quarta-feira, 15 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8424: Onde já vai o tempo das Rações de Combate tipo E? (José Martins)


1. Em mensagem do dia 11 de Junho de 2011, o nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), mandou-nos este curioso trabalho sobre as rações de combate actuais.


Onde já vai o tempo das Rações de Combate Tipo E?

Quem ainda se lembra, pode comparar!
Aproveitando a ida a Belém, adquiri uma Ração Individual de Combate – NATO APPROVED – e fabricada para a Força Aérea Portuguesa, por uma empresa espanhola, em Alicante.


A caixa deixou de ser castanha, tem novo visual.

Pequeno almoço:
Cacau com açúcar, 18 gramas; leite em pó, 15 gramas; bolacha doce, 125 gramas; geleia de fruta, 2 embalagens de 20 gramas cada.

Almoço:
Jardineira de feijão, 145 gramas; paté de fígado, 65 gramas; doce de maçã, 50 gramas.

Jantar:
Massa Bolonhesa, 400 gramas; sardinhas em óleo, 115 gramas.

Complementos alimentares:
Bolachas de água e sal, 2 embalagens de 120 gramas; sumo de fruta em pó, 2 carteiras de 20 gramas; açúcar, 2 pacotes de 10 gramas; sal, pacotes de um grama; chocolate, 2 barras de 25 gramas; chiclete, 2 unidades; caramelos, 4 rebuçados.

Complementos não alimentares:
Comprimidos purificadores de água, 4 unidades; pastilhas inflamáveis, 6 unidades; dispositivo de aquecimento, uma chapa moldável; carteira de fósforos; talheres de plástico; saco para lixo.

Instruções de montagem do dispositivo de aquecimento, disponível em francês e inglês.
Quem não dominar estas línguas não terá problemas, dado que o português é, por definição, desenrascado.

Curiosidades:

A “tenda” onde adquiri a ração de combate, já de que uma tenda de campanha se tratava, era supervisionada por uma Major. Como caixa tinha uma Capitão, e os/as assistentes, Soldados.

E, já agora, o preço de venda ao publico: 11,00 euros, que, traduzindo para escudos ao valor “cambial” de 1 € = 200$482, dará 2.205$30.

Recuemos ao dia 31 de Outubro de 2008, dia em que o blogue do Luís Graça e o UTW, publicaram um texto sobre os vencimentos dos militares, em campanha, baseado nos elementos recolhidos na página 211, com data de 24 de Julho de 1965, no livro do nosso camarada Inácio Maria Góis “O meu Diário” GUINE – 1964/1965, Soldado da Companhia de Caçadores nº 674.


Utilizando o mesmo coeficiente de desvalorização da moeda (para o ano em questão (1965) o coeficiente é de 60,93), e uma vez que a variação de 2008 para 2010 é irrelevante (0.95%), o custo da Ração de Combate à época, com base no valor actual, seria de € 6,83 € ou seja 1.369$29.

Se a alimentação fosse paga por cada um, tínhamos de pedir dinheiro para casa, para comer!

José Marcelino Martins
Texto e fotos
10 de Junho de 2011.




Capa do livro do nosso camarada Inácio Maria Góis,
O Meu Diário: Guiné 1964/66. Companhia de Caçadores 674.
Edição de autor.
Mineira, Aljustrel.
2006





____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2011 > Guine 63/74 - P8404: Efemérides (51): No dia 10 de Abril de 2011, Loures homenageou os seus combatentes (José Martins)

11 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro José Martins

Tudo bem.. acho muito interessante estas comparações.
O meu posto era Soldado de Tranmissões Condutor Auto.
Na tabela de vencimentos apresentada refer, tanto para condutor como para Transmissões um prémio de 150$00.
Juro que nunca recebi um centavo de prémio. A razão desconheço...ou será que isso não era válido para todas as Companhias ? Quem me explica..!

Um abraço

Artur Conceição

Juvenal Amado disse...

Meu caro José Martins

O que gostei mais desta tua discrição foi da major que te vendeu a ração e a capitão que estava de serviço à caixa registadora.
No nosso tempo o major seria 2º comandante de um batalhão e o capitão comandante de companhia.
Estava lá algum general?
Se estava o que ele estava a fazer?
Um dia destes ou será arrumador ou mestre sala.
Num país que é um autêntico cortejo de misérias como as que acabei de ver na RTP1, em que há militares à espera de ver resolvida a situação deles à 11 anos, termos um major a vender rações de combate é no mínimo caricato.
Quanto aos generais os de ontem e os hoje está tudo dito.

Correia Nunes disse...

Pois é meus Camarigos VOssas EXlências esqueceram que é material importado,ração espanhola,mais ao gosto portugalés,instruções em inglés/francés,então a malta desenrrasca tásse a ver,entretanto fecharam a Manutenção Militar,e demais estabelecimentos Militares e compra-se no exterior é chique e ajuda a industria nacional de alguns que embolsam uns milhares nos concursos de faz de conta.
Jose Nunes BENG447

Anónimo disse...

