segunda-feira, 11 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20963: FAP (115): O último ano do Fiat G-91 - Parte I (José Matos)



Fig. nº 1  – Recuperação do Tenente Miguel Pessoa. 

Crédito fotográfico – Capitão Delgadinho Rodrigues 







Fig. nº 2 – Destroços do Fiat G.91 5419 pilotado pelo Tenente-Coronel Almeida Brito. Crédito fotográfico: Roel Coutinho 




1. Mensagem de José Matos:

Data - sábado, 25/04, 14:20


Assunto - Fiat na Guiné

Olá, Luís.

Acabou de sair um artigo meu na Revista Militar sobre o último ano Fiat na Guiné. Foi um ano terrível e envio-te o PDF da revista e também o artigo em word para publicar no blogue. Agradecia que divulgasses dado a temática.

Este ano vai haver mais algumas novidades, pois está para breve a saída do meu livro sobre o Estado Novo e a África do Sul na Defesa da Guiné.

Ab, José Matos


O último ano do Fiat G.91 na Guiné 

por José Matos 
,
[Publicado originalmente na 
Revista Militar N.º 4 – abril 2020, pp. 395-414-
Cortesia do autor e editor]



José Matos [, foto à direita]: Investigador independente em História Militar, tem feito pesquisas sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial portuguesa, principalmente na Guiné. É colaborador regular em revistas europeias de aviação militar e de temas navais. Colaborou nos livros “A Força Aérea no Fim do Império” (Lisboa, Âncora Editora, 2018) e "A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsariana" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019).

É autor, com Luís Barroso, do livro, a sair brevemente, "Nos meandros da guerra: o Estado Novo e a África do Sul na defesa da Guiné" (Lisboa, Editora Caleidoscópio, 2020).

É membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015, tendo cerca de 3 dezenas e meia de referências no nosso blogue]



O último ano do Fiat G.91 na Guiné foi o mais difícil com a perda de cinco aviões, três deles abatidos por mísseis terra-ar SA-7 “Strela”.

O impacto desta nova arma na actividade aérea foi considerável, mas rapidamente a Força Aérea Portuguesa (FAP) adaptou-se à nova ameaça continuando a voar nos céus da Guiné. Os G.91 da Esquadra 121 desempenharam, nesse âmbito, um papel importante na resposta à guerrilha, sendo o principal vector de ataque e de apoio táctico às forças portuguesas nos meses derradeiros da guerra.

No dia 25 de Março de 1973, ao começo da tarde, o quartel de Guileje, no sul da Guiné, é flagelado por fogo de artilharia. O ataque é desencadeado em plena luz do dia para provocar a reacção da Força Aérea[1] e os militares no quartel pedem apoio aéreo a Bissalanca, onde estão sempre dois Fiat G.91 de prontidão.

Passado pouco tempo, um G.91 pilotado pelo Tenente Miguel Pessoa está na área de Guileje. Voando a baixa altitude, Pessoa procura vestígios do inimigo na zona de Gandembel, um pouco mais a norte de Guileje, mas subitamente, uma explosão faz o Fiat estremecer. O piloto tenta, desesperadamente, controlar a aeronave, mas sem sucesso. O motor está morto, as superfícies de comando não respondem, e o solo aproxima-se velozmente. Pessoa puxa a alça de ejecção sobre a cabeça e sofre o impacto da ejecção, que o lança para cima e para longe, abandonado o avião condenado, que explode com o impacto no solo.[2]
 

Contudo, ejectara-se já muito tarde. Demasiado baixo para que o pára-quedas se abrisse completamente, caiu com violência entre as árvores, acabando com uma perna partida. Ninguém sabe se está vivo ou morto, mas, ao final da tarde, consegue disparar um very-light que é visto pelo Tenente-Coronel Almeida Brito que participava com um Fiat, nas buscas. [Fig. nº 1, acima]

Na manhã seguinte, desloca de Bissau um grupo de pára-quedistas, em dois aviões Noratlas e um avião Dakota, para a Aldeia Formosa com o objectivo de resgatar o piloto. Os pára-quedistas são depois helicolocados na mata e rapidamente encontram vestígios do piloto. São depois secundados por um grupo de comandos africanos que acaba por encontrar Pessoa, sendo este levado para Guileje de helicóptero e depois para Bissau.[3] 

Na altura, ainda não o podia saber, mas fora a primeira vítima dos novos mísseis terra-ar SA-7 Strela 2, de fabrico soviético e recentemente adquiridos pelo PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

Três dias depois, a 28 de Março, outro Fiat, desta vez pilotado pelo Tenente-Coronel Almeida Brito é também abatido por um Strela, no sul da Guiné, provocando a morte do piloto [Fig. nº 2, acima]. 


Na manhã desse dia, o Centro de Operações da Base Aérea n.º 12 (BA12) intercepta uma mensagem proveniente da guerrilha que referia a presença de uma viatura na estrada de Ché Ché para Madina do Boé, no sul da Guiné, com uma individualidade importante do PAIGC. Dois G.91 em alerta na BA12 descolam e dirigem-se imediatamente para Ché Ché. A partir daí percorrem o trilho até Madina do Boé e continuam até próximo da base Kambera, já no território da Guiné-Conakry. Não tendo descoberto nada, os dois pilotos (Tenente-Coronel Almeida Brito e Capitão Pinto Ferreira) fazem o percurso inverso, a cerca de 500 pés de altitude. Na picada entre Gobije e Madina do Boé, a 3 km da fronteira, Almeida Brito dá conta a Pinto Ferreira de uma mata suspeita. Nesse mesmo instante, o avião de Brito explode no ar atingido por um SA-7. 


