1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 21 de Junho de 2010:
Caro Carlos:
Votos sinceros de muita saúde e boa disposição.
A pedido dos organizadores do último encontro de ex-combatentes da CCaç 3490 (a da emboscada do Quirafo), na mira da captação de novos convivas para os próximos, estou a remeter-te uma pequena notícia sobre o mesmo, bem como algumas fotos que a ilustram.
Considerando que, recentemente, comprei uma peruca branquinha e troquei os óculos por lentes de contacto, junto ainda uma nova foto tipo passe, onde é patente o meu novo visual. Se puderes passar a fazer uso dela na apresentação da minha prosa (e não só) futura, agradecia.
Um grande abraço
Mário Migueis
Convívio anual da CCaç 3490 - Saltinho 1971/74
“Os sobreviventes”
Quando, pouco depois do meio-dia do passado domingo, dia 13, entrei na sala do restaurante Milho-Rei, em Penafiel, onde já se comia e bebia sem cerimónia, dei comigo a exclamar mentalmente: “ora, cá estão, finalmente, os sobreviventes da desgraçada 3490!”. Na verdade, não os via desde Outubro de 1972, andando a tentar localizá-los há, pelo menos, uns cinco anos. Aliás, meses atrás, cheguei a apelar nesse sentido neste nosso santo blogue, que tantos milagres tem operado em casos congéneres. Mas, nem assim: do outro lado, nada, ninguém respondeu. Mas, como quem porfia sempre alcança, não desisti e, através do “Luís Graça e camaradas da Guiné”, cheguei ao blogue “Histórias da Guiné 71-74…”, que me havia de dar a grande pista: um artigo do Luís Dias, seu fundador e nosso camarada de tertúlia - ex-alferes de uma das outras companhias do batalhão em Galomaro e Dulombi - tinha merecido um comentário que a minha perspicácia de homem das informações – modéstia à parte – não deixou passar. E, na verdade, quem assim comentava não era gago nem um qualquer, era tão só e simplesmente o Agostinho Barbosa, um dos dois organizadores de todos os convívios já efectuados, os quais, viria a saber, vinham acontecendo nos últimos seis anos sem interrupção. Ao e-mail que lhe dirigi, respondeu prontamente com uma simpatia quase comovente. Depois, foi só esperar que decorressem os dois mesitos que nos separavam da data prevista para o encontro.
De todos os presentes, que, com os familiares que os acompanhavam, ultrapassariam a centena e meia, apenas reconheci imediatamente os ex-furriéis Aguinaldo Silva (Ponte do Lima) e Carlos Raimundo (Faro). Mas, curiosamente, embora disfarçado com barba e cabelo branco, fui imediatamente reconhecido pelo Carvalho, 1.º Cabo Cripto da Companhia, por sinal, senhor – na altura - de uma voz melodiosa, que interpretava alguns fados castiços de Lisboa de uma forma tão arrepiante e especial que nos levava invariavelmente às lágrimas. Nunca mais esqueci algumas das bonitas letras do seu reportório!
Após quinze minutos de animadas conversas e múltiplas reapresentações, já tinha o nome de cada um na ponta da língua e toda a gente sabia que “aquele da barba branca” era o Furriel das Informações. Pena que, como é natural neste género de encontros de pessoas espalhadas por todo o país e não só, se tenham registado algumas ausências, designadamente a do Comandante da Companhia, capitão miliciano Dário Lourenço, que, por razões de ordem profissional, tivera que se ausentar para o estrangeiro dias antes. Quem também não vi por lá – gostava muito de o rever, embora tenha estado com ele há relativamente pouco tempo na Tabanca de Matosinhos – foi o nosso querido camarada de tertúlia António Batista, que, na sua qualidade de morto-vivo, é uma imagem de marca da unidade em questão.
Mas, que foi uma festa bonita, lá isso foi. A concentração iniciou-se manhã cedo, seguindo-se, na Igreja do Calvário, no centro da cidade, uma missa sufragada por todos os camaradas já falecidos. Por volta do meio-dia, foi tempo de seguir para o restaurante Milho-Rei, situado a cerca de seis de quilómetros de distância, junto à estrada para Entre-os-Rios. Para além dos comes e bebes em quantidade e qualidade, não faltaram os discursos, os brindes, as brincadeiras e um bailarico abrilhantado por uma mini-banda ao vivo. Confesso que, de todos os encontros em que já participei, este foi, sem dúvida, o mais animado, com todos os participantes imbuídos num ambiente de euforia, dando mostras do seu contentamento por estarem de novo reunidos, afastadas que foram as sombras de um passado de dor e sofrimento, que a fraternidade que os ligava ajudou a esbater. Estão, pois, de parabéns o Agostinho Barbosa (Penafiel) e o Justino Sousa (Paredes), não só organizadores de mais este convívio, mas, eles próprios, também, os idealizadores, mentores e fautores do tocar a reunir as tropas, decorridas que eram já três décadas desde o regresso da Guiné. E o que estes grandes entusiastas gostariam agora era que, nos próximos encontros, mais malta da Companhia comparecesse, para que todos pudessem sentir e fazer sentir o doce sabor da camaradagem, que permanece viva e inalterável no coração de cada um. Para tal, solicitam àqueles que ainda não tiveram oportunidade de estar presentes em nenhum dos convívios anteriores que facultem desde já à Organização (agostinhorochabarbosapenafiel@gmail.com) os respectivos contactos, possibilitando assim a sua oportuna convocação para o encontro do próximo ano que, em princípio, terá lugar de novo em Penafiel durante o mês de Junho.
