quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25083: O segredo de... (41): António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62; topógrafo da TECNIL, Bissau, 1987/1993): Luís Cabral, a camarada Milanka, eu e o 'mau agoiro' do meu patrão

Angola > Luanda > 1961 > Desfile de tropas > O António Rosinha, beirão,  vivia já em Angola há uns anos (foi para lá adolescente e fez lá a tropa)... Vemo-lo aqui a desfilar com o seu pelotão, que parece ser composto apenas por militares do recrutamento local (ele nunca nos disse a que unidade ou subunidade pertenceu, e por onde andou, em concreto; sabemos que teve uma "guerra" relativamente tranquila, apesar dos acontecimentos de 1961...). Era furriel miliciano aparece aqui em primeiro plano, depois do alferes, cmdt do pelotão, na segunda fila, a dos comandantes de secção: é o primeiro a contar da direita para a esquerda, está de óculos escuros e empunha, durante o desfile, pistola-metralhadora FBP, tal como os restantes graduados; as praças usavam, evidentemente, a velha espingarda Mauser 7,9 mm m/937 ... A farda, em 1961, era o do "caqui amarelo"... E, em plenos trópicos, os combatentes da época usavam capacete de aço.

Angola > s/l > c. 1961/62 > O então fur mil António Rosinha

Fotos (e legendas): © António Rosinha  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O António Rosinha não queria entrar para a nossa Tabanca Grande (em 2006, chamava-se apenas "tertúlia"), não obstante a estima que lhe logo lhe manifestaram alguns dos nossos camaradas como o Amílcar Mendes, o Vítor Junqueira e eu próprio, que fiz questão de o "apadrinhar". E ainda bem que ele acabou por aceitar sentar-se à sombra do nosso poilão em 29/11/2006 (nessa altura ainda não havia poilão nem tabanca, tratávamo-nos uns aos outros como "tertulianos", membros da "Tertúlia dos Amigos & Camaradas da Guiné").

E em boa hora ele começou a colaborar connosco, desfiando as suas memórias do império: além de Angola (onde diz que foi "colón até 1974"), fez a diáspora dos "retornados",  passou pelo Brasil e pela Guiné-Bissau, onde depois da independência, de 1979 a 1993, trabalhou como "cooperante", exercendo a sua profissão, como topógrafo,  na empresa de construção e obras públicas TECNIL (que fez muitas das infraestruturas daquele país, antes e depois da independência; foi herdada do "colonialismo" tanto por Luís Cabral como pelo seu carrasco, 'Nino' Vieira, o mesmo aconteceu com o comandante Pombo, que ficou a pilotar o avião a jato privado Falcon da presidência).

O Rosinha é autor de uma notável série, a que demos o nome de "Cadernos de Notas de Um Mais Velho", em geral alimentada com pequenas notas e comentários que ele vai deixando no blogue. Já se publicaram uma meia centena de postes.  Além disso, é um caso notável de longevidade, vida ativa saudável, proatividade... A brincar, a brincar, ele deve chegar aos 90 para o ano se as minhas contas não falham! (Tinha 77 anos em 2012)... É, pois, um grande exemplo para todos nós!... (Não tenho ideia de ter alguém , com a sua idade, ainda tão ativo como ele, no nosso blogue, neste momento!)

Num desses postes (P16701) (*), deparámos com uma saborosa pequena história que mete o Luís Cabral, primeiro presidente da República da Guiné-Bissau, mais dois arquitetos (e pessoas gradas do regime, o casal Lima Gomes) e a empresa portuguesa TECNIL,  na pessoa do topógrafo António Rosinha e do patrão Ramiro Sobral.

