terça-feira, 11 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

1. Recordemos parte da mensagem do nosso camarada Daniel Matos (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74), datada de 3 de Março de 2010:

Caro Camarada
Conforme prometi, aqui estou a "pagar o ingresso" e a enviar as fotografias para formalizar a adesão à Tabanca Grande.
Junto também o prometido texto, em "word", reconhecendo que tem uma dimensão desapropriada para o blogue, mas vocês utilizá-lo-ão (ou não) como melhor entenderem.
[...]
Cumprimentos
Daniel de Matos



No dia 16 de Março de 2010 começámos então a publicar este importante documento, que hoje tem o seu fim, e que narra os acontecimentos trágicos vividos em Guidaje em Maio de 1973.


Os Marados de Gadamael

e os dias da Batalha de Guidaje


Parte XVII

por Daniel de Matos


Devolver os corpos às famílias

Agradecimentos

A exumação dos restos mortais dos dez (depois, onze) militares que se encontravam no cemitério de Guidaje foi efectuada no âmbito de uma operação que envolveu a Liga dos Combatentes, o Ministério da Defesa, a Universidade de Coimbra e o Instituto de Medicina Legal. Uma equipa liderada por Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra, procedeu ao levantamento e identificação das ossadas entre 7 e 21 de Março de 2009 e posteriormente, após as análises genéticas, trasladadas para o Cemitério Municipal de Bissau (talhões da Liga dos Combatentes).

Os restos mortais de alguns desses camaradas, (os que viriam a ser reclamados pelas famílias, nomeadamente o Machado e o Telo, d’Os Marados, o Geraldes e os três pára-quedistas já referidos anteriormente) foram trasladados para os cemitérios das respectivas terras de origem.

As trasladações ficaram a dever-se ao trabalho empenhado de diversas pessoas e entidades, a quem se deve um agradecimento mais do que justo.

É o caso da União Portuguesa de Pára-quedistas (UPP, dirigida pelo major-general pára-quedista Avelar de Sousa, na reserva) que desde o início assumiu a responsabilidade das despesas para transladar os corpos dos três pára-quedistas e dos militares do exército reclamados pelas respectivas famílias. A par da Liga dos Combatentes, foram mobilizados apoios diversos que se revelariam decisivos para as trasladações sem envolver financeiramente as famílias, mormente junto de uma empresa funerária e da TAP Portugal.

No que diz especificamente respeito a José Lourenço, de Fornos, Cadima, foi efectuada uma campanha de recolha de fundos pela Associação de Veteranos de Guerra da Região Centro (sede em Cantanhede).

Manuel Godinho Rebocho, ex-sargento pára-quedista que foi operacional na Guiné, (Maio de 1972/Julho de 1974), hoje sargento-mor pára-quedista na reserva, entretanto doutorado pela Universidade de Évora em Sociologia da Paz e dos Conflitos (tese de doutoramento: "A formação das elites militares portuguesas entre 1900 e 1975"), ao aproveitar inteligentemente o lema dos páras “ninguém fica para trás”, empenhou-se neste objectivo e incentivou a campanha pró-trasladação. De facto, se existem 4.000 sepultados em cerca de 400 lugares nas ex-colónias, das quais, 1250 nascidos nas actuais fronteiras de Portugal, o mediatismo da Batalha de Guidaje e a campanha que a partir de determinada altura foi feita no mesmo sentido, terão contribuído para que fossem estes, e não outros, os primeiros corpos a serem oficialmente exumados e trasladados para Portugal.

Também as Câmaras Municipais de Cantanhede, Castro Verde, Vila do Conde, Vimioso, Calheta e Valpaços manifestaram (e concretizaram) apoios para o sucesso da operação.

A missão da Liga dos Combatentes é levantar os corpos que se encontram dispersos por esses matos fora e colocá-los em cemitérios que tenham dignidade, zelando pela manutenção dos mesmos. É uma tarefa tão nobre quanto morosa, difícil e dispendiosa. E igualmente insuficiente, pois aquilo que o Estado Português deve fazer é providenciar (e custear por inteiro) a devolução desse corpos às famílias, excepto se estas decidirem em contrário! Urge criar-se um movimento de ex-combatentes, e não só, que arrume a questão de vez, quanto aos mortos que jazem além-fronteiras, especialmente em solo africano. Sendo verdade que existem centenas de casos desde a 1.ª Grande Guerra (Bélgica, etc.) a que a Liga quer deitar mãos, o facto é que quase ninguém se lembrará hoje em dia de reivindicar esses corpos para fazer funerais aos tetravós. Mas aqueles, cujos pais (irmãos, filhos, outros familiares e amigos) ainda estão vivos, têm de merecer um outro tratamento. Os que caíam na guerra até 1968 não vinham, ficavam em cemitérios militares, salvo se as famílias cobrissem as despesas (mais uma vez a protecção aos mais poderosos, aos de maior poder económico). Porém, os cemitérios, ou talhões militares, normalmente nas capitais de distrito ou de província, eram minimamente decentes e cuidados, não o lamaçal do mato. Depois de 1969, creio que após a morte de Salazar, o Estado passou a custear o regresso dos mortos salvo, quando por razões operacionais, foi de todo impossível fazê-lo, como em Guidaje. Mas, por exemplo, com que coerência pode o Estado negar os encargos da trasladação do Telo e do Machado, se providenciou em devido tempo a entrega à família do corpo do soldado Jorge Gonçalves, que morreu em consequência da mesma granada e no mesmo abrigo? (A diferença foi que o Gonçalves sucumbiu aos ferimentos mais algumas horas e ainda conseguimos transportar o seu cadáver para Bissau, enquanto que Telo e Machado tiveram o destino que é conhecido).


Bibliografia

A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961/74), Dalila Cabrita Mateus, 2004, Terramar.

Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2, Estado-maior do Exército, 2001, Comissão para o Estudo das Campanhas de África.

História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, PAIGC – 1974, Afrontamento

Crónica da Libertação, Luís Cabral, Edições O Jornal/1984

Textos Políticos de Amílcar Cabral Cadernos Maria da Fonte

Guinée “Portuguaise”, Le Pouvoir des Armes, Amílcar cabral, Cahiers Libres, 1970

Comemorações Centenárias da Guiné – Discursos e Alocuções, Eng.º Ruy de Sá Carneiro (Subsecretário de Estado das Colónias), Agência Geral das Colónias, 1947

A Libertação da Guiné, Basil Davidson, Penguin Books, 1969 e Sá da Costa, 1975

Os Congressos do Povo da Guiné, Manuel Belchior, Arcádia, Agosto de 1973

Quem Mandou Matar Amílcar Cabral? José Pedro Castanheira, Relógio d’Água, 1995

Três Tiros da PIDE, Oleg Ignatiev, Prelo

Amílcar Cabral, Oleg Ignatiev, Edições Progresso (Moscovo)

Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné – http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

vários testemunhos e depoimentos, entre os quais:

ex-furriel miliciano José Afonso, da CCav3420

ex-primeiro-cabo pára-quedista Victor Tavares, da CCP 121

ex-1º cabo comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) Amílcar Mendes (Brá, 1972/74)

ex-primeiro-cabo Manuel Marinho, da 1ª companhia do BCaç 4512 (Nema)

ex-coronel Pilav Miguel Pessoa (reformado)

ex-comandante do navio Orion, Pedro Lauret

Guerra Colonial/Associação 25 de Abril

http://www.blogger.com/www.balagan.org.uk/war/portuguese-colonial-war/cazadores4512.htm (sítio do BCaç 4512)

http://www.blogger.com/www.guerracolonial.org

http://ultramar.terraweb.biz/

http://guerracolonial.home.sapo.pt/

http://ci.uc.pt//cd25a/wikka.php?wikka=guerracolonial

http://www.blogger.com/www.rtp.pt/guerracolonial

http://www.blogger.com/www.ensp.unl.pt/lgraca/guine_guerracolonial_historia.html
__________

Nota de CV:

Vd. todos os postes da série de:

16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado

20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada

24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973

30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973

5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518

Guiné 63/74 - P6370: Blogpoesia (72): Escondam-se que eles vêm aí (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 6 de Maio de 2010:

Escondam-se que eles vêm aí.