Outros dizem que cada vez somos menos. Cá os nossos homens da Organização preferem que se diga que cada vez seremos mais, bastando para isso que tu, caro camarada da CCaç 3490, marques a tua presença nos próximos encontros.
Até lá!
Esposende, 15 de Junho de 2010
Mário Migueis da Silva
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 25 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 – P6245: Estórias avulsas (84): O lírico, ou com a ditadura não se brinca (Mário Migueis)
Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6655: Convívios (173): 10 de Junho de 2010 (Arménio Estorninho)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Olá camaradas do Saltinho
Fico contente coma vossa festa.
Estive muitas vezes no saltinho pois era condutor de Berliet da CCS do 3872.
Um abraço
J.Amado
Bom dia,
É com muito agrado que vejo esta noticia do nosso convivio realizado no dia 13 de Junho do corrente ano neste blog.
Espero que estes encontros se realizem por muitos e muitos anos,porque os amigos são para sempre e nunca se podem esquecer.
Agradeço desde já a todos os que estiveram presentes desde diversos pontos do país,do Norte a Sul de Portugal e também os que vieram do Estrangeiro,que para o ano estejamos todos presentes de novo,para realizar mais um magnifico convivio...
Agradeço também ao camarada Mário Migueis,ter feito este post muito bem elaborado e com boas fotos aqui no blog do nosso convivio.
Ficou aqui o meu contacto email,por isso quem não tenha tido conhecimento deste nosso convivio que já se realiza a muitos anos e queira participar é com muito gosto que vos recebemos....
Mais uma vez saudações a todos os presentes e votos de muita saude para todos vós e vossos entes queridos,
Um abraço a todos os camaradas,
Agostinho Barbosa
1.ºCabo do 2.ºGrupo do Saltinho
Enquanto estive no Xitole fui algumas vezes ao Saltinho.
O malogrado Alferes Armandino era do meu curso de Rangers e tive com o Alferes Raínha uma relação de proximidade, que já vinha do tempo de Lamego, visto que ele frequentou esse mesmo curso de Rangers, e segundo me lembro, não terá recebido o crachá no final do curso.
Lembro-me de ter passado uma tarde de um fim de semana obrigatório em Lamego, mas que nos podemos deslocar a Carrazeda de Anciães onde nos recebeu "raínhamente".
Ao que me disseram, foi morto de forma estúpida na sua terra por causa de uma discussão estéril.
Um grande abraço e bons convívios
Camaradas da CCAÇ3490
Um grande abraço para todos e fico contente por saber que ainda há "SOBREVIVENTES" da malta que esteve no Saltinho, ao tempo do nosso batalhão (BCAÇ 3872.
Resistam e continuem, como nós o fazemos, desde 1998, a estarmos juntos para nos revermos e sentir ainda aqueles tempos que nos uniram para sempre.
Um abraço do tamanho do Rio Corubalo
Luís Dias
Ex-Alf. Milº
CCAÇ3491 (Dulombi/Galomaro)
Tenho encontrado sempre qualquer coisa de novo em cada convívio da 3490.Este ano não foi excepção e há duas situações que me encheram de satisfação:
-Tive o prazer de encontrar o Joaquim Guimarães, a residir nos EUA,cujas feições já não recordava, apesar de todos os anos me enviar um postal de Boas-Festas a que eu sempre respondi.
-Foi com grande alegria que reencontrei o Mário Migueis, elemento que transitou da companhia que rendemos, outro vizinho de Esposende, aqui bem perto, mas que que não via há muitos anos.Uma figura de quem, penso, todos temos boas recordações, porque pertencendo às "informações" conhecia a situação como nenhum de nós e tinha a experiência que nos faltava.
Não posso deixar de realçar e agradecer mais uma vez o empenho dos organizadores, Agostinho Barbosa,Justino e familiares, que nos têm proporcionado estes encontros.
Um abraço a todos.
Aguinaldo Silva
ex-Furriel Miliciano (2ºpelotão)
-Minas e Armadilhas
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