Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Guiné 63/74 - P5607: Memória dos lugares (66): Iemberém, sede do Parque Nacional do Cantanhez, outrora campo de batalha (Luís Graça / António Faneco)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > AD - Acção para o Desenvolvimento - Foto da Semana > 3 de Janeiro de 2010 > "Cantanhez – várias opções de turismo responsável. Cada vez mais, o Parque Nacional de Cantanhez oferece alternativas agradáveis a todos quantos gostam da natureza, de conviver de perto com as comunidades locais e conhecer a sua cultura, forma de viver e de pensar.
"Para os turistas que lá se deslocam é também uma oportunidade de ver como é que a partir de um programa de turismo responsável, as populações locais melhoraram as suas condições de vida, tendo agora acesso a um grande número de escolas, unidades de saúde, poços de água, instrumentos de transformação de produtos agrícolas e informação local via rádio e televisão.
"As mulheres assumem um maior protagonismo em iniciativas que lhes permitem aceder a novos recursos financeiros, da mesma forma que os jovens encontram novos empregos complementares com a sua actividade principal, a agricultura, ao se capacitarem enquanto guias ecoturísticos, escultores de madeira, guardas comunitários florestais e cantores" (Foto tirada em 16/9/2009).
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Direitos reservados. (Com a devida vénia...)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 2005 > "Foto de um marco existente em Iemberem, sede da nossa ONG em Cantanhez, que foi reparado e que, em homenagem à ONG portuguesa Instituto Marquês Valle Flôr-IMVF (que intervém na zona e com quem vamos trabalhar no projecto Guiledje), se chama Praça IMVF.
"Este pequeno monumento evoca a passagem, por aquelas paragens, de uma companhia, presumivelmente de caçadores ou de artilharia, a 6521... No mural lê-se: OS NÓMADAS, PIONEIROS DE JEMBEREM, Pelundo > 27 Out 72, Cadique > 21 Jan 73, Jemberem > 20 Abr 73" (*)... Não sei quem é a simpatíquissima e bela menina, aqui na foto... provavelmente alguma cooperante ou até precoce ecoturista. O autor da foto não a quis identificar (LG)...
Foto (e legenda): © Carlos Schwarz / AD - Acção para o Desenvolvimento (2005). Direitos reservados (*)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Jemberém (ou Iemberém, de acordo com a toponomia actual) é uma localidade onde a AD - Acção para o Desenvolvimento tem a sua base operacional (instalações de apoio aos projectos desenvolvidos no Cantanhez). É hoje uma das aldeias mais dinâmicas da Guiné-Bissau, sede do Parque Nacional de Cantanhez, cada vez mais visitado nomeadamente por truistas estrangeiros... Foto de Luís Graça, tirada em 2 de Março de 2008, por ocasião da visita , ao sul, dos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) (**).
É espantoso como eles vestígios dos tugas sobreviveram, no todo ou em parte, à independência... tendo sido mais tarde, há alguns anos, carinhosamente perservados e restaurados pelos nossos amigos da AD - Acção para o Desemvolvimento e pela população local....
Neste caso, trata-se do monumento erigido pela a 1ª CART do BART 6521/72 (1972/74)... De acordo com a inscrição que se encontra na base do respectivo monumento, colocado na actual Praça IMVF - Instituto Marquês Valle Flôr (é visível o logótipo do IMVF na placa toponímica que foi acrescentada ao monumento, há uns anos atrás).].
O António Faneco (de alcunha, na tropa, o Massamá), que agora nos visita (e com quem já telefonei pelo telefone, tendo aceite o meu convite para se juntar à nossa Tabanca Grande) vem confirmar, na qualidade de ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72, que a esta companhia, vinda do Pelundo, foi destacada para reforçar a reocupação do Cantanhez, chegando a "Cadique no dia 20 de Abril de 1973 pelas 8 horas da manhã e (...) a Jemberém pelas 12 horas, sensivelmente",, local onde montou a tenda (não havia qualquer povoação) e ali "permanecemos até dia 9 de Setembro de 1973, altura em que regressámos ao Pelundo", (**), depois de terem apanho muita porrada e sofrido dois mortos em combate (segundo me disse a telefone o António Faneco).
Eram naturalmente vizinhos da CCAÇ 4540 ("Somos um caso série"), que esteva em Cadique, na mesma altura, e a que pertenceram os nossos camaradas Eduardo Camnpos, Vasco Ferreira, António Santos, Albertino Nunes Ferreira (peço desculpa se, por lapso, omito alguém)...
O António Faneco mora hoje no Montiijo e prometeu visitar-me e mandar uma foto actual, como é da praxe.
Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Jemberém (como então diziam os tugas, de acordo de resto com a carta de Cacine..) > "Monumento que se encontra em Jemberém (este sim, é tal e qual como o deixámos), assim como o monumento em homenagem aos falecidos em combate… Paz à sua alma… Hoje vejo algo por cima do monumento… não percebo de que símbolo se trata" (António Faneco)...
Como eu já expliquei acma, trata-se de um simples placa topononímica, relativa á principal praça da aldeia, a Praça IMVF [Instituto Marquês Valle Flôr]. (LG).
Foto (e legenda) : © António Faneco (2009). Direitos reservados.
_____________
Notas de L.G..:
(*) Vd. poste de 3 Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCLVII: Projecto Guileje (2): arquitecto paisagista, precisa-se! (Carlos Schwarz)
(...) Caro Luís Graça: Só agora lhe respondo, uma vez que tivemos sérios problemas de acesso à internet no país.
Será com muito prazer que integrarei a vossa (já agora nossa) tertúlia.
Gostaria de aceitar a vossa sugestão de envolvimento no projecto e propor-vos, para já, que ela se materializasse na reconstituição do que era o quartel de Guiledje na época.
Procurei por várias formas aceder ao mapa do quartel aí em Portugal, tendo chegado à conclusão que provavelmente ele nunca terá existido. Nada que não possa ser ultrapassado, uma vez que com as duas fotografias tiradas de avião, um bom arquitecto não possa refazer o mapa e até uma maqueta.
É que nós gostaríamos de reconstruir o quartel à imagem daquilo que ele era, desde que isso não implicasse a destruição de belas árvores que entretanto se desenvolveram no interior.
Para isso, iremos fazer durante a época seca um levantamento topográfico com a sua localização, para que se possa casar com o mapa do antigo quartel.
Pensamos que os pavilhões da messe, etc possam ser adaptados para a formação de jovens no futuro CENAR (Centro de Aprendizagem Rural) e que a zona onde habitava a população possa ser aproveitada para: instalar habitações para novos habitantes da região e reservar uma zona para casas de passagem de visitantes interessados em fazer ecoturismo.
Ora é neste ponto que gostaríamos de ter o vosso apoio. Será que vocês poderão identificar um arquitecto, de preferência paisagista, que aceite fazer de forma solidária, a partir das fotografias aéreas, um mapa com todas as instalações, incluindo uma escala que nos possibilite saber as distâncias entre os edifícios, ruelas, etc?
Proponho igualmente que, quando for aí a Portugal no próximo ano, possamos fazer um encontro com as pessoas interessadas no projecto para incorporarmos as suas ideias. (...)
(**) 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 7 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5605: O Nosso Livro de Visitas (78): António Faneco, ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72 (1972/74)
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Guiné 63/74 - P5606: Memória dos lugares (65): 6 de Janeiro, dia de todas as emoções, incluindo a visita à EPI, Mafra, volvidos 40 anos (Paulo Santiago)
1. Mensagem de Paulo Santiago (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), com data de 6 de Janeiro de 2009:
Camaradas
Vou ver se consigo escrever direito, após ter lido com emoção, misturando risos com lágrimas, o texto do Migueis, bloguisticamente numerado P5598. Este Mário Migueis da Silva, que conheci lá no Saltinho, não pára de me surpreender... em Abril, lembram-se?
Escreveu no blogue alguns postes sobre o Quirafo, sobre o malogrado 1.º Cabo Ferreira, que mexeram com muitos camaradas, e onde juntava um poema muito dramático, mas muito belo, escrito na madrugada de 18/04/72, quando sentado no bar do Saltinho ouvia as marteladas dos cangalheiros... em fins de Dezembro, apareceu com novo talento - banda desenhada... e hoje, aparece o P5598. Confesso, sinto-me lisongeado, foi a melhor prenda que podia receber. Obrigado Migueis
O dia 6 de Janeiro de 1948 foi o dia em que nasci, houve alguns camaradas que nos comentários ao post mencionado, me felicitaram pelos 63 anos, calma ainda faltam 365 dias, foram apenas 62. Mas, temos o dia 5 de Janeiro, é dia de aniversário da minha mãe, fez 88 anos, mas voltando ao dia 6, e recuando ao ano de 1987, tive a maior prenda de aniversário que poderia desejar... nasceu a minha filha Maria Luís. Por tudo isto já podem ver como estou ligado aos dias 5 e 6 de Janeiro. Mas há mais... há o 6 de Janeiro de 1970, fiz vinte e dois anos, e entrei na EPI [, Escola Prática de Infantaria, em Mafra]...
E hoje voltei a Mafra, voltei a entrar no Calhau, passados que foram 40 anos.
Não sei como me apareceu a ideia, mas a verdade é que me sentei ao computador, há dias atrás e lá estava a enviar um mail ao Comandante, pedindo autorização para uma visita para este 6 de Janeiro de 2010. Visita autorizada por mail enviado pelo Major Álvaro Campeão com a concordância do Cororonel Ormonde Mendes, Comandante da Escola.
Passei em Pombal, levei o Vítor Junqueira, e a seguir ao almoço estávamos a entrar pela Porta de Armas. Fomos amávelmente recebidos, fomos a alguns locais (ex. Gabinete do Comandante) onde quando Cadetes, nem sabia onde ficavam, e acompanhados pelo Srgt. Ajudante Janelas percorremos aqueles imensos corredores, onde já começava a ficar desorientado, o Refeitório, o Salão de Honra, as paradas, terminando no Bar de Oficiais.
