terça-feira, 21 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22560: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVII: Itália,Veneza, 2016






Itália, Veneza, 2016


1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74]. (*)
 

Veneza, Itália, 2016

por Antóni0 Graça de Abreu

[ Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem cerca de 290 referências no blogue.]


Veneza em 1995, de novo em 2016. Os homens e eu na caminhada breve, célere pala correnteza dos anos, o burgo permanecendo, quase igual, há seis séculos flutuando tranquilo no esplendor do tempo.

O engenho das gentes levantando sumptuosos palácios, esplendorosas igrejas, torres altas, pontes rendilhadas em terras pantanosas, tudo sobre estacarias mergulhadas na lagoa.

Da última vez, acordo de madrugada na cidade Sereníssima. Abro a janela do quarto da pequena hospedaria, um abraço a Veneza no respirar da bruma. Os alvores da manhã, a luz difusa, a silhueta de palácios e pontes, uma barca com legumes no canal. No meu quarto, no leito tépido, dorme ainda o corpo despido de uma bela mulher, voluptuosidade branda ao nascer o dia.

Luminosidade no passeio pela cidade. Gôndolas e gondoleiros, na proa das barcas, o ferro estilizado, as seis paróquias, as três ilhas, a ponte de Rialto, o ondular do Grande Canal mais navegar em Giudecca. Tudo poético, a gôndola rasgando as águas ao de leve, ao sabor do remo e da brisa.

Marco Polo, veneziano, a ditar na prisão de Génova o seu libro delle mararaviglie. os mares, os portos e as estranhas gentes. Entender os povos, a China distante, todo o mundo.

O também veneziano António Vivaldi levita ainda em águas verdes, em concertos, sonatas, nas quatro estações. A música, o beijo nos canais e no vento. O padre Vivaldi, o petre rosso, não oficiava missas, mas acompanhava-se de mulheres formosas. Já Giacomo Casanova, outro veneziano, não foi clérigo, nem militar, tão pouco músico, tocava muito mal violino, mas tangia igualmente o feminino, adorava mulheres, viagens e chocolate. Preso na sua Veneza, foi condenado a cinco anos por deboche, magia, livros proibidos. Do tribunal dos doges para a fétida enxovia, na diminuta ponte ouviam-se suspiri. Ano e meio depois, com o padre Balbi, outro grande pecador, Casanova empreendeu uma fuga recambolesca pelos telhados do cárcere. Logo depois, um oloroso café na praça de São Marcos. Refugiado em França, como Cavalieri di Seigalt, Madame Pompadour encontrou-o na ópera de Paris e, informada das aventuras de Casanova em Veneza, perguntou-lhe:

-- Então, vem lá de baixo?

O libertino, apontou o dedo pecaminoso para o céu e respondeu:

-- Não, venho lá de cima.

No cemitério, na ilha de de San Michele, os túmulos de Stravinsky e de Ezra Pound. Música, poemas, pássaros de fogo. Também gostava de ser enterrado aqui.

[Texto e fotos recebidos em 17 de agosto de 2021 ]. 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 14 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22541: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XVI: Ilha de Mykonos, Grécia, 2018

Guiné 61/74 - P22559: Parabéns a você (1991): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (CART 494 / COM-CHEFE do CTIG e COP 5 (Ganjola, Gadamael, Bissau e Guileje, 1963/73) e José Macedo, ex-2.º Ten Fuzileiro Especial do DFE 21 (Bissau, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de Setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22543: Parabéns a você (1990): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/QG/CTIG (Bissau, 1968/70)

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22558: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XIII: o fatídico dia 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos, no Mato Cão


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67)  > Estrada que atravessava a bolanha depois de Mato Cão  quando se vinha de Missirá para Enxalé



Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) > Ao meio, o furriel de transmissões, à direita de costas, o capitão Pires e à esquerda o fur mil op esp António dos Santos Mano, que irá morrer em 6/10/1966, na sequência de uma mina A/C, na estrada Missirá-Enxale.


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) >Embora não possa pôr as mão no fogo sobre a sua exactidão, creio que foi este o Unimog  da coluna de 6 de outubro  que vinha a Missirá  a Enxalé. Eu estou nesta  foto ( em pé, o 3º da esquerda) que me parece ter sido tirada um dia quando eu estava em Missirá  antes do Zagalo .   

Fotos ( e legendas): © João Crisóstomo (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



João Crisóstomo
(a viver em Nova Iorque desde 1977)


1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé,
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história”
como eu a lembro e vivi
(João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte XIII: Um dia fatídico, 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos


Depois de 9 Set 1966 (o ataque a Enxalé):

Haverá com certeza muito a lembrar sobre a vida e actividades da CCaç 1439 depois do ataque a Enxalé. Recordo apenas de ter ficado surpreendido e consternado que o IN tivesse tido a coragem de vir atacar a própria Sede da Companhia, onde, pensávamos, estávamos bem seguros.

Lamentavelmente nem eu (mea culpa, mea culpa) nem ninguém mais teve o cuidado de pôr algo em papel para memória desses dias que se seguiuram e portanto nada mais me resta do que continuar esta “história da CC1439” como se tudo continuasse como antes e este ataque não tivesse acontecido. 

De facto, as várias minas de que fomos vítimas, a seguir, o ataque a Missirá e outros acontecimentos levam-me a concluir que este ataque a Enxalé é evidência de que o IN se sentia cada vez mais à vontade para se aproximar das NT, intensificar os seus ataques e aumentar o seu campo de acção. Foi isso que senti e mais tarde vim a confirmar ao ler o primeiro livro de Beja Santos ,“ Diário da Guiné, na Terra dos Soncó”.


