Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (*)> Dois homens de Guileje e membros da nossa Tabanca Grande: à direita, (i) o Cor Art Ref Coutinho e Lima, que acabou de lançar em 13 de Dezembro último o livro A retirada de Guileje: a verdade dos factos (Recorde-se que foi ele quem, então major e comandante do COP 5, tomou à revelia do Com-Chefe a decisão de retirar as NT e a população civil de Guileje, em 22 de Maio de 1973, sob a pressão das forças do PAIGC) ; e à sua esquerda, (ii) o ex-Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350 (aqui, na foto, agradecendo ao seu antigo comandante, em seu nome pessoal e da sua família, a decisão de abandonar Guileje, decisão essa que terá salvo a vida a muita gente) (*).
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do Rui Ferreira, membro da nossa Tabanca Grande (**)
Assunto - Guiné e sempre a retirada do Guileje
Meu caro Luis
Não conheço pessoalmente nem o então major Coutinho e Lima nem o então piloto da Força Aérea Portuguesa António Martins de Matos (***). Não me move portanto nenhum interesse na causa, não estou ligado a nenhum deles, não me devem nada e idem, idem aspas, aspas, no que comigo se passa.
Li com toda a atenção o texto do segundo, que considero isento, corajoso, claro e totalmente em consonância com o que sempre pensei sobre o acontecimento. Discordando de muitas coisas e da forma de agir, prepotente e autoritária, do marechal Spínola, numa coisa infelizmente tenho de com ele concordar. Não se fez tudo quanto se podia para conservar o Guileje.
Não quero aqui fazer julgamento de tantos heróis anónimos, soldados de Portugal que comeram o pão que o Diabo amassou naquele recanto perdido no cu de Judas, como diria a gíria militar. E, se é bem verdade que a Guiné era um inferno e que por lá ficaram tantos jovens como nós eramos então, ainda que fosse só em memória de quantos se bateram e sacrificaram a própria vida na sua defesa bem merecia que se tivesse ou pelo menos se tentasse ter feito bem mais do que se fez.
Sem pretender ser belicista que nunca o fui, sem invocar as duas cruzes de guerra que ostento ao peito, sem invocar a Torre e Espada que me era devida por acumulação de condecorações por feitos em combate, sem lembrar que fui ferido nas duas comissões que cumpri na Guiné, considero que era imperioso que os oficiais, sobretudo os do Quadro Permanente, perante os soldados, filhos do povo que miseravelmente pagos e explorados serviam a Pátria, era imperioso, dizia, que, quem escolheu a carreira militar como forma de vida, livremente, no mínimo honrasse o Juramento que a ela fez. A meu ver não foi isso que aconteceu.
Mas conservo em mim a angústia que senti, o mal estar, o desconforto, uma certa dor de alma quando em Monte Real o Con Ref Coutinho e Lima pretendeu explicar o que se passou no abandono do Guilege. Não conseguiu minimamente cativar a plateia, nem despertou o interesse da maioria. A instalação sonora tambem pouco ajudou. E apesar do tema continuar a ser actual, como comprova a vasta publicação de novos depoimentos sobre a Guiné e [o número] cada vez maior de memórias de antigos combatentes, de visitas ao nosso blogue, de encontros de gente que se sente bem junto de quem estve consigo na guerra. E nada de novo nos prendeu a atenção.
Votos de longa vida para a nossa tertulia que é sempre uma companhia agradável.
Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira
2. Comentário do L.G.:
Meu caro Rui, não me compete fazer comentários aos teus comentários sobre o caso Guileje. Faço votos apenas para que o debate sobre Guileje e, no caso presente, sobre a versão dos acontecimentos feita por Coutinho e Lima no seu livro, continue a pautar-se pela correcção, objectividade e elegância com que estamos habituados no nosso blogue.
Quero apenas corroborar o que disseste sobre a intervenção do nosso camarada Coutinho e Lima, no III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia, em Monte Real, em Maio passado: não foi, de facto, feliz, por um conjunto de circunstâncias adversas, a começar pela falta de condições acústicas da sala e da má instalação sonora...