Camaradas
Vou ver se consigo escrever direito, após ter lido com emoção, misturando risos com lágrimas, o texto do Migueis, bloguisticamente numerado P5598. Este Mário Migueis da Silva, que conheci lá no Saltinho, não pára de me surpreender... em Abril, lembram-se?
Escreveu no blogue alguns postes sobre o Quirafo, sobre o malogrado 1.º Cabo Ferreira, que mexeram com muitos camaradas, e onde juntava um poema muito dramático, mas muito belo, escrito na madrugada de 18/04/72, quando sentado no bar do Saltinho ouvia as marteladas dos cangalheiros... em fins de Dezembro, apareceu com novo talento - banda desenhada... e hoje, aparece o P5598. Confesso, sinto-me lisongeado, foi a melhor prenda que podia receber. Obrigado Migueis
O dia 6 de Janeiro de 1948 foi o dia em que nasci, houve alguns camaradas que nos comentários ao post mencionado, me felicitaram pelos 63 anos, calma ainda faltam 365 dias, foram apenas 62. Mas, temos o dia 5 de Janeiro, é dia de aniversário da minha mãe, fez 88 anos, mas voltando ao dia 6, e recuando ao ano de 1987, tive a maior prenda de aniversário que poderia desejar... nasceu a minha filha Maria Luís. Por tudo isto já podem ver como estou ligado aos dias 5 e 6 de Janeiro. Mas há mais... há o 6 de Janeiro de 1970, fiz vinte e dois anos, e entrei na EPI [, Escola Prática de Infantaria, em Mafra]...
E hoje voltei a Mafra, voltei a entrar no Calhau, passados que foram 40 anos.
Não sei como me apareceu a ideia, mas a verdade é que me sentei ao computador, há dias atrás e lá estava a enviar um mail ao Comandante, pedindo autorização para uma visita para este 6 de Janeiro de 2010. Visita autorizada por mail enviado pelo Major Álvaro Campeão com a concordância do Cororonel Ormonde Mendes, Comandante da Escola.
Passei em Pombal, levei o Vítor Junqueira, e a seguir ao almoço estávamos a entrar pela Porta de Armas. Fomos amávelmente recebidos, fomos a alguns locais (ex. Gabinete do Comandante) onde quando Cadetes, nem sabia onde ficavam, e acompanhados pelo Srgt. Ajudante Janelas percorremos aqueles imensos corredores, onde já começava a ficar desorientado, o Refeitório, o Salão de Honra, as paradas, terminando no Bar de Oficiais.
Como curiosidade fomos à Sala das Bicas, fica na extremidade dos refeitórios, nem eu nem o Vítor a conhecíamos, e recebe água vinda da Tapada (potável). Visitámos também uma sala com uma arquitetura notável : a Casa do Capítulo, também conhecida por Sala Elíptica.
Na despedida o Major Álvaro Campeão e Srgt. Ajudante Janelas, ofereceram-nos um Roteiro Histórico da EPI e um Galhardete.
Ao percorrer o corredor Lacouture e a escada La Lys quase me senti a voltar aos vinte e dois anos...
Foto 1 > No Salão de Honra com o Srgt Ajudante Janelas
Foto 2 > O Vitor e eu no Salão de Honra
Foto 3 > Refeitório
Foto 4 > Sentado à mesa... como há 40 anos
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)
Vd. último poste da série de 26 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5541: Memória dos lugares (61): Mais notícias da Cart 2410 (2) (Luís Guerreiro)
Na despedida o Major Álvaro Campeão e Srgt. Ajudante Janelas, ofereceram-nos um Roteiro Histórico da EPI e um Galhardete.
Ao percorrer o corredor Lacouture e a escada La Lys quase me senti a voltar aos vinte e dois anos...
Foto 1 > No Salão de Honra com o Srgt Ajudante Janelas
Foto 2 > O Vitor e eu no Salão de Honra
Foto 3 > Refeitório
Foto 4 > Sentado à mesa... como há 40 anos
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)
Vd. último poste da série de 26 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5541: Memória dos lugares (61): Mais notícias da Cart 2410 (2) (Luís Guerreiro)
Guiné 63/74 - P5605: O Nosso Livro de Visitas (78): António Faneco, ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72 (1972/74)
1. Mensagem de António Faneco, ex-1.º Cabo da 1.ª CART/BART 6521/72, com data de 2 de Janeiro de 2010:
Camarada Luís Graça,
Resposta ao Vosso poste de 9 de Março de 2008: Guiné 63/74 P2695 – Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel)*
Depois de ter lido algo cuja existência desconhecia, pensei enviar uma pequena história acerca de Jemberém…
Finalmente chegou alguém que conhece o célebre monumento de Jemberém…
Sou António Faneco, ou o "Massamá", ex-1.º Cabo da 1.ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6521/72, situado no Pelundo, com a 2.ª Companhia em Có e a 3.ª Companhia em Jolmete.
A minha Companhia saiu de Cadique no dia 20 de Abril de 1973 pelas 8 horas da manhã tendo chegado a Jemberém pelas 12 horas, sensivelmente, onde permanecemos até dia 9 de Setembro de 1973, altura em que regressámos ao Pelundo.
Poderei voltar a entrar em contacto para falar acerca da nossa passagem por terras da Guiné!
Junto envio uma foto do monumento que se encontra em Jemberém (este sim, é tal e qual como o deixámos), assim como o monumento em homenagem aos falecidos em combate… Paz à sua alma.
Hoje vejo algo por cima do monumento… não percebo de que símbolo se trata.
Sobre os pioneiros, não há dúvida alguma, fomos nós os primeiros a pisar Jemberém e a ficar ainda uns dias sós.
Foto 1> 1.º Grupo "Os Águias Negras"
Foto 2 > 2.º Grupo "Os Bravos do Cantanhez"
Foto 3 > 3.º Grupo "Os Leões de Jemberem"
Foto 4 > 4.º Grupo "Aguenta-te Sempre"
Foto 5 > António Faneco com o crachá d'Os Nómadas
Foto 6 > António Faneco em dia de repouso
Foto 7 > Numa saída para o mato. De cima para baixo, e da esquerda para a direita: Eu – Massamá, O Batalha, O Tareco e o Augusto.
Foto 8 > Monumento que se encontra em Jemberém (este sim, é tal e qual como o deixámos), assim como o monumento em homenagem aos falecidos em combate… Paz à sua alma… Hoje vejo algo por cima do monumento… não percebo de que símbolo se trata…
Para qualquer contacto: António Faneco – antoniofaneco@sapo.pt ou
patriciaaesantos@gmail.com, (minha filha) e
telemóvel: 917 620 722.
Um abraço e até à próxima!
2. Comentário de CV:
Caro Camarada Faneco, muito obrigado por vires até nós com os pormenores dos locais onde estiveram instaladas as Companhias do teu Batalhão, especialmente no que respeita à tua Companhia e à localidade de Jemberém. As tuas fotos são um documento importante da nossa passagem por aqueles lugares.
Em nome da Tertúlia, quero convidar-te a aderires à nossa Tabanca Grande, onde poderás continuar a falar de ti, do teu Batalhão e de uma forma geral, da Guiné.
Envia uma foto actual e mais uma história para fazermos a tua apresentação formal à Tertúlia.
Para já recebe um abraço dos camaradas deste Blogue.
CV
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel
Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5498: O Nosso Livro de Visitas (77): Angola: Procura de camaradas BCAV 8322, 1973/75 (Narciso Goulão Paulo)
Camarada Luís Graça,
Resposta ao Vosso poste de 9 de Março de 2008: Guiné 63/74 P2695 – Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel)*
Depois de ter lido algo cuja existência desconhecia, pensei enviar uma pequena história acerca de Jemberém…
Finalmente chegou alguém que conhece o célebre monumento de Jemberém…
Sou António Faneco, ou o "Massamá", ex-1.º Cabo da 1.ª Companhia do Batalhão de Artilharia 6521/72, situado no Pelundo, com a 2.ª Companhia em Có e a 3.ª Companhia em Jolmete.
A minha Companhia saiu de Cadique no dia 20 de Abril de 1973 pelas 8 horas da manhã tendo chegado a Jemberém pelas 12 horas, sensivelmente, onde permanecemos até dia 9 de Setembro de 1973, altura em que regressámos ao Pelundo.
Poderei voltar a entrar em contacto para falar acerca da nossa passagem por terras da Guiné!
Junto envio uma foto do monumento que se encontra em Jemberém (este sim, é tal e qual como o deixámos), assim como o monumento em homenagem aos falecidos em combate… Paz à sua alma.
Hoje vejo algo por cima do monumento… não percebo de que símbolo se trata.
Sobre os pioneiros, não há dúvida alguma, fomos nós os primeiros a pisar Jemberém e a ficar ainda uns dias sós.
Foto 1> 1.º Grupo "Os Águias Negras"
Foto 2 > 2.º Grupo "Os Bravos do Cantanhez"
Foto 3 > 3.º Grupo "Os Leões de Jemberem"
Foto 4 > 4.º Grupo "Aguenta-te Sempre"
Foto 5 > António Faneco com o crachá d'Os Nómadas
Foto 6 > António Faneco em dia de repouso
Foto 7 > Numa saída para o mato. De cima para baixo, e da esquerda para a direita: Eu – Massamá, O Batalha, O Tareco e o Augusto.
Foto 8 > Monumento que se encontra em Jemberém (este sim, é tal e qual como o deixámos), assim como o monumento em homenagem aos falecidos em combate… Paz à sua alma… Hoje vejo algo por cima do monumento… não percebo de que símbolo se trata…
Para qualquer contacto: António Faneco – antoniofaneco@sapo.pt ou
patriciaaesantos@gmail.com, (minha filha) e
telemóvel: 917 620 722.
Um abraço e até à próxima!
