sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26241: Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...(responde um guerrilheiro do PAIGC, capturado, ferido, quando ela lhe perguntou o que lhe fariam os seus camaradas se o avião caisse e ela fosse apanhada à unha...): uma história de (†) Maria Ivone Reis, enfermeira paraquedista, maj ref graduada


Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras paraquedistas Maria Arminda e Maria Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto: Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato (trata-se de antigo oficial paraquedista do BCP 12 e BCP 12).



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira paraquedista no meio dos "Lassas"... Muito oportunamente o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (1968/70), identificou-a como sendo a Maria Ivone Reis (Em 1968 era graduada em tenente, reformou-se com o posto de posto de major)


Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A Maria Ivone Reis pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961, curso esse que é também o da Maria Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira, e agora a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas (é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).(*)

As outras quatro Marias eram a Céu (Policarpo), a Lourdes ("Lurdinhas"), a Nazaré (†) e a Zulmira (†). Sobre a Maria Ivone Reis temos 33 referências no nosso blogue:

(i) conclui em 1958 o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria;

(ii) começou a trabalhar em 1959, no hospital da CUF;

(iii) fez o curso de enfermeira paraquedista em Tancos, em junho-agosto de 1961;

(iv) na Força Aérea, nos paraquedistas, já havia mulheres, civis, na parte administrativa,  informa-nos ela;

(v)  a relação com os paraquedistas foi sempre  muito cordial;

(vi) partiu para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda;

(vii) esteve 3 vezes na Guiné: em 1963, 65 e 69;

(viii) o seu maior desgosto foi o de ter sido saneada em  17 de abril de 1975, no Hospital da Força Aérea onde trabalhava (e onde voltou mais tarde, depois de reintegrada).

Mas voltemos à sua experiência como enfermeira paraquedista:

(...) "No quartel nós podíamos sair do avião, mas na zona de combate nós não devíamos sair do avião ou do helicóptero. Era uma circunstância de muito risco. Se houvesse ataque do inimigo o helicóptero teria de levantar voo imediatamente ficando a enfermeira em terra em grande risco, sem meios nem ambiente para tratar dos feridos. Eventualmente fizemos isso em situações muito excecionais, bem medidas, porque podia tornar-se um altruísmo muito arriscado para a vida dos outros. 

"Nesse aspeto é muito importante a questão do medo, porque ajuda ao raciocínio e ao controlo. O importante é perceber como controlar o medo, para termos oportunidade de perceber a razão do medo e para que possamos ultrapassá-lo." (...)

A história que se segue é sobre isso mesmo: como lidar com o medo e a consciência do risco... Em todas as profissões de risco ou de maior risco, o profissional tem que criar mecanismos de defesa contra a ansiedade, a angústia, o medo de falhar, de cometer,  de ter um acidente, de ser capturado, de morrer, etc. As enfermeiras paraquedistas estão nessa lista das profissões de risco. 

A história merece figurar na série "Humor de caserna"... A autora não pondera a hipótese de o avião cair e ela morrer, mas sim, a de ser capturada pelo inimigo... E racionaliza, e muito bem: "Sou enfermeira, mas também sou mulher: não me vão fazer mal, posso ser muito útil para tratar os seus feridos...". 

Mas depois é confrontada com a opinião de um guerrilheiro (nunca lhe chama "turra", como era corrente na Guiné; curioso o nome, Armand, devia ser do outro lado, da Guiné-Conacri ou do Senegal, é um nome francófono)...


Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...

por Maria Ivone Reis (1929 - 2022)



A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



Sempre estive bem consciente de que o trabalho que executava quando fazíamos evacuações sanitárias, tinha alguns riscos. Estes eram elevados e bem patentes quando elas eram feitas desde os locais de combate. Mas, mesmo nos outros casos, o simples facto de sobrevoarmos zonas por vezes controladas pelo inimigo, incutia em nós alguma sensação de insegurança.

 Naqueles momentos, e enquanto olhava para a paisagem que lá em baixo ia passando sobre os  meus olhos, pensava em muitas coisas... 

Uma, recorrrente, era: "O que me fariam os guerrilheiros, se o avião fosse abatido, e nós  feitos prisioneiros ?".

Pensava muito na minha condição de mulher, que talvez agravasse a situação. Mas, por outro lado, tinha esperança de que, pelo facto de ser enfermeira e os guerrilheiros saberem que nós também tratávamos dos seus feridos, me não fariam qualquer mal.

Por conveniência ou não, quanto mais pensava nisto mais me convencia de que eu beneficiaria dessa proteção pelo simples facto de ser enfermeira!

Até que um dia as minhas dúvidas se  desfizeram!

Uma vez, na Guiné, quando socorria um guerrilheiro que estava ferido e que tinha sido capturado, perguntei-lhe se, por acaso um dia o meu avião caísse no meio do mato com enfermeiras a bordo, se eles nos fariam mal. Eu tinha a ilusão  de que ele diria que nenhum mal nos aconteceria.

Então o Armand   – era assim que ele se chamava   abriu muito os olhos e respondeu-me:

– Não caia, senhora, não caia!

E ali acabaram as minhas ilusões sobre tal assunto!


Fonte: Excertos de Ivone - "Aspetos humanos da nossa atividade: Não caia, senhora...". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág.333  (com a devida vénia) (Imagem à direita, a seguir: Capa do livro)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)


Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra,  editora literária,  18 são Marias...): 

Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.