A excitação da pessoal à mesa (cerca de 100 pessoas, que acabavam de se instalar) e o improviso do Coutinho e Lima também não ajudaram a passar a mensagem... Foi pena, sobretudo para ele, que há trinta e muitos anos não tinha a oportunidade de falar para um auditório, como aquele, composto de antigos combatentes da Guiné. Foi pena também para nós, que podíamos estar mais atentos e receptivos e mostrar um pouco de mais de simpatia por um militar português que esteve condenado ao silêncio durante metade de uma vida... De qualquer modo, todos nós aprendemos com os erros. Felizmente que há outros, bem mais graves.
PS - Rui: A triste história do Iero Embaló não está esquecida. Recebi o documento que me mandaste pelo correio. Como sabes, estive de férias no Natal e Ano Novo. Mas o caso vai apreciado pela nossa equipa editorial. Cuida de ti, também. Vê hoje na RTP 1, às 9.30h, a II Parte do filme-documentário As Duas Faces da Guerra. Guileje ocupa um parte substancial do documentário, com visita ao local e entrevistas a vários protagonistas de um lado e de outro, incluindo o Coutinho e Lima. Ontem passou a I parte.
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2854: O nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (1): Foi bonita a festa, Joaquim e Carlos: Obrigados!
(**) O Rui Alexandrino Ferreira é natural de Angola (Lubango, 1943) e vive em Viseu, terra que adaptou e onde tem muitos e bons amigos.
Fez o COM em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, Rumo a Fulacunda (2ª ed, Palimage, Viseu, 2003).
É hoje coronel, na reforma.
(***) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.
1. Mensagem do Rui Ferreira, membro da nossa Tabanca Grande (**)
Assunto - Guiné e sempre a retirada do Guileje
Meu caro Luis
Não conheço pessoalmente nem o então major Coutinho e Lima nem o então piloto da Força Aérea Portuguesa António Martins de Matos (***). Não me move portanto nenhum interesse na causa, não estou ligado a nenhum deles, não me devem nada e idem, idem aspas, aspas, no que comigo se passa.
Li com toda a atenção o texto do segundo, que considero isento, corajoso, claro e totalmente em consonância com o que sempre pensei sobre o acontecimento. Discordando de muitas coisas e da forma de agir, prepotente e autoritária, do marechal Spínola, numa coisa infelizmente tenho de com ele concordar. Não se fez tudo quanto se podia para conservar o Guileje.
Não quero aqui fazer julgamento de tantos heróis anónimos, soldados de Portugal que comeram o pão que o Diabo amassou naquele recanto perdido no cu de Judas, como diria a gíria militar. E, se é bem verdade que a Guiné era um inferno e que por lá ficaram tantos jovens como nós eramos então, ainda que fosse só em memória de quantos se bateram e sacrificaram a própria vida na sua defesa bem merecia que se tivesse ou pelo menos se tentasse ter feito bem mais do que se fez.
Sem pretender ser belicista que nunca o fui, sem invocar as duas cruzes de guerra que ostento ao peito, sem invocar a Torre e Espada que me era devida por acumulação de condecorações por feitos em combate, sem lembrar que fui ferido nas duas comissões que cumpri na Guiné, considero que era imperioso que os oficiais, sobretudo os do Quadro Permanente, perante os soldados, filhos do povo que miseravelmente pagos e explorados serviam a Pátria, era imperioso, dizia, que, quem escolheu a carreira militar como forma de vida, livremente, no mínimo honrasse o Juramento que a ela fez. A meu ver não foi isso que aconteceu.
