quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19157: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (57): Contactos de fotocines precisam-se para documentário sobre o seu papel na guerra colonial (Hélder Sousa/ Marisa Marinho)


Luanda > 1973 > Destacamento de Fotografia e Cinema nº 3011 > 1973 > Festa do 1º aniversário.
Quem reconhece estes camaradas ? A fotografia tem baixa rsolução: à esquerda, em primerio plano, parece ser um militar com o posto de furriel, um dos que sopram a vela; ao vendo, parece recinhecer-se três militares com os postos de alferes, capitão e major (ou tenente coronel), da esquerda para a direita. O DFC, nº 3011, entre 1972 e 1974, era comandado pelo capitão miliciano Vicente Batalha

(*) Cortesia do blogue Fotocines.


1. Mensagem de Hélder Valério Sousa, nosso colaborador permanente:

Date: segunda, 29/10/2018 à(s) 13:07
Subject: Alguém conhece fotocines?

Meus caros,

Fui contactado por um amigo que me fez um pedido no sentido de encontrar alguém da especialidade de fotocine.

O objectivo tem por fim ajudar a Marisa Marinho e Pinto a chegar à fala com elementos dessa especialidade para construir um documentário sobre "memórias da guerra colonial", que ele me disse que ela considera ser um assunto com muito ainda por contar mas que os protagonistas estão a desaparecer.

O foco em fotocine é na esperança de esses elementos terem sido testemunhas (memórias vivas) de acções ou operações ou outras vivências em que tivessem participado.

Disse-lhe (a ele) que não seria fácil. Tive contacto com um desses elementos, um homem do Porto, boas famílias, mas de que já perdi o rasto, aliás a última vez que estive com ele foi em Abril de 1972 quando, estando eu em "lua de mel" no Porto e em vésperas de regressar à Guiné, se fez de cicerone pelas ruas e bares do Porto e de manhã, qual táxi, nos foi levar a Pedras Rubras.

Também lhe disse que, na Guiné, a possibilidade de os fotocines acompanharem grandes operações é pouco provável, aqui e ali, talvez, mas deslocavam-se ao "mato" para projecções de filmes e gravações de mensagens de Natal.

Caso haja alguém, ou conheçam ou saibam de alguém capaz de ajudar a Marisa nesta sua demanda, pois que a contactem pelo telemóvel 933 269 023 para combinarem a forma de possível colaboração.

Abraços
Hélder Sousa


2. Comentário do editor:

Obrigado, Hélder, já te respondi por email, e já me mandaste o contacto da Marisa, que por sua vez já formalizou o seu pedido. A mensagem será publicada, a seguir. Como te disse, no doclisboa'18, encontrei há dias o produtor e realizador de cinema Rui Simões  (da Real Ficção), que conheço há anosm, e que me abordou no mesmo sentido: fotocines, precisam-se, para um documentário que está  em fase de planeamento.

Infelizmente, temos escassas referências a fotocines no nosso blogue (*).

Lembro que em 2008 foi criado um blogue, de vida efémera, chamado “Fotocines”, por alguém que esteve, em Luanda, no Destacamento de Fotografia e Cinema (DFC) nº 3011 (1972/74)… Até à data publicaram-se 3 postes e 1 comentário, incluindo duas fotos em formato pequeno…

Trata-se de um “espaço criado para reunir todos os Foto-Cines que prestaram serviço militar obrigatório no Exército Português, tendo sido distribuídos na altura por Destacamentos Foto-Cines em Angola, Guiné e Moçambique, para além dos premiados que conseguiram passar toda a sua comissão de serviço nos SCE-Serviços Cartográficos do Exército que agregava toda a comunidade Fotocine debaixo da égide do saudoso major Baptista Rosa [Niza, 1925- Lisboa, 1982], e por onde passaram parte dos expoentes do cinema feito em Portugal.”

O DFC nº 3011 era comandado pelo ribatejano, cap mil Vicente Batalha (*). [, foto à direita, cortesia do jornal "O MIrante"]
 

3. Mensagem de Marisa Marinho  com data de 30/10, 09:55

Caro Luís Graça,

escrevo por sugestão de Hélder Sousa, aqui em Cc, que muito amavelmente me contactou ontem, e a quem desde já agradeço também.

Estou envolvida na Pesquisa de um Documentário sobre Foto-Cines da Guerra Colonial e procuro meios de conseguir contactar com estes personagens.

Detalhes sobre este projecto:

1) ENQUADRAMENTO

Esta longa metragem documental, tendo recebido recentemente, pelo ICA [, Instituto do Cinema e Audiovisual], o Apoio ao Desenvolvimento da Escrita e o Apoio ao Documentário, conta ainda com o apoio à produção da RTP.

É um projecto independente, produzido por Rui Simões e pela Produtora Real Ficção, e realizado por Sabrina Marques (Investigadora do Cluster de Fotografia e Cinema - FCSH-UNL) que prossegue uma investigação a ser feita, em paralelo, no âmbito do Doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, com orientação dos Professores Margarida Medeiros e Bruno Marques.