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Notas do editor:

(*) Vd., postes de:^

18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1929-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

16 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23267: In Memoriam (435): Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022), falecida no dia 15 de Maio de 2022

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

26 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961

5 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

20 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26240: Notas de leitura (1752): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
O que este autor nos permite conhecer é que a ocupação é débil, os efetivos militares irrisórios, as rebeliões eclodem aqui e acolá, muitas vezes associadas à recolha do imposto da palhota; a indefinição das fronteiras vai permitindo a intromissão da França e dos seus comerciantes, com todos os inconvenientes de uma presença portuguesa sempre diluída; Abdul Injai, a quem se prometera um regulado no Oio, anda por ali a roubar e matar, é deportado para S. Tomé, regressará e pôr-se-á ao serviço de Oliveira Muzanty nas operações do Cuor, será mesmo nomeado régulo desta região, onde também provocará desgraça; o governador Soveral Martins deixou currículo minguado na Guiné, ao contrário de Muzanty que se lança em operações militares e, como veremos adiante, com resultados seguros; haverá a expulsão de negociantes estrangeiros; há um ministro que decide mandar vadios para a Guiné e propõe a criação de um quadro de polícias para os vigiar, parece um quadro de revista.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (5)

Mário Beja Santos

Convém recordar que Oliveira Muzanty fizera parte da delegação portuguesa para a delimitação de fronteiras em 1904. Teve a oportunidade de revelar a sua valentia quando alguns régulos se recusaram a colaborar, as tropas francesas reagiram com 50 atiradores senegaleses que intimaram os insubmissos. Oliveira Muzanty foi atacado perto do Cabo Roxo, a coluna de Oliveira Muzanty e do seu colaborador, o tenente Fortes, reagiram com sucesso, e a missão de demarcação de fronteiras continuou.

Estamos agora na governação do capitão Carlos d’Almeida Pessanha, tomou posse em fevereiro de 1905, Lapa Valente, o governador interino, e em diferentes momentos, é posto em causa sobre a sua tomada de posição sobre o regime de concessões de terrenos; Almeida Pessanha não teria as mesmas preocupações que Lapa Valente relativamente a companhias estrangeiras. Escreve para Lisboa dizendo que a Guiné seria por muito tempo um encargo para a metrópole. A Guiné tinha “suficientes elementos próprios de desenvolvimento”, mas era preciso aproveitá-los devidamente; caso contrário “as vizinhas possessões francesas sufocar-nos-ão; é mister, portanto, que, feita a delimitação, saibamos aproveitar o pouco que nos resta da Senegâmbia".

A cobrança de impostos de palhota decorria sem grandes atritos. Alegando razões de saúde, Almeida Pessanha parte para o reino, Lapa Valente, Chefe do Estado-maior, assume novamente o cargo de governador interino. Restabelece-se o comércio no Oio, aparentemente estavam dissipadas as mais graves hostilidades. Ocorrem desacatos na Costa de Baixo, Lapa Valente denuncia a sua impossibilidade de acorrer em ajuda dos comandantes militares. A força militar da província resumia-se ao tempo a 157 oficiais e praças, 23 em Bolama, 24 em Farim, 15 em Bissau, 12 em Geba, 10 em Cacheu, 1 em Buba e 4 em Cacine. O governador interino aproveita para tecer as suas considerações quanto às guerras havidas em Bissau, Oio, Jufunco e Churo, não houvera ocupação das regiões batidas, agravara-se a situação económica da província, era tudo difícil na praça de Bissau e nulo o domínio no Oio, no Jufunco e no Churo. Almeida Pessanha regressa e parte pouco depois. É por este tempo que Abdul Injai obriga a tomar medidas. Era um chefe seruá, tinha servido como auxiliar na campanha do Churo, fora-lhe prometido um regulado no Oio, região que ele atacava por meio de razias, nas suas operações roubava e matava os indígenas. Almeida Pessanha manda-o prender, será enviado para S. Tomé, no início da governação de Oliveira Muzanty. Acontece que por ocasião da visita do príncipe real D. Luiz Filipe àquela província, em junho de 1907, Abdul recebeu do príncipe permissão para regressar à Guiné, irá então auxiliar o mesmo Oliveira Muzanty nas campanhas de Badora e Cuor, vindo a ser por este feito régulo do Cuor.

Temos agora a governação de Oliveira Muzanty, é nomeado em 8 de junho de 1906, tinha terminado havia pouco chefiar a comissão de delimitação de fronteiras, possuía um bom conhecimento da província. O novo governador tinha o propósito de dotar a administração de um caráter mais acentuadamente civil, decide que os seis comandos militares iam ser substituídos por residências, queria uma companhia de atiradores indígenas, o esquadrão de dragões indígenas e a companhia mista de artilharia de montanha foram extintos.

Muzanty começa a preparação das operações militares, requisita, logo no início de 1907, 250 carabinas Kropatcheck e 250 mil cartuchos. Volta a expulsar Graça Falcão, que andava a envenenar os régulos da região de Cacheu. Este turbulento ex-alferes viaja para Lisboa com bilhete de ida e volta. Tendo sido notada hostilidade na receção dos impostos na ilha Formosa, forma-se uma expedição, morre o régulo e o feiticeiro, queimam-se palhotas, pouco depois os habitantes das povoações queimadas apresentam-se pedindo perdão.

