terça-feira, 1 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20195: (Ex)citações (358): Fernando Calado, camarada de Bambadinca, gostei de ler o teu poste... Também eu escrevia cartas diárias, com muitas páginas, para a minha namorada... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca. 


Foto (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Comentário (*) de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, é gestor reformado; tem 136 referências no blogue:



Fernando Calado (**), estive a ler com toda a atenção esta narrativa, e quase se confunde com a minha estadia na Guiné. 


Levei tempo a escrever, andei à procura do Batalhão que nos foi render em 26fev68 em Nova Lamego. Tinha ideia que era o BCAÇ 2856, mas afinal acabei por encontrar e era o BCAÇ 2835.

Quando ao resto,  eu em Nova Lamego, de 21set67 a 26fev68, as histórias e os locais eram quase os mesmos. Estive várias vezes em Bafatá, mas por Bambadinca, apenas passei por lá duas vezes, em 4out67 e 26fev68. 

Depois fui lá várias vezes à Intendência, em colunas para reabastecimentos, cujo Pelotão era comandado por um camarada do meu curso na EPAM [, Escola Prática de Administração Militar], o Alferes Ramos, pequenino como eu. Era do Pelotão de Intendência, é do Porto como eu, e por vezes falamos, ele tinha uma Galeria de Arte na Foz. Pouco falamos da Guiné, ele não deve gostar, suponho.

Eu era o Chefe do CA - Conselho Administrativo, dependia apenas do 2º comandante, quase não lidava com mais ninguém. O nosso Transmissões era o Alferes Mesquita, tinha vários fotos com ele, e ainda nos vemos nos encontros anuais, quando eu vou.

Frequentávamos muito a Tabanca do Morteiros,  do Alferes Azevedo, que afinal era de Évora e não de Beja como eu pensava. Soube há dias que tinha já falecido, nunca mais o encontrei.

Esse modo de vida era quase o meu, excepto as cartas, nunca joguei, escrevia cartas diárias com muitas páginas para a minha namorada, que afinal eram como seja um diário...

Das centenas delas, apenas me restam meia dúzia, as outras foram todas queimadas e centenas de fotos, devido a um incidente e ficaram cheias de bicharada. Estava lá toda a minha vida de 23 meses, mais os outros na recruta e antes de embarcar.

Nunca fui apanhado nessas posições matinais, normalmente dormia sempre com umas calças de pijama de "terylene" e por vezes o casaco, sem qualquer outra roupa, nem lençóis. Dormíamos uns 10-12 na mesma camarata, e não me lembra de situações dessas, embaraçosas. 

Pois quanto ao resto das DST [, Doenças Sexualmente Transmissíveis,]  não me faltaram,  era de tudo o que vinha nos cardápios, já falei nisso várias vezes, o nosso Pastilhas (mais tarde formou-se em médico, mas já falecido) tratava disso tudo, eram injecções de Terramicina, que nem podíamos andar depois...

O Whisky com a água Perrier e muito gelo era também a minha bebida preferida.

As bajudas, sempre as tratamos bem, elas apareciam lá pelos quartos com as roupas, e gente por vezes ficava embaraçado, mas elas, ainda miúdas, de 15 anos, e eu com mais 10 em cima, levavam aquilo de brincadeira. O quanto eu daria para ir hoje conhecer umas das minhas lavradeiras, quer seja em Nova Lamego quer em São Domingos.

Foi agradável este Poste, por vezes fazem-nos sonhar com aquela idade, e não havia ataque ao aquartelamento que eu não fosse fotografar.

Vamos continuando.