2) SINOPSE

Em Os Foto-Cines constrói-se um retrato intimista da guerra junto de quem a viveu. Esta longa-metragem documental propõe-se investigar quem eram aqueles que, na guerra colonial portuguesa, viviam com a responsabilidade simultânea de combater, de defender a própria vida e ainda, de permanentemente registar essa mesma missão colectiva, através das máquinas fotográficas e de filmar.

Estamos portanto numa fase inicial de desenvolvimento, em que procuramos conhecer Foto-cines, e conversar sobre as suas experiências pessoais, ver fotos, etc, sem qualquer compromisso, apenas para melhor nos inteirarmos sobre esta realidade específica.

Numa fase posterior, possivelmente em meados de Janeiro, agendaremos entrevistas e filmagens, consoante o próprio entusiasmo, potencial, vontade e disponibilidade de cada Foto-Cine.

Estarei muito grata por qualquer meio de divulgação que considere adequado, para que realmente possamos encontrar Foto-cines do período da guerra colonial. (***)

Qualquer dúvida, por favor não hesite em contactar-me,

Os melhores cumprimentos, agradeço mais uma vez,

Marisa Marinho

Pesquisa & Conteúdos
telem 969321386
email: marisamarinho@gmail.com
_____________

Notas do editor

(*) Vd.  4 de janeiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15578: Recortes de imprensa (78): Vicente Batalha, de alf mil cav, CCAV 1483 (CTIG, 1965/67) a cap mil, cmdt do Departamento de Fotografia e Cinema 3011 (Angola, 1972/74)

(**) Vd. ainda postes de:

30 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16542: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (38): Ajuda para reportagem da SIC, antigos militares fotocines que tenham gravado as mensagens de Natal da RTP... precisam-se! (Madalena Durão, produtora)

7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16691: Agenda cultural (512): SIC: Programa Perdidos e Achados, em 29 de outubro passado: onde estavam os repórteres da guerra colonial, onde estavam os nossos fotocines?

(***) Último poste da série > 11 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18736: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (56): Procuram-se informações sobre uma possível troca de dois pilotos portugueses, prisioneiros no Senegal, por um opositor ao governo senegalês, preso em Bissau às ordens da DGS, com intermediação de Leopold Senghor, em Junho de 1966 (Miguel Pessoa / José Nico)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro Hélder, cara Marisa:

Eu tenho uma dúvida "existencial"... Estive na Guiné, numa companhia de pretos, daquelas que andaram sempre na "porrada", do princípio ao fim, e nunca vi um fotocine, em carne e osso... É provável que existissem alguns, em Bissau, mas os seus chefes não os autorizavam a vir para o mato...

Essa dúvida que me persegue, pu-la ao Fernando Matos Silva, numa sessão na Cinemateca, há dois anos atrás, em que ele apresentou o seu filme "Acto dos Feitos da Guiné" (1980)...

A minha dúvida era a de saber se os destacamentos de fotografia e cinema (DFC) se limitaram a "levar cinema" a (alguns) quartéis do mato e a produzir programas de rádio ou a gravar as famosas mensagens de Natal e Ano Novo... ou se também "fizeram cinema" (atualidades de guerra, documentários, etc.), para além da "cobertura" de acontecimentos protocolares e propagandísticos..., neste caso ao serviço do Com-Chefe e Governador-Geral da Guiné (Arnaldo Schulz, 1964-68, António Spínola, 1968-73; Bettencourt Rodrigues, 1973-74; Carlos Fabião, 1974)...

E, se sim, por onde pára hoje esse "material" (. nomeadamente os documentos de guerra, "ao vuivo")... que ninguém lhe põe a vista em cima..., à parte os (poucos) documentários produzidos pela RTP no longo período em que decorreu a guerra colonial (1961-75), nos 3 teatros de operações?

O Fernando Matos Silva foi "fotocine"... Mas não tenho o seu contacto. Conheci-o através da Catarina Laranjeiro, jovem cineasta. O Vicente Batalha, que vive em Santarém, foi o comandante do DFC, nº 3011 (Luanda, 1972 e 1974), capitão miliciano... Julho que é o seu depoimento é incontornável... Mas na Guiné, não temos ainda nenhum fotocine referenciado... Tenho uma vaga ideia de ir uma fotocine fazer projeções de cinema (8 mm, 36 mm ?), a Contuboel, a Bafatá, a Bambadinca... Eu nunca assistiu a nenhuma... Ao ar livre, contra a parede, no refeitório das praças, com um lençol branco...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Atenção: se a nossa guerra do ultramar / guerra colonial não foi bem documentada em fotografia e cinema, a culpa não é dos departamentos de fotocine nem dos pobres fotocines, que eram, gajos milicianos...

