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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20469: Parabéns a você (1725): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20471: Tabanca Grande (489): Alexandre Margarido, ex-cap mil grad inf, op esp / ranger, último cmdt da CCAÇ 3520 (Cacine, Cameconde, Quinhamel, 1972/74)...Senta-se à sombra do nosso poilão sob o nº 801
Guiné > região de Tombali > Cacine > CCAÇ 3520 > 1973 > Uma pausa no rio Cacine, nos "turbulentos acontecimentos" de Guileje / Gadamael, em maio e junho de 1973. Alexandre Margarido CCAÇ 3520 |
O Alexandre Margarido, novo membro da Tabanca Grande, com o nº 801
Fotos (e legendas): © Alexandre Margarido (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Data - terça feira, 17/12/2019, 21h17
Assunto - Adesão à Tabanca Grande
Caro Luis Graça,
Tenho acompanhado este Blog, com regularidade e considero do máximo interesse todo o trabalho, até aqui desenvolvido, para que não se percam, nos meandros dos interesses, que jogam com os ex-combatentes, as suas memórias e as experiências de vidas, aqui tão bem representadas.
O meu nome Alexandre Augusto Martins Margarido, fui o último Capitão Miliciano, da Companhia Independente de Caçadores nº 3520, com a Especialidade de Operações Especiais.
Estive na Guiné desde Dezembro de 1971 a Maio de 1974, tendo a minha Companhia, passado por Cacine, Cameconde, Guileje, Gadamel e finalmente Quinhamel, até ao seu regresso ao Funchal, onde se tinha formado.
Conforme as normas da Tabanca, envio duas fotos, uma actual, a outra tirada no Rio Cacine, numa pausa dos acontecimentos turbulentos de 1973, solicitando a entrada, e prometendo o envio de uma das muitas histórias, que fizeram parte dessa minha estadia, por terras da Guiné.
Forte abraço,
Alexandre Margarido
Ex-Capitão Miliciano Ranger
Caro Luis Graça,
Tenho acompanhado este Blog, com regularidade e considero do máximo interesse todo o trabalho, até aqui desenvolvido, para que não se percam, nos meandros dos interesses, que jogam com os ex-combatentes, as suas memórias e as experiências de vidas, aqui tão bem representadas.
O meu nome Alexandre Augusto Martins Margarido, fui o último Capitão Miliciano, da Companhia Independente de Caçadores nº 3520, com a Especialidade de Operações Especiais.
Estive na Guiné desde Dezembro de 1971 a Maio de 1974, tendo a minha Companhia, passado por Cacine, Cameconde, Guileje, Gadamel e finalmente Quinhamel, até ao seu regresso ao Funchal, onde se tinha formado.
Conforme as normas da Tabanca, envio duas fotos, uma actual, a outra tirada no Rio Cacine, numa pausa dos acontecimentos turbulentos de 1973, solicitando a entrada, e prometendo o envio de uma das muitas histórias, que fizeram parte dessa minha estadia, por terras da Guiné.
Forte abraço,
Alexandre Margarido
Ex-Capitão Miliciano Ranger
2. Resposta do editor Luís Graça:
Alexandre, és recebido de braços abertos, e muito provavelmente serás o último (**) a franquear, este ano o "hall" de entrada da Tabanca Grande (, digo "hall", porque não temos portas, nem janelas, nem porta de armas, nem cavalos de frisa, nem fiadas de arame farpado, nem valas, nem abrigos, nem espaldões...).
Como sabes, somos uma "comunidade virtual" de antigos camaradas de armas, que passaram pelo TO da Guiné, de 1961 a 1974, fazendo a guerra e a paz...Costumamos dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O que é verdade, temos gente, amigos e camaradas da Guiné, um pouco por toda a parte, dos Estados Unidos à Austrália, de Ponte de Lima ao Funchal, de Faro a Bissau, passando por Macau, Cabo Verde, França, Brasil, Alemanha, e por aí fora...
Da tua companhia, a CCAÇ 3520, "Estrelas do Sul" (que nome poético!), tu passarás a ser, se não me engano, o terceiro representante, depois do José Vermelho, nosso grã-tabanaqueiro nº 471, fur mil (CCAÇ 3520 - Cacine, e CCAÇ 6 - Bedanda, CIM - Bolama, 1972/74) e depois do Juvenal Candeias, alf mil at inf, que entrou para a Tabanca Grande em 6 de maio de 2009.
Como sabes, somos uma "comunidade virtual" de antigos camaradas de armas, que passaram pelo TO da Guiné, de 1961 a 1974, fazendo a guerra e a paz...Costumamos dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O que é verdade, temos gente, amigos e camaradas da Guiné, um pouco por toda a parte, dos Estados Unidos à Austrália, de Ponte de Lima ao Funchal, de Faro a Bissau, passando por Macau, Cabo Verde, França, Brasil, Alemanha, e por aí fora...
Da tua companhia, a CCAÇ 3520, "Estrelas do Sul" (que nome poético!), tu passarás a ser, se não me engano, o terceiro representante, depois do José Vermelho, nosso grã-tabanaqueiro nº 471, fur mil (CCAÇ 3520 - Cacine, e CCAÇ 6 - Bedanda, CIM - Bolama, 1972/74) e depois do Juvenal Candeias, alf mil at inf, que entrou para a Tabanca Grande em 6 de maio de 2009.
Mas, deixa-me lembrar-te, tu já nos tinhas feito uma "visita" em 2013 (*), comentando esse "resort" turístico que era Cameconde no teu/nosso tempo... Na altura, a Tabanca Grande "partiu mantenhas" contigo e convidou-te para te sentares "aqui, debaixo do nosso mágico e fraterno poilão"... Não entraste em 2013, entras agora no final de 2019. E o lugar que te calha é já o 801.. (Já podes ver o tem nome, na lista alfabética, de A a Z, que consta na coluna do lado esquerdo do nosso blogue.)
E vais concerteza ajudar-nos a manter viva e sempre fresca esta "fonte de memórias" onde vem beber a rapaziada que esteve na Guiné, em "comissão de serviço", uns no "back office", outros no "front office"... Partilhamos memórias (e afetos), contamos as nossas histórias... sem censura, sem juízos de valor, sem picardias, sem ressentimentos, procurando contar a verdade e só a verdade.
Senta-te, desfruta a nossa companhia, vai dando notícias, vai participando (com textos, comentários, fotos...) e, entretanto, faz o favor de ser feliz e tem um bom e santo Natal.
Guiné > Mapa geral da província ( 1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Cameconde, a guarnição militar portuguesa mais a sul, na região de Quitafine, na estrada fronteiriça Quebo-Cacine... Em 1968 era o batalhão que estava em Buba (BART 1896, 1966/68) quem defendia esta importante linha de fronteira...
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
(i) Mobilizada pelo BII 19 (Funchal);
(ii) Parte para o TO da Guiné em 20/12/1971 e regressa a 37/3/1974;
(iii) Passou por Cacine (mas também Cameconde) e Quinhamel;
(iv) teve quatro comandantes: cap inf Herberto Amaro Vieira Nascimento; cap mil Jaime Cipriano da Costa Rocha Quaresma; cap mil inf Armando Pimenta Cristóvão; e cap mil grad inf Alexandre Augusto Martins Margarido.
