Pesquisar neste blogue

sábado, 12 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26680: Os nossos seres, saberes e lazeres (676): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (200): O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Dá-se sequência à visita ao Museu da Cerâmica das Caldas da Rainha, fica provado e comprovado que o 2º Visconde de Sacavém foi um infatigável colecionador de peças de cerâmica de diferentes formas e feitios; a museografia e a museologia ajudam muito a saborear a visita, o interior do palacete ganhou nova vida e quem contempla estes tesouros cedo se apercebe que independentemente de um passado glorioso da nossa azulejaria, o dínamo desta indústria foi um génio chamado Rafael Bordalo Pinheiro, daí a procura de imagens deste talento colossal, uma imaginação desbordante; é de toda a conveniência que o visitante venha com tempo, o museu e parque merecem atenção e há dois centros de arte ali à volta, enfim, são aspetos promissores para quem queira passar uma tarde na observância de diferentes vetores culturais, o que afianço, sem hesitar, é que este Museu da Cerâmica, pela sua riqueza, pelo adequado aparato museográfico e museológico, merece a visita, ninguém sairá daqui defraudado.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (200):
O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 2


Mário Beja Santos

Já subi ao 1.º andar do velho palacete tardo-romântico do 2.º Visconde de Sacavém, e na presunção de que o leitor olha pela primeira vez estas imagens, recordo que os sites de divulgação revelam sobre este museu:
“Criado oficialmente em 1983, corresponde a um desejo antigo da população das Caldas da Rainha, centro cerâmico de reconhecida tradição. Instalado na Quinta Visconde de Sacavém, adquirida para o efeito em 1981, o Museu da Cerâmica situa-se na zona histórica da cidade, junto ao Parque D. Carlos I e próximo da atual Fábrica Bordalo Pinheiro.
As coleções são constituídas por uma síntese representativa de vários centros cerâmicos portugueses e estrangeiros, desde o século XVI aos nossos dias. Predomina a produção local, desde as formas oláricas e a produção artística do século XIX, com autores como Manuel Mafra, introdutor neste centro do estilo naturalista de Bernard Palissy, até às criações contemporâneas de alguns ceramistas caldenses, como Ferreira da Silva ou Eduardo Constantino.
Merece destaque a notável coleção de peças de Rafael Bordalo Pinheiro, executadas na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, bem como a produção Arte Nova de Costa Motta Sobrinho. Mostram-se ainda núcleos de azulejaria, assim como de miniatura, com destaque para as obras de Francisco Elias.
A Quinta Visconde de Sacavém, conjunto arquitetónico revivalista de final do século XIX, é constituída por um palacete tardo-romântico que abriga a exposição permanente assim como áreas anexas, remodeladas, onde se situam a sala de exposições temporárias, a loja, olaria e centro de documentação. Os jardins da Quinta, de traçado romântico, constituem um interessante conjunto evocativo do gosto do final do século XIX, com as suas alamedas, canteiros, floreiras e um auditório ao ar livre.
São de realçar as decorações cerâmicas que ornamentam todo o conjunto, onde se podem encontrar azulejos dos séculos XVI ao XX, estatuária, elementos arquitetónicos cerâmicos, como as gárgulas em forma de dragão ou de javali que se veem nas fachadas do palacete e se aliam aos painéis de azulejo, friso e cercaduras. Estas decorações favorecem a fruição de um importante património cerâmico, tornando-o também um local privilegiado de lazer.”


Vamos então apreciar tesouros da cerâmica dos séculos XIX, XX e XXI.

Imagens de faces laterais do palacete que alberga o Museu da Cerâmica
Estamos agora na sala do ateliê cerâmico, é uma criação do 2.º Visconde de Sacavém, José Joaquim Pinto da Silva (1863-1925), aqui funcionou uma pequena oficina e nela se produziram, a par de peças de reconhecido valor artístico, diversos elementos arquitetónicos que ornamentam as fachadas do palacete. Neste ateliê colaboraram ceramistas com Avelino Belo, discípulo de Rafael Bordalo Pinheiro, e Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro. A produção desta oficina revela uma notável qualidade, inserindo-se no movimento revivalista de inspiração neorrenascentista e neobrarroca, corrente estética que marcou o final do século XIX. Esta pequena fábrica teve uma duração efémera (entre 1892 e 1896).
Prato de Rafael Bordalo Pinheiro com dedicatória ao fotógrafo Camacho, 1892
Peça de grande delicadeza, caso de ornamentação das folhas
Estas duas imagens referem-se à criação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, tratou-se de um projeto industrial cerâmico de grande envergadura, foi iniciativa de Feliciano Bordalo Pinheiro (irmão de Rafael Bordalo Pinheiro), assentava na introdução de novas tecnologias e na adoção de um modelo de financiamento (de subscrição por ações) e de gestão (gestão separada da propriedade) modernos. O projeto entrou em funcionamento em 1884.
Dois pratos saídos do génio de Rafael Bordalo Pinheiro
Hansi Stäel (1913-1961) foi uma artista húngara que trabalhou nas Caldas da Rainha e deixou notáveis trabalhos como se podem ver nestes dois pratos.
Mísula, Rafael Bordalo Pinheiro, 1891
Ainda conheci as Caldas da Rainha com placas indicativas de ruas deste tipo
Pormenor de pintura sobre uma porta do palacete
O gosto pelo hispano-árabe será recorrente em todas as manifestações do revivalismo neogótico, as fábricas de cerâmicas caldenses do século XIX deram grande impulso a este padrão.

