terça-feira, 19 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8133: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (5): A lepra (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 16 de Abril de 2011:

Caros amigos Luís e Vinhal.
Em anexo, envio mais um trabalho na sequência dos anteriores (“Doenças e outros problemas de saúde…”), desta vez sobre a Lepra (V).

Recebam um grande abraço mais votos da melhor saúde.
Rui Silva



2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã – Olossato – Mansoa 1965/67)

(I) Paludismo (P7012)
(II) Matacanha (P7138)
(III) Formiga “baga-baga” (P7342)
(IV) Abelhas (P7674)
(V) Lepra
(VI) Doença do sono

Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:
As 4 primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As 2 últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos - houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


LEPRA - V
Esta era a doença mais temível que sabíamos, ou pensávamos saber, existir na Guiné. Era a mais falada entre a malta quando ainda estávamos em Santa Margarida aonde a Companhia esteve algumas semanas antes de rumar ao cais de Alcântara para embarcar no Niassa para a Guiné. Ao falarmos das doenças que grassavam naquele território ultramarino, principalmente as contagiosas, e que teríamos de algum modo a estar expostos, a Lepra era aquela que mais temíamos, se bem que, camaradas antecessores, de nada falassem, ou até de que tivéssemos conhecimento de algum caso. Mas que ela existia sabíamos nós e, não menos, que era muito (?) contagiosa.

No entanto não conheci, nem conheço, embora leia ser uma doença de incubação muito longa, casos desta doença apanhada por militares que andaram pela Guiné, mas ela existia de facto e eu próprio vi muitos nativos, principalmente habitantes no interior do mato, que a tinham, principalmente nativos já com alguma idade avançada. Não tinham dedos nas mãos ou nos pés ou as duas coisas juntas como a foto seguinte ilustra. (Foto reproduzida com a devida vénia ao seu autor ou legítimo proprietário)

Os braços e as pernas acabavam em cotos, em alguns casos, embora não se vissem quaisquer feridas abertas ou úlceras.

Militares da 816 transportava-os às costas, quando trazíamos população encontrada isolada, nas chamadas operações de recolha de pessoal, algures no mato, para as povoações, (passava pelo trabalho da Companhia também esta tarefa de trazer gente do mato para as povoações, pois para além de ficarem sob a nossa jurisdição, portanto fora da alçada do inimigo, era ali que eles tinham meios de uma melhor sobrevivência e qualidade de vida, incluindo assistência médico-medicamentosa), no caso para Bissorã ou para o Olossato que foram, principalmente, as povoações aonde a Companhia esteve temporariamente aquartelada. Sabíamos também que estas povoações “clandestinas” colaboravam, obviamente, com o inimigo Ninguém era abandonado, quer fosse idoso, doente ou deficiente. Era ponto de honra para o Comandante da Companhia.

A miséria e a promiscuidade era muita, principalmente no interior e nas povoações, agora e para nós clandestinas, aonde a assistência sanitária era nula.

Embora nas povoações com tropa, aonde habitualmente havia uma enfermaria militar, os indígenas tinham medo ou relutância ou ainda por convicções religiosas de recorrer àquelas. Só à força ou à ordem do Chefe de Posto ou da Administração a isso os obrigava.

Lembro-me de ver um nativo à porta da enfermaria em Mansoa, que ali foi levado compulsivamente para ser tratado adequadamente, que tinha um buraco numa perna com o tamanho de uma bola de ténis.

O enfermeiro tirou daquele buraco toda a espécie de ervas e terra lamacenta.

Os nativos viam-se assim sujeitos a confiarem nas propriedades terapêuticas de ervas, mezinhas e outras coisas tais, que a natureza, pelo menos esta, lhes dava, embora não fosse bem para aquilo que o referido nativo necessitava para o seu caso.