___________
Notas do editor_
(*) Vd. poste de 21 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11129: (Ex)citações (213): Cameconde, hoje seria um lugar de absurdo, de pesadelo e de loucura... (Alexandre Margarido, ex-cap mil, CCAÇ 3520, Cacine e Cameconde, 1972/74)
As altas temperaturas dentro dos abrigos, os insectos, as cobras que deslizavam da selva durante a noite, procurando o calor dessas fortificações, autênticos fornos, a exposição a atiradores e às flagelações por RPG, tudo isso, recuando 40 anos nas minhas memórias, era impensável ser suportado nos dias de hoje.
Obrigado por manterem vivas essas memórias.(...)
(**) Último poste da série > 21 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20369: Tabanca Grande (488): Miguel José Ribeiro da Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845 (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), tertuliano com o número 800 da nossa Tabanca
Guiné 61/74 - P20470: Blogpoesia (651): A G3 e a ingratidão (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BCAÇ 3872)
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro,
1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data
de 2 de Dezembro de 2019:
A G3 E A INGRATIDÃO
Caros camaradas,
Vieram há tempos notícias de finalmente a G3 ia ser substituída no Exército Português.
A notícia tem o valor que tem, uma vez que a nós que carregamos com ela quase três anos isso agora para além do valor sentimental já não nos afecta. Decerto as milhares de G3, que foram usadas por nós já devem ter sido vendidas há muito tempo para alguns conflito regional, onde lhes continuaram a dar uso. Se assim não fosse muito me admiraria.
Tive três: Uma na recruta, outra na especialidade novinha em folha, finalmente a última com que privei na Guiné e fez precisamente no dia 1 de Dezembro 47 anos, que a usei com intuito de me defender de um ataque ao arame.
Por estranho que pareça a que me foi dada no Cumeré e que usei em zona de conflito, era a mais velha de todas com coronha mais protector do cano em madeira, a tinta preta mate que compunha a camuflagem evitando brilhos incómodos que já tinham passado por melhores dias. Julgo que era uma arma de 1962 por isso, com dez anos quando me chegou às mãos. Ao que julgo as armas também não se querem velhas.
Mas pronto, isto tudo para dizer que quando a entreguei foi um alívio e que até hoje não senti saudades. Compreenderei que este meu desprendimento cause a impressão de que eu sou mal-agradecido a muitos camaradas, que por alguma razão a idolatram por serviços prestados aos mesmos, mas opiniões são opiniões e eu, nunca escondi que preferia ter tido uma arma mais pequena, mais leve e com maior cadência de tiro para as eventualidades.
Será quase como ter saudades da caneta de molhar no tinteiro da escola primária, quando já temos uma caneta de tinta permanente mal comparado mas é um bocado assim. Mete algum dó ver os nossos militares em zona de conflito a correr atrás dos insurgentes em África, armados com aquele artigo já na linhagem dos canhangulos com dezenas de anos e não tem comparação com o moderno e sofisticado equipamento do exército, que parecem ombrear com a Guerra da Estrelas “Star Wars em amaricano” onde só os manhosos dos Jedi usavam uma arma “espada” que parece mais antiga que a G3.
Assim para quê mentir e dizer que não me juntava aos com ar guloso miravam as kalashnikov's com os seus carregadores curvos com mais doze munições que a G3, que de vez enquanto eram atavio de tropas de elite que nos visitavam em Galomaro? Quando fui entregar material de guerra a Bissau iam algumas na bagagem e, quando entrei no paiol onde eram guardadas, fiquei abismado com a quantidade delas reluzentes ao lado das PPSH e dos lança-roquetes, que eram para ali encaminhados depois de capturados.
Mas finalmente parece que é desta, tendo em conta que ainda lá estávamos e já se falava na sua substituição, se entretanto não for agora, será noutra altura, porque a esperança mesmo que legitima e a pressa não combinam.
Não verterei uma lágrima
Não tenho saudades de ti
Do desconforto do teu peso
Da forma como me sacudias o corpo
Do teu tamanho nada maneiro
Não prometeram melhor, bem sei
Mesmo assim dormi contigo na cama
Levei-te ao Libanês e comi contigo à mesa
Limpei-te e acariciei-te
Nunca esperei grandes veleidades
Só desejava que ao menos não me falhasses
Um dia meteste-me em trabalhos
Disparei-te sem querer
Surpreendias-me sempre com o teu estampido
Foi para o ar, mas mesmo assim imperdoável
Qual cavaleiro justiceiro o Castro, empunhou a bengala
Um brado ecoo pelo terreiro - estás lixado pá
Mas a bengala parou no ar
Castigado com reforços lá estiveste ao meu lado
Ingrato, entreguei-te para abate
A partir daí pude andar com as mãos nos bolsos
Nunca mais em ti pensei
Mesmo com o carregador sem balas
Imagem que perdura vi-te dar flor
Esta imagem que te reaproxima de mim.
No dia inicial e limpo*
____________
*Excerto do poema de Sofia de Mello Andersen, "25 de Abril"
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'
____________
Nota do editor
Último poste da série de 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20457: Blogpoesia (650): "Igreja Matriz", "Palavras perdidas" e "Diametralmente oposto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
A G3 E A INGRATIDÃO
Caros camaradas,
Vieram há tempos notícias de finalmente a G3 ia ser substituída no Exército Português.
A notícia tem o valor que tem, uma vez que a nós que carregamos com ela quase três anos isso agora para além do valor sentimental já não nos afecta. Decerto as milhares de G3, que foram usadas por nós já devem ter sido vendidas há muito tempo para alguns conflito regional, onde lhes continuaram a dar uso. Se assim não fosse muito me admiraria.
Tive três: Uma na recruta, outra na especialidade novinha em folha, finalmente a última com que privei na Guiné e fez precisamente no dia 1 de Dezembro 47 anos, que a usei com intuito de me defender de um ataque ao arame.
Por estranho que pareça a que me foi dada no Cumeré e que usei em zona de conflito, era a mais velha de todas com coronha mais protector do cano em madeira, a tinta preta mate que compunha a camuflagem evitando brilhos incómodos que já tinham passado por melhores dias. Julgo que era uma arma de 1962 por isso, com dez anos quando me chegou às mãos. Ao que julgo as armas também não se querem velhas.
Mas pronto, isto tudo para dizer que quando a entreguei foi um alívio e que até hoje não senti saudades. Compreenderei que este meu desprendimento cause a impressão de que eu sou mal-agradecido a muitos camaradas, que por alguma razão a idolatram por serviços prestados aos mesmos, mas opiniões são opiniões e eu, nunca escondi que preferia ter tido uma arma mais pequena, mais leve e com maior cadência de tiro para as eventualidades.
Será quase como ter saudades da caneta de molhar no tinteiro da escola primária, quando já temos uma caneta de tinta permanente mal comparado mas é um bocado assim. Mete algum dó ver os nossos militares em zona de conflito a correr atrás dos insurgentes em África, armados com aquele artigo já na linhagem dos canhangulos com dezenas de anos e não tem comparação com o moderno e sofisticado equipamento do exército, que parecem ombrear com a Guerra da Estrelas “Star Wars em amaricano” onde só os manhosos dos Jedi usavam uma arma “espada” que parece mais antiga que a G3.
Mas finalmente parece que é desta, tendo em conta que ainda lá estávamos e já se falava na sua substituição, se entretanto não for agora, será noutra altura, porque a esperança mesmo que legitima e a pressa não combinam.