Abraço,

Virgilio Teixeira
ex-alf mil do SAM
BCAÇ 1933/RI15
1967-1969
__________________


Notas do editor:


(*) Último poste da série > 23 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20005: (Ex)citações (357): para um fula, bom muçulmano, crente, como o pai do Cherno Baldé, o homem nunca chegou à lua (nem poderia chegar)... Do mesmo modo, só as mulheres grandes, como a Fatumatá, de Sinchã Sambel, chegavam às 100 luas ou mais (Cherno Baldé, Bissau / Hélder Sousa, Setúbal)


(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20191: (De) Caras (112): O aerograma de 1 de dezembro de 1969: "Meu amor, se calhar esta noite vou ter de pôr um lençol na cama, não vou transpirar a dormir, e… talvez tenha um sonho manga di bom"... (Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/ BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

22 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), temos aqui um poste, muito esclarecedor, da autoria do ex-alf mil médico

22 DE OUTUBRO DE 2014
Guiné 63/74 - P13782: Os nossos médicos (84): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (14): Onde se fala de doenças sexualmente transmissíveis (con destaque para a blenorragia) mas também de perturbações psíquicas como a depressão e o stresse pós-traumático de guerra


(...) Em relação a doenças de transmissão sexual, já falei de Pediculus Pubicus, Piolho do Púbis, ou vulgo Chato em português vernáculo.

A situação mais frequente era a blenorragia, com a sintomatologia habitual com dificuldade de micção, ardência uretral e supuração em que o seu agente era a Neisseria Gonorreia. A terapêutica á base de Penicilina resultou sempre eficazmente nesta patologia.

Por vezes aparecia uma ulceração na glande peniana o que pressupunha de imediato o diagnóstico de uma sífilis com a sua lesão primária (cancro duro) e que era imediatamente tratado com Penicilina Benzatinica 1200000( 1 milhão e duzentas mil unidades ) em injecção intra-muscular por semana durante 3 semanas seguidas.

Por vezes associada a estas situações apareciam as prostatites que na maioria dos casos tratavam-se de infestações por múltiplos agentes, como Neisseria, Estreptococos, Clamydia Trachomatis, Echerichia Cólica. etc, etc.

O Cancro Mole ou vulgo Mulas produzido pelo Bacilo Ducrey era pouco frequente na zona onde estava inserido

O Herpes genital já era mais frequente e com uma certa regularidade com irritação balano-prepucial, prurido e com rasgadas e escoriações. Na altura tínhamos a tintura de iodo ,e a solução álcool iodada (ardia até de mais)-. Tinha uma característica recidivante e não havia terapêutica como hoje em dia com o Aciclovir.

Da parte do pessoal não havia, como dizes, uma grande reserva em relação ao Médico, no encobrimento da patologia sexualmente transmitida, isto no que me dizia respeito. Fui sempre aberto a todas as situações e nunca manifestei qualquer desagrado ou dei qualquer sentido pecaminoso a uma necessidade quasi fisiológica e de escape e de desanuviamento do pessoal militar tão novo.

Confiavam em mim e no segredo profissional a que estava subordinado, servindo de intermediário válido entre eles e o comando e sempre que necessitavam de aconselhamento. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É verdade que os nossos médicos mas também os nossos enfermeiros tinham, todos ou quase todos, uma postura profissional, desinibida, empática, em relação aos portadores de DST, na maioria dos casos blenorragias... E o tratamento, em geral, era eficaz, embora uma milhão e 200 mil unidades de penicilina, em cada semana, a multiplicar por três, nos deixasse abananados... Era o preço pelo "pecado da carne"... A puta da injeção parecia um coice de cavalo...

Onde o serviço de saúde militar falhava era na prevenção e no rastreio precoce... O serviço de saúde militar ou o comando do batalhão ? Ou o comandante da companhia ? Não me lembro de, na instrução militar ou na IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Militar ou na viagem para a Guiné, alguma vez se ter abordado, de maneira direta e frontal, o problema das DST... Nem sequer um simples folheto nos foi distribuído!...

O furriel enfermeiro lá nos ia dando uma pomadinha antivenéria, em pequenas bisnagas, que mais pareciam amostras, do Laboratório Militar!... Nem sequer havia distribuição de preservativos!... A tropa ia lá gastar o dinheiro do contribuinte com esses luxos supérfluos!... O Zé Tropa que se masturbasse ou fizesse voto de castidade durante dois anos!...

