ninguém
gosta de falar de si,
mas eu tenho
a obrigação de dizer duas palavrinhas,
a quem teve a gentileza de me dar os parabéns
ao passar ao km 70 da minha autoestrada da vida.
a quem teve a gentileza de me dar os parabéns
ao passar ao km 70 da minha autoestrada da vida.
Não só por
educação,
como sobretudo por amor, amizade ou camaradagem.
como sobretudo por amor, amizade ou camaradagem.
Todos gostam
e não gostam de fazer anos.
No dia dos
anos,
somos alvo
de atenções, mimados, apaparicados, infantilizados,
voltamos a
ser meninos…
Em
contrapartida, é mais uma folha do calendário da vida
que, física e simbolicamente, arrancamos…
Setenta anos
não é só um número redondo,
tem
implicações na vida dos aniversariantes, ou dos passantes.
O mais
vulgar comentário que se ouve,
ao passar ao quilómetro 70, é:
ao passar ao quilómetro 70, é:
“Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”…
a viver
nesta parte do hemisfério norte,
têm ainda
uns bons aninhos à sua frente…
Em Portugal,
em 2014, a esperança média de vida, aos 65 anos,
era então de
17,3 e 20,7 anos,
para os
homens e para as mulheres respetivamente…
Como a minha mulher, a "Chita",
é um pouco mais velha do que eu,
se as contas estiverem bem feitas,
é um pouco mais velha do que eu,
se as contas estiverem bem feitas,
podemos
comprar o bilhete juntos,
para irmos
juntos no barco de Caronte,
o tal que
atravessa o rio na viagem sem regresso…
(Há uma
exceção: os deuses e os heróis,
os tais que,
não sendo deuses, são mais do que homens,
podem comprar bilhete de ida e volta…)
podem comprar bilhete de ida e volta…)
A desvantagem de se fazer 70 anos
é pensarmos mais vezes
no raio da
viagem…
a que ninguém escapa.
a que ninguém escapa.
Mas mais do que a
morte física, é a "morte social"
que pode afligir quem faz 70 anos e se jubila…
A primeira
vez que ouvi o termo, "morte social",
foi da boca
de um saudoso amigo, psiquiatra,
meu companheiro da saúde
pública, João Sennfelft.
A reforma é, para muitos, também a perda de estatuto,
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho.
Em contrapartida, ganha-se a ilusão
de se ser dono do tempo,
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos.
Na realidade, estamos a envelhecer
desde que nascemos:
o relógio biológico está em nós,
foi o que nos coube na lotaria genética,
já ao "relógio social", a esse, ainda lhe podemos dar alguma corda...
A minha querida Chita queixa-se
de que está há 10 anos
de referências, de colegas de trabalho,
e sobretudo de trabalho.
Em contrapartida, ganha-se a ilusão
de se ser dono do tempo,
das 24 hora do dia
a que se resume a nossa vida,
já que somos seres circadianos.
Na realidade, estamos a envelhecer
desde que nascemos:
o relógio biológico está em nós,
foi o que nos coube na lotaria genética,
já ao "relógio social", a esse, ainda lhe podemos dar alguma corda...
A minha querida Chita queixa-se
de que está há 10 anos
à espera de
mim…
para dar a
volta ao mundo,
no tempo que
nos resta.
Vamos lá a
ver se o mundo, em contrapartida,
não nos prega a partida
não nos prega a partida
de fechar as
portas aos “globetrotters”,
agora que os muros estão de volta,
para tentar travar, em vão, a globalização,
começada pelos portugueses há cerca de 600 anos…
agora que os muros estão de volta,
para tentar travar, em vão, a globalização,
começada pelos portugueses há cerca de 600 anos…
Aos 70 anos os professores jubilam-se…
e vão para
casa
(, tirando os heróis, que esses vão para o Olimpo).
(, tirando os heróis, que esses vão para o Olimpo).
Estranha
ironia, a da origem etimológica da palavra:
Jubilar
(-se) significa encher(-se) de júbilo ou de grande alegria.
Palavra que
vem do latim “jubilaeus, jubilaei”,
o ano do jubileu judaico...
o ano do jubileu judaico...
E que era o jubileu entre os antigos hebreus ?
Era a remissão de servidão e e o perdão das dívidas,
Era a remissão de servidão e e o perdão das dívidas,
que ocorria de 50 em 50
anos,
numa época em que a esperança média de vida deveria ser de 30,
na melhor das hipóteses.