Não verterei uma lágrima
Não tenho saudades de ti
Do desconforto do teu peso
Da forma como me sacudias o corpo
Do teu tamanho nada maneiro
Não prometeram melhor, bem sei
Mesmo assim dormi contigo na cama
Levei-te ao Libanês e comi contigo à mesa
Limpei-te e acariciei-te
Nunca esperei grandes veleidades
Só desejava que ao menos não me falhasses
Um dia meteste-me em trabalhos
Disparei-te sem querer
Surpreendias-me sempre com o teu estampido
Foi para o ar, mas mesmo assim imperdoável
Qual cavaleiro justiceiro o Castro, empunhou a bengala
Um brado ecoo pelo terreiro - estás lixado pá
Mas a bengala parou no ar
Castigado com reforços lá estiveste ao meu lado
Ingrato, entreguei-te para abate
A partir daí pude andar com as mãos nos bolsos
Nunca mais em ti pensei
Mesmo com o carregador sem balas
Imagem que perdura vi-te dar flor
Esta imagem que te reaproxima de mim.
No dia inicial e limpo*
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*Excerto do poema de Sofia de Mello Andersen, "25 de Abril"
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'O Nome das Coisas'
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20457: Blogpoesia (650): "Igreja Matriz", "Palavras perdidas" e "Diametralmente oposto", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P20469: Parabéns a você (1725): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20463: Parabéns a você (1724): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20468: Notas de leitura (1247): "A Medicina na Voz do Povo", 3ª edição, de Carlos Barreira da Costa, médico otorrino, do Porto
1. O nosso editor jubilado, Virgínio Briote, mandou-nos esta "nota de leitura", de um livro,"A Medicina na Voz do Povo", e que vai já na 3ª edição, podendo ser comprada "on line" no Sítio do Livro: o preço de capa é 22,00 €. (Na FNAC parece estar esgotado.)
Neste livro, "sugestivamente ilustrado" (por Fernando Vilhena de Mendonça), ele decidiu compilar, "com o contributo de muitos colegas de profissão" (...) "trinta anos de histórias, crenças e dizeres ouvidos durante o exercício da sua prática da medicina".
A medicina na voz do povo : 30 anos a ouvir : histórias, crenças e dizeres contadas a um otorrino / Carlos Barreira da Costa ; il. Circulo Médico, Fernando Vilhena de Mendonça ; pref. Júlio Machado Vaz. - 1ª ed. - Queluz : Círculo Médico, 2007. - 142 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-95314-1-3
Mais sobre o autor, Carlos Barreira da Vosta: fez o curso de medicina em 1970; tirou a especialidade de otorrinolaringologia, em 1976, no Hospital de São João. Desde 1983,foi especialista do serviço de ORL do Instituto de Oncologia do Porto (IPOP), e diretor do respetivo serviço de 2003 a 2007. Já está reformado do SNS. Faz clínica privada.
Aqui fica a ficha técnica da 1ª edição:
A medicina na voz do povo : 30 anos a ouvir : histórias, crenças e dizeres contadas a um otorrino / Carlos Barreira da Costa ; il. Circulo Médico, Fernando Vilhena de Mendonça ; pref. Júlio Machado Vaz. - 1ª ed. - Queluz : Círculo Médico, 2007. - 142 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-95314-1-3
Mais sobre o autor, Carlos Barreira da Vosta: fez o curso de medicina em 1970; tirou a especialidade de otorrinolaringologia, em 1976, no Hospital de São João. Desde 1983,foi especialista do serviço de ORL do Instituto de Oncologia do Porto (IPOP), e diretor do respetivo serviço de 2003 a 2007. Já está reformado do SNS. Faz clínica privada.
"Resultado dos seus muitos anos já dedicados à medicina, o otorrinolaringologista português Carlos Barreira da Costa reuniu neste livro as frases e comentários mais bizarros – desconcertantes, mesmo, em muitos casos – usadas pelos seus pacientes e pelos pacientes de outros colegas de profissão. Com esta recolha, ilustra-se o recurso a crenças, expressões e palavras da fala popular por quem, não dominando minimamente a terminologia técnica mais adequada, consegue assim dar conta das suas queixas e padecimentos."
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/montra/livros/a-medicina-na-voz-do-povo/144 [consultado em 18-12-2019]
2. Com a ajuda de várias páginas da Net e nas redes sociais, compilámos, com a devida vénia, uma amostra destas expressões, ordenando-as apenas por ordem alfabética, e reformulando alguns dos títulos das categorias temáticas.
Para quem está interessado em aprofundar este tema das representações leigas do corpo, da doença, da medicina e das práticas médicas, recomendo a leitura de um conjunto de artigos meus, datados de 2000, e alojados na minha pessoal na Net, "Luís Graça: Saúde e Trabalho".
Contra um visão iatrocêntrica e etnocêntrica, os sociólogos, antropólogos e historiadores da saúde gostam de lembrar que não há só uma "medicina" (, muito menos a "ocidental") nem só um "modelo explicativo" de saúde/doença... No fundo, aquilo que designamos por "acto médico", desde a Grécia Antiga até aos nossos dias, não é mais do que a situação em que um indivíduo, que se considera doente, procura ajuda, colocando-se na presença de outro a quem atribui poder(es) para curar: pode ser o médico de bata branca, pode ser o curandeiro da aldeia. O que importa é a "relação terapêutica", a interação entre ambos, a necessidade e a expetativa de quem se sente doente (, por ter ou sentir uma dor ou uma anomalia na aparência ou no funcionamento do corpo), de ser tratado... Diagnóstico, decisão terapêutica e tratamento, ou seja, o conjunto do ato médico, variam conforme o tempo e o espaço, a sociedade, a cultura, a própria religião, e, claro, a ciência e as técnicas e as práticas médicas...
É uma boa sugestão de leitura, para o Natal, sobretudo, para gente como nós, que tem não só a língua "cheia de Áfricas", mas o corpo todo, dos pés à cabeça... LG
I. As perturbações da fala que impacientam o doente:
"Não tenho dores, a voz é que está muito fosforenta".
"Na voz sinto aquilo tudo embuzinado".
"O meu pai morreu de tísica na laringe".
"Tenho humidade gordurosa nas cordas vocais".
II. As dores da coluna e do aparelho mísculo-esquelético,
que são difíceis de suportar:
"Além das itroses tenho classificação ossal".
"É uma dor insepulcrável".
"Estou desconfiado que tenho uma hérnia de escala".
"Já tenho os ossos desclassificados".
"Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência para a tensão alta".
"O meu reumatismo é climático".
"O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura".
"Tenho artroses remodeladas e de densidade forte".
III. O aparelho digestivo, que origina sempre muitas queixas:
"Ando com o fígado elevado. Já o tive a 40, mas agora está mais baixo".
"Eu era muito encharcado a essa coisa da azia".
"Fiz uma mamografia ao intestino".
"Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar
e eu a comer papa".
"Fui operado ao panquecas".
"O meu filho foi operado ao pence (apêndice) mas não lhe puseram os trenos (drenos),
encheu o pipo e teve que pôr o soma (sonda)".
"O meu marido está internado porque sangra pela via da frente
e pinga pela via de trás".
"Senhor Doutor a minha mulher tem umas almorródias
que, com a sua licença nem dá um peido".