Dia 23 de Setembro de 1966

Copio à letra o relatório:

(...) " Um grupo de combate da CCaç 1439 participou na Op Girândola que consistiu numa acção ofensiva na mata de Belel. As NT detectarm um acampamento IN o qual se encontrava abandonado. Foram destruidas as casas de mato e culturas, No regress as NT foram emboscadas duas vezes não tendo sofrido qualquer baixa." (...)

Não posso dizer as datas, mas sei que entre as muitas lacunas deste relatório contam-se muitas “patrulhas de reconhecimento” que fazíamos, e que não chegavam a receber o termo pomposo de “operações”. Umas fáceis e outras “menos fáceis”. 

Lembro de várias vezes termos permanecido , como que emboscados junto de picadas suspeitas de serem usadas pelo IN. Lembro de ter uma vez descansado ao fim do dia com a minha cabeca em cima de uma pedra antes de tomarmos posições para passar a noite junto a uma picada ; não sei se foi nesta mesma ocasião ou foi noutra em que fiquei numa depressão de terreno ( talvez fosse mesmo terreno de bolanha, não sei) e eu fiquei com água pela cintura, quase louco de frio,  esperando que o dia chegasse depressa e não aparecesse ninguém na picada.

Um destes casos, que não constam deste relatório, aconteceu nos dias 4 e 5 de Outubro. E creio que o efectivo das NT neste dia não era de um simples pelotão mas bem maior . A razão de eu lembrar este caso e não outros deve-se ao seu relacionamento com o dia fatídico de 6 de Outubro.



Guiné >Zona Leste> Sector L1 > Bambadinca > Estrada Enxalé-Missirá > Sítio do Mato Cão > 6 de Outubro de 1966 > Cratera povocada por uma mina A/C cuja explosão provocou a morte do Soldad Manuel Pacheco Pereira Junior, da CCaç 1439. Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3kg) ficaram no Cemitério de Bambadinca, Talhão Militar, Fileira 2, Campa 1, Guiné-Bissau. NO regresso de Missirá, a mesma coluna accionou outra mina A/C que decepou a perna do Fur Mil Op Esp António dos Santos Mano, acabando por morrer.

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Dia 6 de Outubro de 1966, um dia fatídico

Copio à letra o que consta no relatório: e escreverei depois “a minha versão” como as coisas se passaram, baseado na minha memória, por vezes bem fresca sobre casos como este, e também na memória de outros com quem tenho falado sobre o assunto.

(...) "As NT acionaram dois engenhos explosivos quando se efectuaram duas colunas, uma vinda de Missirá (para) Enxalé, e outra ao encontro da primeira. Os engenhos explosivos encontravam-se em pequenas poças de água, embora se tivesse os cuidados julgados necessaries na picada da estrada.

"Resultados dos dois engenhos explosivos:

Dois Unimogs destruidos
Uma espingarda G3 perdida em virtude de ter sido projectada para o Rio Geba.

Baixas sofridas pelas NT:

Furriel Mil António dos Santos Mano ( morto em combate) (**)

Soldado 203/65 Manuel Pacheco Pereira Jr. ( morto em combate) (***)

Furriel Mil ( Mec Auto) Octávio Albuquerque da Silva ( ferido)

1º cabo 7316565 Manuel Abreu Velosa 

1º cabo 3456665 José Firmino Quintal 

Soldado 9311265 Ernesto Camacho Rodrigues 

Sold 7317965 Manuel Correia

Sold 5974165 Francisco de Freitas Timóteo 

Sold 1011265 Manuel de Sousa Mendes

1º Cabo 9271565 José Ilídio Andrade Gouveia .

Soldado 8356465 Manuel Alves Junior

Sold 9805565 Agostinho Gerardo 

Sold cond auto  2630164 José Maria Mendes 

Sold cond auto5140464 Jerónimo Gonçalves Sadio 

Caç Nat Contratado Pucha Nanan, ferido

Foi detectado na região de Mato Cão uma armadilha antipessoal a qual foi destruida. Foi distinguido nesta acção o soldado telefonista 2642365 Júlio Martins Pereira, louvado pelo Cmdt Militar e condecorado.

Este foi um dia fatídico e traumático para todos e que todos mais ou menos lembram imediatamente quando se fala dele.

O Alferes Zagalo estava destacado neste momento em Missirá e precisava de reabastecimentos. Sabendo que o pessoal em Enxalé estava exausto e não podia fazer uma coluna para o abastecer, resolveu vir ele mesmo a Enxalé buscar o que precisava. A sua coluna constava de um jipe e um Unimog, com todo o pessoal que estes podiam transportar.

Antes de chegar a Mato Cão o Unimog pisou uma mina anticarro escondida numa poça de água. O jipe tinha-se desviado para evitar essa poça, precaução que o Unimog não teve.

Os resultados podem-se avaliar pelas fotos e pelo número de mortos e feridos. Entre estes o Furriel Mano. Como o Unimog vinha superlotado , ele vinha em cima do Unimog mas com a perna de fora e veio a falecer no local antes da chegada do helicóptero.