2. Comentário de CV:
Caro Camarada Faneco, muito obrigado por vires até nós com os pormenores dos locais onde estiveram instaladas as Companhias do teu Batalhão, especialmente no que respeita à tua Companhia e à localidade de Jemberém. As tuas fotos são um documento importante da nossa passagem por aqueles lugares.
Em nome da Tertúlia, quero convidar-te a aderires à nossa Tabanca Grande, onde poderás continuar a falar de ti, do teu Batalhão e de uma forma geral, da Guiné.
Envia uma foto actual e mais uma história para fazermos a tua apresentação formal à Tertúlia.
Para já recebe um abraço dos camaradas deste Blogue.
CV
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 29 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2695: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (11): Iemberém, uma luz ao fundo do túnel
Vd. último poste da série de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5498: O Nosso Livro de Visitas (77): Angola: Procura de camaradas BCAV 8322, 1973/75 (Narciso Goulão Paulo)
Guiné 63/74 - P5604: Notas de leitura (49): Os Anos da Guerra, de João de Melo (3): Competência e Destino Guiné (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Dezembro de 2009:
Meus queridos amigos,
Que 2010 vos traga os maiores sucessos, com saúde e muitas andanças no blogue. Regresso 2.ª feira, agora só penso nos projectos do próximo ano, bem gostaria de ter coragem para voltar à Guiné.
Um abraço e a muita estima do
Mário
OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (3)
Beja Santos
Recordatória
“Os Anos da Guerra”, com organização do escritor João de Melo, editados por Publicações Dom Quixote em 1988, que igualmente reeditou a obra em 1998, constitui o primeiro esforço sério para mostrar ao grande público, sob a forma de antologia, os prosadores marcados pela Guerra Colonial. Nas duas edições anteriores, referimos alguns aspectos essenciais do ensaio de João de Melo sobre o impacto da Guerra Colonial nas literaturas de língua portuguesa e apresentámos alguns parágrafos dos escritores Filipe Leandro Martins e Álvaro Guerra acerca dos preparativos (recruta, especialidade, formação de batalhão, etc.). Os dois últimos textos destes preparativos saíram da pena de dois escritores açorianos, José Martins Garcia e Álamo Oliveira. José Martins Garcia, já falecido, nasceu na Ilha do Pico em 1941, e em 1966, sendo professor do ensino secundário na Horta, foi chamado ao serviço militar, tendo embarcado para a Guiné como oficial de transmissões. Foi Leitor de Português em França, entre 1968 e 1971, e professor de Literatura Portuguesa, durante quatro anos numa universidade americana e mais tarde na Universidade dos Açores. É autor de obras incontornáveis sobre a guerra como Katafaraum É Uma Nação (1974) e Lugar de Massacre (1975). Álamo Oliveira nasceu na Ilha Terceira, em 1945. Prestou serviço militar na Guiné entre 1967 e 1969. Poeta, dramaturgo, encenador e animador cultural é autor daquele que será porventura o livro mais anárquico e libertário que se escreveu sobre a guerra da Guiné, Até Hoje (Memória de Cão), em 1987.
Competência
“O soldado-cadete Ramalho pousou no alferes dois olhos surpreendidos. E ficou de boca meio aberta, como alguém que nunca tivesse pensado no assunto.
- Um homem – prosseguiu o alferes – não se bai abaixo por causa de um arranhão no pé. Você nunca compreendeu isso?
O soldado-cadete Ramalho escarrou para o lado.
- Que é que isso quer dizer? – bramiu o pequeno alferes. – Quer que lhe ensine a ter maneiras?...
- Agora? – inquiriu o outro, com os olhos reduzidos a duas frestas.
- O rapaz tem razão – comentou Gwlyx. – o meu alferes teve muitos meses para lhe ensinar o que quis... e agora... francamente quando ele diz que tem um pé partido...
- Qual partido, qual carapuça! Toca alinhar!
Alinharam, mal barbeados, cobertos de pó, estourados, os soldados-cadetes, “doutores” do primeiro pelotão da primeira companhia. E iniciaram a marcha de regresso ao acampamento, com o soldato-cadete Ramalho na retaguarda, apoiado ao ombro do Gwlyx, e com a arma em bandoleira, mas no ombro esquerdo. Alguns metros andados, o Ramalho declarou ao camarada que sentia latejar o pé.
- Que chatice! – confidenciou – Tens de dizer a essa besta que eu não dou nem mais um passo.
O Gwlyx abandonou o Ramalho na berma da estrada e foi retransmitir a mensagem ao alferes, mas suprimindo o vocábulo “besta”. Veio o alferes em pessoa observar o queixoso, começando por declarar:
- Tenho um horário, percebe? Tenho ordens a cumprir, percebe? Tenho de regressar com o meu pelotão à hora exacta, percebe? E o senhor está a atrasar a marcha. Faça um esforço e marche como os outros.”
“Avançaram. Há muito que terminara a refeição da tarde e o acampamento preparava-se para resistir aos ataques nocturnos que o inimigo não deixaria de desencadear. Circulavam terríveis boatos quanto à ferocidade do inimigo: viria pela calada, iludiria as sentinelas inexperientes, destruiria as barracas, faria prisioneiros e mortos simulados. Diziam os soldados-cadetes melhor informados que, em tais circunstâncias o melhor era ser-se imediatamente morto. O inimigo deixava os mortos no solo e estes teriam apenas a maçada de reconstruírem as barracas; quanto aos prisioneiros, tinham de acompanhar o inimigo até um problemático acampamento, às vezes situado a muitos quilómetros de distância. Depois de um dia esgotante, mais valia a morte simulada.
- Afinal, quem é o inimigo? – interrogou o Ramalho.
E encontrou forças para rir, enquanto o médico Tww lhe arrancava, enfim, a bota.
- São cadetes de outras companhias – explicou o médico – que não gramam a companhia dos “doutores”. Vão gozar que nem pretos, quando nos deitarem as barracas abaixo.”
José Martins Garcia
Destino: Guiné
“Era pela ilha que João se deixava escorregar, a memória atada a todos os tempos, lugares, pessoas, sonhos intemporais.
Ilha redonda ou pão de milho, hóstia desconsagrada de franja roída, suas gentes voltadas para o mar – o deus do pão e da aventura e também do medo e da saudade. João vinha do lado norte mais alto e ventoso, os campos rasos e verdes, casas a brilhar de cal, pequenas, baixas, conchas perdidas na ilha perdida.”
“Cento e vinte e sete!, o nosso capitão chama-te.” A memória partida, o horror do nome em número, um vago 127 dependurado ao pescoço na chapa picotada pelo diâmetro a quebrar em caso de morte e poder, enfim, ter direito ao nome. “O nosso capitão chama-te!”, os olhos que se abrem num despertar de insónias. Lisboa é já uma mancha sem telhados. O sol mais freco pela brisa. O mar, manso que nem um são-bernardo, tece ondas pequeninas como Penélope em seu tapete líquido de azul e infinito. E João, perdido naquele barco enorme, no meio de mil duzentos e cinquenta e três homens, lá ia a caminhjo da guerra como se fosse voluntário dela. Destino: Guiné.
Álamo Oliveira
A partir de agora vamos entrar no palco da guerra. Na Guiné, iremos partilhar esperança, sofrimento, sede e afectos com Álvaro Guerra, Urbano Bettencourt, José Luís Farinha e José Martins Garcia.
(Continua)
Cheguei a Mafra na tarde de 11 de Novembro de 1967. Abriu-se uma porta monumental e um cabo quarteleiro perguntou-me: “A menina não sabe que vem para a tropa, aqui não há cabelo comprido?”. Fiquei embuchado, tivera a preocupação de cortar o cabelo na véspera e bem rente. Foi assim que eu fui praxado, voltei ao barbeiro, parecia que me estava a desparasitar. Deram-me um capacete, um capote, uma espingarda e uma baioneta, mais uma mochila, assinei um papel em que receberia como pré 17 tostões por dia. Percorri pela primeira vez os corredores do Convento, perguntei a mim próprio porque é que tinham nomes das campanhas de África e dos locais em que combatemos na Primeira Guerra Mundial. É, infelizmente, a única fotografia que guardo dessa recruta. Ao meu lado, está o Paulo Gustavo Simões da Costa, meu compadre, é padrinho da minha filha Joana. Lamento ter esquecido o nome dos outros dois. Oxalá o Paulo Raposo me possa ajudar. Encontrei esta fotografia na selecção do material que estou a organizar para o meu livro “A Viagem do Tangomau”.
Foto e legenda: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5600: Notas de leitura (48): Os Anos da Guerra, de João de Melo (2): Os preparativos e Sinfonia para uma guerra (Beja Santos)
Meus queridos amigos,
Que 2010 vos traga os maiores sucessos, com saúde e muitas andanças no blogue. Regresso 2.ª feira, agora só penso nos projectos do próximo ano, bem gostaria de ter coragem para voltar à Guiné.
Um abraço e a muita estima do
Mário
OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (3)
Beja Santos
Recordatória
“Os Anos da Guerra”, com organização do escritor João de Melo, editados por Publicações Dom Quixote em 1988, que igualmente reeditou a obra em 1998, constitui o primeiro esforço sério para mostrar ao grande público, sob a forma de antologia, os prosadores marcados pela Guerra Colonial. Nas duas edições anteriores, referimos alguns aspectos essenciais do ensaio de João de Melo sobre o impacto da Guerra Colonial nas literaturas de língua portuguesa e apresentámos alguns parágrafos dos escritores Filipe Leandro Martins e Álvaro Guerra acerca dos preparativos (recruta, especialidade, formação de batalhão, etc.). Os dois últimos textos destes preparativos saíram da pena de dois escritores açorianos, José Martins Garcia e Álamo Oliveira. José Martins Garcia, já falecido, nasceu na Ilha do Pico em 1941, e em 1966, sendo professor do ensino secundário na Horta, foi chamado ao serviço militar, tendo embarcado para a Guiné como oficial de transmissões. Foi Leitor de Português em França, entre 1968 e 1971, e professor de Literatura Portuguesa, durante quatro anos numa universidade americana e mais tarde na Universidade dos Açores. É autor de obras incontornáveis sobre a guerra como Katafaraum É Uma Nação (1974) e Lugar de Massacre (1975). Álamo Oliveira nasceu na Ilha Terceira, em 1945. Prestou serviço militar na Guiné entre 1967 e 1969. Poeta, dramaturgo, encenador e animador cultural é autor daquele que será porventura o livro mais anárquico e libertário que se escreveu sobre a guerra da Guiné, Até Hoje (Memória de Cão), em 1987.