Que hipocrisia, a da tropa daquele tempo!... Estava, de resto, em consonância com a hipocrisia oficial do regime em "matéria de moral e bons costumes"... Salazar, que não ia às putas, mandou fechar as casas de passe... com isso causando um aumento exponencial da prostituição clandestina... A saúde pública perdeu,em consequência, o controlo das DST...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Esse drama ainda era maior no tempo do meu pai, o da geração que fez parte das forças expedicionárias que, durante a II Guerra Mundial, defenderam a integridade dos territórios ultramarinos... Ainda não havia a penicilina... A sífílis e outras DST era um grave problema de saúde pública... Recordo-me do meu pai me contar de, no Mindelo, ter salvo um camarada tentou o suicídio, atirando-se ao mar, por estar contaminade com a sífilis e ser casado... ou ir-se casar. Estes casos não foram raros...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

No sítio da APF - Associação para o Planeamento da Família, fundada em 1967 (!) pode ler-se:

http://www.apf.pt/infecoes-sexualmente-transmissiveis/sifilis

Sífilis
A sífilis é uma infeção sexualmente transmissível causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum. Esta IST é frequentemente assintomática, o que dificulta o seu diagnóstico e tratamento adequado. Após a infeção, existe um período latente que dura em média 3 semanas e durante este período não são visíveis quaisquer sintomas, podendo manter-se assintomática durante um tempo considerável.

A Sífilis Primária caracteriza-se por uma úlcera indolor no ponto de exposição da bactéria e pode aparecer nos genitais, na uretra, no ânus e no colo do útero, bem como nos lábios e na boca.

Transmissão
Transmite-se através de relações sexuais não protegidas (sexo vaginal, oral ou anal), contacto com ferimentos causados pela doença e durante a gestação (em 40% dos casos causa aborto espontâneo, morte à nascença ou neonatal; noutros casos, causa sífilis congénita).

Sintomas
Os sintomas da sífilis não são sempre evidentes e variam consoante o estádio da doença:

Fase 1 - Cerca de 3 semanas após a infeção, aparece uma pequena ferida/úlcera nos órgãos genitais, na boca, na mama ou no ânus.
Fase 2 - 3 a 6 semanas depois do aparecimento da lesão, os sintomas podem incluir febre, dores de cabeça, perda de peso, dores musculares e fadiga.
Fase 3 - Nos casos em que não foi tratada, a sífilis pode evoluir para situações clínicas graves, dando origem a severos danos ao nível do sistema nervoso e sistema cardiovascular e pode levar à morte. Esta fase pode ocorrer 1 a 20 anos após a infeção.
Tratamento e prevenção
A sífilis é fácil de curar durante as fases iniciais, sendo normalmente tratada com penicilina; quando as pessoas infetadas são alérgicas a esse medicamento, podem tomar outros antibióticos.

O preservativo é o modo mais eficaz de evitar a transmissão da sífilis.

Anónimo disse...

Luís,

Obrigado pelo Poste.
Eu já tinha feito no Poste do Calado, mas pode ser que alguém acrescente algo mais, de positivo.
Os meus comentários tinham alguns erros, pois agora tenho de escrever com luvas, e não apanho todos os defeitos.

Contudo, este introito não está certo:

1. Comentário (*) de Valentim Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, é gestor reformado; tem 136 referências no blogue:

'Valentim' só há um, o 'Loureiro', e mais nenhum!
Por acaso ele até era na altura na Guiné, Capitão do SAM - área da manutenção militar, Intendência e coisas do género.

Chegamos a trabalhar juntos no célebre projecto na Guine (1984-1985) cujo Poste que enviei nunca foi sequer falado ou publicado, agora já está fora do tempo.
Não fomos 'amigos', fomos sócios apenas,ele tinha o Consulado da Guiné e isso facilitava as coisas, mas acabou por não facilitar em nada, bem pelo contrário...
Há dias, na minha 'ronda' fotográfica pelo Porto, ainda lá fui fotografar o 'palácio' dele na zona nobre da Foz, ficou como recordação, eu assisti à sua construção, até elevador tinha por dentro. Vidas!