Houve ainda um outro morto, José Moreira, caçador nativo “contratado” e uma dezena de feridos, alguns deles com muita gravidade que foram evacuados para Bissau. A situação era desesperada e nem meios de comunicações para pedir auxílio tinham. Pelo que o soldado de comunicações Júlio Pereira que felizmente não estava ferido, pegou na sua G3 a tiracolo e foi a correr vários quilómetros , sujeitando-se a ser apanhado pelo IN em direcção a Finete, na margem do Geba, oposta a Bambadinca.

Aqui ,com a ajuda do pessoal amigo desta tabanca, conseguiu passar o Geba numa canoa e chegar a Bambadinca onde lhe facultaram um rádio para chamar os helicóperos e avisar Enxalé do sucedido.

 Em Enxalé esperávamos passar esse dia como um dia de descanso .O pessoal da Companhia tinha acabado de regressar duma dura saída ao mato ( embora nada conste no relatório) e estávamos todos exaustos. E de manhã ouvimos ao longe um estrondo, mas não fazíamos idéia do que fosse. Passado o que me perece ter sido mais de um hora recebemos notícia de que a coluna do Zagalo tinha sofrido uma mina, havia feridos e que os helicópteros já estavam a caminho.

Ficamos todos preocupados, incluindo o capitão Pires. Quando este disse que era preciso ir ao encontro da coluna para ajudar o Zagalo, eu ofereci-me. Ele aceitou logo e disse-me: “Eu sei que o pessoal está todo estafado. Pega em todo o pessoal de serviços que ficaram no quartel (nos dois dias anteriores) e vê se arranjas mais alguns voluntários. Se não arranjares voluntários, diz-me que eu arranjo-os."

Assim fiz e depois de ter dados instruções a todo pessoal de serviços, antes de perguntar a outros por voluntários,   eu chamei o meu pelotão, certo de que haveriam alguns que iriam comigo. Foi para mim uma sensacão tremenda quando, logo após eu ter dito o que precisava, eles barafustavam como se eu os tivesse ofendido; que não havia um nem dois e que iam todos . “O que é que o nosso alferes está a pensar da gente?” ouvi o “Figueira” a dizer para os outros .

E assim fomos, picadores à frente, um Unimog vazio a seguir e o resto da coluna atrás , caminhando tão ligeiro quanto possível. A região de Mato Cão é uma passagem muito perigosa: a estrada passa perto do Geba e do lado esquerdo há uma colina. Era sempre com o coração nas mãos que aí passava.

Por isso ao passar a bolanha que precede Mato Cão, já perto deste eu disse ao furriel Lopes: "Olha, Lopes, isto é mesmo um bom sítio para uma emboscada; eles sabem ( o IN) que a gente (ao ouvir o rebento duma mina) não deixa de vir e são capazes de estar à nossa espera. Pega na tua secção, sobe e faz um reconhecimento pela esquerda". 

Ele assim fez e a coluna continuou; e depois, logo passada a bolanha, de repente houve um grande estrondo e o Unimog deu um salto pelos ares. A mina, como o que sucedeu com a coluna do Zagalo, estava dentro duma poça de água e não foi detectada pelos picadores.

Imediatamente nos deitámos nas redondezas do buraco e do Unimog destruido, prontos a responder, mas nada sucedeu. E depois de algum tempo respirei fundo; ao fim e ao cabo podia ter sido muito pior, pensei eu: perdeu-se o Unimog, mas o importante é que não há mortos nem feridos. E não me recordo do que sucedeu a seguir, e o que foi o resto do dia, mas imagino (agora) o que terá sido para todos quando soubemos da morte do furriel Mano e dos vários feridos.

De volta no Enxalé, no dia seguinte fez-se a formatura geral de manhã. E parecia estar tudo certo, até que quando foi chamado o nome do Manuel Pacheco ( conhecido de todos como o Açoriano por ser dos Açores e o único soldado que não era madeirense) ele não respondeu. Perguntei se alguém o tinha visto ou se alguém sabia onde ele estava e foi então que alguém disse : "Quando o vi ontem a última vez ele estava a caminhar junto do Unimog… com certeza por não ter ouvido as intruções do furriel Lopes a cuja secção ele pertencia, ele estava junto do Unimog quando a mina rebentou"…

Imediatamente voltamos ao local (recordo que o Alferes Henrique Matos que estava naquele dia em Enxalé decidiu ir connnosco ) . Reproduzo o testemunho que sobre este momento ele deixou neste blogue, referindo-se ao Manuel Pacheco: no dia 10 de maio de 2008, poste P 2830 (***):

(...) "Quando digo pulverizado é o termo que melhor descreve a situação, pois sou um dos que andou à procura de restos do corpo e apenas encontrámos pequenos fragmentos de ossos com que fizemos um embrulho que pesava poucos quilos. Tem a sua campa em Bambadinca, como se pode ver na relação do Marques Lopes (...). A G3 dele nunca mais se viu, pensando-se que terá voado para o Geba que passa a não muitos metros de distância."

Mais informa ainda no poste P15998 (**), referenciando o lugar da sua sepultura: (...) "Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3 kg) ficaram no cemitério de Bambadinca, talhão militar, fileira 2, campa 1, Guiné-Bissau".

Como já está dito foram momentos tristes e difíceis estes,  em que com todo o respeito fomos juntando o que restava do nosso querido ‘Açoriano'. Lembro também o momento em que os seus restos sairam depois do Enxalé, num caixão normal, como se dentro estivessem uns restos mortais completos.