Ao reler o poste, demos conta que uma das personagens era a arquiteta Milanka Lima Gomes, uma jugoslava casada com o então Ministro das Obras Públicas, 'Tino' Lima Gomes, e também a autora do projeto  (1976/78) da casa de férias de Luís Cabral em Bubaque (em parceria com outro arquiteto, jugoslavo, cooperante, Nikola Arsenic). A casa, dizem os entendidos, é uma referência da arquitetura pós-colonial: infelizmente, ficou amaldiçoada, com a queda política, a prisão e o exílio do seu dono. Hoje é uma confrangedora ruína, engolida pelo mato, na "ilha paradisíaca" de Bubaque que já teve muitos "donos e senhores"...

Pelo  seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, inteligência emocional, história de vida, cultura e memória de "africanista", o Rosinha, um dos nossos veteranos, é merecedor do apreço e  elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir.

A ele poderá aplicar-se  inteiramente o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".    

Esse provérbio veio mesmo a propósito desta pequena história "pícara", que não é "nenhum segredo de Estado", mas queremos "repescar" e preservar, agora na série "O segredo de...".  (**). 

É uma história com piada, com chiste, com humor, típico dos velhos africanistas, e é também uma lição sob o "sic transit gloria mundi", a vaidade e a transitoriedade do poder e da glória...

Que fique claro: não é intenção do Rosinha  (nem dos editores do blogue) achincalhar ninguém nem muito menos bater nos mortos ou ajustar contas. Simplesmente o picaresco, o burlesco, a ironia, o riso, o humor, etc., fazem parte da nossa "caserna" de velhos combatentes. Uma boa piada, uma boa história sobre os "nossos homens grandes", seja o Spínola ou seja o  Amílcar Cabral, são a prova de que aqui somos plurais e defendemos  a todo o custo a liberdade de expressão, pedra basilar da democracia que recuperámos há 50 anos.

Guiné > Bissau > s/d [meados dos anos 60] > Aspecto parcial do centro histórico, Câmara Municipal à direita, Palácio do Governador ao fundo à esquerda, Praça do Império, monumento "Ao Esforço da Raça", telhados de outros edifícios públicos, etc... Bilhete postal, nº 133, Edição "Foto Serra" (Colecção Guiné Portuguesa")...

O António Rosinha pede-nos para "enriquecer o poste com esta  lindíssima foto  onde se vê a casa que o Luís Cabral queria que a Tecnil lhe adaptasse, antes de ser deposto em 1980 (...). Essa foto (tirada de helicóptero, penso eu) é das mais bonitas sobre Bissau (...): uma lindíssima residência, r/c  e 1º andar com um Jeep Willys da nossa tropa junto à entrada de casa (...).  Foi essa casa que o Luís Cabral queria adaptar para sua residência, e que o Ramiro Sobral, o patrão da Tecnil (***), lhe agoirou o destino."

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações e edição: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)


 O segredo de... (41): António Rosinha (ex-fur ml, Angola, 1961/62; topógrafo da TECNIL, Bissau, 1987/1993): 

Luís Cabral, a camarada Milanka, eu e o "mau agoiro" do meu patrão


Luís Cabral pretendia reformular uma residência bastante moderna que foi propriedade de um antigo 'colón',  que eu não conheci, para sua residência, penso eu. Essa residência ficava atrás do gabinete do primeiro ministro, e tinha uma portaria que era preciso adaptar, na cabeça de Luís Cabral, para receber o Volvo presidencial, bem junto à porta da casa.

Só que havia um pedaço de jardim e duas colunas à entrada do edifício que era preciso derrubar, construir noutra disposição, e isso Luís Cabral não queria.

E, agora,  vou falar em nomes de gente muito simpática e não quero de maneira nenhuma fazer «politiquice» nem com as pessoas nem com a atitude das mesmas nem do momento. O ministro das Obras Públicas era 'Tino' Lima Gomes que era arquitecto e ainda chegou a dar uma vista de olhos na portaria mas sem adiantar qualquer solução.

A esposa dele, a camarada Milanka, de nacionalidade jugoslava, arquitecta nas Obras Públicas,  é que foi encarregue de descalçar a bota, e eu no campo 
[como topógrafo] para executar o impossível. 

