quarta-feira, 22 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20889: Em busca de... (306): Armando, o pequeno Armandinho, que em 1973/74, quando internado no HM 241 de Bissau, frequentava a casa do CEM do CTIG, Coronel Henrique Gonçalves Vaz (Luís Beleza Gonçalves Vaz)

1. Mensagem datada de 19 de Abril de 2020 do nosso Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, professor do ensino básico em Vila Verde e filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). Tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974.

Quer encontrar um velho amigo, o então jovem Armando, que esteve internado no HM 241 de Bissau, vítima de guerra de que lhe resultou a perda de uma das pernas. Frequentava, como convidado, a casa do então CEM, senhor Coronel de Cavalaria Henrique Gonçalves Vaz.


EM BUSCA DO ARMANDINHO

É com muita satisfação que volto aqui a escrever sobre o “Armando do Hospital de Bissau”, uma criança que conheci no ano de 1973 a cuidado dos militares médicos e enfermeiros que trabalhavam no Hospital Militar de Bissau nessa mesma altura.

Conheci-o muito bem, pois durante um ano, entre 1973 e 1974, ia várias vezes durante a semana vê-lo ao Hospital e muitas vezes regressava connosco (comigo e com os meus dois irmãos) para nossa casa em Sª Luzia, onde brincava muito, comia e dormia.

Na semana passada falei dele ao meu mano mais novo (Paulo Vaz) e os dois revivemos as nossas memórias daqueles tempos conturbados, tempos de guerra mas que para nós jovens na altura, nos marcou para toda a vida. Conhecer esta criança na altura, o Armando, foi uma experiência humana e de afetos inolvidável, já que ele tinha perdido a sua família numa explosão de uma mina e tinha sido evacuado para o hospital Militar de Bissau, penso que em finais de 1972 ou inícios do ano de 1973.

No início teria sido o meu próprio pai, o Coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG, que o convidou para ir passar uns dias lá em nossa casa (na Base Militar de Santa Luzia), para poder brincar com miúdos como ele, eu tinha 13 anos e o meu irmão mais novo, o Paulo tinha apenas dez anos, o Armando talvez oito anos, depois tornou-se rotina e uma visita desejada por nós. Lembro-me dele como um miúdo muito alegre, inteligente e bem-disposto. Ainda me lembro, quando no meu quarto, o Armando tirava a prótese (da perna) e continuava a saltar, brincar e falar, sem constrangimentos nenhuns, sim falava muito, demonstrando sempre vontade de saber, de apreender, pois lembro-me muito bem que o Armando (para nós ficou sempre apelidado de Armandinho) demonstrava uma grande curiosidade e uma grande alegria de viver, apesar de ter perdido parte de uma perna e os pais numa explosão de uma mina, facto responsável pela sua evacuação para o Hospital Militar.

Sempre me disse que era MUITO BEM TRATADO PELOS MILITARES DO HOSPITAL MILITAR DE BISSAU. Volto a registar aqui neste nosso Blog, de que gostaria muito de saber onde se encontra e contactar com ele. O meu regresso à Metrópole naquela altura foi um "pouco abrupto", devido ao 25 de Abril, fiquei sempre com saudades dele, e disseram-me que o Armando teria vindo em 1974 com um médico militar para a Metrópole, para frequentar uma instituição em Portugal! Será verdade, se alguém souber notícias dele, gostaria que me contactasse.




Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Armando

No passado mês de março voltei a pedir à minha irmã, que na altura estudava arquitetura no Continente e nos visitava de vez em quando em Bissau, que tentasse descobrir as fotografias do “Armando na Guiné” da sua autoria, e ela procurou e procurou até que encontrou estas fotografias do Armando e que me fizeram viajar no Tempo, recordando os “momentos muito intensos” que vivi na Ex Província Portuguesa da Guiné.


Base Militar de Santa Luzia, Bissau, 1974 - O pequeno Luís

Se tu, Armando, por acaso leres esta notícia sobre ti, liga-me para o meu telemóvel + 351 936 262 912 ou manda-me notícias para o meu email: luisbelvaz@gmail.com

Grande Abraço
Luís Beleza Gonçalves Vaz
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20825: Em busca de... (305): Fur Mil Fotocine Júlio César Fragoso Pereira (Guiné, 1966/67) (Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861)

Guiné 61/74 - P20888: Historiografia da presença portuguesa em África (206): Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Que grande surpresa, uma imagem do porto de Bambadinca, com mais de um século, o território desencravava-se, Calvet de Magalhães, Administrador de Bafatá, inaugurara a estrada de Bafatá até Bambadinca. É o limite da navegabilidade para barcos de transporte de mercadorias com algum calado, para cima do Geba estreito circulavam uns barquinhos à vela, de dimensão reduzida. É o porto da minha vida, quando diariamente patrulhava Mato de Cão sabia que era essencial manter aquela via aberta para o Leste, até Bambadinca chegavam as embarcações com os contingentes militares, mantimentos, armamento, munições, tudo o que era indispensável para dar continuação à guerra, transportavam-se civis e também o coconote e a mancarra. Quando visitei em 2010 a Guiné, o porto desapareceu completamente, restavam umas chapas de ferro.
Pareceu-me bem interessante este artigo sobre as madeiras da Guiné, os conhecimentos evoluíram muito depois, o engenheiro Xavier da Fonseca olhava para o cajueiro não pela riqueza que hoje dá mas pela madeira e pela resina, não deixa de ser curioso.
A seguir iremos ver o que ele nos diz, noutro número do Boletim Geral das Colónias sobre a que se deve o êxito da cultura do amendoim na Guiné.

Um abraço do
Mário

O Porto de Bambadinca em 1917


Algumas curiosidades respigadas do Boletim Geral das Colónias (1)

Beja Santos

O Boletim Geral das Colónias surgiu na década de 1920, teve longa vida, veio a ser substituído pelo Boletim Geral do Ultramar. Era inequivocamente uma publicação oficial, de exaltação, formação e informação. Foi a percorrer um número de 1947, mês de janeiro, que encontrei um curiosíssimo artigo sobre as madeiras da Guiné assinado pelo Engenheiro Agrónomo Armando Xavier da Fonseca. Permitam-me que saliente alguns aspetos que reputo do maior interesse. Começa por dizer que “A Guiné foi a primeira colónia que forneceu madeiras para a construção das naus, e para a do velho Arsenal da Marinha”. Confessa ter tido dificuldades na classificação das madeiras, e discreteia sobre as que conhece. “Uma das árvores mais vulgares na Guiné é a alfarroba de lala, que dá uma madeira amarela lindíssima, e muito apreciada pela marcenaria. Há, que eu saiba seguramente, duas qualidades, uma de cor amarela mais clara e outra de cor amarela mais escura. Os Fulas chamam-lhe marroné. Outra árvore que é muito comum na Guiné é a que, em crioulo, é cognominada por pau conta. É uma árvore de grande porte. O pau veludo é uma linda árvore, no Congo belga é muito empregada na construção marítima. O bissilom, como é conhecido na Guiné, é o célebre mogno africano, que é procuradíssimo, e é a árvore mais vulgar na Guiné. Há diversas qualidades, que se distinguem pela cor da madeira. O pau sangue é madeira que pesa 700 quilos por metro cúbico. O célebre pau-ferro é uma árvore que dá uma madeira preciosa para minas e travessas de caminho-de-ferro, mas da Guiné ainda se não fez qualquer exportação, que seria de desejar que se fizesse para ser experimentada como travessas para os nossos caminhos-de-ferro”.