"Tenho pedra na basílica".
"Tive três úlceras: uma macho, uma fêmea e uma de gastrina".
IV. O diálogo com o paciente com patologia da boca, olhos, ouvidos, nariz e garganta
é sempre um desafio para o clínico e para a comunicação clínica :
"A garganta traqueia-me, dá-me aqueles estalinhos e depois fica melhor".
"Fui ao Ftalmologista, meteu-me uns parafusinhos nos olhos a ver se as lágrimas saíam".
"Gostava que as papilas gustativas se manifestassem a meu favor".
"Isto deu-me de ter metido a cabeça no frigorífico. Um mês depois fui ao Hospital
e disseram-me que tinha bolhas de ar no ouvido".
"Não sei se isto que tenho no ouvido é cera ou caruncho".
"O dente arrecolhia pus e na altura em que arrecolhia às imidulas infeccionava-as".
"Ouço mal, vejo mal, tenho a mente descaída".
"Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o car...., o nariz não se destapa".
"Tenho a língua cheia de Áfricas".
V. Os aparelhos genital e urinário são objecto
de queixas muito... "sui generis"
"A minha pardalona está a mudar de cor".
"Apareceu-me uma ferida, não sei se de infecção se de
uma f... mal dada".
"Às vezes prega-se-me umas comichões nas
barbatanas".
"Fazem aqui o Papa Micau ( Papanicolau )?"
"O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de
manhã".
"Quando estou de pau feito...., a p... verga".
"Quantos filhos teve?" - pergunta o médico. "Para a retrete foram quatro, senhor doutor,
e à pia baptismal levei
três".
"Tenho de ser operado ao stick. Já fui operado aos
estículos".
"Tenho esta comichão na perseguida porque o meu marido
tem uma infecção
na ponta da natureza".
"Venho aqui mostrar a parreca".
VI. Os medicamentos e os seus efeitos, que se prestam às maiores confusões:
"Agora estou melhor, tomo o Bate Certo" (Betaserc)
"Andei a tomar umas injecções de Esferovite" (Parenterovit)
"Ando a tomar o Castro Leão" (Castilium)
"Ando a tomar o EspermaCanulado" (Espasmo Canulase)
"Diz lá no papel que o medicamento podia dar muitas complicações e alienações".
"Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada" (Piprilim)
"Estava a ficar com os abéticos no sangue".
"Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas".
"Ó Sra. Enfermeira, ele tem o cu como um véu. O líquido entra e nem actua".
"Quando acordo mais descaída tomo comprimidos de alta potência e fico logo melhor".
"Receitou-me uns comprimidos que me põem um pouco tonha".
"Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião" (Sermion)
"Tomei Sexovir" (Isovir)
"Tomei uns comprimidos "jaunes", assim amarelados".
"Tomo o Sigerom e o Chico Bem" -(Stugeron e Gincoben)
"Tomo uma cábulas à noite".
"Tomo uns comprimidos a modos de umas aboborinhas".
"Ando a tomar o EspermaCanulado" (Espasmo Canulase)
"Tenho cataratas na vista e ando a tomar o Simião" (Sermion)
"Andei a tomar umas injecções de Esferovite" (Parenterovit)
"Era um antibiótico perlim pim pim mas não me fez nada" (Piprilim)
VII. O português que bebe e fuma muito e que se desculpa com frequência:
"A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim aos tombos,
"Eu abuso um pouco da água do Luso".
"Eu sou um fumador invertebrado".
"Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem".
"Não era ébrio nato mas abusava um pouco do álcool"
"Tomo um vinho que não me assobe à cabeça".
VIII. O que os doentes, afinal, pensam do(s) médico(s):
"Especialista, médico, mas entendido!".
"Gosto do Senhor Doutor! Diz logo o que tem a dizer,
não anda a engasular ninguém".
"Não há melhor doente que eu! Faço tudo o que me mandam,
com aquela coisa de não morrer".
"Não sou muito afluente de vir aos médicos".
"Quando eu estou mal, os senhores são Deus, mas se me vejo de saúde,
acho-vos uns estapores".
"Também desculpe, aquela médica não tinha modinhos nenhuns".
IX. Os "problemas da cabeça", que são muito frequentes:
"A minha cabecinha começa assim a ferver e fico com ela húmida, assim aos tombos,
a trabalhar".
"Andei num Neurologista que disse que parti o penedo, o
rochedo ou lá o que é...".
"Fui a um desses médicos que não consultam a gente, só
falam pra nós".
"Há dias fiz um exame ao capacete no Hospital de S.
João".
"Ou caiu da burra ou foi um ataque cardeal".
"Vem-me muitos palpites ruins, assim de baixo para
cima...".
__________
Nota de leitura:
Último poste da série > 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20460: Notas de leitura (1246): “Capim Rubro”, de José Monteiro; Chiado Books, 2018 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P20467: Historiografia da presença portuguesa em África (192): Relatório Anual do Governador da Guiné (1921-1922) - Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2019:
Queridos amigos,
O destino tem destas coisas, surpreende-nos com imprevistos muitos amáveis. Fui levar umas lembranças a um amigo meu, alfarrabista em Tomar e ele mostrou-me este relatório que ainda vinha com as páginas fechadas, oferecido por Velez Caroço em 12 de março de 1925 ao Dr. Lino Netto.
É um documento de leitura obrigatória, este Tenente-Coronel de Infantaria, politicamente prestigiado, confrontou-se com muita gente hostil em Bolama, desde a primeira hora, não faltaram intrigas em Lisboa, impávido e sereno abriu estradas, estabeleceu alianças étnicas, saneou as contas orçamentais, trazia um projeto e, contra ventos e marés, foi-lhe dando execução.
É de uma grande importância o que escreve, e daí os parágrafos que aqui se transcrevem, eloquentes quanto ao governador e ao estado da colónia.
Um abraço do
Mário
Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (1)
Beja Santos
Velez Caroço está no topo da lista dos mais importantes governadores da Guiné e há razões de sobra para a sua alta classificação: foi desenvolvimentista intransigente, o seu nome é evocado pela honestidade, pelos princípios republicanos, pela boa equipa que constituiu com os administradores, pela boa gestão económica e financeira num período crítico, já que a seguir à I Guerra a Guiné definhou; e pela organização dos serviços e da administração, no rescaldo da pacificação adotou um sistema de alianças e conivências étnicas que se veio a solidificar nas governações seguintes, e que tanta importância teve aquando da luta pela independência.
Só que este relatório introduz elementos novos para a leitura da vida política, económica, para o relacionamento entre o Governo e as populações indígenas, traz uma nova luz entre o contencioso dos comerciantes de Bolama e o governador pelas razões das lutas entre os republicanos e os democratas que aqui tiveram pálido reflexo e pelo princípio do definhamento de Bolama face à crescente notoriedade da dinâmica de Bissau. Tudo conjugado, vale a pena, para não dizer que é obrigatório, atender ao que ele escreve no seu primeiro relatório para o Ministro das Colónias.
Veja-se logo no seu arranque:
“Para a elaboração deste relatório dispensarei os informes do Secretário do Governo da Província, visto que o relatório apresentado por este funcionário além de considerações descabidas contém pontos de vista sobre administração e política indígena, perfeitamente opostos ao ensinamento que tenho tirado do exercício do meu cargo. Este funcionário está sendo sindicado. A seu tempo lhe será feita justiça”.
