Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2020) Todos os direitos reservados.
[ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue] é poeta, escritor, tradutor, sinólogo: autor de livros de poesia (8), história (4), traduções (7), e viagens (3).
Recorde-se que ele andou recentemente a fazer o MSC - World Cruise. Teve de regressar a casa mais cedo do que o previsto, por causa da pandemia de COVID-19. Mas chegou, são e salvo, das peripécias da viagem de volta ao mundo, no MSC Magnifica.
Já aqui reproduzimos alguns dos seus apontamentos dessa viagem, em que participou também outro nosso camarada, o
, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala Mampatá, 1969/71) (*).
Por cortesia do António Graça de Abreu, vamos reproduzir aqui, nesta nova série, alguns dos momentos dessa viagem com mais interesse para os nossos leitores. São excertos selecionados pelo nosso editor.
Haverá um lançamento do livro, em data oportunamente a anunciar... Não sabemos, entretanto, se o autor já tem editor (LG).
2. Pré-publicação: "Odisseia 'Magnífica': Uma Volta ao Mundo com Magalhães e Covid 19", de António Graça de Abreu - Excertos, parte I (pp. 4-8)
Civitavecchia, Itália, 4 de Janeiro (pp. 4-5)
Esta manhã em Lisboa, a jornada marítima, a minha segunda Volta ao Mundo, começou num Airbus 319, um avião rumo a Fiumicino, Roma. A aeronave subiu no céu baptizada com o emérito nome de Camilo Castelo Branco, engenhoso tecelão de inesquecíveis romances, fazedor de painéis de depuradas vidas, há dois séculos à solta pela pátria lusitana. (,,,)
O voo Lisboa-Roma, duas horas e quarenta e cinco minutos, é hoje tão simples de fazer como, no século XVI, seria zarpar numa falua do Cais do Sodré para Alcochete. Se os tempos mudam e as viagens também, permanece o gosto de cada um descobrir o mundo já descoberto, continua o prazer de nos desvendarmos.
Trouxe comigo, além da companheira chinesa de muitos anos, trouxe nos esconsos do bolso direito um senhor velhinho chamado Fernão de Magalhães. Vou navegar em mares e estreitos por ele desbravados, vamos entabular grandes conversas sulcando oceanos tempestuosos e pacíficos.
A Volta ao Mundo começa aqui, na noite de Civittavechia, cidade conhecida sobretudo como terminal ou escala de navios de cruzeiros que avançam pelo Mediterrâneo, de oeste para leste, de norte para sul, transportando turistas que usufruem de um vasto pacote de prazeres da vida, em barcos alindados, repletos de mordomias e conforto. (...)
Génova, Itália, 5 de Janeiro (pp. 6- 8)
Umas tantas passagens, há uns bons pares de anos, pelas margens de Génova, de automóvel, por túneis e viadutos encostados às montanhas da Ligúria, com a cidade lá em baixo, em rota para outros destinos italianos, jamais haviam dado para parar e assentar o pé no âmago do burgo.
Agora, vindo do mar, até foi possível encontrar a casa-museu de Cristóvão Colombo, junto ás portas Soprana, do sec. XIII, infelizmente fechada. Génova deu o nome de Colombo ao seu aeroporto e será que o navegador nasceu mesmo aqui, como quer quase toda a História, ou abriu pela primeira vez os olhos para o mundo, portuguesmente, na saudável e ensolarada vila alentejana de Cuba?
Até que ponto foi Fernão de Magalhães, 35 anos mais novo do que Colombo, beber informações às viagens do descobridor das américas? Ambos queriam chegar ao Oriente viajando para Ocidente, o que só Magalhães conseguiu.
Em termos de prática da arte de marear, quer Colombo, quer Magalhães utilizaram o Almanaque coligido pelo judeu Abraão Zacuto (1450-1515), que eram, de algum modo, as tábuas de navegação da época. Certo, certo é que ao sair de Sanlucar de Barrameda, a 20 de Setembro de 1519, as cinco naus de Magalhães levavam 237 homens, 18 dos quais eram genoveses, gente bem habilitada para o domínio e exercício das coisas da navegação e do mar. (...)
Em 1298 e 1299, na sequência da guerra entre Veneza e Génova, aqui esteve preso o veneziano Marco Polo que, na cadeia, foi ditando as suas recordações e memórias ao mais ilustrado Rusticello de Pisa, companheiro de cela. Passadas ao papel, são o famoso
Livro de Marco Polo que Cristóvão Colombo, leu, anotou e levou consigo na primeira viagem de descoberta da América, quando acreditou que ia ao encontro do Oriente e da China. (...)
Num cais, na zona baixa da cidade, surpreendeu-me a réplica impecável de um impressionante galeão espanhol do século XVII. Foi usado por Roman Polanski na rodagem do filme
Os Piratas, de 1986, e impressiona o gigantismo da nau chamada
Neptuno, o barroquismo da decoração, os canhões a espreitar por tudo quanto é sítio.
No entanto, o galeão é mais do que
fake, uma imitação recente, e não me parece ser capaz de navegar mais de duzentos metros no porto da baía de Génova. Verdade é que os genoveses são excelentes construtores de navios. O
Costa Luminosa, o barcalhão que em 2016 me levou na primeira viagem de Volta ao Mundo, foi parcialmente construído aqui perto, em 2009, nos estaleiros Fincatieri. (...)
(Continua)
[Seleção / revisão e fixação de texto para efeitos de edição neste blogue: LG]
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Nota do editor:
(*) Vd, último poste da série > 21 de abril de 2020 >
Guiné 61/74 - P20883: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira & António Graça de Abreu) (12): os sítios que ficaram por visitar...