domingo, 22 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15395: (Ex)citações (300): (i) Conheci de perto, em Alhandra, o Conjunto Académico João Paulo... Ouvi-os ensaiar vezes sem conta... Fiquei farto... Mesmo assim preferia-os a eles a ter que ouvir, até à exaustão, nos "rangers", em 1966, o "Sambinho Chato" e o "Et Maintenant" (Mário Gaspar); (ii) link com a canção "O Salto" (EPI, Mafra, 1966) (Inácio Silva)

Mário Gaspar, ex-fur mil at art 

MA, CART 1659 (Gadamael 
e Ganturé, 1967/68)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Vitorino Gaspar, com data de ontem, respondendo a um apelo nosso, ao pessoal da Tabanca Grande, para nos mandar fotos, histórias e memórias de/com o Conjunto Académico João Paulo,  cujos seis elementos fizeram a tropa ao mesmo tempo, "pagando" em digressões pelo Ultramar (Guiné incluída) o tempo de serviço militar... [, Dizem que por sugestão, "cunha" ou conveniência do Movimento Nacional Feminino: na realidade, sempre era melhor tocar e cantar para os combatentes, mesmo nos quarteis do mato,  do que andar com a canhota pelos matos e bolanhas da Guiné...]



Caros Camaradas

Em abril de 1968 (*) eu estava em Gadamael Porto e tinha perdido o meu melhor amigo que ficou com um buraco na barriga, os membros pendurados por fios e pedia aos camaradas que lhe dessem um tiro. Ainda foi assistido mas morreu, ele o furriel miliciano Vítor José Correia Pestana e o soldado António Lopes da Costa. 

Para cúmulo "mortos por acidente", foi o mesmo “acidente” que levou o Lobato a sair de Conacri com os camaradas na “Operação Mar Verde”, regressar a Lisboa e voltar a Gadamael Porto, dizendo ter fugido. 

Conheci de perto o Conjunto João Paulo (*). Os ensaios deles eram ao lado do meu quarto, na casa dos meus pais, em Alhandra, mesmo ao lado do Cineteatro Salvador Marques.

Voltei a vê-los no Monumental, em Lisboa - uma boa obra arquitectónica que desapareceu por culpa de alguém - ou num Carnaval ou Fim-de- Ano. Actuou uma cantora sul-sfricana, julgo que Vicki era o seu nome. 

Ouvi-os a ensaiar, vezes sem conta, e altos berros. O representante do Conjunto era madeirense e explorava os Cinemas de Alhandra, Póvoa de Santa Iria e Sacavém, pelo menos.

Até fiquei farto. Na Gadamael queriam que visse “Rapazes de Táxi”, com Tony de Matos e António Calvário. Foi a oportunidade que tive. Verdade seja dita ser mais agradável escutá-los que aturar nos Rangers em 1966 o “Sambinha Chato” e o “Et Maintenant”.

É chato chato, muito chato o "Sambinha chato", muito chato, e o "Sambinha chato" é chato, muito chato o "Sambinha chato". Isto repetido. “Et Maintenant” era engraçado, mas repetido era uma chatice.

Abraços, 

Mário Vitorino Gaspar

2. Nota do Carlos Vinhal:

Caro Luís:

Mais uma composição do Conjunto Académico João Paulo,  enviada pelo nosso amigo e camarada Inácio Silva, também ele um ilustre madeirense, como sabes [, foi 1.º cabo, ap armas pes, CART 2732, Mansabá, 1970/72] [, foto à direita].

Caro Carlos Vinhal:

Correspondendo ao teu pedido, ainda que parcialmente, aqui vai um link (se é que já não o tens), da músico "O Salto" [, composta em Mafra, em 1966, e que tem subjacente uma crítica à instrução militar da época]: https://www.youtube.com/watch?v=sKPOmeGuDHs

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Caros amigos e camaradas

Do Conjunto Académico João Paulo só me lembro de os ouvir na rádio. Talvez também em algum programa de televisão, mas não tenho memória disso.
Como já referi em comentário anterior, noutro post, contactei de perto com outros músicos de outros conjuntos que viveram essa época dos "concursos yé-yé" no Monumental, músicos e conjuntos que não tiveram a sorte de não terem sido desfeitos.

Por acaso, as referências do Mário Gaspar ao "Sambinha chato" e ao "Et maintenant" (que vais je faire?) fizeram-me lembrar o que o pessoal dizia, que isso era tocado insistentemente, em modo nocturno, na instrução dos 'especiais'. Uma forma de actuação psicológica, obviamente.

Já agora, por falar em músicas, lembro-me da música da Ponte sobre o Rio Kwai que nós assobiávamos durante as marchas de instrução em Santarém, como forma de resistir, ou contrariar, as ordens dos instrutores.

Na verdade, a música é um poderoso instrumento e sempre foi utilizada como forma de galvanizar as pessoas.
Relembrem-se as óperas de Verdi, corporizando a resistência e/ou oposição dos italianos ao domínio dos franceses e austríacos. Relembre-se Sibelius e o seu trabalho Finlândia. E a galvanização provocada pela "Abertura" da obra de Tchaikovsky "1812". E agora, muito recentemente, como forma de afirmação, coragem e resistência, a "Marselhesa".
Sim, a música é muito poderosa.
Não tivemos nós o "Grândola, vila morena"? E a "Menina dos Olhos tristes"? E "Os vampiros"? E tantos outros....

Hélder Sousa