Informa o ministro de que encontrou más vontades e resistência, o que lhe veio fortalecer o ânimo, procurou fazer o saneamento da Província. “Eram acusados altos funcionários. Forçoso era começar por cima, para me revestir daquele prestígio e autoridade que deve manter e inspirar sempre aquele que é chamado a administrar justiça. Esta minha orientação foi recebida como uma orientação de guerra por parte daqueles que iam ser atingidos. Fui mal correspondido por alguns. Acobertados com sorrisos de amabilidade e aquiescência, com afirmações de lealdade e promessas da mais desinteressada cooperação, fomentavam na sombra a intriga; informavam-me com deslealdade, já de ânimo preconcebido de mais tarde se aproveitarem das fraquezas e dos erros que porventura pudesse cometer, orientado por tais informes – que eram recebidos de boa-fé e sem suspeições, – e fazerem então uma campanha que tivesse como consequência – ou ter de arrepiar caminho e servilmente me submeter às suas imposições, passando o governador a ser governado, ou ser aniquilado, embarcando pressurosamente para a metrópole no primeiro transporte disponível”.
Revela o entendimento que tem sobre uma política indígena num período em que se extinguiram desacatos. Sabe que se estão a desenvolver más vontades e calúnias daqueles que querem fazer fortuna rápida à custa da exploração indígena, era o enriquecimento grande e depressa sem atender ao progresso moral e material da colónia. Fala sobre o trabalho imposto como uma necessidade de vida, um princípio social de incontestável moralidade.
E desenvolve o seu pensamento:
“Para as necessidades actuais da Província da Guiné, pode dizer-se que o indígena produz o bastante, mas a verdade é que isto não basta e há-de acabar um dia. A exportação tem aumentado e muito, mas não tenhamos ilusões, esse aumento é aparente, não foi devido a um correspondente desenvolvimento agrícola; não, foi devido ao desenvolvimento comercial. O indígena tem facilidade na venda da mancarra, do coconote, do arroz, do milho, da borracha, da cera, etc., etc. E daí a ilusão de que todo esse movimento comercial é acompanhado pelo correspondente desenvolvimento agrícola. Chegará a época em que a produção estagnará. Para evitar que esta previsão fatídica se realize, só há um remédio – fomentar a Província, desenvolver-lhe a agricultura.
É preciso trabalhar. Se o indígena não quer trabalhar voluntariamente, seja compelido a fazê-lo. Faça-se um regulamento estabelecendo-se um mínimo de trabalho para cada indivíduo. Rodeie-se esse regulamento de todas as cautelas e seguranças para evitar abusos, mas tenhamos também em vista que se o indígena que trabalha precisa de protecção fiscalizadora aos actos do patrão, por sua vez este precisa também de ser defendido da falta de cumprimento das obrigações do indígena trabalhador. E só assim haverá confiança”.
Espraia-se sobre a situação económica e financeira da Guiné, lembrando a falta de estradas, a incúria da instrução, pois não havia edifícios escolares, não esquece a tremenda crise económica, e o ter agido comprando casas para os funcionários, aumentando-lhes os vencimentos, remodelando as pautas alfandegárias, suprimindo a receita dos direitos de importação do álcool, procurando proteger os produtos colhidos na Guiné, manifesta a intenção de transformar o imposto de palhota em imposto de capitação. Sumariza o que está a fazer: na criação das escolas, nas obras locais do Pidjiquiti, nas pontes, hospitais, edifícios para as repartições, instalação de um museu, e tudo levava a supor que o orçamento de 1922-23 iria fechar com saldo positivo.
Encontrou a magistratura judicial numa lástima, procurou dar-lhe dignidade:
“Tem a Guiné duas comarcas – Bolama e Bissau. Existindo só uma – a de Bolama – esteve sempre a Guiné sem magistrados de carreira. Os julgamentos fazem-se com interinos, com substitutos, com provisórios, com delegados e advogados ad hoc, etc.. Se o recrutamento dos interinos para uma era difícil, é intuitivo que para as duas é quase impossível. Só assim se explica que ainda há pouco tempo se tivesse proposto para advogado ad hoc um indivíduo condenado em audiência pública por ferimentos e furto.
Na comarca de Bolama, logo após a minha chegada à Província, fui informado de que estava exercendo as funções de juiz um funcionário que tinha no mesmo juízo um processo pendente. Esse processo era de pouca importância, mas apesar disso chamei esse funcionário e aconselhei-o a que pedisse a sua demissão”.
E escreve esperançado:
“Ainda havemos de chegar um dia em que os juízes hão-de deixar de considerar a Guiné simplesmente como uma estação de passagem para o gozo de licenças graciosas (tão caras estão custando à Província) e hão-de para aqui vir com firmes propósitos de trabalhar também um pouco para a disciplina e morigeração dos costumes da Guiné”.
(continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20440: Historiografia da presença portuguesa em África (191): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P20466: Manuscrito(s) (Luís Graça) (175): Afinal, como explicar a História às criancinhas, se o futuro a Deus pertence?
O Alzheimer da História
por Luís Graça
Nota do editor:
Último poste da série de 3 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20309: Manuscritos (Luís Graça) (174): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - III (e última) Parte
Davam longos passeios,
ao domingo,
os lisboetas,
de jardim em jardim,
ao longo do rio,
que afinal já não era rio,
era braço de mar salgado.
A pé.
Tinham trocado,
na feitoria de Arguim,
os seus cavalos brancos,
puríssimos lusitanos,
com os seus belos arreios,
de couro e madrepérola,
por escravos negros,
negros da Guiné.
E alguns, futuristas, por trotinetas,
talvez já a pensar
que o clima estava a mudar.
E, no seu encalce, os turistas, voyeuristas,
com as suas superzooms digitais,
subiam as sete colinas
____________ao domingo,
os lisboetas,
de jardim em jardim,
ao longo do rio,
que afinal já não era rio,
era braço de mar salgado.
A pé.
Tinham trocado,
na feitoria de Arguim,
os seus cavalos brancos,
puríssimos lusitanos,
com os seus belos arreios,
de couro e madrepérola,
por escravos negros,
negros da Guiné.
E alguns, futuristas, por trotinetas,
talvez já a pensar
que o clima estava a mudar.
E, no seu encalce, os turistas, voyeuristas,
com as suas superzooms digitais,
subiam as sete colinas
para melhor ver as vistas
e os vitrais das catedrais
e, outros até, as pernas das meninas.
Grande era o mundo,
visto do miradouro da Senhora do Monte,
e Portugal, tão pequenino e caleidoscópico,
ali tão perto,
ali ao fundo.
Já não passavam mais comboios de navios,
nem caravelas nem naus
ao largo do Bugio.
Até as fragatas e as varinas
tinham sido varridas pelo último tsunami.
Perderam-se, por má sorte das armas,
ou quiçá por algum “Te Deum” desafinado,
as joias da coroa,
e os vitrais das catedrais
e, outros até, as pernas das meninas.
Grande era o mundo,
visto do miradouro da Senhora do Monte,
e Portugal, tão pequenino e caleidoscópico,
ali tão perto,
ali ao fundo.
Já não passavam mais comboios de navios,
nem caravelas nem naus
ao largo do Bugio.
Até as fragatas e as varinas
tinham sido varridas pelo último tsunami.
