sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21276: Blogues da nossa blogosfera (136): J. M. Correia Pinto, no seu blogue "Politeia", em 22/1/2013, faz uma recensão do meu livro "Diário da Guiné", de 2007 (António Graça de Abreu)


Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Cabreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2017 > O Marcelino da Mata, mostrando o livro, "Diário da Guiné: lama, sangue e água pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007), que o autor, António Graça de Abreu, lhe ofereceu autografado. (*)

 Na altura,  o Marcelino da Mata, ten cor ref, era  um participante relativamemnte  frequente dos convívios da Tabanca da Linha.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem coomplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem,  com data de 20 do corrente, 20h31, do António Graça de Abreu [ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com mais de 260 referências no nosso blogue;  é poeta, escritor, tradutor, sinólogo, autor de livros de poesia (8), história (4), traduções (7), e viagens (3)]:

Meu caro Luís

Se achas que deves publicar, avança. O livro nunca teve recensão neste blogue [Luís Graça & Camaradas da Guiné]  pelo Mário Beja Santos.

Ignorava completamente este texto publicado em 2013 no blogue Politeia por J. M.  Correia Pinto, sobre o meu Diário da Guiné, o livro editado em 2007 pela Guerra e Paz, escritos sobre a minha experiência na Guiné 1972/74, num Comando de Operações, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, no norte, centro e sul do território em fogo. (**)

Na foto [, acima,] , estou em Cascais com o Marcelino da Mata, o mais condecorado de todos os militares portugueses.

Abraço,

António Graça de Abreu


Capa do livro do António Graça de Abreu, "Diário da Guiné" 
(Lisboa, Guerra e Paz, 2007, 220 pp)


2. Blogue Politeia: comentário político-económico-social > terça feira, 22 de janeiro de 2013 > Diário da Guiné: um livro de António Graça de Abreu 

Vem a propósito do quadragésimo aniversário da morte de Amílcar Cabral falar num livro publicado há cerca de seis anos mas de que somente há dias tive conhecimento – Diário da Guiné, escrito por António Abreu, entre Junho de 1972 e Abril de 1974, quase dia por dia o tempo da minha comissão de serviço na Guiné, em Bissau, na secção de Justiça do Comando da Defesa Marítima.

Para além da enorme diferença que à época representava ser colocado em Bissau ou no mato, há ainda uma outra porventura não menos negligenciável: fazer o serviço militar na Marinha ou no Exército. A diferença era sob todos os aspectos abissal.

António Abreu foi mobilizado para a Guiné com 23 meses de tropa cumpridos em Portugal, tendo sido sucessivamente colocado em Canchungo (antiga Teixeira Pinto), Mansoa e Cufar. Ou seja, quanto mais a comissão se aproximava do seu termo mais perigoso era o local para onde o mandavam.

Tendo muito presente as grandes datas dos dois últimos anos de guerra e as ocorrências que tragicamente as assinalam, segui, como se estivesse a reviver esses mesmos tempos, esta narrativa contada por quem viveu de muito perto esses mesmos acontecimentos.

O livro de António Abreu é, a vários títulos, um testemunho notável do que foram os dois últimos anos de guerra na Guiné não apenas no plano militar, mas também no plano das relações entre os milicianos e os soldados, do comportamento das chefias militares mais próximas, do estado de espírito dos combatentes, do relacionamento dos soldados com a população, das dificuldades correntes do quotidiano que se agravavam dramaticamente quanto mais perigoso era o teatro de operações, da filosofia de vida com que se encarava a inevitabilidade de uma comissão de 22 ou 24 meses, da incerteza sobre o dia seguinte, a partir de certa altura, do minuto seguinte…

Tudo isto António Abreu conta numa prosa elegante, sempre com muita grandeza de espírito e notável humanismo. O modo como salpica a narrativa com alguns episódios burlescos acontecidos no dia-a-dia da guerra e a fina ironia com que os trata fazem lembrar alguns dos melhores gags de Chaplin. 

Por outro lado, o equilíbrio das suas apreciações e o sentido de justiça sempre presente, mesmo nas condições mais difíceis, fazem com que ele seja capaz de apreciar as qualidades e até as virtudes daqueles de cuja acção discorda. A suposta ingenuidade com que aceita o inevitável, mantendo-se sempre íntegro e igual a si próprio, e a sua vasta cultura contribuíram certamente para que tenha saído sem traumatismos de uma guerra que se ia tornado mais violenta à medida que se ia aproximando fim.

