sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20030: (In)citações (138): A minha Guerra da Guiné: a Leste, algo de novo... (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) datada de 31 de Julho de 2019:

A propósito

A minha Guerra da Guiné: a Leste, algo de novo… 

Ambos objectivados para nos matarmos uns aos outros, o canhão russo s/r 82B-10 e a sua granada, do PAIGC, eram uma espécie de trambolhos, sem estética, ao passo que o nosso canhão s/r NATO M40 era elegante e a sua granada a beldade do nosso paiol. O deles era de tracção humana e matava-nos, porque o alombavam para qualquer sítio; o nosso, era de tracção automotora, e não matava, porque “era malandro, não ia para o mato”.

Em Buruntuma tivemos por companhia um canhão s/r M40-10,6, a mãe das Armas Pesadas da nossa Infantaria, a mais viril das armas de todos os exércitos, antes e depois da “igualdade do género”, montado na longitudinal à carroçaria dum jipe Willis, que nos exigiu 4 espaldões elevados, um em cada ponto cardeal daquela tabanca, construções de alvenaria granítica, projectadas e dirigidas pelo Furriel Manuel Simas, material raro na Guiné Portuguesa, cuja maior parte ousamos “expropriar” à Guiné-Conacri, com o camião Renault requisitado à Casa Pinheiro, com a matrícula GN sobreposta à matrícula G, circulando impunemente pela estrada asfaltada da Guiné-Conacri, a transportá-la duma pedreira abandonada por colonos franceses.

O CSR M40 10,6 cm colocado num Jipe. Buruntuma 1973
 Foto: Com a devida vénia ao camarada Luís Dias - HISTÓRIAS DA GUINÉ 71-74 - A C.CAC 3491-DULOMBI

A sua dotação orgânica era apenas de 2 granadas, uma economia impositiva, não pela beleza estética do seu conjunto, mas porque custava 8.000$00 cada, preço FOB e pagos em dólares, – o soldo mensal de 1 capitão ou de 2 alferes, ou o vencimento de 3 furriéis ou o pré de 80 soldados. O montante da “Folha de férias” dos 150 militares da nossa Companhia equivalia ao custo das 2 granadas!

Pelas suas 4 “casas rústicas”, pelo custo das suas granadas, pela independência do seu paiol e pela sua exclusividade ao nosso capitão, quando ele passeava o canhão pela tabanca (a treinar e a impressionar a população), comentava-se na gíria de caserna “o nosso comandante anda a passear as duas “p… caras”.
O canhão nunca foi disparado, as 2 granadas eram reservadas às duas Panhard dos nossos vizinhos guineanos. No inventário da rendição, o seu “mapa de carga” registava a existência de 2, mas deixamos 18 de herança à CCaç 1418, que nos foi render em Maio de 1966! O milagre da multiplicação foi assim. O SINTREP ou lá o que era que relatava os ataques, requisitava a sua reposição, tudo nos conformes, – e lá vinham mais 2 granadas…

A fronteira internacional de Buruntuma tinha sinalética, uma placa de betão do legado do nosso “antepassado” Jorge Ferreira (e virtuoso fotógrafo de “bajudas”), e, do lado de lá, em Kandica, bem pertinho, à distância de apenas de 1,5km, estava aquartelada uma unidade de pára-quedistas da Rep. da Guiné-Conacri, comandava-a um jovem e comunicativo tenente. As patrulhas cruzaram-se por duas ou três vezes, com o pequeno rio Piai em separador, trocávamos continências vistosas, uns amistosos e uníssomos “bonjour!”, dávamos-lhes cigarros “Português Suave” e cerveja Sagres, que eles retribuíam com abacaxis, evidenciando privações.
As patrulhas e o seu tenente deixaram de ser vistas, constava que, por denúncia do PAIGC, o tenebroso Skou Touré mandara-o prender e fuzilar, notícia coincidente com o seu decreto dele a criar uma faixa com o fundo de 15Km, em terra de ninguém, para a maior manobra do PAIGC, o nosso Estado-Maior deu-nos o alerta e fez chegar à Companhia fotos do tal canhão s/r russo 82B-10, rodeado de guerrilheiros, que não chegamos nem a ver nem a experimentar, um prenúncio do seu uso de armamento pesado, o fluxo de cidadãos guineanos entrou em decadência e Buruntuma ficou isolada – uma ilha rodeada de IN por todos os lados. Evidências da parceria dos dois líderes e da sua determinação em nos infernizar a vida à mão armada. E nós não deixamos de proceder em conformidade…