Cozer um profundo golpe numa perna a um rapazinho nativo, em Bissorã, foi, para este e família, o fim do mundo, mas, passados uns dias, com uma leve cicatriz, ele já saltava com os outros ali mesmo na cara do enfermeiro milagreiro.

Afinal há pouco tempo é que soube, que a cerca de 10-12 quilómetros de Bissau existia uma Leprosaria, mais tarde assistida por abnegados missionários italianos, isto nos anos cinquenta e, depois, mais tarde, é então edificado um hospital, já nos anos 60.

Portanto a Lepra era uma doença na Guiné com assistência, no possível, para a época e no sítio que era, há mais de 50 anos.

Também sobre a Leprosaria de Bissau, o estimado camarigo Correia Nunes poderá acrescentar algo, pois colaborou lá na construção de uma Escola de Carpintaria para ensinar as crianças.

Posição geográfica de Cumura – entre Bissau e Prábis, a cerca de 12 quilómetros de Bissau.
Imagem do Google


Seguem dois interessantes artigos sobre a Leprosaria de Cumura. Um, o primeiro, reproduzido do site www.uniao-missionaria-franciscana.org e o outro, com data de 2009, também reproduzido, este da Gazeta de Notícias (www.gaznot.com).

Reproduções aqui feitas com a devida vénia para com tais entidades.

LEPROSARIA DE CUMURA

CUMURA: A Lepra não é maldição dos céus!

1. Local:

A 10 quilómetros de Bissau, na estrada de Prábis, situa-se a Missão Católica de Cumura, bem conhecida em toda a Guiné-Bissau, sobretudo pela sua leprosaria, que neste momento é referência única para o país de Amílcar Cabral e referência assinalada para alguns países vizinhos (Senegal, Guiné-Conakry, Gana), já que também de alguns deles acorrem doentes do Mal de Hansen a procurar tratamento conveniente.



2. Categoria da actividade:

Esta actividade enquadra-se na categoria de projectos de intervenção social na área da saúde, educação e formação.


3. Finalidades e objectivos:

A missão de Cumura tem uma actividade multi-facetada (leprosaria, hospital geral ambulatório, escolas primária e liceal, actividades paroquiais, etc.), mas é conhecida sobretudo pelo seu valioso trabalho com os leprosos. Este trabalho teve um salto qualitativo após a vinda dos Franciscanos italianos de Veneza (1955), que ampliaram em muito os inícios de assistência aos leprosos em Cumura, tentada pela administração colonial portuguesa.

Actualmente, a leprosaria de Cumura dispõe dum conveniente laboratório de análises, bem como dos serviços de fisioterapia, oftalmologia, lavandaria, sapataria, nutrição e dietética, sempre em ligação com as necessidades dos doentes hansenianos. Assiste uns 50 internados e trata em regime ambulatório muitas dezenas de doentes.

Por razões de caridade cristã, dada a insuficiência ou incapacidade dos serviços de Saúde pública, em Cumura começou também a dar-se assistência quer a doentes terminais de SIDA (cerca de 150 internados em 2006, uns 70 admitidos para antiretrovirais e cerca de 400 seguidos em ambulatório, no mesmo ano), quer a doentes de tuberculose (em 2006 houve internamento temporário de uns 45 doentes e tratamento ambulatório de 145 doentes).

De tal modo o trabalho assistencial de Cumura se impôs à população das redondezas, que à volta da missão-leprosaria se foi implantando uma nova povoação, já que as pessoas se sentiram protegidas pela presença missionária. Hoje Cumura tem duas aldeias, contíguas mas distintas: “Cumura Pepel e Cumura-Padres”! A fixação confiante da população à volta da missão é o melhor prémio para a acção missionária aí realizada e é também uma espécie de grito silencioso mas eloquente: “ A lepra tem cura, não é uma maldição dos céus contra ninguém”!


4. Responsável:

A Custódia de S.Francisco da Guiné com o seu Custódio Frei João Dias Vicente.


5. Donativos:

A União Missionária Franciscana abraçou esta projecto desde o início e são necessários apoios a nível monetário para suprir os investimentos que vão sendo feitos de forma a melhorar as condições de tratamento dos leprosos. Os contributos monetários a este projecto podem ser feitos em vale do correio/cheque ou por transferência bancária BPI : NIB 0010 0000 26140490002 14, indicando a que fim se destina (Leprosaria de Cumura). Todos os apoios cedidos gozam de dedução fiscal, ao abrigo da “lei do mecenato” (artigos 39.º e 40.º do código do IRC e do artigo 56.º do código do IRS).

Contacto:
União Missionária Franciscana (Leprosaria de Cumura)
Convento da Portela
Rua dos Mártires, 1
Apartado 1021
2401-801 Leiria

União Missionária Franciscana

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HOSPITAL DE CUMURA : CINQUENTA E CINCO ANOS AO SERVIÇO DO POVO

(20-7-2010) O Hospital de Cumura, na vanguarda da luta contra o mal de Hansen há mais de 55 anos, hoje na luta contra tuberculose e VIH-Sida, é das estruturas hospitalares mais conhecidas da Guiné-Bissau.

Situado a 12 quilómetros de Bissau, ao longo da sua existência tem acolhido doentes de todas as partes da Guiné-Bissau e além fronteiras. As suas actividades têm sido marcadas não só pela cura das pessoas afectadas pela lepra mas também em termos de assistência social prestada pelos missionários na sua recuperação e reintegração. O falecido Bispo D. Settimio Ferrazzetta foi dos missionários que trabalharam em Cumura logo após a sua chegada a Guiné nos anos 50.

“Os missionários chegaram em Cumura, na Guiné-Bissau em 1955, enviados pelo Papa PIO XII, para tomarem conta dos doentes de lepra que viviam isolados numa grande reserva chamada Cumura, mais ou menos abandonados a si mesmo”, começou por explicar a GN, a Irmã Valéria, administradora deste estabelecimento hospitalar muito procurado por doentes de todo o país.

Esta responsável explicou ainda que com a presença dos missionários e “muito devagar” foi se iniciando uma verdadeira cobertura ao serviço da lepra “e não muito tarde depois também ao serviço das famílias dos doentes de lepra. Logo sem grande demora, começamos a sentir a necessidade de servir e proteger os grupos mais vulneráveis da população entre as quais as crianças e as mulheres sobretudo em idade fértil ou durante o período da gestação, parto e pós-parto”.


Especialidades

Solicitada a falar sobre as especialidades que o hospital atende, a Irmã explicou que as suas intervenções são muito amplas.

“Como disse, tudo se iniciou em torno dos doentes de lepra que naquele tempo tinha uma incidência muito menor”, adiantando que devagar foi surgindo a necessidade da consulta geral aos adultos. Daí começaram a desenvolver a assistência pediátrica e assistência da maternidade, pré-natal e pós-parto.

Para responder a procura de que o hospital era alvo, foram criadas duas estruturas sanitárias, uma para atender a lepra e outra para a clínica geral “onde tínhamos a maternidade, a pediatria e algumas camas para adultos. Assim fomos adiante por algumas décadas.”

Na ultima década, 2000 para cá, quando foi avançando o VIH/Sida e a tuberculose, foram obrigados, de acordo com as necessidades das populações, a se abrirem para algumas emergências e uma melhor cobertura da maternidade.

A irmã Valéria assegurou no entanto que a assistência ao parto, pós-parto e pré-natal quadruplicou nos últimos anos, “ o que nos levou a organizar para dar assistência de guarda aos doentes de VIH/ Sida e da tuberculose.” Revelou que actualmente estão com um movimento “talvez seja o maior no país, que alberga doentes de sida seguidos regularmente em tratamento ambulatório e, igualmente, um grande número de doentes de tuberculose seguidos anualmente.”