Das muitas leituras sobre a Guerra Colonial, desde as narrativas de militares até à obra de ficcionistas consagrados, passando pela obra dos historiadores, tenho na minha modesta capacidade de apreciação literária o Diário de Guerra, de António Abreu como uma das obras mais interessantes que sobre o tema já li.[Publicado por JM Correia Pinto]

JM Correia Pinto, editor do blogue Politeia, desde fevereiro de 2008

"Fiz o liceu em Viana do Castelo e a universidade em Coimbra. Depois, fui assistente na Faculdade de Direito e militar na Guiné, na Reserva Naval. A seguir ao 25 de Abril, estive no Governo (IV e V) durante o período revolucionário. Andei depois pela cooperação para o desenvolvimento, no MNE, e fui professor na Faculdade de Direito de Lisboa (Clássica) e mais tarde na UAL. Agora estou 'retirado' ".]

_____________


(**) Último poste da série > 3 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21220: Blogues da nossa blogosfera (134): Esquadrão de Bula: modelo à escala da Panhard AML 60, MX-03-19, do EREC 3432 (1972/74). Autor: João Tavares, da Associação de Modelismo do Montijo (José Ramos)

18 comentários:

Anónimo disse...

Será mesmo o mais medalhado do Exército Português?
A assim ser.....pouco haverá a acrescentar.

J.Belo.
(Um dos que fizeram voluntariamente (!) parte do Exército Português)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Só lembrar uma das nossas 10 regars de ouro:

(...) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro.

O editor LG

Anónimo disse...

Espero não ter sido o meu,como sempre,inocente comentário o que provocou reações editoriais-estatutárias.

Abraço do J.Belo

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

O JM Correia Pinto escreve que “quanto mais a comissão se aproximava do seu termo mais perigoso era o local para onde o mandavam” o que me suscita uma normal e lógica interrogação: Será que alguém dentro da hierarquía militar do exército, queria lixar o “nosso” AGA, um jovem culto e talentoso, durante a sua comissão da Guiné??

Depois outra questão que me ocorre está relacionado com a duração do serviço militar, pois segundo consta o AGA ja teria feito 23 meses de serviço antes da sua mobilização para a Guiné. Então, a minha pergunta, que nada mais é senão de um leigo na matéria, é: Qual era o tempo normal do serviço militar obrigatório na altura, supondo, claro está, que o jovem AGA de então, não sendo o mesmo “grande patriota e conservador” de hoje e que, provavelmente, não estaria interessado em voluntariar-se na defesa da pátria e, ainda menos, na polvorosa que era a Guiné ? Portugal seria um país presídio ???

Quanto ao conteúdo do Diário, não podia estar mais de acordo com o JM Pinto Correia, pois é indiscutivel a sua grande qualidade e escrito, cito: “numa prosa elegante, sempre com muita grandeza de espirito e notável humanismo”. Mas, também convém acrescentar que, entrelinhas, dava para perceber que o fim da guerra se aproximava a passos largos e que a posição portuguesa não era a melhor nessa contenda que, simplesmente, já tinha durado tempo a mais do que era humanamente suportavel (a conclusao final é minha).

Para terminar, e com todo o respeito, acho que o AGA não tem razões de queixa relativamente ao Blogue da TG, pois que, se bem me lembro, mesmo se não foi feita uma recensão do livro, acho que foi dos poucos, se não o único que beneficiou de uma publicação integral neste mesmo Blogue e que, certamente, muito nos beneficiou. Um bem haja a todos.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Ze Belo,antes do teu havia um comentário assinado por Manuel Teixeira que eliminei por não se coadunar com o espirito do blogue: não somos nem nunca seremos nenhum tribunal para julgar o comportamento de nenhum de nós naquela guerra. A tentação as vezes é grande.Tambem não devemos instrumentalizar
ao serviço desta ou daquela causa. Não somos um blogue de causas. LG

antonio graça de abreu disse...