Perderam-se, por má sorte das armas,
ou quiçá por algum “Te Deum” desafinado,
as joias da coroa,
Dradrá, Nagar Aveli,
Goa, Damão e Diu.
Junto às ruínas do palácio dos Estaus,
um manjaco do Canchungo
varria o lixo da História
para debaixo do tapete.
E era feliz, triplamente feliz,
se é que alguém pode ser triplamente feliz:
feliz por ter um emprego, cama, mesa e roupa lavada.
Uma retrete e um trompete.
Tocava na orquestra Todos,
em prol da implosão/inclusão
dos cinco dedos da mão.
E um crachá da União das Freguesias
da Mouraria e da Judiaria,
finalmente juntas,
ao fim de tantos séculos.
“Manga de bom pessoal”,
jurava o antigo escravo, agora forro.
Feliz porque na ceia de Natal
da Santa Casa da Misericórdia,
que sorte!,
haveria pencas, batatas e bacalhau,
como no tempo do seu antigo senhor
que era do Norte.
E feliz, enfim, por não ter memória:
- Teixeira Pinto ?...
- Sim, o capitão-diabo!
- Capitão...?
Não, nunca ouvira falar de tal senhor.
Coitados dos povos que sofrem
da doença do Alzheimer da História!
Mas pode ser que tenhas mais sorte,
Goa, Damão e Diu.
Junto às ruínas do palácio dos Estaus,
um manjaco do Canchungo
varria o lixo da História
para debaixo do tapete.
E era feliz, triplamente feliz,
se é que alguém pode ser triplamente feliz:
feliz por ter um emprego, cama, mesa e roupa lavada.
Uma retrete e um trompete.
Tocava na orquestra Todos,
em prol da implosão/inclusão
dos cinco dedos da mão.
E um crachá da União das Freguesias
da Mouraria e da Judiaria,
finalmente juntas,
ao fim de tantos séculos.
“Manga de bom pessoal”,
jurava o antigo escravo, agora forro.
Feliz porque na ceia de Natal
da Santa Casa da Misericórdia,
que sorte!,
haveria pencas, batatas e bacalhau,
como no tempo do seu antigo senhor
que era do Norte.
E feliz, enfim, por não ter memória:
- Teixeira Pinto ?...
- Sim, o capitão-diabo!
- Capitão...?
Não, nunca ouvira falar de tal senhor.
Coitados dos povos que sofrem
da doença do Alzheimer da História!
Mas pode ser que tenhas mais sorte,
meu irmão,
na próxima vaga migratória,
na próxima reencarnação,
na lotaria da genética,
na próxima vaga migratória,
na próxima reencarnação,
na lotaria da genética,
na transmigração das almas,
na girândola da vida e da morte,
na revisão da História,
que está sempre a ser aumentada e melhorada.
Em novembro era verão,
ainda davam longos passeios pelo rio,
os lisboetas,
levando pela mão os seus loucos,
mais os mudos, os surdos, e os cegos,
os inválidos do comércio
e os da última das guerras coloniais...
E quem mais ?
Eu sei lá,
que a procissão ainda vai no adro,
mas ainda descortino,
entre Xabregas e o Terreiro do Paço,
os sete anões da corte,
e os seus poetas menores,
na girândola da vida e da morte,
na revisão da História,
que está sempre a ser aumentada e melhorada.
Em novembro era verão,
ainda davam longos passeios pelo rio,
os lisboetas,
levando pela mão os seus loucos,
mais os mudos, os surdos, e os cegos,
os inválidos do comércio
e os da última das guerras coloniais...
E quem mais ?
Eu sei lá,
que a procissão ainda vai no adro,
mas ainda descortino,
entre Xabregas e o Terreiro do Paço,
os sete anões da corte,
e os seus poetas menores,
e os avós e os netos da criadagem,
os cães e os gatos.
Ah!, e a gaiola com o periquito
de algum pagem.
A Branca de Neve desaparecera há muito,
quando, ao que parece,
foi levar um dos sete anões, aflito,
a fazer chichi na praia de Pedrouços,
que era a praia da ralé.
Ah!, e a gaiola com o periquito
de algum pagem.
A Branca de Neve desaparecera há muito,
quando, ao que parece,
foi levar um dos sete anões, aflito,
a fazer chichi na praia de Pedrouços,
que era a praia da ralé.
Outros dizem que fora raptada
pelos corsários de Salé,
quando brincava às casinhas
na praia da Torre de Belém.
Meus Deus!,
e os canhões do forte de São Julião da Barra,
logo ali ao lado ?!...
E a fábrica da pólvora em Barcarena ?!...
E ninguém chamou o 112?!
Ah!, tinha tudo para ser feliz,
a pobre Branca de Neve,
no meu país.
Foi uma pena.
Afinal, como explicar a História às criancinhas,
se o futuro a Deus pertence ?!
Lisboa, 25 de novembro de 2015/2019. Revisto.
pelos corsários de Salé,
quando brincava às casinhas
na praia da Torre de Belém.
Meus Deus!,
e os canhões do forte de São Julião da Barra,
logo ali ao lado ?!...
E a fábrica da pólvora em Barcarena ?!...
E ninguém chamou o 112?!
Ah!, tinha tudo para ser feliz,
a pobre Branca de Neve,
no meu país.
Foi uma pena.
Afinal, como explicar a História às criancinhas,
se o futuro a Deus pertence ?!
Lisboa, 25 de novembro de 2015/2019. Revisto.
Nota do editor:
Último poste da série de 3 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20309: Manuscritos (Luís Graça) (174): as cores quentes e frias do outono da Tabanca de Candoz - III (e última) Parte
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Guiné 61/74 - P20465: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (7): Paulo Salgado (ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)
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Paulo Salgado no regresso ao Olossato, em 2006 |
Data: domingo, 15/12/2019 à(s) 21:35
Assunto: Natal
Amigos e Familiares,
Aproveito o que tem de bom a tecnologia de comunicação, esta ferramenta, que globaliza e aproxima. Às vezes embrutece e afasta, é certo. Faço-o por duas razões: a primeira, porque quero lembrar-me de pessoas que vou conhecendo, vim conhecendo, ao longo da vida (claro que incluo aqui os familiares porque eles merecem o poema): a segunda, porque junto excertos de um belo poema de um grande poeta e jornalista - meu amigo de sempre - falecido há cerca de dois meses, cuja obra tem força, é telúrica: Rogério Rodrigues. Leiam-no. Por favor.
Por isso, junto estes excertos.
Feliz Natal, com um abraço - nesta festa de família (e de amigos).
Paulo Salgado
_____________
QUANDO O NATAL CHEGAR…
Quando o Natal chegar
liberta o pirilampo e liberta a luz
arruma a ternura e arruma a casa.
E areja o sótão da tua infância.
Quando o Natal chegar
dá música aos surdos
e palavra aos mudos
afaga laranjas nas mãos frias
e figos secos ao luar
e amêndoas de Agosto a quem chegar
e limões, e ácidos limões, em teu lugar.
…
Quando o Natal chegar
adormece à beira dos violinos
com a loucura dos deuses
e a tristeza de Mozart.
Que os deuses devem estar loucos
porque a lareira está-se a apagar.
…
Quando o Natal chegar
Talvez amor e amar.
Dádiva por dádiva,
aceita, é de aceitar.