Durante esta busca pelos seus restos mortais e pela G3 que desapareceu , e que deve ter sido projectada com tanta violência que atingiu o Geba , mesmo ao lado da estrada, veio-se a descobrir uma mina antipessoal. A nossa sorte foi que alguém viu um fio, suspeitou e …lá estava uma mina, que foi destruida no mesmo momento.

16 e 27 de Outubro:

O relatório menciona a seguir três operações neste mês de Outubro de 1966:

Operação Grude a 16 de Outubro, 
Operação Grisu a 16 de Outubro 
Operação Giesta, a 27.

As três são descritas como “patrulhas de reconhecimento fluvial e terrestre ao longo do Rio Geba.” Sem qualquer acontecimento digno de nota. Mas há com certeza engano nas datas pois, tendo nós os forças divididas/destacadas em Missirá e Porto Gole, além de não podermos deixar Enxalé sem protecção, não me parece que fosse possível fazer duas operações no mesmo dia.

(Continua)

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Guiné 61/74 - P22557: Notas de leitura (1382): “Mare Nostrum”, por João Paulo Oliveira e Costa; Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2013 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
O historiador João Paulo Oliveira e Costa é hoje um nome de referência obrigatória nos estudos da Expansão Portuguesa. Juntou neste trabalho "Mare Nostrum" as suas tomadas de posição quanto ao relevo que deve ser dado ao reinado de D. Afonso V e como este foi um galvanizador do processo expansionista. O seu trabalho enfatiza a formação do aparelho central da administração ultramarina e aí se confirma que a Guiné foi a primeira peça desse aparelho, lança nomes e refere estratégias. Para que conste, o estudo da Guiné Portuguesa bem merecia que uma equipa de historiadores reelaborasse tudo quanto se tem vindo a escrever, dando à estampa uma obra com novo sopro e dimensão mais ampla a trabalhos anteriores, muitos deles profundamente desatualizados.

Um abraço do
Mário



A Guiné na formação da administração ultramarina no século XV

Beja Santos

A obra “Mare Nostrum”, por João Paulo Oliveira e Costa, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2013, é uma coletânea de ensaios de um historiador, professor catedrático e diretor de Anais de Histórias de Além-Mar, com extensa obra, e reconhecido como cientista de mérito. Como o investigador escreve na introdução, “A primeira parte desta obra reúne estudos sobre a intervenção da Coroa no império emergente. Analisei as origens da Expansão, os primórdios dos Descobrimentos e o modo habilidoso, mas firme, como o reino de Portugal se apropriou do mar oceano, é um fio da História a partir do governo de D. Afonso V. Apresento-vos uma imagem do monarca bem diferente da que é propalada pela maioria dos autores, um monarca empenhado no alargamento do poder marítimo de Portugal”.

O historiador parte da premissa de que os portugueses foram pioneiros na exploração do Atlântico devido à localização geográfica, da precoce definição das suas fronteiras e de terem beneficiado do desinteresse de outras potências europeias, que estavam envolvidas em guerras de fronteira ou em processos de centralização política que as impediam de desafiar o oceano. Estuda a nobreza nos primórdios da Expansão e recorda que até meados do século XV a Coroa permaneceu quase à margem da expansão marítima: “Embora a viagem que desencadeou os Descobrimentos tivesse ocorrido em 1434, no início do reinado de D. Duarte, este faleceu pouco depois, num momento em que as atenções do país estavam concentradas em Marrocos e nas consequências na campanha que D. Henrique comandara desastradamente contra Tânger, em 1437”.
D. Afonso V dará uma atenção especial ao processo expansionista. Nos anos 1450, a despeito dos privilégios do Infante D. Henrique, o infante enviou navios seus à Guiné e instituiu pelo menos um oficial régio relacionado com oso negócios africanos. Assim, em 1453 enviou três caravelas suas à Guiné; em 12 de abril de 1455 criou o cargo de “recebedor de todos os mouros e mouras e quaisquer outras coisas que vierem da Guiné” e atribuiu-o a Fernão Gomes. É muito provável que o nomeado fosse o mesmo indivíduo que mais tarde, em 1468, arrendou o comércio da Guiné à Coroa.

E o historiador continua:
“A criação deste ofício mostra-nos que a Coroa já intervinha nos negócios na Guiné, apesar do articulado da carta de 1443, que dera o exclusivo da navegação e do comércio a D. Henrique e que fora confirmada pelo africano, em 1448. O envio da expedição de 1453, a criação do ofício de recebedor, em 1455, e a doação, em 1457, ao infante D. Fernando, irmão do rei e herdeira da Casa de Viseu, de quaisquer ilhas que este fizesse descobrir no oceano parecem significar que os privilégios de D. Henrique terão sido alterados ligeiramente nos últimos anos da sua vida. Note-se ainda que pelo menos em 1451, a Coroa confirmara uma autorização dada pelo infante a um particular que ia negociar à Guiné. Com efeito, a 5 de fevereiro desse ano, a Coroa emitiu uma carta de seguro em que ‘tomava em sua guarda e especial encomenda’ a Abraão de Paredes, judeu, portador de uma licença do infante D. Henrique para ir negociar à costa da Guiné.
A 30 de setembro de 1459, o rei nomeou Diogo Borges, escudeiro da Casa Real, para o cargo de ‘recebedor do trato da Guiné’. A designação do cargo não é a mesma do original, mas tudo leva a crer que correspondesse exatamente às mesmas funções. Importa ainda assinalar que no caso de Diogo Borges, a documentação é clara quanto ao seu estatuto de membro da baixa nobreza, integrado na Casa d’el-Rei. Começava a definir-se um modelo de nomeações para os cargos relacionados com a administração ultramarina que repetia as práticas que a Coroa já seguia para os ofícios ligados ao governo do reino”
.