Acontecimento maior tinha sido a brutalidade com que o régulo Infali Soncó tratara o comandante militar de Geba, Muzanty escreve para Lisboa dizendo que não tinha possibilidade de tomar medidas por dispor apenas de 30 a 40 praças, não havia uma canhoneira a funcionar, era fundamental dar uma lição a Infali Soncó (régulo do Cuor), pede uma força de 500 praças europeias durante um período máximo de 4 meses e apoio de canhoneiras. Antes de partir para Lisboa elabora um relatório em que critica querer-se substituir uma soberania efetiva fazendo manobras com os variados elementos indígenas. Havia que ser exemplar nas atitudes de insubmissão, os maus-tratos a que fora sujeito o comandante militar de Geba impunham uma lição muito séria.

Em junho de 1907 ocorre um facto insólito, chega à Guiné um grupo de vadios, o ministro recomenda que eles sejam distribuídos pelas várias circunscrições e presídios na proporção que o governador entendesse. O pior é que o ministro quer enviar mais vadios para a Guiné, a oposição em Bolama é total. Em setembro, agrava-se a situação na região do Geba, o régulo de Badora revolta-se e alia-se ao régulo da região do Cuor, cortam a linha telegráfica de Bafatá a Buba. As relações entre o Governo e a Companhia Francesa da África Ocidental e Comércio Africano degradam-se. Enquanto isto se passa, Muzanty trabalha em Lisboa na organização de uma grande expedição à Guiné, é projetada a sua realização de janeiro a maio de 1908, conta-se com uma força expedicionária, duas companhias europeias de infantaria, uma bateria de artilharia e uma companhia da Marinha. Em Lisboa fazem-se contas ao custo da operação, uma campanha prevista em três fases: operações na ilha de Bissau, no Oio, e contra os povos Manjacos da Costa de Baixo, previa-se a maior resistência no Oio. Houvera como que um esquecimento para a importância das operações no Geba, sem perda de tempo, logo que regressar à Guiné, Muzanty prepara uma expedição que liquida qualquer resistência na região do Xime, fica ainda por resolver o problema do régulo do Cuor. É então que se prepara um conjunto de operações na região revoltada de Quínara, haverá muito tiroteio, em Lisboa pede-se a Angola para formar uma companhia indígena para destacar para a Guiné, sem resultado, quem vai fornecer uma companhia indígena será Moçambique. A situação em Lisboa é perturbada pelo regicídio que ocorreu em 1 de fevereiro de 1908. Continuam os preparativos para as operações, as fundamentais serão as da margem direita do rio Geba, é nessa altura que entra em cena José Rodrigues de Mello, veio de Cabo Verde e passará à história como o primeiro fotógrafo militar português, todo o seu trabalho na Guiné está consagrado em livro.


Armando Tavares da Silva
Imagens tiradas pelo primeiro fotógrafo militar português, José Rodrigues de Mello
Régulo de Fulas e seus Ministros
Teatro de Bolama
Costume de europeus estrangeiros. Aperitivo (antes do jantar)

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26213: Notas de leitura (1750): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26226: Notas de leitura (1751): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26239: Facebook...ando (68): Na morte de Lúcia Bayan, que disse numa entrevista: "Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador" (Ana Archer)

1. Excerto de postagem de Ana Larcher, na sua página do Fcebook, 26 de novembro às 15:05 (com a devida vénia):

Acabo de saber a tristíssima notícia que nos deixou uma grande amiga, a Lucia Bayan (foto à esquerda: cortesia de Fumaca.pt, podcast de jornalisno de investigação).

Uma pessoa boa, de sorriso sempre aberto e coração puro, sempre pronta a ajudar os outros, como sabem os muitos amigos que tem. 

Uma investigadora de excelência, de um rigor raro, que dedicou a sua vida ao estudo do sistema político e do povo Felupe na Guiné-Bissau. Acima de tudo, a sua vida foi movida por um compromisso profundo para com o povo Felupe e para com a Guiné-Bissau.
 
Tentando encontrar um pouco de sentido neste momento de tamanha tristeza, reli alguns dos textos da Lúcia e encontrei esta entrevista em que ela diz:

"Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador. 

"E realmente ainda hoje só continuamos a ouvir a história do caçador. É mesmo o caçador que continua a dar os nomes às coisas e a decidir o que fazer. O caçador, hoje em dia, acaba por decidir o destino do mundo em peso. E pior do que tudo: o leão sente-se castigado sem ter nada feito."

A sua missão era mesmo essa, contar a história pela perspetiva do leão. E tenho a certeza que o seu trabalho vai continuar a inspirar muita gente, muitos investigadores, e que será semente de mudança. (...) (**)


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26198: Facebook...ando (67): Joaquim Gregório Rocha, da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72): participou na trágica Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970), era do 4º pelotão (do fur mil Cunha, uma das vítimas mortais), vive em França e manifestou, há dois anos, interesse em integrar a Tabanca Grande

Guiné 61/74 - P26238: Os felupes que eu conheci (1): O valente soldado Dudu: Bolama, 1969 (Carlos Fortunato)

n


Guiné > Arquipélago Bolama - Bijagós > Bolama > Centro de Instrução Militar > 1969 > O Carlos Fortunato, fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13, e o recruta felupe Duda.


Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Seria uma pena o fabuloso "baú" do Carlos Fortunato, com as coisas & loisas da Guiné, se perder... Referimo-nos nomeadamente à página na Net, Guiné - Os Leões Negros, que esteve alojada no Sapo, até há uma dúzia de anos. Foi depois descontinuada (o "Sapo" tirou o tapete a quem "viajava" de borla...), mas felizmente foi salva, sendo capturada pelo  Arquivo.pt. 

