domingo, 12 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20849: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (12): A minha primeira Páscoa, em Bissau... desde 1985!... Com o meu filho...



Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 > Praça dos Heróis Nacionais, mas o povo continua a chamar-lhe Praça... do Império.


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 >  "Mangos, da nossa casa"

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem mais de 90 referências no nosso blogue]
Data - 12 abril 2020 13:25


Assunto . A Páscoa em Bissau


Luís,

Para ti e tua família, uma Santa Páscoa.

Passado 35 anos, volto a passar a Páscoa em Bissau, a primeira foi em 1985. Desta vez na companhia é do meu filho.
Junto 2 fotos,
- Frutos da Páscoa (na nossa casa);
- Praça do Império... (como é conhecida até hoje pela população).

Abraço,
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com



Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça (Bissau)". Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 131". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal. Imprimarte, SARL). (Detalhe)

2. Comentário de LG:

Obrigado, Patrício, pelas tuas "amêndoas" de Bissau... As tuas notícias e fotos são sempre bem recebidas pela Tabanca Grande... Também eu passo a Páscoa, pela segunda vez, creio eu, cá em baixo, no Sul, em mais de 40 anos, casado com uma nortenha... Confesso que não há como a gente do Norte para fazer a festa da Páscoa, que tem de ter ruído, foguetes, mesa grande e farta, muita gente, muita alegria, compasso, cabrito assado, nuns sítios, ou anho assado com arroz de forno noutros...

Mas em relação à foto da "Praça do Império" (sic), deixa-me acrescentar o seguinte:

O monumento é da autoria do arquiteto Ponce de Castro. A primeira pedra foi lançada em 1934.  O monumento foi inaugurado em 1941. O granito veio do  Porto.  Enquanto a estatuária colonial foi derrubada, a seguir à independência, este monumento, colonialista por excelência, foi o  o único que resistiu à fúria do camartelo do PAIGC.  Ainda lá está, agora encimado com a  a estrela de cinco pontas, que faz parte da bandeira da República da Guiné-Bissau.

Há, na Foz do Douro, Porto, um monumento, datado de 1934,  que terá inspirado o de Bissau, o "Monumento ao Esforço Colonizador Português", da autoria dos escultores Alferes Alberto Ponce de Castro (? - ?) e de José de Sousa Caldas (1894-1965). "Foi construído expressamente para a Exposição Colonial, inaugurada em Junho de 1934 no Palácio de Cristal. Compõe-se de um obelisco encimado com as armas nacionais; na base, seis esculturas estilizadas simbolizam as figuras a quem se deve o esforço colonizador: a mulher, o militar, o missionário, o comerciante, o agricultor e o médico!. (Fonte: Turismo do Porto).

O arquitecto e escultor Alberto Ponce de Castro era natural de Tavira, é o autor do Monumento aos Mortos da Grande Guerra, situado defronte dos Paços do Concelho de Tavira. Em 1922 o alferes de cavalria Alberto Ponce de Castro era reformado e fez um requerimento, à Câmara dos Deputados, ao abrigo da Lei nº 1244. O requerimento seguiu para a Comissãod e Guerra (Fonte: Debates Parlamentares > 1ª Reoública > Câmara dos Deputados > VI Legislatura > Sessão legislatuiva 01 > Número 101 > 1922-07-12 > Página 4)
  
A estética deste monumento é, pois,  claramente estado-novista,  típica dos anos 40/princípios de 50... Fazia parte dos projetos de "monumentalização" da cidade de Bissua, anunciados em 1945 pelo governador Sarmento Rodrigues... Foi parcialmente destruído (ou vandalizado) depois da independência (ao que me disseram), mas resistiu: o que é irónico, é que os habitantes de Bissau continuem a chamar àquela praça, a Praça do Império...

O monumemto tem várias leituras: para uns pode ser uma obra-prima, para outros um mamarracho... Eu, que sou contra o camartelo dos iconoclastas (de todos os iconoclastas, a começar pelo camartelo camarário), acho piada  que o monumento tenha sido poupado, contrariamente ao resto da estatuária do colonialismo português...

Para os camaradas que fizeram a guerra colonial, como eu, e que conheceram este monumento, devo dizer o seguinte: toda a arte (e é difícil fazer a distinção entre arte e propaganda...)  traz a marca do seu tempo e fala do seu tempo...  Seria fácil, há cinquenta  atrás, do alto da nossa arrogância juvenil, apodar o monumento de 'colonial-fascista'... Mas já nos tempos que por lá passei, em Bissau, em 1969/71, o termo raça me fazia urticária... Qualquer que fosse a raça em causa...

Hoje é sabido, de resto, que não existem raças humanas... Pertencemos todos à mesma espécie, Homo sapiens sapiens... É uma constatação científica, não é uma asserção do politicamente correcto... Dito isto, ainda bem que os guineenses souberam reaproveitar  o Monumento ao Esforço da Raça... Afinal,  parte do seu património histórico, tal como a "o casco velho" de Bissau, da mesma maneira que os marcos milíários que pontuavam as vias romanas ligando a Lusitânia ao resto do Império Romano, fazem parte do nosso património histórico...
______________

Nota do editor:

1 comentário:

Zé Manel Cancela disse...

Caro amigo Luis.
no teu texto dizes que o monumento
na praça do Império,foi o único
que escapou ao camartelo do P.A.I.G.C.
Em Bafatá,"a tua terra"ainda está
ou estava em 2017um monumento,mais ou
menos do outro lado da piscina,ou o que resta dela.
Há outro no Cacheu,que continua de pé.
Um grande XI-coração para ti,Alice e meninos