segunda-feira, 11 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20965: FAP (116): O último ano do Fiat G-91 - II (e última) Parte (José Matos)



Fig. 9 - O primeiro Fiat G.91 a ganhar a nova pintura verde escura para evitar o míssil. Infografia: Paulo Alegria. 


O último ano do Fiat G.91 na Guiné
por José Matos
,

[Publicado originalmente na
Revista Militar N.º 4 – abril 2020, pp. 395-414-
Cortesia do autor e editor]





José Matos [, foto à direita]: 

(i) investigador independente em História Militar, tem feito pesquisas sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial portuguesa, principalmente na Guiné;

(ii) é  colaborador regular em revistas europeias de aviação militar e de temas navais;

(iii) colaborou nos livros “A Força Aérea no Fim do Império” (Lisboa, Âncora Editora, 2018) e "A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsariana" (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2019);

(iv) é autor, com Luís Barroso, do livro, a sair brevemente, "Nos meandros da guerra: o Estado Novo e a África do Sul na defesa da Guiné" (Lisboa, Editora Caleidoscópio, 2020).

(v) é  membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015, tendo cerca de 3 dezenas e meia de referências no nosso blogue]


II (e última parte) (*)

Operações nocturnas 

As missões de Fiat à noite são executadas com luzes de posição apagadas. Esta restrição implicava que a força atacante não fosse superior a 2 caças e que a actuação, no local de acção, obedecesse a um rígido sistema de escalonamento em altitude, tanto na fase da entrada como na da saída dos passes de tiro e à selecção de um ponto em terra bem conhecido para a reunião e regresso à base, dos aviões.

Quanto ao apoio, este era relativamente fácil de prestar, porque o clarão do disparo das armas da guerrilha, denunciava a sua posição no terreno. No local de acção, o primeiro jacto a entrar tinha, por isso, grande probabilidade de infligir danos ao inimigo. Fizeram-se saídas desta natureza a favor de Gadamael Porto e outra em apoio de Cufar.[33]

Em relação ao C-47, foi engendrado um visor a partir de um derivómetro usado no DC-3 Skymaster, que media ângulos na horizontal e na vertical. Ao fim de alguns voos gerou-se uma tabela de tiro e a aeronave entrou em acção, a coberto da noite. O avião adaptado era, habitualmente, usado em missões de reconhecimento fotográfico e tinha, por isso, uma abertura no dorso inferior traseiro, para instalação da máquina fotográfica. Era por essa abertura que os militares a bordo lançavam manualmente bombas de 15 kg. Os voos eram habitualmente feitos a 10 000 pés (3000 metros) fazendo bombardeamento de área. [34] 


A estreia do C-47 nesta função acontece em Setembro de 1973 com 3 acções/3 saídas nocturnas, continuando em Novembro com 5 acções/5 saídas e em Dezembro com 12 acções/12 saídas.[35]

Podemos agora ver pela análise dos SITREPS (“Situation Report”) da época que o número de acções aéreas de ataque do G.91 aumenta de forma consistente a partir de Agosto de 73, atingindo o pico máximo em Outubro (126 acções).[36]





Fig 6 - Fiat G-91: ações aéreas de ataque (1973)


A partir da análise do gráfico [Fig nº 6], constatamos que o número de missões ATIP (Ataque Independente Preparado) é significativo, a partir de Julho (49) sendo durante o resto do ano superior ao mês de Março, ou seja, antes do aparecimento do míssil. As missões ATAP (Ataque de Apoio Próximo) atingem um pico em Maio/Junho, durante a crise militar de Guidage, Guileje e Gadamael, baixando depois durante o resto do ano. Quanto às missões ATIR (Ataque Independente em Reconhecimento) desaparecem praticamente durante o ano.

Ataques a Kandiafara 

Em Agosto, o Tenente-Coronel Fernando de Jesus Vasquez substitui o Major Pedroso de Almeida no comando do GO1201. Um mês depois da sua chegada, os Fiat são empenhados em várias missões de bombardeamento a Kandiafara, na Guiné-Conakry. Estas missões começam no início de Setembro e intensificam-se a meio do mês, quando os “Tigres” bombardeiam esta base várias vezes, apesar da forte oposição das antiaéreas.[37] Num destes ataques, a 20 de Setembro, é morto um oficial cubano, o Tenente Raúl Pérez Abad, que apoiava as forças do PAIGC.[38]

Entretanto, a 1 de Setembro, a Força Aérea perde mais um G.91, mas, desta vez, por razões desconhecidas. O Fiat 5416 era pilotado pelo Capitão Carlos Wanzeller e participava numa missão de bombardeamento em apoio a uma helicolocação, usando bombas de 750 libras (340 kg). 


Durante o passe de bombardeamento e após largar a primeira bomba, o avião de Wanzeller enrola bruscamente para a esquerda até uma posição invertida, ficando o piloto sujeito a uma aceleração excessiva e sem controlo do avião. Após a perda momentânea de consciência, Wanzeller ejecta-se, sendo recuperado posteriormente por um helicóptero que procedia às helicolocações. Na investigação que é feita ao acidente não se consegue apurar o motivo da perda de controlo do avião, ficando o piloto ilibado de qualquer responsabilidade. [39]

No seguimento deste incidente, o Comando da Zona Aérea solicita a substituição do Fiat acidentado, sendo decidido que o avião 5439, previsto sair de IRAN 
[Inspect and Repair As Necessary] em Fevereiro de 1974 para a BA5, seja atribuído à ZACVG. 