…
Pedro Castelhano (pseudónimo de Rogério Rodrigues)
In (Re) Cantos d' Amar Morto. Lisboa, Âncora editora, 2011.
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20462: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (6): Patrício Ribeiro, no calor(zinho) de Bissau... (às 17h00 de hoje o céu estava limpo e faziam 32 graus)
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20464: Recortes de imprensa (110): Pinto Leite, Leonardo Coimbra, José Vicente de Abreu e Pinto Bull, os parlamentares que pereceram no acidente aéreo de 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 27 de julho de 1970)
Pequenas notas biográficas dos 4 deputados da Assembleia Nacional que morreram, no acidente aéreo de 25/7/1970, na setor de Mansoa, quando regressavam de Teixeira Pinto a Bissau, depois de uma digressão pelo interior da Guiné.
Recortes da página 16 do "Diário de Lisboa", nº 17097Ano: 50, Segunda, 27 de Jjulho de 1970, 1ª edição (Director: António Ruella Ramos).
Citação:
(1970), "Diário de Lisboa", nº 17097, Ano 50, Segunda, 27 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6808 (2019-12-16)
Reprodução, com a devida vénia.
Guiné > Região do Biombo > Estuário do Rio Mansoa > 29 de julho de 1970 > Restos do helicóptero sinistrado são recolhidos pela Marinha. Sobre este episódio, no TO da Guiné, e segundo indicação do nosso colaborador permanente José Martins, há um valioso relato, muito pormenorizado, da autoria de J. C. Abreu dos Santos (2008), publicado no portal UTW - Ultramar TerraWeb: "Alouette- III, da BA 12, despenhado na embocadura do Mansoa", ou mais exatamente na foz do rio Baboque, afluente do rio Mansoa.
Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Já aqui relembrámos a notícia do trágico acidente, com um Alouette III, pilotado pelo alf mil pil Francisco Lopes Manso e que transportava 4 de um grupo de deputados da então Assembleia Nacional que, desde o dia 8 de julho de 1970 faziam uma visita de estudo à província da Guiné, procurando-se inteirar "in loco" da situação político-militar. Eram acompanhados pelo cap cav Carvalho de Andrade, oficial da secção de radiodifusão e imprensa da Repartição de Assuntos Civis e Acção Psicológica do QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, que se situava na Fortaleza da Amura) (*).
O mesmo "Diário de Lisboa", na sua edição de 27 de julho de 1970, publicava uma pequena nota biográfica desses quatro deputados desaparecidos (, e depois confirmados como mortos, já que não houve sobreviventes, e os únicos corpos recuperados, no estuário do Rio Mansoa, foram os do deputado Leonardo Coimbra e do cap cav Carvalho de Andrade).
A perda, nomeadamente de Pinto Leite, deputado independente, lider da "ala liberal", do partido único (a União Nacional, mais tarde ANP - Acção Nacional Popular) foi em termos pessoais e políticos, um duro golpe para Spínola. Pinto Leite era claramente um reformista e um europeísta, defensor da "solução política" para a guerra colonial.
Guiné > Região de Biombo > Carta de Quinhanel (1952) > Escala 1/50 mil > Excerto: Rio Baboque, estuário do Rio Mansoa e Ilha de Lisboa
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
______________
Nota do editor;
(*) Último poste da série > e 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20459: Recortes de imprensa (109): Ainda o acidente de helicóptero, de 25/7/1970, no CTIG, em que morreram 4 deputados e 2 camaradas nossos... No dia em que Salazar morreu, ainda não se sabia que o aparelho tinha caído no rio Mansoa ("Diário de Lisboa", 27/7/1970)
(*) Último poste da série > e 16 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20459: Recortes de imprensa (109): Ainda o acidente de helicóptero, de 25/7/1970, no CTIG, em que morreram 4 deputados e 2 camaradas nossos... No dia em que Salazar morreu, ainda não se sabia que o aparelho tinha caído no rio Mansoa ("Diário de Lisboa", 27/7/1970)
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Guiné 61/74 - P20463: Parabéns a você (1724): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 15 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20454: Parabéns a você (1723): Francisco Santos, ex-1.º Cabo Condutor Radiotelegrafista da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
Nota do editor
Último poste da série de 15 de Dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20454: Parabéns a você (1723): Francisco Santos, ex-1.º Cabo Condutor Radiotelegrafista da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20462: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (6): Patrício Ribeiro, no calor(zinho) de Bissau... (às 17h00 de hoje o céu estava limpo e faziam 32 graus)
[Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.: tem cerca de 90 referências no nosso blogue; e não precisa de fazer prova de vida...mas cumpre a praxe, ao desejar a toda Tabanca Grande bom Natal e melhor Ano Novo...]
A mensagem, lacónica, é a seguinte, mas não precisa de mais adjetivos:
No calor ...
Patrício Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
_____________www.imparbissau.com
Nota do editor:
Vd. postes anteriores da série:
Vd. postes anteriores da série:
15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20456: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (5): Jorge Araújo (ex-fur mil op esp / ranger, Xime e Mansambo, 1972/74)
13 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20447: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (3): "Festas Felizes. Até ao meu regresso!"... Era assim há 50 anos... (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70)
11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20439: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (2): José Belo, o nosso camarada que tem o privilégio de ser vizinho do Pai Natal...
9 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20431: Feliz Natal de 2019 e Bom Ano Novo de 2020 (1): João Crisóstomo e Vilma Kracun (Nova Iorque)
Guiné 61/74 - P20461: E os nossos assobios vão para... (2): A Liga dos Combatentes... O nome do infortunado ex-alf mil pilav Francisco Lopes Manso (1944-1970) ainda não consta do sítio da Liga dos Combatentes... Morreu em 25/7/1970, quando o heli AL III se despenhou nas águas do Rio Mansoa, transportando 4 deputados e um oficial do exército. O seu corpo nunca apareceu (António Martins de Matos / Luís Graça)
Pesquisa no sítio da Liga dos Combatentes > Mortos do Ultramar > Aparece o nome do infortunado cap cav José Carvalho de Andrade, mas não a do alf mil pil Francisco Lopes Manso, ambos mortos no acidente do helicóptero AL III que se despenhou no rio Mansoa, em 25/1970, quando regressava, de Teixeira Pinto para Bissau, com 4 deputados da Assembleia Nacional, em digressão pela província da Guiné. Morrem todos os 6 ocupantes da aeronave. O corpo do nosso camarada Francisco Lopes Manso nunca foi encontrado.
1. Comentário de António Martins de Matos [, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com cerca de uma centena de referências no nosso blogue), autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas" (Lisboa: BooksFactory, 2018, 375.pp.)] [, foto atual à esquerda] (*)
Francisco Lopes Manso [1944-1970] foi um Camarada do meu Curso da Academia Militar, fazendo parte do Tirocínio de Piloto Aviador em Sintra (1968-69).
Por motivos de ordem pessoal resolveu desistir do Curso, acabando mais tarde, e já como Oficial Miliciano, a ser brevetado em helicópteros (Brevet Militar nº 1309).
Mobilizado para a Guiné, aí se manteve até ao fatídico acidente de 25-07-70.
Passados que foram 35 anos depois da sua morte na Guiné, o seu nome continuava a estar ausente na
parede do Monumento em Belém, que referia:
" À MEMÓRIA DE TODOS OS SOLDADOS QUE MORRERAM AO SERVIÇO DE PORTUGAL”.