Competência
“O soldado-cadete Ramalho pousou no alferes dois olhos surpreendidos. E ficou de boca meio aberta, como alguém que nunca tivesse pensado no assunto.
- Um homem – prosseguiu o alferes – não se bai abaixo por causa de um arranhão no pé. Você nunca compreendeu isso?
O soldado-cadete Ramalho escarrou para o lado.
- Que é que isso quer dizer? – bramiu o pequeno alferes. – Quer que lhe ensine a ter maneiras?...
- Agora? – inquiriu o outro, com os olhos reduzidos a duas frestas.
- O rapaz tem razão – comentou Gwlyx. – o meu alferes teve muitos meses para lhe ensinar o que quis... e agora... francamente quando ele diz que tem um pé partido...
- Qual partido, qual carapuça! Toca alinhar!
Alinharam, mal barbeados, cobertos de pó, estourados, os soldados-cadetes, “doutores” do primeiro pelotão da primeira companhia. E iniciaram a marcha de regresso ao acampamento, com o soldato-cadete Ramalho na retaguarda, apoiado ao ombro do Gwlyx, e com a arma em bandoleira, mas no ombro esquerdo. Alguns metros andados, o Ramalho declarou ao camarada que sentia latejar o pé.
- Que chatice! – confidenciou – Tens de dizer a essa besta que eu não dou nem mais um passo.
O Gwlyx abandonou o Ramalho na berma da estrada e foi retransmitir a mensagem ao alferes, mas suprimindo o vocábulo “besta”. Veio o alferes em pessoa observar o queixoso, começando por declarar:
- Tenho um horário, percebe? Tenho ordens a cumprir, percebe? Tenho de regressar com o meu pelotão à hora exacta, percebe? E o senhor está a atrasar a marcha. Faça um esforço e marche como os outros.”
“Avançaram. Há muito que terminara a refeição da tarde e o acampamento preparava-se para resistir aos ataques nocturnos que o inimigo não deixaria de desencadear. Circulavam terríveis boatos quanto à ferocidade do inimigo: viria pela calada, iludiria as sentinelas inexperientes, destruiria as barracas, faria prisioneiros e mortos simulados. Diziam os soldados-cadetes melhor informados que, em tais circunstâncias o melhor era ser-se imediatamente morto. O inimigo deixava os mortos no solo e estes teriam apenas a maçada de reconstruírem as barracas; quanto aos prisioneiros, tinham de acompanhar o inimigo até um problemático acampamento, às vezes situado a muitos quilómetros de distância. Depois de um dia esgotante, mais valia a morte simulada.
- Afinal, quem é o inimigo? – interrogou o Ramalho.
E encontrou forças para rir, enquanto o médico Tww lhe arrancava, enfim, a bota.
- São cadetes de outras companhias – explicou o médico – que não gramam a companhia dos “doutores”. Vão gozar que nem pretos, quando nos deitarem as barracas abaixo.”
José Martins Garcia
Destino: Guiné
“Era pela ilha que João se deixava escorregar, a memória atada a todos os tempos, lugares, pessoas, sonhos intemporais.
Ilha redonda ou pão de milho, hóstia desconsagrada de franja roída, suas gentes voltadas para o mar – o deus do pão e da aventura e também do medo e da saudade. João vinha do lado norte mais alto e ventoso, os campos rasos e verdes, casas a brilhar de cal, pequenas, baixas, conchas perdidas na ilha perdida.”
“Cento e vinte e sete!, o nosso capitão chama-te.” A memória partida, o horror do nome em número, um vago 127 dependurado ao pescoço na chapa picotada pelo diâmetro a quebrar em caso de morte e poder, enfim, ter direito ao nome. “O nosso capitão chama-te!”, os olhos que se abrem num despertar de insónias. Lisboa é já uma mancha sem telhados. O sol mais freco pela brisa. O mar, manso que nem um são-bernardo, tece ondas pequeninas como Penélope em seu tapete líquido de azul e infinito. E João, perdido naquele barco enorme, no meio de mil duzentos e cinquenta e três homens, lá ia a caminhjo da guerra como se fosse voluntário dela. Destino: Guiné.
Álamo Oliveira
A partir de agora vamos entrar no palco da guerra. Na Guiné, iremos partilhar esperança, sofrimento, sede e afectos com Álvaro Guerra, Urbano Bettencourt, José Luís Farinha e José Martins Garcia.
(Continua)
Cheguei a Mafra na tarde de 11 de Novembro de 1967. Abriu-se uma porta monumental e um cabo quarteleiro perguntou-me: “A menina não sabe que vem para a tropa, aqui não há cabelo comprido?”. Fiquei embuchado, tivera a preocupação de cortar o cabelo na véspera e bem rente. Foi assim que eu fui praxado, voltei ao barbeiro, parecia que me estava a desparasitar. Deram-me um capacete, um capote, uma espingarda e uma baioneta, mais uma mochila, assinei um papel em que receberia como pré 17 tostões por dia. Percorri pela primeira vez os corredores do Convento, perguntei a mim próprio porque é que tinham nomes das campanhas de África e dos locais em que combatemos na Primeira Guerra Mundial. É, infelizmente, a única fotografia que guardo dessa recruta. Ao meu lado, está o Paulo Gustavo Simões da Costa, meu compadre, é padrinho da minha filha Joana. Lamento ter esquecido o nome dos outros dois. Oxalá o Paulo Raposo me possa ajudar. Encontrei esta fotografia na selecção do material que estou a organizar para o meu livro “A Viagem do Tangomau”.
Foto e legenda: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5600: Notas de leitura (48): Os Anos da Guerra, de João de Melo (2): Os preparativos e Sinfonia para uma guerra (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P5603: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (10): Recolha de fundos para ajudar a reconstrução (Manuel Reis / Luís Graça)
"A Ti, Deus Único e Senhor,
Te Oferecemos
As Últimas Gotas de Suor,
Que nos Sobraram
da Luta da Tua Palavra Eterna,
Soldados da CART1613.”
Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007). Direitos reservados
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2005 > Lápide encontrada sob os escombros do antigo aquartelamento, e que pertencia à capelinha. Sobre este famosa lápide disse-nos o saudoso Zé Neto, Cap Ref (1929-2007):
"A placa da Capela foi feita em cimento forte e não em cobre. A dedicatória é minha e a inscrição em baixo-relevo foi obra do Furriel Miliciano de Transmissões Maurício Mota de Almeida, natural de Fornos de Algodres, mas radicado há muito nos EUA. Este moço veio de propósito a Portugal para estar presente no Almoço/Convívio da CART 1613 que teve lugar em Braga no passado dia 3 de Junho [de 2005]. Aliás é com muito orgulho que acrescento que dos meus 14 'excepcionais Furriéis' compareceram 12 (um falececeu há pouco), portanto só faltou um".
Em 14 de Dezembro de 2005, escrevi o seguinte na I Série do blogue:
O Pepito diz-me que, se tudo correr bem, estamos todos convidados para ir inauguar o seu projecto de ecoturismo e de museologia daqui a um ano. E se lá formos, todos ou alguns de nós, iremos certamente prestar uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro, que em Guileje foram um exemplo de fé e de coragem: fé e confiança nos valores por que lutavam; coragem e valor nas acções em que estiveram empenhados...
Convenhamos que o Pepito foi demasiado optimista. O núcleo museológico de Guileje vai ser inaugurado, em cerimónia oficial, no dia 20 de Janeiro de 2010, quatro anos depois. Pelo meio, realizou-se o Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), notável realização de que ainda hoje se fala em Bissau e Cantanhez. O papel no nosso blogue, na preservação, reabilitação e divulgação da memória de Guileje, acaba de ser reconhecido, formalmente, pela ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, através de diploma, devidamente assinado pela sua presidente, a Sra. Isabel Miranda, e que acaba de nos ser enviado. Esse documentro será aqui oportunamente reproduzido. É um gesto de gratidão e de apreço dos nossos amigos da Guiné-Bissau que muito nos sensibiliza a todos nós, membros deste blogue, em geral, e aos nossos autores e editores, em particular.
Muito em especial, quero aqui lembrar o nome do Nuno Rubim, cujo diorama de Guileje é uma peça museológica notável. O Nuno, por razões da sua vida de incansável investigador (mas também de saúde), tem andado arredado das nossas lides bloguísticas. De tempos a tempos telefono-lhe. Para ele e para a Júlia, o meu carinho muito especial. Quero também aqui referir a colaboração que temos dado à Fundação Mário Soares, outro importante parceiro da AD neste projecto.
Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) Direitos reservados
1. Mensagem do Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, 1972/73) (*)
Caro Luís: Para responder à solicitação da equipa que procede à reconstrução da Capelinha de Guileje, envio o NIB da minha conta bancária, onde os camaradas interessados em colaborar na Reconstrução possam depositar a quantia, que bem entenderem.
Lembro que esta obra é um registo da passagem, de todos nós, por terras da Guiné e, como tal, deve ser acarinhada. É esse, aliás, o sentir da população.
Todos os donativos serão posteriormente publicados no Blogue.
Dada a aproximação da data de inauguração (20 de Janeiro), solicito aos camaradas que queiram colaborar que o façam até ao dia 15 de Janeiro.