Em primeiro plano, julgo tratar-se da irmã Valéria


No concernente ainda a matéria de HIV/sida, a Irmã explicou que vão se organizando na assistência as crianças com HIV/sida congénita e a tuberculose. Segundo esta responsável, “o serviço que está produzindo muito bons frutos é o PTNF (prevenção de transmissão vertical), na qual entram todos os gestantes diagnosticados como seropositivos que são colocados no programa de facilitação da defesa da criança de forma a não ser contaminada pelo HIV/sida. Esta intervenção vai de quatro meses da gestação até os dezoito meses depois do parto.”


Estrutura

Quando solicitada a falar da forma como se organizam para atender os pacientes e manter um funcionamento adequado às diferentes especialidades, a administradora do hospital de Cumura disse que “hoje o movimento é grande”, têm um grande volume “não só de doenças agudas como também de doenças crónicas” que exige uma verdadeira organização e seguimento bem conduzido. Por isso estruturaram o hospital da seguinte forma: direcção clínica, serviço da enfermagem e médica e o serviço de apoio e diagnóstico. Dentre eles figuram o laboratório de análise clínica, serviços da radiografia e da ecografia e a administração. Também contam com outros serviços de apoio como a lavandaria, serviços de refeições, limpeza e jardinagem.

“Todos são serviços correlatos a necessidade de uma organização de forma a oferecer as condições essenciais adequadas”, enfatizou.


Dificuldades

Instada a falar sobre os constrangimentos com que se deparam nas suas actividades, a Irmã foi peremptória: “é bom saber que há grandes dificuldades em se organizar, no controlo dos serviços sociais, mas à medida das necessidades, da saúde e a educação, por exemplo. É claro que não será possível levar adiante esta máquina com tantas dificuldades”.

Apontou que a primeira dificuldade é que não podem contar com o apoio das autoridades que não dão conta e não estão conseguindo enfrentar estas dificuldades nas estruturas hospitalares estatais muito menos nos privados.

Explicou que têm enormes dificuldades que vão desde os parcos recursos financeiros, materiais, até aos medicamentos. Adiantou que na Guiné-Bissau, as grandes dificuldades são de abastecimento a curto prazo. Para conseguir os materiais, têm que ter uma previsão de três, quatro a cinco meses. “É uma situação bastante difícil”, lamenta Irmã Valéria. “Procuramos nos organizar para podermos contar com os seguimentos necessários para garantir uma continuidade de assistência aos doentes” informa a Irmã para concluir que isso é lhes não permite ter uma “ruptura de stock”.

Quanto aos recursos financeiros, disse que contam bastante com os seus voluntários, com a Direcção-geral dos Padres Menores e também com Irmãs e alguns organismos.

Esta responsável sublinha que uma das organizações que tem “apoiado muito” o Hospital de Cumura é a Cooperação Portuguesa. No entanto aponta que “ao longo destes anos começa a se fazer presente com alguma ajuda, o Secretariado Nacional de Luta contra a Sida, com aquilo que se refere ao VIH/sida que hoje abrange a maior parte dos nossos serviços aqui em Cumura”.


Medicamentos

Actualmente o maior fornecedor de medicamentos a este hospital é a IDA Fundation da Holanda.


Evacuação

No tocante a evacuação dos doentes para o exterior do país, a Irmã Valéria conta que “nós não temos programas de evacuação dos pacientes. Particularmente, não trabalhamos com isso”.


Pessoal e camas

Falando dos recursos humanos, ela diz que “quanto ao número de pessoal, estamos com 110 elementos, contando com os profissionais dos serviços de apoio.”

Em termos de capacidade de internamento, a Irmã assegura que na primeira estrutura, que é o hospital do mal de Hansen (lepra), que hoje não é mais a leprosaria mas sim uma parte aberta aos doentes de lepra e que pode ser chamada também de estrutura ao serviço de doenças infecto-contagiosas, “estamos em torno de 90 camas”.

