organizado pelo “Coelho Manso”, o Belarmino Coelho, que faleceu em 2009, assinou: “Coelho Bravo” no meu livro de recordações.
Paz à sua alma e à de todos os ex-colegas combatentes falecidos.
Na noite de 15-08-1970 foram apanhadas 14 lebres, a maior caçada de sempre. Durante umas refeições os Oficiais e Sargentos comeram bem em Galomaro.
O 2.º Sargento H. Nobre, Mecânico Auto do BCAÇ 2912, saía ao anoitecer de Unimog com 2 ou 3 homens e regressavam pouco tempo após a saída, porque era presa fácil toda a lebre que aparecesse à frente… as necessidades assim obrigava a estes disparates de caçadas nocturnas.
Um coelho ou lebre custava 10$00 Pesos… um frango, pouco maior do que um pintainho, tinha o preço de 20$00 Pesos… só com a intervenção dos chefes das Tabancas previamente presenteados conseguíamos comprar os frangos.
Também praticavam e conheciam a Lei da Oferta e da Procura!
O coelho é um dos signos da astrologia chinesa e fazia jus à condição de animal reprodutor naquela zona do leste da Guiné.
Com toda a certeza que não dava o nome às “coelhinhas” da Playboy, nem era o coelhinho da pilha que dura… dura…, nem o símbolo da Páscoa para uma População - Fulas - Islâmica que praticava o feiticismo nos anos setenta do século passado.
Outras Terras… outras Culturas.
A título de curiosidade refiro que os dentes dos coelhos crescem à medida que são limados pelo uso.
Um abraço,
António Tavares
Fur Mil SAM
Foz do Douro, 11-11-2010
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6355: Convívios (149): XVII Convívio da CCS do BCAÇ 2912, no dia 5 de Junho, em Pedrógão Grande (António Tavares)
Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7193: Estórias avulsas (98): Memórias de uma noite terrível em Canquelifá – 1971 (Francisco Palma)
2 comentários:
Obrigado Tavares pelo teu Post.
Por dois motivos, um pelo conteuodo sociológico que ele contém, na vivência dos militares entre si, e entre estes e as populações. Embora muito sucinto e merecia ser mais desenvolvido, penso que tens sensibilidade para o fazer.
Finalmente pela oportunidade que me deste através da foto aérea, de passear por aquele sitio, Galomaro, apezar de não "alcançar com a vista" outros destinos em que procurava outros encontros, para compreender melhor aquela guerra, depois de andar tres e mais km a pé e só o mato me assustava um pouco.
Alguém me escrevia em um coments, que eu não manifestava protagonismo. Mas porque o raio da foto mexeu comigo, transgredi nesta postura pessoal.
Um abraço especial para ti neste momento e tambem para todos.
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
Caro Tavares
Bela foto de Galomaro.
Todos os riscos à saída da porta de armas nos levavam a destinos sobejamente meus conhecidos.
Uma pergunta. No bico direito ainda não está o abrigo do obus fingido com que vocês enganaram a piriquitagem. (Nós).
Mas havia um paiol ou estarei enganado?
Gostava de ter esta foto.
Um abraço
Juvenal Amado
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