Em suma, ao fim de 50 anos, eu deixava de ser escravo ou servo
e passava a ser um homem livre.
E, no caso de ainda estar endividado,
o usurário perdoava-me o resto da dívida e dos juros...
(Era bom que isto também se pudesse aplicar aos países,
esmagados com a dívida pública...).
Por extensão, jubileu quer dizer:
(i) quinquagésimo aniversário;
(ii) aniversário solene;
(iii) grande período de tempo;
e, entre os católicos, a (iv) indulgência plenária concedida pelo papa
em épocas fixas, e sob certas condições.
numa época em que a esperança média de vida deveria ser de 30,
na melhor das hipóteses.
Em suma, ao fim de 50 anos, eu deixava de ser escravo ou servo
e passava a ser um homem livre.
E, no caso de ainda estar endividado,
o usurário perdoava-me o resto da dívida e dos juros...
(Era bom que isto também se pudesse aplicar aos países,
esmagados com a dívida pública...).
Por extensão, jubileu quer dizer:
(i) quinquagésimo aniversário;
(ii) aniversário solene;
(iii) grande período de tempo;
e, entre os católicos, a (iv) indulgência plenária concedida pelo papa
em épocas fixas, e sob certas condições.
Querida
Chita,
meus queridos filhos,
meus irmãos,
meus amigos,
meus colegas,
meus camaradas:
meus queridos filhos,
meus irmãos,
meus amigos,
meus colegas,
meus camaradas:
reformado, jubilado, passo a
estar perdoado,
de todos os meus pecados,
de todos os meus pecados,
exceto do
pecado original
de que
carregarei a culpa, por toda a vida,
sendo também eu filho de Adão e Eva…
Jubilado,
estou perdoado:
se fui mau
pai ou amante,
mau professor ou colega,
mau amigo ou camarada...
mau professor ou colega,
mau amigo ou camarada...
não me
voltem, por favor, a relembrar o passado,
o meu
cadastro hoje está limpo
e de certo
modo posso pensar em começar
um outra
vida, uma nova vida…
Por isso
falamos hoje, na saúde pública,
no
envelhecimento saudável,
e, mais do
que ativo, proativo, produtivo…
Na véspera de fazer 70 anos,
podia dizer,
com humor e propriedade,
que era o
último dia da minha vida… profissional.
Hoje,
jubilado, liberto do ónus da profissão,
posso
descobrir que há mais vida
para além do
que fazemos por obrigação
(e, nalguns casos, com satisfação)
que é trabalhar…
(e, nalguns casos, com satisfação)
que é trabalhar…
Se virmos a
reforma por este prisma,
por esta
janela larga (para outros, porta estreita),
então
diremos que ela é mais um tempo de
oportunidade(s),
que não
podemos desperdiçar…
Não basta
dizer que passamos a ter mais tempo,
pelo
contrário temos que aprender a saborear o tempo,
que é o
único recurso que os seres humanos
não podem
poupar, guardar, amealhar, mercantilizar…
Era bom que houvesse um disciplina de economia do tempo,
a par da economia da saúde,
para a gente, individual e socialmente,
podermos dar mais valor ao único recurso que conta,
para quem, como nós, somos sermos finitos:
isto é, estamos aqui a prazo,
e esta "terra da alegria", como diz o meu poeta Ruy Belo,
este planeta que habitamos, não é nosso,
pertence aos nossos filhos e netos.
Era bom que houvesse um disciplina de economia do tempo,
a par da economia da saúde,
para a gente, individual e socialmente,
podermos dar mais valor ao único recurso que conta,
para quem, como nós, somos sermos finitos:
isto é, estamos aqui a prazo,
e esta "terra da alegria", como diz o meu poeta Ruy Belo,
este planeta que habitamos, não é nosso,
pertence aos nossos filhos e netos.
Aos 70 podemos acho que ganhamos o privilégio de poder dizer,
como os velhos edonistas da antiguidade,
“carpe
diem”,
goza os dias…
Ora, uma das coisas de que gosto, é, seguramente, escrever…
goza os dias…
Ora, uma das coisas de que gosto, é, seguramente, escrever…
pois prometo
escrever mais e melhor.
Gosto da
vida... e das coisas boas da vida,
pois prometo continuar a viver, e a gostar de viver,
e a transportar o fogo sagrado da vida...