Uma das riquezas da Guiné é o pau-sangue, tem grande acolhimento nos mercados mundiais, é madeira exótica muito apetecida.

O autor dá prioridade ao estudo da classificação, era imperioso tornar uniformes em todas as colónias as condições da exportação, tendo em conta que as madeiras brasileiras tinham uma maior preferência nos nossos mercados, e dá as suas sugestões de que em todas as colónias devia haver taxas absolutamente uniformes quanto aos direitos de exportação. Passando para os preços, observa: “Na Guiné, não há quem não repare em que os preços das madeiras de produção local são iguais aos das madeiras importadas da metrópole. Quem se der ao trabalho de somar todos os encargos que oneram o corte de madeiras, desde a concepção até à exportação, acaba por se convencer que são muito pesados”. Remete a questão para a Junta de Investigações Coloniais, onde havia especialistas, quanto à classificação de todas as essências e do seu valor comercial.

Avança com um episódio que viveu na Guiné:  
“Passei uns dias na sede da administração civil de Bubaque, capital do arquipélago dos Bijagós, e estando com o administrador, na excelente varanda do palácio, admirando a mansidão das águas do mar, no canal de Canhambaque, chamaram a minha atenção as belas cadeiras de espaldar, que julguei serem de verga da ilha da Madeira.
O administrador informou-me que as cadeiras eram feitas ali em Bubaque, com uma madeira branca, muito bonita, conhecida pelo nome de cavoupa, madeira que depois é recoberta, como se fosse com verga, mas é afinal uma trepadeira que acompanha as palmeiras de azeite, e se presta muito a ser cortada em lâminas muito finas que se sujeitam a revestir a madeira em obra, sem estalarem.
Fui depois ver à floresta alguns pés de cavoupa, dos raros que existem à volta da sede da administração. As árvores que vi inteiras não têm ramos laterais, e as folhas são terminais, muito grandes, como as folhas mais pequenas das bananeiras. As árvores que vi cortadas, por meio dos palmares que tinham sido limpos para a melhor produção das palmeiras do azeite, tinham três ou quatro rebentos em haste com mais de meio metro de diâmetro, resvés da terra.

Uma vez que me encontrei de novo no continente da Guiné, procurei reencontrar a cavoupa, mas na maior parte das regiões não a conheciam por esse nome, até que, tendo ido a S. Domingos e visitado o posto de Sedengal, na sua área, vi várias cavoupas, e pedi a um cipaio que me indicasse o nome da árvore, o que fez prontamente: nós chamamos-lhe pau bóia, e outros, poucos, cavoupa; estas cavoupas que estão aqui nas lalas, são os machos, e as que estão nas bolanhas são fêmeas.
Relacionei o que podia relacionar, mas o que não consegui saber foi a identificação científica, e a classificação da árvore, mesmo sem saber se o nome crioulo de pau bóia lhe dá a qualidade de boiar, porque então mais valiosa se torna.
E o que se dá com esta árvore, uma das menos abundantes da flora da Guiné, dá-se com outras tantas incompletamente conhecidas, quer pelas suas madeiras, quer por outros produtos valiosos.

Certo dia, tendo percorrido uma das mais densas matas da margem direita do rio de Farim, onde já estavam marcadas para corte umas centenas de árvores de bissilom, reparei que todas as feridas estavam abundantemente providas de uma goma linda, não inferior à da goma-arábica, e não pude saber que outras qualidades possam ter, inclusivamente para o fabrico de alimentos.
E, quanto ao cajueiro, não só quanto à sua madeira, como à sua resina, são incompletíssimos os nossos conhecimentos”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20859: Historiografia da presença portuguesa em África (205): Monografia-Catálogo da Exposição da Colónia da Guiné - Semana das Colónias de 1939 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20887: Efemérides (325): De Santa Margarida ao Olossato - O Testemunho vivo de um soldado (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721)



Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > Rio Farim > 2006 > Cambança do rio..."A bos portuguisis? Pai di nôs!"...



Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...


Fotos (e legendas): © Paulo Salgado (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado, [ex-Alf Mil Op Esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro (, o mais recente,) "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019) com data de 19 de Abril de 2020:

Caros Editores, Camaradas,
Em anexo, a carta/mensagem que o Moura Marques me remeteu e que eu gostaria que fosse publicada - com a sua autorização, claro - uma vez que partimos a 4.4.1970.
E há dias, nesse dia, eu escrevi um texto e referi esta intenção de a publicar. [1]
Recordo que há texto no blogue sobre a ida nossa (minha mulher, Moura Marque e eu) e uma foto. Essa estadia do Moura Marques é de 2006.

Obrigado e um abraço camarada.
Paulo Salgado


De Santa Margarida ao Olossato
O Testemunho vivo de um soldado

O Moura Marques é meu Amigo (com letras maiúsculas) – foi 1.º Cabo, que eu promovi, do meu grupo de combate, pois logo ali vi, eu aspirante recente, um homem de costas direitas. Na Guerra, na Guiné, melhor, já em Santa Margarida, e depois no Olossato, e depois em Nhacra, e depois… sempre. A correspondência que temos trocado, os encontros da CCAV 2721, que vamos fazendo, as visitas que ele me fez a Coimbra (estava eu no meu local de trabalho, nos Hospitais da Universidade de Coimbra), a Moncorvo (onde a minha mulher e eu vimos frequentemente, às nossas raízes), as visitas que fizemos a sua casa em Tires, o encontro que tivemos em Bissau, aonde ele foi em 2006, estando nós em Bissau, em acção de cooperação – momentos que fortaleceram a admiração e respeito recíprocos.[2] Às apresentações dos meus livros na Associação 25 de Abril, foi sempre.