Virgilio Teixeira



Anónimo disse...

... continuação...

2 - em relação ao artigo, isto é um tratado de DST. Agora já posso dizer que não passei por tudo isso, nem por sombras.
- dois esq (gonorreias) que foram tratadas neste caso com 3 injecções de Terramicina (um milhão de unidades) e em dias seguidos, com uma agulha do tamanho dum pénis de preto.
As dores eram terriveis, da primeira apanhei as 3, da segunda vez fiquei apenas com as duas e até ver nada de especial aconteceu.
Aquelas bisnagas, quem as usava?

Falar do assunto, Jamais!

Aprendemos com a prática, e soube de gajos que se mataram, pois deixaram apodrecer o instrumento.

Os chatos foram tratados com Sheltox das baratas, nem me quero lembrar.

A tintura de iodo foi usada numa perna para matar um 'animal' qualquer que se alojou e dava uma coceira enorme, passado pouco tempo fiquei sem pele e sem pelos nesse local. Depois ainda trouxe uma que ficou num pé, é a minha medalha de bom comportamento militar.

Continua mais tardee.

Virgilio Teixeira

Anónimo disse...

Creio continuar apanhado pelo clima da Guiné!

Diz Virgílio Teixeira:
-Quanto às doenças sexualmente transmissíveis não me faltaram,era tudo o que vinha nos cardápios.
Tratava disso tudo,eram injeções de Terramicina.

Imediatamente depois:
-O wisky
com água Perrier e muito gelo era TAMBÉM a minha bebida preferida.

TAMBÉM?
Como as doenças sexualmente transmissíveis?
Fico confuso.Muito confuso!

Quererá dizer que bebia o wispy para ajudar a “levantar” o moral e não só?
Bebia depois da doença para festejar?
Ou seria durante o tratamento para assegurar o efeito da Terramicina?

E francamente nem sei se estaremos a falar da mesma doença.
Num dos comentários o Sr.Professor Luís Graça dá-lhe um nome fino que pouco soa com a minha humilde ideia do esquentamento caserneiro.
São as vantagens de estarmos sempre a aprender.
Como por exemplo,fiquei a saber ,como algumas boas centenas de leitores dentro e fora de fronteiras,que “nunca foi apanhado nessas posições matinais “ pois domia sempre com umas calças de pijama de terylene.

Terá também ficado agora esclarecido o termo usado pelas autoridades guineenses ao marcarem nos seus almanaques as iniciais AACP e DACP.
Estas iniciais que tanto confundiram renomados estudantes etnológicos por esse mundo fora mais não querem dizer,ao referirem-se às Épocas:-Antes do Alfero Caralo Pinga e Depois do Alfero Caralo Pinga.

Manuel Teixeira

Anónimo disse...

Com essa de “uma agulha do tamanho de um pénis de preto” o caro Camarada seria acusado de racismos vários tanto nos States como em outros países povoados de... invejosos!
Mas confesso que gostei da imagem literária.
Com as nossas memórias idosas não sei onde já terei lido,mas certamente nos Clássicos Grego-Romanos: É disso que o povo gosta!

Um abraço J.Belo

Anónimo disse...

O Senhor Manuel Teixeira não é da minha família?

Espero bem que não,

Assim, não vale a pena eu fazer mais comentários, vamos fazer uma pausa de mais uns meses.

Virgilio Teixeira


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, o seu a seu dono...

Virgílio, e não Valentim... Está corrigido...Sabes como são as pressas do editor do blogue... Dizes que Valemtim só há um... o Loureiro e mais nenhum mas não é verdade... acaba de me nascer um Valentim, sobrinho-neto...

Quanto às tuas andanças pela Guiné-Bissau, pós-independência, com o sr. consul, e amigo do 'Nino', major Valentim Loureiro, eu tenho aqui de facto um mail teu, de 29/11/2018, endereçado ao Valdemar Queiroz, com conhecimento à minha pessoa:

SEMÁFORO VERDE - Re: TEMA T003 - AS FONTES DE NOVA LAMEGO

... Não o publiquei, obviamente, porque achei que não tinha a tua autorização expressa e sobretudo envolvia terceiras pessoas, e confidências da tua vida particular...