No entanto, o chefe da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), Coronel Costa Gomes (um veterano da guerra na Guiné), salienta “que tal decisão irá afectar a já difícil situação da Base Aérea nº 5, no que respeita à preparação operacional de pilotos de G.91 para o Ultramar.” 

Atendendo que a BA5 dispunha apenas de 5 Fiat (3 disponíveis) e que, provavelmente, todas as futuras substituições só poderiam ser realizadas recorrendo aos restantes aviões que estavam em Monte Real, Costa Gomes considera oportuno que seja revisto o problema da preparação operacional em Fiat na BA5, cada vez com menos aviões para essa função. [40] O problema agrava-se no mês seguinte com a perda de outro caça na Guiné.


Ejecção na selva 

A 4 de Outubro, os “Tigres” perdem o Fiat (5409), no norte da Guiné, na região de Jagali, a sul do rio Cacheu, perto da mata do Tancroal. Na manhã desse dia, dois G.91 descolam da BA12 rumo ao norte, pilotados, respectivamente, pelo Capitão Alberto Cruz e pelo Coronel Lemos Ferreira, na altura Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG). Cada avião transportava nas asas 2 bombas de fragmentação de 200 Kg e 4 bombas de demolição de 50 Kg, além das munições habituais nas metralhadoras do nariz. 


O tempo estava encoberto por nuvens altas, mas a zona suspeita distava apenas 50 quilómetros de Bissau e em 15 minutos de voo a parelha estava sobre a mata do Tancroal à procura de vestígios da guerrilha. O ponto de convergência de alguns trilhos suspeitos é assumido como alvo e a zona é de imediato bombardeada pelos dois aviões. Os dois jactos atacam o alvo de forma desfasada no tempo para que cada um possa vigiar a recuperação do outro e avisá-lo em caso de disparo do míssil e atacar o local de lançamento. 


Depois de largadas as bombas, o Capitão Alberto Cruz mergulha em ângulo de picada de 60º para metralhar a posição suspeita e de repente sente um grande estrondo e percebe que qualquer coisa de grave aconteceu ao G.91. O avião vibra com tanta violência que o piloto bate constantemente com o capacete na “cannopy” e a consola do Fiat mostra luzes acesas por todos os lados. De repente, o G.91 entra numa espiral descontrolada e o piloto perde completamente a visão à sua volta e decide ejectar-se. 


A ejecção ocorre a cerca de 400 nós (740 km/h), ou seja, muito perto do limite do cabo de disparo do pára-quedas de abertura que é de 470 nós (870 km/h). É uma ejecção violenta, tão violenta que o piloto perde o capacete e os sentidos, durante algum tempo, e sofre também uma forte compressão na coluna. A descida até ao solo é rápida. Em pouco mais de 15 segundos, o piloto aterra na floresta, mas fica pendurado numa árvore a cerca de 5 metros do solo. 


Perante a situação, deixa o paraquedas deslizar suavemente até que a cerca de 2 metros de altura cai desamparado no chão. Logo de imediato sente dores nas costas, além de um joelho dorido e de perda de visão no olho esquerdo, magoado durante a ejecção. Mas a velha cadeira Martin-Baker salvou-lhe a vida. Recupera da queda e ouve vozes dos guerrilheiros ou da população; discretamente desloca-se a custo para uma clareira, onde fica à espera de ser recolhido. [Fig. nº 7]




Fig. 7 - Capitão Alberto Cruz na Guiné.

Crédito fotográfico: Alberto Cruz 



O líder da parelha alerta Bissalanca e dois Fiat de prevenção acompanhados por dois helicópteros Alouette III armados com canhões de 20 mm partem imediatamente da base para fazer a recuperação. O primeiro G.91 chega rapidamente ao local, mas com receio de ser localizado pela guerrilha, o piloto não emite qualquer sinal luminoso. 

Passados 35 minutos, os Alouette III começam a sobrevoar a área e é nessa altura que o Capitão Cruz lança um flare que é visto por um dos helicópteros, sendo então recuperado. De regresso à base, é elaborado o relatório do que se passou em que o motivo do incidente é atribuído a “causas indeterminadas”. 


De facto, o Coronel Lemos Ferreira que estava no outro Fiat não viu qualquer míssil e o Capitão Cruz fica com a ideia de que pode ter sido o painel das metralhadoras do lado esquerdo que se abriu durante o voo, pois na inspecção que tinha feito antes de levantar voo tinha notado alguma folga neste painel. 