Mas conservo em mim a angústia que senti, o mal estar, o desconforto, uma certa dor de alma quando em Monte Real o Con Ref Coutinho e Lima pretendeu explicar o que se passou no abandono do Guilege. Não conseguiu minimamente cativar a plateia, nem despertou o interesse da maioria. A instalação sonora tambem pouco ajudou. E apesar do tema continuar a ser actual, como comprova a vasta publicação de novos depoimentos sobre a Guiné e [o número] cada vez maior de memórias de antigos combatentes, de visitas ao nosso blogue, de encontros de gente que se sente bem junto de quem estve consigo na guerra. E nada de novo nos prendeu a atenção.
Votos de longa vida para a nossa tertulia que é sempre uma companhia agradável.
Um grande abraço do
Rui Alexandrino Ferreira
2. Comentário do L.G.:
Meu caro Rui, não me compete fazer comentários aos teus comentários sobre o caso Guileje. Faço votos apenas para que o debate sobre Guileje e, no caso presente, sobre a versão dos acontecimentos feita por Coutinho e Lima no seu livro, continue a pautar-se pela correcção, objectividade e elegância com que estamos habituados no nosso blogue.
Quero apenas corroborar o que disseste sobre a intervenção do nosso camarada Coutinho e Lima, no III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia, em Monte Real, em Maio passado: não foi, de facto, feliz, por um conjunto de circunstâncias adversas, a começar pela falta de condições acústicas da sala e da má instalação sonora...
A excitação da pessoal à mesa (cerca de 100 pessoas, que acabavam de se instalar) e o improviso do Coutinho e Lima também não ajudaram a passar a mensagem... Foi pena, sobretudo para ele, que há trinta e muitos anos não tinha a oportunidade de falar para um auditório, como aquele, composto de antigos combatentes da Guiné. Foi pena também para nós, que podíamos estar mais atentos e receptivos e mostrar um pouco de mais de simpatia por um militar português que esteve condenado ao silêncio durante metade de uma vida... De qualquer modo, todos nós aprendemos com os erros. Felizmente que há outros, bem mais graves.
PS - Rui: A triste história do Iero Embaló não está esquecida. Recebi o documento que me mandaste pelo correio. Como sabes, estive de férias no Natal e Ano Novo. Mas o caso vai apreciado pela nossa equipa editorial. Cuida de ti, também. Vê hoje na RTP 1, às 9.30h, a II Parte do filme-documentário As Duas Faces da Guerra. Guileje ocupa um parte substancial do documentário, com visita ao local e entrevistas a vários protagonistas de um lado e de outro, incluindo o Coutinho e Lima. Ontem passou a I parte.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 18 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2854: O nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (1): Foi bonita a festa, Joaquim e Carlos: Obrigados!
(**) O Rui Alexandrino Ferreira é natural de Angola (Lubango, 1943) e vive em Viseu, terra que adaptou e onde tem muitos e bons amigos.
Fez o COM em Mafra em 1964. Tem duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72). Fez ainda uma comissão em Angola, como capitão. Publicou em 2000 a sua primeira obra literária, Rumo a Fulacunda (2ª ed, Palimage, Viseu, 2003).
É hoje coronel, na reforma.
(***) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
2 comentários:
Meus caros camarigos
Tenho para mim que, o que se passou no Encontro de Monte Real, tem outras leituras para além dos óbvios problemas do som.
Não era o lugar, nem o tempo para tal intervenção.
Os camaradas juntavam-se para confraternizarem e não estavam para serem “incomodados” com aquele assunto específico, que como se vê desperta emoções e diferentes pontos de vista.
Assim, e é apenas o meu ponto de vista, uns por desinteresse no momento, outros talvez por delicadeza, ou seja para não acontecerem polémicas verbais e outras, decidiram não ouvir, nem dar ali naquele lugar importância ao assunto.
Percebo as palavras do Rui Alexandrino Ferreira:
«Mas conservo em mim a angústia que senti, o mal estar, o desconforto, uma certa dor de alma», pois também o senti.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Joaquim e Rui,
Veras as vossas palavras!
Fora do contexto, inteligentemente todos se "ficaram" como no jogo do "bilas".
Um abraço do tamanho do Cumbijã
Mário Fitas
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