Pois é Carlos Vinhal.
Este é o grito de um camarada da CCaç 2367, do meu Batalhão, de quem há tempos tive a informação de que estava sendo difícil para a familia, porque a qualquer hora da noite, era o grito deste camarada e ex-Soldado.

De facto conheço a causa de ele se encontrar assim, pois em parte assisti ao lamentavel acontecimento.

Por ele e por outros camaradas na mesma situação infelizmente, é que eu quis escrever todo este conteúdo para a Tabanca Grande, como me dá mais geito e vontade, voltei a escrever em poemas.

Assim até creio que desperta mais vontade de ler a qualquer leitor da nossa Tabanca, que sei não é só vista por ex-Combatentes, mas também por familiares e outras pessoas que gostam e admiram nosso trabalho, apreciam nossos lamentos, ao mesmo tempo que vão aprendendo a história do nosso passado, e também confirmando aquilo que nós já havíamos dito.

São estas coisas em que penso no meu dia a dia, procurando encorajar aquele camarada de quem estou mais perto, e que sei que após um tempinho em sua companhia lhe tenho dado a coragem suficiente para esquecer traumas de um passado triste.

É pois tudo o que tenho a dizer por hoje, continuarei por minha parte com todo o empenho a fazer crescer a Nossa Tabanca.

A toda a equipa que me vai aturando, o meu agradecimento e um grande abraço, este a ser distribuído por todos os tertulianos e visitantes da nossa tabanca.

Albino Silva,
Ex-Sold Maq
Esposende


Escondam-se que eles vêm aí

Foi na Guiné que lutamos – Nossa Pátria defendemos
Por Portugal e Soldados - E tudo aquilo que sofremos …

Rapazes com vinte anos - Habituados ao lar
Portugal estava em perigo - E fomos para a Guiné lutar …

Com a nossa juventude - Deixamos família e a terra
De camuflado e G3 - Assim nos mandaram para a guerra …

A Guiné era difícil - Toda a Guiné era um perigo
Um território pequeno - E em todo o lado inimigo …

Eram tantos os ataques - Eram muitas emboscadas
Eram armadilhas na mata - Eram minas nas estradas …

Atacavam os mosquitos - Sem nos deixar descansar
Eram enxames de abelhas - Que nos faziam desesperar …

Eram rações de combate - Tantas vezes o nosso comer
Era o calor e a sede - Sem ter água para beber …

Eram chuvas tropicais - Ou era calor de assar
Eram rios e bolanhas - Que tinhamos de atravessar …

Era o pernoitar nas matas - Cansados das caminhadas
Sentindo o frio da noite - Quando havia cacimbadas …

Com os nossos vinte anos - No palco da guerra então
Muitos de nós sem ter cama - Dormindo debaixo do chão …

Com os nossos vinte anos - Coisas más que nós tivemos
Naquela guerra metidos - Só Deus sabe o que sofremos …

Com os nossos vinte anos - Na Guiné a combater
Ver camaradas feridos - Ver camaradas morrer …

Depois que a guerra acabou - Deixamos de ser soldados
Sem nunca curar as feridas - Ficamos traumatizados …

Há casos que eu conheço - Em camaradas que são
Uns da minha Companhia - Outros do meu Batalhão …

Com muitos anos passados - Cada um em sua terra
Não descansam nem de noite - Por tanto pensar na guerra …

Escondam-se eles vêm aí - Não deixam ninguém descansar
Com pesadelos que vivem - E não param de gritar …

São camaradas que sofrem - Por a guerra não esquecer
Muitos ainda se julgam - Na Guiné a combater …

São camaradas que sofrem - Muitos deles estão mal
E como eles a familia - Que com eles sofre igual …

Camaradas que conheço - Dos quais eu vejo sofrer
Traumatizados da guerra - Que não conseguem esquecer …

Muitos estão bem doentes - Sem puderem trabalhar
Vão sofrendo e nada dizem - Só pensam no ultramar …

Fazem sofrer a familia - Que nada podem fazer
Já vivem também em trauma - No dia a dia a sofrer …

Já são longos os anos - Em que a guerra acabou
Deixamos as fardas e armas - Mas o stress ficou …

Continuo a lamentar - A Pátria que não nos conhece
Já não precisam de nós - A Pátria de nós se esquece …

Esta Pátria portuguesa - Ao pouco nos esta a matar
Porque apenas quer de nós - Impostos para pagar …

Eu não fico espantado - Pela Pátria nada dar
Àquele que combateu - Na guerra no ultramar …

Nós fomos bons portugueses - Pois a Pátria defendemos
A mesma que nos faz pagar - Aquilo que nós não temos …

Esta Pátria que nos despreza - E nem sequer nos quer ver
Só nunca se esqueceu de nós - Quando nos mandou combater …

Já com tantos governantes - Dos quais guardo em memória
Não sabem o que foi a guerra - Não conhecem nossa História …

Não conhecem os heróis - Ainda nos tratam mal
São assim os governantes - Deste nosso Portugal …

Talvez até tenham razão - Mas calado nunca fico
O que nos pertence a nós - É para um ministro mais rico …

Camarada mutilado - Mesmo com trauma ou stress
A Pátria nos esqueceu - A Pátria nada merece …

A Pátria nos abandonou - Nós que fomos lutadores
De nós só querem os votos - Pois são eles os caçadores …

Como tu fui combatente - Também lutei com coragem
Da guerra que não ganhei - Apenas a camaradagem …

Para ti meu camarada - Que deixaste de combater
Morreste sem seres HERÓI - Mas nunca te irei esquecer …

No Serviço de Saúde - Na Guiné estava eu
Albino Silva Soldado - Que tudo isto escreveu …

A todos deixo um abraço - Mas a todos sem excepção
Ex-combatentes como eu - Na defesa da Nação …

E ficas sabendo camarada - Que aqui só tem valor
Aquele que nada fez - Seja o cobarde e traidor …

Deixo aqui o meu lamento - Por ti o deixo também
Fomos úteis para a Pátria - Agora não somos ninguém …


Por: Albino Silva
Sold Maq 011004/67
Guiné, Teixeira Pinto
1968/70
SPM 4948
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6344: Convívios (148): Pessoal da CCS, CCAÇ 2366 e CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, ocorrido no dia 1 de Maio em Buarcos (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6275: Blogpoesia (71): Giselda, o anjo que vinha do céu (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P6369: Memória dos lugares (79): Bissau, cidadezinha colonial (Parte II) (Agostinho Gaspar / Luís Graça)


Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea de Bissau. Ao centro, o Palácio do Governo e a a Praça do Império. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 118". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea da Ponte Cais, Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).



