sábado, 14 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)

1. Mensagem de Luís Faria(*), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 11 de Março de 2009:

Caro Vinhal

Que estejas bem de saúde
Segue uma estoria, a 6.ª com escrita um tanto esquisita!
Espero que a aceites e publiques

Grande abraço
Luis Faria


As abelhinhas
(desculpem alguma coisinha)

Só uma vez vi um Caterpiller fazer um pião e foi na Guiné e foi entre Teixeira Pinto e Cacheu e que se chamava Capó e em que saí com o meu Grupo e ia a fazer segurança à dita máquina na abertura de um trilho na mata e às tantas viu-se uma colmeia e estava cheínha de abelhaços bravos e o condutor parou e meteu uma rede na cabeça e uma protecção no corpo e disse que o fumo do escape da máquina as ia enraivecer e arrancou e nós da segurança dividimo-nos em três partes e duas entraram na mata pelas laterais e uma ficou atrás da escavadora e paramos e a máquina avançou e o fumo enraiveceu as putas meigas que deram em cima do condutor e a máquina fez um pião e o condutor ficou que nem um Cristo e as cabronas das abelhinhas não satisfeitas deram em cima do pessoal que ia atrás da escavadora e onde eu estava e TODO esse pessoal deu às de vila-diogo e largaram as armas e a merda e o mijo e eu por já estar treinado do Puto fiquei quedo com dezenas delas a andarem-me na cabeça e em tudo menos nos tomates e eu só berrava ao povo para pararem e se manterem imóveis e não adiantou nada e flecharam até ao acampamento de Capó e lá fiquei sem uma beliscadura e sozinho na mata e acompanhado por um monte de G3 e até aparecer o pessoal das laterais estava acagaçado e a zona era bera e já não havia abelhinhas pois perseguiram o pessoal fujão e ferraram-lhes p'ra cara… e o condutor foi evacuado para Bissau e a cabeça dele era uma bola tipo nìvea (perdoem) pelo tamanho e julgo que acabou (espero que não) por falecer e eu fiquei todo Quilhado por toda a gente se pirar e deixarem-me abandonado na mata e isso não se fazia e passei-lhes um sermão dos antigos e responderam que a culpa era das abelhinhas e se fossem Turras não teria acontecido e eu percebi e já estou farto de escrever tantos eee que não prefazem uma centésima parte do avelhame desembestado e ainda por cima sem pontos nem vírgulas para que quem consegue ler e chegar ao fim sinta uma ínfima parte da dificuldade respiratória que senti nessa altura

A quem conseguiu ler e interpretar este episódio real, sem desfalecimentos, os meus PARABÉNS, pois prova que ainda tem muitos anos pela frente!

Um abraço à Tertúlia
Luis Faria
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4020: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (11): Bula, foguetões e confusões no abrigo

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4018: As abelhinhas, nossas amigas (3): As lassas e os Lassas: a colmeia-armadilha, a morte do 2º Srgt Madeira... (Mário Fitas)

6 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro camarada Luís Faria, obrigado por esta prosa tão saborosa e com "sabor" a real.
Já agora aproveito para te dizer que depois de tomar balanço, consegui ler tudo dum fôlego e ainda dar a entoação que me pareceu a mais adequada.
Um abraço
Hélder Sousa

António Matos disse...

Se essas a quem tu chamas de abelhaços putas meigas te ouvissem hoje, quase 40 anos após a cena do fujão, estou certo que, por vingança, gostariam de te picar os tomates que te deixaram, dizes, incólumes ( ou então, cairiam para o lado sem as forças que a idade lhes consumira ) e estarias a pôr vírgulas e pontos por tudo quanto era sítio de modo a que não te faltasse o folgo, já que o teu engenho e arte são suficientes para nos deliciarem com este trecho Lobo Antuniano eivado de delicioso sentido de humor e particularidades de linguagem nortenha - a tua !
Proponho que sejas nomeado um dos grandes contadores de (e)histórias deste blogue e faço votos que não te falte a veia para futuras incursões ao mundo do real tornado imaginário aos "ouvidos de quem te ler".
Parabéns e um abraço,
António

Julio Cesar Ferreira disse...

Foda-se...
Como eu me lembro de uma merda destas.
E foi também lá para aqueles sitios!
Se não foi em Capó, foi rm Quesse, Pjangali, Burné ou Caboiana. Eram tantas e tantas. Foi um dos nossos, creio que foi O Feijão (que é de Almeirim) que deu num destes favos com a bazooka.
Boa prosa caro amigo e muito obrigado...é que eu li de um só folego!!!

Anónimo disse...

Camarada Luís Faria
Acabo de ler de um só folego esta tua bela história que é mesmo saramaguiana.
Ficares impávido e quieto perante tal ataque maciço é obra! Mas o mais espantoso foi ficares só em tal lugar. Felizmente não pisei esse terreno, apenas o sobrevoei, não sei se de DO ou Heli, numa viagem T.Pinto-Jolmete-Cacheu-T.Pinto. Para os que não conheceram estas áreas, posso afirmar que eram perigozíssimas. Tinham a Coboiana ao lado e eles não estavam nada interessados naquela reabertura de estrada para o Cacheu.
E mais não digo.
Um abraço
Jorge Picado

Anónimo disse...

Caro Luis
Foi com grande agrado que li o teu relato e por causa disso rejuvenesci alguns trinta anos também por causa duma Mosca que andou por aqui a fazer das suas zun-zuns periódicos e charlas sobre o que calhava produto dum Stau que de enfant terrible digno de Bocage pela boa vida picava sem deixar bolha no extinto dê-el finaram-se ambos mas ficou o estilo e por isso envio abraços fraternos particularmente aos cultivadores de estórias.
José Dinis

Juvenal Amado disse...

Caro Luis
Escreveste com a mesma aflição, que tiveste na altura. Não conseguias pensar em mais nada do que nas malvadas.
Não é para menos, embora possa causar alguns sorrisos, o assunto era bem grave.
Felizmente não tive nenhum ataque esses, mas na companhia do Saltinho se não estou em erro, dois pelotões foram «desbaratados» por um enxame. Valeu a alguns o rio. Houve várias evacuações tal a gravidade do estado dos camaradas.
Noutra ocasião, cruzei-me no Xime com um camarada (Bat. de Pirada) que ia entregar um corpo de um soldado, que na aflição descavilhou uma granada e a fez rembentar.
Talvez se tivesse enganado, pensando que era de fumo, mas em vez disso era ofensiva.
Lamentavel como todas as mortes na verdade, de uma maneira ou de outra.
Um abraço

Juvenal Amado