E chegamos ao fim, foi uma agradável surpresa, advirto o leitor que neste Avenal há centros de arte, prepare-se, talvez valha a pena ir com tempo e bater à porta destas capelinhas.

_____________

Nota do editor

Último post da série de 5 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26655: Os nossos seres, saberes e lazeres (676): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (199): O Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, este meu ilustre desconhecido – 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26679: Fotos à procura de...uma legenda (195): Bissau "by air"... Alguns pontos de referência (Armando Oliveira, ex-1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)





Guiné > Bissau > s/d (c. 1970/74) > Alguns pontos de referência da capital, na época da administração portuguesa.


Fotos: © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

I. Fotos do álbum do Armando Oliveira (ex-1º cabo,  3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74): grão-tabanqueiro nº 901; natural do Mraco de Canaveses, vive no Porto.
 

Legenda:

1. Catedral

2. Nunes & Irmão Lda (hoje Hotel Coimbra)

3. UDIB

4. Praça Honório Barreto (hoje, Pr Che Guevara)

5. Av República (hoje Av Amílcar Cabral)

6. CTT

7. Pemsão Dona Berta (hoje uma "universidadfe privada)

8. Administração civil (hoje Ministério da Justiça e/ou Finanças)

9. Ponte-cais

10. Porto do Pijiguiti

11. Marginal

II.  Comentário do editor LG: 

As fotos não são famosas. Têm fraca resolução. De qualquer modo, são vistas aéreas da Bissau que conhecemos... (e que faz parte das nossas "geografias emocionais").

O Armando Oliveira não diz   qual é a sua proveniência nem a data.

Se algum dos nossos leitores quiser dar uma ajudinha, mande-nos mais pontos de referência (devidamente sinalizados)... 

É bom como exercício de memória... Ainda há dias se discutia aqui se a antiga Pensão Central (da saudosa dona Berta, que morreu em 2012) ficava antes ou depois da Catedral (no sentido ascendente, da avcnida marginal para a praça do Império / Palácio do Governador).

Ora a ordem é a seguinte: edificio da administração civil (8), Pensão Dona Berta (7), Catedral (1) (e em frente,  os CTT, 6), Nunes & Irmão, Lda (2), e já na quase na outra ponta, na antiga Av República (5), a UDIB (3).

____________________

Nota do editor:

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26678: Notas de leitura (1788): "Quebo, Nos confins da Guiné", de Rui Alexandrino Ferreira; Palimage, 2014 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Escapara-me a leitura do segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira, referente precisamente à sua segunda comissão na Guiné, passou-a maioritariamente em Aldeia Formosa, emboscou com bastante sucesso os corredores de abastecimento do PAIGC na região, caso do chamado corredor de Missirã; é o relato de memórias para a qual o falecido coronel convocou amigos, como o major-general Pedro Pezarat Correia, a deporem sobre a vida e a atividade operacional na região e os laços de camaradagem, há depoimentos tocantes. Constata-se que o malogrado coronel guarda a amargura de não ter sido condecorado com a Torre e Espada, atendendo ao acervo de condecorações e louvores, considero uma anomalia o despacho do Conselho Superior de Justiça e Disciplina ter decidido que não era oportuno por extemporânea, e reflete amargamente o corporativismo nas Forças Armadas, era o que faltava um miliciano com a mais alta condecoração das Forças Armadas.

Um abraço do
Mário



Memórias do Quebo, da CCAÇ 18, o testemunho de amigos (1)

Mário Beja Santos

"Quebo, Nos confins da Guiné", Palimage (palimage@palimage.pt), 2014, é o segundo livro de Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022) que fez duas comissões na Guiné. A primeira deu origem a uma obra de consulta obrigatória para quem estuda a literatura da guerra colonial, "Rumo a Fulacunda", Palimage, 2000; a segunda é Quebo que nos leva à sua segunda comissão, é já capitão e comanda uma companhia de tropa guineense, a CCAÇ 18. 

Começa por justificar as razões que o levaram, já na disponibilidade, em dezembro de 1967, e tendo regressado a Sá da Bandeira, onde pensa que iria encontrar readaptação, veio a descobrir que não era numa Repartição de Fazenda Pública que sonhava viver, e decidiu então regressar à vida militar. Na primeira comissão recebera a condecoração da Cruz de Guerra de 1.ª Classe, descobrira o sentido da liderança e a vocação para comandar homens.

O autor pediu ao Major-general Pedro Pezarat Correia que abordasse o contexto da sua comissão passada sobretudo em Aldeia Formosa. Antes, porém, conta-nos que chegou ao CIM em Bolama para a formação da CCAÇ 18, e cabe a Pezarat Correia falar-nos do BCAÇ 2892 e o Setor S-2, no Sul da Guiné. 

Este batalhão estacionava em Aldeia Formosa, em Nhala e em Buba, reforçado com mais três companhias operacionais que já se encontravam no Setor sob o comando do COP 4; o batalhão passou também a contar com o apoio de várias subunidades. Tinha sob controle operacional o Destacamento dos Fuzileiros Especiais 3, sediado em Buba, duas companhias de milícias em Empada e Mampatá, e um grupo de caçadores nativos.