Guiné > Bissau > s/d > Ponte-cais, Bissau.  Em primeiro, vê-se o monumento a Diogo Cão. Bilhete Postal, colecção "Guiné Portuguesa, 110". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL).


Guiné > Bissau > s/d >  Casa Carvalho, Rua Laminé Injai, 63/71, Bissau - Guiné Portuguesa. Em cima, à esquerda, vê-se o monumento a Teixeira Pinto; e à direita, o Palácio do Governador, e o Monumento ao Esforço da Raça, na Praça do Império. (Edição ANCAR, Caixa Postal 314, Tels 3871/2/3, Telegr. "ANCAR").


Guiné > Bissau > s/d > Sem legenda: Av da República ? (Hoje, Av Amílcar Cabral) >  Ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império; do lado direito, a Catedral de Bissau  (Edição Comer, Trav do Alecrim, 1 -Telef. 329775, Lisboa).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


Continuação da publicação de alguns postais da Guiné, da colecção do nosso camarada, natural do concelho de Leiria, Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) (*).

Pede-se aos nossos leitores para completarem, reverem ou melhorarem as legendas, identificando monumentos, ruas, lugares ou contando pequenas histórias associadas a Bissau... Alguém tem um mapa da cidade de Bissau anterior à Independência ? Se sim, agradecíamos que nos mandassem uma cópia digitalizada... (LG)



Guiné-Bissau > Bissau, capital do país. Planta da cidade, pós-independência. Pormenor


Cortesia do nosso camarada e amigo  A. Marques Lopes (2005)


___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente] " (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)



Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), Os Unidos de Mampatá  > Maio de 1974 > Um bigrupo do PAIGC, a caminho de um encontro (desta vez, pacífico) com o pessoal aquartelado em Mampatá.  

Em 26 de Novembro de 1970, por volta das 8h50, no decorrer da Op Abencerragem Candente, a CART 2715 e a CCAÇ 12 sofreram uma violenta emboscada, de que resultaram 6 mortos, 9 feridos graves e um número indeterminado de feridos ligeiros entre as NT... Quinze dias depois, Spínola visita o aquartelamento do Xime (CART 2715) e tece duras críticas ao comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

Foto: © José Manuel Lopes (Josema)  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Xime > Chegada ao Xime, em 9 de Março de 1974, da CCAÇ 3491 (Dulombi,  1971/74), para embarque em LDG a caminho de Bissau. A esta companhia pertencia o nosso camarada Luís Dias.  O Xime era a porta de entrada na zona leste...

Foto: ©  Luís Dias  (2008). Direitos reservados. (com a devida vénia...)

Continuação da publicação do Despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971, relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (*)



7. Visita a Xime em 12dez70 

- A impressão colhida na inspecção à Companhia do Xime [, CART 2715, ] foi má.

- O Comandante da Companhia  revelou uma muito precária preparação táctica para conduzir a sua subunidade no mato, nomeadamente no que toca a noções elementares de segurança.

Com base na descrição que me foi feita da acção realizada em 26 de Novembro [de 1970]  na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente,] (**), conclui que o êxito da emboscada do IN se deve fundamentalmente a erros graves cometidos pelos Comandos de Batalhão [na altura o comandante interino era o Major de Artilharia José António Anjos de Carvalho ] e Companhia, do ponto de vista de segurança. Ao primeiro por ter marcado um itinerário a percorrer numa operação,  tirando iniciativa ao Comandante da Companhia, e ao segundo por não se ter deslocado em adequado dispositivo.

É evidente que uma força que se desloca no mato por uma picada [a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês] constitui um objectivo altamente vulnerável para uma emboscada.

Encontrei a Companhia com fraco moral em consequência das baixas sofridas (**), e não encontrei por parte dos Comandos a determinação de cumprir a missão cometida às forças emboscadas. Uma emboscada é um incidente e não pode nunca constituir motivo impeditivo do cumprimento de uma missão.

O Comando do Batalhão deveria ter imediatamente, com reforço ou não, providenciado no sentido de no mais curto prazo de tempo ter sido reconhecida a região de Ponta do Inglês (objectivo da operação). (***).

- O Comando da Companhia [CC] desconhecia a quem competia a responsabilidade da área do Destacamento do Enxalé durante o espaço de tempo em que aquele Destacamento esteve temporariamente dependente do CC; assim como também não teve conhecimento da altura em que cessou aquela responsabilidade.

É incompreensível tal situação.

- O Comandante de Companhia queixou-se que passam barcos de noite no Xime sem que este tenha conhecimento, o que dificulta o cumprimento da sua missão. Este problema deveria já ter sido coordenado pelo Comandante de Batalhão, ou posto superiormente.

- Não tem sido respeitada a orgânica das subunidades.

A Companhia do Xime foi reforçada com 1 Grupo de Combate de Mansambo [CART 2714] que foi desmembrado, ficando o seu Comandante no Xime a comandar uma secção, e tendo sido destacadas para o Enxalé duas Secções. Essa solução carece de lógica e afecta os laços orgânicos.

- Há que averiguar as condições em que está a ser pago,  com carácter permanente, pessoal nativo destinado a “picagem”, pois não é permitida a utilização de pessoal nativo a título permanente (O Tenente-Coronel Robin esclarecerá este assunto).

- A tabanca de Xime não tem chefe. O Comandante do Batalhão já devia ter levantado este problema junto da Administração.

- Verificou-se que a Companhia não emprega minas e armadilhas, especialmente em zonas onde não há população, o que não tem justificação, face à carência de meios disponíveis.

- A população da tabanca [do Xime] encontra-se completamente entregue a si própria, desconhecendo o que terá de fazer em caso de ataque e apresentando as suas armas em estado manifestamente precário de limpeza, nem tão pouco as sabendo utilizar. Não há qualquer plano de defesa da tabanca.

- O Comandante da Companhia desconhecia o plano de tráfego de canoas no Rio Geba, o que é inadmissível. Como é possível controlar o tráfego quando se desconhecem os respectivos condicionamentos (zonas amarela, azul e vermelha) ?

- O plano de defesa do Xime necessita de ser elaborado em novas bases, em ordem a englobar a defesa da tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da mobilidade da Artilharia [, 20º PEL GAC 7, operando o 0bus 10.5, ] que se deve deslocar por entrada para apoiar operações nas zonas nevrálgicas.

-Os abrigos da defesa encontram-se concentradas em determinadas zonas em detrimento de defesa global do quartel e tabanca.

- Não está a ser tirado rendimento da metralhadora Breda que se encontra mal localizada.

- Na missão atribuída à Companhia refere-se que deve colaborar na defesa de Bambadinca. Como ? (pp. 5/8).
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Desta emboscada  resultaram 6 mortos (quase uma secção inteira, massacrada)  e 9 feridos graves... Os mortos foram o guia e picador da CCS / BART 2917, Seco Camará (natural e residente no Xime, mandinga); e, da CART 2715, o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, 1º Cabo José Manuel Ribeiro, o Sold Fernando Soares, o Sold Manuel da Silva Monteiro e o Sold Rufino Correia de Oliveira. 