Camarigo José Martins.

Em boa verdade digo, que é de bom visitar a Espanha, mas quanto à comidinha não é de recomendar e devido a uma arte de cozinhar de sabores feitos a martelo.

O meu vizinho Sargento Rodrigues pediu-me para enviar saudações, sempre recorda os tempos passados em Cajandude.

Com um Abraço
Arménio Estorninho

António Tavares disse...

Camarigos,
No meu tempo os Sargentos QP eram os donos do patacão/contas.
Talvez conhecessem somente a Tabuada de Diminuir.
Majores e Capitães tinham outras funções.
Um TCor entrevistado, na RTP1, nada disse de práctico e útil aos HOMENS ex-COMBATENTES que com certeza, deram a entender, aguardam a morte em Portugal há 9 anos, faz em 06SET2011, como disse um ex-enfermeiro que entrou na Operação Mar Verde. Um outro Guinéu recebe a pensão de €189, vive num quarto, sem luz, de uma pensão e de esmolas dadas por camaradas das Guerras Coloniais que o conheceram em África. Foi combatente em 1971/73 em Guidaje.
Que mais dizer?

Luís Dias disse...

Camarigo José Martins

Sei que os vencimentos que postaste foram retirados de um livro de outro camarada. Vê-se que não eram grande coisa, muito em especial para a classe dos praças. No caso dos Alferes e se bem me lembro (tenho isso na ideia)o vencimento não ultrapassava os 8 500$00, não atingindo os tais 9 000$00.
Com um abraço
Luís Dias

Sotnaspa disse...

Camaradas

Tambem estive na dita tenda e dei para pagar 1,80 € por uma bejeca e dois rissóes em miniatura, à Sra. capitão.
De facto até é uma honra para nós, sermos atendidos por tão alta patente com uma caixa registadora pelo meio.
Quanto ao vencimento, em 1972 eu soldado de transmissões recebia em meses de 30 dias 960,00 e quando os meses eram mais compridos tocava-me 991,00 escudos.
Agora nunca recebi prémio algum pela especialidade mais, assim que cheguei a Nova Lamego, fui enviado para o centro de mensagens para desempenhar as funções de operador do mesmo, que normalmente era tarefa para 1º cabo, mas como um batalhão só tinha um 1º cabo e era trabalhinho para quatro pessoas, eram recrutados mais três voluntários sem mais regalias.
Também não sei se era o estado que poupava este dinheiro ou se ficava "perdido" nalgum bolso algures.
Peço desculpa mas, desta vez mandei-me para fora de pé, escrevi talvez em demasia, espero não maçar ninguém.
Um Grande Alfa Bravo para todos.

ASantos
Spm 2558

Pardete Ferreira disse...

1 - Eu só gostaria de uma informação: onde é que foram buscar os 9.000$00 para o Alferes: em Campanha não me lembro de mais de 7.400$00! Se calhar estou enganado.
2 - Talvez a ração de combate tipo E ainda matasse a fome a muito boa gente nos tempos que correm.

José Marcelino Martins disse...

Caros camaradas, por ordem de intervenção/comantário, Artur Conceição, Luis Dias, António Santos e Pardete

Acerca dos vencimentos e prémios que foram descritos neste post, foram retirados do livro do nosso camarada Inácio Maria Gois, cuja leitura recomendo, porque achei que o livro foi escrito com naturalidade e autenticidade.

Tomei conhecimento do livro porque o escritor René Pelissier, escritor francês, solicitou ao blog o contacto do autor.

Creio que o livro foi publicado com o apoio da Junta de Freguesia de Porto Covo.

Quanto ao Arménio Estorninho, peço-te que leves ao Fernando Rodrigues um grande abraço meu.

Joaquim Mexia Alves disse...

Este comentário do Pardete Ferreira vem ao encontro de um coemntário que eu ia também fazer.

Andava à procura de um recibo de vencimento da Guiné, (que eu sei que tenho em qualquer parte) para enviar, pois o vencimento de um Alf Mil. em quadricula era em 72/73 da ordem dos 7.500$00.

Assim que o encontrar darei a conhecer.

Um abraço para todos

Torcato Mendonca disse...

Quando o Brigadeiro Spínola chegou á Guiné, Maio/68, fomos aumentados substancialmente. Não recordo os números, ´não chegava aos sete.

O que me causou espanto foi a qualidade das Rações Tipo E.
As nossa teriam chouriço de porco, linguiça de porco...outras lata de conserva de sardinha,cavala ou,raramente, polvo ou outra.Os muçulmanos estavam ainda mais tramados. Claro que acrescia uma lata de leite com chocolate, frutas cristalizadas (benéficas para aumentar a sede),nogat e o raio que os parta. Apanhei outra boas por excepção e em lugar e ocasião que não interessa agora.

Preferíamos,para um dia, levar casqueiro com chouriço!e uma lata de uma "droga" qualquer.
Comer uma mandioca, beber água...bem bom, o pior era a saída...uma trinca de cola. gole de ´´agua e surde Ká tem...

Ab T