A segunda estrutura onde atendem o maior número de gestantes e crianças, tem 45 camas.

Nautaram Marcos Có
Gazeta de Notícias

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LEPRA - Explicação científica da doença
- extraído, com a devida vénia, de: www.manualmerck.net

A lepra (doença de Hansen) é uma infecção crónica, causada pela bactéria Micobacterium leprae, que lesa principalmente os nervos periféricos (aqueles nervos localizados fora do cérebro e da espinal medula), a pele, a menbrana mucosa do nariz, os testículos e os olhos.

A forma de transmissão da lepra não é conhecida. Quando um enfermo não tratado e gravemente doente espirra, as bactérias Mycobacterium leprae dispersam-se no ar. Cerca de metade das pessoas com lepra contraíram-na, provavelmente, através do contacto estreito com uma pessoa infectada. A infecção com Micobacterium leprae provavelmente também provirá da terra, do contacto com tatus e mesmo com mosquitos e percevejos.

Cerca de 95% dos indivíduos expostos ao Mycobacterium leprae não contraem a doença porque o seu sistema imunitário combate a infecção. Naqueles em que isso acontece, a infecção pode ser de carácter ligeiro (lepra tuberculóide) ou grave (lepra lepromatosa. A forma ligeira, ou seja a lepra tuberculóide, não é contagiosa.

Mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pelo Mícrobacterium leprae. A lepra é mais frequente na Ásia, na África, na América Latina e nas ilhas do Pacífico. Muitos dos casos de lepra nos países desenvolvidos afectam pessoas que emigraram de países em vias de desenvolvimento. A infecção pode começar em qualquer idade, mais frequentemente entre os 20 e os 30 anos. A variedade de lepra grave, a chamada lepra lepromatosa, é duas vezes mais frequente entre os homens do que entre as mulheres, ao passo que a forma mais ligeira, denominada tuberculóide, é de igual frequência num e noutro sexo.


Sintomas

Devido ao facto de as bactérias causadoras da lepra se multiplicarem muito lentamente, os sintomas não começam habitualmente antes de um ano, pelo menos, após a pessoa se ter infectado; o usual é mesmo surgirem de 5 a 7 anos mais tarde e amiudadas vezes muitos anos depois. Os sinais e sintomas da lepra dependem da resposta imunológica do doente. O tipo de lepra determina o prognóstico a longo prazo, as possibilidades de complicações e a necessidade de um tratamento com antibióticos.

Na lepra tuberculóide, aparece uma erupção cutânea formada por uma ou várias zonas esbranquiçadas e achatadas. Estas áreas são insensíveis ao tacto porque as micobactérias lesaram os nervos.

Na lepra lepromatosa, aparecem sobre a pele pequenos nódulos ou erupções cutâneas salientes, de tamanho e forma variáveis. O revestimento piloso do corpo, incluindo as sobrancelhas e as pestanas, desaparece.

A lepra limítrofe (borderline) é uma situação instável que partilha características de ambas as formas. Nas pessoas com este tipo de lepra, a doença tanto pode melhorar, caso em que acaba por se parecer com a forma tuberculóide, como piorar, circunstância que resulta mais parecida com a forma lepromatosa.

Durante a evolução da lepra não tratada ou mesmo naquela que, pelo contrário, recebe tratamento, podem verificar-se certas reacções imunológicas que por vazes produzem febre e inflamação da pele, dos nervos periféricos e, com menor frequência, dos gânglios linfáticos, das articulações, dos testículos, dos rins e dos olhos. Dependendo do tipo de reacção e da sua intensidade, o tratamento com corticosteróides ou talidomida pode ser eficaz.