Um segundo míssil é disparado contra Pinto Ferreira, que faz uma manobra brusca, passando muito baixo sobre o terreno e, saindo assim, fora do alcance do míssil. Em seguida, sobe para os 10 mil pés para identificar o local do incidente e comunica à base o sucedido.[4] 


Além de Comandante do Grupo Operacional 1201 (GO1201), Brito era um oficial experiente e muito estimado pelos restantes pilotos. A sua morte provoca grande consternação em Bissalanca. Percebe-se depois que a mensagem interceptada era falsa e que se destinava apenas a atrair os aviões a uma armadilha. Com a morte de Brito, o comando do GO1201 passa para o Major Fernando Pedroso de Almeida.

O impacto do míssil na actividade aérea dos G.91 sente-se de imediato. O número de horas voadas pelos caças passa de 30 horas na última semana de Março para 22 horas na primeira semana de Abril e para apenas 9 horas na segunda semana desse mês, quando a ameaça do míssil ganha contornos dramáticos com o abate de 2 aviões Dornier DO 27 e um T-6. 
Porém, na semana seguinte, volta a aumentar para 22 horas e atinge novamente as 30 horas, na última semana de Abril, o que mostra que os “Tigres” se adaptaram à nova ameaça.[5] 


No entanto, a perda de dois jactos afecta também o quantitativo atribuído à BA12. De 11 aviões disponíveis, os “Tigres” passam para 9. A situação leva, em Junho, a que sejam atribuídos mais 2 Fiat à ZACVG (Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné) para compensar as perdas de Março, sendo o 5428, acabado sair de IRAN, cedido pela Base de Monte Real (BA5) e o 5434, ainda em IRAN, retirado da reserva nas OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico).[6] Os 2 aviões chegam à BA12 em meados de Julho.[7] 



Novas tácticas

O aparecimento do Strela leva a Força Aérea, logo em Abril, a informar-se sobre as suas capacidades e limitações de forma a adoptar contramedidas. Em Lisboa, a Direcção Geral de Segurança (DGS) obtém informação sobre o míssil através dos Serviços Secretos Alemães (BND), informação que depois é transmitida ao Secretariado-Geral da Defesa Nacional (SGDN) e às chefias militares, nos três cenários de guerra africanos.

A informação recolhida junto do BND indica que o SA-7 não tem capacidade de actuação acima dos 1500 metros de altitude (5000 pés) nem abaixo dos 50/60 metros (160/190 pés) - embora informações recolhidas mais tarde mostrem que o SA-7 podia actuar até aos 8000 pés (2400 metros)[8] - e que é possível evitar o míssil por meio de manobras evasivas e da adopção de altitudes de segurança. 


A informação da DGS refere também as características positivas e negativas do míssil salientando, nas positivas, o manuseamento e utilização fácil, além da alta velocidade e mobilidade da arma. Quanto às negativas, era referido que só são possíveis tiros de perseguição, e a impossibilidade de utilização em todas as condições meteorológicas, o alcance efectivo relativamente pequeno, os reflexos térmicos provenientes do solo que podiam confundir o sensor de infravermelhos, a fácil identificação pelo rasto de fumo e ainda o baixo peso da ogiva (1kg), que exigia o impacto directo do míssil para a destruição do alvo. [9]

Munidos desta informação, os “Tigres” passam então a usar novas tácticas de aproximação ao alvo e fuga, de forma a evitar os mísseis. As missões de ataque ao solo passam a ser feitas com altitudes de entrada e saída mais elevadas. 


Nas missões ATIP (Ataque Independente Planeado), o início da picada começa nos 10 000 pés com a largada de bombas a 6000 pés, sendo que o ponto mais baixo da trajectória não deveria situar-se abaixo dos 2500 pés. Nas missões ATAP (Ataque de Apoio Próximo), os Fiat podiam levar apenas bombas tendo que executar as missões nas mesmas condições de ATIP.[10] 


Além disso, a actuação em parelha passa a ser obrigatória, pois permite que um dos caças fique em posição de vigilância fora do alcance do míssil, perscrutando o solo e o espaço aéreo em torno do outro jacto, que efectua o ataque, com o intuito de detectar disparos do míssil e lançar, na frequência de intercomunicação, a mensagem de alerta de míssil. 


Relativamente ao disparo do SA-7 podia ser detectado tanto pela assinatura que deixava no terreno como também no ar. No terreno, a assinatura era caracterizada pelo aparecimento repentino duma bola de fumo muito branco, resultante da ignição e expulsão projéctil do tubo de disparo. No ar, a assinatura era formada pelo rasto de fumo da carga impulsora de combustível sólido, indiciando a trajectória do projéctil. Desta forma, quando um piloto visse um Strela a aproximar-se podia sair fora do alcance relativamente estreito do detector de infravermelhos através de uma rápida mudança de altitude e direcção.


As manobras evasivas 

A eficiência destas manobras é confirmada mais tarde, em Outubro de 1973, quando um atirador de mísseis do PAIGC, Armando Baldé, se entrega na guarnição de Tite às forças portuguesas. O ex-guerrilheiro revela então que os insucessos nos lançamentos do míssil contra o G.91 se deviam sobretudo à dificuldade do Strela em adquirir o alvo durante a picada do avião e também devido ao facto dos pilotos saírem dos passes de bombardeamento ou tiro, numa manobra de volta muito apertada, que superava as capacidades de manobra do míssil. [11] 

Esta táctica exigia, contudo, frieza e presença de espírito da parte do piloto, para executar a manobra mantendo o mais correcto equilíbrio entre a aceleração e a ascensão. Se apertasse demasiado (na gíria aeronáutica “se aplicasse muitos Gs”) o avião perdia velocidade e razão de subida, muito rapidamente. A geometria da volta passava a ser rectilínea quando olhada do solo. Caso enfrentasse um atirador de Strela experiente e calmo, podia ser abatido se o atirador atrasasse o disparo do míssil, na expectativa de que o piloto cometesse o erro descrito.