A suspeita do piloto leva a FAP a consultar o construtor do avião (a Dornier), que informa que “os painéis laterais de armamento já se abriram, em alguns casos, mas durante a fase de descolagem” existindo nesses casos “uma tendência de o avião enrolar para o lado oposto ao da abertura, tornando-se crítico o controlo direccional. A firma construtora especificou que no caso particular da perda do painel lateral de armamento em voo, o centro de gravidade deslocar-se-á significativamente para trás, desconhecendo-se qual a alteração da estabilidade da aeronave.”[41]

Entretanto, em Bissalanca, todos os Fiat são inspeccionados detectando-se fracturas nas longarinas da chapa pára-fogo das metralhadoras e também nos ailerons, o que obriga à respectiva reparação em todos os aviões. [42]


Os receios da época seca 

Com o início da época seca (Dezembro-Maio), as chefias militares na Guiné registam um crescendo progressivo da actividade da guerrilha, depois de alguns meses de baixa actividade (principalmente Outubro e Novembro de 73). Esperam obviamente por outro ataque de grande envergadura contra as guarnições de fronteira, sendo Bigene, Guidage, Copá, Canquelifá, Buruntuma e Gadamael, os alvos mais prováveis. Há também o receio de acções de fogo sobre núcleos populacionais importantes, como o caso de Bissau, Bafatá ou Farim. [43] 

Mas nada disso acontece. Durante toda a época seca, o PAIGC não volta a lançar ataques de grande envergadura como os de Guidage, Guileje ou Gadamael, no entanto, concentra a sua acção sobre Copá e Canquelifá na frente leste junto à fronteira com o Senegal e a Guiné-Conakry.[44] Em apoio a estas acções, os guerrilheiros continuam a usar mísseis, mas sem grandes resultados. Entre finais de Abril até Dezembro de 1973, são detectados 15 disparos contra os “Tigres”, mas sem consequências.[45]


Em busca de novos Fiat 


Em Dezembro de 1973, a Força Aérea recebe informações de que a Luftwaffe pretende desactivar durante o ano de 1974, 50 a 60 jactos Fiat G.91 R/3 com uma média de 1800 a 2000 horas de voo havendo interesse da parte portuguesa em comprar alguns destes caças para reforçar a frota da FAP.[46] 


O problema é que o Governo de Bona não pretende vender os aviões a qualquer país estrangeiro, com o receio que o destino final seja sempre Portugal. A venda de armas a Portugal é um tema politicamente sensível na Alemanha, desde que o G.91 do Tenente-Coronel Almeida Brito apareceu nos jornais alemães como sendo de origem germânica, o que gerou críticas contra o Governo. [47] 


Desta forma, torna-se impossível a compra dos aviões na Alemanha. O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), General Tello Polleri, ainda tenta explorar, junto de Espanha, a possibilidade destes aviões serem comprados pelas Construcciones Aeronáutica S.A (CASA), para depois serem vendidos a Portugal, mas sem sucesso.[48] 


Ao mesmo tempo, o Governo português tem em curso negociações para a compra de caças Mirage em França, mas o negócio esbarra na intransigência francesa de não permitir que os Mirage sejam usados na Guiné ou em Cabo Verde, uma exigência que dificulta um acordo entre Paris e Lisboa. [49]

A falta de novos Fiat preocupa a Força Aérea e a 3ª Repartição do EMFA produz, em Fevereiro de 1974, um estudo sintético sobre o problema em que considera que, face ao número de aviões existentes (31 unidades) e tendo em conta a depreciação da frota por acidentes e acção do inimigo, a FAP precisa de mais 25 aviões e 28 motores que deviam ser adquiridos nos dois anos seguintes. 


Na altura, a ZACVG dispunha de 11 caças, a 3ª Região Aérea em Moçambique de 16 e a BA5 de 4, embora estivesse previsto o reforço da 3ª RA com mais 4 jactos, ficando Monte Real sem qualquer avião para treino operacional.[50]


A fuga espectacular de Castro Gil 

Com o início de 1974, a guerrilha começa a tentar penetrar na zona nordeste da Guiné aumentando a pressão sobre Copá com bombardeamentos de artilharia. A resposta portuguesa passa pela utilização do C-47, em bombardeamentos nocturnos e do Fiat G.91, durante o dia. 

Na tarde de 31 de Janeiro de 1974, acontece um desses ataques e a BA12 recebe um pedido de apoio de fogo do quartel de Canquelifá, na fronteira norte com o Senegal. Em resposta, dois G.91 descolam de Bissalanca rumo à zona flagelada. Assim que os aviões começam a sobrevoar a área de Canquelifá, os guerrilheiros suspendem o ataque e os pilotos pedem aos militares do Exército, as referências necessárias para bombardear as posições da artilharia. 


O primeiro Fiat, pilotado pelo Tenente-Coronel Jesus Vasquez, efectua o seu bombardeamento sem qualquer reacção antiaérea, mas quando o segundo Fiat, pilotado pelo Tenente Castro Gil, executa a mesma acção é atingido por um míssil quando recupera do passe e despenha-se perto do território do Senegal. Castro Gil ejecta-se e aterra perto das linhas inimigas. A proximidade da noite não permite que seja desencadeada uma operação de regaste e o líder da parelha, após ter informado a base, regressa à BA12, que, entretanto, coloca em marcha os planos para o inevitável resgate. 


Para a operação, são mobilizados os comandos africanos de Marcelino da Mata e dois pelotões de pára-quedistas, que iriam descolar logo de manhã cedo para Nova Lamego, de onde iriam de helicóptero para a zona onde o piloto português caíra. Um C-47 fora também colocado no ar, sobrevoando a zona de Canquelifá para que Castro Gil percebesse que a Força Aérea o iria resgatar assim que possível. 