Pagamento por multibanco:
NIB: 003503720000835570006
Pagamento por transferência Bancária:
Conta nº: 0372008355700 da Caixa Geral de Depósitos de Ílhavo,
em nome de Manuel Augusto Ferreira Reis
Um abraço para todos.
Manuel Reis
2. Comentário de L.G.:
O Manuel Reis foi o primeiro - e o único do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (**) - que respondeu, de pronto, ao meu pedido de abertura de uma conta bancária para recolha de fundos. Passadas as festas natalícias foi tratar do assunto, na Caixa Geral de Depósitos, na agência de Ílhavo, onde vive (segundo creio, e não em Aveiro, como erradamente indiquei em postes anteriores).
O Reis foi alertado, na agência, para duas coisas: (i) o inconveniente de ser o único titular de uma conta que se destina à recolha de fundos; (ii) a vantagem de haver dois ou mais titulares que, para além do mais, poderiam ser os primeiros depositantes: o montante mínimo, para a abertura deste tipo de conta, são 150€.
Pelo facto de estar geograficamente isolado (da generalidade dos amigos e camaradas do nosso blogue), acabou por recorrer, como solução imediata e prática, à sua conta bancária. O dinheiro recolhido será canalizado oportunamente para a ONG, com sede em Bissau, AD - Acção para o Desenvolvimento, de que é co-fundador e director executivo o Eng Agr Carlos Schwarz Silva (Pepito), membro da nossa Tabanca Grande desde finais de 2005.
Agradeço ao Manuel Reis a sua disponibilidade, solidariedade e generosidade, ao quebrar um dos princípios-tabu com que fomos formatados pela cultura castrense: na tropa, voluntário só para comer...
Aproveito para relembrar, aos mais novos, aos periquitos da Tabanca Grande, a história e o significado da capela de Guileje, erigida no tempo da CART 1613 (do Cap Art Corvalho e do 2º Srgt Zé Neto, 1967/68) (***)... Infelizmente, o Zé Neto (com o posto de Cap Ref) foi o primeiro a deixar-nos... A morte levou-o aos 78 anos... Morreu em 2007. Tinha nascido, em Leiria, em 1927.
Em homenagem a este nosso querido camarada, a AD - Acção para o Desenvolvimento convidou a viúva, Júlia Neto, a estar presente na cerimónia oficial da inauguração, a 20 do corrente, do Museu de Guileje (incluindo a Capela, que será consagrada e aberta ao culto). Já falei com ela ao telefone, está muito orgulhosa pelo convite e aceitou representar-nos, a todos nós, blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.... Parte para Bissau no dia 17...
Eu, infelizmente, por razões de agenda, não poderei estar. Mas, quem sabe, talvez para o ano possamos - uma luzidia delegação do nosso blogue- revisitar a Guiné-Bissau, em viagem (colectiva) de turismo de saudade... É uma ideia que já está no ar e que ficará a amadurecer... A concretizar-se, alguns de nós concerteza irão querer rezar à capelinha de Guileje.
A Júlia Neto., por sua vez, confidenciou-me que gostava de lá voltar com as suas filhas. O Zé Neto foi cremado, por sua vontade expressa. As filhas entendem que as suas cinzas deveriam ser espalhadas em Guileje, a terra da sua paixão, a par de Macau, onde serviu 10 anos. A viúva disse-me que ainda não está preparada, psicologicamente, para cumprir esse desejo. Vai conhecer Guileje. Para ver as condições locais. Esteve com o marido em Macau, mas não na Guíné. Tomará uma decisão no regresso da visita a Guileje. Achei magnífico e nobre este gesto da família do nosso querido e saudoso Zé Neto.
Os amigos e camaradas da Guiné que quiserem contribuir para esta recolha de fundos, passarão a figurar na lista do Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, que por sua vez será publicitada no nosso blogue. (LG)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. postes de:
12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4175: Os Bu... rakos em que vivemos (5): Guileje bem se podia considerar um hotel de 5***** (Manuel Reis)
15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
(*) Vd. último e primeiro poste da série:
30 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5567: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (9): Reconstrução, quase pronta, da capelinha de Guileje, terra de fé e de coragem, nas palavras do saudoso Zé Neto (CART 1613, 1967/68)
6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis
(...) Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCAV 8350, Guileje, 1972/73, professor, Aveiro, membro da nossa Tabanca Grande)
Amigo Luís: É com muito agrado que me disponibilizo para ajudar em tudo o que respeita a Guileje. Aceito fazer parte do 'Grupo dos Amigos da Capela de Guileje' com muito prazer e colaborar no que puder para a melhoria do local. Como em breve teremos uma Biblioteca/ Museu, eu tenho imensos livros de Matemática (7º ao 12º Anos) e posso oferecê-los, caso vejam neles alguma utilidade. De Portugês também posso arranjar, basta para isso mobilizar a minha mulher.
Um abraço. Manuel Reis
(*** ) Vd. poste de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado
(...) Uma das boas características do meu pessoal era a de que não gostavam de estar parados nos intervalos das operações. Cada um, nas suas profissões ou aptidões, ia bulindo e foi assim que se reconstruíram e melhoraram abrigos, se implantou uma horta que aproveitava a água, depois de decantada, dos chuveiros das praças e se construiu a obra mais emblemática que deixámos em Guileje: a Capela.
Por sugestão do capelão, Padre João Batista Alves de Magalhães, que apenas pediu um coberto para oficiar a missa quando ia a Guileje, pois dava a volta a toda a área da responsabilidade do batalhão, os Furriéis Maurício (Transmissões) e Arclides Mateus (Atirador), ambos com conhecimentos de desenho de construção civil, planearam e dirigiram a construção do pequeno templo.
Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.
As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse.
Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo.
Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.
Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: Eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia [, MGF - Mutilação Genital Feminina,] (****) nem pensar.
Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2005) Direitos reservados
(****) Vd. poste de 26 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2989: Recortes de imprensa (7): Combate à mutilação genital feminina na Guiné-Bissau
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Guiné 63/74 – P5602: Histórias do Eduardo Campos (3): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério, Cadique/Cantanhez (Parte 3): Nós e o PAIGC no Cantanhez
1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a sua 3ª mensagem em 6 de Janeiro de 2010:
C. CAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"
PARTE 3
CADIQUE/CANTANHEZ
CADIQUE/CANTANHEZ
De novo em Cadique e como “prémio” do meu regresso, fui brindado com a informação do meu furriel, que no dia seguinte iria sair com dois grupos de combate, para fazer protecção à coluna de viaturas que iria abastecer Jemberem.
Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.
Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.
Durante o percurso, sempre atrás do capitão e com o rádio AVP 1, o mais escondido possível, lá ia enviando umas “bocas” para o meu amigo Alferes Pereira, que vinha com o outro grupo.
Tudo corria na perfeição e já com as viaturas de regresso a Cadique, era suposto pelo menos um grupo aproveitar a "boleia” de regresso, enquanto o outro grupo iria inspeccionar um campo de minas existente na zona. Às ordens do capitão, o meu grupo começou a deslocar-se em direcção á estrada, para apanhar as viaturas, e não é que, do outro da lado da estrada, surgiu um outro grupo, pertencente a outra Companhia, a fazer a mesmo?!
Este episódio poderia ter tido consequências de maior, já que aos gritos o meu capitão mandava recuar o outro grupo, ao qual o alferes que o comandava, também aos gritos, dizia que nem pensar. Depois de uma gritaria louca, o alferes levou a melhor e nós, que estávamos ainda muito perto da orla da mata, toca a deitar no chão e aguardarmos que os mesmos fossem á vidinha deles.
Aquando da nossa chegada ao CANTANHEZ, o PAIGC movimentava-se de facto à vontade, pois foram encontradas escolas, onde recolhi um “troféu” (um livro de 1ª Classe) e um lápis. O livro ofereci-o, nos finais dos anos 70, a um amigo meu.
Foi encontrado também uma arrecadação de munições, um posto sanitário e uma instalação que servia de Registo Civil (o que se comprovou pelos documentos ali encontrados).
O PAIGC fazia entrar os seus efectivos, provenientes das bases da República da Guiné, utilizando o “corredor” de Guileje e outros, e “cambando” o Rio Cacine, para depois se infiltrar nas matas do Cantanhez.
As cambanças entre o Tombali e o Cantanhez eram habitualmente feitas entre Cabobol-Balanta e a Bolanha de Caboxanque. O itinerário normalmente seguido pelas colunas de reabastecimento para este sector ou para o Como, era a seguinte: Salancur Cul – Bolhé Imbumbu – Cruzamento do Iem – Janganc-Laucahndé – Cadique – Cafal Caque – Darsalame.
Com a recuperação da zona do Cantanhez, o PAIGC teve de abandonar apressadamente a área que inicialmente controlava, para se refugiar em outras zonas. Existiam alguns acampamentos clandestinos camuflados sob as matas de Cadique Iala, que foram completamente queimados e destruídos.
O PAIGC abastecia-se de arroz, colhido nas bolanhas da bacia do Cumbijã, que eram bastantes férteis e produziam intensamente, fruto do trabalho das populações locais. ~
Não me pareceu que as populações fossem forçados a ceder o arroz ao PAIGC, uma vez que elas estavam a seu lado e, se deixavam de lhes prestarem auxílio alimentar, ou outro, foi porque, sem qualquer demagogia da minha parte, ficavam aprisionadas na área do nosso aquartelamento.
À data do desembarque da CCaç 4540 em Cadique, era a seguinte a situação do IN, segundo informações dos S.I.M.:
- 1 Bigrupo Comandado por Bacar Mané
- 1 Bigrupo Comandado por Lourenço Ferreira
- 1 Secção de Artilharia Ligeira Comandado por Mamadu Djassi
- 6 Grupos FAL
Cadique Imbitina: Biaia Nan Bagna – Comandante de Grupo, armado de PPSH e os restantes elementos FAL armados de carabinas e espingardas Simonov.
Cadique Iala: Fiere Na Santa e Pana na Curtché - Prováveis comandantes de Grupo.