Outra excelente manobra de evasão era metralhar a picar e sair dos passes de tiro a descer em volta até ao nível um pouco acima do topo das árvores. Com esta manobra expunha-se muito menos a fonte de emissão de infravermelhos do avião, o cone de escape, à leitura do sensor de infravermelhos do míssil, comparativamente ao que acontecia quando se faziam saídas de ataque a subir, onde essa exposição era maior. A possibilidade de sobrevivência aumentava muito, conferida tanto pela velocidade como pela protecção oferecida pela baixa altitude, onde o calor irradiado pelo solo suplantava o emitido pelo avião. 


Este procedimento tinha, todavia, o problema da última aeronave a sair do passe de tiro não ter a vigilância e o aviso do outro avião, quanto a um eventual disparo do míssil. Desta forma, quando praticada, esta manobra exigia um cuidadoso planeamento da saída do último caça do passe de tiro. Com o decorrer do tempo, alguns pilotos praticaram este procedimento.[12]

 
As grandes ofensivas da guerrilha 

Sabe-se hoje que as primeiras acções com o míssil visavam sobretudo preparar o terreno para duas grandes ofensivas da guerrilha contra duas guarnições de fronteira: Guidage e Guileje.[13] [Fig. nº 3]

Em primeiro lugar, os guerrilheiros atacam e isolam o quartel de Guidage, perto da fronteira com o Senegal. O primeiro bombardeamento a Guidage acontece a 6 de Abril e aproveitando a evacuação de um ferido em DO-27, os guerrilheiros abatem dois aviões destes, além de um T-6, que participa, mais tarde, na operação de busca dos aviões abatidos.[14] O quartel fica praticamente isolado durante todo o mês de Maio. As vias de comunicação são minadas e as colunas de reabastecimento caem várias vezes em emboscadas. 


A situação leva as forças portuguesas a montar uma operação em grande escala (Operação Ametista Real), contra a base de Kumbamori, no Senegal, para a qual é mobilizada uma força de 450 comandos com o apoio de meios aéreos. A Esquadra 121 participa na operação com seis aviões Fiat, cada um equipado com duas bombas de 750 libras. Logo ao começo da manhã do dia 20 de Maio, os “Tigres” levantam voo de Bissalanca, mas um dos aviões pilotado pelo Capitão Pinto Ferreira é obrigado a regressar devido a uma colisão com um pássaro, que lhe danifica o motor. Para aterrar em segurança, o piloto larga as bombas com as cavilhas de segurança, no rio Geba. 


Entretanto, os outros cinco jactos entram em acção e bombardeiam a zona onde se supunha estar situada a base.[15] As bombas atingem alguns paióis de munições provocando rebentamentos violentos.[16] A base é depois atacada pelos comandos, que se envolvem num longo combate com os guerrilheiros. Só ao início da tarde, após duros combates, os comandos retiram da zona com o apoio da Força Aérea. A manobra de retirada é lenta e difícil e é pedido apoio de fogo aéreo e os Fiat, que tinham ficado em alerta na BA12, voltam a descolar rumo a Kumbamori para apoiar a retirada.[17] Nenhum avião é atingido, embora existissem na zona mísseis Strela. 






Fig. nº 3 – As grandes ofensivas da guerrilha na Guiné em 1973. Infografia: cortesia de Paulo Alegria.



Guidage resiste com grande custo ao cerco da guerrilha, sendo visitada, a 13 de Maio, pelo General Spínola, que desceu de helicóptero na povoação sitiada.[18] Spínola incita os militares a resistirem e sob o comando do Tenente-Coronel Correia de Campos, a guarnição aguenta o cerco até ao final de Maio, nunca abandonando a posição.[19] 

Depois de Guidage é a vez de Guileje, no sul da Guiné. Este quartel ficava situado numa zona vital da rota de reabastecimento da guerrilha e o seu abandono seria uma vitória importante para o PAIGC.

A guarnição de Guileje é sujeita a violentas flagelações, entre os dias 18 e 21 de Maio. Nesta última data, o quartel é bombardeado com intensidade e fica sem comunicações rádio com Bissau e com as Unidades mais próximas. 


Nessa altura, a 22 de Maio, o comandante da guarnição, Major Coutinho e Lima, decide abandonar Guileje com tudo o que lá havia, permitindo a entrada do PAIGC no quartel, três dias depois, sem qualquer resistência. A guerrilha permanece no quartel apenas algumas horas retirando de seguida. Os militares e a população de Guileje refugiam-se em Gadamael Porto, mas os guerrilheiros, motivados pela vitória alcançada, atacam de seguida Gadamael. 


Os primeiros bombardeamentos começam no dia 31 de Maio e prolongam-se pelos dias seguintes de forma intensa provocando grandes estragos no quartel e também a fuga de muitos militares.[20] Os Fiat actuam logo nos primeiros dias, bombardeando as posições de artilharia do PAIGC, na vizinha República da Guiné.[21] 


Quanto a Gadamael, resiste graças à intervenção de duas companhias de tropas paraquedistas enviadas para a defesa do quartel.[22] 
Depois da perda de Guileje, o comando militar em Bissau, não podia perder mais nenhum quartel no sul da Guiné, daí o empenho na defesa de Gadamael. 

