quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7759: Recortes de imprensa (38): "Para a guerra foram só os pobres" (José Manuel Lopes), JN - Jornal de Notícias, 6/2/2011



Recorte do JN - Jornal de Notícias, de 6 de Fevereiro de 2011, com o depoimento do nosso camarigo José Manuel Lopes no âmbito da reportagem Orfãos de Pátria. Outro dos nossos camaradas do blogue, entrevistado pelo JN, é o J. Casimiro Carvalho. Dele daremos também oportunamente notícia. O Zé Manel foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, CART 6250 (Mampatá, 1972/74).


Reportagem: Helena Teixeira da Silva e Luís Pedro Carvalho. Vídeo: Luís Pedro Carvalho.

"Não morreram, não têm sequer feridas visíveis. Mas as que não se vêem, as que não têm nome nem cura, também existem. Quatro ex-combatentes relatam uma guerra que não escolheram. E tentam viver à procura do lado bom da história. Os homens também choram". 



Reproduzido com a devida vénia... 


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Nota de L.G.:


Último poste desta série > 

 14 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7436: Recortes de Imprensa (37): Heróis do mar, de Joaquim Magalhães de Castro em Fugas/Público (Joaquim Mexia Alves)

22 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Desculpa Zé Manel, mas não concordo contigo quando dizes que só os pobres iam para a guerra. Conheço exemplos de famílias influentes que nada fizeram para impedir que os seus filhos fossem mobilizados. Os verdadeiros ricos de então, os de hoje são apenas endinheirados, tinham respeito pela Pátria.
Um abraço
Carlos

Anónimo disse...

Tens toda a razão, Carlos.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Torcato Mendonca disse...

Prefiro e de que maneira a tua poesia.
Poesia sentida, de vida vivida e sofrida.

Esta prosa não. Discordo.
Não me parece que assim tenha sido.

Olha que não, Olha que não, amigo.

É uma imagem de quem andou na Guiné que não corresponde ao que lá se passou. Salvo melhor opinião, caro José Manuel.

Há dias passou o filme dos Jornalistas Franceses. O soldado português, aquela barafunda, o cigarro...ficamos com uma imagem pouco abonatória.

Falar com jornalistas tem mais que se lhe diga...

Abraço do T

Anónimo disse...

Era natural se eramos um País pobre com a maioria da população pobre.Hoje continuamos a ser pobres só que fazemos vida de ricos.Oh camarigo C.Vinhal essa de os ricos dessa altura terem respeito pela Pátria, não sei..não, alguns teriam, outros nem tanto.
Como não sou juiz e não pretendo passar por tal ..fico-me por aqui

C. Martins

Joaquim Mexia Alves disse...

O Carlos Vinhal, tem quanto a mim razão.

Claro que é preciso saber bem o que eram os ricos.

No entanto fez-se passar uma "imagem" de que os filhos de famílias mais abastadas ou ligadas à politica de então, se safavam à tropa.

Tanto se safavam uns como outros, ou a malta que ia a salto para a França eram todos ricos!

Não sendo a minha família rica, até porque eramos 9 irmãos, fomos dois para a guerra, um para Angola, logo no inicio e eu para a Guiné.

E no entanto o meu pai foi Governador Civil de Leiria durante quase 10 anos!

Conheci lá muita gente, pela Guiné e por Angola, filhos dessas tais famílias de ricos.

Repito, tanto se "piraram" de uns como de outros, mas convinha e convém ainda à politica passar a imagem ao contrário.

Claro que isto nada tem a ver com o José Manuel Lopes, propriamente dito, meu camarigo que muito estimo.

Um abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

De acordo, Carlos Vinhal.
José Câmara

Carlos Vinhal disse...

Caros camaradas
Eu não afirmei que nenhum rico se baldou, contrariei a teoria de que só os pobres é que iam para a guerra.
Hoje posso dizer porque já passou muito tempo, que no início da guerra um familiar meu fazia parte das inspecções militares (era militar de carreira) e se fartou de considerar inaptos mancebos que eram autênticos atletas, a pedido dos meus pais. Ricos e pobres. Quando chegou a minha vez ele já estava reformado e as facilidades não eram as mesmas.
Abraço
Vinhal

Jorge Fontinha disse...