Adiante, o historiador Oliveira e Costa explana o que foi o início da administração régia da Guiné. Falecido o Infante D. Henrique, Diogo Borges é nomeado em fevereiro de 1461 ‘tesoureiro do trato da Guiné’. Por outras palavras, a Coroa deixava de receber apenas uma fatia dos proveitos obtidos na Guiné para passar a controlar diretamente a ação dos portugueses na região. Em 1462, Pedro Afonso é nomeado como ‘vedor da Fazenda das partes da Guiné’. Há nomeações, na mesma época, para o trato de Arguim.
Descreve o historiador:
“Entretanto, persistia o envolvimento dos mercadores algarvios nos negócios da Guiné. Num documento de fevereiro de 1464, encontramos referência a Pedro de Sintra, escudeiro da Casa Real, que desempenhava o cargo de ‘recebedor das coisas da Guiné que se arrecadam no Algarve’. A Casa de Viseu continuou a manter uma importante máquina administrativa ultramarina, pois conservava o governo das ilhas atlânticas. Além disso, o Duque tinha pelo menos um oficial ligado diretamente ao trato da Guiné; a 23 de novembro de 1461, Pero de Barcelos, então escudeiro da Casa Ducal, exercia o cargo de ‘recebedor das vintenas da Guiné’, cargo que conservaria pelo menos até 1497. Para os primeiros anos da gestão direta da Coroa sobre a Guiné não conhecemos outras referências a cargos relacionados com a administração dos negócios da Guiné, mas o número de oficiais ligados a esta atividade era seguramente maior. Talvez já estivesse então em funções Pedro de Alcáçova, escudeiro da Casa Real, que a 14 de dezembro de 1468 é referido como ‘escrivão da Câmara d’el-Rei e da Fazenda da Guiné’.”

O progresso da exploração da costa africana provocou a criação de um novo ofício, recorda o historiador. Gil Eanes foi ‘tesoureiro e feitor do trato da Guiné’, ele era Cavaleiro da Casa do Príncipe. “O caso de Gil Eanes é particularmente interessante pois nos anos em que exerceu o cargo a Coroa confiara ao príncipe a administração do comércio da Guiné. Fernão Lourenço, por sua vez, começou por ser designado ‘tesoureiro e feitor da Casa da Mina e tratos da Guiné’, e a 13 de setembro de 1501 passaria a ser designado como ‘tesoureiro e feitor dos tratos da Guiné e de todos os tratos da Guiné, Mina e de Sofala e das ilhas’.”. No seu trabalho, o autor também refere os cargos judiciais e a evolução deste aparelho administrativo decorrente do crescimento do império. Não resta dúvida que a Guiné foi a primeira parcela do continente africano a merecer as atenções da constituição do aparelho administrativo ultramarino. Mais adiante, Oliveira e Costa refere os problemas da missionação e lembra que D. João II procurou estabelecer uma série de alianças, tentando criar estados-satélites unidos a Portugal por uma religião comum. A primeira tentativa foi com o Bemoim, antigo rei dos Jalofos. Este foi batizado em Palmela, falou-se na construção de uma fortaleza junto do rio Senegal. Mas D. João Bemoim foi assassinado pelo capitão-mor da Armada, a fortaleza não se concluiu.
E vale a pena ouvir o autor quando procede ao balanço deste império português em meados do século XVI:
“O império português era uma entidade dinâmica, era um império marítimo que começava a desenvolver uma lógica de domínio terrestre.
Até 1521 predominara uma geoestratégia adequada ao mundo medieval. As áreas descobertas no final de Quatrocentos e início de Quinhentos haviam sido concebidas essencialmente como meios de enriquecimento rápido, e também como pontos de apoio que permitiriam alcançar velhos objetivos, como o da Grande Cruzada contra a Mourama”
.

Recorde-se que toda esta lógica foi ultrapassada com a viagem de circunavegação, com as descobertas do continente americano e a fragilidade de meios que levou à diluição da presença portuguesa na Senegâmbia, uma constante até ao século XIX.


Brasão de armas da Guiné, extraído do relevo da fachada do Banco Nacional Ultramarino, na Rua do Ouro, obra da década de 1960.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22539: Notas de leitura (1381): "No mato ninguém morre em versão John Wayne, Guiné o Vietname português", por Jorge Monteiro Alves; LX Vinte e Oito, 2021 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22556: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte V: Ordem de serviço, nº 279, de 28 de novembro de 1970, pp. 3, 4 e 5




1. Mensagem de João Rodrigues Lobo [ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971): fez o 1º COM, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa; vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital; membro nº 841 da Tabanca Grande.]

Date: sábado, 3/07, 23:07 | Subject: Contributos para o blog.

Como combinado começo a enviar o que julgo serem alguns contributos pessoais para o blog, embora um pouco personalizados.

Duas Ordens de Serviço de Maio e Novembro de 1970, cujos originais me foram dados por nelas constar o meu nome, mas que revelam um pouco do que foi o BENG 447, e o que foi por este Batalhão construído.

