domingo, 14 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19978: Blogpoesia (628): "Na minha rua...'", "Rachmaninov" e "Reflexões minhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Na minha rua...

Na minha rua, pela manhãzinha, há pouco movimento.
Há quem faça caminhadas.
Sós ou com seus canitos.
Um a um se ouvem os estores correrem.
Para a luz entrar.
Pelos fios dos telefones se vêem poisados passaritos, cantarolando as melodias que lhes deu a Natureza.
É hora de júbilo.
Um novo dia começa.
A vida é curta.
Há que a aproveitar.
Na cozinha, o leite já ferve e cheira a café.
Doce rotina de cada dia.
Que a paz nos vai permitindo.
Um a um, vão saindo os carros das garagens.
Para a luta do pão de cada dia.
A miudagem vai para a escola de sacola às costas.
O sol avança céu acima, quando o há.
As ramagens e sebes dos jardins se agitam com a brisa mansa que vem do mar.
Cada um vai para o seu percurso.
Se acendem os computadores.
Se registam os pensamentos que vêm à mente
E se dá larga à preciosa liberdade...

Mafra, 10 de Julho de 2019
8h19m - dia cinzento
Jlmg

********************

Rachmaninov

Oiço de novo Rachmaninov, sem cansar. Concerto nº 3.
Fogoso. Supremo.
Enquanto lá fora, um passarito debica o chão. Até parece ao mesmo ritmo.
É a harmonia da natureza.
Envolvidos na mesma energia.
Passam por nós as suas ondas.
Por vezes dolente. Quase em pranto. Outras sentido. Outras raivoso de revolta.
Estrebucham suas notas. Em espasmos quase incontidos.
Que se passaria no espírito do autor ao conceber este poema?
A pianista jovem, bem adestrada, vê-se aflita para o segurar.
O piano range desensofrido.
O matraquear dos dedos sobre as teclas faz-se quase invisível.
Nem todos os bons pianistas conseguem arrostar este concerto.
Arrepiante. Quase uma hora de forno aceso.
Nos arrasa de emoção...

Ouvindo Yuja Wang plays Rachmaninov's Piano Concerto No. 3
Bar 7Momentos, arredores de Mafra,
12 de Julho de 2019
11h11m
Já choveu
Jlmg

********************

Reflexões minhas

Já avancei na idade, mais do que esperava.
Subi onde posso ver ao longe,
o passado e o presente.
Uma sensação de engano.
Sobre as razões da vida.
Lutar para a vencer é ilusório.
Nos apetrechamos com os melhores utensílios.
Por bom preço.
Apostamos neles a maior parte das nossas forças.
Convencidos de que, depois, se vai saborear os frutos das nossas penas.
Acumula-se riqueza e sabedoria.
Entra-se na reforma, quando se tem, e, depois duma euforia de vitória, nos quedamos desarmados com a perda das nossas forças.
O dia a dia torna-se uma caminhada célere para o fim.
Afinal, para quê o nosso castelo de ilusões?
Pensávamos que era só nosso.
Se esvai, e nada detém essa sujeição.
Felizmente, cedo cheguei à conclusão de devia apostar no que vem depois do fim.
Ainda bem...

Ouvindo a mejor música de piano y violin triste relajante y romantica
Mafra, 13 de Julho de 2019
12h43m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19954: Blogpoesia (627): "Manhã de Domingo no 'Polo Norte'", "Chuva de adversidades" e "Caderno diário", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

4 comentários:

Valdemar Silva disse...

Mendes Gomes
Belíssimos poemas.
Nada de 'ataques de velhice'.
Quem esteve na Guiné vai merecer ultrapassar os anunciados anos de esperança de vida, mesmo que estejam amedrontar com as visíveis alterações climáticas.
Cá vamos ouvindo a passarada e 'pianadas' de Rachmaninov. Coitada da rapariga ter que tocar o que foi composto por mãos de quase 50cm.
Hoje perdi a vontade de ir ao encerramento do Festival do Pão de Mafra, no Jardim do Cerco. Tenho dificuldade em deslocar-me e pensei não arranjar lugar, próximo, para estacionar o carro.
Ab.
Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Valdemar. De facto, ao Domingo fica tudo encharcado de carros.
Abraço.
Joaquim

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Poeta e melómano, onde é o teu refúgio, nos "arredores de Mafra", quando foges de Berlim ? Dizes é que é o "Bar 7Momentos"... Esquece, não digas onde é... Se dizes, deixa de ser o teu refúgio... Um xicoração fraterno. Luís

Hélder Valério disse...

Não é preciso dizer.... "arredores de Mafra"....

Fica na estrada de Mafra para o Sobreiro, do lado direito, antes de chegar à "aldeia típica de João Franco"....

Lá se vai o sossego!

Abraço
Hélder Sousa