De vez em quando eu  gosto de a revisitar e vou lá repescar algumas das "pérolas literárias" do Carlos  (fizemos juntos a viagem para a Guiné no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, ele foi para a futura CCAÇ 13, Bissorã, e eu para a CCAÇ 12, Bambadinca; regressámos, de novo, juntos, no T/T Uíge, em 17 de março de 1971; "sãos e salvos", e com o "bichinho" da Guiné; "Guiné - Os Leões Negros", uma página ou porta, que não é um blogue, criada em 2003, é, cronologicamente, mais antiga que o nosso blogue, de 2004).

Mas dos felupes eu não sei nada. Só conheci um, na 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga e Bambadinca, o João Uloma. Em boa verdade, era o felupe mais famoso do meu tempo. E poucos de nós andaram lá pelo seu chão, no noroeste da Guiné (São Domingos, Varela, Susana...). Está na altura de juntar alguns escritos sobre esta mítica etnia da Guiné, mal conhecida (e mal amada), que nos tempos que correm está seriamente ameaçada, pelas alterações climáticas e pela pressão demográfica, na sua identidade, modo de vida e território (*).

Há cerca de um centena de referências no nosso blogue aos Felupes.



Carlos Fortunato, em Bissau, 2006.   
Foto: Arquivo do Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné



Os felupes que eu conheci (1) > O recruta Dudu, em Bolama, 1969




O recruta africano que surge na foto é Dudu, 2º comandante de um pelotão de milícias felupes, o 1º comandante chamava-se Ampánoa. 

Foram enviados para Bolama, para serem treinados por nós e integrado nas forças regulares, mas não irão integrar a nossa companhia, a CCAÇ 13, pois regressarão à sua região em Varela (região de Cacheu).

Adversários temíveis os felupes, possuem elevada estatura e grande robustez física. São referidos como praticantes do canibalismo no passado, são coleccionadores de cabeças dos seus inimigos que guardam ou entregam ao feiticeiro, e usam com extraordinária perícia arcos com setas envenenadas.

 

Embora se assegure que o canibalismo pertence ao passado, não era essa a opinião das restantes etnias, as quais referem igualmente que estes fazem os seus funerais à meia noite, pendurando caveiras nas copas das árvores, e dançando debaixo delas.

O felupe é conhecido como pouco hospitaleiro para com as restantes etnias, pelo que existe da parte destas um misto de animosidade e desconhecimento.

Os felupes são igualmente grandes lutadores, fazendo da luta a sua paixão. Este desporto tão vulgarizado nesta etnia, prende-os, empolga-os, constituindo o mais desejado espectáculo.

Este grupo de felupes é famoso pela sua combatividade, a qual não conhece fronteiras, fazendo incursões frequentes no Senegal.

O felupe da foto, Duda, ficaria gravemente ferido após o seu regressos a Varela, segundo me contou num encontro que tive com ele em Bissau. Um estilhaço de roquete entrou-lhe na cabeça pela testa, num inesperado encontro frente a frente e a curta distância com uma patrulha do PAIGC, em que se atirou para o chão para evitar o disparo do guerrilheiro que lhe apareceu pela frente. Apesar de atingido pelo estilhaço, não falhou o tiro com a sua bazuca, acertando em cheio no guerrilheiro.

Disse-me que já sabia que lhe ia acontecer algo mau, pois dias antes alguém tinha colocado sal no chão à saída da sua porta, e ele tinha-o pisado quando saiu.

As notícias que chegaram depois da independência é que foram todos mortos pelo PAIGC.

[ página que foi descontinuada, por estar alojada no "Sapo", tendo sido "capturada" e "salva" pelo Arquivo.pt; era administrada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71). 

Texto publicado originalmente
publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006 por Carlos Fortunato. ]


(Seleção, revisão/ fixação de texto, título: LG)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26211: S(C)em Comentários (53): O drama dos felupes, que estão a perder o seu chão e a sua identidade, afetados pelas alterações climáticas (Cherno Baldé)... E que agora perderam uma grande amiga, a antropólogia Lúcia Bayan , falecida no passado dia 26

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26237: Humor de caserna (84): Para mais sendo mulher, eu tive medo de ser capturada e pedi ao piloto que me desse... um tiro! (Maria Celeste Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista, FAP, 1962/65)


Maria Celeste [Guerra, ex-alferes graduada enfermeira paraquedista]: é do 2º curso (1962), para o qual entrou aos 19 anos. É oriunda da Escola de Enfermagem Franciscanas Missionárias de Maria. Esteve na FAP de 1963 a 1965. Cumpriu uma missão de serviço em Moçambique e duas na Guiné.

Foto:  "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (2014), pág. 389 (com  devida vénia).




Humor de caserna >  Para mais sendo mulher,  eu tive medo de ser capturada e pedi ao piloto que me desse... um tiro!

por Maria Celeste


A Maria Celeste devia ser  uma jovem encantadora e com grande sentido de humor...Já aqui foi publicado um pequeno excerto de uma das cenas "divertidas" que ela guardou da sua experiência como enfermeira paraquedista (*). 

Gosto da pessoa que, tendo passado por situações dramáticas ou até de risco de vida, sabe depois "dar a volta", e contá-las, aos outros, com graça, com leveza, com descontração, até como forma de catarse. E sem complexos, nomeadamente sem receio de ser julgada mal pelos outros ou de cair no ridículo. 