O piloto, depois de chegar ao solo e vendo-se numa zona queimada pelos bombardeamentos da guerrilha decide afastar-se para norte, para o lado do Senegal, de forma a despistar a guerrilha. Munido de uma bússola, esgueirou-se pela cinza de forma a não deixar grande rasto e caminhou o mais que pôde para não ser encontrado pelos guerrilheiros. Já depois do raiar do dia, mudou de direcção para sul, em busca da estrada alcatroada de Buruntuma-Piche-Nova Lamego. O plano de Castro Gil era chegar ao quartel de Piche.

O raiar do dia trouxe também o início das operações do Exército português. Os homens de Marcelino da Mata foram colocados no terreno e encontraram o que restava do pára-quedas e do assento ejectável, mas sem sinal do piloto. 

Entretanto, um pequeno DO-27 de reconhecimento foi colocado no ar também para procurar o piloto que,  ao ver o avião, lançou um very-light, mas desesperado, apercebeu-se que a tripulação não o vira, e o monomotor a hélice afastou-se do local onde estava. Foi um rude golpe, sobretudo tendo em conta que já se afligia com sede e calor. Mesmo assim, não desistiu e resolveu prosseguir com o seu próprio plano. 





Fig. 8 – Regresso do Tenente Castro Gil a Bissalanca. Crédito fotográfico: Grupo Operacional 1201. 



Ao fim de muitas horas, acabou por encontrar uma tabanca. Escondido entre a vegetação, estudou os habitantes para se certificar de que eram de confiança. Ao fim de uma hora, decidiu arriscar, indo ter com uma mulher para lhe pedir água. Estava agora rodeado pela população, que se revelou amigável e pediu a um habitante local para ser levado para o quartel de Piche. O homem surgiu com uma bicicleta de assento atrás e mandou Castro Gil instalar-se e arrancou a pedalar em direcção ao sul. 

No caminho, ainda passou por dois homens armados, caminhando em sentido inverso, que o condutor da bicicleta cumprimentou sem levantar qualquer suspeita. No espírito de Castro Gil ficou a dúvida se os homens seriam milícias de um destacamento existente entre Piche e Canquelifá (Dunane) ou dois guerrilheiros que teriam andado à sua procura e regressavam ao seu acampamento.

Enquanto isto se dava, a equipa de resgaste prosseguia a sua missão durante o dia, na zona de Canquelifá, mas sem encontrar vestígios do piloto.

Só ao final do dia é que receberam uma comunicação de Piche que dizia, em termos muito simples, que o piloto tinha chegado ao quartel, de bicicleta! [51]


Sistemas antimísseis 

Na altura em que Castro Gil foi abatido existiam já contactos para adquirir, em França, uma tinta de baixa reflexão de tonalidade verde escura para evitar o míssil. O primeiro Fiat a ganhar esta nova pintura foi o 5401, que estava em Monte Real na BA5, sendo transferido para a Guiné em Março de 1974. [52] [Fig. nº 9]

A Força Aérea procura também equipar os Fiat com um sistema antimíssil do tipo flare a comprar nos EUA e o ministro da Defesa, Silva Cunha, autoriza, em Fevereiro de 1974, a compra de dispersores de flares para instalar no G-91.[53] O modelo escolhido é o TRACOR TBC-72 de fabrico americano semelhante ao AN/ALE-40 da mesma empresa. A ideia era instalar 4 dispersores por avião junto ao bordo de fuga dos suportes internos. Os TBC-72 permitem a utilização, não só de artifícios iluminantes, como também de “chaff” (limalha de perturbação de radar).

Em Abril, são feitas diligências junto da embaixada portuguesa em Washington para saber da possibilidade da venda de tal equipamento pelos americanos, mas com o 25 de Abril e o fim do regime, a compra perde sentido.[54]


O fim da guerra 


A actividade operacional dos “Tigres” em 1974 vai decrescendo nos primeiros meses do ano até à revolução de Abril. Mesmo assim, a média mensal é de 140 horas/voo, ou seja, superior aos 10 meses anteriores (130 horas/voo).[55] De Janeiro a Abril de 1974, são detectados disparos de 11 mísseis contra os Fiat, mas com excepção do abate de Castro Gil, nenhum Strela atinge os jactos. [56]

Apesar do 25 de Abril e da mudança do regime em Lisboa, a guerra não acaba de imediato e os Fiat continuam a voar nos céus da Guiné. Bettencourt Rodrigues é demitido das suas funções e chamado a Lisboa, sendo substituído pelo Tenente-Coronel Mateus da Silva e depois pelo Tenente-Coronel graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião, que toma posse em Bissau, a 8 de Maio.[57] Na Força Aérea, o Tenente-Coronel Vasquez continua no comando do GO1201, não havendo qualquer mudança.

No início de Maio, os G.91 ainda efectuam algumas missões de ataque e uma de apoio próximo em Mamboncó,[58] mas com o cessar-fogo acordado em Dacar em meados de Maio, as operações ofensivas cessam na Guiné.[59] Os “Tigres” ficam limitados a missões de vigilância até à independência da Guiné. Terminava assim a vida operacional do Fiat neste território africano.

José Matos

__________

O autor agradece ao Arquivo da Defesa Nacional, ao Arquivo Histórico-Militar e à Torre do Tombo, as facilidades concedidas para esta investigação. Ao TGen Fernando de Jesus Vasquez, ao TGen António Martins de Matos e ao Maj Alberto Cruz a leitura e informações prestadas. 
 

[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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Referências:


[33] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

[34] Informação prestada ao autor pelo General Fernando de Jesus Vasquez.