(***) Vd. postes de:

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6367: Em busca de ... (132): Malta da CCAÇ 2436 do BCAÇ 2856 (Bissau, Galomaro, Contuboel, Fajonquito, 1968/70)


1. O nosso Camarada José Alves (ex-Fur Mil da CCAÇ 2436), que foi comandada pelo Cap Inf José Rui Borges da Costa e pertencia ao BCAÇ 2856 (Bafatá, 1968/70), deixou uma mensagem no poste P4646 da autoria do Cherno Baldé, onde mostrou o desejo de saber do pessoal da sua Companhia:
CCAÇ 2436 do BCAÇ 2856

Caro Cherno,

José Alves, ex-Fur Mil da CCAÇ 2436. Vejo que tem uma memória incrível de nomes e de quem esteve na zona de Bafatá.
De certeza que o conheci e que tive o prazer de conviver consigo, como muitos habitantes de Contubuel e Fajonquito.

Desejo a todos muitas felicidades e que nos lembremos desses tempos, com saudades e não com amargura, ou ódios.

Nunca mais consegui saber nada do pessoal da minha companhia e espero que por este meio, algum camarada apareça!

O meu contacto: zasevlas@gmail.com
Um grande Abraço,
José Alves

2. No blogue apenas se encontra uma referência a este batalhão, com data de 16 de Junho de 2007, no poste
P1852, acerca do convívio da CCS do BCAÇ 2856, que teve lugar em Alfeizerão em 2 de Junho de 2007, da autoria do Jorge Tavares (ex-Furriel Miliciano Radiomontador), Bafatá, 1968/1970, mas sem a indicação de qualquer contacto.

Guião e Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P6366: Tabanca Grande (218): Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74

1. Mensagem do nosso camarada e tertuliano Armando Faria* (ex-Fur Mil, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), com data de 5 de Maio de 2010:

Boa noite companheiro.

Já noutra altura enviei para vós e publicaram, duas palavras sobre a CCAÇ4740.

Hoje e após as inúmeras visitas feita ao Blogue, penso que não posso continuar só pelas visitas, talvez tenha chegado o tempo de mais alguma coisa, participar.

Assim vou juntar aqui um texto que dedicarei a todos aqueles que connosco partilharam o pão e os sabores da vida que nos foi “oferecida”.

A todos vós,
Um abraço do tamanho do Cumbijã.

Armando Faria,
ex-Fur Mil da CCAÇ 4740 – Cufar – Guiné


2. Tempo de recordar amigos de sempre

Companheiro, amigo, camarada, irmão…

Muitos poderiam ser os adjectivos e os nomes chamados e bem merecidos a cada um de vós/nós, porém a todos nós basta saber que um dia, algures em algum lugar, fomos irmanados, não pelo nosso querer ou vontade própria, mas pelas circunstâncias do momento que a todos chamou, a PÁTRIA precisou de nós.

O nosso caminho vai sendo percorrido ao sabor deste tempo que nos é concedido, pachorrentamente na companhia daqueles que nos acolheram como família, dos amigos e das memórias que habitam todo o nosso ser.

Foi e será assim, as memórias do tempo que para lá ficou, dos amigos ‘deixados’ pelo caminho da vida, das alegrias e tristezas então vividas, não nos deixaram jamais.

Foi tempo de ser herói, sim, porque todos à nossa maneira o fomos, tempo de dar o melhor que tínhamos, a nossa juventude, tempo de fazer dos medos a nossa maior arma de combate e assim ganharmos a ‘guerra’ do nosso próprio medo, em suma, ser herói.

Desse tempo resta uma nostalgia de gente que connosco viveu e de uma ou outra forma nos marcou para sempre.

Gente que fomos, vida que vivemos, terras que visitamos, lugares lindos que se ficaram e da nossa memória não se esbatem, amigos que partiram para junto das suas famílias, mas que hoje queremos rever e com eles reviver as alegrias de então, não pela saudade de algo que ficou, mas pela amizade que aí se construiu.

Hoje, aqui no meu canto, sou assaltado por essas memórias e pelo que então foi um pouco a nossa vida, não pelo que alguém possa pensar de saudoso desse tempo de alguma desventura, mas, como disse, da amizade aí encontrada em pessoas nunca antes conhecidas e que se vieram a revelar de muito valor, no tempo e agora, pois é com essas memórias e ‘essas’ pessoas que hoje estamos aqui em contacto, não fora isso e nunca teríamos tido a ventura de conhecer gente que se veio a tornar tão importante para nós neste momento da vida.

Sois, como então, parte da família que me orgulho de ter, fomos heróis, vencemos os medos, conseguimos alcançar a liberdade para viver a vida que nos foi proposta viver, juntamo-nos à família e juntos hoje vivemos a alegria de sermos livres.

Somos feitos de uma massa que já não se usa muito por cá, fomos temperados na vida e para a vida por outras experiências e vivências que não nos envergonha, tivemos pais que da vida nos ensinaram o melhor e temos filhos, os que têm, que são o nosso orgulho, afinal «os filhos são a coroa de glória de seus pais» e somos o que somos porque trabalhamos para o merecer.

Hoje é tempo de reencontrar esses ‘velhos’ companheiros, É este o tempo escolhido, a hora chegada a quem dedico este momento de fim de tarde, para aqui e agora fazer minhas as palavras do poeta. Saudade.

Por aqueles que desta vida já tiveram que se ‘despedir’ elevo a Deus a minha Oração.

Um abraço, até sempre, ou para alguns de vós, até ao dia 19 Junho em Fátima, onde espero poder fazê-lo pessoalmente.

Armando Silva Faria,
Ex-Fur Mil
C CAÇ 4740
Cufar – Guiné 72/74


3. Comentário de CV:

Caro Armando Faria

No teu caso, nem precisas de boas-vindas uma vez que estás instalado na Tabanca já há algum tempo.

Apresentado que estás oficialmente, tomaste a responsabilidade de contribuir para o pecúlio deste Blogue com as tuas memórias e fotografias.

No lado esquerdo da nossa página poderás certificar-te das nossas normas de conduta, além de, através dos diversos marcadores, acederes às numerosas publicações do nosso Blogue. Clicando por exemplo no marcador CCAÇ 4740, terás acesso ao que se publicou já sobre a tua Companhia.

Posto isto, cabe-me enviar-te, em nome da tertúlia, um abraço.
O camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5730: Blogues da nossa blogosfera (33): Site da CCAÇ 4740 (Armando Faria)
e
4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6311: Convívios (143): Encontro Anual da CAÇ 4740, dia 19 de Junho de 2010 em Fátima (Armando Faria)

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69

Guiné 63/74 - P6365: Tabanca Grande (217): Alcides Silva, ex-Sold Cond Auto, amigo do Madragoa (Júlio Tavares), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69











Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/ BART 1913 (1967/69) > Três fotos, em que aparece o Madragoa, o Sold Cond Auto Júlio Tavares, condutor de GMC... Nasceu em Lisboa em 1945 e morreu em 1986, no Canadá, para onde emigrara em 1975. Os seus pais eram de Pardilhó, Estarreja. Quando jovem, o Júlio viveu na Madragoa, em Lisboa. Quando voltou da Guiné, fixou-se em Pardilhó, onde casou e teve o seu filho Pedro. A sua filha Marisa, que tinha 6 anos quando o pai faleceu, de doença prolongaada, anda à procura de camaradas dele. Graças ao nosso blogue, já localizou alguns. Diz que tem muito orgulho no seu pai.

