terça-feira, 1 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6514: (Ex)citações (78): Como fui colocado no jornal Voz da Guiné (Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil Trms, CART 6250, Mampatá, 1974)


1. O nosso Camarada Benvindo Gonçalves, ex-Fur Mil TRMS, CART 6250/72, Mampatá, 1974, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 25 de Maio de 2010:

Camaradas,

Em 1974, fui mobilizado em rendição individual, como Furriel de Transmissões, para a Cart 6250, sita em Mampatá, e, hoje, envio-vos alguns dados sobre essa minha breve passagem, por esta Companhia e pelas terras da Guiné.

Com o advento da Revolução de Abril ou dos Cravos, a negociação de Paz e o fim da guerra com as Colónias, começou a desmobilização e o regresso a casa, sendo a Companhia onde estava integrado uma das primeiras a regressar, não me incluindo nesse lote, pois devido à minha situação seria deslocado para outro lado, substituindo colegas mais velhos em permanência.

A Cart 6250 saiu de Mampatá por via marítima, pois, além do pequeno aeródromo de terra batida existente em Aldeia Formosa, esta era a alternativa que nos restava, já que não havia estradas que nos ligassem a Bissau. Essa saída deu-se recorrendo a uma LDG (Lancha de Desembarque Grande), demorando bastante tempo, pois a navegação tinha que ser feita tendo em atenção as marés, pelo que passámos uma noite no caminho dormindo ao luar aguardando a subida da maré para podermos prosseguir a viagem.

Quando chegámos a Bissau, rumámos para o Ilondé, de onde a CART 6250 regressou à Metrópole, tendo-me eu apresentado no Quartel Geral de Adidos para nova colocação.

Não satisfeito com a situação, e com a ajuda e intervenção de alguns amigos um pouco influentes, consegui contornar o problema e fui colocado no jornal “Voz da Guiné”, fazendo o meu tempo de tropa como se na vida civil se estivesse, pois não era obrigatório andar fardado.


Como revisor de redacção, ajudei a proceder à transferência de propriedade do jornal de Portugal para a Guiné, e ainda guardo, como prova de passagem por esse serviço, um exemplar de cada um dos últimos jornais impressos sobre a administração Portuguesa antes e depois da independência.

Igualmente guardo com muito carinho, um outro exemplar do jornal com o nome de “LIBERTAÇÃO“, já impresso sobre o controlo do PAIGC, no pós Independência da Guiné-Bissau, aí sim, já mesmo o chamado “ORGÃO INFORMATIVO DO P.A.I.G.C.”, reflectindo para a sociedade e a população em geral, os pensamentos, ideias, ideais e reflexões sobre a guerra da Independência nas ex-colónias e noutros países de pensamento e cariz político nitidamente na linha dita comunista.
Neste exemplar, e visando mesmo a influência da opinião pública, houve a transcrição do Testamento Político de Amílcar Cabral como fundador do Partido e a divulgação da Constituição Política da Guiné-Bissau, sendo o seu conteúdo meramente político-partidário.




Foi um processo pacífico de transferência de papelada, fotografias, máquinas e demais material ligado à impressão do jornal, incluindo as instalações e veículos, culminando assim de forma ordeira, sem contestações, nem provocações, a nossa presença naquele serviço.

Procurámos sempre manter-nos fiéis a uma linha de conduta e orientação programada e fiscalizada pelo seu director, pessoa afável, educada e de bom trato sempre pronto a ajudar e nada militarizado, mesmo anti-regime.

Acaso do destino, esse Director era um dos capitães de Abril, conhecido como capitão Duran Clemente, que veio a protagonizar mais tarde a voz da revolta na tomada da Televisão em Portugal quando do 25 de Novembro de 1974.

Com a sua ajuda, terminei a minha curta passagem por terras da Guiné, tendo regressado a Lisboa por via aérea na noite do famigerado 28 de Setembro de 1974.

Grande Abraço,
Benvindo Gonçalves
Fur Mil Trms,
CART 6250 (1974)
____________

Nota de M.R.:

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Camarada Benvindo Gonçalves, saudações Guinéuas, estiveste por locais por onde eu estive, será que após tantos anos não estarás equivocado, senão vejamos.
-Mencionas que saiste de Mampatá por via maritima (LDG), se bem me lembro o rio navegável mais próximo é o Rio Grande de Buba e que situa-se a cerca de 20Km.
-No meu tempo em 1968/69, em Aldeia Formosa a pista de aviação era de terra batida. Mas posteriormente e quando lá estiveste a mesma pista era revestida a asfalto
Tive conhecimento por intermédio de um Oficial e por fotografias.

Com um abraço
Arménio Estorninho
Ex-1ºCabo Mec. Auto,C.Caç.2381

Anónimo disse...

Tens toda razao camarada Arménio
Orio grande de Buba nunca foi até Mampatá,disso sou testemunha pois
vivi algum tempo nessas paragens

FORTE ABRAÇO

ZÉ MANEL CANCELA

Anónimo disse...

Olá Camarada!

Eu não disse que que o rio era em Mampatá, pois o aquartelamento era no meio do mato e atravessado pela estrada.
Disse que saimos por via marítima, sendo óbvio que fomos via BUBA, único local próximo com rio navegável, pois além de Aldeia Formosa (via avião), era a única alternativa de saída.
Portanto estou perfeitamente correcto nas afirmações que produzi.

Cordiais saudações
Benvindo Gonçalves

Anónimo disse...

Camarada Benvindo Gonçalves, saudações Guinéuas e amigas.
Deixa-me dizer-te que deste uma resposta precisa e concisa. Com um aparte pela tua facilidade em dares a volta ao texto com um "nim" deves falar muito com alguém que está na política.
Fim de citação.

Com um abraço
Arménio Estorninho

Antero Santos disse...

E para que "as coisas" fiquem certas, a pista de Aldeia Formosa não era um pequeno aeródromo em terra batida. Em 1972 era alcatroado e "poisavam" com regularidade além das avionetas e dos bombardeiros T6 Harvard, os Dakotas DC 6 e os Nordatlas (para estes não chegavam os 400 mts da maior parte das pistas da Guiné). A pista de Aldeia Formosa tinha 1.200 metros. Havia também, em Aldeia Formosa, um heli-porto, alcatroado. Além de Bissau e Aldeia Formosa,julgo que Cufar e Nova Lamego também tinham pistas alcatroadas (desde 1970).
Um abraço
Antero Santos