sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25986: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - X (e última) Parte: papel do município e gentes de Fafe na preservação da memória da guerra colonial

 



SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.

Capa e dedicatória autografada,com data de 12/12/2014.


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Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.

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1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada  ao papel do município e gentes de Fafe na preservação da memória da guerra do ultramar / guerra colonial (pp. 79/84).


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] (*)


XI (e última) Parte: O concelho de Fafe e a evocação da memória da Guerra Colonial (pp. 79/84)



O concelho de Fafe, nomeadamente a partir de 1996, tem tido um papel meritório na luta contra o esquecimento a que todos os combatentes da Guerra do Ultramar foram votados pelos sucessivos governos de Portugal, desde a Revolução de Abril de 1974.

O primeiro momento ocorreu a 25 de abril de 1996, quando a Câmara Municipal organizou, na Casa Municipal de Cultura, uma exposição de fotografia alusiva à Guerra Colonial, cedida pelos ex-combatentes de Fafe e intitulada: “África: Memórias de uma Guerra  - 100 Fotografioas de Ex. Combatentes de Fafe" (...).


Na altura, sendo o vereador responsável pelo Pelouro da Cultura, dinamizador e responsável pela exposição, escrevi um texto com o objetivo de enquadrá-la e contextualizá-la no tempo e espaço histórico e do qual destaco:

"Trinta e cinco anos volvidos sobre a eclosão da guerra em África e numa altura em que sociedade se dispõe, finalmente, a soletrar as primeiras letras de um livro que não é “branco”, parece-me importante, no momento em que se comemora mais um aniversário da Revolução de Abril, abrir nesta Casa de Cultura uma exposição de reflexão sobre a guerra em África.

As 100 fotografias expostas são retalhos do quotidiano de 20 ex-combatentes fafenses que operaram nas três frentes de combate." (…)


Levei dois anos a concretizar esta exposição. Não foi fácil a busca e a cedência do material ora exposto. Obtive respostas como: 


Fafe > Monumento
 aos combatentes
da guerra colonial.
 (2012)
  • “queimei tudo”;
  • “não quero saber”;
  • "já não sei onde param as fotografias”; ou 
  • “porquê uma exposição sobre guerra se há problemas mais importantes a resolver?”.

Esta exposição, património da Câmara Municipal,  percorreu o país no âmbito das iniciativas da Delegação de Fafe da APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra).

Quatro anos depois, em 28 de maio de 2000, a Assembleia Municipal aprova por unanimidade uma proposta apresentada por mim, à data membro da mesma Assembleia, no sentido da Câmara Municipal mandar projetar e erigir, em local digno, um simples Memorial onde se eternizem os nomes dos Combatentes de Fafe mortos na Guerra Colonial.

Em 2001, a Câmara Municipal cedeu uma sala de trabalho para a Delegação de Fafe da APVG instalar a sua sede, organizando esta,  
nesse ano, o I Encontro de Ex-Combatentes de Fafe.

A 6 de novembro de 2005, inaugurou-se o
 monumento em memória dos Combatentes 
da Guerra Colonial, erigido na Av Brasil.  A sua construção só foi possível graças ao empenho dos membros da direção da Delegação da APVG e ao apoio financeiro da Câmara Municipal, das Juntas de Freguesia, de algumas empresas e população de Fafe. (...)

 Em 17 de março de 2012, um grupo de ex-combatentes de Fafe tomou a iniciativa de organizar a Cerimónia Evocativa dos 50 anos do início da Guerra do Ultramar em homenagem aos militares de Fafe mortos em combate. (..,)

 A efeméride iniciou-se em 5 de abril de 2013 com uma Exposição Documental sobre a Guerra Colonial, coordenada pelo Museu da Guerra Colonial de V. N. Famalicão (5 a 19.4.2013), seguindo-se o “II Curso Livre de História Local” (24.10 a 21.11.2013), da responsabilidade do Núcleo de Artes e Letras de Fafe (NALF), e o “Ciclo de Cinema sobre a guerra (25 a 29.11.2013), organizado pelo Cineclube de Fafe.

O programa da “Evocação dos 50 anos do início da Guerra Colonial” prolongo ao longo do ano de 2013, nomeadamente com o lançamento do Livro de Atas do Curso Livre de História Local, subordinado ao tema da participação dos militares de Fafe na Guerra Colonial (1961 -1974).

Nota final

Como nota final e à guisa de conclusão, gostaria de clarificar a minha posição pessoal sobre as razões que me levaram a aceitar o convite para abordar a História do enquadramento e da participação dos militares de Fafe durante a Guerra Colonial. 

Obviamente, não me move nenhuma tentativa de recuperação de saudosismos do passado ou a apologia de pretensos heroísmos serôdios, descabidos e sem sentido, mas, tão só, contribuir de forma lógica e racional, com base nos documentos, testemunhos e na minha participação no conflito, para um melhor conhecimento e compreensão dos factos que ocorreram durante os percursos destes militares, uma vez chamados e obrigados a fazer uma guerra que, como afirmou o General Ramalho Eanes quando em viagem oficial à Guiné – Bissau, foi uma guerra inútil, uma guerra injusta e uma guerra evitável (Teixeira, 2010, p. 55) (1).

Ficaram muitas questões por abordar e dar resposta, nomeadamente, ouvir o testemunho dos feridos graves. No futuro, esse será, certamente, um dos temas importantes a prosseguir na pesquisa. O primeiro passo foi dado.

E sobre a importância do estudo da História e do dever de todos lutarem contra a amnésia coletiva que se instalou em Portugal após o final da Guerra em África, tal como já se tinha instalado em relação à participação dos soldados portugueses na Primeira Guerra Mundial, finalizo, citando o ex-presidente da República e Alto-Comissário das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, Jorge Sampaio, que no passado dia 29 de outubro de 2013, na Fundação Calouste Gulbenkian, defendeu, na abertura da conferência “Portugal e o Holocausto – Aprender com o Passado, ensinar para o Futuro”, que o ensino da História do século XX é fundamental para a procura de pontos para a resolução de conflitos. O século XX ainda há pouco nos deixou e os seus medos já estão a ser empurrados para a memória espúria. O passado recente é o mais difícil de perceber e nós tratamos o século passado com ligeireza, alertando que o “genocídio” não foi um acidente da história, foi um produto de um estrato social (in jornal Público, de 30.10.13).

Também a Guerra em África, pensamos nós, foi o produto de um estrato social dominante no Portugal do após Segunda Guerra Mundial que, não querendo compreender os sinais de mudança dos tempos, tomou uma má decisão política, feita à revelia dos portugueses e de todos os pareceres da comunidade internacional, arrastando este pobre país para uma Guerra sem sentido e para a qual nem sequer estava preparado, nem tinha meios técnicos e humanos para a suportar. Só a carne para canhão da sua juventude, incluindo a dos jovens de Fafe que por lá deixaram a vida.

Estão de parabéns, por isso, a Câmara de Fafe, o NALF, o Cineclube e todos os que cooperaram na concretização desta efeméride.

Nota do autor:

(1) Teixeira, A, A, (2010) - A Guerra de Angola: 1961/1974.  Edição QuidNovi.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25953: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte X: Testemunho 5: "Desaparecido em combate, em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"

(**) Vd. postes de:

1 comentário:

Eduardo Estrela disse...

Brilhante a NOTA FINAL do autor do trabalho.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela