terça-feira, 11 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3440: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (5): As primeiras imagens do lançamento (V. Briote)


O Tigre Vadio



As primeira imagens da apresentação do novo livro do Mário Beja Santos,no Museu da Farmácia, em Lisboa, para os que não puderam estar presentes


à entrada do Museu, na Associação Nacional das Farmácias, encontrei, vindos de Coimbra, o Carlos Marques dos Santos e a mulher, Teresa


No anfiteatro, logo no início, um aspecto geral da assistência. Iria ficar praticamente cheio, mais lá para o fim, que o Mário Beja Santos bem mereceu (e já agora, todos nós também...)

o General Lemos Pires, numa intervenção que mereceu o apreço geral, em pouco mais de meia hora, sintetizou os motivos porque acha que a obra do Mário (os dois volumes) merece ser lida. Ele esteve na Guiné nesse período (1969/70), era o chefe da repartição da APSICO. E acrescentou alguns pormenores com interesse, nomeadamente o caso do heli caído em Mansoa, que vitimou o piloto e acompanhantes, entre os quais se encontravam os deputados da então chamada "ala liberal". Ele próprio acompanhou os deputados que acabavam de fazer uma visita ao reordenamento de Nhabijões, em Bambadinca. No regresso a Bissau, seguia noutro heli, cujo piloto, mais experiente, conseguiu sair da zona do tornado.



Mais um pormenor da assistência, a que não faltou o Dr. João Cordeiro, Presidente da Associação Nacional de Farmácias (com o livro na mão, na fila atrás do casal Luís Graça e Alice), que gentilmente disponibilizou o espaço e instalações. Ainda na mesma fila, logo à direita, os nossos camaradas Carlos Silva e Humberto Reis


O jornalista e escritor António Valdemar, que iniciou a sessão do lançamento, a representante da editora, Guilhermina Gomes, o General Lemos Pires, o Embaixador da República da Guiné-Bissau e o Mário Beja Santos.



Encerrou a sessão o Sr. Embaixador da República da Guiné-Bissau, natural da Ponta do Inglês, no Xime, que deixou mensagens com significado: que o seu País está consciente que basta de guerras e conflitos; que as eleições em marcha têm decorrido sem incidentes; que lhe têm chegado, de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, algumas propostas com interesse, nomeadamente a reconstrução de escolas e edifícios públicos; e, finalmente, que mais do que evocar tempos de conflitos, é importante levar à prática projectos de cooperação entre os dois Povos.
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Nota de vb: artigo relacionado em

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3435: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (4): Pequena homenagem ao Tigre de Missirá (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P3439: Falando sobre o seu amigo Gregório (António Santos)


1. Mensagem do nosso camarada António Santos, ex-Soldado do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, com data de 10 de Novembro de 2008

Saúde para todos.
Caros camaradas e amigos da tabanca.

No ultimo sábado, momentos depois do Carlos introduzir o poste em assunto na nossa tabanca, e porque eu estava online a escrever no meu blogue precisamente um texto em que relato que o Gregório vai à minha procura ao quartel novo, pois sabia da chegada dos periquitos, onde eu estava incluído mas, eu nem sequer pensava que ele estivesse naquelas paragens tão a Leste.

Precisei de dar uma espreitadela à tabanca, quando me deparo com esta notícia (*). Primeiro inundou-me uma grande alegria pois pensava ser o meu amigo a entrar em contacto, mas depois de ler, a maior tristeza com a perca deste amigo da adolescência.

Conhecemo-nos por volta dos treze anos e apesar de não estar em contacto com ele desde a Guiné, fiz varias diligências para o encontrar, mas tal não foi possível. Há vários anos, não me lembro de quantos, andava eu na labuta diária numa das ruas em Lisboa e pareceu-me ver o meu amigo a conduzir um autocarro da Carris. Foi tudo muito rápido e no meio da confusão do trânsito de Lisboa, fiquei perplexo pois se não era ele, seria um sósia, tal era a parecença. Passado algum tempo, (como a noção do tempo, agora é tão diferente da nossa adolescência), entrei em contacto com a Carris na Pontinha e foi-me dito que o seu nome não constava dos quadros da empresa!!! Por coincidência, um vizinho actual empregou-se há cerca de dois anos na mesma Carris. Claro que oencarreguei de tirar a limpo a situação mas, deram-lhe como resposta que a carris tinha mandado para a reforma a malta com 55 anos.

Que descanses em paz amigo.

Quanto ao pedido da filha do Gregório, infelizmente só posso ajudar com o envio de mais duas fotos tiradas na mesma altura em Nova Lamego, pelo que estas três fotos são o total que tenho em minha posse e curiosamente as únicas tiradas connosco e que chegaram até aos dias de hoje, (não digo o mesmo de tantas outras).

O porquê de só três? Porque o teu pai pertenceu a uma companhia de intervenção que parava pouco no mesmo local. Nas fotos aparece também o Graça, (hoje meu compadre), embora não conheças os locais, descrevo onde foram tiradas. A que já conheces do blogue é à porta do famoso cine Gabú, onde vimos alguns filmes. A do memorial, que se situava exactamente no meio do quartel velho que era a pensão onde ele morava na época e, finalmente a terceira, é dentro do quartel novo junto a uma caserna. Depois deste dia das fotos encontramo-nos varias vezes mas nunca estava o fotografo por perto. Quando foi para mais longe, só o via quando me visitava.

Carlos, se a filha do meu amigo estiver interessada nos meus contactos, estás à vontade.

PS: Aproveito o mail para enviar uma terceira foto minha que parece que é muito igual a de Farim.

Cumprimentos,
António Santos

Gabu > O trio de amigos no quartel velho

Gabu > O trio de amigos no quartel novo

António Santos junto ao momumento que assinala(va) o V Centenário da morte do Infante D.Henrique.

2. Comentário de CV

Infelizmente não temos o contacto da filha do nosso camarada Gaudêncio, pelo que fica a esperança de que ela nos leia e entre em contacto connosco. Tenho preparadas, para lhe enviar, as fotos que ficam neste poste, em tamanho ligeiramente maior.

Vamos aguardar o seu contacto. Caso queira o contacto do António Santos, será disponibilzado, segundo a sua vontade expressa.
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Nota de CV

(*) Vd. poste de 8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro


1. Em 9 de Novembro de 2008, o nosso camarada Vitor Junqueira, Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 - Os Barões - Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72, deixou este comentário no P3411:

Carlos,
Muito obrigado pelo teu esclarecimento.

E, sendo assim, prepara-te que aí vai aço! Quero dizer, ainda hoje vou alinhavar mais uma história - com agá e deixemo-nos de tretas -, que te enviarei para publicação, se achares que tem merecimento para tal.

Sabes Carlos, eu não consigo escrever nada em que não ponha um pouco da pessoa que eu sou. Por vezes, uma ponta de ironia ou o linguajar da minha infância, dão aos meus escritos um certo colorido que, ao relê-los (quando o faço), pergunto a mim próprio: Quem é que pode interessar-se por esta porcaria!? E zás, reciclagem com eles! Têm escapado aqueles que, a seguir ao impulso da escrita, seguem imediatamente para o correio. Nesse caso, não há recuo possível! Quanto aos temas, só tenho uma preocupação, a de que tenham subjacente a verdade.

Amigo Carlos, não respondas a este e-mail porque não é necessário. Estou a ouvir-te neste momento.

Até breve,
VJ

2. Caro Vitor, não te respondi, como querias, mas publicamente te digo que vales tanto pela tua coragem, honestidade intelectual, que a outra não é discutível, e franqueza, que só me ocorre dizer que te admiro por seres quem és e como és.

Não deites para o caixote aquilo que expontaneamente te sai pela ponta da caneta. Promete.

Aos restantes companheiros, não me canso de repetir que qualquer trabalho que venha de quem quer que seja, com a qualidade do Vitor ou parecido com aquilo que eu prórpio escrevo, menos boa, mas genuíno, é sempre bem-vindo e será publicado de certeza. Não se acanhem camaradas perante a qualidade de alguns prosadores e escrevam o que sentem e o que lhes vai na alma. Estamos aqui para receber e publicar as vossas histórias, mesmo sabendo que os seus autores jamais serão candidatos ao prémio Nobel da literatura.

3. No dia 10, recebemos do Vitor Junqueira esta reflexão sobre a época de Natal que se aproxima, seguida de duas curiosas histórias.

O Líbio e o Alferes gazeteiro…
Vitor Junqueira

Estimados amigos e camaradas,
Estamos quase chegados ao mês do Natal, como se diz por aqui e em muitos outros sítios. Por um lado é bom. Significa que estamos cá, com mais ou menos achaques completámos outra longa viagem de 365 dias em volta do sol, à velocidade de 29.784,2 Km/seg. Vamos entrar numa quadra que, além de festiva, todos dizem que é mágica, sem que ninguém saiba explicar exactamente porquê. É como o próprio tempo, sentimo-lo, mas quem é capaz de o definir? E como ele corre! Ainda ontem estávamos em fim de Festas e ei-las de novo à porta. Aí reside o por outro lado da questão; para os homens e mulheres da minha geração, torna-se cada vez mais pesado o sentimento de que no contador da vida, a cada Natal que passa, mais um ano é retirado ao nosso prazo de validade. Damos connosco a afirmar com toda a naturalidade: Para o ano, se eu cá estiver... É duro mas é assim mesmo e não há volta que se lhe possa dar. Quem correu, já não tem muito para caminhar.

O Natal toca-me, mexe comigo, como se diz nesta nova linguagem que todos andamos a aprender. Vêem-me à memória recordações de infância, tantas. Repousando ao ar do borralho, o alguidar das filhozes da minha mãe, confeccionadas com muita abóbora menina e açúcar, a tigela com o pão de ló bem batido, de onde eu fanava bocadinhos de massa na ponta do dedo enquanto ela untava a forma. O pirum bêbado, a desfazer-se na assadeira em leivas de carne, batatinhas novas a boiar na sua gordura olorosa. O presépio, construído com tabuinhas das caixas de sabão offenbach e musgo arrancado aos troncos das oliveiras. Até o Menino Jesus deitado nas palhinhas era bem mais simpático do que um empregado Seu que para aí anda, a quem chamam Pai Natal. Empanturra os putos com consolas e telemóveis que eles já têm, Barbies, skates, BTT’s e mais uma montanha de lixo. Coisas pelas quais perdem todo o interesse, mal acabam de as desempacotar. Pode-se dizer que hoje em dia, o êxtase da criançada dura aqueles poucos instantes que levam a abrir os presentes. É o preço a pagar por vivermos numa sociedade consumista. O meu Menino Jesus porém, era bruxo, adivinhava sempre o que eu queria. Tanto me contentava com uma bola, como recebia com enorme excitação, uma caneta de tinta permanente, uma mala nova para os livros ou umas reluzentes botas de ensebar com orelha e rasto de pneu. E a dose de felicidade era tamanha que durava o ano inteiro.

Foram Natais bem mais felizes, os da minha meninice. Como numa conta de somar, junto-lhes a lembrança daqueles que vivi com os meus filhos quando eram pequenos. Quantas saudades, chega a doer! Hoje, depois de tanto peido de cigano e cornadas da vida, é-me cada vez mais difícil libertar a tal criança que supostamente nos acompanha do nascimento até à cova. O Natal já não tem força para me aquecer a alma, talvez a amorne. Entre a excitação e uma espécie de melancolia pegajosa difícil de sacudir, fico apenas contente, é quanto me basta. Evoco memórias de familiares e amigos que já lá vão, dos camaradas dos tempos de emigrante e da tropa. Em breve chegarão à minha caixa do correio os postais da praxe. Eu não escrevo, prefiro o telefone. Mas não para mandar aquelas mensagens predefinidas, idiotas. Uma praga para uns, uma mina para as operadoras. Na noite de consoada, recebo e faço meia dúzia de telefonemas. Gosto de ouvir a voz dos amigos que o são de verdade, sem motivo nem explicação. Daquele amigo em particular que, em dado momento, nos caiu no goto e, passada uma eternidade, continuamos a achar que só por capricho do destino não é nosso irmão de sangue.

Tenho um amigo assim, o alferes Quintas, gazeteiro encartado, o maior que passou pelo exército português, zeloso quanto ao bom estado de conservação da primeira camisa que a mãe lhe deu, contestatário militante, exímio jogador de King, lerpa, sete e meio e montinho, discípulo de Bacco, amparo de solteiras, viúvas, divorciadas e mal casadas.

Mas, permitam-me que antes vos fale de outro amigo e colega (de escola), Kahled o Líbio.

Estava eu a iniciar o primeiro ano do curso superior de pilotagem da Escola Náutica e tendo as aulas começado havia umas duas semanas, aparece na turma um matulão de vinte e poucos anos a falar com sotaque fortemente abrasileirado. Cabelo curto e ligeira carapinha, tez de um moreno carregado e dentes resplandecentes, parecia o Omar Sharif dos velhos tempos. A sua simplicidade, o olhar franco e leal, conquistaram de imediato o resto da turma. Muçulmano fervoroso, frequentava as aulas com assiduidade e nos intervalos, falava-nos da família, dos lugares por onde passara e dos amigos que lá ficaram. O pai tinha desempenhado as funções de Adido Comercial da Líbia no Brasil, nos últimos nove anos, até à sua recente transferência para Lisboa. Tinha dois irmãos, o Sam um pouco mais novo, que enveredou pelo curso de máquinas marítimas e um outro, ainda chavalo com cerca de doze anos de quem não recordo o nome. Relativamente aos costumes, o Kahled era exemplar. Único vício patente: o do tabaquito. Não dizia palavrões, não bebia álcool nem comia carne de porco. Quanto a sexo, seguia à risca os ditames da sua religião. Porque segundo os mandamentos, sexo era uma coisa muito séria e a pila, não era propriamente uma chouriça que se pendurasse em qualquer fumeiro. Estávamos no mês de Outubro. Pois bem, antes do Natal, já o Kahled tratava pelo nome as putas todas do Bairro Alto, comia lentriscas grelhadas acompanhadas com Reguengos e iniciava as suas incursões predadoras pela margem sul, por tudo quanto era bas-fonds onde cheirasse a bichana. Da nacional, porque na altura ainda não se consumia chicha do leste ou sul americana! Não raras vezes, utilizava nesta incursões a viatura CD, onde se fazia transportar com os comparsas para além das galdérias e muito álcool. O que pode explicar nunca terem ido todos parar à choldra. Ou seja, aquilo que os liberais brasileiros não almejaram em nove anos, o tresmalhe de uma boa ovelha, os portugas conseguiram em poucas semanas. Claro que, com o andar desta carruagem, outra coisa não se poderia esperar que não fosse o completo desinteresse pelo curso. Faltas às aulas, as manhãs na choça a curtir a ressaca das noitadas e as tardes passadas a preparar a caldeira para a soiré, acarretaram chumbo atrás de chumbo. O Kahled nunca mais passou do 1.º ano. Um dia de finais de Julho, tendo eu concluído o curso, dirigi-me à escola a fim de tratar da documentação para o meu primeiro embarque. Encontro o Líbio no bar a despejar umas bejecas para cima de um lastro à base de amendoins bem torradinhos.

- Ora viva, Kahled! Estás bom, meu? O que é que estás aqui a fazer?

- Ói cara, tudo jóia. E você?

- Numa boa. Vim pedir a certidão para a capitania. Mas ainda não me disseste porque é que não estás a gozar umas merecidas férias!?

- Fiz hoje o exame de Márinhária – a disciplina mais acessível do curso –. Assim já vou podê mi mátriculár no segundo ano!

- Oh pá, parabéns. Então e a nota, já saiu?

- Saiu não, mas mi correu muito bem, estou contando com uma boa nota.

Uns dias depois volto à Escola para levantar a certidão. Passo pelo bar e encontro o Khaled nos mesmos preparos.

- Olá, companheiro! Tratando da matrícula

- Não, não. Chumbei.

- Não passaste???

- Nããão, o cara mi fodeu!!!

Nota: O “cara” era o comandante Marques da Silva, o mais estimado e justo professor daquela escola. Foi durante mais de trinta anos capitão da pesca do bacalhau tendo comandado algumas das velhas glórias nacionais nas suas derradeiras deslocações à Terra Nova, enquanto navios pesqueiros à vela.

O José Manuel Coutinho Quintas, era um dos alferes de uma companhia a banhos na zona de Bula. Natural de uma aldeia próxima de Barcelos, já era casado e pai de um filho ou dois quando foi bater com os costados na Guiné. Baixote, vivaço, simpático, era o protótipo do bom malandro. Tinha um defeito, estava sempre no contra, pelo menos no princípio. Esperto que nem um rato de celeiro, não tinha dificuldade em enfileirar argumentos para justificar a sua pouca ou nula adesão à causa. Porque a sua mãe não o tinha criado para ir morrer em África, porque aquele país era deles e nós não passávamos de reles ocupantes, à força etc., etc. Possuía retórica extensa, fecunda, e não via com bons olhos aqueles que não comungavam do seu ponto de vista. As críticas e aleivosias que tive que aturar àquele desgraçado!

Fiel aos seus princípios, decidiu em dada ocasião em que estava escalado para uma segurança nocturna nas imediações do quartel em Bula, que o seu sangue, nessa noite, não seria pasto para mosquitos. E vai daí, deu parte de doente. Ficou no quarto e ordenou ao impedido que fosse à messe de oficiais aviar o tratamento adequado à sua situação clínica: uma bifana no pão, uma sandocha mista de queijo e fiambre e duas cervejolas! O coronel não sei quantos, com todo o respeito, chefe daquela guerra, entra no bar e topa o soldado junto ao Balcão.

- O que é que o nosso pronto está aqui a fazer?

O soldado, coitado, todo tremeliques, não sabendo o que fazer com o taleigo onde levava a medicação, responde:

- Meu comandante, eu estou aqui por mandado do nosso alferes Quintas.

- ????

- Então mas não é o pelotão do alferes Quintas que está escalado para ir emboscar?

- Era, meu comandante. Era, mas o nosso alferes está doente.

Ao coronel não passou despercebida a volumosa receita acabada de aviar. Vira-se para o médico que ao fundo da sala seguia a conversa enquanto se batia estoicamente com um interminável crapaud e dá a seguinte ordem:

-Ó Dr, vá lá ao quarto do nosso alferes, veja o que é que ele tem e apresente-me um relatório.

O médico, por mais camarada que desejasse ser, não pôde senão atestar em letra de relatório a saúde de cavalo de que gozava o alfero.

Processo disciplinar em cima e, catrapus, dez dias trancadito no quarto findos os quais, o Quintas recebe guia de marcha e vai de vela até ao K3.

Travámos conhecimento num fim de tarde em que regressava do mato. Roto de cansaço, negro da fuligem do capim e das tabancas a arder, farto de tiros e tiras, avisto-o junto ao quarto dos alferes, à paisana, envergando calções e uma imaculada T-shirt branca. Com um pé em cima de um mocho acompanhava-se à viola, cantando qualquer coisa que soava assim:

Oh when the sens
Oh when the sens
Oh when the sens, oh ma-tchi-ni


- Quem é o artista? Perguntei ao portalegrense 1.º sargento Leão, Leanito para os amigos, já falecido, que me esclareceu.

Na semana seguinte, fomos ambos fazer uma operação. A coisa esteve preta! À chegada, atira-se para o chão à frente da porta da secretaria e diz:

- Oh Junqueira, tu és louco, pá!

Foram cócegas para o meu ego e, o início de uma amizade tão forte quanto improvável.

O Quintas vive na Suiça onde depois de vinte anos a trabalhar na Swatch, se tornou proprietário e gerente do melhor restaurante da região. Veio visitar-me este verão, como faz sempre que vem a Portugal. É um daqueles manos com quem contacto na noite da consoada.

Quando lá forem, batam ao ferrolho e digam que vão da minha parte. Vão conhecer o significado da palavra hospitalidade em Quintanês.

Aqui vai o endereço:

Zé Manel Quintas,
Restaurant Griland
Route Cantonale, 26
1964 Conthey

Obs: Isto fica em Sion a cerca de 150 Km de Genève.

Já agora, toparam a ligação entre estes dois retalhos de vida?
Cá para mim, acho que ambos si foderam!

Espero que tenham apreciado, até breve
VJ

OBS:-Itálicos e negritos da responsabilidade do editor
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Nota de CV

(1) Vd. postes da série de:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753

(2) Vd. poste da última participação do Vitor Junqueira no nosso Blogue com data de 5 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3411: O meu baptismo de fogo (22): A minha primeira vez... (Vitor Junqueira)

Guiné 63/74 - P3437: O meu enquadramento sócio-político-financeiro, religioso e académico na Guerra do Ultramar (I). António Matos.

Também fomos meninos.
Os nossos tempos antes da mobilização.




O menino que queria ser professor de ginática

Em 1961, altura das primeiras levas de soldados para o ultramar, eu vivia no Porto e frequentava o liceu Alexandre Herculano.
Fiz lá o meu 1º ano, o 2º e o primeiro período do 3º.
Não terminei lá esse 3º ano pois o meu Pai, secretário de finanças, fora transferido para Barcelos fixando residência na Póvoa de Varzim por força da existência do liceu.
Aí continuei até ao 5º ano...
Nova transferência e, de trouxas às costas, lá nos mudámos novamente, agora para Guimarães.
Não nos ficámos por aí, mas para efeito desta narrativa é já o suficiente.
Claro que o Porto não aparece de geração espontânea! Já vínhamos de Amarante, que antes tinha sido Esposende, e antes Tabuaço, e antes...já não me lembro.
Pois bem, situemo-nos no Porto, então.
Morávamos na Rua Pinto Bessa paredes-meias com Campanhã.
Dessa estação de caminho de ferro partiam comboios atolados de militares e várias vezes nos dirigíamos lá para os ver.
Pessoalmente não tinha noção do que aquilo se tratava embora soubesse que havia uma guerra.
Ainda nesses anos de Porto houve uma 1ª exposição fotográfica sobre os horrores dessa guerra onde eram mostrados corpos mutilados a golpes de catana e outras cenas macabras.
A ela não tive acesso, julgo que por ser criança.
Certo dia, lembro-me, ouvi uma conversa entre o meu saudoso Pai e um qualquer amigo, à soleira da porta, num dia de domingo de muito calor, em que o Pai dizia:.... do mal, o menos, pelo menos esta guerra não será para os nossos filhos pois são muitos novos...
Hoje, com a idade que tenho, sou amiudadas vezes assaltado pelo sentimento de pena pelo sofrimento que eles e todos os pais tiveram enquanto durou a expectativa dilacerante de ter os filhos numa guerra!
No nosso caso (havia-os bem piores) parecíamos os irmãos Ryan!!! Éramos 2 ao mesmo tempo a bater com os costados no ultramar; o mais velho em Angola e eu na Guiné. Enfim...
Naquela altura, no Porto, as minhas preocupações de criança eram outras.
Excelente nos estudos (mais tarde transformei-me em burro), tinha na componente desportiva, o meu objectivo final.
Inscrito na ginástica do Futebol Club do Porto (que me perdoem os tertulianos benfiquistas, sportinguistas e os outros, mas o FCP é uma nação, não é?) pertencia à classe pré-aplicada superiormente ministrada pelo Professor Puga.
A paixão por essa disciplina tem sido uma constante na minha vida ainda que por vicissitudes várias, não só a não tivesse continuado como, inclusivamente, ia "espreitando" outras modalidades às quais aderia de forma automática.
Daí que pratiquei muito judo, muito karaté, hóquei, ciclismo, natação, futebol e finalmente, quando o desporto sentado me seduziu, dediquei-me ao karting que ainda hoje pratico com afinco paralelamente a 1 hora diária de ginásio para não deixar entorpecer as pernas por completo.
Mas voltemos a recuar ao tempos de jovem...
Pertencia a uma família pequeno-burguesa tradicional, conservadora no paradigma mas muito liberal na prática onde a tradição ainda mandava que nos juntássemos todos ao mesmo tempo à mesa para as refeições (hoje não é bem assim, pois não?) e onde os luxos se resumiam às férias que passávamos sistematicamente no Algarve (a minha saudosíssima Mãe era de Silves) durante todo o verão e à mesa farta de que desfrutávamos com a habilidade nata que possuía.

Aliás, a vida de "saltimbancos" a que a profissão do Pai nos impunha, levava a que a Mãe se especializasse nas tradições gastronómicas das diversas regiões o que me apraz relembrar os célebres pratos de domingo os quais, ao longo dos tempos foram mudando mas que eram as Tripas à Moda do Porto, os Arroz de Cabidela, os Rojões, a Lampreia à Bordalesa, o Cozinho à Portuguesa, etc., etc., etc.
Sinal dos tempos, hoje, ficamo-nos pelo chá e torradas para não irmos demasiado pesados para a cama...
Éramos uma família católica praticante.
Missa todos os domingos, comunhão assídua, preceitos religiosos do conhecimento de todos.
O conceito de solidariedade, recordo, estava muito enraizado nos nossos pais. A visita a hospitais e a amigos que estivessem doentes era uma constante.
Politicamente, não éramos entendidos e talvez por isso não sentíssemos a sua necessidade.
Tínhamos outras preocupações. Naquela altura eram os estudos e o facto de eu pertencer sistematicamente ao Quadro de Honra (um belo incentivo da época) levava-me a encará-los à séria.
Perante bons resultados, íamos passear até à estação dos comboios! Fantástico!
Não tínhamos carro nem viríamos a ter tão cedo!
Os avós paternos, em Vila Real, levavam-nos a Trás-os-Montes com grande assiduidade e essas viagens eram memoráveis!
Regra geral eram feitas de camioneta e as célebres curvas do Marão faziam-nos passar aquelas 2 ou 3 horas de viagem em constantes vomitadelas que quando chegávamos, parecíamos paus de virar tripas!
Eram tempo em que ainda se tomavam purgas! Era famosa a de óleo de rícino!!! BAAAHHHH!!!!!
E os estudos continuavam...
Por razões várias, o entusiasmo dos primeiros tempos ia-se esfumando e o prazer das récitas criavam em mim um fascínio extraordinário.
Foi uma altura em que repensei os meus objectivos pois a atracção pelo teatro era evidente.
Não o quis o destino (destino? o que é isso?) e, contra todas as expectativas daquele Pai que uns dias antes respirava fundo porque aquela guerra não era para os seus filhos, via-se agora privado da presença de dois deles.

É nesta realidade muito pouco ou nada ficcionada que me dou conta que também estou num sítio onde tenho prioritariamente que defender o corpo e ajudar todos aqueles que me foram confiados a fazê-lo também.
Vejo-me na necessidade de entrar na verdadeira intimidade com alguns deles que, fruto do seu analfabetismo, me pediam para lhes escrever os aerogramas para as namoradas e depois ler as respostas....
Vejo-me na necessidade de acalentar os sonhos de todos aqueles (eu levei uma Companhia de Açorianos) que só pensavam em acabar a tropa para irem para o Canadá e pr'América...
Vejo-me na necessidade de fazer o papel do forte para não decepcionar o soldado que via no alferes a salvação da pátria....
Vejo-me na necessidade de aceitar a candidatura dum soldado a guarda-costas do alferes porque isso era importante para ele...
Vejo-me na necessidade de chorar como os outros....
De rir, apesar de tudo......
De perceber o meu papel naquela guerra, e que me desculpem os puristas, mas nunca o percebi!
Nunca tive a ideia de que estava a defender uma pátria!
Tive, isso sim, a ideia, persistente, de que à primeira distracção me enfiavam um tiro entre os olhos!
Tinha, por isso mesmo, a fé inabalável de que não o iriam conseguir e que tudo faria para inverter a situação!
Vejo-me, porém, corroído por dentro com a questão das minas!
Achava aquilo desumano e estúpido mas não era motivado por sentimentos de objector de consciência o que me levava a encarneirar como os outros....
Vi o "Nino" Vieira a passar-me nas barbas e a impotência pela falta de poder de fogo a falar mais alto!!!!!
Vi um futuro homem do 25 de Abril a entrar triunfante em Bula a toques de buzina de pópó, pópópó porque trazia um indígena (guerrilheiro?) sem uma perna!!!!!!!
PORRA! Vi demais para ficar com um ódio imenso à realidade bélica e tentar não pensar muito naqueles tempos.

Considero, no entanto, muito útil que venhamos aqui fazer os nossos relatos (ainda que acordemos alguns monstros que nos torturaram) para que um dia não apareça um caramelo que desvalorize tudo isto à semelhança daqueles que negam a existência do holocausto....

Já chega por hoje.

António Matos

ex-Alf Mil CCAÇ 2790

Bula, 1970/72
__________

Notas
:

1. Sublinhados e títulos do editor

2. Artigos do Autor em

Guiné 63/74 - P3436: O Nosso Livro de Visitas (42): Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

1. Recebemos, com data de 9 de Novembro de 2008, esta mensagem do nosso camarada Vasco Augusto Rodrigues da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351: 

 Camaradas Recebi hoje um mail de um camarada da Companhia de Cavalaria 8351, Os Tigres do Cumbijã, que faz parte da Tabanca e cujo nome é João Melo e me fez reavivar sentimentos tão contraditórios como o sentimento da revolta perante a obrigação do cumprimento do serviço militar, e o sentimento da ternura com que os camaradas da minha Companhia, e porventura de tantas outras, partilham nos encontros que vamos promovendo anualmente. 

 Muito brevemente irei aderir à Tabanca, pois tive a honra de comandar a Companhia de Cavalaria 8351, como Capitão Miliciano, Miliciano obviamente, pois aqueles locais por onde fomos obrigados a deambular destinavam-se aos não profissionais, e ao aderir, vou tentar preencher algumas imprecisões que, por exemplo, ainda hoje li acerca do Cumbijã e de Nhacobá e relembrar alguns dos meus queridos camaradas que morreram em combate, bem como os que ultimamente vão desaparecendo a uma velocidade vertiginosa, ceifados pela doença e pelo suicídio… Será o durante e o após… 

 Hoje limito-me ao antes e porquê ao antes? Ao consultar a lista dos camaradas da Tabanca da Guiné deparei com o nome Mário Beja Santos! Curioso, como o mundo é pequeno… O Senhor Beja Santos foi meu comandante de pelotão em Mafra, onde assentei praça em Janeiro de 1971. É verdade, também ao recordar esta fase muito difícil da minha vida poderei afirmar peremptoriamente que tive a honra de ter sido comandado, ou melhor ensinado, pelo Dr. Beja Santos, suponho que na altura estudante universitário, quase finalista de um curso de Letras. Eu, estava então na faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde terminei a licenciatura em 1975, após ter interrompido os estudos durante quarenta e cinco meses para cumprimento do serviço militar obrigatório, pois passei à disponibilidade em finais de 1974.

  Mais do que a instrução que o então Alferes Miliciano Beja Santos ministrava, recordo com particular entusiasmo conversas que com ele mantive durante os intervalos da instrução debicando aqui e acolá e muito cautelosamente a situação política que então vivíamos, ouvindo os seus conselhos de quem tinha vindo da guerra da Guiné e a sua preocupação, ao passar pelos instruendos que sentados no chão ao frio gelado de uma das abas do convento com uma prancheta apoiada nos joelhos, tentavam resolver os testes que lhe permitiam ou não ir a fim de semana… "Oh Mamadu, não é a c) é a d)"… Devo-lhe alguns fins de semana, dr. Beja Santos… 

 Julgo saber que foi ele que me indicou para frequentar o curso de capitães, tendo após o meu regresso dos quatro meses de estágio em Angola, procurado o dr. Beja Santos sem que tivesse chegado à fala com ele, pois entretanto havia abandonado Mafra. Vi-o várias vezes na televisão, congratulei-me com as obras que publicou, mas as vicissitudes da vida sempre me impediram de chegar à fala com ele. 37 anos e alguns meses depois… quem havia de dizer, escrevo esta mensagem para, quem sabe, um dia me dê o prazer de comigo almoçar. Vasco Augusto Rodrigues da Gama Buarcos 

 P.S. Dr. Luís Graça: Não consigo enviar a mensagem com conhecimento ao dr. Beja Santos. Poderá fazer-me o favor de a reencaminhar? Obrigado. 

  2. Comentário de CV:

Caro Vasco da Gama Cabe-me a mim os pelouros do Nosso Livro de Visitas e da Tabanca Grande, pelo que estou eu a responder-te. Para já, muito obrigado pelo teu contacto. Já reenviei esta tua mensagem ao nosso camarada Mário Beja Santos, que como sabes tem hoje mais um dia grande, pois vai ser apresentado o seu segundo livro, dedicado à sua Comissão de serviço na Guiné, Diário da Guiné, 1969-1970, O Tigre Vadio, continuação cronológica do anterior Diário da Guiné, 1968-1969, Na Terra dos Soncó

 Como já deves ter reparado, o tratamento por tu na nossa Tabanca Grande é normalmente usado, pois entre camaradas que sentiram e viveram as dificuldades de uma guerra que não queriam, não há distinções entre antigos postos militares e posições sociais. Há sim uma imensa amizade, respeito e um espírito de solidariedade que nos permite discutir sem ofender, pois as diferenças de opinião são salutares. Não discutimos opções políticas e religiosas, assim como a situação política da actual Guiné-Bissau, a quem cabe resolver os seus problemas sem ingerência exterior. 

 Quando puderes e quiseres, envia as tuas fotos da praxe, a antiga, do tempo de tropa, e a actual para nos conhecermos no primeiro contacto visual. Estas fotos servirão também para acompanhar os teus trabalhos publicados no nosso Blogue. Esperamos, como é lógico, a tua colaboração com as tuas prosas ou versos e as tuas fotos. Conta-nos como foi a tua experiência enquanto capitão miliciano, a História da tua Unidade, dos teus homens, entre outras coisas que nos queiras contar. Deixo-te, em nome dos editores e da tertúlia, um abraço. O camarada Carlos Vinhal

 _____________ 

 Nota de CV:

Guiné 63/74 - P3435: O Tigre Vadio, o novo livro do nosso camarada Beja Santos (4): Pequena homenagem ao Tigre de Missirá (J. Mexia Alves)

Lisboa > Sociedade de Geografia > 6 de Março de 2008 > Três históricos do Pel Caç Nat 52 > Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita, está o Henrique Matos que foi o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52. Desta vez, no lançamento do 2º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio), este quadro não se vai repetir, devido à ausência do J. Mexia Alves.

Foto: © Henrique Matos (2008). Direitos reservados.

1. Mensagem, com data de 10 de Novembro, do Joaquim Mexia Alves (*), dirigida ao Mário Beja Santos, com conhecimento aos editores do blogue:

Caro camarigo Mário

Amanhã estarei em Lisboa, mas infelizmente não poderei estar contigo, com todos. Sabes, porque me vais conhecendo, quanto isso me custa, por isso escuso de acrescentar seja o que for.

Guarda-me um livro, antes que esgotem. Mando-te uma homenagem que neste fim de tarde me saiu da caneta.É verdade o que lá está, embora no pobre versejar de quem faz as coisas com o coração. Ou seja é mais coração do que jeito!

Que o dia seja feito de tudo o que tu quiseres e mais desejares.

Um abraço do tamanho e da força do macaréu no tempo das marés vivas do teu camarigo

Joaquim Mexia Alves

Tomo a liberdade de enviar cópia da homenagem ao espaçonet dos nossos encontros.


Para o camarigo Mário Beja Santos
na véspera da apresentação do seu livro (**)


Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Queria tanto que a memória
Se fizesse viva
E eu pudesse recordar.

Não,
Mais que recordar,
Viver
Aquele caminho do Mato Cão
E o cheiro daquele tarrafo
A agarrar-se-me ao coração.

Lembro-me agora
De quando ali cheguei
Ao pé deles
Os do 52
Ali na Ponte do Udunduma.
O medo entranhado
No suor quente,
Os pensamentos a correrem
Por aqueles espaços fora.

Todos me pareciam estranhos!
Não eram os meus homens
Aqueles que comigo embarcaram
Indecentemente,
Mesmo antes do Natal.
Não aqueles não eram a minha gente!

Confesso agora,
Tinha medo,
Muito medo!
Sei lá se sou capaz,
Sei lá se um dia à noite
No escuro silencioso do breu...
Sei lá!

Mas vá lá que és homem,
Mostra-te sem medo,
Levanta-te na tua altura,
Deixa que te meçam
E percebam que estás aqui
E não vais recuar.

Olha-os nos olhos,
Entrega-te por eles
De modo que eles percebam,
Para que também eles
Se venham a entregar por ti.

Sorri
O sorriso dos sem medo,
Ou melhor dos loucos,
Que já nem sequer pensam
Porque também não vale a pena
Já pensar.

E passa o tempo,
E as conversas chegam.
A empatia começa a nascer
E a confiança neles
E deles em mim
A tomar forma,
A criar raízes.

Já são a minha gente
E eu já sou deles também.
À volta da cadeira de verga
(Já falei dela uma vez),
Sentados pelo chão, (***).
Trocam-se recordações.
Surge um nome,
Um tal Tigre de Missirá!
Que raio tem o homem
Que eu não tenha!
Também já não interessa,
O homem já não mora cá.

Pois se deixaste um nome,
Se deixaste recordações,
Não penses tu,
Ó desconhecido,
Que não hei-de fazer melhor.

É assim que há muito,
Muito tempo,
Já povoavas os meus pensamentos!
Sabia lá eu um dia
Que te havia de encontrar,
Na guerra das palavras escritas,
Em que a arma
É uma caneta.

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Será que o livro do Mário
Traz cheiros de bolanha molhada,
Barulhos de macaréu,
Gritos de macaco cão,
Cantares de humor duvidoso
De homens tisnados do sol,
Que cantam para espantar
O medo de não voltar.

Hoje fico assim
Sentado a pensar,
Que um livro pode trazer
Um abraço do passado
Para agora no presente
Viver, sonhar, recordar.

Hoje fico assim
Sentado a recordar...

Joaquim Mexia Alves

Monte Real, 10 de Novembro de 2008

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Notas de L.G.:

(*) O nosso camarada e amigo (ou camarigo, como ele gosta de escrever) Joaquim Mexia Alves foi alferes miliciano de operações especiais, tendo passado, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, por três unidades no TO da Guiné:(i) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas);(ii) ingressou depois no Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão); e (iii) terminou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa).

A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74). O Pel Caç Nat 52 estava na altura afecto ao mesmo batalhão. No Sector L1 (Bambadinca) privou com a malta da CCAÇ 12. Em todo o lado fez amigos. A CCAÇ 15 era uma das novas companhias africanas, neste caso composta por balantas.

(**) Vd. poste anterior desta série > 10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3431: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (3): Um homem da palavra e da acção (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3434: Album fotográfico de Santos Oliveira (3): Tite, dia de ronco

1. Dando continuidade ao Álbum fotográfico do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, apresentamos a terceira série de fotos relacionadas com aspectos e acontecimentos em Tite.


Fotos (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.



Tite > Dia de "Ronco"- Inauguração do Novo Posto Administrativo. Presentes Autoridades Administrativas, Militares e Religiosas. Em 1.º plano o Major Agostinho Dias da Gama.

Tite > A população que veio das Povoações do Sector para assistir à cerimónia de Inauguração, empunhavam os cartazes com os nomes das suas localidades de origem

Tite > A população que veio das Povoações do Sector para assistir à cerimónia de Inauguração do novo Posto empunhavam cartazes com os nomes das suas localidades de origem. Vendo-se a Frontaria dos Edifícios principais do Quartel .

Tite > Dia de Ronco-Inauguração do Posto Administrativo; Presentes Autoridades Administrativas, Militares e Religiosas

Tite > O novo Posto Administrativo

Tite > Dakota e T6

Tite > Mastro da Bandeira e Cavalo de Frisa no enfiamento da Porta de Armas onde se vê um pequeno abrigo [muito frágil] para o Posto de Guarda. Esta era a visão desde a protecção de bidões que enquadrava o CTM, Refeitório e Cozinha das Praças.

Tite > Imagem da Nossa Senhora de Fátima - Capela de Tite, onde todas as tardes se procedia à Oração colectiva e que era grandemente impulsionada pelo 2.º CMDT (BCaç 599), o então Major Gama.

Tite > Pavilhão multiusos, no exterior do Quartel. Funcionava como Capela, Cinema, Sala de Reuniões, de Jogos, Escola, etc

Tite > Edifícios do CTM e Instalações das Praças, ligeiramente ao lado do enfiamento da Porta de Armas. Na frente, os bidões com terra, para protecção das armas ligeiras IN.
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Nota de CV

Vd. postes de 15 de Outubro de 2008 Guiné 63/74 - P3318: Album fotográfico de Santos Oliveira (1): Tite

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3416: Album fotográfico de Santos Oliveira (2): Tite, Tempestade tropical

Guiné 63/74 - P3433: O Nosso Livro de Visitas (41): Afonso Costa, ex-1.º Cabo de Trms, Amura, 1970/72, procura camaradas do Centro de Comunicações

1. Mensagem de Diogo Costa, filho do ex-1.º Cabo de Trms que prestou serviço no Centro de Comunicações do COMCHEFE das FA da Guiné, entre 1970/72, que procura camaradas

Exmo. Senhor,

Escrevo-lhe em nome do meu pai, Afonso Sebastião Fitas Costa.
O meu pai foi 1.º Cabo no Centro de Comunicações do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, em Amura, entre 1970 e 1972.

Ao longo de todos estes anos, o meu pai foi tendo uma enorme vontade de reencontrar os ex-militares que com ele trabalharam no local mencionado, nunca sabendo porém qual a melhor forma de o fazer.
Essa vontade veio-se acentuando nos últimos tempos, até que ele me pediu para que eu fizesse uma pesquisa na internet, uma vez que o meu pai não tem conhecimentos informáticos para tal, no intuito de encontrar pistas que lhe permitissem obter o contacto dos ex-militares da Guiné-Bissau que com ele trabalharam no referido Centro de Comunicações.

Numa pesquisa pela internet encontrei o seu blogue, que me pareceu muito interessante, e pensei que talvez o senhor pudesse ajudar o meu pai a reencontrar os que com ele prestaram serviço militar na Guiné-Bissau.

Desta forma, eu agradecia que, se possível, o senhor contactasse o meu pai, no intuito de o ajudar nesse sentido. O telemóvel do meu pai é o 962773605.
Caso prefira, indique-me o seu contacto que eu o passarei ao meu pai para que seja ele a contactá-lo.

Agradeço desde já a sua disponibilidade na tentativa de satisfazer o interesse do meu pai em reencontrar os antigos companheiros que com ele estiveram na Guiné-Bissau.

Atentamente
Diogo Costa
diogocosta76@gmail.com

2. Mensagem enviada à tertúlia

Caros camaradas
Temos aqui mais um caso de um camarada que procura os seus companheiros de comissão na Guiné. Desta vez parece mais complicado na medida em se trata de um camarada que cumpriu a sua comissão no quentinho de Bissau, mais exactamente no Centro de Comunicações do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, sito na Amura, entre 1970 e 1972.

Solicita-se a vossa ajuda para a eventualidade de conhecerem este camarada ou alguém que no tempo dele estivesse por aquelas tão perigosas paragens.

Espero que o Afonso Costa não leve a mal estas palavras, são só dor de cotovêlo.

Como é costume, agradeço antecipadamente a vossa valiosa colaboração.

Um abraço
Carlos Vinhal
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Nota de CV

Vd. último poste da série de 8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

Guiné 63/74 - P3432: Efemérides (13): A Ordem Militar da Torre e Espada faz 200 anos (José Martins)

O distintivo da antiga Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito é formado por uma estrela de cinco pontas de esmalte branco, perfilada de ouro, assente sobre uma coroa de carvalho, de esmalte verde, perfilada e frutada de ouro, tendo entre as duas pontas superiores uma torre, de ouro e iluminada de azul, sendo a estrela carregada, ao centro, de um circulo de ouro com uma espada de esmalte azul, posta em faixa sobre uma coroa de carvalho de esmalte verde e realçada de ouro, tudo envolvido por coroa circular de esmalte azul, filetada de ouro, com a legenda « Valor, Lealdade e Mérito », em letras maiúsculas de ouro; no reverso, ao centro e em campo de esmalte azul, o escudo nacional, circundado da legenda «República Portuguesa», em letras maiúsculas, de ouro.


Os 200 anos da Ordem Militar da Torre e Espada
de Valor, Lealdade e Mérito

por José Martins
(Ex- Fur Mil Trms,
CCA5, Canjadude, 1968/70)


Considera-se que foi criada em 1808, ano da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em virtude da ameaça, concretizada, da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, comandadas, na que ficou conhecida como a primeira Invasão Francesa, pelo General Junot.

Mas, a origem, ainda que não oficial desta condecoração, remonta segundo relatos e documentos, ao tempo de D. Afonso V, que reinou de 1438 a 1481, cujo cognome era o Africano, devido ás expedições que organizou ao Norte de África, passando, inclusivamente, a intitular-se “Rei de Portugal e dos Algarves de aquém e alem mar em África”.

À condecoração a que se alude, teria atribuído o nome de “Ordem da Espada”, “Ordem da Espada e Torre” ou “Ordem da Espada de Sant’Iago”, baseado numa lenda em que, o príncipe cristão que retirasse uma espada da Torre de Menagem do Castelo de Fez, faria terminar o domínio árabe em África, passando este para os cristãos.

Esta condecoração e mesmo a lenda, comparável com as lendas dos antigos cavaleiros medievais, queria incentivar os portugueses a partirem para África, não só na busca de novas terras, mas também de glória pessoal, já que esta condecoração lhes traria as honras e privilégios atribuídos, outrora, aos membros das Ordens Militares.

Voltando a 1808 e á viagem da família real para o Brasil, foram os diversos navios que constituíam a frota portuguesa, acompanhados e protegidos por uma esquadra da Marinha de Guerra Britânica, a quem havia que agradecer, galardoando os mais proeminentes dos seus membros: o Almirante e os Oficiais.

Como estes não eram católicos, não lhes era possível, pelas disposições que regulavam as Ordens Nacionais, serem galardoados por qualquer das existentes, que eram provenientes das Antigas Ordens Militares Portuguesas. Desta forma, só criando uma nova condecoração, que não tivesse as restrições apontadas, pudesse ser atribuída a cidadãos não nacionais e de credo diferente.

No entanto, no decreto de criação da Ordem da Torre e Espada, com a legenda “Valor e Lealdade” refere a sua origem na mítica Ordem da Espada, criada em 1439, e cujos primeiro galardoados foram o Almirante e Oficiais da esquadra britânica.

Em 1832, a 28 de Julho, D. Pedro, regente em nome da sua filha a rainha D. Maria II, reforma a condecoração, atribuindo-lhe o nome de “Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”, passando também a galardoar o mérito pessoal, feitos de armas, coragem e abnegação cívica, ou serviços prestados na carreira pública, com destaque para a carreira militar.

Foram-lhe atribuídos quatro graus: Grã-cruz, Comendador, Oficial e Cavaleiro. Passou a ser considerada a maior condecoração portuguesa, com precedência sobre todas as outras, estatuto que ainda hoje mantém. O grau de Grande Oficial, foi introduzido mais tarde, em segundo lugar na ordem decrescente.

Com a abolição da Monarquia em 1910, foram também extintas as Antigas Ordens, com excepção para a Ordem da Torre e Espada.

Em 1917, com a entrada oficial de Portugal na Grande Guerra, já que nos encontrávamos envolvidos nela desde 1914 nas colónias, assim chamadas na altura, cujas fronteiras confinavam com as possessões alemãs, foi decidido restabelecer as Antigas Ordens como ordens de mérito civil e/ou militar.

A remodelação efectuada em 1917, que considerava como passível da atribuição desta Ordem a feitos praticados no campo de batalha, actos de coragem e abnegação cívica, bem como altos e assinalados serviços prestados à Humanidade, à Pátria ou à República, passou, a partir de 1919, a ser extensiva a serviços prestados no comando de tropas em campanha.

Actualmente, a Ordem pode ser atribuída para galardoar méritos excepcionalmente relevantes na chefia da Nação, pelo que é atribuído o Grande-colar aos Presidentes da República eleitos e no final do mandato ou no comando de tropas em campanha; feitos heróicos, militares ou cívicos; abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade.

Além do Grande Colar, a Ordem da Torre e Espada tem cinco graus, que conferem equiparação a postos militares, cujos agraciados não disponham de uma patente igual ou superior, sendo a Grã-cruz (Oficial General), Grande Oficial (Coronel) Comendador (Tenente-coronel), Oficial (Major) e Cavaleiro (Alferes).

A condecoração é concedida “com palma”, quando se destina a galardoar feitos heróicos em campanha militar.




Durante as Campanhas Militares de África, de 1961 a 1974, foram condecorados por feitos nas Campanhas, os seguintes militares (ver nota), por ordem do ano de atribuição:

1962


Carlos Miguel Lopes da Silva Freire, General do Exército, comandante da Região Militar de Angola, Grau de Comendador, atribuída a título póstumo. Faleceu em acidente em 10 de Novembro de 1961. Teatro de operações: Angola.

Venâncio Augusto Deslandes, General PilAv da Força Aérea, grau de Comendador. Teatro de operações: Angola.

1963

Francisco Holbeche Fino, General do Exercito, comandante da Região Militar de Angola, grau de Comendador. Teatro de Operações: Angola.


José Paulo dos Santos, 2º Sargento de Infantaria da Companhia de Caçadores nº 165, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Abril de 1963. Teatro de operações: Angola.

1964

João Nunes Redondo, Furriel Miliciano de Infantaria do Batalhão de Caçadores nº 356, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Junho de 1963. Teatro de operações: Guiné.

1965

Ângelo dos Santos Rodrigues, Furriel Miliciano do Pelotão de Caçadores nº 965, Grau de Cavaleiro com palma. Teatro de operações: Angola.

Manuel Marques Sardão, Furriel Miliciano Enfermeiro do Batalhão de Caçadores nº 664, Grau de Cavaleiro com palma, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 22 de Outubro de 1965. Teatro de operações: Angola.

1966

Alberto Andrade e Silva, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas de Angola, Grau de Comendador. Teatro de operações: Angola.

Duarte Manuel de Amarante Rocha Pamplona, Capitão de Cavalaria da Companhia de Cavalaria nº 1505, Grau de Oficial com palma. Teatro de operações: Moçambique.

1968

Arnaldo Schulz, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Guiné.

Horácio Francisco Martins Valente, Capitão Miliciano de Artilharia Comando, Grau de Oficial (atribuída a título póstumo, nota do editor). Teatro de Operações: Moçambique.

1969

António Fernão Magalhães Osório, Major de Infantaria do CAOP (Comando de Agrupamento Operacional), Grau de Oficial, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 20 de Abril de 1970. Teatro de operações: Guiné.

António Augusto dos Santos, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas de Moçambique, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Moçambique.

Jaime Rodolfo de Abreu Cardoso, Capitão Miliciano de Infantaria Comando da 7ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

José Manuel Ferreira Gaspar, 2º Sargento de Infantaria Comando, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

José Manuel Garcia Ramos Lousada, Capitão Pára-quedista da Força Aérea, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

Marcelino da Mata, 2º Sargento de Engenharia Comando do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

1970

Cherno Sissé, Furriel de Infantaria Comando do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Guiné.

Guilherme Almor Alpoim Calvão, Capitão-Tenente Fuzileiro Especial da Marinha, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

Hélio Augusto Esteves Felgas, Coronel de Infantaria, do Exercito, comandante do sector L. Grau de Oficial. Teatro de Operações: Guiné.

João Bacar Jaló, Capitão Graduado de Infantaria Comando, comandante das milícias fulas, Grau de Oficial atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 16 de Abril de 1971. Teatro de Operações: Guiné.

José Augusto Nogueira Ribeiro, Tenente Miliciano de Infantaria, da 2ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 14, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

Manuel Diogo Neto, Coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não referido. Teatro de Operações: Guiné.

Maurício Leonel de Sousa Saraiva, Capitão de Infantaria Comando da 9ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Moçambique.

1971

Manuel Isaías Pires, 2º Sargento de Infantaria Comando do Centro de Instrução de Comandos, Grau de Cavaleiro. Teatro de Operações: Angola.