Meu caro Cherno

Obrigado pelo teu comentário.
Mudamos todos ao longo das nossas vidas. Será que a tua experiência dura e criativa por terras da ex-União Soviética não mudou o teu modo de ver e entender o socialismo e o comunismo, made in URSS? E não mudou a tua bondade ingénua na crença e criação do mundo melhor e mais justo? Basta olhar para o mundo hoje, para os trumps, bolsonaros e quejandos, olhar para tua Guiné-Bissau.
Eu ,um "grande patriota e conservador."
Não acredito mais é no sexo dos anjos, nos fascismos de esquerda, nas utopias reaccionárias que conduzem a ditaduras execráveis, como existem na Rússia, que conheces bem, na China, que conheço mal, em muita da tua África.
Esclareço-te que este blogue não publicou nem a décima parte do meu Diário da Guiné. Não tenho a mania da perseguição, já nem sei o que dizer, neste blogue outros valores mais alto se levantavam, outros dois Diários da Guiné, saídos um e dois anos depois do meu, que plagiavam o título do meu testemunho, conheciam a sua natural divulgação.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

A personalidade que se assina “Manuel Teixeira” será uma pobre alma que desesperadamente procura a.....senhora sua mãe!
Esperemos que a encontre.

Tendo tido oportunidade de o ler,antes de eliminado,a minha pergunta ao Senhor Editor mais não foi que uma busca irónica de *laponizar*.

Se o rapaz “Manuel Teixeira” fosse verdadeiramente o provocador que se julga deveria antes ter perguntado:

-Qual dos dois na fotografia é o mais medalhado do Exército Português?
O da direita ou o da esquerda?

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

Desta nem o Nikolai Andrianov se lembraria de executar.
Isto de arranjar avalistas de renome, o Militar mais condecorado do Exército Português e ser referido no "Politeia", de J.M. Correia Pinto que fez parte do IV e V governos revolucionários, mesmo que não venha a propósito de nada dá sempre jeito para aquela 'eles estavam de pantanas, mais uns mesinhos e todos regressavam vitoriosos pra casa'.
Não se tem a certeza é se no "Politeia" de 2013 este exercício seria obrigatório ou facultativo.

Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

Valdemar, que tristeza de comentário! Que nível intelectual tão baixo!

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

"Para falar de racismo não precisamos de estudar tempos imemoriais, séculos atrás, crueldades antigas. O país presente e gerações atuais viveram a guerra colonial, epítome e corolário do racismo. Quase todos a fizeram, quase todos pactuaram ou se calaram."
São palavras do hoje politicamente correcto, insultar os homens que passaram pelas guerras de África, 1961/1972, desta vez da pena de um escriba inteligente, Ferreira Fernandes, nas páginas do Público, de ontem, 22 de Agosto. Eu não pactuei, nem me calei, tenho orgulho em tudo o que escrevi no meu Diário da Guiné. É por isso que me apetece mandar estes abutres para a grande p.... que os p......
Abraço,

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

No meu Diário da Guiné, texto em Cufar, 7 de Setembro de 1973, jamais publicado neste blogue.

Joaquim Gomes dos Santos, nome simples de homem do povo, filho do Ribatejo, 1º. cabo cripto, CAOP 1, Guiné 1973.
Ontem há noite assisti a um violento manifesto contra a guerra.
O Santos, vinte e dois anos nervosos e puros, nosso cabo nas Transmissões, foi-se embebedando numa pequena farra de soldados. Aconteceu aqui ao lado da minha tabanca e vieram-me chamar para acalmar o rapaz, o álcool subira-lhe à cabeça e ele estava fora de si. O vinho e a cerveja haviam tornado mais claras, mais ousadas umas tantas verdades recalcadas que o Santos guardava lá pelos recantos da memória. Estivera a cantar ao desafio umas quadras de pé quebrado, a beber litros de cerveja e depois começou a despejar os odores da revolta. Fervia por todo o lado. O raciocínio do bêbado é contundente, incisivo. O Santos gritava que odiava a guerra, queria fuzilar quem nos manda morrer e matar, rebelava-se contra os seus camaradas de armas, “um rebanho de carneiros sem cornos” que não protestavam e aceitavam a humilhação de fazer esta guerra. Descontrolado, insultava, queria destruir tudo o que lhe aparecia pela frente, dava pontapés nas malas, queria rasgar a pobre roupa dos outros soldados.
Em braços, trouxemos o Santos até à enfermaria, à procura de um calmante. O médico diagnosticou-lhe simplesmente a necessidade de cozer a bebedeira. À vista do clínico, o Santos libertou um pavor rubro, absoluto, irracional. Acreditou que o médico lhe ia dar uma injecção para o matar, teve consciência de que gritara algumas verdades, e pôs na boca de Salazar a frase “Se se revoltarem, serão mortos!” Onde é que a soturna figurinha, o figurão de Santa Comba disse uma frase destas?
Fiz de alferes, de pai e de amigo. Fui no jogo dele e gritei-lhe mais ou menos isto:
“Homem, acalme-se. Ninguém lhe vai fazer mal, você não vai morrer, precisamos é de homens bem vivos como você para acabar com os filhos da puta que nos mandam para a Guiné!”
O discurso fez efeito. Trôpego, arrotando cerveja, cambaleando, trouxemos o Santos para o meu quarto. Deitámo-lo na cama que foi do alferes Lourenço, chorou convulsivamente, por fim serenou e adormeceu. Acordou esta manhã, como novo."