O Mycrobacterium leprae é a única bactéria que invade os nervos periféricos e quase todas as suas complicações são a consequência directa desta invasão. O cérebro e a espinal medula não são afectados. Devido ao facto de diminuir a capacidade de sentir o tacto, a dor, o frio e o calor, os doentes com lesão dos nervos periféricos podem queimar-se, cortar-se ou ferir-se sem se darem conta. Além disso, a lesão dos nervos periféricos pode causar debilidade muscular, o que por vezes faz com que os dedos adoptem a forma de garra e se verifique o fenómeno do “pé pendente”. Por tudo isso, os leprosos podem ficar desfigurados.

Os afectados por esta doença também podem ter úlceras nas plantas dos pés. A lesão que sofrem os canais nasais pode fazer com que o nariz esteja cronicamente congestionado. Em certos casos, as lesões oculares produzem cegueira. Os homens com lepra lepromatosa podem ficar impotentes e inférteis, porque a infecção reduz tanto a quantidade de testosterona como a de esperma produzido pelos testículos.


Diagnóstico

Certos sintomas, como as erupções cutâneas características que não desaparecem, a perda do sentido do tacto e as deformações particulares derivadas da debilidade muscular, constituem as chaves que permitem diagnosticar a lepra. O exame ao microscópio de uma amostra de tecido infectado confirma o diagnóstico. As análises de sangue e as culturas não se mostram úteis para estabelecer o diagnóstico.


Prevenção e tratamento

No passado, as deformações causadas pela lepra conduziam ao ostracismo e os doentes infectados costumavam ser isolados em instituições e colónias. Em alguns países esta prática continua a ser frequente. Apesar de o tratamento precoce poder evitar ou corrigir a maioria das deformações mais importantes, as pessoas com lepra estão propensas a sofrer de problemas psicológicos e sociais.

O isolamento, contudo, é desnecessário. A lepra só é contagiosa na forma lepromatosa quando não recebe tratamento, e mesmo nesses casos não se transmite facilmente. Além disso, a maioria das pessoas tem uma imunidade natural face à lepra e só aqueles que vivem próximo de um leproso durante muito tempo correm o risco de contrair a infecção. Os médicos e as enfermeiras que tratam dos doentes com lepra não parecem estar mais expostos do que as restantes pessoas.

Os antibióticos podem deter o avanço da lepra ou mesmo curá-la. Dado que algumas das micobactérias podem ser resistentes a determinados antibióticos, o médico pode prescrever mais do que um medicamento, em especial para os afectados pela lepra lepromatosa. A dapsona, o antibiótico mais frequentemente utilizado para tratar a lepra, tem um preço relativamente acessível e, em geral, não tem efeitos secundários; apenas em alguns casos produz erupções cutâneas de natureza alérgica e anemia. A rifampicina, que é mais cara, é inclusivamente mais forte que a dapsona; os seus efeitos colaterais mais graves são a lesão hepática e sintomas semelhantes aos da gripe. Outros antibióticos que podem ser administrados aos leprosos incluem a clofazimina, a etionamida, a minociclina, a claritromicina e a ofloxacina.

A antibioterapia deve ser continuada durante muito tempo, porque as bactérias são difíceis de erradicar. Dependendo da gravidade da infecção e da opinião do médico, o tratamento pode ser mantido por um período que oscila entre 6 meses e muitos anos. Muitas pessoas afectadas de lepra lepromatosa tomam dapsona o resto da sua vida.

Segue: Doença do Sono
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8073: Convívios (223): Pessoal da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, e Mansoa, 1965/67) dia 7 de Maio de 2011 em Barcelos (Rui Silva)

Vd. último poste da série de 26 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7674: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (4): As abelhas (Rui Silva)

5 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Rui Silva,
Infelizmente ou não, sei das grandes dificuldades existentes no Hospital de Cumura.
Sou amiga de um médico "José Manuel Furtado", que este ano esteve nesse hospital numa missão de voluntariado e fez várias operações. A empresa onde trabalho, enviou um contentor com muitos bens necessários para a missão.
Ainda existe gente com bom coração neste Portugal.
Parabéns pelo poste, é digno de ser lido. relido e meditado.
Com amizade
Filomena

Rui Silva disse...