Seguramente com outra filosofia de vida,
em que importa mais o ser do que o ter...
e a transportar o fogo sagrado da vida...
Seguramente com outra filosofia de vida,
em que importa mais o ser do que o ter...
Prometo, enfim, continuar a amar,
e a tê-los/as, a
vocês todos/as, no meu coração.
Não, não
precisa, felizmente,
de obras de remodelação e ampliação
este coração que ainda bate forte:
tem assoalhadas para todos vocês,
de obras de remodelação e ampliação
este coração que ainda bate forte:
tem assoalhadas para todos vocês,
meus amores, meus amigos, meus camaradas...
Está aberto para quem
mais quiser entrar…
Last but not the least,
por fim e não menos importante,
deixem-me dizer-vos
que a gratidão é das coisas mais belas no ser humano.
E eu estou-vos grato,
comovidamente grato,
pelo amor, amizade, companheirismo
que me têm manifestado
ao longo da
minha vida,
nos bons e nos maus momentos da vida…
PS1 - Para os meus bravos camaradas de guerra,
permito-me acrescentar:
até ao fim da picada,
até ao quilómetro 100,
é sempre em frente,
só é preciso é ter cuidado
com as p... das minas e armadilhas da vida!
PS2 - Caros/as amigos/as da saúde pública:
No dia 29 de janeiro, atingi o km 70 km da minha autoestrada da vida... Quiseram-me fazer uma festinha (a família e alguns amigos no próprio dia; uma boa parte de vocês, ontem, dia 31). Foi uma agradável surpresa, e eu fiquei feliz pela vossa manifestação de carinho e de amizade (, que é a melhor prenda que alguém me pode dar).
nos bons e nos maus momentos da vida…
PS1 - Para os meus bravos camaradas de guerra,
permito-me acrescentar:
até ao fim da picada,
até ao quilómetro 100,
é sempre em frente,
só é preciso é ter cuidado
com as p... das minas e armadilhas da vida!
PS2 - Caros/as amigos/as da saúde pública:
No dia 29 de janeiro, atingi o km 70 km da minha autoestrada da vida... Quiseram-me fazer uma festinha (a família e alguns amigos no próprio dia; uma boa parte de vocês, ontem, dia 31). Foi uma agradável surpresa, e eu fiquei feliz pela vossa manifestação de carinho e de amizade (, que é a melhor prenda que alguém me pode dar).
Do ponto de vista legal, deixo, a partir de agora, de ter um vínculo (laboral) à Escola, mas o mais importante é o património de memórias e de afetos que trago comigo (e que também fica convosco)... Sem nunca esquecer a missão principal dessa Escola, que é a de formar gente e produzir conhecimento no campo da arte e da ciência da saúde pública, permito-me chamar a atenção para aquilo que é (ou deve ser) o nosso traço de distinção na universidade: a educação (tal como a saúde) é uma coatividade relacional... E por isso que gostamos dizer: as pessoas, em primeiro lugar...
Um dia, um qualquer "Big Brother" vai ter a tentação (totalitária) de nos substituir por robôs, ou máquinas superinteligentes, a nós, professores, médicos, enfermeiros, e outros terapeutas... Quiçá mesmo, aos políticos, aos gestores, aos decisores, aos economistas... Nesse cenário (bastante verosímil), só restará fazer apelo à nossa condição de "homo sapiens sapiens" e lembrar-nos que só fomos bem sucedidos, enquanto espécie, porque tínhamos (temos tido) a enorme capacidade de aprender e sobretudo de aprender uns com os outros... Somos animais, primatas, terrivelmente territoriais e predadores, mas também, e sobretudo, sociais...
Não é um adeus, é um "até já"... Com um pé dentro e outro fora, continuaremos juntos a lutar para que a saúde pública não perca o "suplemento de alma" que faz toda a diferença.... Foi também a pensar em pessoas como vocês, mulheres e homens da saúde pública, generosos e talentosos, que me ajudaram a ser um melhor ser humano, que eu escrevi e publiquei, neste blogue, este texto singelo: "Obrigado, a todos/as".