O seu gesto sensibilizou-nos a todos. Convidei a Marisa para integrar o nosso blogue, o que ela aceitou, embora não domine bem o português. O pai foi trabalhador da construção civil. Conseguiu dar, no entanto, uma educação de nível superior aos seus dois filhos. A Marisa diz que ele tem outro filho, que terá ficado em Catió. Recentemente lançou um blogue para procurar esse meio irmão perdido: Are You My Brother ? É meu irmão ?( Estamos a ajudá-la nesta procura do paradeiro do seu eventual mano guineense, de Catió, que a ser vivo e viver ainda na Guiné-Bissau deverá rondar os 42 anos).



Recebemos hoje notícias de mais um camarada do Madragoa, o Alcides Silva que eu ainda não sei onde vive, e a quem convido para ingressar na nossa Tabanca Grande.

Fotos: © Alcides Silva (2010). Direitos reservados


1. Mensagem de Alcides Silva:

Data: 10 de Maio de 2010 18:27
Assunto: Madragoa

Luís Graça, só nesta altura tive conhecimento da vossa página na Internet e daí ficar a saber a triste notícia do falecimento do Júlio Marques Tavares, que para nós era conhecido por Madragoa.

Só agora é que fiquei a saber o nome próprio dele, se não fosse a fotografia a mim o nome de Júlio nada dizia.

Pois, quanto ao Júlio, foi um grande amigo, fazia parte do Pelotão de Manutenção como eu. A nota que consta na vossa página onde refere que, nas colunas para transporte de alimentos, a GMC levava no soalho da cabina sacos de areia para assim proteger o possível de qualquer mina. Devo dizer que essa GMC estava pedida a sua evacuação pelo Batalhão que fomos render, foi posta a trabalhar pelos nossos mecânicos e na carroçaria foi montada uma metralhadora, envolvida com sacos cheios de areia a fazer de parede, para proteger o colega que fazia de atirador e o municiador.

Era essa a GMC, que tinha o chão da cabina carregado com sacos de areia, a que o Madragoa conduzia nas referidas colunas, onde o pessoal da mecânica fazia parte.

Junto 3 imagens onde ele está:

(i) a n.º 1 e 2, sou eu o 1 e ele o 2; o outro que também está a ajudar o cozinhar o frango que tinha fugido aos oficiais e caiu na nossa panela, já não recordo o nome, creio que também era condutor;

(ii) na fotografia n.º 3, está o pessoal da oficina, onde eu sou o 1 e ele o 2, para assim o identificar.

Para mim foi uma grande surpresa saber que ele deixou lá um filho, éramos amigos, mas a vida particular de cada um não era conversada. Maior surpresa foi saber que ele faleceu por doença grave, é um pesadelo que se vive, mas nada se pode fazer. Estávamos em Catió há sete meses quando recebi a noticia da morte do meu pai por doença igual, aí ele foi um grande amigo que me ajudou a ultrapassar essa fase critica. Que Deus o tenha em Paz.

Por último pergunto, o Luís Graça é alguma coisa ao Fernando Graça? Se acaso tiver alguma proximidade solicito que lhe dê um abraço por mim, foi também um bom amigo, para melhor identificar eu era o estofador.
Um grande abraço para todos .

Alcides.

2. Comentário de L.G.:

Alcides, antes de mais, diz-me onde vives. Em segundo lugar, deixa-me agradecer a tua mensagem e as fotos que enviaste, em nome da Marisa Tavares e do resto da Tabanca Grande. Em terceiro lugar, ficas automaticamente convidado a entrar para o nosso lugar, como digno representante da CCS do BART 1913 e da malta que passou por Catió, entre 1967 e 1969. A família do Madragoa vai, por certo, ficar feliz com as tuas notícias. Acabei agora mesmo de reenviar a tua mensagem à Marisa. Manda-me duas fotos tipo passe, tuas, uma actual e outra do teu tempo de Catió, para completar as formalidades da tua entrada na Tabanca Grande (**).

Quanto à pergunta que me fazes, a resposta é não: não tenho qualquer relação de parentesco com o Fernando Graça, nem sequer o conheço pessoalmente. O contacto com ele é através do ex-Fur Mil Victor Condeço, que era mecânico de armamento, e que vive no Entroncamento.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:





Guiné 63/74 - P6364: Estórias cabralianas (59): Notícias do Ano 2050, quando formos todos UPV e morarmos num Velhil (Jorge Cabral)

1. Texto do Jorge Cabral, que tem uma  simpatiquíssima secretária lá no tal instituto de criminologia onde ele estuda o cérebro de heróis e criminosos de guerras passadas, e que, apesar disso (desse privílégio de ter uma secretária, ou até duas),  nunca protesta nem manda lembretes, aos editores, por causa de textos atrasados, à espera de publicação, ou perdidos no tráfico... (de influências).

Desta vez são notícias do futuro. 2050, imaginem, quando, graças aos progressos da criologia e medicina, o nosso alfero regressa da outra margem do Rio Caronte para nos continuar a deliciar, questionar, entorpecer, fazer rir, pôr a pensar, incomodar,  infantilizar, baralhar, emocionar, pôr em sentido, atrapalhar, engasgar,  pôr a trepar paredes, pôr a uivar, seduzir...com as suas estórias cabralianas (*)... E todos nós, que já fomos VIP,  seremos, em 2050,  UPV (**)...

Aviso: este poste é definitivamente pornográfico... Ou, no mínimo, deprimente. A culpa não é da mensagem nem do mensageiro, mas do CU: sempre que olhamos para o CU (Cartão Único),  descobrimos que aos vinte anos fomos combatentes, no século passado, a cinco mil quilómetros do páteo da nossa escola, de uma guerra de baixa intensidade... (LG).

Data: 24 de Março de 2010 12:46
Assunto: Notícias do Ano 2050

Amigos,

Infelizmente não vos mando boas notícias do Futuro.

Abraços Grandes
Jorge Cabral





2. Estórias cabralianas > Notícias do Ano 2050

por Jorge Cabral


Tenho como sabem, uma máquina do tempo, na qual viajo ao passado. Porém hoje a máquina avariou e em vez de recuar os quarenta anos programados, avançou e eis-me aqui no ano de 2050.

Estou vivo e ainda trabalho pois agora já ninguém tem direito à Reforma. Exerço as minhas funções no Instituto da Promoção da Pobreza. Preparo um Estudo sobre o Empobrecimento Lícito e o certo é que já sei as conclusões – empobrecer é legítimo, justo, lícito e patriótico.

Precisam-se mais pobres para manter os serviços sociais. O crime tem diminuído assustadoramente. Os polícias passam os dias a jogar às cartas, a contar anedotas ou a ver televisão. Felizmente vai ser inaugurada, em breve, uma Escola de Delinquência, na qual se podem licenciar ladrões e vigaristas, estando até previsto um Doutoramento em Tráfico de Influências.

O meu quotidiano é simples. Apanho de manhã o transporte e, se o perco, tenho logo apoio psicológico, pois há em cada paragem um Psicólogo. Aliás, existem por todo lado.

Ainda na semana passada, quando no Restaurante entornei a sopa, tive logo o respectivo apoio da Psicóloga do Estabelecimento.

Também há Advogados nos Restaurantes, nos Cafés e até nas Casas de Alterne, sempre disponíveis, pois são quatro por cada cidadão.

Moro num Velhil, destinado aos que U.P.V. (Ultrapassaram Prazo de Validade). Embora fosse um antigo canil, a casa é agradável. Recebemos muitas visitas de estudantes e uns gostam muito, outros preferem o Jardim Zoológico.