Só que a camarada Milanka não tinha coragem de dizer ao presidente que era impossível executar como ele queria, e eu descarreguei o meu fardo para o meu patrão Ramiro Sobral [engenheiro, dono da TECNIL], velho "africanista que se encontrava em Bissau, onde ia,  mês sim, mês não.

E o velho,  de 75 anos, e muitos anos de África, habituado a resolver casos bicudos, analisou e solucionou:
– Senhora Dona Milanka (toda a gente dizia "camarada Milanka"), sabe porque ando nesta vida com esta saúde aos 75 anos? Porque a porta da minha casa em Viseu tem 3 degraus. E subir e descer esses 3 degraus dão-me imensa saúde. Convença o senhor presidente que com 3 degraus resolve o problema e dá-lhe imensa saúde para daqui a muitos anos continuar com o meu dinamismo.

Passados uns instantes,  já só comigo no automóvel, Ramiro Sobral, como que a falar para os próprios botões, previa:

Com degraus ou sem degraus,  não vais envelhecer aqui, não.

Talvez uns 15 dias depois, dá-se o golpe a 14 de Novembro de 1980 que derruba Luís Cabral.

Adenda:

Pessoalmente conheci um desertor guineense, ou que ficou para a história da Guiné como desertor, e que levou com ele uma avioneta de Bissau para Conacri.

Tinha o seguinte currículo popularmente conhecido na sociedade de Bissau:

(i) era furriel da Força Aérea, guineense, da minha idade, portanto foi para a Força aérea antes da Guerra do Ultramar;

(ii) era guineense de uma família antiga,  "colonialista", que se foi "amestiçando";

(iii) como era menino bonito e inteligente, era um desperdício ir lutar para o mato como os indígenas. (Isto o povo pensava em crioulo, mas eu traduzo.)

Foi de armas e bagagens estudar com bolsa para a Jugoslávia e regressou com bagagem pesada, canudo de engenheiro/arquitecto, após a independência.

O PAIGC, reconhecido, atribui-lhe mais que uma pasta governamental, e também agradecido o governo português concedeu-lhe bolsas de estudo para os filhos nos Pupilos do Exército em Lisboa.

Já faleceu. em acidente com arma de caça.

Chamava-se 'Tino', Alberto 'Tino' Lima Gomes, foi ministro das obras públicas de Luís Cabral. Era um português como milhares de transmontanos, açorianos, angolanos, etc., nunca foi indígena, nasceu «assimilado». (*)

António Rosinha 

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos: LG)



Guiné-Bissau > Arquipélagos dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 2013 > A antiga casa de Luís Cabral, projeto dos arquitetos de origem jugoslava (1976/1978) Milanka Lima Gomes e Nicola Arsenic. Foto do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72) (****)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 2016 > Casa de Luís Cabral. Construída com financiamento público, projeto dos arquitetos Milanka Lima Gomes (1976) e Nikola Arsenic (1978). Fotograma do filme "The Vanished Dream" (2016),  reproduzida no artigo de Lucas Rehnman (2023), a seguir citado. (Com a devida vénia...)


Curiosamente, o poste do Rosinha, P16701 (*), tem honras de citação num artigo sobre a arquitetura pós-colonial da Guiné-Bissau, da autoria do brasileiro Lucas Rehnman (n. 1988, S. Paulo), investigador, artista e curador (vive em Berlim), e donde extraímos com a devida vénia esta outra imagem da casa, em ruínas, do Luís Cabral. O título do artigo, em inglês, pode ser traduzido por: "Acabado de construir, e logo em ruinas: descolonização e dis-conectividade na Guiné-Bissau pós-colonial, 1973-1983":

Bibliografia (...): 

Tabanca Graca Luís, Graça. ‘Caderno de Notas de Um Mais Velho’. Blog. Luís Graça & Camaradas Da Guiné (blog), 9 November 2016. https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2016/11/guine-6374-p16700-caderno-de-notas-de.html.