Canhão s/r russo 82B-10
 Foto: Carlos Vinhal

No quadro das minhas funções de instrução e comando de milícias e de Apsico (Acção Psicossocial) junto da população, coube-me fazer o levantamento e a estatística do gado vacum, roubado pelo PAIGC às tabancas da quadrícula de Buruntuma, e, baseando-me nas quantidades reclamadas nas queixas das populações, refugiadas desde Cundagá, a Ajango e até Catabá, o roubo de gado na área da nossa quadrícula aproximava-se das 10 000 cabeças! Naquele tempo, na sua Frente Leste, o PAIGC era bem-sucedido como ladrão de gado e mal sucedido na subversão e pior como “libertador”, o que provocou a perda da vida a dois dos seus comandantes – primeiro Vitorino Costa e, depois, Domingos Ramos.
Então foi organizado e treinado à moda dos “comandos” um pequeno grupo de voluntários, que passou à acção do outro lado com a táctica do olho por olho e dente por dente, sob o disfarce de “bandido”, munido de armamento capturado, com os brancos a enfarruscar o rosto com fuligem dos caldeirões do rancho.

Na “operação vaca” não se recapturava manadas, apenas 1 ou 2 cabeças, menos por razões de manobra e logísticas, mas para encobrir outra: a quantidade implicava a restituição aos lesados, que, depois, não as vendiam – por serem o símbolo da importância social de cada um, em relação aos “homens grandes”, e a moeda para a “compra de bajuda” (moça), em relação aos “djubis” (os moços). A malta da “patrulha da vaca” amealhava bons “pesos”, mas, enquanto não foi extinta (o seu efectivo ameaçado com uma “porrada”), a carne de “vaca de bandido” não faltou ao passadio da tropa, nem à “vianda” das milícias e das mais de 5 000 almas residentes, naturais e refugiados, nessa grande tabanca de fulas e mandingas, um triângulo incrustado e linha da fronteira com a Guiné-Conacri.
No contexto da sua perseguição ao fulas guineanos, prolongamento dos da Guiné Portuguesa e seus oposicionistas, a “germanderie” de Skou Touré matava, mas, havia sempre alguns que corriam os riscos, circulando nessa terra de ninguém para aceder às lojas e ao serviço de saúde da tropa portuguesa, em socorro da sua penúria, enquanto a acção da nossa “patrulha das vacas” criava a conjuntura do açular dos cães da animosidade entre guinéus e os “bandido” bissau-guineenses. Nunca vi gente tão miserável e esfarrapada como esses cidadãos guineanos, que arriscavam a vida para chegar a Buruntuma, em demanda dos bens de primeira necessidade.
A “patrulha da vaca” manteve-se activa, até ao dia em que, já próximo da nossa rendição, se deixou seduzir pela mais formosa e melhor nutrida vitela, jamais vista nos nossos encontros com manadas de vacas a pastar em território inimigo, - uma cilada para os apanhar à mão; safaram-se todos e incólumes, graças ao “calo” de combatentes e, sobretudo, ao desembaraço do nosso cabo da milícia Mamadu Jaló, aliviando-se do incómodo da pesada fita de munições com rajadas da sua MG 42, rompeu o cerco e cortou ao meio os dois primeiros pára-quedistas IN que surgira na “exploração do sucesso”.
Em quase 2 anos da vida de combates pelos quatro quadrantes da Guiné, nunca tínhamos feito uma retirada tão acelerada, esta também com a cobertura da sorte: reencontramos a vitela da nossa desgraça no nosso caminho, escoltámo-la até Buruntuma, como troféu do nosso contentamento, mas o vagomestre só pagou “um preço justo”, depois de ameaçarmos a sua libertação… Mas a coisa ficou preta!

Os dois grupos de milícias, de 30 elementos cada, eram comandados por mim e pelo saudoso camarada e amigo Manuel Simas – deixou-nos há pouco, que Deus o tenha –, continuamos a “frequentar” o outro lado em reconhecimentos e, pela detecção de alterações das rotinas, no quartel de Kandica, recebemos a incumbência, a minha da segurança e apoio, a dele, de medir distâncias, de o mapear e de mapear suas acessibilidades.
Éramos apenas 4, iniciamos a nossa missão ao início da tarde, progredindo pelo lado da tabanca queimada e desabitada de Catabá, pela calmaria, em que toda a gente se recolhia, o calor a rondar os 50 graus e a humidade do ar os 98%, passo a passo, ou melhor: a rastejar. Enquanto evoco esta memória, sinto os mesmos calafrios, já velhos de mais de 50 anos, dos minutos que pareceram eternidade, em que estive colado ao chão, escondido na grande plantação de abacaxis, do outro lado da estrada que servia a sua porta de armas, a uns 30 metros das duas corpulentas sentinelas, a ver-lhes as botas de cano alto até ao joelho, a boina vermelha no “catulo” e a pistola-metralhadora a tiracolo.
Emitido pelo nosso rádio o sinal convencionado, a malta dum dos nossos morteiros de 81 mandou uma morteirada de reconhecimento, a granada explodiu longe e muito ao largo, soou a cornetada do “à rasca”, aquele quartel entrou em desassossego, as sentinelas desapareceram e a porta de armas fechou-se.