O batalhão assumiu a responsabilidade operacional em novembro de 1969, assumia quatro tarefas prioritárias:

  •  proteção aos trabalhos de construção na pista de aterragem em Aldeia Formosa (concluída em março de 1970);
  •  contrapenetração nos eixos usados pelo PAIGC para reabastecer e rodar efetivos das suas bases no interior em Injassane (norte do Rio Grande de Buba) e em Xitole; 
  • controlo da região de Contabane, fronteiriça com a República da Guiné; condução da Ação Psicossocial.

 Na prática, e de acordo com a Ideia de Manobra, havia que proceder a ações de contrapenetração em corredores que constituíam os principais eixos de abastecimento do PAIGC para o interior sul, proceder a uma constante nomadização e emboscadas nas imediações das zonas mais favoráveis aos grupos do PAIGC para instalação de base de fogos para flagelações. F

Foi neste ambiente geográfico, humano e operacional que, em janeiro de 1971, se integrou a CCAÇ 18, acabada de formar, e comandada pelo capitão Rui Alexandrino, veio render a CART 2521.

A CCAÇ 18 era constituída por Fulas, parte deles oriundos da região do Quebo, tinham experiência operacional, haviam pertencido a pelotões de milícias e caçadores nativos. Mal chegados a Quebo, e no período de sobreposição, atuaram no corredor de Missirá, foi uma estreia com emboscada, desbarataram a coluna do PAIGC, Rui Alexandrino reorganizou as suas tropas e transferiu a emboscada para outro local, uma hora mais tarde novo contacto, causou baixas e capturou armamento.

 Depois o BCAÇ 2892 foi rendido pelo BCAÇ 3852, a CCAÇ 18 continuou a reforçar o novo batalhão, com bons resultados em novos contactos no corredor de Missirá.

 Ao terminar a sua comissão, em finais de 1972, Rui Alexandrino foi condecorado com uma Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

Voltemos à narrativa pessoal do autor, como ele foi encontrar a Guiné após dois anos de ausência. Ele descreve a personalidade de Spínola e o que procurou fazer não só no campo militar como no desenvolvimento socioeconómico da região. 

Antes de ir para Bolama, Rui Alexandrino esteve no Pelundo, conta as suas memórias, conta-nos como viveu a formação da CCAÇ 18 em Bolama e depois a sua adaptação ao Quebo, a originalidade de ele e os seus oficiais e sargentos viverem em instalações na tabanca, lá foram arranjando comodidades, a ponto do seu quarto se ter transformado em ponto turístico da Aldeia Formosa.

 Faz um esquiço dos cuidados que a contrapenetração impunha, a dureza da atividade operacional de estar para ali horas camuflados, não fazer barulho, não tossir, não mexer, não espreguiçar e sobretudo não perder a concentração, além de ser imperativo não fazer modificações no ambiente que pudessem indiciar a existência de emboscada, e o autor aproveita para contar algumas peripécias e juntar alguns depoimentos de ex-camaradas.

Depõe como observador sobre os usos e costumes dos Fulas, a impressão que lhe provocava a maneira indigna como as mulheres eram tratadas, tece as suas lembranças sobre os militares metropolitanos e, inevitavelmente, vem exprimir a sua gratidão pelo seu guarda-costas, Ieró Embaló, feito prisioneiro depois da independência, passou onze anos nas masmorras, depois de muitas peripécias veio até Portugal, foi uma verdadeira odisseia vir a ser aceite os seus direitos de ser português, faleceu súbita e inesperadamente, e conta sumariamente a sua história:

“Raptado ainda muito novo, foi levado à força para a Guiné-Conacri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC. Tendo sido colocado numa base operacional do partido, mesmo junto à nossa fronteira, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas. 

Tinha um conhecimento profundo quer das formas de atuar do inimigo quer da tropa portuguesa. Era de um espantoso espírito de observação e de uma imensa capacidade de adaptação. Uma inteligência superior à média, tal como muitos Fulas, falava fluentemente o português, o fula e o crioulo, e igualmente o francês. Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas normas e preceitos do seu Deus.”

Rui Alexandrino recorda os atos de bravura do seu guarda-costas.

Entram agora na conversa dois coronéis, Gertrudes da Silva e Vasco Lourenço, falar-se-á do coronel Agostinho Ferreira, comandante em Aldeia Formosa, o autor deixa a sua lembrança sobre o fim da comissão do BCAÇ 2892, a chegada do BCAÇ 3852, veio de férias, regressou à guerra, temos de seguida o depoimento de outro capitão de Aldeia Formosa, Horácio Malheiro, e uma noite de horrores de conflito entre tropa metropolitana e gente da CCAÇ 18, haverá vítimas inocentes, como se contará a seguir.

Estamos perante o caderno de memórias, o autor aproveita a oportunidade para se ressarcir de imprecisões existentes no seu primeiro livro, revela poesia dedicada às filhas e convoca um bom punhado de antigos camaradas para relembrar acontecimentos vividos nesta segunda comissão.