A verdade é que todos nós, antigos combatentes, e sobretudo no início da guerra, quando ainda éramos "periquitos", devemos ter passado, em "noites palúdicas", pelo pesadelo de podermos ser "apanhados à unha" no mato...Infelizmente, esses casos não foram assim tão raros, na Guiné... Mas ao fim de seis meses, já éramos "imortais"...

 Talvez até com mais razões, as enfermeiras paraquedistas também ponderavam esse risco , mesmo subliminarmente: por avaria ou fogo inimigo, o helicóptero ou a avioneta que usavam quase  todos os dias, em evacuações no mato, podiam correr  o risco de  ser capturadas pelos "turras"... E, sendo mulheres, estavam, mais do que nós, sujeitas  a ser violadas ou sexualmente molestadas... Era o que se passava na cabeça da Maria Celeste nesta situação em que ela partilha,com ingenuidade e sinceridade, mas com muita piada, os medos que a afligiram... Ainda devia a estar a aprender a lidar com o(s) medo(s)... (LG).


(...) Em outra ocasião fui fazer uma evacuação de feridos, num dia com muito nevoeiro.O piloto ainda não conhecia bem o terreno e, às tantas, tivemos de aterrar num local desconhecido!

Sabíamos que era perigoso, mas não havia alternativa...

Como mulher, eu tinha medo de cair em mãos erradas, por isso pedi ao piloto que se, ao aterrar, visse que haveria problemas, me desse um tiro...

Aterrámos... O motor do helicóptero foi parado... Só se ouvia 'silêncio' em nosso redor!. Nós nem falávamos, apenas sussurrávamos, de um para o outro! Havia um silêncio total...

Daí a alguns minutos, ouvimos vozes a dar ordens, que não eram percetíveis para nós e que pareciam ser de indígenas. Senti medo de ser capturada!

— Afonso, por favor, faça o que lhe pedi mal eles apareçam! — disse-lhe eu.
~
Olhei para ele e vi-o de pistola na mão, muito pálido, a dizer que tinha pena... mas não seria capaz!

— Deus do céu, dê cá isso que eu trato do assunto !

Fiquei com a arma na mão à espera, fria que nem gelo... Nisto começámos a ouvir o barulho de gente a aproximar-se, gente apressada a pisar as folhas e ainda tenho nos ouvidos aquele restolhar!

— São nossos! — grita o Afonso, hilariante.


— Ai são ?! — respondo eu... e caio "redondinha" no chão!

A valentia tinha-me fugido a sete pés!... E, durante muito tempo, fui amigavelmente "gozada"... (**)


Fonte: Excertos de Maria Celeste - "Cenas do quotidiano, na guerra". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 342/343 (com a devida vénia)
(Imagem à esquerda: Capa do livro) 

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG)



Coautoras: Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto  | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.
 
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Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > Gen Spínola no perímetro defensivo, nos primeiros dias da Op Grande Empresa (*).


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > A “messe” de oficiais  e também a minha primeira “secretária” . Da esquerda para a direita alf  Pratas e Sousa, furriel Urbano,  alf Nobre Almeida e alf Santos. Ao fundo as tendas  que nos “abrigaram” durante os primeiros meses.


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque >  Dezembro de 1972 > CCAV 8352 >  Álbum do cap mil Rui Pedro Silva > Distribuição da refeição pelos grupos de combate, secção por secção. O primeiro da fila a organizar a distribuição é o Alf Duarte.


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Foi uma aposta tardia, a de Spínola, a de transferir para a região de Tombali, e em especial a pensínsula do Cubucaré (Cantanhez), o jogo de xadrez contra o Amílcar Cabral ( mas também contra os "ultras" do regime). 

 A reconquista do Cantanhez iria fazer do rio Cacine a principal linha de defesa contra o PAIGC, reforçando Cacine, Guileje e Gadamael. Era o que se esperava. E, de facto, na sequência da Op Grande Empresa, novos quartéis vão ser instalados no coração do Cantanhez, a "joia da coroa" do PAIGC: Cadique, Cafine, Caboxanque e ainda Jemberém. Uma estrada asfaltada vai ser construída, ligando Cadique a Jemberém...

Mas nos livros da CECA a visão que o leitor tem é a de uma sequência de informação,  telegráfica e fragmentada, sobre operações, em que o principal ator é o BCP 12, e cujos resultados parecem apenas a resumir-se a uns tantos mortos, prisioneiros e armas capturadas...  Poucos meses depois, o BCP 12 está a apagar outros fogos, Guidaje, no Norte, e Gadamael, no  Sul. 

De qualquer modo, temos de reconhecer que só uma tropa especial, com elevado espírito de corpo, disciplina, "endurance" e bravura, podia ser empenhada nesta última grande contra-ofensiva do Spínola. Infelizmente, não havia mais nenhum BCP 12, de reserva, e nem esta missão era aconselhada a ser entregue ao Batalhão de Comandos, pelo melindre do choque interétnico (Fulas contra balantas e nalus)... 

De certo modo, foi a "última missão" (militar mas também política) de Spínola. Ele precisava de tempo, meios e... "manga de patacão" para ganhar aquela guerra, e sobretudo de outra liderança política em Lisboa. Mas já era tarde demais.  Não tinha comandantes operacionais nem combatentes, de reserva. Não tinha meios para subir a parada, em termos tecnológico.  Já não terá força aérea á altura (depois do "Strela"). Ele teve, em todo caso, o mérito de ver isso, mesmo na 23ª hora... (É pena que o seu biógrafo, Luís Nuno Rodrigues,   tenha falhado a parte empolgante da vida de Spínola na Guiné, resumida a um capítulo, ou a pouco mais de 100 páginas, num livro de 9 capítulos e de cerca de 750 páginas.)
 