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

Mais um texto do meu Diário da Guiné que creio jamais foi publicado neste blogue. Talvez valha pena repescá-lo e inseri-lo na correnteza do blogue.É curto, mas estamos lá todos nós.Deixo ao cuidado do Luís Graça ou do Carlos Vinhal.

Cufar, 4 de Agosto de 1973

Nasceu em Trás-os-Montes entre serras, barrocos, giestas e musgo, sob um céu intensamente azul, de mãe jovem, num ventre de mármore e fogo. Cresceu às topadas pelos atalhos do suor e da pobreza, foi à escola, aos ninhos, à missa. Quis inventar o sol no coração de cada amigo. Mordeu a terra, labutou nos campos, pegou na enxada de chumbo, comeu o caldo, o pão de cada dia. Dançou na romaria da aldeia, adivinhou o sexo a crescer pelas pernas loiras das raparigas de feno. Em Chaves comprou um casacão, um relógio e uma mulher feia, ainda de carne cheirosa, vendeu-lhe prazer.
Depois fizeram-no soldado, vestiu uma farda, aprendeu coisas da guerra, embarcou num navio, deram-lhe uma arma, viajou para o sul da Guiné.
Hoje fui buscá-lo ao porto de Cufar. Chegou já morto depois de uma emboscada na estrada Cadique-Jemberém.
Vinha na maca de lona, a cabeça atravessada por um grosso estilhaço de morteiro, o sangue e coágulos secos no corpo destroçado, os olhos semi-abertos, baços, já não olhando a vida, a vida que lhe foi negada e que o abandonou, moço e menino.

Em Diário da Guiné, Lisboa, Guerra e Paz Ed., 2007,pag. 138.

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

AGA
As minhas desculpas pela tristeza do meu comentário, e quanto à escala de nível só um pouco de falta de compreensão, ou melhor dizendo não perceber bem certas coisas.
Por exemplo aquelas ditas alto e bom som contra o figurinha e os filhos da puta, em Cufar de 7 de Setembro de 1973, e não haver um pide ou bufo nas redondezas, ou até uma alta patente militar, para vos chatear.
Mas, a ginástica é quanto afirmações de que os gajos estavam todos à rasca e não aguentavam muito mais tempo com o nosso avanço militar e parece que estas conclusões não aparecem no "Diário" que foi apreciado pelo J.M. Correia Pinto, em 2013.
Pela minha parte, deverá ser a tal falta de nível de perceber certas coisas, aliás o mesmo acontecia a outro nível quando assistia a provas de ginástica nos Jogos Olímpicos.

Ab. e saúde da boa.
Valdemar Queiroz

p.s. por certas coisas, não se entenda por agora vou chatear estes ou tergiversações.

antónio Graça de Abreu disse...

Eis o que escrevi e foi depois publicado mo meu Diário da Guiné, pag. 32 e 33.em Teixeira Pinto, a 26 de Julho de 1972:

"Sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.
No labor quotidiano no Comando de Operações, passam pelas minhas mãos documentos fundamentais para se entender a guerra na Guiné. Chegam de Bissau e são as informações diárias e semanais, os relatórios mensais de operações com todos os dados, bombardeamentos, flagelações, ataques, emboscadas, os números dos milhares de quilos de bombas lançadas pelos nossos aviões, o número de mortos e feridos, NT e IN, dias, horas, particularidades dos ataques, etc. Esta documentação tem a classificação de confidencial e secreta. Vêm também as informações da PIDE/DGS com dados sobre a movimentação dos guerrilheiros, natureza dos acampamentos IN e outros elementos. Um exemplo, pela PIDE de Canchungo soubemos que neste momento estão dentro da Guiné sete jornalistas de nacionalidade checa, búlgara e russa. Entraram, vindos do Senegal, pela fronteira junto a S. Domingos, uns oitenta quilómetros a norte daqui. O meu major Pimentel da Fonseca não gosta muito do Sr. Costa, o agente da PIDE/DGS em Canchungo, que tem uma vivenda aqui na avenida. O major diz que o Costa, para mostrar serviço, de vez em quando inventa factos e notícias. Parece-me bem possível. Estive em casa dele a semana passada e, no desempenho de funções, tive de lhe apertar a mão. Coisas impensáveis em Lisboa.