Luís Graça
Adapt. das palavras que disse em duas festinhas
em que tive de apagar o bolo dos 70,
Hotel do Vimeiro, 29 de janeiro de 2017 / ENSP/NOVA, 31 de janeiro de 2017
em que tive de apagar o bolo dos 70,
Hotel do Vimeiro, 29 de janeiro de 2017 / ENSP/NOVA, 31 de janeiro de 2017
________________
Nota do editor:
6 comentários:
José Câmara
1fev2017 17:19
Meu caro Luís Graça,
Não gostaria de usar desculpas esfarrapadas, mas só hoje me apercebi do teu aniversário. Infelizmente estou a ter problemas com o meu computador e com as mensagens que mando ou recebo via Sapo.
Jamais seria descortês com quem me recebeu de braços abertos no seu grupo e me tem dado a liberdade para exprimir as minhas memórias, criar e cultivar amizades.
Setenta anos é uma bela idade, mas cem é muito mais. E, passando a brincadeira, que eles sejam passados com muita saúde na companhia daqueles que enchem a tua vida no dia a dia.
Parabéns por mais um aniversário
Abraço transatlântico,
José Câmara
Luís ninguém gosta de fazer 70 anos dizes a certa altura
Mas convirá que não os fazer será pior
Agora que os fizeste estás melhor ou pior?
Felizmente não somos como os iogurtes, que são retirados do consumo no dia que ultrapassam a data limite.
Um abraço
Jorge Picado
1 fev 2017 22:21
Amigo Luís
Tal Egas Moniz, de baraço ao pescoço, aqui estou, ainda que tardiamente, penitenciando-me pela "involutária" falta cometida para contigo.
Com grande surpresa acabo de tomar conhecimento do teu aniversário, em que comemoraste a bonita soma de 70 anos e a consequente entrada para o Clube dos Aposentados.
Espero que me perdoes esta falta, que não é de educação, mas apenas como refiro foi involuntária, já que desde uns certos tempos venho sendo um visitador menos assíduo da Nossa Tabanca. Não a abandonei, nem muito menos reneguei e não a esqueçi, mas apenas outras ocupações diárias me roubaram algum tempo.
Desde que se me meteu na cabeça "conhecer as minhas origens", passo a maior parte do "tempo livre" a cançar a vista mergulhado nos registos paroquiais de Ílhavo existentes,
referentes a baptismos,casamentos e óbitos, que anteriores a 31 de Março de 1911 já se encontram no Arquivo Distrital de Aveiro e a maioria de consulta até na Net. Esta a razão
da minha passagem apenas, uma ou outra vez por semana, pelo Blogue. E assim me passou essa tua efeméride.
Desejo-te as maiores felicidades nesta tua nova etapa da vida, mas sei que agora vais ter muito mais tempo para novos afazeres, sobre os quais até aqui não podias debruçar-te
e talvez te deem mais prazer.
Apertado abraço para todos vós do
JPicado
Obrigado, amigo e camarada Zé Câmara. Registo todo com o todo o gosto e gratidão, as tuas carinhosas palavras. És um digno representante dos camaradas da diáspora, pena é que a gente, o nosso blogue, não chegue a muitos mais, espalhados por todo o mundo, da América à Austrália, da França à África do Sul, do Brasil a Macau...
Estou feliz por te ter cá, à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande.
Um alfabravo fraterno, Luís
Joaquim Luís Mendes Gomes
Comentário de ontem na página do Facebook da Tabanca Grande:
Com muito gosto te dou as boas vindas ao meu club de reformados. Acabaram-se as obrigações exógenas. As seguuntes brotarão da tua vontade. Senhor total do teu tempo. Sei que não vais ter problema algum em gerir esta boa responsabilidade. Tens muitas capacidades. Nos diversos domínios. Agora é que vais poder chegar ao cume delas, conforme te aprouver. Quero desejar-te que os tempos que aí vêm sejam repletos de saúde e muita paz.
Um grande abraço.
https://www.facebook.com/profile.php?id=100001808348667
Jorge, grande capitão!...
Estás perdoado!... Ou melhor, não te posso "perdoar", se me apareces de "baraço" ao pescoço!...Se tirares o "baraço", vou logo até ao teu encontro para te retribuir o xicoração fraterno que me acabas de dar...
Tens o meu inteiro apoio em relação às tuas apaixonantes pesquisas genealógicas!...Vais por certo encontrar na tua árvore genealógica heróis e vilões, gente boa e gente má, santos e pecadores, barvos e fujões... como em todas as famílias... Mas é uma tarefa empolgante!... Vai dando conta dos tes achados... Até um dia destes, até à Costa Nova ou até Monte Real!... LG
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