Da última vez que o visitámos em Tires (aquando do funeral de outro Amigo nosso, o grande jornalista e poeta Rogério Rodrigues, em Outubro de 2019) fiquei muito satisfeito ao ver a sua biblioteca – mais de duas centenas de obras: guerra colonial, 1.ª GG, 2.ª GG, Guerra Civil de Espanha, romances, alguns ensaios… bravo, meu Amigo, prova que sempre soubeste o que andas a fazer neste mundo. De resto, uma informação mais. Foi motorista de uma CERCI, carregou rapazes e raparigas e conduzia-os a casa e ao centro – um humanista, crede. No dia 4 de Abril último, como habitualmente, telefonámo-nos. Era o 50.º ano da nossa partida, de Santa Margarida para a Guiné. Nesse momento, referiu-me que iria mandar-me uma carta a propósito desta deslocação: a nossa ida para a Guerra.

Devidamente autorizado pelo autor – o meu Amigo Moura Marques – vou pedir aos editores que publiquem a carta. Apenas a “traduzi” para letra mais legível, sem, contudo, fugir da sua forma, com respeito pelo direito autoral. Esta carta é um monumento – na minha opinião. Aliás, guardo as suas cartas numa caixa, como guardo outras de familiares e amigos em outras caixas – numa época em que o registo epistolar se reduz aos computadores… (ainda bem que temos e lemos as saborosas cartas trocadas por Sena e Sofia… e outras…).


Ao ler esta carta, crede, fiquei emocionado, muito emocionado. Traduz sensações e sentimentos que compartilho…

Por isso, meus Caros camaradas Editores, vos peço que a publiqueis.


Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > Rio Olossato > O Paulo Salgado e o Moura Marques, 35 anos depois...

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Aqui vai.


4/4/2020

Paulo Salgado. Meu alferes, meu amigo, meu irmão soldado, de há cinquenta anos.
Hoje foi um dia marcante para o resto das nossas vidas – 4/3/2020. A Companhia 2721 está de partida. Vou ler a minha memória tatuada [acho esta expressão profunda – opinião de quem reescreve a carta].
4 horas da manhã, toque de alvorada para tomar o café no refeitório.
5 da manhã, o Sr. capitão de cavalaria Francisco Vasco Gonçalves de Moura Borges fala na caserna aos seus soldados, porque só havia três militares na companhia, ele, e Severo e Amaro, os dois 2.ºs sargentos.
Palavras do capitão Moura Borges: bem, vamos partir para a Guiné, porque é um dever nosso defender o património que os nossos antepassados que partiram em naus e caravelas por esses mares fora e descobriram e conquistaram e colonizaram vários territórios pelo Mundo fora. Alguém sabe qual foi a primeira descoberta dos portugueses? Como ninguém se chegou à frente, o recente promovido cabo Moura Marques levanta o braço e respondeu, foi a Madeira, meu capitão. O cabo também sabia o ano da descoberta, mas não disse.
Moura Borges fala do treino operacional mesmo que o mesmo se prolongasse por mais tempo pouco adiantava.
Palavras do capitão Moura Borges: porque vocês só vão ser bons soldados quando morrerem quatro ou cinco.
Ironia do destino: Moura Borges foi o primeiro a tombar.
6 horas da manhã. Entrar nas berliets para a estação de Malpique para o comboio que nos despeja no cais de Alcântara.

No cais o cabo Moura Marques descobre que aquele barco velho e ferrugento já tinha levado o pai dele para os Açores, Ilha Terceira, local Praia da Vitória, em 1942. Só que ele viajou como um turista em plena segunda grande guerra mundial. O barco era misto de passageiros e carga. Como só viajava um pelotão de metralhadoras pesadas e alguns civis, nada tinha a ver com o Carvalho Araújo do dia 4/4/1970, com três companhias mais uns quantos de rendição individual, foi uma viagem tipo século XIX.
A 2721 teve direito a algumas tarimbas toscas feitas à pressa em tábuas de pinho, mas nem todos os homens da 2721 tiveram cama, uns trinta no chão, mas as companhias 2724 e 2725 não, foram para o porão do gado que vinha dos Açores para o Continente. Esses soldados chegaram a Bissau em péssimo estado físico e psicológico.
11 horas da manhã. O Carvalho Araújo levanta ferro do Cais de Alcântara; a cena dos familiares é dramática e alguns camaradas choram como crianças. O barco sai a barra do Tejo e volta passada meia hora ao Tejo, entra alguém a bordo, volta a sair e volta a entrar e só às 4 da tarde se faz ao mar, disseram que andava a acertar agulhas…

Quando o cabo Espichel deixou de se ver, saltou uma equipa de tripulantes com tábuas de pinho a pregá-las em caneira da proa para a ré, uma de cada lado. Colocaram dois motores a tirar água do mar que passava pelas caneiras e voltava ao mar depois da obra feita. O chefe da brigada disse para alguns soldados que estavam na coberta, o cabo Moura Marques era um deles. O homem disse: a da direita é para cagar, a da esquerda é para lavar a louça, pois tinham-nos dado um prato e um copo. A colher e o garfo já nós tínhamos no quite da campanha.
E é aqui que nasce a saga das naus e caravelas e pleno século XX, a cena é dramática porque a grande maioria não sabe que uma caneira tem uma função e a outra é para lavar a louça, por isso muitos pratos e copos foram atirados ao mar mas logo aparecia alguém com uma caneta e um papel a tirar o número mecanográfico e o nome para o desgraçado pagar uma dúzia de pratos.

Dia 11/4, chegada a Bissau. Um mundo tão diferente, o calor, os cheiros, os africanos nos seus trajes típicos da sua cultura, a cidade cheia de brancos todos vestidos de verde porque também era a nossa cultura para dominar a outra milenar e dona daquele chão. Chegada ao campo de adidos em Brá, um autêntico campo de concentração, ficámos numas tendas na terra vermelha e dormíamos vestidos nos camuflados todos transpirados, só havia água entre as 4 da tarde e as 5 e dificilmente apanhava água para beber e tomar banho, as latrinas estavam atascadas até à porta, de fezes cobertas de por milhões de larvas. Nesses malditos dias, nunca tivemos uma refeição quente, só tivemos ração de combate para preparar o estômago a ela, pois durante as saídas ela se tornava mais saborosa.