De notar que a primeira é assinada pelo Major Engº João A.Lopes da Conceição e a segunda pelo Tenente Coronel Engº João António Lopes da Conceição.(*)







Cópia da Ordem de Serviço nº 279, de 28 de novembro de 1970, do BENG 447, pp. 3, 4 r 5 )pp. 1397/8/9)

2. Comentário do editor LG
:

Em relação ao art. 5º da página 1397 (Cópia de sentença), destaque-se o seguinte, por mera curiosidade: a 4 militares do BENG 447, dois cabos e dois soldados, foi instaurado procedimento criminal pelo TMT  (Tribunal Militar Territorial) da Guiné por alegadamente , "em acção conjunta e de comum acordo", em 4 de julho de 1969, a bordo do N/M "Rita Maria", terem subtraído fraudulentamente os seguintes artigos:  

(i)  nove caixas de vinho no valor de 1687$00 (escudos),  o equivalente, a preços de hoje, a 518,25 €;

(ii) nove pacotes de 72 caixas de fósforos cada um, no valor de 178$64 (o equivalente hoje a 54,88 €).

Trata-se de um simples "fait-divers" ou dá para entender um pouco melhor o que era a "justiça militar" de então ? Claro que um "roubo" era/é sempre um "roubo"... 

Não sabemos o desfecho deste caso: o João Rodrigues Lobo guardou cópia desta Ordem de Serviço, de 28 de novembro de 1970, por nela constar a atribuição, à sua pessoa, da Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné... E estava já em fim de comissão. 

Mas é possível que os alegados quatro autores do "surripianço" de 54 garrafas de vinho e de 648 caixas de fósforos da "despensa" do N/M "Rita Maria", propriedade da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, do Grupo CUF,  tenham recebido o "castigo exemplar": provavelmente ficaram mais uns meses na Guiné, até pagarem a totalidade da indemnização que era devida aos donos dos bens "surripiados"...LG

domingo, 19 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22555: Blogpoesia (748): "Palavras coloridas"; "De novo, no bar motocas" e "O meu voo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Palavras coloridas

Minhas palavras sejam balões coloridos a voar por esses ares acima.
Voem longe, brilhem ao sol.
Derramem encanto e esperança
Aos olhos que as contemplem
Ou sonhos de alegria aos mais tristes que houvera.
Me devolvam consolação
Para minha ânsia a soluçar.
Sosseguem meu coração
Nas horas negras de acordar.
Que suas cores garridas amortalhem minha vida
Até minha hora de morrer.


Berlim, 12 de Setembro de 2021
16h9m
Jlmg


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De novo, no bar "motocas"

Mesmo com chuva seu encanto é total.
Aqui continuam as mesmas pessoas do costume.
Os "motocas" todos empoeirados aqui estão.
Cavaqueando descontraidamente suas agruras e tristezas.
A natureza tem o mesmo encanto de sempre.
As árvores revestidas de chuva transmitem bem-estar.
Tantas recordações por aqui esvoaçam.
Somos clientes há uns bons aninhos...


Bar dos "motocas"15 de Setembro de 2021
14h45m
Jlmg


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O meu voo

Agora é tão baixinho o meu voo.
Parece que perdi o fôlego de voar.
Se foram aqueles rasgos que me levavam às alturas.
É fraco o meu élan.
Voo raso ao chão frio e seco.
Mas sinto em mim a esperança da chuva
Que me inspire neste inverno
Já que não é a primeira vez...


Berlim, 16 de Setembro de 2021
17h14m
Jmendes Gomes

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22537: Blogpoesia (747): "Sou um chorão..."; "Meu lar" e "Sei dum rio - Camané", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P22554: Agenda cultural (784): Foi dia de festa na Tabanca dos Melros, em Fânzeres, Gondomar, o dia 11, em que o António Carvalho lançou ao mundo o seu livro - II (e última) Parte: registe-se com agrado o apoio que "O Bando do Café Progresso" deu ao nosso novel escritor


Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > Sessão de autógrafos > O autor, o Zé Manel Cancela (Penafiel) e o Eduardo Moutinho dos Santos (Porto).



Foto nº  2> Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > Eduardo Campos (Maia) e Manuel Carmelita (Vila do Conde)


Foto nº 3 > Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > Mais dois dos nossos grã-tabanqueiros: o José Ferreira da Silva, escritor, do outro lado do rio (Crestuma), e o Zé Manel Lopes (Règua), o poeta Josema, a quem une uma  grande amizade com o António Carvalho, conforme ele lembrou na apresentação do livro: "Se algo positivo essa guerra, a da Guiné, nos deixou, foi o nascer de amizades que nem a morte pode acabar. É uma amizade cimentada por momnetos muito difíceis e de uma solidariedade imensa. Em 26 meses vivemos muitas emoções em conjunto".



Foto nº  4> Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > À esquerda, o nosso Zé Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos à conversa com o Zé Manel da Régua.



Foto nº  5> Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > As nossas queridas amigas... Da esquerda para a direita, Margarida Peixoto (Penafiel), Joaquina Carmelita (Vila do Conde), Carminda  Cancela (Penafiel),  e Luisa Valente Lopes (Régua)




Foto nº  6> Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > A Luisa Valente Lopes  (Régua) e a Ana Carvalho (Medas / Gondomar), filha do António Carvalho.



Foto nº  7 >  Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > Almoço > Mais uma linda perspetiva da "degustação dos aperitivos" debaixo da grande latada de vinho americano (ou morangueiro, ou seja, um "produtor direto") que dá o célebre "vinho doce" ainda muito apreciado na região pelos mais velhos (, embora a sua produção, comercialização e consumo... sejam proibidos).