[35] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 40/73 e 46/73 a 52/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/87

[36] SITREPS do COMZAVERDEGUINÉ, ADN/F2/16/87 e 88.

[37] SITREPS nº 36-39/73 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/88.

[38] Hernández, op. cit., p. 237.

[39] Informação n.º 166 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Acidentes com as aeronaves Fiat n.º 5416 em 1 Set. 73 e 5409 em 4 Out. 73, 22 de Abril de 1974, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH).

[40] Informação nº 287 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Aviões Fiat G-91 da ZACVG, 10 de Setembro de 1973, SDFA/AH-SEA/Guiné 1964-1974/Fiat Processo 430.121.

[41] Informação nº 166, ibidem.

[42] Informação prestada ao autor pelo Capitão Alberto Cruz e pelo General Lemos Ferreira e Informação n.º 166, ibidem.

[43] Relatório da situação militar no TO Guiné, período de Outubro 73 a Janeiro de 74, Conselho Superior de Defesa, ADN F3/15/32/41.

[44] Idem, ibidem.

[45] Correia, José Manuel, Strela: A Ameaça ao Domínio dos céus no Ultramar Português, 2ª parte, Mais Alto n.º 393 Setembro/Outubro 2011, p. 28.

[46] Memorando do Estado-Maior da Força Aérea, 25 de Janeiro de 1974, SDFA/AH, 3ª Divisão/EMFA 71/74, Processo 400.121.

[47] Carta de Alberto Maria Bravo & Filhos, Assunto: Aviões G-91, 4 de Dezembro de 1973, Arquivo Histórico Diplomático (AHD) PEA 655.

[48] Carta do Secretário de Estado da Aeronáutica para o General Enrique Jimenez Benamu, 25 de Fevereiro de 1974, AHD PEA 655.

[49] Matos, José, A história secreta dos Mirage Portugueses, 2ª parte, Revista Mais Alto nº 401, Jan/Fev. 2013, pp. 25-29.

[50] Informação nº 44/A da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea, Assunto: Recompletamento da Frota de Aviões Fiat G-91, 2 de Fevereiro de 1974, SDFA/AH-SEA/Guiné 1964-1974/Fiat Processo 430.121.

[51] Informação prestada ao autor pelo General Jesus Vasquez.

[52] Correia, op. cit., p. 31.

[53] Informação n.º 355 da Secretaria de Estado da Aeronáutica, Assunto: Equipamento antimíssil Strela (TRACOR), 18 de Abril de 1974, ADN/F3/7/13/5.

[54] Nota secreta do Director Geral do MNE para o Embaixador de Portugal em Washington, Assunto: Aquisição de equipamento antimíssil Strela, 22 de Abril de 1974, ADN /F3/7/13/5.

[55] Análise dos Sitreps Circunstanciados n.º 1/74 a 17/74 do COMZAVERDEGUINÉ, Bissau, ADN/F2/16/89 e AHM/DIV/2/4/295/3.

[56] Correia, op. cit., p. 28.

[57] Silva, António Duarte, A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, Edições Afrontamento, Lisboa, 1997, pp. 179-180.

[58] SITREPS Circunstanciados n.º 18 e 19/74 do COMZAVERDEGUINÉ, AHM/DIV/2/4/295/3.

[59] Silva, op. cit., pp. 227-228.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de maio de  2020 > Guiné 61/74 - P20963: FAP (115): O último ano do Fiat G-91 - Parte I (José Matos)

32 comentários:

gil moutinho disse...

Ao ler referência aos bombardeamentos noturnos,e não havendo referência aos T6 "Roncos"nessa matéria,lembro que a 24 e 27 Setembro de 73 participei em missões noturnas ATIP em parelha.
Foram algumas experiências e não tiveram muita repetição,não sei quantas missões se fizeram.
Os bombardeamentos não eram em picada mas em linha de vôo,e tínhamos algum receio que as bombas ficassem presas ao avião pelas cavilhas das espoletas,e seria um problema.
A eficácia seria duvidosa e nós dizíamos que era para gastar stocks e chatear o IN.
Também de dia continuaram os bombardeamentos mas a grande altitude e com pouca precisão.
Achegas que vão surgindo das memórias
Gil Moutinho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Gil... O nosso puzzle da memória está muito esburacado... E todas as achegas, memso pequenas, são importantes... Há montes de coisas que faziam nos "ares". que os infantes desconheciam...

Bom desconfinamento na Tabanca dos Melros...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hélder Sousa disse...

Sim, JB, foi aquela fase do "bombardeavam como nunca"!
Eu costumava sorrir para mim e lembrar-me do anúncio do "Sheltox".... "mata que se farta"!

Sempre a aprender.
Serenamente. E a sorrir.

Hélder Sousa

Valdemar Silva disse...

Que belo quadro para um filme do fim da guerra da Guiné.
Um Fiat abatido por um míssil, o piloto a salvar-se de pára-quedas e a chegar à pendura de bicicleta a Piche e surgir pela manhã em Lisboa o 25 de Abril.

Valdemar Queiroz

gil moutinho disse...

