terça-feira, 12 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26143: Humor de caserna (81): "Há ouro em Bafatá ?!"... A imaginação febril dos serôdios "garimpeiros" coloniais... (Excerto do "Diário Popular", de 20 de outubro de 1951, suplemento especial dedicado às províncias ultramarinas que, em revisão constitucional, tinham acabado de deixar de ser colónias)

 


Excerto do Suplemento do "Diário Popular", edição de 20 de outubro de 1951, pág. 9



Capa do Suplemento do "Diário Popular", edição de 20 de outubro de 1951,



Capa da edição do "Diário Populae", de 20 de outubro de 1951. Era diretor o Luis Forjaz Trigueiros (1915-2000)


1. Na euforia do  fim do "Pacto Colonial", e da revisão constitucional (Lei nº 2048, de 11 de junho de 1951),  a imprensa lisboeta começa a olhar para o "ultramar português"  como um mercado cheio de potencialidades... 

É um número de "informação e propaganda", em que figuras-chave do Governo de Salazar (Sarmento Rodrigues, Ulisses Cortês, etc.) mas também historiadores alinhados política e ideologicmemte com o Estado Novo (Damião Peres, por exemplo, que a dirigiu a monumental História de Portugal, publicada entre 1928 e 1954) assinam artigos de opinião ou dão entrevistas...

 O "Diário Popular", na sua edição de 20 de outubro de 1951 ( e não de 20 de outubro de 1961, como vem escrito por lapso, na ficha da Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa), distribuiu um suplemento, dedicado ao Ultramar, desde Cabo Verde a Timor,  com 218 páginas (22 das quais são dedicadas à Guiné).  

É uma raridade bibliográfica, está disponível  aqui em formato digital. Merece uma leitura atenta.  E tem apontamentos deliciososos, como este que publicamos acima, na série... "Humor de caserna" (*).  (O "há ouro em Bafatá" faz-nos lembrar a rábula do saudoso e genial Solnado, na divertida comédia televisiva , de 1986,  "Há petróleo no Beato"...)

Um pensamento "seráfico" de Salazar dá o tom para esta edição "eufórica" sobre o ultramar português e a "nossa ancestral vocação civilizadora":

"Nós somos filhos e agentes de uma civilização milenária que tem vindo a elevar e converter os povos à conceçãoo superior da própria vida, a fazer homens pelo domínio do espírito sobre a matéria, do domínio da razão sobre os instintos"...

Dentro dos condicionalismos da época (a começar pela censura), temos de reconhecer, no entanto,  que o "Diário Popular" foi também um viveiro de grandes cronistas,  repórteres e jornalistas.

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7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Contrariamente a Angola, a Guiné sempre foi, para a metrópole colonialista, uma vaca que nunca deu leite nem pariu vitelos... Minas ? Só aquelas que o PAIGC e nós plantámos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É uma delícia a imagem da capa do "Diário Popular" (um dos jornais que eu lia, na ,minha adolescència...). Trata-se de uma vista aérea da Baixa Lisboeta, no início dos anos 50: destaque para o Terreiro do Paço que já parque de estacionamento, mas ainda não o "inferno" que iremos conhecer nos anos 70... (Trabalhei na Praça do Comércio entre meados de 70 e de 80...). Pois, na foto, do princípio dos anos 50, até dá para contar o número de carros estacionados... E que deviam ser, alguns deles, dos altos quadros dos ministérios ali à volta (Agricultura, à esquerda; Justiça, ao centro; Finanças, à direita...).

Antº Rosinha disse...

Muitos barretes se enfiaram com miragens de ouro e diamantes.
Principalmente em Angola.
Mas enquanto durante a guerra e mesmo antes de 1961, Salazar não divulgava e até dificultava explorações de minérios, desde petróleo e diamantes, eram os próprios movimentos que exageravam discretamente na existências das suas riquezas.
Alguns "sobrinhos" do Nino enrolaram um outro tuga.
Pessoalmente conheci um comensal na D. Berta, que veio à Guiné convencido que havia Diamantes em Cabedú.
Foi um sobrinho do Nino que o convenceu em pleno Rossio em Lisboa.
Mas o caso mais célebre dos jornais, foi a empresa de diamantes em Angola do próprio BES,
Houve tantos negócios com "sobrinhos" do Nino e de outros generais do MPLA e FRELIMO!
A união Soviética também fez muitas sondagens na Guiné, à procura de "Água"

Valdemar Silva disse...

No princípio nos anos 50, aqueles automóveis na Pç. do Comércio seriam de certeza do Estado ou de altos funcionários do Estado, por poucos particulares serem donos de automóvel, mesmo em Lisboa.
Em Afife (1954), atravessada pela EN13, só havia um automóvel, o carro do Dr. Cardoso, e passavam horas que não se via um carro passar na estrada (eu vivia junto à EN).
Em 1950 a maioria dos automóveis eram de marcas inglesas até aparecer o VW carocha
que em 1954 custava 45.000$00.
E sobre a civilização milenar foi a que vimos quando estivemos na Guiné.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nós, que nos batemos (e morremos) pela Pátria, temos direito a saber estas e outras histórias que se contavam nos jornais da época... E que não nos contaram quando fomos chamados para fazer a recruta, jurar bandeira e ir lutar no "ultramar", a 5 mil, a 8 mil, a 12 mil km de distância da nossa casa... (ou até mais longe, a 24 mil, em Timor)...

Temos direito a consultar e a comentar alguns destes velhos jornais, hoje guardados carinhosa e religiosamente na Hemeroteca Digital de Lisboa!.. Estamos gratos aos seus anónimos trabalhadores que conseguiram fazer-nos chegar, aos nossos dias, cópias digitais da imprensa da época...(só acessíveis, até há uns anos, aos "ratos de biblioteca", que tinham o "monopólio" da informação e do conhecimento sobre o "ultramar português").

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha: mandei-te este suplemento, em formato digital (pdf), c. de 220 pp., vais gostar de rever a tua Angola de 1951... E gostava que comentasses o que os repórteres de serviço escreveram... Vê o meu mail de ontem.

E já agora, como vai essa saúde ? Não tenho o teu telemóvel (se é que usas...). Tens andado fugitivo como a gazela, meu velho "colon" e camarada.

Mantenhas, Luis

Antº Rosinha disse...

Luis, de vez em quando dou uma paragem para tomar balanço, não posso ir a todas.
Não sei ou não consigo abrir esse suplemento.
Obrigado pela tua atenção