Chegada ao Olossato. Logo no primeiro dia fui posto à prova pelo capitão Vargas, da CCAÇ 2402, com a equipa dos filhos da puta, no curral das vacas, uma noite inesquecível… No dia seguinte, fui apresentado a um soldado da 2402 pelo camarada Benjamim Marques, esse soldado tem o nome de Alberto Dias e trabalhou com o Benjamim no casino Estoril. Não conhecia o Alberto, mas conhecia o pai dele, era chefe dos varredores no Monte Estoril. Dias era a experiência, era a velhice, falou de Có, Mansabá e Olossato, e eu era só ouvidos. E quando começa a falar dos tempos de criança, aí eu descubro que ele e o Benjamim são conterrâneos, do Alentejo, Benjamim não gostava de ser alentejano, de Cascais sim. E bebemos mais três ou quatro cristais. Descobri que já havia dois soldados vermelhos no Olossato…

A povoação do Olossato tem gente muito pobre que vive do gado e da natureza, fiquei de boca aberta quando reparo na etnia balanta só de tanga a lavrar o chão da bolanha com uma pá de madeira, como em 1444 João Fernandes os viu pela primeira vez, pois julga-se que foi o primeiro a viajar por terras da Guiné. Ao fim de mais de quinhentos anos as culturas indígenas não tinham sido contaminadas pelos portugueses. Na minha cabeça fica um ponto de interrogação, este povo não se deixou colonizar ou a colonização foi um embuste, pois eu vi que a maioria dos guineenses não fala o português, talvez na ordem dos 80 por cento.

Primeiro patrulhamento a norte do rio Olossato, ao atravessar aquela ponte presa à margem direita por meio metro de cimento e ferro em resultado de uma carga explosiva no dia 2 de Julho de 1963 pela guerrilha. Logo mais à frente há milhares de invólucros de balas de vários anos de confrontos com o PAIGC, mais à frente saímos da mata e vimos uma serração toda queimada, os camiões já tinham árvores de certa dimensão, nascidas dentro dos chassis, mais à frente uma aldeia queimada. Voltámos a passar à estrada para o lado leste e mais invólucros, as árvores tinham cicatrizes da metralha, as palmeiras sem copa. Acordei para a realidade, pois estou na guerra.

Hoje só restam recordações, boas ou más, ao fim de cinquenta anos ainda me recordo dos vários e diferentes ataques, 2 de abelhas, 5 de malária, e 14 ao quartel fora as do mato do PAIGC.

Recordo-te Salgado, sempre, e mais quatro ou cinco camaradas.

Para ti e esposa Conceição um abraço.
Moura Marques
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Notas do editor:

[1] - 4 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20812: Efemérides (321): No dia 4 de Abril de 1970, saiu a CCAV 2721 do cais de Alcântara em direcção a Bissau (Paulo Salgado)

[2] - 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16622: Memória dos lugares (348): Olossato, com o Moura Marques, o Grão de Bico, a São... 35 anos depois (Paulo Salgado, ex-alf mil cav op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; autor do livro "Guiné: crónicas de guerra e de amor", 2016)

Último poste da série de 17 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20865: Efemérides (324): 17 de Abril de 1968, dia negro para a CART 1689, a morte do Furriel Miliciano Belmiro João (Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art)

terça-feira, 21 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20886: 16 anos a blogar (1): O helicóptero, poema de Jorge Cabral, comentário de Torcato Mendonça




1. A APOIAR - Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.  celebra este ano 26 anos de existência. E a sua revista, "Apoiar", começou a publicar-se em 1996, vai já em 121 números (janeiro-fevereiro de 2020). 

O nosso camarada Mário Vitorino Gaspar era então chefe de redação da revista quando foi publicado este poema do nosso Jorge Cabral, "O helicóptero" (Apoiar, nº 23, jan-mar 2002, p.2).

O "alfero" Cabral (Pel Caç Nat 63, Fá e Missirá, 1969 /71)
Embora ao poema já tenha sido reproduzido em tempos (*), voltamos a publicá-lo até para perguntar  ao seu autor, o que é feito dele, nestes tempos de "quarentena"... Não devem ser fáceis para ele, não são fáceis para minguém... Mas não sei nada dele, desde o seu último aniversário natalício (6/11/20019), dia em que falámos ao telefone.

Ex-alf mil art, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71), é advogado e especialista em direito penal. Foi irector do Instituto de Criminologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Vive em Lisboa. 

Está aposentado.  Continua a figurar na nossa lista dos "colaboradores permanentes" (neste caso, para as questões jurídicas).



O helicóptero

Pelo ar lento que aquece,
Um pássaro de ferro e aço
Leva o morto que apodrece,
Na boca mais um abraço.

A gente fica a pensar,
Mas mais um morto que interessa,
Já vêm mais pelo mar,
Vêm muitos e depressa.

A gente pensa,
Mas fica com o dedo no gatilho,
Na garganta um nó que pica,
Na preta o ventre com o filho.

Jorge Cabral, Missirá, Guiné, 1970
In Jornal “Apoiar”. 23 (Jan/Mar 2002)

[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG]

2. Por outro lado, acrescenta-se um comentário, publicado na altura (2014), pelo Torcato Mendonça, que,  também ele,  deixou de dar notícias há anos, deixou de aparecer, de comentar, de publicar coisas novas...Infelizmente, mais por razões de saúde e de disposição... 

Gostei de falar com ele, há dias, por telemóvel, e de saber que a sua Ana está restabelecida. Vai repartindo o seu tempo entre o Algarve e o Fundão, a cidade onde casou e onde criou os seus filhos. 

Com dupla costela alentejana e algarvia, escolheu, e bem,  o Fundão para viver, trabalhar e constituir família: x- alf mil art, pertenceu aos Viriatos, a CART 2339 (1968/69) que construiu de raíz, a pá e pica, e defendeu com unhas e dentes o aquartelamento de Mansambo, no sector L1 (Bambadinca). Comtinua a figura na lista dos nossos "colaboradores permanentes (neste caso, para as "questões operacionais). 

Tanto o Jorge como o Torcato são dois "tertulianos" da primeira hora, duas figuras de referência que já merecem a honra de ser considerados "senadores" da república da Tabanca Grande. Fporma colaboradores muito ativos: o Jorge Cabral tem 210 referências no blogue; o Torcato Mendonça tem 250.

Comentário do Torcato Mendonça (*):

Olá,  Luís Graça, estive a ler "O helicóptero", reproduzido da revista "Apoiar" que, como sabes, recebo pelo mail. 

Parei. Fui ao blogue reler o de ontem, belas fotos, e fui ler os “anexos” do poema do Jorge. Tinha vindo de uma sesta, o que não é hábito pois fico apardalado, e, lendo tudo aquilo fiquei a pensar, a pensar a sentir-me em Fá [Mandinga] a sentir a necessidade de algo que não explico. 