Tenho que comentar alguns comentários!
Não generalizem o meu comentário destes bombardeamentos pontuais e digamos experimentais,passando para toda a actuação da FA num período difícil para todos.
Ainda vejo muitos "bem hajam" à FA seja nos bombardeamentos,apoio nos embrulhanços e nas evacuações.
Os factos da saga do ten. Gil de Copá a Piche são reais,não romanceados!
Obrigado

Cherno Baldé disse...

Caro Valdemar,

Este cenario que tao bem descreves, serviria, eventualmente, para mostrar a certas pessoas, as diferenças que existiam entre o Norte/Nordeste da Guiné e o Sul. O Ten. Castro Gil entrou em Piche na bicicleta de um camponés de Dunane (?) em 1973, enquanto que o Sargento Lobato, ainda em 1963, tinha levado com uma catanada ao aterrar numa bolanha do Sul do pais. Depois o que nao fica bem é pensar que o homem tinha sido bem recompensado com uma bonita nota em Peso, quando na verdade a vida do Tenente Piloto nao tinha preço.

Abraços,



Cherno Baldé

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Imfelizmente alguns dos nossos leitores, sobretudo os "facebook...eiros" só leem as "gordas" e mal... ´´E a malta dos "likes & dislikes"... São incapazes de ler um poste até ao fim...

O notávcel trabalho, de pesquisa, baseado em fontes primárias, do José Matos, mais do que os "faits divers" da FAP, e do heroísmo dos pilotos e demais pessoal da FAP, vem revelar aquilo que não sabíamos na altura, mas sabemos hoje: a guerra começava a ficar "presa por arames", já não havia capitães da Academia, ,já não havia "carne fresca para canhão", não havia antimísseis, não havia Fiats nem peças em nº suficiente para manter no ar os bravos "Tigres", e sobretudo não havia "novos Fiats", sobretudo já hão havia os amigos da NATO, a Alemanha, a Espanha, a França, os EUA...

Portugal tinha-se tornado um pária internacional... Não era Portugal, era o "fraco rei" que nos governava... E sobretudo estávamos todos fartos da guerra, uns e outros, as NT e o IN...Eu já não estava lá nessa altura, mas entendo o que é isso da "lassidão da guerra"...Spínola já tinha batido com a porta em agosto de 1973!...

antonio graça de abreu disse...

Os simplismos acríticos de alguns comentários, a manipulação ideológica da nossa História.
Mais bombardeamento, menos bombardeamento, aquela guerra não tinha solução militar. Mas fomos dignos e valentes. Eu estava lá, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 72/74.
Leiam o meu Diário da Guiné, está lá tudo. Força aérea, etc. Tenho orgulho no que escrevi então. Não confundir o meu Diário da Guiné, publicado em 2007, com os dois Diário da Guiné, de 2008 e 2009, do Mário Beja Santos. Além do plágio do título, os dele são diários ficcionados. Sobretudo por razões ideológicas, há quem acredite mais na ficção do que na realidade.
Abraço,

António Graça de Abreu

Jose Matos disse...

Olá Luís

Como dizes a guerra estava presa por arames e a malta tinha que improvisar para tentar dar a volta à situação. Os ataques a Copá são disso um bom exemplo. Aquela posição foi atacada duramente em janeiro de 74 e a FAP foi lá um dia à noite com o C-47 fazer o tal bombardeamento nocturno era o TCor Vazquez que ia pilotar e lá andaram a largar umas bojardas sobre a guerrilha. Enquanto o avião andou por lá a malta do PAIGC esteve quieta e sossegada, quando o avião foi embora voltaram ao ataque. Era assim a guerra.

Havia falta de material a todos os níveis como vocês bem sabem. A FAP precisava também de outro tipo de equipamento. Por exemplo, se tivéssemos conseguido arranjar o Fiat R/3 que tinha dois canhões de 30 mm já era uma boa ajuda, mas os alemães não nos queriam vender esta versão. Podíamos ter ido para a versão bimotor o G.91Y e os italianos até o vendiam, mas na altura a prioridade da FAP era o Mirage III. Será que o Mirage III teria feito grande diferença?? Pelo menos como caça de retaliação era uma ameaça para a Guiné-Conakry, pois com o Mirage podíamos ir até à capital do país vizinho bombardear os guineanos e voltar para a BA12. No combate à guerrilha tinha também outro potencial de combate, mas teria feito a diferença??? É óbvio que a guerra tinha chegado a um momento muito difícil e a sensação de que as nossas posições podiam colapsar a qualquer momento era real como muitos bem se lembram. Portanto, estávamos num beco sem saída.

Ab

Anónimo disse...
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Jose Matos disse...

Caros amigos

Já agora quem tiver fotos dessa época com aviões ou helis e que me possa ceder agradecia. Podem mandar para o meu mail: josematos36@gmail.com

Ab

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Geriátrico+virginais+primasdonas.
Esta profundidade nem nas Escolas Regimentais do meu sargento Águas-Peixe!

Manuel Teixeira

Anónimo disse...
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Valdemar Silva disse...

Quem é que desempata este 'a guerra estava presa por arames', 'havia falta de material a todos os níveis' e 'é óbvio que a guerra tinha chegado a um momento muito difícil' pela constatação dos aviões abatidos com mísseis e os ataques para mais uma 'ocupação de zona' de Copá e Canquelifá, e o outro 'o IN estava cada vez mais fraco e sem armamento', 'temos o controlo de toda a Província' e o 'é só mais um aninho'.
Não me passa pela cabeça que alguém estivesse a 'empurrar o problema' para uma desastrosa situação parecida como a da chegada/entrada das tropas do Vietname do Norte na cidade de Saigão.
E no final a constatação palerma/óbvia do se não fizemos mais foi porque não podemos, com o testamento duma guerra de treze anos com milhares de mortos.

Valdemar Queiroz

Jose Matos disse...

Caros amigos

E já agora acrescentava mais uma coisa. Os nossos governantes da altura sabiam bem o que se passava. Não faltava informação do comando militar em Bissau para o SGDN e para o Governo. O CEMGFA foi mais do que uma vez à Guiné e produziu relatórios dos problemas que existiam. O CEME também foi lá em 74, portanto, quem mandava sabia o que se passava. Mas como a manta era curta faltava dinheiro para tudo. Foi, por isso, que fomos pedir $$$$$ aos sul-africanos para comprar os Mirage e outros armamentos...

Ab

Antº Rosinha disse...

Com o Salazar havia dinheiro (e crédito internacional)para tudo e mais alguma coisa.

E fornecedores e fornecimentos tinham que ser bem "filtrados" pelo unhas de fome do António, que quanto menos e mais barato e mais discreto melhor.

Há um livro que retrata isto tudo que é toda a correpondência trocada entre SALAZAR e MARCELLO MATHIAS, embaixador em Paris, em que discutem de tudo, desde submarinos e aviões, até às despezas de Salazar com a poda da sua vinha em Santa Comba, mais as picuinhices da Dona Maria.

Quanto ao período de Marcelo Caetano, quando a guerra já levava doze anos, dizia Marcello (memória de retornado) que havia dinheiro para mais doze anos de guerra.

Foi do caraças!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Mats, tens aqui um velho Dakota, aeronave de transporte onde alguns de nós viajaram, à borla, de Bafatá até Bissau e vice-versa, e que eu não relacionei imediatamente com o C-47 que se terá estreado, nos bombardeamentos noturnos em setembro de 1973, segundo teu artigo... De repente pensei que era outra aeronave...

27 DE DEZEMBRO DE 2017
Guiné 61/74 - P18145: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Nova Lamego e São Domingos


Os créditos fotoráficos dão do Virgílio Teixeira / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017)

Jose Matos disse...

Obrigado Luis tenho essa foto que o vergilio me mandou.

Abraço

José

antonio graça de abreu disse...

Li outra vez todo o texto,no essencial bem elaborado e bem documentado. Mas cuidado com pérolas como esta. Diz o José Matos: "A actividade operacional dos “Tigres” em 1974 vai decrescendo nos primeiros meses do ano até à revolução de Abril. Mesmo assim, a média mensal é de 140 horas/voo, ou seja, superior aos 10 meses anteriores (130 horas/voo)."
Ou seja, decresceu, mas aumentou. Já li neste blogue coisas como "perdemos a superioridade aérea, não a supremacia aérea." Ou terá sido o contrário, "perdemos a supremacia aérea, não a superioridade aérea."
O requinte e rigor com que se escrevem estas coisas...
Respeitem a nossa História,não façam o jogo da mentira e da falsificação de dados.

Abraço,

António Graça de Abreu

Jose Matos disse...

Olá António

A minha frase está correcta, pois a comparação que eu faço em 74 é de janeiro a abril de 74 e realmente nesses primeiros 4 meses de 74 o número de horas voadas decresceu. Mas mesmo assim a média mensal 140 horas/voo é superior aos 10 meses anteriores de 1973. Acho que a afirmação está clara e não há razão para confusão.

Quanto à questão do conceito. Habitualmente há três níveis de controle do ar. Supremacia aérea é o mais elevado, onde há o controle total do espaço aéreo, sem oposição possível. Superioridade aérea é o nível mais abaixo, ou seja, continuamos a estar numa posição favorável em relação ao oponente, mas não temos o controle completo do espaço aéreo, devido à existência de oposição. Ora, nós na Guiné perdemos a supremacia aérea devido ao míssil, mas não perdemos a superioridade aérea pois continuamos a voar apesar do míssil impor restrições de voo.

Ab

Jose Matos disse...

Já agora gostaria também de dizer outra coisa sobre esta investigação. Como outras que tenho feito é assente em fontes primárias. A análise que fiz neste caso sobre o Fiat na Guiné nunca tinha sido feita desta forma, pois nunca ninguém tinha usado os Sitreps da ZACVG para extrair os dados que estão no artigo. E deu-me obviamente gosto fazer isso para trazer à luz do dia dados inéditos. Só assim tinha interesse fazer um artigo sobre este tema. Portanto, não são opiniões pessoais sobre isto ou aquilo são os dados factuais que estão nos Sitreps.

Outro aspecto importante neste artigo foi acabar com o mito que a FAP deixou de voar com o míssil. Como se pode ver a FAP não deixou nada de voar e o Fiat continuou a voar mas com outro tipo de parâmetros de voo. É claro que muito disto não é novidade para os pilotos que lá estiveram e que viveram esta realidade, mas o que este artigo traz de novo são realmente os dados dos Sitreps.

Ab

António Martins Matos disse...

Em abono da verdade, os termos SUPREMACIA e SUPERIORIDADE AÉREA estão mal empregues.
Ambos pressupõem uma Força Aérea inimiga. As armas de Defesa Aérea, pontuais, nunca entram nestas avaliações.