Como se pode ver, mesmo no pico da crise militar, os Fiat de Bissalanca continuam a voar actuando tanto a norte na zona de Guidage e Binta, como a sul em Guileje e Gadamael, sendo flagelados algumas vezes quer por mísseis terra-ar, mas sem consequências,[23] quer pelas armas antiaéreas de Kandiafara nos ataques que fazem a esta base da guerrilha no país vizinho para aliviar a pressão sobre Gadamael. [24]

O número de horas de voo dos “Tigres” [Fig. nº 4] sobe assim de 83 horas em Abril para 128 horas em Maio. Como se pode ver pelo gráfico seguinte, a exploração operacional dos G.91 aumenta a partir de Agosto/Setembro mantendo uma média mensal de 150 horas até ao final do ano. A média dos 10 meses é, no entanto, de 130 horas mensais.[25] [Fig. nº 5]




Fig. nº 4 - Linha da frente em Bissalanca. 
Crédito fotográfico: Alberto Cruz





Fig. nº 5 - Exploração operacional: horas de voo (1973)


 

 A saída de Spínola 

A difícil situação militar leva Spínola a escrever, a 22 de Maio de 73, ao Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), General Costa Gomes, e ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, pedindo um reforço de meios para a Guiné “não tanto em ordem à obtenção do sucesso militar, mas tão-somente à prevenção de um colapso a prazo mais dilatado.” [26] 

Spínola alerta Costa Gomes e Silva Cunha para a possibilidade de um colapso militar na Guiné, o que provoca grande preocupação em Lisboa. É então decidido enviar o CEMGFA à província para se inteirar da situação.[27] Costa Gomes desloca-se à Guiné a 6 de Junho e fala com os diversos sectores militares para diagnosticar a situação. 


No fim da visita, a 8 de Junho, preside a uma reunião no quartel-general em Bissau, com a presença de Spínola e dos principais comandantes militares no território. Durante a reunião, os oficiais presentes, defendem que a situação militar exige um retraimento do dispositivo que evite o aniquilamento das guarnições de fronteira e concentre meios na zona mais interior da província de forma a “ganhar tempo e consolidar um reduto final que “in extremis” ainda possa permitir uma solução política do conflito.”[28] 


Outra preocupação manifestada na reunião é a possibilidade da guerrilha usar meios aéreos e Spínola alerta para a “extrema gravidade que se revestirá um ataque aéreo a Bissau, dada a vulnerabilidade dos órgãos essenciais de apoio logístico.”[29] 


Face a esta análise, Spínola salienta a necessidade urgente de novos meios de combate na Guiné capazes de contrabalançar o crescente poderio militar do PAIGC. Para a Força Aérea são pedidos 8 aviões de transporte Skyvan, 12 caças Mirage, 5 helicópteros e 1 radar de detecção. A este pedido acresce ainda mais homens e material para o Exército, além de lanchas para a Marinha. No fecho da reunião, Costa Gomes refere que não é possível, por absoluta falta de meios, reforçar o teatro de operações com os pedidos feitos por Spínola, mas concorda com a remodelação do dispositivo no sentido da retracção das unidades de fronteira.[30]

A impossibilidade de fornecer novos meios de combate e a alteração no dispositivo levam Spínola a escrever uma nova carta ao ministro do Ultramar manifestando a sua discordância quanto à retracção do dispositivo militar e ao abandono de certas áreas geográficas junto às fronteiras deixando à sua sorte as populações aí residentes, solução com a qual não se identificava, embora a considerasse necessária perante a falta de meios.[31] Desiludido com a política seguida pelo Governo, Spínola terminava a carta pedindo a sua substituição, o que só aconteceria em Setembro, com a chegada à Guiné, do General Bettencourt Rodrigues.

É já com Bettencourt Rodrigues que as forças portuguesas na província recebem algum reforço militar em homens, material AA de 94 mm (obsoleto como arma antiaérea) e um navio patrulha, mas nada que permita aumentar substancialmente o potencial de combate na Guiné.[32] 


A 24 de Setembro, numa cerimónia na região do  Boé, o PAIGC proclama, perante um grande número de convidados estrangeiros, a independência da Guiné-Bissau, mas esta nova situação não tem impacto no desenrolar da guerra.

A FAP tenta recuperar a iniciativa aumentando as missões de ataque assim como o espectro de actuação das aeronaves empenhadas. Além das missões diurnas, a Força Aérea começa também a desenvolver missões nocturnas usando para esse efeito, o G.91 e um C-47 adaptado a missões de bombardeamento.
 

(Continua)

[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no blogue: LG}
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Referências:

[1] Hernández, Humberto Trujillo, El Grito del Baobab, Editorial de Ciencias Sociales, Havana, 2008, p.114.
 

[2] Pessoa, Miguel, Um Fiat Abatido in a Guerra de África de José Freire Antunes, Volume 2, Círculo de Leitores, 1995, pp. 987-990.
 

[3] Rebocho, Manuel Godinho, Elites Militares e a Guerra de África, Roma Editora, 2009, p. 306
 

[4] Estado Maior da Força Aérea, Processo n.º 1242 de Averiguações por Acidente em Serviço, de José Fernando de Almeida Brito, Bissalanca, 3 de Abril de 1973, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH).

[5] Análise dos SITREPS Circunstanciados n.º 13, 14, 15, 16 e 17/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Arquivo da Defesa Nacional (ADN) /F2/SSR.002/87.

[6] Informação nº 198 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Atribuição de Fiats à ZACVG, 6 de Junho de 1973, SDFA/AH-SEA/Guiné 1964-1974/Fiat Processo 430.121.