Reli e reli. Os escritos eram do tempo em que o blogue era de cem ou menos de cem, de um tempo que de pressa passou…e parei a olhar, fui até à marquise e, mesmo com o calor,  fiquei a ver a [serra da] Gardunha, a pensar, a regredir…até do meu “Mini artilhado” me lembrei..

Ah!,  que tempos, em que  ia dar agora uma aceleradela a sentir o roncar, o asfalto a passar, as ideias a limparem, tempos que também depressa passaram, tempos com PVT  sem radares. Mas é uma merda e estou velho para tudo isso…passará com Nespresso? 

Venho ao portátil,  vou passando para o facebook e, raios me partam ,volto ao blogue, passo ao gmail e releio…Aquilo está de antologia, aquilo tem que ser guardado para ler e reler…Os dois completos e as fotos. Agora teclei, penso que cabe e paro. 

Mando um abraço, boas férias no Marco [de Canaveses]. O barulho do heli é chato…a evacuação rápida era Zulu, eu ganhava mais de meia hora, e uma mina 1/6, kalash 1/12…
Ab, T.

3. Estamos a clebrar, por estes dias, os 16 anos do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,  do nosso blogue,  feito a muitas mãos... Por essa razão, vamos fazer um esforço para publicar rapaidamente  alguns postes, pendentes, que nos têm vindo a chegar,  nestas últimas semanas, vividas em plena pandemia de COVID-19... Com ou sem referência explícita a esta efeméride, outros serão bem vindos. Como sabem, o blogue é glutão, precisa pelo menos de 4 postes por dia...

Mais exatamente,  no próximo dia 23/4/2020, o nosso blogue celebra 16 anos de existência (, ou sejam, 192 meses)... São muitos mais anos, meses e dias, do que o tempo que durou a guerra colonial, em particular no TO da Guiné (1961/74).

Mas, nos dias que correm, estamos numa situação para a qual poucos de nós estávamos preparados para enfrentar e viver... Estamos confinados, mas isso nãoquer dizer que estejamos  "arrumados"... Podemos é lerpar, se formos contagiados, por isso temos que nos proteger e proteger os outros,

Decididamente, queremos continuar a celebrar a amizade e a camaradagem, ainda que  à distância, enquanto as nossas Tabancas não reabram...Este ano, como já foi anunciado,  não se realizará o XV Encontro Nacional da Tabanca Grande, que chegou a estar marcado para o dia 2 de maio próximo, me Monte Real. Enfim, teremos que ficar em casa, pro enquanto, e celebrar efemérie, de outra maneira. E a melhor maneira é mandar novos "materiais" para o blogue: histórias, fotos, comentários...

4. Nesse espaço de tempo (16 anos, 192 meses...), que equivale no mínimo a oito (!) comissões de serviço militar, criámos  um espaço de partilha de memórias que pode ser resumido em alguns números, falando por si:

(i) a nossa "tertúlia", a nossa Tabanca Grande, a nossa "comunidade virtual" de amigos e camaradas da Guiné atingiu a cifra de 806 membros (, isto é, registados formalmente, e listados na coluna esquerda da página pirncipal do blogue, por ordem alfabética, de A a Z: o primeiro é o camarada A. Marques Lopes e o último é a nossa amiga Zélia Neno);

(ii) destes 806 grã-tabanqueiros, 78 já estão, fisicamente entre nós, mas honramos a sua memória: pro ordem alfabética, o primeiro é o Agostinho Jesus (1950-2016) (*) e o último o Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014);

(iii) temos membros da Tabanca Grande espalhados por todo o mundo, de Portugal ao Brasil, dos EUA à Suécia, de Cabo Verde a Macau;

(iv) já publicámos quase 21 mil  postes (, mais precisamente 20885), o que dá, em números redondos, uma média mensal de 110 postes;

(v) o total de visualizações de página deverá atingir  os 12 milhões, e meados deste ano, o que dá uma média mensal de 61500;

(vi)  desde junho de 2006, os nossos visitantes vêm sobretudo de Portugal (4, 1 milhões), Estados Unidos (2, 5 milhões); Brasil (580 mil), França (503 mil), Alemanha (450 mil), Reino Unido (140 mil) e Rússia (117 mil);

(vii) temos 713 seguidores;

(viii) foram produzidos, desde junho de 2006, 81 700 comentários (, de um total de 150 800 mensagens, das quais 69 mil foram consideradas como "SPAM" ou "lixo", pelo nosso servidor, o Blogger, ou foram eliminadas, em número muito reduzido,  pelos nossos editores): grosso modo, temos uma média de 4 comentários por poste;

(ix) é difícil de quantificar o nº total de material iconográfico que reunimnos ao fim destes  16 anos, mas entre fotografias, vídeos e outras imagens (aerogramas,cartas, mapas, infografias...) devemos etr mais de 100 mil documentos.

(x) estamos também presentes no Facebook, com a página Tabanca Grande Luís Graça, que contém já mais de 3 milhares de "amigos", dos quais não sabemos exatamente quantos foram combatentes, e muito menos combatentes no TO da Guiné; mas "amigo do Facebook" não significa automaticamente ser "membro de facto et de jure" da nossa Tabanca Grande: para este efeito, é preciso que o candidato faça o pedido expresso, e se apresenta, aos editores, com as 2 fotos da praxe e um pequeno texto sobre as suas andanças na Guiné.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 30 de agosto de  2014 > Guiné 63/74 - P13548: Blogpoesia (388): O helicóptero (Jorge Cabral)

Guiné 61/74 - P20885: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (3): Amigos que não esqueço

 


1. Em mensagem do dia 15 de Abril de 2020, o nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), enviou-nos mais uma das suas memórias, desta vez dedicada aos amigos que não vai esquecer.





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Nota do editor

Último poste da série de 16 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20862: Memórias de um Soldado Maqueiro (Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS / BCAÇ 2845) (2): Em Teixeira Pinto, um pintor/maqueiro ou um maqueiro/pintor

Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (155): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"


Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1973/74 > "Na casa do célebre senhor Mário Soares. Acompanhando-o quatro alferes milicianos e um capitão miliciano". Um dos alferes era Manuel Valente Fernandes, ex-Alf Mil Médico do BCAV 8323, Pirada, 1973/74, membro da nossa Tabanca Grande desde 17/10/2012. (,. o segundo, do aldo esquerdo).  Do anfitrião (o primeiro, a contar da direita) sabe-se que gostava de (e sabia)  bem receber, qualquer que fosse as suas motivações.