Diz o AAP-6 (2008), o documento que define a Doutrina NATO.
Air Superiority – That degree of dominance in the air battle of one force over another which permits the conduct of operations by the forme rand its related land, sea anda ir forces at a guiven time and place without prohibitive interference by the opposing force.
Air Supremacy - That degree of superiority wherein the opposing air force is incapable of effective interference.

Em resumo, estes termos só se podiam aplicar caso o PAIGC tivesse os tais... MIGs.
Abraços
AMM

António Martins Matos disse...

Texto corrigido:

Air Superiority – That degree of dominance in the air battle of one force over another which permits the conduct of operations by the former and its related land, sea and air forces at a given time and place without prohibitive interference by the opposing force.
Air Supremacy - That degree of superiority wherein the opposing air force is incapable of effective interference.
AAP-6 (2008) pag2-A-11

antonio graça de abreu disse...

Com os pilotos eu entendo-me, estive com eles durante quase toda a comissão, 72-74, em Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar. Eles sabem do que falam, são gente honesta. Leio as palavras do José Matos, na sua abordagem, também honesta, rigorosa e fundamentada: "Outro aspecto importante neste artigo foi acabar com o mito que a FAP deixou de voar com o míssil. Como se pode ver a FAP não deixou nada de voar e o Fiat continuou a voar mas com outro tipo de parâmetros de voo. É claro que muito disto não é novidade para os pilotos que lá estiveram e que viveram esta realidade."
O nosso António Martins de Matos, major-general piloto aviador na Guiné 1972-74, também vem esclarecer que isso da superioridade e supremacia aérea é uma refinada treta, só se o PAIGC tivesse Migs, o que jamais aconteceu.
Recuem neste blogue e leiam o que algumas sumidades, os meios donos deste blogue, blogue, têm escrito sobre este assunto, fundamental para entender o desenlace da nossa guerra.
Peço o favor de não limparem este meu comentário, acho que não estou a ofender ninguém.

Abraço,

António Graça de Abreu

Jose Matos disse...
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Jose Matos disse...
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Jose Matos disse...
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Jose Matos disse...

Caro AMM

Obrigado pelo esclarecimento, pois obrigou-me a uma reflexão mais profunda. As definições NATO expostas são conhecidas, mas vejamos uma coisa: no conceito de supremacia aérea, o grau de domínio aéreo de uma força sobre outra permite a condução de operações áreas no domínio terrestre, marítimo e aéreo num determinado momento e local, sem interferência efetiva da força oposta. É o que acontecia na Guiné antes do míssil, mas depois do míssil isso mudou. Portanto, a FAP perdeu a supremacia aérea na Guiné, pois o PAIGC ganhou capacidade de "interferência efetiva" nas operações aéreas portuguesas, mesmo sem ter uma força aérea. Por isso, acho que podemos dizer que houve de facto a perda de supremacia aérea, pois a FAP deixou de ser capaz de conduzir operações aéreas sem interferência da guerrilha. Manteve foi a superioridade aérea, quanto a isso não há dúvida.

Ab

José Matos

Antõnio Martins Matos disse...

José Matos

Para que conste, gostei do seu artigo.
Como disse na resposta ao AGA, "não são opiniões pessoais sobre isto ou aquilo, são os dados factuais que estão nos Sitreps".
É isso mesmo que importa publicar, os factos.

Os seus comentários em relação a Supremacias e Superioridades são ... opiniões.
Os factos são os do AAP-6.

Exemplo de SUPREMACIA AÉREA: Fomos a Kandiafara sem qualquer reaçção de Migs, recebidos com todo o tipo de fogachada AAA.


AMM

Jose Matos disse...

Caro AMM

É sempre um gosto falar consigo. Vou então cingir-me só aos factos. O conceito NATO de supremacia aérea já enunciado por si é o seguinte:

Air Supremacy - That degree of superiority wherein the opposing air force is incapable of effective interference.
AAP-6 (2008) pag2-A-11

Como é óbvio este conceito implica a existência de uma força aérea adversária, o que não existia no caso da Guiné. Aí estamos de acordo. Os MiGs nunca interferiram na condução das operações aéreas.
Muitos teóricos acrescentam ainda que a supremacia aérea é alcançada quando a superioridade permite a realização de operações aéreas em praticamente todos os lugares, permitindo que uma das forças possa voar para qualquer lugar dentro do teatro de operações. Acho que também estamos de acordo. Na Guiné a FAP voava para qualquer lugar.

Agora, o problema é que quando o míssil apareceu, a FAP deixou de poder voar para qualquer lugar sem interferência da guerrilha. Ou seja, a guerrilha passou a poder interferir diretamente nas operações aéreas, pois limitou a forma como estas podiam ser conduzidas e consequentemente a sua eficácia.

Portanto, alguma coisa a FAP perdeu. Se formos unicamente pelo conceito de supremacia como não há uma força aérea opositora não se pode dizer que perdeu a supremacia, aí dou-lhe razão, mas a verdade é que também deixou de poder realizar as operações aéreas sem interferência. Portanto, perdeu o domínio do ar, ou seja, o air dominance. Talvez seja mais correto definir desta forma. Mas factualmente há uma alteração na liberdade de condução das operações aéreas e na sua eficácia.

Ab

José Matos