Chefes Políticos: Sana Na Bué – Presidente do Comité.
Comissário Politico: Via Na Chindi.
Cadique Nalú: Abu Camará – Comandante de Grupo.
Chefe Político: Presidente de Comité.
Geraldo (papel) – Responsável pelos reabastecimentos no Cubucaré.
A missão da nossa Companhia em Cadique iria ser desenvolvida, principalmente em duas actividades: (i) no campo militar: (ii) no domínio sócio-económico.
(i) Campo Militar:
Um abraço Amigo,
- Instalar-se na povoação, por forma a assegurar a defesa eficiente da população.
- Consolidar as suas instalações defensivas, em ordem a melhor poder defender os aglomerados populacionais e reagir a eventual actividade do PAIGC.
- Assegurar a posse e livre utilização dos portos fluviais, para que nós, os militares, e a população, pudéssemos navegar no Rio Combijã, montagem de peças de Artilharia, criação de Serviços Informação Militares, protecção à construção da estrada Cadique/Jemberem, etc.
(ii) Domínio Socio-Económico:
- Desenvolver, com intensidade, os trabalhos de Construção do Reordenamento de Cadique, Porto, Heliporto, etc.
- Assegurar o funcionamento dos seus Postos Escolares Militares, prestar assistência sanitária às populações, etc.
O PAIGC exercia desde o início da guerra uma forte propaganda psicológica sobre as populações, não admirando, portanto, que estas gentes se encontrassem fortemente mentalizadas pela sua ideologia.
Como muitos outros jovens da minha geração, na época, de política pouco sabia, a não ser que grandes potências coloniais como o Reino Unido, a França e a Bélgica foram obrigadas a entregarem o seus impérios e Portugal teimava em resistir nos que então administrava.
Com estes acontecimentos vividos no teatro da guerra, comecei a interrogar-me sobre: “OS PORQUÊS DESTA GUERRA?”
Foto 28 - Why? Porquê? (Poster de autor desconhecido)
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Notas de M.R.:
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Guiné 63/74 - P5601: Breves notas sobre o BART 645 (Mansoa, 1964/66) (Rogério Cardoso)
Breves notas soltas do BART 645, enviadas por Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645**, Bissorã, 1964/66), em 29 de Dezembro de 2009.
1 - Este Batalhão era composto pelas 3 Companhias operacionais Cart 642, 643 e 644, além da CCS e foi comandada exemplarmente pelo Coronel Antonio Brancamp Sobral. Ele adorava o seu batalhão, sempre admirou os seus ÁGUIAS NEGRAS que actuavam em Bissorã (643) e Mansabá (642 e 644), intercalando com Mansoa onde era a sede do Batalhão.
O primeiro Batalhão a usar crachá foi ideia do Coronel Sobral, de princípio até nos chamavam o Batalhão das tabuletas.
2 - O Capitão Carlos de Sousa Paz, Oficial de Operações, que mais tarde chegou a Super Intendente da PSP, deixou-nos há mais ou menos de 4 anos, foi enorme como ser humano, afável e sempre amigo não olhando a quem. Era sempre bem recebido nas Companhias, mesmo quando se deslocava na sua DO 27 com os célebres mapas, pois já se sabia que dali sairia a chamada "Manga de Ronco para essa noite".
3 - O Capitão Ricardo Silveira da Cart 643 sempre austero e rigoroso, do melhor como operacional, toda a Companhia o reconhecia, quando as saídas a nível de Pelotão poderiam ser complicadas ele era o primeiro a alinhar, quando muitos
só saíam a nivel de Companhia.
4 - Da mesma Cart 643 grandes operacionais como o Alf Mil Lourenço, Alf Mil Paulo (f), Furriéis Graça, Águas, Sousa, Frazão (f) Sarg. Hipólito (f), Sarg. Gonçalves; praças como José Marques (30), Couto, Madeira, José Antonio, Julio, e tantos outros, havia no fim uma equipa operacional digna de realçe, lembrar os voluntários "LORDES", até porque foi a Companhia mais condecorada, e passo a descrever:
Cart 642
- Cap Francisco Barão da Cunha
- 1.º Cabo Felix Ferreira
- 1.º Cabo Moisés Bastos
Cart 643
- Cap. Ricardo Silveira
- Alf Mil Antonio Lourenço
- Fur Mil Hélder Águas
- Fur Mil Rogério Cardoso (a)
- 1.º Cabo José António Coelho
- Soldado Francisco Madeira
- Soldado José Marques (30)
a) Erradamente na Ordem do Exército, este elemento vem dado à Cart 645
Cart 644
- Soldado Mano Santos
- Soldado Mamadu Bari
5 - Na Cart 643 mesmo não sendo operacionais deslocavam-se para Operações frequentemente, o 1.º Cabo Cripto Carlos Cunha e o Fur Mil Rogério Cardoso que da última vez, em 27 de Outubro de 1965, foi atingido por uma granada de fabrico checo RPG-PANCEROVKA - HEAT de 120mm, ver anexo com louvor e condecoração.
6 - Militares mortos
Cart 642 - 7 - (1 local)
Cart 643 - 2 - (a)
Cart 644 - 2
Cart 645 - 3 - (1 local)
a) O Soldado Manuel Bernardes faleceu em Bissorã e não no HM 241, foi vítima de ums descarga eléctrica quando da recuperação de uma insolação contraída numa Operação a Morés.
7 - Um voto de louvor aos pilotos da Força Aérea que acompanharam a Cart 643 nas diversas Operações, pilotos excepcionais e sempre prontos a dar o seu melhor, os T6, DO 27, AUSTER, os Heli ALOUETTE II, não olhando ao perigo nas evacuações.
8 - A Associação de Amizade do Bart 645 foi formada em Fevereiro de 1981, data da primeira reunião em Cascais, depois de 29 anos já percorremos diversos lugares de Norte a Sul.
A nível de Batalhão só de facto começou em 1981, a nível da Cart 642 alguns elementos reuniam-se no Porto, e também de salientar alguns encontros em Lisboa no Café Martinho.
9 - O nosso próximo encontro será em Boleiros-Fátima a 10 de Abril de 2010, atempadamente seguirá a convocatória.
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645
(**) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)
1 - Este Batalhão era composto pelas 3 Companhias operacionais Cart 642, 643 e 644, além da CCS e foi comandada exemplarmente pelo Coronel Antonio Brancamp Sobral. Ele adorava o seu batalhão, sempre admirou os seus ÁGUIAS NEGRAS que actuavam em Bissorã (643) e Mansabá (642 e 644), intercalando com Mansoa onde era a sede do Batalhão.
O primeiro Batalhão a usar crachá foi ideia do Coronel Sobral, de princípio até nos chamavam o Batalhão das tabuletas.
2 - O Capitão Carlos de Sousa Paz, Oficial de Operações, que mais tarde chegou a Super Intendente da PSP, deixou-nos há mais ou menos de 4 anos, foi enorme como ser humano, afável e sempre amigo não olhando a quem. Era sempre bem recebido nas Companhias, mesmo quando se deslocava na sua DO 27 com os célebres mapas, pois já se sabia que dali sairia a chamada "Manga de Ronco para essa noite".
3 - O Capitão Ricardo Silveira da Cart 643 sempre austero e rigoroso, do melhor como operacional, toda a Companhia o reconhecia, quando as saídas a nível de Pelotão poderiam ser complicadas ele era o primeiro a alinhar, quando muitos
só saíam a nivel de Companhia.
4 - Da mesma Cart 643 grandes operacionais como o Alf Mil Lourenço, Alf Mil Paulo (f), Furriéis Graça, Águas, Sousa, Frazão (f) Sarg. Hipólito (f), Sarg. Gonçalves; praças como José Marques (30), Couto, Madeira, José Antonio, Julio, e tantos outros, havia no fim uma equipa operacional digna de realçe, lembrar os voluntários "LORDES", até porque foi a Companhia mais condecorada, e passo a descrever:
Cart 642
- Cap Francisco Barão da Cunha
- 1.º Cabo Felix Ferreira
- 1.º Cabo Moisés Bastos
Cart 643
- Cap. Ricardo Silveira
- Alf Mil Antonio Lourenço
- Fur Mil Hélder Águas
- Fur Mil Rogério Cardoso (a)
- 1.º Cabo José António Coelho
- Soldado Francisco Madeira
- Soldado José Marques (30)
a) Erradamente na Ordem do Exército, este elemento vem dado à Cart 645
Cart 644
- Soldado Mano Santos
- Soldado Mamadu Bari
5 - Na Cart 643 mesmo não sendo operacionais deslocavam-se para Operações frequentemente, o 1.º Cabo Cripto Carlos Cunha e o Fur Mil Rogério Cardoso que da última vez, em 27 de Outubro de 1965, foi atingido por uma granada de fabrico checo RPG-PANCEROVKA - HEAT de 120mm, ver anexo com louvor e condecoração.
6 - Militares mortos
Cart 642 - 7 - (1 local)
Cart 643 - 2 - (a)
Cart 644 - 2
Cart 645 - 3 - (1 local)
a) O Soldado Manuel Bernardes faleceu em Bissorã e não no HM 241, foi vítima de ums descarga eléctrica quando da recuperação de uma insolação contraída numa Operação a Morés.
7 - Um voto de louvor aos pilotos da Força Aérea que acompanharam a Cart 643 nas diversas Operações, pilotos excepcionais e sempre prontos a dar o seu melhor, os T6, DO 27, AUSTER, os Heli ALOUETTE II, não olhando ao perigo nas evacuações.
8 - A Associação de Amizade do Bart 645 foi formada em Fevereiro de 1981, data da primeira reunião em Cascais, depois de 29 anos já percorremos diversos lugares de Norte a Sul.
A nível de Batalhão só de facto começou em 1981, a nível da Cart 642 alguns elementos reuniam-se no Porto, e também de salientar alguns encontros em Lisboa no Café Martinho.
