quarta-feira, 25 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18563: Efemérides (277): Homenagem a minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015) e ao 25 de Abril (Jorge Araújo)



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: eu e minha mãe, Georgina Araújo (1928-2015)





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).



MEMÓRIAS DO BAÚ DE MINHA MÃE  (1928-04-12/2015-12-27): EM SUA HOMENAGEM E DELA AO “25 DE ABRIL” 


1. INTRODUÇÃO

Foto de minha mãe, com 20 anos
Minha mãe faleceu nos últimos dias do ano de 2015. No passado dia 12 de Abril teria feito noventa anos, uma idade que gostaria de atingir em vida, já que tinha planos para esse dia,  12 de Abril de 2018. Mas não foi possível.

Em 2002, sete anos após ter ficado viúva, minha mãe encontrou uma nova companhia – a poesia – declamando os seus trabalhos em reuniões de família, convívios e outros eventos de carácter público, de que é exemplo a sua participação no projecto «Encontro de Poesia», iniciativa da Câmara Municipal de Loures, este inserido num programa mais vasto de outras actividades a que deram o nome de «Viver Outubro – Mês do Idoso».

A sua primeira participação aconteceu em 2002, com setenta e quatro anos de idade, mantendo-se ligada ao projecto durante catorze edições (2002-2015), ou seja, até aos últimos dias da sua vida.

No ano de 2014, a propósito da comemoração dos quarenta anos do «25 de Abril de 1974», escreveu um poema em homenagem a essa efeméride, onde estava implícita, também, a figura do seu filho e de todos os outros militares que combateram em África.

Nessa ocasião fez-me um pedido que só agora irá ser cumprido.

E qual foi? Uma vez que fazia questão de acompanhar a publicação das memórias dos ex-combatentes postadas no blogue, em particular as minhas, como seria normal, depois de concluído e publicado o poema de “Abril”, perguntou-me: “Jorge, filho, achas que os teus camaradas do blogue aceitariam publicar este poema, pois também a eles é dedicado? Vê lá…”

De facto, não vi. Decorridos quatro anos, e por me ter recordado desse episódio de então, aqui estou eu para lhe fazer a vontade, independentemente de ela já não puder confirmar esse seu desejo.

Descansa em paz… MÃE.


2. Homenagem ao ‘25 de Abril’


por Georgina Araújo


Graças ao ‘25 de Abril’,
Eu vi cravos a florir
Nos canos das espingardas
Desses valentes soldados,
Com o povo de braços dados
Honravam as suas fardas. 



Com elas eu vi nascer
A esperança de viver
Em plena liberdade,
Mas quarenta anos passados
Todos os lados estão minados
De traição e de maldade.

Estou prestes a chegar ao fim
E não queria para mim
Esta situação traiçoeira,
Nem para mim nem para os demais
Que lutaram por ideais
Em defesa da nossa bandeira.

Vamos à luta, meu povo,
Não deixem voltar de novo 
Para trás a nossa democracia,
Sem ela tudo acabava,
O cravo logo murchava
E a liberdade já não existia.

Georgina Araújo
Abril/2014

OBRIGADO!
Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo.
25ABR2018



Loures > Encontro em 17 de Outubro de 2009: a poetisa Georgina Araújo (1028-2015)


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18561: Efemérides (276): No dia 24 de Abril completaram-se 48 anos após o embarque do BCAÇ 2912, no Cais de Alcântara, com destino à Guiné (António Tavares, ex-Fur Mil SAM)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

És um menino lindo... Bela homenagem à tua mãe e ao 25 de Abril... Que bom ter tido uma mãe com essa sensibilidade poética e talento para a escrita. Abraço, Luís

Juvenal Amado disse...

Jorge

Que te dizer desta tua homenagem a ela e ao 25 de Abril?
Porque nunca é demais homenagear as nossas mães e as datas da nossa liberdade.
Quero associar-me a ti nesse nesse sentimentos que calam fundo. Um poema lindo e muito a propósito o que escreveu a tua mãe.
44 anos depois viajarmos de regresso no Niassa voltamos-nos encontrar fisicamente na tabanca da Linha que no fundo é numa das artérias do nosso blogue que assim prova que o Mundo é pequeno e nosso blogue é grande.

Um abraço e quanto a mim a poesia da tua mãe será sempre bem vinda


José Botelho Colaço disse...

A minha dupla homenagem ao talento da mãe e ao filho por eternizar o lindo poema da mãe.

Anónimo disse...

Camaradas,

Agradeço, sensibilizado, as palavras de reconhecimento e apreço relacionadas com o poema de minha mãe dedicado ao "25 de Abril", escrito em 2014. Trata-se de um entre muitos que me/nos deixou como legado e que consta do seu livro «Testemunhos Verdadeiros", obra registada no IGAC (Inspecção-Geral das Actividades Culturais), com o n.º 4391/2006.

Dádiva da sua sensibilidade e grande humanismo, aqui vos deixo mais um fragmento - «MENINO DA RUA» - escrito em 2004, criado a partir do contexto "dos sem abrigo", onde existem alguns camaradas, ex-combatentes da Guerra.

MENINO DA RUA

Menino da rua
Que culpa é a tua
Por viveres tão só
Por certo o Destino
Te deixou… menino
Sem pena nem dó.

E não vê por certo
Que ali tão perto
Já sofres de mais
Envolto em perigos
Faltam-te os amigos
Talvez os teus pais.

Menino da rua
Tens na noite, a Lua
E o Sol, no dia
São amigos leais
Que tens como pais
E te fazem companhia.

Quando alguém te vê
Eu não sei por quê
Te julgam vadio
Não vêem porém
Que estás sem ninguém
Tremendo de frio.

Sem revolta nem dano
Passas todo o ano
Sem eira nem beira
Quando estás doente
Tens o chão pela frente
Servindo de esteira.

Neste meu poema
Que tem como lema
“Menino da Rua”
Vai o meu desejo
De te dar um beijo
Como o “sol e a Lua”.

Georgina Araújo
18.08.2004

Que tenham um bom dia.

Ab. Jorge Araújo.