Alguém, lá de cima, das cúpulas político-militares, não queria muito simplesmente que a guerra passasse nas nossas "salas de cinema"... O cinema documental português perdeu uma oportinidade histórica de 12, 13, ou 14 anos!... Não documentámos a guerra por incompetência, cagufa, miúfa, miopia...dos nossos "patrões"... Era "dissolvente", "desmoralizante", era "colaborar com a propaganda do inimigo", diziam eles... A censura prévia, os senhores coronéis da brigada do reumático, estavam lá, de lápis azul em punho, para velar, na retaguarda, pelo "bom sono" da Nação... Os "fotocines", por seu turno, destacados para o Ultramar, tinham que "amouchar", como "amouchavam" os "infantes", sempre que caíam em emboscadas no mato... Mas não creio, até prova em contrário, que tenham "amouchado" muitas vezes... Uma operação de dois ou três dias, no mato, na Guiné, não era para todos... A guerra da Guiné não era nenhum "jogo de guerra" ("war game"), daqueles a que os nossos putos se habituaram a jogar, no faz de conta, na brincadeira...

Tenho muita pena de o dizer, mas eu nunca conheci nenhum fotocine...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Marisa, uma coisa são os "fotocines"..., profissionais, os militares do Departamento de Fotografia e Cinema, a quem cabia a responsabilidade de fotografar e filmar a guerra, de 1961 a 1975... Outra coisa, éramos nós,operacionais, que fizemos a guerra e que, num caso ou outro, levávamos máquinas de fotografia (, excecionalmente, de filmar) e que, com a G3 numa mão e a máquina fotográfica na outra, lá batemos umas "chapas" para a história...

Afinal, o que é que a Marisa procura ? Fotocines de ocasião ? Até esses são poucos, foram poucos... pelo menos na Guiné, no meu tempo... LG

Marisa Marinho disse...

Olá,

realmente precisamos dos FOTOCINES mas também estamos interessados em conhecer as colecções privadas de fotografia e filmes (que como diz, são mais raros), justamente para contrapor as duas narrativas.

Mas são os FOTOCINES que nos fazem mais falta neste momento.
Se conhecer quem levou máquinas de fotografar, e mais tarde fez da fotografia profissão, para nós é valioso também.

E há quem tenha feito ambas as coisas - fotos oficiais e chapas pessoais - seria fabuloso encontrar quem.

Obrigada, muito grata,
Marisa

Anónimo disse...

Marisa, como diz o Luís Graça, era difícil andar no mato com uma G3 numa mão e uma máquina de filmar ou fotografar na outra, isto numa 'sessão' de combate, em emboscadas, minas a rebentar debaixo das viaturas, corpos desfeitos com as minas AP e com granadas, morteiros, foguetes, roquetes, metralhadoras, fornilhos, abelhas assassinas, formigas carnívoras, etc....
Eu tenho o privilégio de ter uma colecção de 1000 imagens, 500 fotografias a preto e branco e 500 slides a cores.
Mas nada de combates, são as tais 'chapas pessoais'.
As fotos oficiais a que se refere, são as tiradas pelo Departamento de Fotografia e Cinema?
Nunca vi um 'cara' desses em todos os sítios por onde andei, nem sabia que existiam, mesmo em locais do interior, muito menos no mato, em plena guerra.

Contudo, já vi um comentário em vídeo de uma situação complicada com vários mortos e corpos desfeitos, ou foi aqui no blogue, ou são imagens que estão comentadas em Francês.
Talvez o 'camarada' Furtado que fez aquelas reportagens da RTP, para mim de muito mau gosto, possa ter alguma coisa nos seus arquivos.

Cumprimentos,

VT/.



Unknown disse...

Cara Marisa,

Estive em Cameconde/Cacine de Abril de 1968 a Jun de 1969.
Neste período foi colocado na Cartª 1692 por castigo o Fur.MilºFC
Esteves Pinto, um jovem revolucionário natural de Porto que
trazia colada na parte interior do seu caixote de roupa a
foto do Comandante CHE.
A companhia era comandada pelo Cap. Veiga da Fonseca, tendo como
2º Comandante o então Alferes A,J. Pereira da Costa agora Coronel.
Passados anos fiquei a saber que é jornalista e mora na zona
de Foz/Matosinhos.Não consegui encontra-lo ainda.

Um Abraço,
J.D.S.Faro
68/70

Marisa Marinho disse...

Mensagem para o Anónimo da Colecção de fotografia - eu gostava muito de conhecer a sua coleção e a si também :) por favor contacte-me 969321386, obrigada

Mensagem para José Diniz: obrigada pela informação, vou investigar! m

Mensagem para Tabanca Grande - obrigada pelos seus comentários, se estiver disponível gostava de falar consigo pessoalmente. 969321386 Até breve, m

Entretanto podem surgir nomes e ou sugestões consoante se mantenha aceso este apelo, por favor não hesitemem contactar-me pessoalmente. Obrigada e bem hajam, marisa