[7] Análise dos SITREPS Circunstanciados n.º 28 e 29/73 do COMZAVERDEGUINÉ, ADN F2/SSR.002/87.

[8] Relatório imediato da Delegação em Moçambique da DGS, Assunto: Míssil solo-ar Strela 2, 3 de Novembro de 1973, ADN/F3/1/1/1.

[9] Informação Suplementar do Secretariado Geral da Defesa Nacional, Assunto: União Soviética: Míssil Terra-Ar individual GRAIL (SA-7), Fonte: DGS, 9 de Abril de 1973, Lisboa, ADN SGDN/5681/7.

[10] Directiva 20/73 do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Bissau, 29 de Maio de 1973, Arquivo Histórico-Militar AHM/DIV/2/4/228/2.

[11] Fraga, Luís Alves, A Força Aérea na Guerra de África (1961-1974), Editora Prefácio, Lisboa, 2004, p. 113 e Relatório Imediato nº 5641/73/DI/3/SC da DGS sobre o míssil solo-ar Strella-2, 31 de Outubro de 1973, ADN/F3/1/1/1.

[12] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

[13] Calheiros, José Moura, A Última Missão, Caminhos Romanos, Porto, 2010, p. 634.

[14] SITREP Circunstanciado n.º 14/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87 e José Moura Calheiros, op., cit. p. 439.

[15] Catarino, Manuel, Operação Ametista Real in As Grandes Operações da Guerra Colonial, Volume 10, Presselivre, Imprensa Livre SA, Lisboa, 2010, pp. 47-52 e José Moura Calheiros, op., cit. p. 433.

[16] Relatório da Operação Ametista Real, Bissau, 26 de Julho de 1973, Arquivo Histórico Militar AHM/DIV/2/4/133/2.

[17] Catarino, op., cit. p. 54.

[18] Entrevista de António Spínola a Manuel Bernardo in Marcelo e Spínola: A Ruptura – As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo, 1973-1974, 3ª Edição, Edium Editores, Porto, 2011, p. 209.

[19] Calheiros, op., cit. pp. 437-463.

[20] Calheiros, op., cit. pp. 516-521.

[21] Informação prestada ao autor pelo TGen. Martins de Matos.

[22] Calheiros, op., cit. pp. 513-545.

[23] Análise dos SITREPS Circunstanciados n.º 19, 20, 21, 22, 23, 24 e 25/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87.
 

[24] Calheiros, op. cit., p. 543.

[25] SITREPS circunstanciados do COMZAVERDEGUINÉ, ADN/F2/SSR.002/87 e 88.

[26] Spínola, António, País Sem Rumo, Editorial SCIRE, 1978, p. 56.

[27] Cunha, Silva, O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril, Atlântida Editora, Coimbra, 1977, p. 53.

[28] Acta da reunião de Comandos de 8/6/73, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Processo n.º 2202, Pasta A, ADN F3/17/34/4.

[29] Ibidem.

[30] Ibidem.

[31] Spínola, op., cit. pp. 60-62.

[32] Estudo do CCFAG sobre a área do Boé, Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Processo n.º 2202, Pasta A, ADN F3/17/34/4.

[33] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de dezembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20503: FAP (114): O helicóptero Alouette II

23 comentários:

ildeberto medeiros disse...

Bonito texte coisa que nao sabia obrigado ao Luis e atodos os colaboradores

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já disse, por email, ao José Matos que gostei muito do artigo. Como sempre, ele tem a preocupação pelo rigor e pela consulta de fontes primárias. Faço votos para que ele continue a alimentar a sua (e a nossa) paixão sobre este tema da nossa história militar...

Ainda hoje ou amanhã publicamos a II e (última) Parte. Os nossos postes não podem ser muito extensos-Este artigo tem 30 páginas, 30 e tal mil caracteres, mais de 6200 palavras... Teve, pois, que ser divido em duas partes.

Luís Graça, editor

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Relatiamente ao texto original, corrigi "Madina do Boé", que não foi, sabemo-lo hoje, o lugar onde o PAIGC declarou a independência da Guiné-Bissau,em 24 de setembro de 1973.

Como disse ao autor, é uma questão de rigor factual. O local exato ainda é fonte de controvérsia. Temos bastantes postes sobre isso...no nosso blogue.

Luís Graça, editor

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também tinha uma dúvida, que coloquei logo de manhã ao Miguel Pessoa e ao António Martins de Matos: quem sinalizou a posição do Miguel, depois do abate do seu Fiat G.91 ?...

O Antónoo Martins de Matos era o asa do Miguel,se bem recordo das nossas conversas e dos textos publicados, incluindo o recente livro do Martins de Matos, "Voando sobre um ninho de Strelas"... O José Matos esceve que foi o Brito que, ao participar nas buscas, à tarde, viu o "very light" disparado pelo Miguel...

Anónimo disse...

Miguel Pessoa (por email para o Lu+is Graça, c/c José Matos)
11 maio 2020 11:49

Olá Luís
Confirmo que foi o TC Brito quem viu o meu very light numa missão já próximo das 5 da tarde. O Matos já tinha andado lá antes, mas não tinha visto nenhum sinal meu.
Abraço. Miguel Pessoa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Miguel, está confirmado pela fonte... primária. Espero que continues a confirmar esta informção daqui a trinta anos, sinal de que a tua memória é fiável e consistente...

E já agora, uma questão que pus ao Zé Matos: decifra-me o acrónimo IRAN, que não consta do nosso pequeno dicionário da Tabanca Grande (*)...

