Meus caros camarigos
Embora saiba que nem todos partilhamos da mesma fé, mas como este texto me foi suscitado pela minha "estadia" na Guiné, aqui vo-lo envio.
http://queeaverdade.blogspot.com/2012/02/o-macareu.html
Julgo que dado o tema tratado não será de publicar na Tabanca Grande.
Um abraço sempre camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Caro camarigo Mexia Alves e restantes Ilustres
Diz o Mexia, em rodapé, que "dado o tema tratado", não será de publicar na Tabanca Grande....
Ora bem, já vi e li coisas mais afastadas do 'core business' do Blogue do que este texto/reflexão do Mexia.
É certo que se trata de evidenciar uma das três coisas que serão (ou deverão ser) 'tabu' nestas coisas de "conglomerados de grupos com pessoas de 'formação' diversa" e que são o "futebol, a política e a religião".
Pessoalmente não concordo com esses 'tabus' mas compreendo, porque a maioria das pessoas não discute ideias, pontos de vista ou propostas, mas sim procura impor os seus e nisso acabam sempre por distorcer o que poderia ser uma maior e melhor troca de opiniões: por exemplo, não discutem futebol mas sim os seus clubes; não discutem a política mas sim as suas preferências partidárias; não discutem a religião, no sentido da sua interacção com o homem mas sim na 'bondade' de cada um dos seus dogmas, sejam eles outras religiões, outras versões da mesma religião ou até a ausência de qualquer religião.
Neste caso concreto o Joaquim, homem assumidamente 'militante' da causa cristã, do catolicismo, e publicamente integrado no seu 'movimento carismático', procura mostrar-nos como a observação dos fenómenos da Natureza nos pode indicar a ideia de Deus. E faz tudo isso a partir do "macaréu", fenómeno bem conhecido por muitos de nós, por conhecimento directo (no meu caso 'apanhei-o' numa viagem na "Bor" do Xime para Bissau e bem que me assustei por alguns momentos), ou por conhecimento adquirido no Blogue. Portanto, a Guiné está bem patente nesta sua reflexão e acho que tem 'cabimento', independentemente das opiniões (que não me parece virem a ser fracturantes) que se possam vir a exteriorizar.
Abraços
Hélder Sousa
3. Segue-se a reflexão do camarada Mexia Alves, transcrito a partir do endereço por ele indicado:
"Que é a Verdade? - Página do nosso camarada Joaquim Mexia Alves
O MACARÉU
O facto de ter estado na guerra da Guiné, entre 1971 e 1973, é algo que, obviamente, vem muitas vezes ao meu pensamento.
Recentemente, estando em oração na igreja, veio à minha memória um fenómeno natural, a que assisti muitas vezes num destacamento militar nas margens do rio Geba, chamado Mato Cão, em que estive “aquartelado” durante cerca de 9 longos meses, e que é conhecido por macaréu.
O macaréu para explicar em palavras simples e concisas, é uma onda marítima, sobretudo nas marés mais cheias, que pela sua força, galga a corrente do rio, desde a sua foz em Bissau, até perto de Bafatá, já no interior da Guiné.
Este fenómeno acontece noutros rios, noutros lugares, como por exemplo no Brasil, e é muito curioso, pois podemos dizer que enquanto a onda marítima galga o rio e sobe por ele acima, o rio vai continuando a correr para a sua foz, por baixo da onda do macaréu.
Perguntei-me então o que tinha esta memória a ver com a oração que fazia?
Eis aquilo que fui reflectindo:
O rio corre sempre para o mar, como nós homens, acreditando ou não, “corremos” para o nosso encontro final com Deus.
O mar é uma imensidão, um “todo”, e a sua onda, portanto, tem um enorme poder.
O nosso Deus é o Todo, e o seu poder não tem limites.
A onda do mar, o macaréu, vence o rio, mas não o anula, pelo contrário o rio continua a correr para o mar em toda a sua “identidade”.
O amor e a vontade de Deus, (se o homem quiser), também vence o homem, mas não lhe retira a sua humanidade nem as características próprias de um ser individual e irrepetível, como o são todos os homens.
O macaréu muda o aspecto exterior do rio, torna-o maior, mais caudaloso.
O amor de Deus e a sua vontade, (aceites pelo homem), muda o homem no seu interior, que depois se reflecte na sua imagem exterior, no testemunho que dá como cristão e católico.
E também o torna mais activo, por força dos dons, dos talentos que Deus vai dando a cada um que O procura em «espírito e verdade».
Quando passa o macaréu o rio deixa de se ver, (embora saibamos que ele lá está), pois reflecte apenas a onda marítima que o domina.
O amor e a vontade de Deus, (conformados no homem), faz com que ele reflicta mais Deus do que a sua própria vontade, embora saibamos que é o homem que ali está em todo o seu ser.
O macaréu é muitas vezes aproveitado pelos barcos para subirem e descerem o rio, a fim de chegarem aos seus portos de destino.
O amor e a vontade de Deus, (testemunhado pelo homem), também leva outros homens ao encontro com Deus, que é o seu eterno porto de salvação.
A força do macaréu arranca por vezes árvores das margens do rio, e no seu regresso traz consigo muito lixo que o rio contém.
O amor e a vontade de Deus, (vividos pelo homem), também arranca dele o pecado, e limpa o que está mal e não presta na sua vida.
O macaréu em toda a sua força, dá uma nova vida ao rio, agitando as suas águas e fornecendo mais alimento aos animais que do rio vivem.
O amor e a vontade de Deus, (queridos pelo homem), renovam a sua vida, alimentando-o da Eucaristia, dando-lhe mais vida, e «vida em abundância»*.
Há, pelo menos, duas diferenças muito grandes, no entanto, nesta comparação, embora estas sejam “coisas” que não são comparáveis.
O macaréu impõe-se ao rio, quer o rio queira quer não.
O amor e a vontade de Deus nunca se impõem ao homem, pois quer precisar que o homem se abra por vontade própria a receber tudo o que Deus tem para lhe dar.
O macaréu é periódico e tem graduações de intensidade.
O amor e a vontade de Deus, são eternas, e a sua “dimensão” é o Todo de Deus, no Tudo que em nós quer fazer.
Senhor,
abre o meu coração ao teu amor e à tua vontade,
para que eu seja sempre um homem novo,
na plenitude da vida que amorosamente me queres dar.
Amen.
*Jo 10,10
Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2012
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9472: Humor de caserna (24): Um tiro no cu (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 12 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9474: Blogoterapia (199): Obrigado, amigos da Tabanca Grande, por tanta partilha e afeto (João Graça)