2. Em 12 de dezembro de 1972 foi criado o Comando Operacional nº 4 (COP 4), com sede em Cufar, e com a finalidade de:

  •  proporcionar as condições para execução dos trabalhos dos reordenamentos a estabelecer nas áreas de Caboxanque, Cadique e Cafine;
  • desenvolver a adequada atividade operacional na região do Cantanhez, em área do BCaç 4510/72 e da zona de intervenção do Comando-Chefe. (*) (CECA, 2015, pág. 133).
A Diretiva nº 19/72 de 28Nov, determinava a criação do COP 4, sob o comando do ten cor pqdt  Sílvio Araújo e Sá, apoiado pelo Cmd / BCP 12. (pág. 136).


3. Atividade operacional do COP 4 (1972/73)

3.1. Operação "Grande Empresa" - 12 e 13dez72

Na região do Cantanhez, Sector S3, uma força constituída pelas CCP 121 e 122,
CCaç 5, CCaç 4540, CCaç 4541 e 2 Pel/CCaç 2792 (Cabedú), levou a efeito
um heliassalto e desembarque da CCP 121 e 122 sobre objectivos na região, na qual foram estabelecidos sete contactos pelo fogo com o inimigo.

Do resultado geral da operação destaca-se a captura ao inimigo do
seguinte material:

  • 1 LGFog "RPG-2",
  • 1 Espingara semiautomática  "Simonov",
  • 33 granadas de diversas armas de grande calibre (morteiro 60 mm, de 2 LGFog e canhão s/r )
  • e ainda material e munições diversas.

As forças inimigas sofreram 5 mortos, 2 feridos e a captura de 12 elementos.

As nossas forças sofreram 4 feridos.

3.2. Op "Cavalo Alado" - 17 e 18dez72

Na região de Cachamba Balanta-Cachamba Nalu-Uangane, COP 4, uma força constituída por 2 GComb/CCP 122 e 1 Grupo de Assalto do DFE 1, levaram a efeito um heliassalto, tendo estabelecido contacto pelo fogo com o inimigo nos dias 17 e 18 por 4 vezes.

Foi capturado ao lN:

  • 1 LGFog "RPG-2";
  • 1 metralhadora ligeira "Degtyarev";
  • 1 espingarda semiautomática  "Simonov";
  • 7 granadas de LGFog "RPG-2" e 3 de canhão s/r 75 mm, 2 granadas de mão ofensivas, 
  • carregadores e outro material, munições e equipamento diverso.
O inimigo sofreu 2 mortos. (pág. 172).

3.3. Op "Dragão Bravo" - 28 a 30dez72

Na região do Cantanhez (Santa Clara-Iem-Cachamba Balanta-Nhai), COP 4, uma força constituída pelas CCP 123, CCP 122 (2 GComb), CCP 121 (2 GComb), 1 Grupo de Assalto do DFE e 2 GComb/CCaç 6, levaram a efeito um heliassalto e patrulhamento, no decurso do qual foram estabelecidos 6 contactos pelo fogo com o inimigo.

Foram capturadas:
  • 3 espingardas automáticas "Kalashnikov";
  • 3 espingardas semiautomáticas "Simonov",
  • carregadores, granadas e cargas de LGFOg  "RPG-2", 15 espoletas de LGFog "RPG--2";
  • munições diversos.
Destruido 1 acampamento e capturados 3 homens. O inimigo sofreu 4 mortos. Um deles era o comissário político. Em 29 de Dezembro foi cercado e morreu no combate que se seguiu. (Fonte: Relatório da operação nº 47/72, Operação "Dragão Bravo", do BCP 12.) (pág. 173)

3.4.  Op "Tamarú" - ljan73

Num heliassalto, na região de Timbó, 2 GComb/CCP 122 tiveram um contacto com o lN em Bedanda 3H4.25, COP 4.

Foi apreendida uma rampa completa para lançamento de foguetões 122 mm e documentação diversa. Nossas forças tiveram 5 feridos ligeiros e o lN sofreu 4 mortos.

3.5. Operação "Falcão Dourado" - 15 a 18jan73


Na região de Cacine, COP 5, uma força constituída pelas 2ª e 3ª C/BCmds, o DFE 22 e 2 GComb/CCP 122, efectuou emboscadas nocturnas na zona.

Em 16 e 17 a referida força estabeleceu vários contactos com o inimigo, de
que resultaram 11 mortos para o inimigo e 1 ferido grave e 5 ligeiros para as NT.

Ao inimigo foram capturados:
  • 5 espingardas automáticas "Kalashnikov";
  • 1 espingarda "Mauser";
  • 10 granadas de lança-granadas foguete "RPG-2" e 6 de "RPG-7".

3.6. Op o "Gato Espantado" - 30 e 31jan

Nas regiões do Cantanhez e Cubucaré, COP 4, forças das CCP 121, 122 e 123, CCaç 6 e DFE 1, executaram patrulhamentos conjugados com montagem de emboscadas nocturnas, estabeleceram contacto com o inimigo, tendo destruído dois acampamentos.

O lN sofreu 2 feridos e as NT 4, dos quais 1 em estado grave.