9 - O nosso próximo encontro será em Boleiros-Fátima a 10 de Abril de 2010, atempadamente seguirá a convocatória.
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645
(**) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4594: Fichas de Unidades (3): História do BART 645 (José Martins)
Guiné 63/74 - P5600: Notas de leitura (48): Os Anos da Guerra, de João de Melo (2): Os preparativos e Sinfonia para uma guerra (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Bejas Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2009:
Queridos amigos,
Aqui vai mais um texto relacionado com a recensão do livro “Os Anos da Guerra”(*).
Bom seria que os tertulianos tirassem do saco da memória as recordações que guardaram dessa época de preparativos para a guerra.
Um abraço do
Mário
OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (2)
Beja Santos
Recordatória
“Os Anos da Guerra”, com organização do escritor João de Melo é a primeira grande antologia da literatura da Guerra Colonial, abraçando os três teatros de operações. No significativo prefácio, João de Melo formula um conjunto de interrogações sobre o âmbito de literatura de guerra e se esta é compaginável com a literatura do período colonial e se há mesmo condições para se falar ao mesmo nível da geração literária da Guerra Colonial e dos testemunhos daqueles que combateram ou se prepararam para combater num dos teatros do conflito. João de Melo conclui que o escritor combatente goza de especificidade, havendo que tratar esta manifestação literária como escrita de guerra, são pessoas que vieram mudadas e que irão testemunhar uma vivência incompatível com outras experiências coloniais ou de resistência ideológica ao primado nacionalista. A antologia contempla apresentações histórico-políticas das diferentes etapas da evolução da guerra, separando os autores de acordo com as três frentes de combate. Para efeitos de simplificação, “estes olhares” sobre a literatura da guerra da Guiné iniciam-se com os preparativos para a guerra. Seleccionam-se alguns parágrafos considerados elucidativos de quem andou pelos quartéis em recruta e especialidade e formou uma unidade militar destinada à Guiné. Recomeçamos estes preparativos com Filipe Leandro Martins e a sua obra “O Pé na Paisagem”, de 1981:
Os preparativos
O Couro Selvagem das Botas
“Depois começou a chamada, milhões de nomes a acertar com números, e a fome a roer. Depois firme. Sentido. Os braços esticados, dedos juntos, olhar em frente. Não mexe. O furriel deu um passo em direcção a nós, perna estendida, patada no chão. Deu meia volta, muito teso. Fez a continência a um homem franzino, enquanto a malta bichanava que era um alferes. O alferes fez um gesto mole em resposta, virámo-nos para a direita e lá fomos a caminho do refeitório, a toque de caixa, que comer é importante na tropa”.
“Pedíamos licenças, papéis coloridos preenchidos e entregues na véspera. No dia seguinte, formados e poeirentos das marchas, ao fim da tarde, ao mesmo tempo que nos distribuíam o correio e o apanhávamos do chão, entregavam-nos os passaportes, deixavam-nos vestir a farda de saída... depois de jantar ou mesmo sem jantar, a caserna albergava milhentos homens a esfregar pela quarta vez as botas nesse dia. Os dois pares que tínhamos iam sempre brilhar nas formaturas, nas revistas, nas chamadas. Quando as recebíamos elas vinham tão grosseiras que era difícil amaciar-lhes o pêlo, bebiam frascos de tinta e latas de graxa, aguentavam escovadelas dementes, duras de roer. Alguns havia que passavam o fim-de-semana a dar-lhes pomada e a queimar-lhes o pêlo e mandavam-nas ao sapateiro para sofrerem tratamentos de especialista. Outros passavam o dia à volta dos dois pares, sentados no chão. Eram engraxadores de coração, a graxa entrara-lhes na alma através dos dedos, o prazer que tinham era mirarem-se no espelho das botas, ouvir elogios do alferes na parada”.
Álvaro Guerra é o escritor seguinte. Em 1961 foi mobilizado para a Guiné como oficial miliciano, mas viria a ser evacuado, ferido em combate, em 1963. Foi jornalista e mais tarde embaixador. Os seus livros iniciais assentam na Guerra Colonial, caso de “A Lebre”, “O Disfarce”, “Memória”, “O Capitão Nemo e Eu”, todos publicados antes de 1974, alguns deles traduzidos em francês. Seleccionam-se alguns parágrafos do seu livro “Memória”, de 1961:
Sinfonia para uma Guerra
“O batalhão dos recrutas formou enquadrado debaixo do sol do meio-dia, na parada, um dos lados abertos para a escadaria do edifício do comando, onde estavam os oficiais com os seus galões brilhando nos uniformes de serviço e, nas faces, solenes expressões inspiradores de firmes obediências. Trouxeram o culpado, a quem tinham rapado a cabeça à navalha – chegou entre dois soldados armados – e atrás dele marchava o sargento de serviço e outro soldado que transportava uma cadeira. O grupo parou, no meio do quadrado que era também o meio da parada, e o comandante, que usava monóculo no olho esquerdo, pegou no megafone e, com a bem colocada voz de barítono, pôs o batalhão em sentido, o que foi executado com exemplar perfeição e rigor. Depois o culpado da cabeça rapada se ter posto em pé sobre a cadeira que o soldado colocara no meio do quadrado que era também o meio da parada, o senhor comandante da instrução disse para o bocal do megafone, a voz de barítono ganhando um tom metálico, “Nós somos a tropa de escola, estamos preparados para as mais difíceis missões e para os mais ardorosos combates. A Pátria contempla os nossos feitos gloriosos e nós vivemos sob o signo da coragem e da honra que vós tendes, agora, a sublime oportunidade de servir dedicadamente. O respeito pelos princípios morais que regem os mais altos interesses da nação tem de ser seguido por nós, os filhos privilegiados em cujas mãos a Mãe Pátria colocou o seu Destino Supremo e a intransigente defesa de cada parcela do seu território ameaçado. Não podemos deixar cair na lama o nome do nosso País e do nosso Regimento. Temos de dar o exemplo, temos de ser exemplares. Este homem que vamos punir, que todos nós vamos punir, é um camarada vosso, mas roubou. Se queremos conservar-nos íntegros, teremos de começar a justiça por nós próprios. Não se trata de pôr em causa o valor do roubo praticado mas sim a indignidade e o sacrilégio do acto. Este vosso camarada roubou vinho que o nosso capelão destinara aos Santos Ofícios que celebraremos no campo de batalha, quando formos escolhidos para a luta sagrada contra os infiéis. Ele ficará aqui, no meio da parada, até ao pôr-do-sol, antes de regressar à prisão. Que este exemplo fortaleça a vossa Fé, a vossa dedicação à Pátria e à Bandeira, dedicação que pode ir até ao sacrifício da própria vida. Destruuuuuuçar!”
O culpado não ficou na parada até ao pôr-do-sol. Às quatro da tarde, caiu da cadeira e baixou à enfermaria, sob prisão. Punição exemplar para todos os seus camaradas.”
(Continua)
Gozei quase um mês de férias, quando cheguei da Guiné, em 1970, apresentei-me no início de Outubro, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, fui dar duas recrutas a gente que, na sua maioria, foi combater nas três frentes da guerra. Houve aspectos muito gratificantes, vinha cheio de sangue na guelra, ensinei-lhes o que tinha aprendido e os agradecimentos chegaram quando eles regressaram das respectivas comissões. Em definitivo, descobri, se algumas ilusões houvesse, que nada tinha a ver com aquela corporação, onde os jogos de cartas eram o entretenimento quase exclusivo dos senhores oficiais. Esta fotografia terá sido tirada à volta de Novembro, era malta muito fixe, apetecia conversar em todos os intervalos e recordar-lhes que a instrução era severa mas as compensações passariam por saber precatar os amargos de boca próprios da guerrilha e da contra-guerrilha.
Foto e legenda: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5587: Notas de leitura (46): Os Anos da Guerra, de João de Melo (1): Alguns olhares sobre a literatura da guerra da Guiné(Beja Santos)
Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5593: Notas de leitura (47): Casablanca: O Início do Orgulhosamente Sós, de José Duarte de Jesus (Beja Santos)
Queridos amigos,
Aqui vai mais um texto relacionado com a recensão do livro “Os Anos da Guerra”(*).
Bom seria que os tertulianos tirassem do saco da memória as recordações que guardaram dessa época de preparativos para a guerra.
Um abraço do
Mário
OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (2)
Beja Santos
Recordatória
“Os Anos da Guerra”, com organização do escritor João de Melo é a primeira grande antologia da literatura da Guerra Colonial, abraçando os três teatros de operações. No significativo prefácio, João de Melo formula um conjunto de interrogações sobre o âmbito de literatura de guerra e se esta é compaginável com a literatura do período colonial e se há mesmo condições para se falar ao mesmo nível da geração literária da Guerra Colonial e dos testemunhos daqueles que combateram ou se prepararam para combater num dos teatros do conflito. João de Melo conclui que o escritor combatente goza de especificidade, havendo que tratar esta manifestação literária como escrita de guerra, são pessoas que vieram mudadas e que irão testemunhar uma vivência incompatível com outras experiências coloniais ou de resistência ideológica ao primado nacionalista. A antologia contempla apresentações histórico-políticas das diferentes etapas da evolução da guerra, separando os autores de acordo com as três frentes de combate. Para efeitos de simplificação, “estes olhares” sobre a literatura da guerra da Guiné iniciam-se com os preparativos para a guerra. Seleccionam-se alguns parágrafos considerados elucidativos de quem andou pelos quartéis em recruta e especialidade e formou uma unidade militar destinada à Guiné. Recomeçamos estes preparativos com Filipe Leandro Martins e a sua obra “O Pé na Paisagem”, de 1981:
Os preparativos
O Couro Selvagem das Botas
“Depois começou a chamada, milhões de nomes a acertar com números, e a fome a roer. Depois firme. Sentido. Os braços esticados, dedos juntos, olhar em frente. Não mexe. O furriel deu um passo em direcção a nós, perna estendida, patada no chão. Deu meia volta, muito teso. Fez a continência a um homem franzino, enquanto a malta bichanava que era um alferes. O alferes fez um gesto mole em resposta, virámo-nos para a direita e lá fomos a caminho do refeitório, a toque de caixa, que comer é importante na tropa”.