E já agora outra coisa que queria esclarecer ao telefone, ontem:

A Giselda e as outras camaradas enfermeiras paraquedistas não viviam/dormiam na BA12, mas sim num edifício em Bissau, a que chamavam o "Vaticano"... Tenho ideia de ler isto ou de ouvir as vossas conversas. O Martins de Matos, no seu livro, também refere o termo... Confirmas ? Sabes a antiga localização (Rua...) ? Tens alguma foto ?

Mas o "Vaticano" também era o sítio onde estava alojada/sediada a capelania militar, o capelão-mor, o major capelão Gamboa, no tempo do alf mil capelão Arsénio Puim, que foi corrido do GTIG em maio de 1971... É nosso tabaneiro, fizemos-lhe, a pedido dos filhos, uma pequena homenagem pelos seus 84 anos...Falei ontem com ele, vive na ilha de São Miguel...

No "Vaticano" os capelães, que estavam no mato, também ficavam quando iam a Bissau... Se sim, se era o mesmo edifício, tinha que ser um casarão... Tu deves ter lá ido muitas vezes, com ou sem a benção do Gamboa...Mas... quem geria a casa ? A FAP ? O Exército ?

Bom "desconfinamento", ou melhor, boa "descolagem" da quarentena ... Ab, Luís,

___________

(*) Escreve o José Matos:

(...) "No entanto, a perda de dois jactos afecta também o quantitativo atribuído à BA12. De 11 aviões disponíveis, os “Tigres” passam para 9. A situação leva, em Junho, a que sejam atribuídos mais 2 Fiat à ZACVG (Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné) para compensar as perdas de Março, sendo o 5428, acabado sair de IRAN, cedido pela Base de Monte Real (BA5) e o 5434, ainda em IRAN, retirado da reserva nas OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico). (...) Os 2 aviões chegam à BA12 em meados de Julho (...)

Jose Matos disse...

Viva Luís

IRAN - Inspect and Repair As Necessary

Em relação ao primeiro Fiat abatido nesse dia descolou sozinho, pois o segundo piloto ficou à espera de ver qual o avião que iria utilizar como o António Matos conta no seu livro (p. 185).

Em relação a Madina do Boé foi em Lugadjol, região do Boé.

Ab

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Zé,vamos acrescentar o acrónimo IRAN ao pequeno dicionário da Tabanca Grande... Estamos sempre a aprender contigo... Obrigadão. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, também tenh reservas em relação ao teu parágrafo, já corrigido ("região do Boé", em vez de "Madina do Boé"):

(...)" A 24 de Setembro [de 1973], numa cerimónia na região do Boé, o PAIGC proclama, perante um grande número de convidados estrangeiros, a independência da Guiné-Bissau, mas esta nova situação não tem impacto no desenrolar da guerra." (...)

... Grande número de convidados estrangeiros ?... A expressão é capaz de ser "exagerada". Não sabemos ao certo quantos eram, os convidados estrangeiros, mas tenho ideia de que eram muito poucos...Era muito arriscado para o PAIGC, que não estava em condições de garantir e assegurar a sua segurança...

Não podemos continuar a reproduzir as "mentiras" da História, sejam as nossas sejam as dos outros... Mas todos os povos precisam de "mitos"... Claro que isto não é nenhuma crítica ao teu excelente trabalho, que não é sobre o 24 de setembro de 1973, mas sim sobre a dramática escassez de Fiat G-91, aeronave que, sob a nossa cabeça, nos dava, a nós, infantes uma grande tranquilidade...

Mesmo voando uma velocidade subsónica, o "silvo" do Fiat G-91, alvoraçando-nos ps coração, transformava uma tropa desmoralizada de infantes em heróis do Olimpo, depois de um "embrulanço" com mortos e feridos do nosso lado...

Acrescentaria também o barulho (securizante) do "Lobo Mau" (o helicanhão), por cima das árvores de grande porte, e os obuses a voar cima das nossas cabeças... Davam-nos um "suplemento de alma", no inferno do Xime, sei do que falo...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

9 DE OUTUBRO DE 2009
63/74 - P5079: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (5): Lugajole, disse ele (Luís Graça)


(...) Nesta selecção de fotos do Arquivo Amílcar Cabral (salvo graças ao zelo e competência da Fundação Mário Soares), respeitantes à I Assembleia Nacional Popular, de 23-24 de Setembro de 1973, é referido sistematicamente o topónimo Madina do Boé... Sabemos hoje que o local onde foi proclamada a independência não foi Madina do Boé, mas sim Lugajole, a sudeste de Beli. (...)

"A distância entre as duas povoações é de muitos quilómetros, assim como de muitas horas de viagem em jipe" - garante o Patrício Ribeiro, membro da nossa Tabanca Grande e profundo conhecedor da Guiné, desde há 25 anos (...).

O nosso amigo Pepito, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau também corrobora esta tese: 'Luís: O nosso Patrício tem absoluta razão. Foi em Lugadjol que foi proclamada a independência. abraço. Pepito". (...)

Em África não há uma tradição de rigor cartográfica, a cultura geográfica ainda é largamente oral e às vezes trocam-se os nomes dos lugares, o que em certas circunstâncias até pode dar jeito. Neste caso, Madina do Boé fez parte de uma operação de marketing político, bem montada pelo PAIGC para consumo interno e sobretudo externo. (...)

Ainda hoje todo o mundo está convencido que o nascimento da nova República deu-se na mítica Madina do Boé, aquartelamento entre as colinas do Boé abandonado pelos tugas, por alegadas razões estratégicas, em 6 de Fevereiro de 1969.