Foi apreendido ao inimigo o seguinte material: 

  • 8 granadas de canhão sem recuo;
  • 1 granada de LGFog  "RPG-7";
  • 1 espingarda semiautomática"Simonov";
  •  7 granadas de canhão s/r. (pág. 303)

4. A partir de 5abr73 passaram a atribuir-se ao COP 4 os seguintes meios e ZA, além do que na altura dispunha:

  • CArt 3493
  • CCaç 4143/72
  • DFE
  • Pel Canh s/r 3079
  • 1 Sec Mort/Pel Mort 4277/72
  • 2 mort 10,7 cm a ceder pela CCaç 3566, pela CCav 8350/72;
  • e CCP 123 (a título temporário).(pág. 
- Acção - 12jun

Pelas 14h45, uma força constituída por 3 GComb/CCaç 4942/72, 2
 GComb 1ª C/BArt 6521/72, 2 GComb/CCaç 4540/72 e 1 GComb / DFE 22, em
patrulhamento com emboscada, foi alvejada duas vezes na região de Cacine, COP 4, por um grupo inimigo. 

Este sofreu 1 morto e foram-lhe capturadas 2 granadas de LGFog "RPG-2". As NT sofreram 3 feridos e 1 viatura "Berliet" ficou muito danificada (pág, 305).


5. Construção de Estradas

"No quadro da manobra de contra-subversão a conduzir de acordo com a Directiva n° 4/73, a construção da estrada Cadique-Jemberém é uma das concretizações do esforço da manobra sócio-económica quese está a desenvolver na região do Cantanhez para a recuperação das populações. "

Este é o início da Directiva n.o 5/73 de 30jan, em que é determinado:

"Que na missão atribuída ao COP 4 seja dada alta prioridade à segurança dos trabalhos de construção da estrada Cadique-Jemberém em ordem a que estes trabalhos não sofram qualquer quebra de rendimento. "


6. Em 2 de julho de 1973 foi extinto o COP 4, assumindo o BCaç 4514/72 (vd. aqui a ficha de unidade) a responsabilidade da zona de acção...

.... E o BCP 12, a 3 Companhias (um autêntico "112", às ordens do Com-Chefe) lá seguiu para Gadamael Porto,  COP 5, para "apagar outros fogos" (Op Dinossauro Preto, 2jun -17jul73) (pp. 334 e ss.)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp.. 113, 172/173, 257, 263, 285, 303, 305, 334 e 395.  (Com a devida vénia...).


(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

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Guiné 61/74 - P26235: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (5)

Posição relativa de Maqué e Olossato
Infografia Luís Graça & Camaradas da Guiné - Carta de Binta
Foto 35 > Junho de 1970 > Destacamento da Ponte do Maqué > Esquadra do morteiro 60 > Lopes, João Moreira, Belejo, Rafael e Martins
Foto 36 > Junho de 1970 > Destacamento do Ponte do Maqué > João Moreira "a trabalhar para o bronze"
Foto 37 > Junho de 1970 > Ponte do rio Maqué > João Moreira > Vejam bem a "obra de engenharia" que é a ponte...
Foto 38 > Junho de 1970 > Destacamento da Ponte do Maqué > João Moreira > Reparem que até tinha bandeira hasteada. Só faltava o "clarim" para oficializar a "cerimónia".
Foto 39 > Junho de 1970 > Destacamento do Maqué > João Moreira
Foto 40 > Junho de 1970 > Destacamento do Maqué > João Moreira > Curiosamente junto ao emblema dos Vampiros, que era a companhia onde um primo meu fez a comissão na Guiné.
Foto 41 > Junho de 1970 > Ponte e Destacamento do Maqué > João Moreira
Foto 42 > Junho de 1970 > Ponte do Maqué > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26207: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (4)

Guiné 61/74 - P26234: Timor Leste: passado e presente (28): O concelho de Sardoal homenageou, em 15/9/1946, um dos seus filhos, Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944), chefe de posto administrativo de Laga, um dos heróis da resistència aos japoneses, morto da prisão de Díli



Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Foto 16994 > O farol de Díli. O início da sua construção data de 1889, durante o governo de Rafael Jácome Lopes de Andrade [1888-1890]. Obras de reconstrução e melhoramento em 1932 e 1948-49, após a ocupação japonesa.

Foto do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)








Fonte: O Sardoal - Boletim de Informação e Cultura da Câmara Municipal de Sardoal, bimestral, nº 53, ano 9, julho - agosto de 2008, pág. 27 (Trata-se das reprodução de um artigo do "Diário de Notícias", de 15 de setembro de 1946.)


1. Os 28 louvores (contados por nós), atribuídos formalmente, pelo Governador de Timor, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, cap inf,  natural do Porto, aquando da cessação das suas funções (*), com datas de 10 de outubro  e 21 de novembro de 1945, contemplam as seguintes categorias de "portugueses, europeus e assimilados, que na colónia se mantiveram durante todo o período da ocupação do aeu território por forças estrangeiras" (sic):


Mais tarde, já em junho de 1947, no relatório que fez para o Governo sobre os "acontecimentos de Timor" (relatório que saiu em livro, publicada pela Imprensa Naciomal - Casa da Moeda, para logo ser retirado do mercdao),  o antigo Governador alargou a lista dos portugueses e inclui uma mão cheia de timorenses, vivos e mortos, merecedores do reconhecimento da Pátria portuguesa: são mais de 60 os liurais, chefes de suco, "moradores" (milícias), e outros "indígenas"  (sic) expressamente citados.