Foto nº  8> Gondomar > Fânzeres > Tabanca dos Melros > 11 de setembro de 2021 > Lançamento do livro do António Carvalho, "Um caminho de quatro passos" > Almoço > Aperitivos > Em primeiro plano, da esquerda para a direita: Eduardo Moutinho dos Santos e Eduardo Campos. E segundo plano, Luís Graça (Tabanca de Candoz).


Fotos (nº 6): © Fernando Súcio (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fotos (nºs restantes): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Segunda ( e última) parte do relato da sessão de apresentação do livro do nosso amigo e camarada António Carvalho (Medas / Gondomar) (*), É de lembrar, com regozijo, a presença de 8 dezenas de amigos e camaradas do autor. 

Não foi a reportagem (fotográfica) que eu gostaria de ter feito, por causa das minhas limitações de mobilidade. Houve outros camaradas, membros da Tabanca Grande, com quem falei e não registei em fotografia, como por exemplo o médico Rui Vieira Coelho ou o António Barbosa, de Gondomar, que veio acompanhado de dois netos. Mas tive o prazer de conhecer dois dos nossos "periquitos", o Joaquim Costa (Fânzeres / Gondomar) e o Manuel Oliveira (Vila Nova de Gaia).

Estive à mesa, ao almoço, e conversei longamente com o Zé Teixeira e o Eduardo Moutinho Santos. E gostei de rever o Gil Moutinho, régulo da Tabanca dos Melros. Registo com agrado o apoio que os "bandalhos" (os membros de "O Bando do Café Progresso") deram ao seu camarada, o "bandalho" António Carvalho, a começar pelo Ricardo Figueiredo, que não esteve presente e que escreveu no prefácio:

(...) "Conheci o António Carvalho, no Grupo do Café Progresso das Caldas à Guiné – um grupo de antigos combatentes da Guiné, de que ambos fazemos parte – que religiosamente se encontra, desde pelo menos o ano de 2007, às segundas quarta - feiras de cada mês, para uma reunião de “trabalho”  gastronómico e cultural, onde o exercício da catarse é feito de forma coletiva e em que a camaradagem se aprofunda cada vez mais, sublimando a amizade construída nos campos de batalha." (...) (**).

Pela minha parte foi um prazer ter dado também o meu pequeno contributo para fazer deste evento a festa que o António Carvalho (e Medas) merecia.

PS - Recorde-se que o livro pode ser adquirido, ao preço de 15,00 euros (portes incluídos, no território nacional ou estrangeiro). Os pedidos devem ser dirigidos ao autor, António Carvalho:

Email: ascarvalho7274@gmail.com | Telemóvel: 919 401 036
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sábado, 18 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22553: Os nossos seres, saberes e lazeres (468): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (16) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2021:

Queridos amigos,
Só muito crescidinho é que passei a visitar este palácio onde é marcante a influência italiana na arquitetura, que passou a ser habitado por D. Luís e a sua família, mais tarde adaptado a museu e biblioteca. Se nas pinturas do teto, na magnificência dos seus soalhos, há sinais evidentes de décadas de decoração anteriores a 1862, é bem claro que coube a Maria Pia de Sabóia o papel de refinar o gosto do espaço habitado pela família real. Tenho tido a sorte de ir vendo ao longo das décadas intervenções de grande qualidade, há cada vez mais espaço recuperado, é um gosto ir ao site do Palácio e de estudar as suas publicações, todas elas de grande qualidade. O que penso que falta para estimular visitas mais frequentes é uma forma de captar a atenção para o espaço da biblioteca e dos jardins, a visita convencional é só aos espaços interiores do palácio, todos ganharíamos se se desse uma possibilidade ao visitante de visitar mais. Agora há que aguardar por novembro, pela inauguração do Museu do Tesouro Real.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (16)