José Manuel.
Já tinha manifestado a minha opinião, no círculo de amigos aqui da Régua, que como nós passaram pelas matas da Guiné e como eu , todos achamos, que na verdade cada vez mais apreciamos o teu vinho e a tua poesia.
Não foste nada feliz naquilo que manifestaste aos jornalistas.Conheci muitos membros de famílias dos chamados ricos que ao meu lado combateram em Bula e em Teixeira Pinto e outros que fui conhecendo por cá e até sou amigo pessoal de alguns.

Estou inteiramente de acordo com o Carlos Vinhal.
José Manuel, como teu amigo, mas discordando dalgumas opiniões, o que demonstra a nossa democracia, aqui vai aquele abraço.

Aquele abraço.

Jorge Fontinha

Silva disse...

Ó Vinhal, penso que houve excepções a confirmar a regra. É inegável que o patriotismo tinha muita força. Porém, eu não os vi lá. Vi, isso sim, vizinhos saudáveis que não foram à guerra.
Afinal, gozemos o resto das nossas vidas, porque estamos vivos e orgulhosos do nosso passado. Os outros, os tais "cobardolas" continuam a safar-se, f...ndo-nos a governar o País (anti-faschisticamente).
Um abraço do Silva

Luís Graça disse...

Não temos, infelizmente, estudos sobre a sociodemografia das forças militares portuguesas em África, a sua composição, a origem social dos oficiais do quadro, dos milicianos, dos miliatres do contingente geral, etc. Nem sei se algum dia teremos.

A dicotomia pobres/ricos dificilmente pode servir de bitola: o que era um rico, o que era um pobre, no Portugal de 1970 ?...

Também aqui o o nosso exército possivelmente era o "espelho da Nação", no seu pior e no seu melhor, como diz o nosso leitor (e camarada) C. Martins...

Por outro lado, todos temos uma visão necessariamente parcelar do que se passava em África, nas três frentes de guerra... Tanto quanto julgo saber, o Zé Manuel fala da sua "percepção" pessoal, e da sua experiência circunscrita à sua companhia que esteve em Mampatá... Ele nem sequer tinha (como nenhum de nós tinha) uma visão macroscópica da Guiné e muito menos da composição sociodemográfica das nossas forças armadas...

Por outro lado, quem faz os títulos de caixa alta são os jornalistas... Há sempre um risco, nestas conversas, de uma ou duas horas, com os jornalistas (que depois fazem uma síntese que leva um ou dois minutos a ler)...

Temos de ter muito cuidado com o que se diz (e com o que se não diz, ou se diz "off record")... aos homens e mulheres da "comunicação social"... sobre temas que continuam a desencadear paixões como a guerra colonial, cinquenta, quarenta anos depois...

De qualquer modo, esta é uma boa questão para suscitar, no nosso blogue, com serenidade, sem paixão, não tanto opiniões (que
já não as de ontem, mas as de hoje, das com os "óculos" de hoje...) como sobretudo depoimentos, testemunhos, vivências...

Não tem que ser um "questão politicamente correcta"... nem muito menos tabu... Mas também não tem que ser "fracturante"...

Joaquim Mexia Alves disse...

Só para citar um cso entre muitos que conheci.

Um amigo meu, (do qual não cito o nome, pois para tal não pedi licença), filho de uma família bem abastada, tinha mãe francesa e como tal dupla nacionalidade.

Dei com ele na Guiné, já para o fim da minha comissão, (ele é um pouco mais novo do que eu), e dizia-me chateado com humor:

«Porra, o meu pai era Português, eu vivi sempre em Portugal, por isso não havia agora de invocar a nacionalidade francesa! Podiam era ter tido isso em consideração, (dizia com ironia), e não me terem mandado para a Guiné.»

Também conheci alguns que fugiram, dos "ricos" e dos "pobres".

Um abraço camarigo para todos

Torcato Mendonca disse...

...## Por outro lado, quem faz os títulos de caixa alta são os jornalistas... Há sempre um risco, nestas conversas, de uma ou duas horas, com os jornalistas (que depois fazem uma síntese que leva um ou dois minutos da ler)...

Temos de ter muito cuidado com o que se diz (e com o que se não diz, ou se diz "off record")... aos homens e mulheres da "comunicação social"...###

Este será o Ponto 1 retirado (em abuso) do que o Luis Graça escreveu e vem de encontro ao meu comentário ...##Falar com jornalistas tem mais que se lhe diga...
...###
Ponto 2 - O Exército Português, que lutou ou não em África era , na sua constituição,transversal á sociedade portuguesa no aspecto sócio económico, haveria, como em tudo nesta vida e neste nosso País situações de algum privilégio. De desertores e outros que tal, repugna-me falar. Estudos como sempre não há...Ponto Final.

Abraço ao Josema e a Todos do T

Carlos Vinhal disse...

Caro amigo Silva
Já estás a entrar noutro campo. O dos, já então, politicamente esclarecidos, progressistas de esquerda, filhos de boas famílias de direita, que como nós, não tiveram que ir trabalhar antes dos 16/18 nos. Há-os pela nossa terra em abundância, cantando canções de intervenção bolorentas. Aparecem sempre junto ao 25 de Abril com largo tempo de antena nas nossas TVs. São pessoas altamente consideradas na nossa sociedade em contraponto aos antigos combatentes, escória que felizmente a morte vai aos poucos dizimando.
Abraço
Carlos

Cesar Dias disse...

Pois é Carlos, por acaso até fomos contemporaneos dum Champalimaud, o que muito me surpreendeu na altura. Infelizmente não me recordo do seu nome, penso ser Manuel, mas sem convicção, encontrei-o em Bissau pois ficámos na mesma mesa na unica refeição que tomei nos adidos, mais tarde esteve em transito em Mansoa.
Como este havia outros casos, daí eu concordar contigo que era para todos.
Um abraço
César Dias

Antº Rosinha disse...

Cada um com sua opinião, tambem o herdeiro da corôa portuguesa Dom Duarte esteve lá, e o neto da Isabel II esteve no Afeganistão.

Mas nem todos os que fugiram para a França olharam para o dinheiro da sua carteira, nem os que foram para a guerra olharam para o cotão das suas algibeiras.

Mas tanto uns como outros eramos portugueses, e sem tabús temos que concordar que historicamente na hora do desenrasca sempre houve pró espanhois e pró napoleão, era o que dava mais geito.

O nacionalismo português tem as suas características próprias.

?Qual seria a explicação do principal protagonista daquele momento histórico? Salazar claro!

Para amenizar o nosso "espírito militarista", lembro que já podem casar capitães com cabos, o que no nosso tempo seria inconcebível!

Um abraço

Silva disse...

Para mim todos os comentários são bons e autênticos. Eles reflectem, mais uma vez, as nossas experiências pessoais. Assim, longe de nos anularmos em contraditório, estamos a contribuir grandemente para o registo real das nossas vivências. E para finalizar, nada melhor do que o toque esclarecido e moderníssimo (e impensável outrora), do camarada Antº Rosinha.

Anónimo disse...

Entendo perfeitamente o Zé Manuel, aliás alguns dos comentaristas menos favoráveis à sua afirmação penso que também o entenderam, mas às vezes dá jeito levar à letra certas afirmações. A conclusão que tirei da sua afirmação, foi a de que os mais influentes, eram sempre os que melhor se safavam, fosse não ir para a guerra ou então arranjar um lugarzinho que lhes permitisse baldar-se à mata.
E quem eram os mais influentes? Os ricos, os que detinham algum poder político, os jogadores de futebol ou alguém mesmo pobre mas que tivesse um bom padrinho.

- Os ricos: conheci alguns que bateram com o costado na mata. Andaram a meu lado nas matas de Angola.

- Os influentes ( políticos e altas patentes militares ): cito apenas um caso, decerto que haverá outros, mas este é bem elucidativo; um médico, colocado na mata, filho de um general, governador-geral de Angola, médico este que morreu quando fazia o trajecto entre dois aquartelamentos na mata, para prestar cuidados de saúde.

Os jogadores de Futebol: Na recruta conheci um jogador de basquete de um glorioso clube, esse ficou cá. Na especialidade em Tavira conheci três jogadores, um do meu pelotão os outros dois da mesma compª de instrução e que actuavam na primeira divisão, hoje um desses é treinador, todos eles ficaram cá. Já como instructor tinha como recruta um jogador que pertencia a um dos três grandes de Lisboa, chegou a jogador da selecção nacional e treinador de um dos mais representativos clubes da n/liga, também ficou por cá. Mais à quarta ou quinta-feira ao meio dia ia de fim-de-semana.
Mas também conheci um jogador de um grande clube da 1ªdivisão,que como alferes, prestou comissão nessas matas de Angola, numa zona onde a metralha queimava.