Manuel Martins Teixeira, 2º Sargento Fuzileiro Especial da Marinha, Grau de Cavaleiro com palma. Teatro de Operações: Angola.

1972

António Ribeiro Pais, 2º Sargento Fuzileiro Especial da Marinha, Grau não especificado. Teatro de Operações: Moçambique.

Francisco da Costa Gomes, General do Exército, Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola, Grau de Comendador. Teatro de Operações: Angola.

Orlando José Saraiva Gomes de Andrade, Coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não referido. Teatro de Operações: Guiné

1973

Álvaro Manuel Alves Cardoso, Capitão Miliciano de Cavalaria Comando, comandante da 3ªCCmds na Guiné, comandante dos "Flechas" em Angola, Grau de Oficial. Teatro de Operações: Angola.

António Alves Ribeiro da Fonseca, Capitão Miliciano de Infantaria Comando da 35ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

António Sebastião Ribeiro de Spínola, General do Exército, Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, Grau de Grande Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

Fernando Gil Lobato Faria, Capitão de Infantaria Comando, comandante da 31ª Companhia de Comandos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Angola.

João de Almeida Bruno, Major de Cavalaria Comando, comandante do Batalhão de Comandos Africanos, Grau de Oficial com palma. Teatro de Operações: Guiné.

José Fernando de Almeida Brito, Tenente-coronel PilAv da Força Aérea, da Base Aérea nº 12, Grau não especificado, atribuída a título póstumo. Faleceu em combate em 28 de Março de 1971. Teatro de Operações: Guiné.

Apesar de não ter sido atribuída no período a que anteriormente aludimos, é de realçar a atribuição da Ordem da Torre e Espada a um civil, HELDER COSTA ALMEIDA, que comandava o navio "Ponta de Sagres" da Marinha Mercante Portuguesa, por ter retirado do cais do porto de Bissau, na Guiné-Bissau, cerca de duas mil e quinhentas pessoas, no inicio de Junho de 1998, enquanto se davam combates na cidade, entre as tropas do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira e Ansumane Mané que comandava os militares revoltosos.


Em boa hora a Liga dos Combatentes, também ela galardoada com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, quando ainda se denominava Liga dos Combatentes da Grande Guerra, tomou a seu cargo a organização da comemoração do duplo centenário, onde estarão presentes os estandartes das unidades militares, paramilitares, humanitárias, autárquicas e outras entidades civis agraciadas com esta condecoração, homenageando desta forma, não só os agraciados que ainda se encontram entre nós, mas sobretudo aqueles que a receberam a título póstumo, porque a mereceram no momento em que à Pátria entregaram a própria vida.

José Martins

Sócio LC nº 80.393/C
8 de Novembro de 2008


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Notas:
1. A lista está certamente incompleta, pelo que se depreende da imagem abaixo. Assim vamos procurar saber quem foram os condecorados com a TE durante a Guerra Colonial/Ultramar, as datas de atribuição e os TO.
2. Em 2007, a Assembleia-Geral da Liga dos Combatentes, antecipando-se à comemoração, decidiu atribuir no ano do bi-centenário, o estatuto de Sócios Honorários a todos os condecorados, ainda vivos, com a Ordem da Torre e Espada. Associou-se à cerimónia, o Presidente da República, Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Nacionais. que conferiu pessoalmente o título de Sócios vitalícios da Liga aos 15 condecorados presentes.


Da esquerda para a direita, Gen José Lemos Ferreira, Cor. José Nogueira Ribeiro, Sarg.-Mor Fuzileiro Manuel Martins Teixeira, Ten-Gen. Joaquim Chito Rodrigues (não Torre Espada, e Presidente da LC), Sarg.-Mor Fuzileiro António Ribeiro Pais, Gen. Ramalho Eanes, Prof. Cavaco Silva (não T Esp e PR actual), Cor. "Comando" António Ribeiro da Fonseca, Dr. Jorge Sampaio, Cor."Comando" Fernando Lobato Faria, Maj-Gen. José Ramos Lousada, Cor."Comando" Jaime Neves, Gen. "Comando" João de Almeida Bruno, Ten-Cor. "Comando" Marcelino da Mata e Gen. Gabriel Espirito Santo.
Agradecemos ao Cor. Manuel A. Bernardo, que prontamente nos deu a identificação dos nomes bem assim como a informação que a seguir amavelmente nos prestou: "Na revista de Set 2008, no verso da contra-capa está anunciado um livro feito por mulheres que estiveram nos territórios ultramarinos (caso da minha), ou apoiaram os maridos de outra maneira, assim como mulheres actualmente nos efectivos das FA. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, no seu programa de ontem já o difundiu. " Manuel Bernardo.
A Liga dos Combatentes comemora os duzentos anos da Ordem, o 90º aniversário do Armistício e o 85º da Liga. A cerimónia realiza-se no dia 15 de Novembro próximo, pelas 14h30, junto ao Monumento aos Combatentes Por Portugal em Belém.
3. Artigos da série em

Guiné 63/74 - P3431: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (3): Um homem da palavra e da acção (Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > 1969 > O sortilégio e a beleza do Rio Geba, entre o Xime e e Bambadinca, o chamado Geba Estreito, numa das fotos aéreas magníficas do Humberto Reis, ex- Fur Mil Op Esp, CCA 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Boa parte das imagens inseridas no 1º livro do Beja Santos (Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncós) e no 2º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio) são da autoria do nosso querido amigo e camarada Humberto.

O 2º livro é lançado amanhã, dia 11, no Museu da Farmácia, em Lisboa, ao Bairro Alto, por volta das 18h30. Uma festa para qual está todo o mundo convidado.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D).

Fotos: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados


Pré-texto, por Luís Graça.

(In: Mário Beja Santos: Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio. Lisboa: Temas e Debates, e Círculo de Leitores. pp. 9-12. (*)


Meu caro Mário, amigo e camarada da Guiné,

Pedes-me um pre-fácio para o teu segundo tomo do Diário da Guiné. Gentileza tua. Não creio que precises de alguém, como eu, para essa acção de falar no princípio de. E muito menos em teu nome ou dos teus irãs. Porque no princípio não era o verbo, mas a acção. E tu foste um homem de acção, um actor, um Tigre de Missirá, um Tigre Vadio, simultaneamente presa e predador. Mas também um homem da (e de) palavra. Um homem do texto e do pretexto.

Fui o teu primeiro editor e leitor no meu/nosso blogue. Religiosamente, semanalmente, recebi os teus episódios dessa avassaladora Operação Macaréu à Vista que, por economia de análise editorial, quiseste dividir em duas partes. Falo agora da Parte II que, cronologicamente, aparece no nosso bogue em Setembro de 2007 e deu origem a 50 episódios semanais… (**).

Acontece que não tenho a distância afectiva (e efectiva) para te escrever, de encomenda, o dito pre-fácio. Fui demasiado observador participante. E seguramente cúmplice das tuas (des)venturas, além de fautor das minhas. De Agosto de 1969 a Maio de 1970, nós estivemos lá. Juntos. Muitas vezes próximos e distantes. Solidários e solitários. Nesse pedaço do TO (teatro de operações) que nos coube em sorte ou azar. Sector L1, leia-se sector 1 da zona leste, com epicentro em Bambadinca. Ainda hoje tenho a sensação que passámos, no total, quase dois anos das nossas vidas, dos nossos verdes anos, circulando à volta de Bambadinca, o Corubal e o Geba Estreito, entre Missirá e o Xitole. Nós e os nossos queridos nharros. Tu e o teu Pel Caç Nat 52. Eu e a minha CCAÇ 12.

Decididamente não te escrevo o inútil pre-fácio. Mas, em contrapartida, ofereço-te um pré-texto, sob a forma de um poema que evoca os barqueiros-guerreiros, que fomos e cujos fantasmas ainda hoje cambam o Geba ou poisam nos altos nos poilões da nossa Tabanca Grande.

É a minha forma de homenageá-los e de exorcizá-los. Quanto ao teu livro, não tenho dúvidas que vai ter o sucesso do primeiro e tornar-se uma referência incontornável para quem, no futuro, se interessar pela literatura memorialística da guerra colonial. Fizemos a guerra e contámo-la em primeira mão.

Um Alfa Bravo (abraço) do Luís e dos demais camaradas da Guiné
(http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/)



O Rio Geba, entre o Xime (margem esquerda) e o Enxalé (margem direita), numa foto de Carlos Marques dos Santos, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), afecta ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).

Foto: © Carlos Marques Santos (2005). Direitos reservados

No Geba Estreito ou os doze contos do barqueiro de Caronte
(poema de Luís Graça)


1. Um homem passa o rio,
a nado.
Um homem atravessa a ponte
sobre o rio.
Um homem cai ao rio,
baleado.
Há uma piroga
no tarrafo.
Metralhada.
E flamingos brancos,
tingidos de vermelho.