Cremos que o critério do governador cessante foi "político", ou seja, só foram contemplados por louvores aqueles que "se mantiveram em absoluta obediência às ordens do governo da colónia durante o período da ocupação  da colónia por  forças estrangeiras" (sic)... Uma exigência patética e absurda por parte de um governador que, com a longa e brutal ocupação japonesa (que em se compara com a holandesa e australiana),  ficou praticamente incomunicável e manietado,  sem poder mandar em coisa nenhuma, de fevereiro de 1942 a setembro de 1945... 

De entre alguns dos heróis (portugueses e timorenses) que resistiram à ocupação nipónica, estão sem sombra de dúvida o chefe de posto de Laga, Augusto Leal de Matos e  Silva, o chefe de posto de José Plínio dos Santos Tinoco e o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de Baucau. Os três morreram na prisão, às mãos dos japoneses, em 1944, mas tinham cometido o erro de se  aliarem aos australianos, o que era imperdoável aos olhos de Salazar...

Tod0s deveriam ter sido louvados por atos heróicos... Recorde-se em 3 de agosto de 1943 ajudaram a embarcar, em duas vedetas australianas, perto da "alfândega" de Barique, um grupo de foragidos portugueses e timorenses (com destaque para mulheres e crianças). Mas em Timor ficou um grupo de voluntários, em missão, de observação, de que faziam parte os seguintes portugueses: 

  • Tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895-Díli,1944);
  • Chefe de posto Augusto Leal de Matos e Silva;
  • Chefe de posto  José  [Plínio dos Santos] Tinoco;   
  • Enfermeiro Serafim  [Joaquim] Pinto;   
  • Radiotelegrafista Patrício Luz;
  • Cabo de infantaria João Vieira. 
Todos eles morreram na prisão japonesa de Díli [em 1944] , com exceção do Patrício Luz que se escondeu entre timorenses,  amigos da sua família.

Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944)apesar de tudo, ainda foi homenageado pela Càmara Municipal da sua terra, Sardoal,  dois anos e tal depois da sua morte. Era de uma família com prestígio na terra, filho de um conhecido republicano (logo do "reviralho") e grande benemérito local. (**)

Citando Carlos Vieira da Rocha (in " Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, 2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996,  pág. 131), "se para alguns é discutível a utilidade da resistência portuguesa, a verdade é que o tenente Manuel de Jesus Pires e os seus companheiros estavam imbuídos do mais puro patriotismo, levando ao sacrifício da própria vida".

O próprio Carlos Vieira da Rocha refere o caso do Governador que, no regresso a Portugal, em 8 de dezembro  de 1945,  foi "vítima da maldade e incompreensão dos homens" (pág. 173). Tendo-se levantado dúvidas sobre o seu "patriótico comportamento", acabaria por ser ilibado pelo Conselho do Pacífico, criado para apreciar os acontecimentos ocorridos em Timor, e que de faziam parte um general, um almirante e um juiz conselheiro...

O antigo deportado político Carlos Cal Brandão, no seu livro de memórias ("Funo: Guerra em Timor", 3ª ed., Lisboa, P&R - Perspetivas e Realidades,  s/d, originalmente publicado em 1946) faz o retrato humano e profissional destes três resistentes, que com ele colaboraram e lutaram (pp. 21-25): Manuel de Jesus Pires (combatente da Flandres, que terá ido para Timor logo em 1919, tendo passado à situação de licença ilimitada, para abraçar a carreira de administrador colonial, figura muito popular na colónia), Matos e Silva (jovem de espírito irrequieto e aventura, com talento para a música, a pintura e o desenho), e José Tinoco (filho de um conhecido funcionário colonial, que havia nascido na Guiné, mas que passara  a sua mocidade, em Vilar Real, na terra dos pais).

PS - Alguns Portugueses Mortos na Prisão (n=8)

1 — José  Plínio dos Santos Tinoco. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, a 8 de abril de 1944. (#) 

2 — Manuel de Jesus Pires, Tenente de infantaria e administrador de circunscrição. Na cadeia de Díli, em data ignorada de 1944. 

3 — Cipriano Vieira. Cabo de infantaria. Idem. 

4 — João Vieira. Cabo de infantaria. Idem. 

5 — Serafim Joaquim Pinto. Enfermeiro. Na cadeia de Díli antes de 29 de abril de 1944. 

6 — Augusto Leal de Matos e Silva. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, possivelmente em 9 de maio de 1944. 

7 — Artur do Canto Resende. Engenheiro-geógrafo. Em Kalabai, na ilha holandesa de Alor, a 23 de Fevereiro de 1945. (##)

8 — João Jorge Duarte. Gerente da filial do Banco Nacional  Ultramarino de Díli. Em Kalabai, Alor, a 25 de março de 1945.

(#) Não confundir com Fernando Plínio dos Santos Tinoco, que foi encarregado da circunscrição de Oecusse,  de dezembro de 1941 a setembro de 1945, e louvado pelo Governador; terá nascido em 1914, filho de Adelino Tinoco; o José seria seu filho; o Fernando em 1946 será nomeado administrador, e em 1963 cônsul, em Kupang).

(##) Agraciado, a título póstumo, em 1952, com o grau de oficial da Ordem Militar da Torre e Espada.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26068: Timor Leste: Passado e presente (26): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo V: a situação sanitária em 1945: "valeu-nos a fé em Deus e a confiança nos governos da Colónia e da Nação"

Guiné 61/74 - P26233: Parabéns a você (2334): Manuel Carvalho, ex-Fur Mil API da CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete e Quinhamel, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26219: Parabéns a você (2333): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2208 e da Rep ACAP (Mansoa, Mansabá e Bissau, 1970/71)