Mário Beja Santos

A partir dos meus 12 anos, sobretudo nos fins de semana ensolarados, a minha mãezinha que Deus tem organizava passeios culturais e era inevitável a visita a museus, igrejas, capelas, havia a descrição das praças, até da Cerca Fernandina. E consigo guardar memória de visita ao Museu Nacional de Arte Antiga em que a Baixela Germain estava bem encardida, os tapetes puídos no Museu de Arte Contemporânea, até a Igreja de São Roque não era credora das cuidadas intervenções que tem hoje. E lembro-me perfeitamente de ela me ter dito que era o cabo dos trabalhos ir visitar o Palácio Nacional da Ajuda, que não estava aberto ao público. Pus mãos à obra, fui ler uma descrição de Norberto Araújo sobre o Palácio Nacional da Ajuda numa edição do então Secretariado de Propaganda Nacional (que teve a sua vitalidade entre meados dos anos 1930 e princípio dos anos 1950, transmudou-se em SNI). O palácio era então museu e biblioteca. O ilustre olisipógrafo refere os antecedentes, um palácio existiu no século XVIII e depois as inúmeras adaptações introduzidas na segunda metade do século XIX, passou a ser uma residência real permanente a partir de 1862. Vestíbulo com 47 estátuas de estilo italiano, fatura de artistas portugueses, centenas de salas e de dependências. O palácio, por essa época, era lugar de algumas receções e cerimónias de grande gala. Ali tinha sido recebido Alberto da Bélgica, acompanhado do príncipe Brabante, o futuro Leopoldo III. Enumera os Salões dos Arqueiros, do Porteiro da Cana, do Dossel, da Espera, do Despacho, da Música, de Mármore, de Sax, os Salões Vermelho, Verde e Azul, a Sala de Jantar, a Sala do Trono, o Salão de D. João V, a Sala do Corpo Diplomático, dos Embaixadores. Conclui dizendo que todas estas divisões guardam numerosos objetos de arte e um rico mobiliário. E seguidamente descreve a importantíssima biblioteca que ainda hoje não é de fácil acesso, mas que é património magnífico. Peguei seguidamente no guia do palácio organizado por Isabel da Silveira Godinho, data de 1988, era ela diretora do monumento nacional. Fala-nos da Real Barraca que antecedeu o projeto arquitetónico interrompido com a ida da família real para o Brasil, diz-nos quais as residências da família real enquanto decorrem os trabalhos do palácio e ficamos a saber que coube a Joaquim Possidónio Narciso da Silva, arquiteto da Casa Real, a decoração e a organização de todos os espaços destinados ao casal D. Luís e D. Maria Pia de Saboia. Mesmo com a chegada do casal continuaram os trabalhos de decoração, a rainha era infatigável, fizeram-se inúmeras encomendas e daí o visitante ser hoje deslumbrado com uma imensidão de obras de arte e rutilantes artes decorativas da segunda metade do século XIX. A rainha Maria Pia ficou sempre a viver no palácio, na companhia do Infante D. Afonso, o rei D. Carlos vivia nas Necessidades usando exclusivamente o Palácio da Ajuda para as cerimónias oficiais. Com o Estado Novo, o palácio foi transformado em museu e só mais tarde é que abriu ao público. Serve este preâmbulo para indicar que ao longo dos últimos anos tenho vindo a apreciar excelentes intervenções, algumas delas obras de mecenato, tetos repintados, substituição de tecidos, restauro de obras. O visitante entra pela Porta dos Arqueiros, segue-se a Sala do Porteiro de Cana e depois a Sala das Tapeçarias Espanholas, antiga Sala de Audiência, aqui se encontram tapeçarias executadas seguindo o desenho de Francisco Goya, oferecidas pela Coroa Espanhola por ocasião do casamento do futuro D. João VI com Carlota Joaquina de Bourbon. A sala tem vindo a sofrer alterações, seguramente que aqui se realizaram algumas receções de pompa, não é por acaso a enorme quantidade de cadeirões.
Surpreendem as sedas, os adamascados, as tapeçarias, há uma sala de passagem com retrato do rei D. Carlos pintado por Malhoa, segue-se a Sala do Despacho, muito provavelmente os salões seguintes têm sido objetos de redecoração, será o caso da Sala de Música, onde se davam concertos de música de câmara, vemos violoncelos e uma harpa, há o retrato de D. João VI a cavalo, vitrinas com peças decorativas das coleções de D. Luís e D. Maria Pia. No centro um piano de cauda. E passa-se para a antiga câmara de dormir de D. Luís, vou comparando as diferenças entre 1888 e a atualidade, o que se pode dizer é que tem havido muita intervenção e muito restauro, porventura muito rigor na colocação do mobiliário e dos objetos, de acordo com a lógica de quem dele usufruiu ao seu tempo.
Percorrem-se mais umas salas, as denominadas Salas Azul, em carvalho, o Jardim de Inverno, a Sala de Sax e a Sala Verde, a Rosa, para ser sincero com o leitor, sei que algumas estão para obras e outras estavam fechadas, assim se chegou à Sala de Jantar da Rainha e depois à Sala de Bilhar, não me lembro de ter visto o Ateliê de Pintura do rei D. Luís, sei que em dado momento entrei num vasto corredor que me levou ao andar superior, aí me aguardava o grande fausto. Antes, porém, estive na capela de D. Maria Pia, tudo em estilo neogótico, tudo muito severo, mas tocante. Não queria deixar de falar do Quarto da Rainha D. Maria Pia, pejado de quadros de membros da sua família, mobiliário riquíssimo, em ébano, a cama com baldaquino, tudo muito ao estilo de Napoleão III, no baldaquino em madeira dourada e esculpida temos as armas da rainha.
A idade já não ajuda a dar o máximo de atenção às salas com motivos chineses, com estilo império, com tapeçarias Gobelins, há sala de receção do corpo diplomático, havia notícia de restauros recentes na Sala do Trono, para ali avancei. Como se pode ver, é uma sala de grandes dimensões, ocupa o espaço que corresponde ao Torreão Sul do palácio. O teto é magnífico, consta que a intenção dos pintores foi exaltar a Majestade, o Rei D. Miguel. A sala é iluminada por um grande lustre em cristal e bronze cinzelado, de 180 velas, não faltam jarrões alemães e chineses, é patente a pompa e circunstância e daqui vou diretamente para a Sala de Banquetes, também imponente pelas suas dimensões e decoração, teto com uma alegoria ao aniversário do nascimento do rei D. João VI, é neste espaço que ainda hoje se dão banquetes de Estado. E creio que o leitor, caso ainda não tenha apanhado a fase dos últimos restauros, fique com a curiosidade acicatada para se ir deslumbrar com estes últimos faustos da monarquia que o sistema republicano não desdenha em determinadas solenidades.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22534: Os nossos seres, saberes e lazeres (467): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (8) (Mário Beja Santos)