Aldeia Formosa, 1973. Fotografia de José Mota Veiga já publicada no nosso blogue

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 7 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26661: Notas de leitura (1787): Libelo acusatório sobre o colonialismo, como não se escreveu outro, no livro "Discurso Sobre o Colonialismo", por Aimé Césaire, editado em 1955 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26677: Humor de caserna (198): Carlos Fabião, um oficial duplamente superior, grandalhão e brincalhão (António Novais, ex-fur mil trms, Cmd Agr 2951, Cmd Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca >  CIM >  c. 1971/73 > A nova força africana... O major inf Carlos Fabião, na altura,  comandante do Comando Geral de Milícias, e o gen Spínola, passando revista a uma formatura de novos milícias.

Fonte:  Autor da foto: desconhecido. In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335.. (Reproduzidas com a devida vénia).



1. O António Novais Ribeiro, engenheiro técnico (ISEP), reformado, morador na Senhora da Hora, Matosinhos, amigo da Quinta de Candoz, e agora maestro de um grupo coral e outro de cavaquinhos, contou-me, há um ano atrás,  várias histórias  divertidas do então major de operações Carlos Fabião com quem trabalhou no âmbito do Comando de Agrupamento 2952, em Mansoa, entre março e julho de 1968.

 São pequenas histórias que revelam muito do seu  caráter, sentido de humor, ar brincalhão, afabilidade, mas também da sua postura como homem, cidadão e  militar...  Merecem ser reproduzidas aqui na série "Humor de caserna" (*).

Parafraseando um conhecido provérbio popular ("Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos"), poderíamos dizer que a um bom militar também não fica mal a boa disposição e o bom humor, qualidades que não têm que ser  incompatíveis com o exercício da liderança.

2. O Carlos Fabião apresentou-se no Cmd Agr  2952, em Mansoa, no dia 25mar68, com a patente de major, para ocupar o lugar de Of Op Inf (**). O António Novais era fur mil trms, trabalhando sob a dependência do alf mil trms, Luís Reis Torgal, hoje conhecido historiador e professor da Universidade de Coimbra, reformado.


Um dia chamou o fur mll Novais (era assim que o António era tratado) e entregou-lhe um "aviãozinho de papel" , pintado a cores e tudo:

− Novais, guarde-me aí na sua gaveta este aviãozinho.

− Para quê, meu major?

− Quando você tiver 53 aviões, avise-me para eu ir de férias!...

... E todos os dias lhe confiava um aviãozinho de papel, pintado às cores, até à véspera da sua ida de férias à metrópole...

3. Também era brincalhão, e gostava de pregar partidas aos seus subordinados, incluindo alferes e furriéis.
 
A sala de operações do Com Agr, em Mansoa, tinha um postigo de ligação ao gabinete onde estavam o Torgal e o Novais.

A secretária do Torgal estava encostada à parede que tinha o postigo, o qual, por sua vez, estava tapado com uma tampa do lado da sala de operações e com uma placa de platex perfurado, do lado do gabinete de transmissões.

O Fabião abeirou-se do postigo e disse ao Torgal:

− Torgal, chegue-se aqui ao postigo, pois que lhe quero dar uma informação.

O Torgal respondeu:

 − Diga, meu major!  

Ao que o Fabião lhe disse do outro lado:

− Encoste-se mais ao postigo…

O Torgal encostou a cabeça ao postigo e, do outro lado, o Fabião, que tinha preparado uma seringa com água, logo borrifou a cara do Torgal…

4. O Carlos Fabião costumava mandar aprontar uma viatura, aos sábados, e convidava alguns elementos do Agrupamento  para o acompanharem em visitas às tabancas de Mansoa para conviver com a população, em ações de psicossocial.  (O Novais disse-me que nunca foi.)

Nessas viagens, o Carlos Fabião, com a sua lendária coragem e empatia, costumava levar garrafas de aguardente de cana, para distribuir pelos balantas, os quais se manifestavam alegremente com exclamações de “Olha o nosso Fabião!", enquanto iam beberricando a aguardente…

5. Também desenhava muito bem... Um dia fez um "boneco" com a chegada do Nuno Tristão à costa da Guiné, em 1446... 

O navegador português morreria pouco depois com uma flecha, possivelmente envenenada. Antes de morrer, o Nino Tristão ainda tem tempo, no "cartoon" do Carlos Fabião, de exclamar:

−   Oh! Nem me deram tempo para fundar a Casa Gouveia…

6. Outro “cartoon” que fez, mostrava um quarto, uma mulher de joelhos na cama e com um lençol a tapar-lhe parte do corpo, bem como o seu amante a enfiar um punhal no buraco da fechadura do quarto, sendo que, do outro lado,  estava o Camões a espreitar. 

A legenda dizia: 

− Como Luiz Vaz perdeu um olho…

7.  Outra do Fabião:

O Cmd Agrup 2952 recebe uma mensagem Zulu ("Relâmpago"), secreta... O 1º cabo cripto decifrou-a, imediatamente, e logo a entrega, descodificada e em envelope fechado, ao furriel de transmissões, para ser entregue ao oficial de operações, major Fabião.

O Novais procura, a correr, o Fabião. Em vão, vasculhou tudo o que era sítio no quartel de Mansoa....

Esbaforido, já desesperado, acaba finalmente por o localizar na Secretaria do Agrupamento, onde não seria suposto estar.

Exclamou o Novais, à beira de um ataque de nervos:

− Porra, meu major, onde é que o senhor se meteu? Tenho aqui uma mensagem relâmpago para si, ando há duas horas à sua procura....

Ao que o Fabião responde:

− Novais, você sabe que a mensagem relâmpago tem o grau máximo de procedência, mas isso é para o cripto, e lá na tropa... Agora, aqui na Guiné, você tem 24 horas para ma entregar... Como só lá vão duas, ainda tem 22 horas de avanço...

Após a entrega da msg e,  quando o Novais chegava à porta de saída da Secretaria, o Fabião chamou:

− Novais!

Quando este se virou para atender à sua chamada, estava o Fabião com um mata-borrão, tipo bola de rugby que, chutando, disse: 

− Apanhe!...

A propósitos das mensagens... Recorde-se que a Z,  de ZULU (= Relâmpago) no centro cripto passava à frente de todas as outras: grau máximo de urgência.

 9.  Outra ainda que me contou o António Novais Ribeiro, membro da Tabanca de Candoz (e próximo grão-tabanqueiro)...  

Grandalhão de corpo e espírito, bem humorado  (ou já "apanhado do clima", como todos nós...), o major Fabião chamou o alferes Torgal, comandante do pelotão de transmissões do Agrupamento,  dizendo-lhe:

 − Torgal, quero o pelotão de transmissões todo formado, mas o Novais forma ao lado.

 Meu major, então porque é que o Novais forma ao lado, se eu é que sou o comandante do pelotão?

−  Porque eu quero correr-vos todos à chapada, mas o Novais forma ao lado porque não tem cara para aguentar duas chapadas!

[Texto: recolha, revisão e fixação: LG]

_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série : 28 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26624: Humor de caserna (108): dicas da "medicina do viajante"...(Do blogue "Africanidades", do nossso amigo e histórico da Tabanca Grande, Jorge Rosmaninho Neto, desaparecido do nosso radar)

(**) Último poste da série > 30 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18965: (De)Caras (115): O Carlos Fabião que eu conheci (António Novais Ribeiro, ex-Fur Mil Trms, Cmd Agr 2951, Cmd. Agr 2952 e Combis, Mansoa e Bissau, 1968/70)

Guiné 61/74 - P26676: Ser solidário (282): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à "Na Rota dos Povos" - ONGD


A consignação do IRS permite que uma parte do seu imposto a favor do Estado seja encaminhada para uma entidade à sua escolha. Este gesto solidário não tem qualquer custo para si, nem implica a perda de benefícios fiscais, mas pode fazer toda a diferença para quem mais precisa.

A Na Rota dos Povos é uma ONGD cuja missão é promo ver a educação, a proteção social e a saúde na região de Tombali, no sul da Guiné-Bissau. Sob o lema "A Educação é o Único Caminho", trabalhamos para transformar vidas: apoiamos cerca de 50 escolas com material e equipamento escolar, acolhemos na Casa da Mamé crianças que perderam a mãe no parto e proporcionamos apoio especializado a crianças com deficiência no Centro de Educação Especial e Terapêutica.

A consignação do IRS é uma das principais fontes de financiamento da Na Rota dos Povos. Cada consignação é mais um passo que podemos dar. Um passo que damos juntos e que nos leva um pouco mais longe.

Os próximos tempos serão desafiantes para nós com a construção da nova "Casa da Mamé". Cada consignação do IRS é um tijolo nesta nova casa. Cada partilha ergue paredes de conforto, desvenda janelas de esperança e abre portas para um futuro melhor.

Faça da sua consignação um alicerce para este sonho.
Muito obrigado.

Quem somos
A “Na Rota dos Povos” é uma Organização não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) com foco de atuação na educação, solidariedade social e saúde na região de Tombali, na Guiné-Bissau.
A sede da ONGD é em Matosinhos e, todas as tarefas, tais como angariações, gestão de recursos, comunicação, e organização de missões, são realizadas por voluntários.
Temos sede de delegação local na cidade de Catió, a cerca de 300 km da capital Bissau, onde damos emprego a 35 habitantes que colaboram nos diferentes projetos. A integração da ONGD na comunidade Cationense gera também uma onda de participação num país em que a solidariedade é característica deste povo sempre pronto a ajudar o vizinho.

A nossa motivação
Em Catió, no ano de 2010, o professor Braima Sambu fez um pedido. Quando se esperaria que seria algo para ele, o que Braima pediu foi capacitação para a população da sua terra. Capacitar é tornar capaz, mas também permitir acreditar. A capacitação que falava era ajuda para os professores de Catió.
Sensibilizados com tal pedido, no regresso a Portugal, começaram a reunir-se esforços para responder a este apelo.
Desde esse momento, sempre com o lema “A Educação é o Único Caminho” um longo percurso tem sido trilhado. O projeto que começou com o objetivo de ajudar a melhorar as condições dos professores de Catió tem vindo a crescer atingido agora muitas outras áreas para além das escolas como o orfanato da “Casa da Mamé”, o “Centro de Educação Especial e Terapêutica”, o apoio ao hospital regional da região, entre muitas outras contribuições para o sector de Tombali.

_____________

Nota do editor

Último post da série de 10 de Abril de 2015 > Guiné 61/74 - P26670: Ser solidário (281): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à Ajuda Amiga - ONGD

Guiné 61/74 - P26675: (In)citações (265): Obrigado ao vagomestre Vieira que das tripas fez coração... e ao Noratlas da FAP que, de vez em quando, nos largava uns frescos de paraquedas ( Ramiro Figueira e Carlos Barrros, 2ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74)72, Nova Sintra, 1972/74)


 








Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > >2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74) > Largada de frescos e correio, de paraquedas, através do Noratlas. Fotos do álbum de Ramiro Figueira


Fotos (e legenda): © Ramiro Figueira (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CART 2711 (1970/72) > s/d > Largada de frescos e correio, de paraquedas... Foto do álbum de Herlânder Simões, ex-fur mil d"Os Duros de Nova Sintra", de rendição individual, tendo estado no TO da Guiné, em Nova Sintra e depois Guileje, entre maio de 1972 e janeiro e 1974.


Foto (e legenda): © Herlânder Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Ramiro Figueira, médico na situação de reforma, que foi Alf Mil Op Especiais na 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74); membro recente da Tabanca Grande (desde  23 de junho de 2022), tem 9 referências no blogue.


Data - domingo, 23/03/2025, 18:25
Assunto - Vagomestres, precisam.se! (*)


Boa tarde

Como sabem, não fui vagomestre em Nova Sintra, estas funções eram desempenhadas pelo
furriel Vieira, um homem da zona de Leiria. Não me lembro do pessoal se queixar do vagomestre, lembro-me sim das inúmeras queixas sobre a comida, mas toda a gente sabia que o vagomestre fazia o que podia com o que lhe enviavam.

Os frescos constituíam um problema realmente, mas não passou, felizmente, por “excursões” a Bissau em busca de alimentos embora algumas vezes se levantasse a questão o que acabou por nunca acontecer.



O lendário Noratlas da nossa gloriosa FAP... Fonte: Wikipedia (com a devida vénia)


Os frescos chegavam-nos do ar, literalmente…
como uma periodicidade de que não me lembro. A Força Aérea enviava um Nortlaas que os largava de paraquedas no quartel espalhando-os um pouco por todo o lado, sobretudo na pista improvisada que servia o quartel.

Recordo-me de uma das vezes um paraquedas caiu em cima dos telhados de zinco provocando um enorme barulho que simulou o rebentamento de granadas que levou a algumas corridas às valas….


Abraço
Ramiro Figueira



2. Mensagem do Carlos Barros, ex-fur mil arm pes inf, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra".

Data - Quarta, 2/04/2025, 18:01
 

O Vagomestre de Nova Sintra, da 2ª C/BART 6520/72,  era o nosso querido e amigo Vieira sempre pronto a servir-nos bem, dentro da rotineira ementa- arroz com salsichas, salsichas com arroz...- e quando havia caça - javali/gazela...- era momento de júbilo no seio dos comensais. 

Muitas vezes, os vagomestres eram criticados por todos nós todavia, eles faziam o possível dentro do orçamento exigido pelos comandantes , do Batalhão ou da Companhia.

Devo realçar, que em Nova Sintra, em 1972/74, nunca passamos fome, isto na essência da palavra, a alimentação era pouco nutritiva e os legumes eram algo que raramente víamos. Chegámos a estar 3 meses sem ver um único legume ou hortaliça...

Um dia, implantamos um "projeto rudimentar de plantação de tomates" e mal nasciam, eram logo surripiados e nunca atingiam a adolescência...

Pensamos em cultivar alfaces , um sonho que o calor abrasador da Guiné não nos permitia sonhar com esse "luxo leguminoso" e o nosso Vieira, lá fazia de "tripas coração" para satisfazer as nossas exigências. 

Este amigo continua a ir aos nossos encontros, vamos no 50º e sempre foi uma pessoa maravilhosa e só pedimos desculpa das insinuações que fazíamos aos vagomestres , acusados de pouco honestos e todos nós sabemos do que se passava dentro dos quartéis ou destacamentos onde a seriedade estava em "crise" e eles, algumas vezes, levavam por tabela!.

Obrigado, Vieira, pela tua prestação como vagomestre em Nova Sintra e, se tiveste falhas, também nós tivemos e estamos todos perdoados!... (**)

Carlos M. Lima Barros
Ex-furriel dos "Mais de Nova Sintra" 
"Armas Pesadas" - sempre alinhou , quase diariamente, no mato.
2ª CART / Bart 6520/72 (Nova Sintra, Tite, Gampará, 1972/74)

3. Comentário do editor LG:

No passado 21/03/2025, às 22:02, tinha mandado para a caixa de correio de  cerca de quatro dezenas de grão-tabanqueiros uma mensagem sob o título "Vagomestres, precisam-se!"... Poucos me responderam. Um deles foi Ramiro Figueira, hoje médico, bem como o Carlos Barros, professor reformado, ambos da 2ª C/BART 67520/72, 

 O teor da minha mensagem era o seguinte (*):

Camaradas, grão-tabanqueiros:

Uma das coisas intrigantes da Tabanca Grande é que há uma enorme escassez de... vagomestres!...

Pelas minhas contas, assim de cabeça, vivos, temos o João Bonifácio (vive no Canadá, era da CCAÇ 2402, do nosso histórico Raul Albino, já falecido) e agora Aníbal José da Silva (que foi do CCAV 2383, Nova Sintra, 1969/0)... Temos ainda o Vitor Alves, da CCAÇ 12 (2ª geração), já falecido,,, (E já me esquecia do António Tavares (ex-fur mil SAM, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72).

No blogue e ao fim de 20 anos temos 40 referências à figura do vagomestre (2 por ano em média!)... Mas, bolas, foram nossos camaradas e ajudaram-nos a não morrer de fome...

O que se passa com eles ? Não têm boas recordações da Guiné, como todos nós temos ? Bolas, foi o tempo mais divertido das nossas vidas!

Vamos lá a comentar este bem humorado poste, escrito por uma vagomestre que já mereceu honras de Tabanca Grande!... Vocês estão a imaginar o pobre do Aníbal a carregar às costas (e a suar em pinga!) uma carcaça de vitela (!) do táxi à avioneta dos TAAG, em Bissalanca, para matar a malvada aos seus camaradas de Nova Sintra ? E, se calhar, nem recebeu um simples louvor no fim da comissão! (*)

Cinquenta anos depois, camaradas, digam lá qualquer coisinha sobre os ossos queridos vagomestres que fizeram das tripas coração!... Sem ironia!...

Bom fim de semana... E alimentem o blogue, que também tem "barriga".... Um Ab, Luís

____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


(**) Último poste da série > 4 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26653: (In)citações (264): Morreu Roberta Flack aos 88 anos, a mesma Roberta Flack que acompanhava as noites do medo no mato da Guiné... (Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais)

Guiné 61/74 - P26674: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II



Foto nº 12A e 12




Foto nº 15A e 15



Foto nº 14


Foto nº  11


Foto nº 10


Foto nº 8



Foto nº 9 e 9A




Foto nº 13A e 13

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Fot0s do álbum do Virgílio Teixeira: membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017. Tem cerca de 200 referências no nosso blogue. Natural do Porto, vive em Vila do Conde. É economista e gestor reformado.



A Bissau do meu tempo (Virgílio Teixeira,ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


- Parte II








1.  Fotos e legendas:


Foto 8

No Restaurante Tropical

Frequentei este restaurante tradicional várias vezes, mas não me lembro onde ficava, talvez na Bissau Nova.

Estamos 3 na mesa, um deles o Riquito foi bater a chapa, está um prato a mais. O rapaz na minha frente, que aparece inúmeras vezes nas fotos, nem sei o nome, era um soldado que julgo ser irmão do nosso ex-Furriel Riquito, pois é parecido com ele.

Duas garrafas de vinho, que não sei a marca, e um móvel cheio de coisas, que não
consigo agora identificar. Pede-se ajuda!

O penso no meu cotovelo, são as reminiscências da enorme queda nos acessos à Messe de Oficiais no Clube de Santa Luzia, onde já noite, vindo de Safim, com o meu amigo ex-alferes Verde, com uns copos a mais, caímos que nem sapos da motorizada, nas enormes valas de escoamento de chuvas. Ainda fomos à enfermaria tratar das mazelas sem ninguém se aperceber desta bronca.

Foto 9

Na estátua a Mouzinho de Albuquerque (o autor queria dizer, navegador Diogo Gomes, c. 1402/1420-c.1502), era eu e o meu homólogo "bianense", do BCAÇ 1932. Meu amigo do Porto e colega, de que já falei, no ICP (Instituto Comercial do Porto, fu
turo ISCAP - Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, a partir de 1976).

Em Fevereiro de 1968. Bissau

Foto 10

Marginal e ponte-cais de Bissau

Estou a deslumbrar-me com aquelas vistas, do rio, cais, porto. Está comigo o mesmo individuo que ainda não sei quem é, mas provavelmente irmão do Furriel Riquito (foto 8).

Bissau, em Fevereiro de 1968

Foto 11

Pub Bar A Meta

A tomar um copo neste bar, que era também de jogos de corridas de minicarros, etc,

À esquerda o soldado condutor Espadana, era também o Chefe de Mesa na Messe de oficiais, vestia sempre de branco, e tinha uns galões vermelhos, pelo que era conhecido como o nosso Brigadeiro. Era um rapaz simples e afável, parecia mais morcão do que veio a saber-se,

Foi ele que geriu o Bar no mês em que fui nomeado. Todos beberam à grande, nunca fiz contas nem vi o dinheiro, mas no final deu saldo positivo.

Veio a saber-se nos almoços do batalhão, que ele, não morava dentro do arame farpado! Tinha uma bajuda, isto pelo menos em S. Domingos, com quem fazia vida conjugal e com certeza levava algumas coisas da messe. Nunca soube de nada, só alguns e poucos colegas e amigos.

Nunca deram falta dele, estava a horas no Bar e Messe.

Quando eu nos anos de 1984 e 1985 andei em viagens de e para a Guiné, em negócios, fui e como sempre, antes de embarcar na TAP na Portela, jantar ou almoçar ao mesmo restaurante às Portas de Santo Antão, pegado ao Gambrinus.

Eis que dou com ele, ali numa churrasqueira ao lado, a servir frangos na esplanada. Lá nos abraçamos, era hora de ponta, ele não tinha muita disponibilidade, disse o que fazia agora na Guiné, ele demonstrou alguma saudade ou saudosismo (da bajuda talvez?!).

Já pertence àqueles que da lei da morte se foram libertando. Paz à sua alma.

A seguir o tal rapaz que não sei identificar, mas que andava com esta malta.

Depois aí está o chamado ‘Artolas nº 1’ Era um bom amigo, e fez comigo as marchas finais em Mafra, e depois em Lisboa Lumiar Carregueira na EPAM. Formou-se um grupo autodenominado o Grupo dos Artolas. Era eu, o meu homólogo,  o "Bianense", o chamado ‘Cachadinha’ que morava em Vila do Conde, foi candidato à Camara de Matosinhos pelo PCP, e que foi durante muitos anos, o Diretor Chefe da Alfândega de Leixões. Eu ia lá em serviço muitas vezes, mas nunca facilitava nada. Era severo. Tinha a voz rouca e grossa, baixinho como eu, daí a voz de bagaço a que chamamos de Cachaça, logo o Cachadinha. Era o Madureira. Tinha o curso do ICP e foi parar a outro local qualquer, mas não na Guiné.

A seguir ao Artolas, falha-me o nome, sou eu já conhecido. (Policarpo). Os pais tinham uma pensão junto à Estação de São Bento, onde serviam na tasca, bebidas e petiscos, e fui lá algumas vezes, na Rua da Picaria.

Bissau em 25 de Março de 1968. Faz hoje 57 anos.

Foto 12

No cais de embarque em Bissau e Marginal

Das primeiras fotos que tirei, uns dias depois de ter desembarcado e ainda em Setembro de 67.

A apreciar paisagem com o tal personagem que não sei quem é, o meu batalhão ainda não tinha chegado, eu ia para ali para ver a sua chegada, em 3 de outubro de 67.

Os "bocas de sapo" eram talvez do Estado, pelo aspecto.

Não sei identificar o navio no cais, mas era pequeno, porque os grandes ficavam ao largo.

Bissau, em fins de Setembro de 1967

Foto 13

Junto a navio patrulha da armada portuguesa Esse é um navio, talvez Patrulha ou Fragata, não sei. Mas a bandeira não é Portuguesa, daí a minha confusão. Mas para lá entrar era dos nossos.

Nesta fase, já estou desempregado, e a aguardar a chegada do "Uíge" para me levar
embora.

Bissau, Maio de 1969

(Nota do editor LG: Provavelmente é um rebocador. o pavilhão é alemão (bandeira tricolar: preto, vermelho e dourado, da então República Federal Alemão; o navio estava matricialdo em Hamburgo, lê-se na boia de salvação; o nome do navio é ilegível.)

Foto 14

Grande Hotel de Bissau

Já fumava charuto? Não me lembro, mas talvez esporadicamente.

Vinha muitas vezes para este Hotel, tinha um optimo serviço, parava lá a fina flor de Bissau e visitas,

Passei por lá algumas noites, quando não me apetecia ir para o "Biafra", tinha casa de banho completa. Lembro-me do cheiro a creolina para desinfectar tudo especialmente expulsar as baratas que por lá andavam e os fungos de muita gente com doenças,

Tinha pequeno almoço tipo hotel, e muitas vezes almocei e jantei por lá, onde via
frequentemente os altos comandos militares, incluindo Spínola.

Tinha uma loja de venda de muitas coisas que não existiam no comércio local e
tradicional. Ali comprei os primeiros polos.

Na esplanada não faltavam os sardões de meio metro a subir pelas árvores, mas vinham visitar-nos à beira dos pés.

Os jagudis era a sua sombra negra.

Bissau, Novembro de 1968

Foto 15

Avenida da Liberdade (isto é, da República), em Bissau, com duas faixas de rodagem e separador central

Pouco movimento, tudo maltratado, ao cimo a Praça do Império, e o Palácio do
Governador.

Quem sobe do lado direito, depois do Bento, e depois da Pensão da Dona Berta, temos o Stand da Peugeot e venda de gás em botija. Era o Gascidla, muito famoso aqui na metrópole. Devia pertencer à Sacor.

Acima estão as bombas de gasolina da Sacor, onde eu abastecia as minhas motorizadas.

Bissau em 3 de Outubro de 1967, no dia de chegada do T/T Timor com o meu batalhão.

(Continua)

(Revisão / fixação de textyo: LG)
______________

Guiné 61/74 - P26673: Parabéns a você (2366): Jorge Picado, ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885 e da CART 2732 (Mansoa, Mansabá e Teixeira Pinto (CAOP 1), 1970/72)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 9 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26666: Parabéns a você (2365): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72 (Mansoa, 1972/74) e Coronel PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Cap PilAv da Esquadra 121/GO 1201/BA 12 (Bissau, 1972/74)

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26672: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (23)

Foto 180 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira
Foto 181 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira
Foto 182 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira
Foto 183 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira junto ao buraco feito por um dos 3 foguetões de 120 mm mandados pelos "turras no ataque ao quartel
Foto 184 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira
Foto 185 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira
Foto 186 > Abril de 1971 > Olossato > João Moreira > Estrada Maqué-Olossato
Foto 187 > Abril de 1971 > Destacamento do Maqué > João Moreira

(continua)
_____________

Nota do editor

Último post da série de 3 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26648: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (22)