segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19044: Ser solidário (218): Talvez a nossa existência seja irrelevante para 99,9% da população, mas estou certa que faz a diferença na vida das crianças que aprenderam a ler e a escrever nas escolas que patrocinamos (Joana Benzinho, fundadora e presidente da ONGD Afectos com Letras)





1.  Resposta, de hoje, às 18h07, de Joana Benzinho, fundadora e presidente da ONGD Afectos com Letras, ao poste P19043 (*)

[Nasceu em Pombal, em 1976; licenciou-se em direito pela Universidade de Coimbra (1999);  especializou-se em direito europeu, pelo Instituto de Estudos Europeus / Universidade Livre de Bruxelas (2002); vive em Bruxelas, desde 1999; é assessora do Parlamento Europeu; foi uma das fundadoras e é  presidente da ONGD Afectos com Letras: é co-
autora do livro para crianças A Papaia Mágica (Lisboa, Chiado Editora, 2011), e de
Guia Turístico: À Descoberta da Guiné-Bissau,. 2ª edição revista e atualizada (2018)]



Queridos amigos,

Muito obrigada pelas simpáticas palavras que nos dedicam no vosso interessante blogue. A vossa " provocação" não estraga de forma alguma a celebração deste dia, que para nós, e particularmente para mim, é muito significativo.

O nosso trabalho como ONGD talvez fuja um pouco do habitual. Somos um pequeno grupo de pessoas, todas com a sua vida profissional organizada e que dedicamos o nosso tempo livre a este trabalho na Afectos com Letras de forma totalmente gratuita e voluntária.

Temos 14 pessoas a trabalhar com a organização, todos guineenses, e esses sim, recebem um salário. Temos aliás a honra de poder contar com a mesma equipa desde o início dos nossos projetos. Não trabalhamos num espírito de caridade mas sim de pura cooperação com quem, daquele lado, quer dar oportunidades aos mais jovens da nação.

Não nos queremos substituir ao Estado, nem temos a veleidade de achar que vamos transformar estruturalmente o país. Não nos cabe a nós esse papel. Trabalhamos com as comunidades locais que se organizam para dar melhores condições aos seus filhos, à falta de um Estado que lhes garanta acesso à educação, tentamos com as mães e os pais criar condições para que aprendam a ler e a escrever.

A educação é a melhor arma para mudar o estado das coisas e o nosso papel é tão só o de lhes proporcionar o acesso a um ensino de qualidade, em que as meninas podem aceder à escola em igualdade de circunstâncias com os meninos e podem todos aprender com mesas e cadeiras onde se sentar, material didático para escrever, livros para sustentar a sua aprendizagem e professores com comprovada qualidade pedagógica.

Talvez a nossa existência seja irrelevante para 99,9% da população, mas estou certa que faz a diferença na vida das crianças que aprenderam a ler e a escrever nas escolas que patrocinamos. E isso, por si só, justifica o entusiasmo e o empenho que continuamos a colocar em tudo o que fazemos.

Abraço amigo e estão desde já convidados a conhecer o nosso trabalho no terreno.



2. Poste de Joana Benzinho. com data de hoje, na sua página do Facebook:

Em 2009 não fazia ideia do que ia ser a Afectos com Letras. Apenas tinha uma enorme vontade de ajudar a dar um futuro às crianças que vi a vender bananas nas ruas de Bissau, no chuvoso agosto de 2008, para poderem pagar a matrícula na escola.

A Afectos com Letras tem hoje centenas de crianças a estudar nas escolas que construiu ou cofinanciou no país; tem livros espalhados em pequenas bibliotecas de jardim por toda a Guiné-Bissau; tem máquinas descascadoras de arroz em aldeias onde as meninas deixaram a morosa tarefa da descasca manual e podem agora frequentar a escola. E tem muitas outras pequenas coisas que fazem uma enorme diferença num país como a Guiné-Bissau.

Passados estes 9 anos e olhando para o que foi feito, não posso deixar de me sentir feliz e sobretudo muito agradecida por ter cruzado o caminho de tanta gente boa que me tem ajudado a tornar este meu sonho realidade.
_______________

Nota do editor:

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joana, "just in time"... Tem o meu apreço e o meu carinho... A pobreza, o círculo vicioso da pobreza, na Guiné-Bissau (e em toda a África, em geral), não afeta todos por igual, há desigualdes por género, idade e etnia... As meninas e as mulheres são mais duramente atingidas. E entre os povos muçulmanos (ou "islamizados"), a situação agrava-se. Vejo que nas regiões de Bafatá e Gabu a vossa ação parece ser mais limitada... ou tem menor penetração.

Vá mandando notícias. Teremos todo o gosto e interesse em divulgar o vosso trabalho no terreno e a vossa metodologia. O nosso blogue, com 14,5 anos e meio, tem um milhão de visualizações por ano.

Mantenhas. Luís Graça

patricio ribeiro disse...

Muita força, Joana.

O caminho é grande e cheio de obstáculos, só a vossa força os consegue ultrapassar.
Mas o que a vida sem problemas.
Sentar-nos no sofá à espera, sem lutar-mos em coisas que acreditamos...
Parabéns.


Um grande abraço.