Foto (e legenda): © Manuel Valente Fernandes (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mário Soares, o comerciante de Pirada, de seu nome completo Mário Rodrigues Soares,  terá sido uma das personagens mais intrigantes (e poderosas) da pequena comunidade portugueses, civil, que  ficou na Guiné, no tempo da guerra  (1971/74)

Já aqui recolhemos o testemunho do ex-alf mil Carlos Geraldo, da CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paunca, 1964/66), a primeira companhia a ficar aquartelada em Pirada (, a partir de 15 de outubro de 1964), O nosso saudoso camarada Carlos Geraldo (Lisboa, 1941 - Viana do Castelo, 2012) foi visita da sua casa até ao fim da comissão (em abril de 1966) (*)

Mas há mais referências, no nosso blogue, a este homem de quem não sabemos exatamente o runo que seguiu a sua vida, depois da independência da Guiné.Bissau. Temos, pelo menos, duas versões contraditórias: a da historiadora Maria José Tistar, e a do ex.alf mil médico José Pratas. Vamos fazer referência a cada uma delas.


2. A historiadora Maria José Tíscar, no seu livro "A PIDE no Xadrez Africano: Conversas com o Inspector Fragoso Allas", Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 191/192), revela a identidade de dois comerciantes portugueses, que terão sido "informadores da PIDE", um deles o comerciante Rodrigo José Fernandes Rendeiro, que alguns de nós conhecemos em Bambadinca.

Já aqui publicamos a sua história, que não vamos repetir (**)

 Das conversas da autora com o antigo inspetor Fragoso Allas, vem à baila um outro nome , o do Mário Soares, estabelecido em Pirada, na fronteira com o Senegal. 

Contrariamente ao Rendeiro, que terá tido problemas logo a seguir ao 25 de Abril, pela sua ligação à PIDE/DGS, o  Mário Soares ficou na Guiné independente mas terá "caído em desgraça" e sido expulso do país, um ano e tal depois, em novembro de 1975, segundo a investigadora Maria José Tíscar. 

Há também aqui uma divergência quanto ao nome: António Mário Soares ou Rodrigo Mário Soares (como o chamava o nosso Carlos Geraldes) ?


3. Outra versão é a  do José Manuel de Almeida Ferreira Pratas, que entre o final de 1971 e fins de 1973 prestou serviço militar no CTIG,  como alferes miliciano médico, tendo sido colocado inicialmente em Pirada,  sede do BCAV 3864 (**)

É autor do livro "Senhor médico, nosso alferes: Guiné, os anos de guerra" (Lisboa, By the Book, 2014), de que o Beja Santos fez uma recensão, e de cujo poste reproduzimos os seguintes excertos:

(...) "Vemo-lo em primeiro lugar em Pirada, o que dá motivo para exaltar os seus colaboradores que não tinham mãos a medir para atender aos doentes daquele ponto do Leste onde diariamente chegavam senegaleses. Discreteia sobre as doenças tropicais, fala da sua própria doença, das suas relações litigiosas com oficiais superiores, um capitão execrável e capelães que pairavam sobre a realidade.

"Em Pirada, tinha um agente da PIDE na vizinhança, bom para seviciar e intimidar, o Carvalho, substituído pelo senhor Pereira que tinha farroncas mas com as flagelações termia como varas verdes.

"Também em Pirada vivia Mário Soares, com quem Pratas conviveu, pode aperceber-se como o Soares intermediava entre o PAIGC e as autoridades portuguesas, houve encontros secretos à mesa da sua sala de jantar ou no respaldo das cadeiras de lona. Tinha acesso privilegiado às informações da PIDE, ascendente junto das redes de informadores locais, geria com astúcia o assédio e a adulação das autoridades locais. Reflete sobre o drama deste protagonista entre dois campos em confronto: 

“O tempo corria em seu desfavor, porque a guerra no terreno se perdia em cada dia que passava e era facilmente previsível a derrota da teimosia de Lisboa. No seu relacionamento com a tropa, este europeu, porventura o branco mais africano que conheci, só a muito custo conseguia refrear os impulsos beligerantes das chefias militares, sedentas de ação, indisponíveis, por dever de ofício, para tolerar diplomacias paralelas de que muitas vezes é feita uma guerra de guerrilha”.

"E veio a independência e mais problemas para Mário Rodrigues Soares: 

“Poucos dias depois seria preso e enviado para Bissau. Ter-lhe-á valido a intervenção de Alpoim Calvão, que intercedendo a tempo junto do novo dono do Palácio do Governo, o terá arredado da mira das armas de um pelotão de fuzilamento. Deportado, chegou a Lisboa com a roupa suja que ainda trazia vestida, para ser detido de imediato no aeroporto da Portela pelo COPCON e arbitrariamente preso em Caxias sem culpa formada. Libertado sem julgamento, ultrapassou tranquilo todas as prepotências e perdoou com indiferença aos mandantes e funcionários do PREC”. (...) (***)

Não sabemos depois o resto da história de vida do Mário Soares... Vou tentar contactar o nosso camarada José Pratas, médico, gastrenterologista, que prestou funções no SNS, e hoje aposentado, e que privou com o nosso homem, tal como outro alf mil médico,o  Manuel Valente Fernandes, ex-alf mil médico do BCAV 8323 (Pirada, 1973/74). Falaremos dele e do seu conhecimento do Mário Soaresm num próximo postes. (Acrescente-se, a título de inconfidência, que o dr. Manuel Valente Fernandes foi aluno do nosso editor Luís Graça, no curso de especialização em medicina do trahalho, da ENSP / NOVA).
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16 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20861: (De)Caras (126): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal ? Um "agente duplo" ? - Parte II (Depoimento do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)

15 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20858: (De)Caras (125): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal ? Um "agente duplo" ? - Parte I (Depoimentos do embaixador Nunes Barata, e do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)

(**) Vd. poste de 3 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17929: (D)o outro lado do combate (16): O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP , permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dandum, segundo Maria José Tístar, autora de "A PIDE no Xadrez Africano: conversas com o inspetor Fragoso Allas", Lisboa, Colibri, 2017 (pp. 191/192)

(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14206: Notas de leitura (675): “Senhor médico, nosso alferes”, por José Pratas, By the Book, (www.bythebook.pt, telefone 213610997), 2014 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20883: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (12): os sítios que ficaram por visitar...



Petra, Jordânia, s/d, dezembro de 2016 > "A saída em Aqaba, com a estrada de 110 quilómetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo" .(*)

Foto (e legendas): © António Graça de Abreu (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Três camaradas da Guiné, a bordo do MSC - Magnifica:
da esquerda, para a direita, António Graça de Abreu, José Vinhas
e Constantino Ferreira. Já convidámos o Vinhas a integrar a
nossa Tabanca Grande...
Foto: Constantino  Ferreira (2020)
1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19. O navio chegou ontem, com um "avanço" de uma semnana: era pressuposro só chegar ao ponto de partida em 29 deste mês, depois de repetir o percurso de circum-navegação do grande Fernão de Magalhães, um português de Sabrosa que ofereceu os seus serviços ao rei de Espanha...