No dia seguinte, o Manuel Simas, que virá a notabilizar-se nos Estados Unidos, nas esculturas de ossos de baleias e de cachalotes e, depois, como docente na Escola Secundária de Ponta Delgada, entregou ao capitão a planta das acessibilidades e do aquartelamento, devidamente assinados o posto de transmissões, a caserna, o paiol, o parque das 2 Panhard, etc. e os azimutes e as estimativas da distância de tiro, pelos quais ele determinou as coordenadas de tiro dos 3 morteiros de 81 e desse canhão s/r M40.

Ao corrente da iminência da nossa rendição, os IN´s da outra banda tornaram-se recorrentes em nos fazer chegar as ameaças que nem todos estaríamos vivos à data da partida para Lisboa, pela sua vingança do combate e da captura daquela sedutora vitela.
Mas o Capitão Fernando Lacerda, um brioso oficial da Cavalaria clássica e estereótipo da valentia em combate – nunca se lançara ao solo, ironizando que “não queria sujar a farda”, estava à altura das circunstâncias e obviou-nos o problema.
Por analogia com o ardil que o oficial de Cavalaria Marechal Rommel montara no deserto egípcio de Al Amim, e que confundiu o Marechal Montgomery, ele mutilou os camiões, unimogs e jipes das suas panelas e tubos de escape, mandou-os circular em alta aceleração pelo perímetro de Buruntuma, da alvorada à noite, o seu escape livre a roncar em altos decibéis, para IN ouvir, da alvorada à noite, postou exploradores das milícias de vigilância ao troço crítico, na estrada do Gabú, entre Buruntuma e Ajango, que o mantiveram a par das emboscadas montadas pelo IN, e este, de desmobilização em desmobilização, acabou por desistir, com essa roncadura activa, prolongada até ao dia da nossa rendição.

As viaturas da CCav 703 tinham iniciado a sua roncadura pela alvorada, os cães, que, atraídos pelo cheiro do rancho, orbitavam o estacionamento, organizaram-se em matilhas e faziam o seu coro a ladrar, a CCaç 1418 chegou de Nova Lamego em nossa rendição, o pessoal foi rápido na desestiva da deles e na estiva da nossa tralha e a CCav 703 fez-se à estrada do Gabu e foi passar uma curta nomadização em Fá Mandinga, que não foi de estágio, mas problemática, a maior estação agrária da Guiné, ora área em subversão, praticamente ao abandono, que havia sido a menina dos olhos de Amílcar Cabral, enquanto engenheiro agrónomo do governo provincial, cujas instalações virão a ser reconvertidas em aboletamento da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, a menina dos olhos do General António de Spínola e viveiro de alguns heróis nacionais, estou a lembrar-me do João Bacar Jaló e do Marcelino da Mata.
Ao aperceberem-se do logro, os IN´s da outra banda juntaram-se, montaram um cerco em meia-lua a Buruntuma e lançaram um denso ataque, com a base em Kandica, e o seu novo comandante, Capitão Gonçalves (?), na posse dos nossos dados, enquanto se defendia em proximidade, mandou os morteiros de 81 e aquele canhão s/r vomitar granadas e terão sido as nossas 18 “p… caras” que calaram o ataque. O nosso levantamento e a competência do Furriel Manuel Simas tiveram consequências: Kandica ficou arrasada, as suas acessibilidades revolvidas até às entranhas, as baixas humanas terão sido numerosas, e o primeiro momento da internacionalização da Guerra da Guiné havia acontecido.
Então o governo de Conacri e o PAIGC objectivaram todo o seu potencial bélico pela destruição e ocupação de Buruntuma, obrigando o Comando-Chefe General Arnaldo Schulz a investir as suas reservas de Artilharia, de tropa normal, de comandos, fuzileiros, pára-quedistas na defesa dessa quadrícula, a oportunidade para os “guerreiros do ar” de Bissalanca demonstrar a sua perícia no lançamento das suas “bilhas”.

