domingo, 3 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18706: Blogpoesia (569): "Como os tempos mudaram...", "Tivesse voz a borboleta..." e "Os sinais da vida", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Como os tempos mudaram...

Não há muito.
Elas passavam na rua. Vinham à janela. Olhavam e pareciam indiferentes.
Os insistiam sorrindo. Os rapazes iam e vinham.
Por dentro tão tristes.
Parecia tempo perdido.
Se conseguiam um sorriso,
o mundo se abria de esperanças.
- parece que gosta de mim.
Ela fechava a janela. E ficava espreitando por trás da cortina.
Ele se ia. Até ao próximo Domingo
ou no adro da igreja, depois da missinha.
Hoje, são elas que insistem, insistem.
Se desfazem em sorrisos,
fingindo ser boas.
Tocam nos ombros. Focam os olhos.
Coladas.
Se oferecem gostosas.
Nunca desistem.
Ai de quem pega...
Nunca mais largam.

Bar Castelão em Mafra,
28 de Maio de 2018
8h40m
Jlmg

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Tivesse voz a borboleta…

Seria assim o cantar duma borboleta se a natureza lhe desse voz.
Límpida. Suave e transparente.
Luzente ao sol.
Encantadora das papoilas num prado verde.
Poisava leve como uma bailarina sobre as pétalas coloridas dos jardins.
Descreveria arcos de graciosidade quase divinos.
Extasiaria as majestades com suas vénias reverentes.
Abriria o caminho atapetado de flores, com desenho de barcos caravelas.
Jovial.
Enganaria a própria sombra só por brincadeira.
Levaria o dia inteiro na folia doce de seduzir quem passa.
Teria a beleza agreste duma pradaria naquele radioso quadro da Primavera.
Seria, enfim, o sol de Agosto…

Ouvindo Dulce Pontes na sua bela canção do Mar
Mafra, 30 de Maio de 2018
8h50m
Jlmg

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Os sinais da vida

Como o rio, desde a nascente, lá nos altos cumes, vem traçando o leito pela terra avante,
conforme sua textura,
deixando marcas da sua passagem,
também a vida que nos alimenta a alma e também o corpo, nos dá a forma e vai deixando sulcos, de variado risco.
Tão diferentes, na sucessiva idade.
É agreste e constante nossa adaptação ao meio.
Complicada a aprendizagem.
Desde o comunicar com os outros.
A linguagem que expressa o pensamento.
O caminhar pelo chão, com equilíbrio,
para não caír.
O agasalhar do corpo contra o rigor do tempo.
A sobrevivência contra a fome e sede.
Tratar das feridas que sempre vão surgindo.
Todo um saber complexo e sempre em aprendizagem.
Procurando o bom e afastando o mau.
Toda uma arte que nos vai moldando.
Cada um a sua, sempre em mutação.
Por conveniência e pelo ter de ser.
Sacrificando do nosso, em favor dos outros, para também o merecer, na medida justa, quando for preciso.
Para cada um o seu saber viver.
É assim o nosso rio.
Desde a nascente à foz...

Mafra, 31 de Maio de 2018
7h31m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18683: Blogpoesia (568): "Bom senso...", "Este sol da manhã...", "Minha pena é de oiro..." e "Ruminar o nevoeiro...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

2 comentários:

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Mendes Gomes:
Como sempre gostei de ler a tua poesia. Obrigado.
JS

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Ainda bem para ambos... Um abraço.