Anónimo disse...

(continuação)

Voltemos à guerra.
As NT, as nossas tropas são constituídas por cerca de 35.000 homens, incluindo os negros que combatem do nosso lado, cerca de 9 mil homens. Pensa-se que o IN, o inimigo, os guerrilheiros do PAIGC, conta com cinco a sete mil homens.
Quem controla todos os centros urbanos, vilas, estradas, aeroportos, rios principais e ilhas da Guiné são os portugueses. O território é pequeno, pouco maior do que o Alentejo e os guerrilheiros nunca estão longe. Têm capacidade para lançar ataques, flagelações, emboscadas, colocar minas um pouco por todo lado.Todavia é um exagero afirmar-se que dois terços da Guiné estão nas mãos do PAIGC. Só controlam as aldeias escondidas nas florestas, quase sem estradas, onde não existe luz eléctrica, não têm viaturas para se movimentar, não dispõem de meios aéreos, nem de barcos, a não ser canoas. As suas principais bases militares situam-se do outro lado da fronteira, no Senegal e na Guiné-Conacry. Daí partem muitas vezes em acções militares e, cumprido o plano, para lá regressam. As zonas libertadas de que falam corresponderão em termos reais talvez a um terço do território da Guiné. São as tais florestas quase impenetráveis, às vezes circundadas por rios onde só costuma entrar a nossa tropa especial e há logo escaramuças, contactos de fogo. Trata-se de regiões mártires sujeitas a frequentes bombardeamentos da aviação portuguesa. Aí o IN controla a população, há pequenas aldeias, escolas e hospitais, tudo muito primitivo. Algumas das zonas libertadas próximas dos nossos aquartelamentos estão também sujeitas a ser flageladas pela artilharia das NT, temos os obuses 14, uns canhões já antigos (do tempo da 2ª. Guerra Mundial?) que disparam uns projécteis de todo o tamanho, por exemplo, sobre a Caboiana, a "zona libertada" aqui a norte onde os guerrilheiros instalaram uma das suas maiores bases dentro da Guiné, com defesas montadas em quadrado, cerca de trezentos combatentes e três mil elementos da população. Os canhões têm um alcance de dez a doze quilómetros, os nossos artilheiros calculam o local onde se abrigam os elementos IN e bombardeiam em diferentes períodos do dia. Do Bachile são disparados em média quinze tiros sobre a Caboiana, diariamente, do Cacheu são disparados outros quinze. Cada projéctil pesa cinquenta quilos e custa dois contos e quinhentos, o salário normal de um mês de trabalho de um cidadão em Portugal.
As populações das "zonas libertadas" vivem em condições deploráveis, numa insegurança constante, os tiros de canhão, os bombardeamentos aéreos acertam por vezes nas suas aldeias."

Regista a informação e não escrevas disparates.

Saúde e Paz.

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

AGA
Não escrevo disparates?
Já tinha lido estas pags. 32 e 33 do "Diário da Guiné" publicadas aqui no blogue, por isso qual a disparatada necessidade de aparecer o Militar mais condecorado do Exército Português e o J. M. Correia Pinto que fez parte dos IV e V Governos revolucionários como que a testemunharem 'gosto muito do seu "Diário"'?.
Mas, ainda é maior o disparate, aliás oportunamente já referido no blogue, o que é escrito nessas páginas dar a ideia de ser como já de favas contadas e faltar pouco tempo para acabar a guerra.
Até o Spínola afirmava que o problema da guerra da Guiné não se resolvia militarmente.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

Escrevi em Julho de 1972:"Em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar." Quais favas contadas? Onde é que eu escrevi que íamos ganhar militarmente aquela guerra? De disparate em disparate, até ao disparate e maledicência final.

Boa saúde.

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

AGA
Então interpretei mal a descrição dos êxitos militares, afinal nunca foi escrito que íamos ganhar militarmente aquela guerra.
O disparate em disparate foi ter começado, e ter-se mantido durante mais duma década.

Nunca houve maledicência da minha parte.
Ponto final.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz