segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21401: Memória dos lugares (413): O meu Seiko 5 (five), comprado na Casa Costa Pinheiro, parou ao fim de 50 anos... (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS Op Mensagens)



1. Mensagem do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70) com data de 27 de Setembro de 2020:

O meu Seiko 5 (five) parou ao fim se 50 anos...

Comprei-o na Guiné, na Casa Costa Pinheiro em Bissau, onde trabalhava no escritório nas minhas horas vagas.
Já não me lembro quanto dei por ele mas não era barato, mas era e foi muito bom durante estes cinquenta anos.
Foi a peça que lá comprei que durou mais anos.

Comprei lá também um transístor SONY que não sei quanto tempo durou porque um camarada apropriou-se dele, enquanto estava a tomar o último banho da Guiné, poucas horas antes de seguir para o cais de regresso a casa depois de 25 meses e 10 dias de Guiné.

Também comprei uma máquina fotográfica FUJICA que durou ainda bastantes anos mas certamente por deficiência de uso também um dia parou mesmo de tirar retratos.

Mas o Seiko 5 deixou-me hoje ao fim de tantos anos.

A Casa Costa Pinheiro era talvez a maior casa comercial logo a seguir à Casa Gouveia da CUF.
Importava de tudo e tudo vendia em quantidades impressionantes.

Eram os automóveis Toyota Corolla, os Crown, as carrinhas Hi-Lux e as Staut e acima de tudo os camiões Toyota que por cá nunca apareceram.
Eram os relógios Seiko como facilmente do texto se pode deduzir bem como todos o material SONY, desde os pequenos transístores até aos mais potentes gravadores profissionais, de fita como era uso naqueles tempos e claro, as máquinas fotográficas FUJICA e respectivos acessórios e os indispensáveis rolos.
Eram as motas e as motorizadas Suzuky que nessa altura começaram a superar a Honda.
Era o material de som NIVICO, mas também o Garrard, para grandes salões e para profissionais.
Eram os produtos de beleza da Max Factor para as senhoras... a Colgate Palmolive que toda a gente usava nos quartéis, excepto no nas operações no mato claro, as esferográficas BIC que tantos milhares de aerogramas encheram de noticias, os tapetes da Issing Trading de Itália, que a malta comprava como recordação, eram os discos da Ansónia dos EUA, com os meregues a toda a prova, as porcelanas da Prago Export da Checoslováquia depois de ter também importado, em anos anteriores, os automóveis Skoda.

Enfim. Era uma casa muito grande se bem que não dava muito nas vistas, mas facturava muito bem.
Tantos milhares de letras ali preenchi referentes às vendas a prestações, especialmente dos carros e das motorizadas e motas.
As letras ficavam em carteira e os juros ficavam em casa sem intervenção do BNU que na altura era o único Banco da Guiné.

Nas madrugadas em que o Boeing da TAP ia a Bissau e voltava para Lisboa, era o dia e a noite toda a fazer-se correio para os mais variados fornecedores por esse mundo fora e para as mais variadas companhias de seguros porque parte importante das mercadorias perdia-se na viagem entre Lisboa e Bissau, sabe-se lá porquê. Mas as Companhias, depois do exame prévio na Alfandega e com a confirmação do Agente das seguradoras, garantiam a cobertura dos prejuízos.

E tudo isto para dizer que o meu Seiko 5 parou, ao fim destes 50 anos de vida e de trabalho sem parar... até que parou.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21386: Memória dos lugares (412): Ponta de Jabadá, na região de Quínara, sentinela do rio Geba, reconquistada ao PAIGC em 29 de janeiro de 1965

2 comentários:

Abilio Duarte disse...

))Muito bem Camarada,
Mas não esquecer a Casa Pintosinho, também em Bissau.

Lá comprei quando cheguei um leitor de cassetes, (1969), coisa que desconhecia na Metrópole, e vários calções.
Quando fui a Bissau jurar Bandeira com a nova C.ART 11, comprei uma espingarda de pressão de ar, para ir aos pombos, em Contuboel.

Quando me vim embora em DEZ.7O, então gastei o dinheiro todo, Foi um Longines, calças LEVIS, e camisa Lacoste, foi um fartar, pois vim de avião.

Bons tempos. Abraço.

Valdemar Silva disse...

É verdade, Duarte.
Quando viemos prá peluda em DEZ 70 fomos à Casa Pintosinho esturrar as últimas notas de 1.000 pesos do BNU. Eu também comprei um Longines que ainda guarda o recibo 2.950$00, mas a última milena foi no avião na compra de qualquer coisa para nos darem o troco em escudos do BdP, se te lembrares do hospedeiro da TAP era um tipo magrinho de origem indiana que eu conhecia dos bilhares do Café Império, na Alameda, que nos deu o troco dum bioxene com gelo.
Depois, foi a grande bronca na Alfândega com o sr. doutor da bófia e mais tarde com o Oficial de Dia nos Adidos, na Ajuda.
Está quase a fazer 50 anos!!

Abraço e cuidado com o bicho
Valdemar Queiroz