No meu quarto afixei fotografias da Guiné e no outro dia uma Professora perguntou-me se eu é que era o Soldado Desconhecido. Respondi-lhe afirmativamente. Quanto à Guerra já ouvira falar… Foi depois de Aljubarrota, não foi?

O Blogue sobrevive. O Maestro Luís comanda-o com o olhar, pois já não se usam teclas.

Qualquer dia, teremos mais um encontro da Tabanca Grande. Virtual, claro…Mas, com chá e biscoitos!

Jorge Cabral

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5889: Estórias cabralianas (58): O Dia do Patacão e a Dívida do Alfero (Jorge Cabral)

(**) Jorge: Não fiques triste. Como dizem os Deolinda, "vão sem mim, que eu vou lá ter"... Nasci numa rua, que era do Castelo, ou do cemitério... E aos cemitérios já vi chamar muita coisa, até "campo da igualdade"... Quando era puto, para lidar com o terror da morte e poder continuar a apanhar lagartos com anzóis nos muros do cemitério, púnhamos tabuletas, à entrada do portão, para aterrorizar os adultos: "À volta, cá te espero"... Jorge: haveremos de morrer, mas de vagar, entre um copo e duas estórias cabralianas... A minha imaginação não é tão febril (ou fabril) como a tua,  2050 não consigo alcançar, mas até 2025, que é já amanhã,  ainda consigo acompanhar-te... (Espero bem...). Daí juntar-me à tua festa, com estes versinhos que há tempos fiz e que hoje revi... Em tua homenagem e dos demais camaradas da Guiné, que é gente que está aqui para dar e durar, como as pilhas do anúncio...


Dizem que estamos a envelhecer, Papi!
por Luís Graça
Poema para ser lido por velhos,
daqueles que já usam óculos com muitas dioptrias,
ou então essas horríveis lentes de aumentar
que se compram na Loja do Avô,
e que só servem para ler os títulos de caixa alta do jornal
ou para aterrorizar os netos
com aqueles gigantescos olhos de carneiro mal morto...


Dizem-nos
que estamos a envelhecer.
Dizem os demógrafos,
que correm, eles próprios, o risco
de ver limitado o seu objecto de estudo
aos velhos.
Dizem as máscaras do Entrudo
do nosso descontentamento muito pouco chocalheiro.
Dizem os caretos de Ousilhão.
Dizem os últimos rapazes da Festa dos Rapazes.
Dizem os do Marão
que já não mandam nada os que para lá estão.
Dizem os médicos,
que também estão a encanecer.
Dizia o senhor Ministro da Indústria da Doença
que outrora mandou encerrar as maternidades.
Por falta de clientes.
Por falta de fedelhos.
Tenham paciência, meus senhores e minhas senhores,
a ciência ou é exacta ou não é ciência.
Dizem os hospitéis,
a abarrotar de gente na fila para morrer.
Dizem os bordéis,
que até agora não tinham livro de reclamações.
Dizem os sociólogos,
em crise de paradigma
existencial.
Dizem os jornais
que já não vendem mais.
Diz o meu geneticista,
que anda à procura do gene da eterna juventude.
Dizem os futurólogos
que lêem nas entrelinhas das camadas de ozono.
Diz a minha esteticista,
quando o verniz estala,
vão-se os anéis,
ficam os dedos
e as garras, cruéis.
Diz a vida, malsã.
Diz a palma da mão e a linha (torta) da vida.
Diz a pitonisa de Delfos,
a escarnecer
da cultura judaico-cristã.
e da mitologia grega.
Diz a comissária política de Bruxelas,
que não foi eleita,
muito menos pelos eurovelhos.
Diz o Eurostat,
que representa a sacrossanta ciência
do positivismo do século.
E até a Santa Madre Igreja,
com o seu sínodo de pontos cardeais,
agora sem crianças para baptizar
nem selvagens para evangelizar.
nem diabos para combater.
Não sei o que diz Ela,
a Santa,
a Madre,
a Igreja.
Não sei o que é que diz Roma
nem Pavia,
que não se fizeram num dia.
Mas dizem as estatísticas,
que, dizem-nos, não mentem,
que estamos a embranquecer,
a encanecer,
a envelhecer,
a ensandecer,
a endoidecer.
A morrer, meus irmãos.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Estamos a morrer.
De solidão.
Meus irmãos, meus irmãos, meus irmãos.
Diz o espelho meu,
que o tempo faz o seu trabalho de sapa.
Que o tempo, no final, te mata.
Amen
Como nos filmes de terror.
Amen.
Que a vida te está a foder, meu.
Cruzxes, canhoto.
Va de retro, Satanás!
Diz o sino da tua aldeia,
quando dobra a finados.
Dizem as tuas rugas.
Dizem as tuas brancas,
as primeiras, não sei onde.
Dizem os teus dias cinzentos.
Só o Governo esconde
a bomba biológica
que paira sobre a cabeça
dos que hão-de vir.
Dizem-me que o Governo tropeça,
trapaça,
trespassa,
mas não cai
só por mentir,
com as medidas da tendências central.
a média, a moda e a mediana,
mais o desvio padrão
e o erro amostral.
Eu sei que o Governo está sujeito à erosão
dos ventos
e das marés,
e das erupções dos vulcões
mas também à irrisão mortal
das sondagens e das eleições.
O Governo não deve mentir.
O Governo deve dizer a verdade,
e tirar as ilações,
com um grau de confiança de noventa e cinco por cento.
Mas nem sempre diz toda a verdade,
ou só a verdade,
por causa da coesão
social,
por causa do clima
económico,
por causa da confiança
psicológica
do investidor estrangeiro,
por causa da liberdade,
primordial,
da bolsa.
A bolsa ou a vida: isto é um assalto!

Dizem que estamos a envelhecer.
Dizem-te que há muito ultrapassaste a barreira dos quarenta.
Que aos 45 já eras velho,
para além do limiar da esperança ao nascer
quando nasceste em 47.
Dizem-te que seremos velhos
em 2025.
Um em cada cinco.
Leia-se: velhos, mais de 65,
com direito a CU, a Cartão Único digitalizado,
perpétuo, como o o calendário do Borda d'Água.
E que agora já começou a caça
aos talentos
aos rebentos,
aos soberdotados,
aos mimados,
aos pestinhas,
à criancinhas
na perspectiva da rarefacção dos recursos humanos.
Diz o nosso (e)terno guru.
Diz o provérbio que
na era de 31, poucos moços, velhos nenhum.
Mas não é envelhecimento,
é senescência,
diz o meu neurologista.
Degenerescência,
dizem os puristas da língua.
Diz a neurociência:
o mais importante
não é perderes 100 mil neurónios
por dia,
nem a paciência,
nem a compostura,
nem o controlo,
dos esfíncteres.
Nem a decência.
Nem o espermicída.
Deus te livre do Alzheimer e do Parkinson,
e das demais doenças crónicas degenerativas.
O que é grave é perderes
as redes neuronais
e as gotas
e os comprimidos
e não sei que mais.

Dizem que estamos a envelhecer, Papi.
Porra,
meu velho,
o que a vida fez de ti!

Guiné 63/74 - P6363: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (18): Dia final

Publicamos hoje a 18.ª Estória de Mansambo, série do nosso camarada Torcato Mendonça*, ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).


ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 18

Dia Final


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O obús  10,5 mostra a alma

  Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Coisas pesadas,  o obús 10,5 (cm) e o morteiro 81 (mm)







Há datas que nos ficam bem marcadas na memória.