Com a devida vénia, reproduzimos aqui a última crónica do António Graça de Abreum, disponível na página do Facebook 
do Constantino Ferreira:



2. Estes são os textos a intercalar nos outros textos (**), nestas datas, sobre os locais que não visitámos.


Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico,
20 de Março de 2020




Esta manhã, não fora o pavor causado pelo vírus que se aproxima de nós, toca, entranha e mata, estaríamos a desembarcar na ilha de Pins, na Melanésia Francesa. 

Fui ver as imagens na net. A ilha, linda de morrer, não de pandemia, mas de felicidade.




Em navegação, Sul da Austrália, Mar Antártico, 

21 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o desespero causado pelo virus, etc., estaríamos em Numea, capital da Nova Caledónia. Enseadas, penínsulas e praias, recifes de coral, vegetação exuberante, histórias. 

Nao vi nada, não posso contar nada.



Em navegação, Sul da Austrália, Oceano Pacifico,

24 de Marco de 2020



Esta manhã, nao fora o medo causado pelo virus, etc., estaríamos em Cairns, Austráalia, diante da Grande Barreira de Coral, uma das maravilhas do mundo. Haveria mares esmeralda, jardins aquaticos, peixes tropicais, corais em catadupas, mais uma cidade de entusiasmantes lugares a oferecer ao turista de passagem. Tudo, uma miragem.


Em Navegação, Australia Ocidental, 

mar de Fermantle, Oceano Indico, 

26 de Marco de 2020


Esta manhã, não fora o pasmo causado pelo vírus, etc., estaríamos em Alotau, Papua, Nova Guiné, uma pequena ilha com areais mágicos e vegetação exuberante, onde aconteceram sangrentas batalhas entre japoneses e norte-americanos, na II Guerra Mundial. 

Deu para ver imagens de Alotau, no monitor do computador, fechado no remanso triste do navio.



Em navegação, Australia Ocidental,

mar de Fermantle, Oceano Indico,

29 de Marco de 2020



Esta manhã, não fora o sufoco causado pelo vírus, etc., estaríamos em Doini Island, Papua, Nova Guine, outra ilha de cortar a respiração a gente saudável, espaços maravilha, com praias de cair para o lado, ou seja, cair para dentro das lagunas de água tépida e nadar como um principe. 

Nem sequer em sonhos consegui entrever a ilha de Doini.




Em navegação, Oceano Indico,

31 de Marco de 2020

Esta manhã, nao fora o sofrimento causado pelo vírus, estaríamos na cidade de Darwin, a ver enormes crocodilos do mar passeando pelas avenidas, a lembrar que as ainda nossas aparentadas gentes de Timor vivem aqui ao lado. 

Não vi Darwin, nem Timor. Só vi mar e mais mar, céu sobre mais céu, mais nada.




Em navegação, Oceano Indico,

2 de Abril de 2020



Esta manhã, nao fora o horror causado pelo vírus, etc., estaríamos a pôr o pé na ilha de Komodo, famosa pelos seus dragões, uns enormes repteis molengões, creio que inofensivos para os homens que se passeiam por tudo quanto é sítio, na ilha. 

Gostava de ter feito uma festa (pode-se?) aos simpáticos e repelentes animais, mas o Magnifica navega já por outros mares, a mais de dois mil quilómetros da Indonésia.




Em navegação, Oceano Indico, 

4 de Abril de 2020


Esta manhã, não fora a catástrofe causada pelo vírus, etc., estaríamos no segundo dia de estada em Bali, aquele lugar excelente a que os portugueses chamaram ilha das Flores, com praias de cristal, bailadeiras formosas, uma profusão de exotismos, enfim, uma Indonésia doce à nossa espera. 

Eu é que continuo a esperar sentado pelo dia de pôr o pé em Bali.




Em navegação, Oceano Indico,

5 de Abril de 2020

Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo virus, etc., e estaríamos a desembarcar em Singapura. 

Estive lána outra Volta ao Mundo, por isso, desta vez, seria o revisitar da fantástica cidade e a ida aos dois museus que ficaram por conhecer na outra viagem, o Museu das Civilizações Asiáticas, o Louvre da Asia. 


Nenhum cheiro de Singapura me chegou trazido pela brisa maritima.





Em navegação, Oceano Indico, 

8 de Abril de 2020

Capa do famoso livro de aventuras
"Sandokan,. o tigre da Malásia",
um livro que povoa a nossa infância...
Cortesia de Wook.

Esta manhã, não fora a angústia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Port Kelang, o porto que serve Kuala Lumpur. Tinha possibilidade de ir dar um abraço ao Sandokan, o Tigre da Malásia, meu amigo desde os meus doze ou treze anos. Trago de Italia, para lhe entregar, uma carta escrita por outro bom amigo dele, o Emilio Salgari, mas informaram-me que, por causa do vírus, o Sandokan se refugiou no seu reduto, a ilha de Mompracem, e passa os dias aconchegando-se nos bracos da sua dulcissima Mariana. Precisava de um helicópetro para ir ao seu encontro mas, no navio, só há botes salva-vidas.

Ficaram por beber uns valentes copázios de chá da Escocia, o velhissimo whisky que Sandokan costuma reservar para dias especiais com os seus melhores amigos.



Em navegação, mar Vermelho,

12 de Abril de 2020


Esta manhã, nao fora a desgraçaa causadas pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Colombo, Sri Lanka. Deja vue, há uns anos atrás, a cidade não me impressionou. Tem crescido bastante, com arranha-céus construidos com capitais chineses. Acabei por ter pena de não a ter revisitado. 


Quem me garante que, desta vez, não iria encontrar elefantes a passear em jardins floridos ou macacos a viajar em tuk tuks coloridos?


Em navegação, Canal do Suez, 

15 de Abril de 2020



Esta manhã, não fora a tragédia causada pelo vírus, etc., estaríamos a desembarcar em Bombaim, ou Mumbai, a maior cidade da India, com 23 milhões de habitantes. 


Como pude comprovar em 2016, Bombaim tem gente a mais, confusão a mais, lixo a mais. A India costuma ser um país que se ama ou se detesta. Eu não sou por uma coisa, nem por outra. Por isso é melhor não emitir opinião sobre terras que mal conheço.