A Guerra da Guiné privou-nos “dos anos o doce fruto” da vida, mas partimos e chegamos a Lisboa, mais mortos que vivos, macilentos, mirrados, só pele e osso e exaustos, e “Buruntuma um dia será grande”, citando o Jorge Ferreira.

Outra conclusão e com penumbras. Se, em 1965, Lisboa nos impusera um apertado racionamento ao gasto das granadas desse nosso canhão s/r, pelo seu elevado custo, quando os capitães da guarnição da Guiné iniciaram a sua reconversão em conjurados, em 1973, com a criação do MOCAP (Movimento dos Capitães), os conselheiros militares da União Soviética junto do PAIGC propuseram a Moscovo que reconsiderasse os fluxos do fornecimento gratuito das granadas do canhão s/r russo e do outro armamento pesado, pela sua alta taxa de desperdícios e por a sua relação custos/benefícios se oferecer muito negativa.

Indício de prova e um recado à nossa História Contemporânea: se, em 1973, a coisa não estava muito branca para os capitães da Guiné, impelindo-os a essa “insubordinação castrense descontrolada”, estava a ficar muito preta para o PAIGC, impelindo-o a criar a crise dos “três G´s” – eram 3 G´s, um P (Pirada) e um B (Buruntuma). Como falhou estes dois, o resultado da primeira ronda foi: PAIGC (Guileje) 1 – FA portuguesas 4, mas o resultado final foi: PAIGC 1, de derrota em derrota - FA portuguesas, 0, pela vitória do MFA.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20003: (In)citações (137): Obrigado, amigos/as e camaradas, pelos votos de parabéns que me deram ao km 73 da minha "picada da vida" (Jaime Silva)

8 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Manuel Lomba,

Essa dos "...50 graus de temperatura" é muita boa. Nem com as alterações e aquecimento global chegamos lá. De facto, aquela guerra não era para metropolitanos.

E, outra coisa: Afinal o Vitorino Costa morreu quando e onde?

Um abraço,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Luis Lomba.
Essa das granadas do canhão s/r serem 'p... caras' é bem arranjada.
Acho que deve fazer parte do glossário do nosso blogue.

Ab.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Sobre as temperturas na Guiné, no nosso tempo, à sombra e ao sol... Não sei se havia registos "válidos e fiáveis"... Mas os combatentes sabiam o que era andar no mato, ao sol, no píncaro do dia...


(...) A Op Lança Afiada [de 8 a 19 de Março de 1969, no triángulo Xime -Bambadinca - Xitole] foi talvez uma das maiores e mais dramáticas operações terrestres que se realizou na Guiné, ou pelo menos na Zona Leste, quer pelo número de efectivos envolvidos (cerca de 1300 homens, sendo cerca de 800 militares mais 380 carregados, enquadrados por 100 milícias), quer pelo número elevado de heli-evacuações (cerca de 120), devido não tanto a baixas provocadas pelo IN como sobreudo a casos de fadiga extrema, insolação, doença e ataque de abelhas.

Esta operação, em que as NT varreram toda a região da margem direita do Rio Corubal, entre este rio e a linha Xime-Xitole, durante 11 dias (de 8 a 19 de Março de 1969), teve um impacto mais psicológico do que militar (1), apesar da destruição de importantes meios de vida e infra-estruturas, necessários à guerrilha e às populações sob o seu controlo (animais domésticos, arroz, casas, escolas, hospitais...).

Esta operação pôs à prova (e revelou os limites de resistência, física e psicológica, de) os militares portugueses, num terreno e num clima duríssimos. Basta citar uma das conclusões do relatório, que temos vindo a publicar:

"A Op Lança Afiada decorreu durante 11 dias. As temperaturas verificadas neste período foram as seguintes: Máxima à sombra – Entre 39 e 43,6 graus centígrados; Máxima ao sol – Entre 70 e 74,5 graus centígrados. Estes números são elucidativos. Por um lado justificam que um homem necessite muita água (entre 8 a 10 litros por dia). Por outro lado aconselham as NT a deslocarem-se e a actuarem ou de noite ou ao amanhecer. Entre as 11 e as 16h, o melhor é parar, se possível à sombra".

O próprio autor do relatório [ cor inf Hélio Felgas] não se coibe de comentar: "(...) processava-se a selecção natural: os mais fracos não resistiam à fadiga, ao calor e à deficientíssima alimentação proporcionada pelas rações de combate tipo normal. Por outro lado a falta de água era um tormento que só quem já sofreu pode avaliar". (...)