2. Um homem pensa na jigajoga
da vida e da morte.
Um homem olha-se ao espelho.
Um homem porfia,
e nem sempre alcança.
Um homem tem uma crise,
de confiança.
Um homem do norte
camba o rio.
A sul.
A vau.
O Geba Estreito.
Que a última coisa a perder
é a esperança.

3. Um homem desenha uma ponte,
imaginária,
entre dois pontos
de cambança.
Um homem põe-se a pau,
a caminho do Mato Cão.
O inferno em frente,
o rio serpente,
a bolanha de Finete,
um very-light, um foguete.

4. E Lisboa ali tão longe...
tão azul,
tão gregária.
Lisboa, o cais
de Alcântara,
uma multidão de pontos negros.
Outra ponte,
outro rio.
Saudades a mais.
Um nó na garganta.

5. Um homem do norte
faz o corte
epistemológico
dos pré-conceitos etnocêntricos.
Quem sou eu, viajante ?
Quem és tu, barqueiro ?

6. O homem é o mal escatológico
que atravessa o céu
de bronze.
O homem é o jagudi
em voos concêntricos.
O homem é a hiena que ri.
O ferreiro,
de outrora, hoje o dari.
O homem é o pássaro-bombardeiro.
O animal alado.
O helicanhão.
O falo de fogo.
O obus catorze.
O RPG Sete.
O Katiusha.

7. Um homem é apanhado pelo macaréu
da história.
Como um cão.
Sem glória.
E na bolanha de Finete
descobre que não há ponte
nem salvação,
que há terra e céu,
mas não há elo de ligação.

8. Um homem perde a memória,
ao afundar-se no tarrafo do Geba.
Um homem chama o barqueiro
da outra margem.
Em vão.
O barqueiro faz contas
à vida
que custa manga de patacão.
E ao progresso que não chega,
ao motor de explosão,
ao motor da Yamaha,
à explosão dos cinco sentidos,
aos Strella,
aos Katiusha,
à liberdade de circulação.

9. Um homem passa a ponte,
a passo,
a peso pluma.
A ponte armadilhada.
O barqueiro conta um conto
em cada viagem.
O barqueiro de Caronte.
Um peso, irmão.
Um bilhete de ida
Sem regresso.

10. Um homem exorta o soldado
a que leve a guerra a peito.
É o capitão,
medalhado,
que nunca irá chegar a oficial general.
O fantasma do capitão-diabo,
vagueando pelo Cuor.
Estatuado,
na capital.

11. Vou no Bissau,
num barco à vela,
no barco da Gouveia.
Aproveito a maré-cheia
e o cacimbo sobre Ponta Varela.

12. O milícia, número tal,
vai morrer,
exangue,
como a última estrela
da manhã.
E eu espreito o rio,
da minha torre de Babel.
Um terceiro homem pára.
No semáforo.
Vermelho.
De sangue.
A caminho de Madina/Belel.

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3422: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (2): O exemplar nº 1, autografado, dedicado à malta do blogue

5 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3409: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (1): Entrevista à Gazeta das Caldas

(**) Vd. poste de 31 de Outubro de 2008 >Guiné 63/74 - P3386: Operação Macaréu à vista - II Parte (Beja Santos) (50): Fim: Acalma-te, Mário, a guerra acabou

Guiné 63/74 - P3430: Bibliografia de uma guerra (36): No ocaso da Guerra do Ultramar, de Fernando Sousa Henriques. (Helder Sousa)

Mensagem do Helder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF
Bissau e Piche
1970/72


Caros Editor e Co-Editores

Em anexo envio um texto com umas observações que faço sobre um livro que li e que tinha em tempos prometido dar algumas indicações.

Reenvio também uma foto que já tinha remetido em finais de Abril com a capa desse livro.

Aproveito para também vou enviar uma foto minha com o "visual" actual.


“NO OCASO DA GUERRA DO ULTRAMAR”

(Livro de Fernando de Sousa Henriques)


Já faz algum tempo que mencionei o facto de ter tido a oportunidade de encontrar mais um livro que se debruça sobre a questão da participação na guerra, concretamente na Guiné, e particularmente na zona Leste.

A propósito disso, o Luís Graça pediu-me se podia fazer um pequeno resumo de apresentação, ao que eu me dispus mas, como entretanto tinha emprestado o livro, só agora isso será possível e acho que ainda vai a tempo, porque não lhe vi referências no nosso Blogue.

Então o livro tem como título principal o acima indicado “No Ocaso da Guerra do Ultramar”, e como subtítulos “Uma Derrota Pressentida” – “Notícias de um Correspondente de Guerra – Combatente na Guiné” e é da autoria de Fernando de Sousa Henriques.

Obtive-o num encontro de camaradas que pertenceram à CCS do BCAV 2922, sediada em Piche, sendo esse Batalhão (e as suas Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá) substituído pelo BCAÇ 3883, ao qual o autor do livro pertencia, mais propriamente integrando a CCAÇ 3545. Como o autor retrata os mesmos locais e até faz largas referências à fase de “passagem de testemunho” entre esses dois Batalhões, foi natural ter aparecido nesse convívio.

Da ficha técnica pode-se retirar que a impressão e acabamentos pertenceram a Coingra, Lda., mas não tem mais indicações a não ser os contactos com o autor que sabemos ser Fernando de Sousa Henriques, ter o telemóvel 919534059 e o endereço de mail fernando.sousa.henriques@gmail.com , para o caso de algum camarada o quiser contactar.

O autor foi Alferes Miliciano de Operações Especiais e encontrou-se na Zona Leste no período de 1972-74 sendo que foi testemunha directa do final do conflito pois o regresso só ocorreu em Julho de 1974. É natural do concelho de Estarreja e encontra-se radicado na Ilha de S. Miguel (Açores) onde desenvolve a sua actividade profissional (na Administração Portuária do Porto de Ponta Delgada), colaborando activamente com a ADFA-Açores.

Dedica o seu livro, que “não se destina apenas a ex-Combatentes e a Militares” e que resulta de uma promessa que fizera, aos seus Camaradas de Batalhão, procurando referir como se vivia na Zona Leste da Guiné, no período em que o então IN incrementava aí a sua actividade, procurando levar a cabo a, por si denominada, “Limpeza do Leste”.

Parte muitas vezes, naturalmente, da sua experiência pessoal, do seu percurso desde as “sortes”, à recruta, às “operações especiais”, situações que aqui e ali nos foram familiares, uns nuns casos outros noutros, mas as suas “reflexões” sobre os acontecimentos, os seus relatos sobre as situações vividas e mesmo até os registos sobre as diversas ocorrências são dignos de registo e de leitura cuidada.
Por exemplo, já tem sido várias vezes abordada no nosso Blogue a questão da solidariedade para com os militares “nativos” que combateram (forçados ou não) do nosso lado mas o Autor tem, quanto a mim, a páginas 101 do livro, umas reflexões e uma frase final que bem merecem destaque.

Diz ele: “Na altura da partida para a Guiné, pedi a Deus que me permitisse regressar à Metrópole e que trouxesse, de cada operação realizada, para o Quartel, os que comigo tinham partido. Mas…. engano meu, pensei 'em branco' e esqueci-me dos camaradas pretos. Os brancos que comigo partiram em meras patrulhas, em acções, em operações, ou em picagens, regressaram ao aquartelamento, mas, dos amigos africanos, deixei vários para trás, mortos ou bem feridos. Deixar atrás não significa abandonar, mas foi, outrossim evacuar ou trazer mortos. A vida jogava-se com mais facilidade do que as peças num tabuleiro de xadrez e a imprevisibilidade era a palavra de ordem. Aí sim, tornámo-nos irmãos, ou ainda mais, porque unidos pelo sacrifício e dor, para além do sangue e suor derramados. Se o coração se nos apertou, quando deixámos a Família, na hora da partida, voltámos a ficar constrangidos.”

Não quero alongar-me nesta referência a um livro que li e gostei, tanto mais que foca locais onde estive algum tempo e que me são familiares em termos de paisagens. Recomendo-o para todos os que se interessam por estas questões, para fazerem um comparação com os locais por onde andaram, para verem como apesar da relativa pequenez do território e de alguns aspectos comuns (emboscadas, operações, patrulhas, ataques, flagelações, minas, etc.,), a sua geografia acaba por tornar bem diferente o tipo de acção que se desenrolou no Sul, na zona das grandes matas ou nas áreas mais tipo savana, como estas a Leste.
É de particular interesse para os amigos que estiveram por Nova Lamego (Gabú), Piche, Canquelifá, Buruntuma e seus destacamentos, incluindo aqui Copá.

Hélder Sousa

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Nota: artigos da série em

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3375: (Ex)citações (5): Os nossos soldados eram miúdos, de 19, 20, 21 anos. Admiráveis. Iam matar e morrer (A. Lobo Antunes)