Diz o autor, Lucas Rehnman,  sobre a casa de Luís Cabral em Bubaque (Vd. imagem acima):

(...) Seguramente mais ambiciosa e formalmente inventiva é a antiga residência presidencial, que se situa na ilha de Bubaque, no arquipélago dos Bijagós, e que está agora em ruínas (...) . Apesar da sua aparência enganadoramente brutalista, a estrutura de betão foi originalmente pintada de branco e coberta por placas betuminosas. Este corpo de trabalho arquitectónico aqui apresentado pode ser visto como uma ingestão criativa e digestão de arquitectura estrangeira, o que significa que não apenas ocorreu um mero empréstimo de formas e soluções modernistas brancas, mas que também se deu  uma apropriação, interpretação e transformação local do vocabulário modernista. constituindo por isso uma arquitetura original e híbrida que vale a pena documentar e preservar." (...) (tr. livre, Google / LG)
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...

(**) Último poste da série > 8 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25048: O segredo de...(40): Patrício Ribeiro, 76 anos: Angola, Quifangondo, 1975: uma das "minhas guerras" a que assisti ao vivo

(***) Sobre a TECNIL, vd. postes de;

3 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9555: Caderno de notas de um Mais Velho (19): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte I)

5 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9561: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (20): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte II)

25 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9655: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (21): TECNIL, importante empresa de obras públicas, que desaparece do mapa (Parte III)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, afinal como é que se chamava a tua unidade ou subunidade em Angola? E por onde andaste de FBP em punho em 1961/62 ?

Como vês pela foto restaurada, retirei-97 te a "cruz" (o traço em X ) que ostentavas ao peito. .. Achei que era pesada, já te bastava a outra ou outras que carrega(va)s em vida... Mantenhas. Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Acrescente-se que a TECNIL também não sobreviveu ao "camarada" Luís Cabral"... Escreveu o Rosinha:

(...) O fim de Luís Cabral e seu governo apenas antecedeu uns meses o fim da TECNIL.

Pessoalmente considero o desaparecimento de Luís Cabral e da TECNIL, o desaparecimento de duas imagens muito fortes de uma fraca portugalidade que vai desaparecendo cada vez mais da Guiné.

Se a Guiné-Bissau foi uma terra em que os povos viviam em 1974 com os seus usos e costumes de há 500 anos, apenas com uma pequena introdução de hábitos cristãos e muçulmanos, de um momento para o outro vieram ateus, comunistas, maoístas, capitalistas, socialista, idealistas, mais cristãos e muçulmanos, com as mais variadas ideias para fazer o que Portugal não fez em 500 anos, «ajudar e ensinar os guineenses».

Exceptuando a TECNIL, mais duas ou três pequenas empresas e uns pequenos comerciantes, pouco ficou de decisivo nas mãos de gente da era colonial, após a independência. Ao contrário das ex-colónias inglesas e francesas, em que os velhos 'colón' continuaram a «ensinar» os seus povos, no caso da Guiné, avançaram as "Nações Unidas" em força. Eu já tinha visto isso no Congo Belga, no tempo de Hammarskjöld [1905-1961, sueco, o segundo secretário-geral das Nações Unidas].

A TECNIL funcionava quase como a empresa oficial das Obras Públicas. Luís Cabral entregou-lhe por concurso público as 3 maiores obras com financiamentos de doadores europeus uns e árabes outros: (i) prolongamento e modernização do aeroporto; (ii) Avenida Bissau-aeroporto (ex-Unidade Guiné-Caboverde); e (iii) Liceu no Bairro da Ajuda, este em sociedade com Soares da Costa.

Podia dizer-se que era o mundo inteiro a ensinar "este povo", como diziam em várias línguas, e a TECNIL, Soares da Costa e e dois ou três ministros a cortar árvores para exportar, a única actividade produtiva, a sério. (...)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/03/guine-6374-p9561-caderno-de-notas-de-um.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Entre 2013 e 2015/16 o "telhado" da casa do Luís Cabral literalmente "voou". ...

Como estamos numa ilha, não pode ter ido para muito longe...

E estamos a falar de um edifício público e de interesse público...

José Botelho Colaço disse...

Luís é difícil de encaixe durante a guerra o arquipélago dos Bijagós foi perseverado, em parte pela população local, mas sem "guerra" nem um edifício de interesse publico se safa, escapa do vandalismo e desprezo dos governantes. Será que aqui se aplica o provérbio português quem nasce para lagartixa nunca chega a jacaré?!...

Antº Rosinha disse...

Qual 90 anos? este ano entro nos 86 e chega. Saúde? preso por arames pelo SNS, que dizem que já funcionou melhor do que actualmente.

O meu Hospital foi nas horas de aflição o de Vila Franca de Xira. Foi um luxo, mas consta que mudou de dono, e já não pia tão fino.

Em 1961 e 62? sempre pertencendo ao RIL, regimento de infantaria de Luanda, mas com a especialidade de Armas Pesadas, e como só havia as armas da instrução, rebentou a guerra e fiquei sem barma para ir para a guerra.

Ficaria sempre em Luanda se não fosse ter de fugir voluntário para a ZIN, Zona de Intervenção Norte, porque um capitão depois de 3 dias de suspensão ameaçou-me com prisão se reincidisse em não comparecer às 8 da manhã no 1º período de instrução.

Foram 3 meses de guerra sem tiros, mas foi chato, ao mesmo tempo, uma pagodeira, aos olhos de hoje.

Voltei a Luanda para após um mês ou dois, me oferecer novamente para a guerra os últimos 11 meses na ZIL, Zona de Intervenção Leste, para fugir de um capitão que levou um bruta piçada do 2º Comandante do RIL, por minha causa dizia ele, com alguma razão.

Eu como sargento de dia , devia ter a sua companhia (indígena)impecável, limpeza, desinfecções, jardinagem, cheirosa etc. num sábado de visita/inspecção geral de rotina
a todas as companhias do RIL.

Segundo todos, mais o 2º Comandante, a minha companhia era uma vergonha.

O capitão, chamou-me ao gabinete e que me ia preparar a cama.

Aproveitei mais uma vez, a norma do QG, que quem se oferecesse para a guerra ficava imune a qualquer capitão.

Luís, isto é um bocadinho da minha guerra, 61/62, sem armas, e até sem fardas nem botas, mas isto aqui é a guerra da Guiné que conta.

Nunca levei nem tropa, nem guerra, nem colonização, nem descolonização a sério.

Mas de tudo o que levo menos a sério foi a descolonização, feita pela europa.



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Rosinha, aquela dos 90 anos (!) foi mesmo para... te "picar"!... E obrigar-te a tirar-te do sofá, e "fazer prova de vida"...

Os teus 85 são para meter inveja a muita gente cá da Tabanca Grande. Mas, olha,grande beirão, eu ainda quero (seria um privilégio!) poder comer do teu bolo e beber do teu espumante das Terras do Demo, quando apagares a vela dos teus 100 anos... Que os bons te /nos protejam: Se tu prometes que cá ainda estarás daqui a 15 anis, eu vou fazer tudo para lá estar contigo... Manda-me, por msn ou email, o teu nº de telemóvel, que eu não tenho...

Mantenhas. Luis

Valdemar Silva disse...

Vendo a fotografia 'aspecto parcial do centro histórico' no lado direito aparece uma bonita casa, com pouco aspecto de histórica, como sendo a Câmara Municipal de Bissau.
Não conheci, mas sem movimentação, com um jeep e apenas dois carros arrumados de qualquer maneira, não me parece ser um edifício com o movimento de uma Câmara Municipal.
Aliás, se observarmos a fotografia do P17025 com o Evaristo Pereira Reis junto da Câmara de Bissau, não parece o mesmo edifício da bela fotografia colorida duma parte parcial do centro histórico (?).
Pode ser que esteja totalmente errado, mas a mania de observador e de quem não tem nada que fazer dá-me pra isto.

Valdemar Queiroz