A esse propósito escrevi no meu livro “Voando sobre um Ninho de Strelas” [Lisboa: BooksFactory, 2018], a páginas 263:
Eu sei que é um trabalho complexo e moroso, mas também, que diacho, já se passaram mais de vinte anos desde a sua inauguração…
Eu sei que é um trabalho complexo e moroso, mas também, que diacho, já se passaram mais de vinte anos desde a sua inauguração…
… E certamente não compete às famílias dos militares o andarem a alertar as autoridades para as respectivas falhas e a solicitarem a inclusão deste ou daquele nome!!!
Não sei se já lhe aconteceu, pela minha parte já passei pela vergonha de ser confrontado pela viúva de um camarada do meu curso que morreu na Guiné em 25Jul70, aos comandos de um AL-III. A senhora foi visitar o Monumento, o nome do seu marido não constava. Ui, de quem foi a falha????
…. ficou-me a dúvida se teria sido do Gago Coutinho ou do Sacadura Cabral.
O caso até tinha vindo nos jornais, 4 deputados em visita à Guiné tinham falecido num acidente de helicóptero.
Consultado o site da Liga dos Combatentes… também nada constava, ainda hoje o nome do piloto e o do eventual mecânico do AL-III continuam ausentes.
Safou-se um capitão de cavalaria, oficial de ligação e que acompanhava os Deputados, tem lá o nome, devia ser ele que ia a pilotar…
No final desta história, e depois de algumas lutas com várias entidades, finalmente lá chamaram um pedreiro e acrescentaram uma adenda ao Monumento.
A viúva já pode sorrir, o seu Francisco já tem o nome inscrito lá na parede de mármore. Mas, aqui que ninguém nos ouve, oxalá se dê por satisfeita e não queira ir consultar o site da Liga dos Combatentes.
A terminar:
A parede do Monumento já foi corrigida, mas, na Liga dos Combatentes, hoje, 15Dez19, continuam sem saber quem foi o meu amigo Manso.
Cumprimentos
AMM
Cumprimentos
AMM
2. Não gostamos de "assobios" (*), e muito menos de "pateadas", ou seja, de manifestações ruidosas dos nossos desagrados a relação a instituições, castrenses ou outras, que, em princípio, merecem o nosso respeito e apreço como é o caso da Liga dos Combatentes. Mas, desta vez, parece que não temos alternativa... A Liga vai apanhar uma "assobiadela" (**)...
De facto, comprovámos, hoje mesmo, o que o nosso camarada António Martins de Matos diz acima: o nome do saudoso alf mil pil Francisco Lopes Manso (que já consta, finalmente, no memorial, em Belém, aos mortos da Guerra do Ultramar), ainda não figura no sítio da Liga dos Combatentes... Admitamos que é um mero lapso técnico... Mas, bolas!, é um lapso que, ao fim destes anos, quase meio século do trágico acidente no rio Mansoa, ainda está por corrigir...
É verdade que o seu corpo nunca apareceu, contrariamente aos corpos dos 4 deputados e do oficial do exército que os acompanhava. Mas o seu nome sempre constou na lista dos falecidos da Força Aérea no Arquivo Histórico da FAP. (***(
PS - Já aqui explicámos que o Jorge Caiano, mecânico do alf pilav Manso trocou de lugar, à última hora, com o cap cav Andrade, que acompanhava os deputados. Essa troca salvou-lhe a vida. Ele vive (ou vivia, há 10 anos atrás, ) em Toronto, Canadá (***)
É verdade que o seu corpo nunca apareceu, contrariamente aos corpos dos 4 deputados e do oficial do exército que os acompanhava. Mas o seu nome sempre constou na lista dos falecidos da Força Aérea no Arquivo Histórico da FAP. (***(
PS - Já aqui explicámos que o Jorge Caiano, mecânico do alf pilav Manso trocou de lugar, à última hora, com o cap cav Andrade, que acompanhava os deputados. Essa troca salvou-lhe a vida. Ele vive (ou vivia, há 10 anos atrás, ) em Toronto, Canadá (***)
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Notas do editor:
(*) 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)
(**) Último poste da série > 18 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)
(***) Vd. poste de 10 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)
(...) Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante.)
Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...
O Manso, que era "periquito" (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o controlo da situação...
O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e sobretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....
O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal da então Assembleia Nacional), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca, BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte.
O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida. (...)
Vd. também, entre outros, o poste de 11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)
(*) 15 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20458: Recortes de imprensa (108): A morte dos quatro deputados à Assembleia Nacional, em visita ao CTIG, no acidente de helicóptero, em 25/7/1970 ("Diário de Lisboa", 26/7/1970)
(**) Último poste da série > 18 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)
(***) Vd. poste de 10 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3866: FAP (7): Troca de lugar no ALL III salvou-me a vida, em 25 de Julho de 1970 (Jorge Caiano, mecânico do Alf Pilav Manso)
(...) Por decisão do comandante da esquadrilha, o Cap Pilav Cubas, e aparentemente por uma questão de peso, o Caiano seguiu com ele e não com o Alf Manso, na viagem de regresso a Bissau... (Em princípio, era aos mecânicos que competia avaliar o peso dos helis. Mas neste caso, o Jorge teve que seguir as ordens do seu comandante.)
Ia o Manso à esquerda, o Cubas ao meio, o Coelho, à direita. Os três helis voavam em formação quando foram apanhados por uma tempestade tropical. Havia muito pouca visibilidade. Mas deu para ele, Jorge Canao, se aperceber de uma pequena explosão ("uma chama") no interior do heli do Manso. Segundo a sua teoria, o passageiro ao lado do piloto (um dos deputados ? o oficial do Exército ?) deve ter accionado a alavanca do gás (sic). Por inadvertência ou pânico...
O Manso, que era "periquito" (tinha chegado há dois meses), deve ter perdido o controlo da situação...
O Jorge Caiano foi testemunha deste caso em tribunal militar. E lembra que, a partir daí, a FAP proibiu que os passageiros viajassem, nos helis, ao lado do piloto, no lugar do mecânico. Os oficiais do Exército (e sobretudo os oficiais superiores) gostavam muito desse lugar por que tinha uma vista panorâmica. Via-se muito melhor a paisagem....
O heli do Manso despenhou-se no Rio Mansoa, "por volta das 15 horas", do dia 25 de Julho de 1970 (não parece ter dúvidas sobre a data), tendo morrido ou desaparecido 4 deputados da Nação (incluindo o Dr. Pinto Leite, chefe da chamada ala liberal da então Assembleia Nacional), além do Manso e de um oficial do exército do QG. Um dos deputados era o guineense Pinto Bull, que também tinha um filho, mecânico da FAP, a cumprir o serviço militar na Guiné (Bissalanca, BA12). Por sua vez, a mulher do piloto era pressuposto chegar de Lisboa, no dia seguinte.
O Jorge confessa que deve a vida ao destino, à troca de lugar, imposta pelo Cap Pilav Cubas. Essa foi a razão por que ainda hoje está vivo, diz ele, do outro lado do telefone... E acredita que o destino marca a hora. Este acidente de guerra marcou-o para toda a vida. (...)
Vd. também, entre outros, o poste de 11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3875: FAP (8): O meu saudoso amigo e camarada Francisco Lopes Manso (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)
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