Pode ser, para alguns, um pormenor de somenos importància, mas não é: no nosso bliogue, achamos e defendemos que todos temos o direito à verdade, a começar pelos jovens guineenses, nossos irmãos e amigos. (...)

Anónimo disse...


António Matos
11 maio2020 14:13

Olá a todos

Também não foi em Lugadol.

Da minha 2ª edição do livro sobre os Strelas, aqui vai parte do texto de um novo capítulo intitulado “Sékou Touré e o PAIGC”:


“ Do que ultimamente tem vindo a lume, o local mais provável terá sido em Léle, a 220 quilómetros a sudeste de BOÉ, já fora do alcance dos Fiat, a 3 quilómetros da fronteira, já no lado da Guiné-Conacri.”

Cumprimentos

AMM

Anónimo disse...


Miguel Pessoa

11 maio 2020 14:03

Luís, já sabes pelo José Matos o que quer dizer o IRAN. Era uma Grande Inspecção feita nas OGMA sempre que o avião atingia um determinado nº de horas de voo ou um prazo limite entre inspecções, o que sucedesse primeiro - motivo pelo qual, ao incrementarmos o número de missões e consequentemente as horas de voo de cada avião, acabávamos por dispor de menos aeronaves, por atingirem mais cedo o limite da sua disponibilidade.

Quanto ao Padre Gamboa, não sei onde é que ele morava, e o tal "Vaticano" era apenas ligado às suas actividades , não tendo nada a ver com as enfermeiras paraquedistas.

A casa das enfermeiras está identificada na figura em anexo [, a publicar num próximo poste]. Localizava-se no chamado Largo do Liceu, bem próximo do antigo Liceu Honório Barreto, também referenciado na imagem.
Abraço. Miguel

Jose Matos disse...

Viva

O local exacto foi em Venduleide, perto de Lugadjol,numa zona pouco povoada, de mata não muito densa, com acessos fáceis de controlar, não longe da Guiné-Conacri, portanto, na região do Boé.

Em relação aos convidados não sabemos o número exacto mas vieram da Suécia, de países socialistas e africanos, entre os quais do Senegal e da República da Guiné, e cubanos. As fotos mostram isso. Há um artigo do José Manuel Rocha que saiu no Público em 24/9/2013 que conta essa história toda. É só procurar na net.

Ab

Jose Matos disse...

Aqui está o artigo.

https://www.researchgate.net/publication/321150708_Guine-Bissau_1973_Os_camaradas_estao_a_perguntar_se_e_assim_que_se_toma_a_independencia

Ab

Anónimo disse...

Gil Moutinho (por email=
11 maio 2020 16:29


Vou dar algumas achegas ao episódio do abate do Kurika [, nome de guerra do Miguel Pessoa,] em Guilege.

Os primeiros a aparecer na zona,em busca da aeronave desaparecida,foi uma parelha de T6,fur. Gil Moutinho e a asa fur Carvalho, que foram requisitados pelas operações da BA12 (Marte) e que estavam a terminar uma missão ATAP em Aldeia Formosa (apoio à coluna Buba-Aldeia).

A poucos minutos e já na Zona de destino do alerta do Kurika, fomos alvejados por Strelas (um para mim e 2 para o asa e a este em tiro directo), não tendo sido atingidos ou abatidos.

Entre disparos de foguetes para a zona dos disparos e a chegado de um Fiat, pilotado pelo Major Pedroso, ficamos a rondar a zona,tendo sido referenciada a zona dos disparos, não foi disparado mais algum durante a tarde, estando várias aeronaves envolvidas na busca.

Ao lusco fusco o ten cor Brito, em DO (já li que teria sido em Fiat, mas não!) detetou o "very light do Miguel, e o resto já sabem.

Merecido champagne!!

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Luís Graça (por email)
16:10

António, como vai isso ? Bem... "confinado" ?

Obrigado pelo "cheirinho" deste novo capítulo do teu livro... O tema, como sabes, desperta a atenção do leitor...Como vês, a malta, mesmo os "académicos", cai na esparrela do mito "Madina do Boé, berço da Nação#... As mentiras à força de se repetirem tornam-se verdades... sejam as nossas sejam as dos outros...

O que é tu apuraste mais sobre este tópico ? Não queres "alargar" o cheirinho, oferecer mais uns excertos deste capítulo ? ...

E diz-nos onde se pode comprar, em papel ou em ebook, a 2ª edição do livro, de que já deu notícia há dias...

Aquele (tele)abraço. Cuida-te. Luís

Anónimo disse...


António Matos
11 maio 2020 18:47

Caro Amigo


Passado este confinamento, a segunda edição do meu livro está de novo à venda na Internet, no “Pássaro de Ferro”. O Editor, “Sitio do Livro” esteve encerrado, não sei se já abriu.

É o mesmo texto, devidamente revisto e com dois novos capítulos que senti fazerem falta.

São eles:

“UM POUCO DE HISTÓRIA”, referência às Conferências de Berlim em 1884 e Bandung em 1955, os Países não Alinhados, o “Direito à Autodeterminação de todos os Povos”, até chegarmos aos Movimentos de Libertação e ao PAIGC;



“SÉKOU TOURÉ E O PAIGC”, demonstração que, a partir do assassinato de Amílcar Cabral, o Chefe do PAIGC (DE FACTO) não era nenhum cabo-verdiano nem guinéu mas sim… o Presidente da Guiné-Conacri.

O Plano de Sékou Touré até era simples, a Declaração de Independência, Reconhecimento pela ONU, Pedido de Apoio Internacional, Invasão e Anexação do território.

O que lhe correu mal? Os Países Nórdicos que lhe retiraram o apoio e o 25Abril.