Os pobres: Conheci alguém na minha companhia, que conseguiu tirar a especialidade de corneteiro, por isso nunca foi para a mata, aqui entende-se para a porrada, porque no meio da selva estava-mos nós. Uns presuntos ao Sargento-ajudante foram os seus argumentos.
O homem nem o toque de sentido conseguia tocar.Mas safou-se da porrada ficou como básico no quartel.

Conclusão nem todos os ricos ( conforme diz o Zé Manel)se baldaram à guerra,e nem interessa discutir o porquê, mas que foram os que mais o benefiaram com o seu estatuto lá isso foram.

Acho que antes de dramatizarem questões como esta,devem dar sempre um pequeno desconto (os jornalistas gostam de polémica, se não houver polémica, nimguém repara neles) e tentarem perceber o outro.

Um abraço para o Antonio Rosinha,com quem nem sempre estou de acordo, mas que respeito profundamente,não preciso de dizer porquê, basta seguir o seu percurso aqui no blog.Coerência.

Cumprimentos para todos.

Antonio Almeida

Unknown disse...

Prós e contras. Isso é que é bonito. Francamente eu não encontrei nenhum rico - podem acreditar que conheci muita gente -no sentido de dinheiro forte. Lá por aparecer um apelido Champalimaud, Espírito Santo, Santos Cunha ou outro qualquer sonante, não quer dizer que pertencessem aos ramos familiares directos dos ricos de então. Temos um grande camarada e amigo no nosso meio nestas condições. Mas digam-me - outro tema só para chatear - porque os jogadores de futebol principalmente dos clubes de maior projecção não eram mobilizados ?
Amigo Carlos. Um dia há-des explicar-me o que é isso dos ricos (de então) terem tido respeito pela Pátria.
Quanto à entrevista do Zé Manel, só amanhã a hei-de ler. Já ouvi a do vídeo. Mas ele é um poeta-sonhador-lírico. Saudo o Zé Manel "mai'las suas tangas". Um abraço para todos.

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro António Almeida

Afinal acabas por dizer tudo o que os outros disseram, mas deixas esta frase que, permite-me que te diga, é "julgamento" que não podes fazer:
«aliás alguns dos comentaristas menos favoráveis à sua afirmação penso que também o entenderam, mas às vezes dá jeito levar à letra certas afirmações.»

O "dar jeito" serve sempre aos dois lados da moeda!

Porque se quer assacar a uns intenções que não se assacam a outros?

Um abraço camarigo para ti e para todos

paulo santiago disse...

Não generalizem esta história dos
ricos e jogadores de futebol...
Tive um colega na Escola Regentes
Agrícolas de Coimbra,que era de
família não"pobre" e era um craque
da Académica: Oliveira Duarte.A
meio do penúltimo ano do curso,
recebe um convite do Sporting( prá
aí uns 850 contos...uma fortuna na
época)e presidido por um General.
Claro que se transferiu para o
Sporting,não tanto pelo dinheiro,
mais pela figura que estava na
presidência.Não lhe valeu de nada,
andou dois anos e picos por cá,já
Alferes Mil.,acabou mobilizado para
Angola, onde,devido ao muito tempo
de serviço militar,foi promovido a
Tenente,caso raro,acabando por
fazer cinco anos de serviço militar
Quando voltou de Angola,voltou para
a Académica,e para a Escola Agrícola...muito pouco serviu ao
Sporting,contrariamente aos
vaticínios iniciais.Este é um
exemplo que contraria alguns
comentários anteriores...

Unknown disse...

Caro Paulo
O caso Oliveira Duarte, não contraria os comentários, mas regras (ou excepções) como se queira.
Na mesma altura, mais ano, menos anos, houve o Seninho no Porto, que fez a tropa e mobilização num clube de futebol em Angola. Aliás de onde era natural. Mas isso é andarmos à procura de uma agulha num palheiro...
Em contra-partida tinhamos uma selecção militar de futebol que até dava uns toques bacanos à bola.
Era uma forma da rapaziada (militar) ver uns craques da bola à borla, nas Antas ou na Tapadinha.
Um abraço

Anónimo disse...

E há casos interessantes como o de Pequito Rebelo, monárquico integralista, grande proprietátio no Alentejo, anti-estadonovista (pela direita) ferrenho. Em 1961, já com 68 anos, foi para Angola com o seu avião particular, integrar as Forças Aéreas Voluntárias (FAV).
Quanto a ricos e influentes: Paz à Alma do Mani Carreiro, excelente rapaz, bom amigo, morto na Guiné em combate.
Abraço,
Carlos Cordeiro