“Pedíamos licenças, papéis coloridos preenchidos e entregues na véspera. No dia seguinte, formados e poeirentos das marchas, ao fim da tarde, ao mesmo tempo que nos distribuíam o correio e o apanhávamos do chão, entregavam-nos os passaportes, deixavam-nos vestir a farda de saída... depois de jantar ou mesmo sem jantar, a caserna albergava milhentos homens a esfregar pela quarta vez as botas nesse dia. Os dois pares que tínhamos iam sempre brilhar nas formaturas, nas revistas, nas chamadas. Quando as recebíamos elas vinham tão grosseiras que era difícil amaciar-lhes o pêlo, bebiam frascos de tinta e latas de graxa, aguentavam escovadelas dementes, duras de roer. Alguns havia que passavam o fim-de-semana a dar-lhes pomada e a queimar-lhes o pêlo e mandavam-nas ao sapateiro para sofrerem tratamentos de especialista. Outros passavam o dia à volta dos dois pares, sentados no chão. Eram engraxadores de coração, a graxa entrara-lhes na alma através dos dedos, o prazer que tinham era mirarem-se no espelho das botas, ouvir elogios do alferes na parada”.
Álvaro Guerra é o escritor seguinte. Em 1961 foi mobilizado para a Guiné como oficial miliciano, mas viria a ser evacuado, ferido em combate, em 1963. Foi jornalista e mais tarde embaixador. Os seus livros iniciais assentam na Guerra Colonial, caso de “A Lebre”, “O Disfarce”, “Memória”, “O Capitão Nemo e Eu”, todos publicados antes de 1974, alguns deles traduzidos em francês. Seleccionam-se alguns parágrafos do seu livro “Memória”, de 1961:
Sinfonia para uma Guerra
“O batalhão dos recrutas formou enquadrado debaixo do sol do meio-dia, na parada, um dos lados abertos para a escadaria do edifício do comando, onde estavam os oficiais com os seus galões brilhando nos uniformes de serviço e, nas faces, solenes expressões inspiradores de firmes obediências. Trouxeram o culpado, a quem tinham rapado a cabeça à navalha – chegou entre dois soldados armados – e atrás dele marchava o sargento de serviço e outro soldado que transportava uma cadeira. O grupo parou, no meio do quadrado que era também o meio da parada, e o comandante, que usava monóculo no olho esquerdo, pegou no megafone e, com a bem colocada voz de barítono, pôs o batalhão em sentido, o que foi executado com exemplar perfeição e rigor. Depois o culpado da cabeça rapada se ter posto em pé sobre a cadeira que o soldado colocara no meio do quadrado que era também o meio da parada, o senhor comandante da instrução disse para o bocal do megafone, a voz de barítono ganhando um tom metálico, “Nós somos a tropa de escola, estamos preparados para as mais difíceis missões e para os mais ardorosos combates. A Pátria contempla os nossos feitos gloriosos e nós vivemos sob o signo da coragem e da honra que vós tendes, agora, a sublime oportunidade de servir dedicadamente. O respeito pelos princípios morais que regem os mais altos interesses da nação tem de ser seguido por nós, os filhos privilegiados em cujas mãos a Mãe Pátria colocou o seu Destino Supremo e a intransigente defesa de cada parcela do seu território ameaçado. Não podemos deixar cair na lama o nome do nosso País e do nosso Regimento. Temos de dar o exemplo, temos de ser exemplares. Este homem que vamos punir, que todos nós vamos punir, é um camarada vosso, mas roubou. Se queremos conservar-nos íntegros, teremos de começar a justiça por nós próprios. Não se trata de pôr em causa o valor do roubo praticado mas sim a indignidade e o sacrilégio do acto. Este vosso camarada roubou vinho que o nosso capelão destinara aos Santos Ofícios que celebraremos no campo de batalha, quando formos escolhidos para a luta sagrada contra os infiéis. Ele ficará aqui, no meio da parada, até ao pôr-do-sol, antes de regressar à prisão. Que este exemplo fortaleça a vossa Fé, a vossa dedicação à Pátria e à Bandeira, dedicação que pode ir até ao sacrifício da própria vida. Destruuuuuuçar!”
O culpado não ficou na parada até ao pôr-do-sol. Às quatro da tarde, caiu da cadeira e baixou à enfermaria, sob prisão. Punição exemplar para todos os seus camaradas.”
(Continua)
Gozei quase um mês de férias, quando cheguei da Guiné, em 1970, apresentei-me no início de Outubro, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, fui dar duas recrutas a gente que, na sua maioria, foi combater nas três frentes da guerra. Houve aspectos muito gratificantes, vinha cheio de sangue na guelra, ensinei-lhes o que tinha aprendido e os agradecimentos chegaram quando eles regressaram das respectivas comissões. Em definitivo, descobri, se algumas ilusões houvesse, que nada tinha a ver com aquela corporação, onde os jogos de cartas eram o entretenimento quase exclusivo dos senhores oficiais. Esta fotografia terá sido tirada à volta de Novembro, era malta muito fixe, apetecia conversar em todos os intervalos e recordar-lhes que a instrução era severa mas as compensações passariam por saber precatar os amargos de boca próprios da guerrilha e da contra-guerrilha.
Foto e legenda: © Mário Beja Santos (2009). Direitos reservados.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5587: Notas de leitura (46): Os Anos da Guerra, de João de Melo (1): Alguns olhares sobre a literatura da guerra da Guiné(Beja Santos)
Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5593: Notas de leitura (47): Casablanca: O Início do Orgulhosamente Sós, de José Duarte de Jesus (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P5599: Blogues da Nossa Blogosfera (31): Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)
Nasceu mais uma Tabanca, nasceu mais um Blogue.
Estamos a falar da Tabanca do Centro e do seu Blogue.
1. Mensagem de hoje, 6 de Janeiro de 2009, do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:
Meus caros camarigos
No sentido de aliviar a vossa carga de trabalho, achei por bem, (e sem pedir licença à Casa Mãe, desculpem lá), criar um blogue denominado Tabanca do Centro, http://www.tabancadocentro.blogspot.com/, com o intuito de ali fazer os avisos dos encontros e receber as inscrições e sugestões dos camarigos que ali quiserem aceder.
Irei roubar à Tabanca Grande os comentários feitos ao anúncio do 1.º Encontro da Tabanca do Centro, e ali daremos os esclarecimentos que todos julgarem necessários.
Quer dizer que estou a arranjar lenha para me queimar, em termos de trabalho, claro!
Peço-vos assim a divulgação deste novo espaço, para que, com mais facilidade possa gerir as inscrições para o 1.º Encontro.
De tudo o que ali se fizer irei dando conta à Tabanca Grande.
Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
2. Comentário de CV
Caro Joaquim e restantes elementos da Tabanca do Centro, já fui visitar a vossa Página e já lá deixei a minha primeira mensagem, no poste primeiro, início do princípio (ou vice-versa) do vosso Blogue.
Como os teus pedidos, aqui na Tabanca Grande, são ordens, estou a dar o devido e merecido conhecimento da criação oficial da Tabanca do Centro, que poderá ter como uma das funções oficiais, a organização dos Encontros anuais da Tabanca Grande. Desculpa Luís, porventura estou a exorbitar as minhas competências, mas saiu-me esta assim de repente, e eu às vezes sou como os tolos, e digo o que me vem à cabeça.
Um abraço a todos os atabancados do Centro.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5594: Convívios (176): 1.º Encontro da Tertúlia do Centro, dia 27 de Janeiro de 2010 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5556: Blogues da Nossa Blogosfera (30): Do caos ao cosmos, extensão de Reflexos e interferências (Regina Gouveia)
Estamos a falar da Tabanca do Centro e do seu Blogue.
1. Mensagem de hoje, 6 de Janeiro de 2009, do nosso camarada Joaquim Mexia Alves:
Meus caros camarigos
No sentido de aliviar a vossa carga de trabalho, achei por bem, (e sem pedir licença à Casa Mãe, desculpem lá), criar um blogue denominado Tabanca do Centro, http://www.tabancadocentro.blogspot.com/, com o intuito de ali fazer os avisos dos encontros e receber as inscrições e sugestões dos camarigos que ali quiserem aceder.
Irei roubar à Tabanca Grande os comentários feitos ao anúncio do 1.º Encontro da Tabanca do Centro, e ali daremos os esclarecimentos que todos julgarem necessários.
Quer dizer que estou a arranjar lenha para me queimar, em termos de trabalho, claro!
Peço-vos assim a divulgação deste novo espaço, para que, com mais facilidade possa gerir as inscrições para o 1.º Encontro.
De tudo o que ali se fizer irei dando conta à Tabanca Grande.
Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves
2. Comentário de CV
Caro Joaquim e restantes elementos da Tabanca do Centro, já fui visitar a vossa Página e já lá deixei a minha primeira mensagem, no poste primeiro, início do princípio (ou vice-versa) do vosso Blogue.
Como os teus pedidos, aqui na Tabanca Grande, são ordens, estou a dar o devido e merecido conhecimento da criação oficial da Tabanca do Centro, que poderá ter como uma das funções oficiais, a organização dos Encontros anuais da Tabanca Grande. Desculpa Luís, porventura estou a exorbitar as minhas competências, mas saiu-me esta assim de repente, e eu às vezes sou como os tolos, e digo o que me vem à cabeça.
Um abraço a todos os atabancados do Centro.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 5 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5594: Convívios (176): 1.º Encontro da Tertúlia do Centro, dia 27 de Janeiro de 2010 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5556: Blogues da Nossa Blogosfera (30): Do caos ao cosmos, extensão de Reflexos e interferências (Regina Gouveia)
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