9 DE NOVEMBRO DE 2005
Guiné 63/74 - P261: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o "comandante do PAIGC", Vitorino Costa (1937-1962), morto por um grupo especial da CCAÇ 153, comandado pelo cap inf José Curto, em meados de 1962, ainda antes do início oficial da guerra, temos vários postes...Ver aqui:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Vitorino%20Costa

Há controvérsia sobre o local em que morreu (e foi depois decapitado,sendo a cabeça levada para Tite). Mas, pelo que me lembro da conversa com um graduado da CCAÇ 153, e com antigos guerrilheiros do PAIGC, terá sido Darsalame.

Manuel Luís Lomba disse...

Boa noite, amigo Cherno Baldé.
O comandante Vitorino Costa morreu em combate no sul, transferido, em despromoção, por seu insucesso na subversão do Gabú. Manuel Saturnino Costa, seu irmão, complicara-nos a vida na nossa nomadização em Cufae e, nos princípios da década de 80 do século passado, fui duas vezes à fala com ele, então coronel e fogoso ministro das Obras Públicas de Nino Vieira, ministério sedeado em Brá, nas instalações que foram do Batalhão de Engenharia.
No referido à graduação da temperatura, citei o que constava. Naquela estação do ano e àquela hora, Buruntuma era um forno, e, à noite, soprava um vento muito, que se dizia vindo do deserto do Mali. Confesso-te uma verdade: jamais esquecerei aquela sofrida missão, pela derretedura do calor e pela carga de medo (tão fiel, que nunca nos abandonava...)
É uma verdade, confirmada e irrevogável, que aquela guerra não era para os metropolitanos. Afinal, foram os guineenses que a pagaram - as populaço~es, os que serviram o PAIGC e os que serviram as FA portuguesas.
Ab.
Manuel Luís Lomba

Manuel Luís Lomba disse...

Obrigado, amigo e camarada Carlos Vinha.
No princípio do primeiro parágrafo omiti a palavra recado.
Ab
Manuel Luís Lomba

Anónimo disse...

Caros amigos Luis e Manuel Lomba,

Na Guiné a temperatura raramente ultrapassa os 32/33 graus.
Acontece, no entanto, que a húmidade relativa do ar é bastante elevada o que, as vezes, cria um ambiente dificil de suportar para quem não está habituado, sobretudo nos meses mais chuvosos (Agosto e Setembro, actualmente). O corpo humano não está preparado para suportar temperaturas superiores a 50 graus centígrados que seja a sombra ou ao sol.

Evidentemente que a horas de muito calor qualquer exercicio físico tem elevados custos em Africa, mas há evidente exagero nas temperaturas mencionadas nos vossos relatórios que só a propria guerra podia justificar.

Abraços,

Cherno AB

Anónimo disse...

Caro Manuel Lomba,

Eu não tenho estas histórias fantásticas das operações das N/T nas matas na Guiné, era um simples Oficial da Administração Militar, que fez, apesar desse defeito de especialidade, mais do que muitos outros, os duros.

As temperaturas eram o meu maior flagelo, não sei se eram de 33 ou 73º, a verdade é que eram insuportáveis, apesar de eu não me dar mal com elas. Aquela humidade era o bolo em cima da cereja, a roupa colava-se ao corpo, e aquele suor viscoso e pegajoso não esquece nunca.

Quando estava em NL, fui uma das vezes até Piche, e depois saiu uma coluna para Buruntuma, onde estava uma Companhia do meu Batalhão, eu ainda alinhei uns tantos quilômetros, depois não sei porquê mandaram-me para trás, pois não ia lá fazer nada, nunca fui a Buruntuma, com o meu desgosto, aquilo era a ferro e fogo, sabemos disso, quer durante, quer depois da minha estadia em terras de Leste.

Quanto ao assunto do Canhão S/R, estou a ver agora as primeiras fotografias, tinha lá sediado em NL o Pelotão de Canhões S/R 1200, ligado ao comando do meu batalhão, e nunca cheguei a ver uma daquelas peças, julgo que não existiam lá mas sim noutras localidades onde faziam falta, ali acho que não.

Também ainda não cheguei a perceber bem, porque se chama 'Sem Recuo'?

Julgo que no disparo, ao contrário dos canhões normais, não faz o recuo, e os invólucros são tirados depois manualmente, acho eu!

Custavam 8 contos cada peça do canhão, dizes que o salário de 2 alferes!
No meu tempo acho que o meu vencimento eram cerca de 6 contos, embora não confirme, mas seguramente mais do que 5500$00 mensais.

Obrigado pela bela reportagem.

Virgilio Teixeira