Em navegação, mar Mediterrâneo,

19 de Abril de 2020


Amanhã chegamos a Marselha e cumpriremos a Volta ao Mundo, toda a circum-navegação do globo. Vimos com dez dias de avanço em relação à data prevista para a conclusão da viagem que aconteceria em Civitavecchia, Itália, a 29 de Abril.

Por causa de pecados que não cometemos, acabamos por não tocar em ene portos e viemos fechados no Magnifica, sem pôr pé em terra, desde Wellington, Nova Zelândia, de onde partimos no dia 10 de Março. 


Vamos cumprir um mês e vinte e um dias de viagem directa, desde a Nova Zelândia até Françaa, cerca de 16 mil quilómetros, É obra! Poucos navios se dão a estes luxos.

Nos dias finais da longa jornada, passaram-nos ao lado mais duas escalas que faziam parte do itinerário inicial, Salalah, no sultanato de Oman e Aqaba, Jordânia, que da acesso à fabulosa cidade fantasma de Petra, outra das sete maravilhas do mundo. 


Ai vão umas tantas palavras sobre estes dois lugares que tive a felicidade de conhecer em outras viagens:

No que a Salalah diz respeito, a sua não visita não tera sido uma grande perda. Em 2016 o sultanato de Oman não me entusiasmou. Salalah tem um grande porto para exportação de gás natural, uma montanha escalavrada no topo da qual se encontra o túmulo do profeta Job, do Antigo Testamento, reverenciado por cristãos, judeus e muçulmanos, mais uma cidadezinha desinteressante apesar do palácio do sultão, tem praias desérticas e o deserto a tudo rodear. Salalah sera lugar para desdobrar o olhar, pouco entender e seguir viagem.

Já a saída em Aqaba, com a estrada de 110 quiloéetros até Petra e descida para a impressionante cidade perdida na bruma dos séculos, vale quase meia Volta ao Mundo. 


Estive em Petra em 2008 e 2016, com passagem pelo deserto de Wadi Rum. Na primeira viagem encontrei o Lawrence da Arábia, aliás Sir Thomas Edward Lawrence, inglês de extracção, árabe de coração, que me serviu de guia na cidade rósea de Petra e depois, com uns amigos árabes, bebemos um chá no deserto de Wadi Rum.

Desta vez, 2020, nem cicerone, nem magias, Foi Mar Vermelho, mais Mar Vermelho, sempre em frente, para norte. Tinhamos à nossa espera um ansioso mar Mediterrâneo.


António Graça de Abreu

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 24 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19042: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIX: Petra, Jordânia, com o Lawrence da Arábia como cicerone, e o Indiana Jones como guarda-costas...


(**) Último poste da série > 20 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20881: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (11): Enfim, Marselha, porto de abrigo, fim de um cruzeiro de sonho no "annus horribilis" de 2020

Guiné 61/74 - P20882: Parabéns a você (1791): António Branquinho, ex-Fur Mil Inf do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20876: Parabéns a você (1790): António Joaquim Oliveira, ex-1.º Cabo Quarteleiro da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20881: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (11): Enfim, Marselha, porto de abrigo, fim de um cruzeiro de sonho no "annus horribilis" de 2020




MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo >  20 de abril de 2020 > Chegada a Marselha, "porto de abrigo", fim de  cruzeiro...Amanhã dois autocarros trazem os  26 portugueses até casa... Entre eles, os nossos camaradas António Graça de Abreu, José Vinhas e Constantino Ferreira (1ª foto, de cima, da esquerda para a direita. Em baixo, o cartaz do MSC Magnífica a anunciar a chegada ao porto de Marselha, com uma belíssima citação do escritor chileno Luís Sepúlveda (1949-2020), que acaba de morrer, há 5 dias atrás, na cidade de Oviedo, vítima de COVID-19: "Somente sonhando e sendo fiéis aos sonhos, seremos melhores e, se formos melhores, o mundo será melhor"...

Fotos (e legenda): © Constantino Ferreira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) e António Graça de Abreu ), ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), estão a escrever o seu "diário de bordo", nesta viagem de volta ao mundo. O MSC - Magnífica teve, entretanto, de apressar o seu regresso ao ponto de partida (, Marselha), devido à pandemia de COVID-19. O navio chegou hoje, estava programado só chegar a 1 de maio.

Com a devida vénia, reproduzimos aqui a última crónica do Constantino Ferreira, inserida na sua página do Facebook:


Segunda feira, 20 de abril de 2020, 9h26 > De novo  no porto de Marselha!

Cá estamos, de novo no porto de Marselha.

Foi daqui que partimos, no dia 6 de Janeiro deste Ano horribilíssimo de 2020.

Foi aqui, que acabámos de atracar ás seis horas da madrugada, neste mesmo porto de Marselha, neste dia de 20 de Abril de 2020, depois de meia volta ao mundo fantástica, pela Rota de Magalhães, até chegarmos á lha da Tasmânia na Austrália.

Pois aí, em Hobart o tristemente célebre “coronavirus” já lá tinha chegado, a seis pessoas.

A decisão do comandante e das autoridades da Austrália,foi de não visitarmos a cidade, e, assim perdemos a oportunidade de vermos ao vivo, o mamífero marsupial batizado com o nome de “Diabo da Tasmânia”!

A partir daí, parámos e atracamos em muitos portos, como: Sidney, Melbourne, Perth, Colombo e Suez, mas nunca mais fomos autorizados a pôr os pés em terra.

Mas hoje, vamos começar a sair; primeiro os Franceses que são cerca de mil, mais os Belgas, Holandeses, Alemães, Suecos e Dinamarqueses, enfim todos os do norte da Europa.

Amanhã dia 21, todos os restantes, incluindo nós, os Portugueses, que somos 26, e aqui teremos amanhã dois autocarros vindos de Portugal, alugados por nós, para nos levarem para a nossa Pátria Amada!

Por hoje, não digo mais nada, ou melhor! Não escrevo mais nada. Mas, mais tarde, escreverei o que falta contar.

Até lá temos que nos cuidar, para que esse “malvado” do coronavírus não se propague, por este nosso Mundo fóra!

Mas temos que acreditar na Ciência, que certamente irá conseguir lançar uma “vacina” antes deste próximo Outono.

A esperança não morre!

A primeira fotografia é já em Marselha, onde já estava atracado, mesmo aqui em frente, o navio Costa Smeralda.

As outras fotografias, são as últimas que publico desta Viagem de Volta ao Mundo, aqui concluída neste porto de Marselha.

[Publicaremos amanhã um texto do António Graça de Abreu, com as pequenas crónicas sobre os locais que não visitaram, desde 20 de março a 19 de abril de 2020]
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