O 15 de Maio de 69 é uma delas. Recordo-a como o dia final, sem qualquer dramatismo, pelo contrário, pois fazia parte do “jogo”. Foi, no entanto, a ocasião que talvez tenha pensado: é desta… recordemos então.

Manhã cedo, com o sol lançando preguiçosamente os seus primeiros raios, começa a azáfama normal da preparação de mais uma coluna entre Mansambo e Bambadinca. A rotina habitual, o roncar das viaturas, a vistoria às armas e outro material bélico, o juntar da papelada preparada na véspera.

Breve “formatura”, olhar rápido, de cada um pelo que lhe estava atribuído, palavras curtas:
-Pronto… está a andar!

Coluna em marcha apeada, picadores à frente com a tropa a seguir entre as viaturas. A picada, nossa velha conhecida, continuava a merecer toda a atenção, como se fosse a primeira vez.

Apeados até Samba Juli, já perto do destino. Suor poupa sangue, as rotinas devem provocar melhores automatismos e não facilidades. Mais devagar ou mais rápido, ao ritmo dos picadores a tentarem detectar minas ou, no sinal de alguém,  a sentir algo vindo da mata.

Já a frente da coluna ia para lá da subida do pontão do rio Almami – zona habitual das emboscadas – alguém, lá atrás, pede para parar. Uma viatura tinha “engasgado” e parado.

Não procuro o Rádio e prefiro gritar a saber o que se passava. Imprudência ou, melhor, estupidez. De pronto recebo a resposta. O IN, com emboscada montada, sentiu quem eu era e abriu rápido a emboscada… parecia ter recebido a ordem de fogo.

Sai a granada de RPG 2 ou 7 e rebenta a meio da viagem. Sorte, treino ou velhice, contrariamente ao habitual, aterro junto a grossa árvore e sinto esta a receber a rajada. Quase simultaneamente, na copa acertam com uma granada de RPG, cai-me algo em cima a aleijar-me o ombro esquerdo. Que penso eu naquelas fracções de segundo… granada e… estou fo… isso. Durou pouco, mas, nessa altura, deve ter parecido uma eternidade. Passou rápido, afastei o ramo que me aleijara e sai dali. Começou a minha resposta, natural, normal, até porque estava ali para “fazer aquele trabalho”. Ligação para Mansambo a pedir apoio dos obuses 10,5; bastava dizer Quebeque (o Cmdt da Artilharia era o Alf Queiroz) e um número. Isto, porque tínhamos a estrada, até ao alcance dos obuses, marcada com números. Portanto as granadas iam, ou deviam ir, para lá.

Segundos depois, aí estavam eles e o 81 a trabalhar. Lindo! Sempre gostei do “assobio” dos obuses.

O resto era connosco e a reacção foi a habitual. Falhou o morteiro 60. Eu bem gritava:
- Manel, o morteiro ! - e os Furriéis Rei ou o Sérgio mais berravam.

Procurei e que vejo eu? O Cabo Campos agarrado ao joelho e o Manel deitado ao lado do morteiro. Não tinham munições e, ao primeiro disparo, segundo a versão deles, resvalou e atingiu o Cabo.

Resolveu-se a situação, funcionou o morteiro e, ainda hoje me interrogo se foi acidente ou, mesmo em homens com ano e meio de comissão e tendo estado tantas vezes debaixo de fogo, naquele dia borregaram… penso que as duas hipóteses podem estar correctas. Não esquecer que o stress era mais forte sobre os que não vinham de férias. Meses e meses naquela pressão louca, corrói, desgasta… e marca… marca para sempre… os jovens a quem não foi dado o direito de ter juventude.

E se fosse comigo? Ou com outro graduado? Vidas e situações a merecerem aprofundamento. Todos são valentes e medrosos… a ocasião é que determina. Eu antes não tinha pensado:
- Vou lerpar… parvo!

Não tivemos feridos, tudo correu bem. Reacções naturais e conhecidas por todos os que sofreram uma emboscada. No fim, já com a malta vinda de Mansambo em nosso socorro, olhei e vi o nosso Primeiro-sargento que tinha apanhado boleia connosco,  pois ia de férias. Ainda estava, com as habituais faces rosadas, brancas… coisas de Profissionais, como ele, de quando em vez dizia:
- Nós (eles) somos profissionais… vocês vêm e vão…

Pois, mas enquanto estávamos fazíamos a guerra. Nem todos, cuidado. Havia excelentes profissionais a fazer a guerra, na nossa companhia ou fora dela. Além disso, o nosso Primeiro era competentíssimo no seu trabalho de secretaria e de ajuda a quem dela necessitasse, eu, do início até ao fim da comissão mantive com ele uma relação especial… entre o detestar e o aguentar. Nunca esqueci um Furriel de Transmissões e…irrelevante agora.

Rescaldo da emboscada para a malta vinda de Mansambo, coluna em ordem de marcha e rumo a Bambadinca. O Camarada Payne, médico do Batalhão, viu o ombro, palmada nas costas depois de ordem ao enfermeiro e vamos à vida. Ainda hoje, de quando em vez dói… mudança de tempo… é do tempo…

Mas aquelas fracções de segundo, estupidamente entendidas, mereceram posterior dose, dupla ou tripla, de uísque no bar. Era, muitas vezes a melhor maneira de regressar a Mansambo… meia garrafa e a picada ficava autoestrada!

Como ouviste,  recordo assim, em traços largos, muito largos mesmo, alguns acontecimentos passados.

Tenho receio de me repetir. Por isso paramos por hoje e na próxima, espero que breve, continuarei e, por estranho que te pareça. Podemos voltar a Fá, Fá Mandinga, Fá de Cima. Bom aquartelamento aquele.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6354: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (17): Uma ida ao Poindom

Guiné 63/74 - P6362: Convívios (237): Tabanca do Centro, dia 26 de Maio de 2010, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

Conforme solicitado pelo nosso camarada Joaquim Mexia Alves, damos a conhecer mais uma reunião de trabalho da Tabanca do Centro, a ter lugar no dia 26 de Maio no local do costume.



4º Encontro da Tabanca do Centro


E, como o pessoal gosta de se encontrar, comer e beber, e falar, falar, falar, até rebentar os tímpanos dos outros, sobretudo eu com a minha voz tonitruante, (coitados dos desgraçados que ficam ao meu lado), já está marcado o 4º Encontro da Tabanca do Centro, que, aliás, ficou logo marcado pelos presentes no 3º Encontro, que não querem desistir do Cozido à Portuguesa.

Aguenta, José Belo!!!

Então, no dia 26 de Maio, deste ano de 2010, lá nos ajuntaremos outra vez, para dar cabo de mais umas travessas de Cozido à Portuguesa, e resolvermos mais alguns problemas irresolúveis, mas que ainda bem que o são, porque assim sempre podemos ir discutindo como verdadeiros camarigos.

A data limite para inscrições será o dia 21 de Maio, pedindo a todos que a respeitem, para boa organização do Cozido.

O ponto de encontro será no Café Central às 13.oo horas, com almoço às 13.30 horas, repito, 13.30 horas, para facilitarmos a vida à Preciosa e estarmos mais à vontade.

As inscrições serão feitas aqui na caixa de comentários ou em tabanca.centro@gmail.com , como sempre.

Espero nessa altura já ter mais alguma coisa de concreto sobre o Apoio aos Combatentes, a que nos propusemos.