Abraço

AMM

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Venduleidi (uma palavra composta de Vendu=Lagoa + Leide=terra), literalmente significa em lingua Fula Lagoa de terra ou Lagoa arenosa. De salientar que os planaltos de Boé estão repletos de lagoas (Wendus ou Vendus) que fornecem água para as populações locais.

Esta remota localidade fica situada junto a linha da fronteira com a Guinée-Conacry, na Secção de Beli e Sub-Secção de Lugajol, no Sector de Boé.

Hoje é consensual que foi o palco da cerimónia da proclamação da independência em Setembro de 1973.

Com um abraço,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Uma correcção ao comentário do amigo Gil Moutinhho.
O very light avistado pelo Tcor Brito aconteceu ao fim da tarde, a voar FIAT-G91.
Eu era o seu asa. Enquanto eu fiquei a voar baixo, para alertar o piloto ejectado que o tínhamos referenciado, o TC Brito subiu o suficiente de modo a poder marcar na carta o local exacto de onde tinha saído o very light.
O que O Gil Moutinho conta passou-se no dia seguinte, o dia da recuperação.
Abraços
AMM

gil moutinho disse...

Amigo António Matos
Todos estes anos convencido que foi como escrevi.
Fico esclarecido
abraço
gil

gil moutinho disse...

Completando o meu comentário anterior,quero dizer que posso estar errado na questão de ser DO ou Fiat pilotado pelo tCor Brito e que detectou o very light do Miguel Pessoa,mas em tudo o resto afirmo sem dúvidas,foi comigo e estive lá .No dia seguinte foi o resgate bastante cedo.
gil Moutinho

Cristiano Simões disse...

Era um Fiat sem dúvida alguma eu estava de serviço

Rute disse...

A verdadeira história sobre a recuperaçao do Tenente Piloto Miguel Pessoa- Guiné, Março de 1973!!!
No dia 23 de Maio (Dia dos Páraquedistas), uma das minhas preocupações em Tancos, foi encontrar o Capitão Delgadinho Rodrigues e tirar a limpo (de uma vez por todas) junto de quem esteve na operação de resgate, o que se tinha passado realmente, separando a realidade da ficção.
A 25 de Março de 1973, cumprindo o serviço de alerta na BA12 em Bissalanca, na Esquadra 121- Tigres, que operava os Fiat G.91, uma parelha é chamada a responder a um ataque com canhões e foguetões, sobre o aquartelamento de Guileje, no sul da Guiné Bissau, bem próximo da fronteira com a vizinha Guiné Conacri.
O Tenente Pessoa sentiu apenas a detonação do míssil na traseira do avião, e a imediata perda de potência na turbina. A escassa altitude, com o avião em queda desgovernada e já sem comandos devido a falha do sistema hidráulico, faz com que Miguel Pessoa se tenha de ejectar da aeronave no último instante. De tal modo, que o pára-quedas não chegou a abrir totalmente, tendo o piloto entrado pelo arvoredo dentro com velocidade excessiva, o que lhe viria a causar uma luxação\fratura do perónio, no embate com o solo.
A Companhia 123, no dia 26 logo de madrugada, parte de avião para Aldeia Formosa (Operação Busca\A), com a missão de bater as zonas onde anteriormente tinha sido detetado o páraquedas e um outro local onde estariam os destroços do avião. Um grupo pertencente ao 4ºpelotão (com o então 2º Sargento Delgadinho Rodrigues é colocado de helicoptero na mata, erradamente, é mencionado históricamente um grupo do 2º pelotão, comandado pelo Tenente Bernardes) este grupo era comandado pelo Alferes Américo Santos onde se incluia igualmente o Sargento Renato Dias.
É o proprio Sargento Delgadinho Rodrigues , que apesar de não ter formação como pisteiro, apanha rápidamente a pista do Tenente Pessoa, são detetadas as cápsulas de very light, usadas no dia anterior para assinalar a sua posição, ainda fezes assinalando o seu percurso e o local onde pernoitou. A prossecução da missão era facilitada pelo rasto visível deixado pelo piloto em esforço de andamento, e em questão de minutos o contacto seria feito... no entanto... o CMDT de Pelotão, recebe ordens do CMDT de Companhia (Capitão Cordeiro) para regressarem ao ponto de partida e interromperem as buscas!!! Seria necessário aguardar a chegada de Guileje. de helicóptero, de Marcelino da Mata e alguns elementos do seu grupo. São depois estes dois grupos que finalmente, e não sem alguma dificuldade, fruto ainda da desorientação do piloto em perceber quem era amigo ou inimigo nas redondezas. que acabam por recuperar o Ten. Pessoa.
O Sargento Delgadinho Rodrigues, fazia-se sempre acompanhar de uma máquina fotográfica para captar os momentos principais das operações, todas as fotos conhecidas sobre esta operação são suas! O rolo, por ser a cores, foi necessário ser revelado na Metrópole, quando chegou, o próprio Sarg. Rodrigues entregou pessoalmente ao Tenente Pessoa (entretanto recuperado) no bar do BCP 12, algumas fotos, que hoje ilustram os trechos sobre esta operação (ficando apenas até hoje, com as duas originais (a cores) que em baixo coloquei, a 3ªfoto já não pertence ao espólio e mostra o Tenente Pessoa já a ser colocado no helicoptero) .
Ja na altura se comentava que esta decisão (de interromper as buscas) teve fundamentações políticas, as quais pretendiam demonstrar o empenho dos locais na Guerra, e que inclusivamente tinham recuperado um piloto abatido!!!

Sergio Silva (Sargento Páraquedistta)