Cara Filomena:
Agradeço os seus parabéns assim como a atenção que deu ao referido Poste.
De facto ainda há muita gente boa e que ajuda o seu semelhante. Infelizmente o egoísmo e o materialismo, predicados no tempo de hoje, faz ainda cavar mais o fosso entre os ricos e os necessitados e infelizes.
O povo massacrado e explorado, ao longo de séculos, da Guiné, merece todo o auxílio.
Ainda bem que há várias organizações de ajuda à Guiné, principalmente feita por antigos combatentes naquela ex-província (colónia) portuguesa.
A minha singela homenagem ao médico Dr. Furtado, mais de enaltecer pela sua missão em voluntariado.
Passe bem Filomena
Com amizade
Rui Silva.

Anónimo disse...

Caro camarigo Rui Silva
Parabéns pelo texto, que em termos científicos está correcto.
Só quero fazer um pequeno esclarecimento, a lepra não é uma doença exclusivamente tropical,muita gente não sabe mas em Portugal ainda existe.
Estive como voluntário da AMI na Guiné em 98 e observei algumas pessoas com lepra. Infelizmente na Guiné continua a ser uma doença endémica.
Um alfa bravo
C.Martins

Luís Graça disse...

Parabéns, Rui, pela tua série sobre doenças que nos afligiam, a nós, militares, mas também e sobretudo a população da Guiné daquele tempo... Falaste do Hospital da Cumura, e fizeste bem. Vou publicar fotos e apontamentos da visita que o meu filho fez lá, em 14/12/2009...Conheceu lá um irmão franciscano, português, médico, que tirou o curso de medicina na mesma faculdade (FCM/UNL)...

Sobre a lepra, deixa-te dizer-te o seguinte: na Idade Média (e até tarde), devido ao terror infundido pela doença e à crença infundada no contágio pela simples presença do leproso, os doentes (alguns portadores de simples afecções cutâneas!) eram apartados da comunidade e da família, despojados dos seus bens, submetidos a um macabro simulacro de funeral em vida, além de serem obrigados a viver da caridade, a usar um vestuário distintivo e a fazer-se anunciar através do toque de matracas, junto às povoações e nas vias públicas.

Hoje sabemos que a doença só é transmitida por contacto físico íntimo (por ex., entre mãe e filho). Mas na altura o conhecimento médico da doença era grosseiro, o que explica os erros de diagnóstico cometidos e o radicalismo das soluções adoptadas pelo Ocidente cristão, na Idade Média. Os suspeitos eram então examinados por júris, compostos por autoridades civis e religiosas, incluindo um médico ou um cirurgião.

A lepra era, na Idade Média, "a Doença por excelência": no baixo latim "infirmus" (doente), tal como "malaud" na langue d'oc, assumia por vezes o sentido específico de leproso.

Causada pelo bacilo "Mycobacterium Leprae" (só identificado em 1874 pelo norueguês Hansen), a lepra era conhecida desde a Antiguidade (vd. por ex., Bíblia, Levítico, XIII);

Desde o Séc. VI, diversos concílios (Orleães, Arles, Lyon) recomendavam o isolamento dos doentes, se bem que na altura a lepra ainda fosse endémica. Com as Cruzadas (as tentativas de reconquista cristã da Terra Santa), aumentou consideravelmente o número de leprosos e, em consequência, multiplicaram-se as leprosarias ao ponto de terem existido em França mais de duas mil, por volta de meados do Séc. XIII.

A partir do Séc. XV, esta terrível doença que marcou o imaginário medieval, tenderá a regredir no Ocidente, graças em grande à segregação sócio-espacial (e sexual) dos doentes.

A desafectação progressiva das leprosarias vai, por seu turno, fazer aumentar a rede hospitalar, nomeadamente em países como a França.

Vd.http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos34.html

Anónimo disse...

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