Fico à espera de textos para colocar neste espaço da Tabanca do Centro, que podem enviar para o mesmo mail..
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Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6360: Convívios (150): Encontro do pessoal da CCAV 2721, dia 28 de Maio de 2010 em Almeirim (Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - P6361: Notas de leitura (105): Guiné, Sempre!, de Piçarra Mourão (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Maio de 2010:

Queridos amigos,
Desiludam-se se pensam que estou no defeso. Para a semana há mais.
Correndo o risco de parecer obsessivo, apelo a que me indiquem obras de todo o tipo de escrita sobre a Guiné entre os anos 80 e 90.
Como é público e notório, o inventário deste princípio de século está praticamente feito. Arrisco a propor aos autores de várias listas de publicações que cotejem os seus inventários, acho que já chegou a hora do blogue constituir a sua relação bibliográfica, ao dispor de todos.

Um abraço do
Mário


Um caderno de recordações para lá de Mansoa e Bissorã, entre 1965 e 1967

Beja Santos

Chama-se Piçarra Mourão, é coronel, foi mobilizado, ainda como alferes, para a Guiné, em Julho de 1965. Comandou a CART n.º 1525, ainda como tenente. O seu punhado de recordações intitula-se “Guiné, Sempre! (Testemunho de uma Guerra)”, publicado pela Quarteto Editora, 2001. É um documento singelo da sua experiência, sem floreados nem atavios, deliberadamente na primeira pessoa, uma história de um jovem oficial com 23 anos. Interessa-nos pela sinceridade: “Jovem e desprevenido em quase tudo, a missão que me impunham era superior às minhas capacidades e disponibilidades. A minha preocupação maior ia mais no sentido de me ser facultado adequado aconselhamento, acompanhamento, treino operacional efectivo. Promovido a tenente, marchei para Oeiras, para uma unidade de artilharia de costa, acolhimento da minha futura companhia. A unidade, na ocasião, não estava organizada nem dispunha de meios humanos e materiais que pudessem sustentar as tarefas de que havia sido incumbida. O comando e os quadros, susceptíveis de nos ajudarem, manifestavam um grande distanciamento em relação às nossas preocupações e necessidades de toda a ordem”.

O pessoal vai-se apresentando, assim surge a CART n.º 1525, informa-se que o destino é a Guiné, segue-se a viagem do Uige. Piçarra Mourão sublinha a manifesta impreparação da tropa que lhe destinaram. O corrupio de histórias avulsas começa com uma operação no Queré em que inesperadamente apareceu o adjunto do adido militar norte-americano em Lisboa. O autor explica-nos o que era o Queré: uma zona de transição para o inimigo, fazendo a ligação entre sectores importantes do seu dispositivo Norte/Oeste: Morés, Biambe, Encheia, Bissum, Tiligi, etc. Graças a esta posição, o PAIGC controlava os movimentos das tropas portuguesas, tinha em primeira mão um manancial de informações sobre os movimentos das tropas, recortadas em tabancas estrategicamente posicionadas. Lá houve um fortíssimo contacto com forças do PAIGC no Queré, o oficial norte-americano, impávido e sereno, filmou e fotografou o que lhe apeteceu. Só quando viu alguns feridos é que confessou estar convencido da autenticidade do fogo, julgara tratar-se de um exercício simulado, para americano ver... A companhia de Piçarra Mourão ficou adida ao batalhão de Mansoa, começam aqui as visitas ao Morés, com mais insucessos que sucessos. Descreve-as minuciosamente, incluindo as forças especializada nelas envolvidas. Retêm-se com algum sabor peripécias como aquela noite de saída em que uma equipa de foto-cine exibia o filme “O Comboio Apitou Três Vezes”, em que na altura crucial do filme rebentou intenso foguetório, cada um tomou posição enquanto a máquina de projectar continuou a passar o filme, só mais tarde é que se desligou o gerador.

Lêem-se com agrado as suas recordações da colaboração das milícias e carregadores, a quem o autor presta uma comovida homenagem. Nesse ano de 1966, Mansoa provara várias flagelações, a situação militar tornou-se inquietante, a CART n.º 1525 foi lançada em várias batidas nas regiões de Jugudul e Bindoro. As baixas foram elevadas de ambos os lados. O inimigo acusou o desgaste e finalmente recuou depois de ter sido desbaratado em Ponta Bará. Igualmente comoventes são os episódios de dor, vários foram os mortos em combate, tanto da companhia como milícias e carregadores.

A companhia muda-se para Bula, segue para Tiligi, a Noroeste de Bissorã, seguem-se operações com intenso contacto e apreensão de material. Piçarra Mourão regista aspectos pícaros que ultrapassavam a compreensão militar: os balantas a roubar vacas nos acampamentos do Morés; o transporte de um caixote pesado, hermeticamente fechado, foi trazido como um provável troféu de guerra, afinal eram barras de sabão; os prisioneiros que aparentemente vinham de boa vontade e que subitamente desapareciam; aquele dia 13 de Maio de 1967 em que o Papa Paulo VI veio a Fátima e o PAIGC comemorou com fogachos por toda a região, entre outras.

Mais tocante ainda é o elogio que faz às milícias de Bissorã, dois pelotões que pertenciam a uma companhia sediada em Mansoa, homens impregnados de sentimentos verdadeiramente impares de coragem, vontade indomável de combater, gente inesquecível. Postura crítica é também manifestada relativamente ao comportamento da PIDE que fazia desaparecer todos aqueles sobre quem impendia a suspeita de jogo duplo. Como hoje está historicamente comprovado, a PIDE cometeu as maiores arbitrariedades na Guiné até à chegada de Spínola. O autor despede-se muito afectivamente de Bissorã, “uma terra onde se respirava saúde, confiança, progresso. No remanso do seu casario sentíamos uma reconfortante tranquilidade de espírito e de corpo. A sua hospitalidade era de tal modo afirmativa, que todos avaliávamos que muito do nosso sucesso operacional e institucional se devia à bonomia da terra e das gentes que em boa hora nos receberam, durante vintes indetermináveis meses”.

Piçarra Mourão regressou à Guiné trinta anos mais tarde e voltou a Bissorã. Pediu para falar com o administrador, viram o monumento que ali tinha ficado dedicado aos mortos. Descobriu que o seu interlocutor era nem mais nem menos que o chefe da então casa de mato de Biambe. O mesmo chefe que fora ferido numa operação dirigida por Piçarra Mourão: “caímos abruptamente nos braços um do outro, numa emoção e num envolvimento incontidos”.

É importante repertoriar todos estes testemunhos, tijolo a tijolo ergue-se uma parede e depois um edifício, a história da Guiné. Devemos procurar fazer convergir para o blogue todos estes documentos, seguramente dispersos. Os historiadores deverão contar connosco como uma indispensável fonte histórica.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P6353: Notas de leitura (104): Vindimas no Capim, do nosso camarada e tertuliano José Brás (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6360: Convívios (236): Encontro do pessoal da CCAV 2721, dia 28 de Maio de 2010 em Almeirim (Paulo Salgado)

1. A pedido do nosso camarada Paulo Salgado, (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), estamos a dar conhecimento do Encontro do Pessoal da CCAV 2721, a realizar no dia 28 de Maio em Almeirim.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6355: Convívios (149): XVII Convívio da CCS do BCAÇ 2912, no dia 5 de Junho, em Pedrógão Grande (António Tavares)