Como sabes, também me compete a preocupação com a proteção de dados...

Um alfabravo do Luís

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Teixeira:

Creio que és o mesmo, que é amigo da página da Tabanca Grande Luís Graça, mas ainda não pertencea à Tabanca Grande, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

Se és a mesma pessoa, estiveste na Gyuiné como 1º cabo enf aux, e portanto estás à vontade para comentar os postes do nossp blogue... És de Gondomar, temos amigos comuns, trabalhaste no SNS, estás ligado como eu... Como camarada da Guiné, estás desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande... Podes, se aceitares o nosso convite, sentares-te debaixo do nosso poilão, no lugar nº 798.. Aqui tratamo-nos por tu e dispensamos os títulos académicos e profissionais.. Trata-me, pois, por Luís Graça. Não é preciso mais...

Já agora gostava que desses a tua opinião sobre o problema com que lidaste seguramente enquanto enfermeiro militar: as DST (doenças sexualmente transmissíveis), sua prevalêncua, prevenção e tratamento, não só nos quarteis como na população civil que acorria aos serviços de saúde militares...

Um alfabravo, Luís Graça

PS - Tens o nosso email, meu e dos restantes editores para entrares em contacto connosco.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Falei com o Fernando Sousa, ex-1º cabo enf aux, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), meu amigo e camarada, palmilhámos muitas centenas de quilómetros, juntos, pelos matos, picadas e bolanhas da Guiné...

Foi um camarada muito sacrificado, chegando a ser o único militar dos serviços de saúde que saía connosco para o mato... Quando não estava no mato, ia para o posto militar, trabalhando com o médico da CCS do batalhão (BCAÇ 2852 e depois BART 2917) e com os furriel João Carreiro Martins, da CCAÇ 12...

O posto de saúde militar de Bambadinca não tinha mãos a medir: para além dos militares (algunas centenas), era a população de Bambadina e arredores (alguns milhares, incluindo Nhabijões) que lá acorria todo os dias... Eram filas enormes...

O Fernando, desses tempos, não tem ideia da "grandeza do problema das DST"... Segundo me disse ao telefone, ele pessoalmente terá tratado meia dúzia de militares com blenorragias ("esquentamentos")... Dava três injeções de penicilina, de três em três dias ou de semana a
semana (, já não pode precisar), de um milhão e tal de unidades, e com esta "dose de cavalo" resolvia-se o problema...

Tem ideia que as mulheres de Bambadinca não sofriam tanto de "doenças venéreas", mas seguramente algumas terão sido contaminadas por militares infetados...

Confirma a existência da pomada antivenérea, do Laboratório Militar, bem como a distribuição restrita, a pedido, de preservativos... De vez em quando, chegavam de Bissau algumas caixas de preservativos, que não chegavam para todos, eram só para quem pedia... A distruibuião era discreta... Na época, o HIV/Sida ainda vinha longe e os homens destestava a "camisa de Vénus"... Essa mudanºa de mentalidades só se deu com a geração seguinte, a dos nossos filhos...

Também não se lemnbra de fazer "sessões de esclarecimento" sobre este tema... Foi tentar falar com o antigo furriel enfermeiro João Carreiro Martins... LG

Valdemar Silva disse...

Na Guiné, 40%/50% da rapaziada com DST??
Quer dizer que numa Companhia metade estava de 'molho DST'??
Não faço um cálculo de quantos militares haveria frequentemente em Bissau e quantos estariam no mato, mas parece que no mato estariam muitos mais, por isso no mato como é que a rapaziada apanhava DST??, a não ser que a percentagem seja apurada apenas com base nas 'grandes' localidades.
Alguém que me ajude a calcular quantos militares haveria nas 'grandes' localidades e nas tabancas mais pequenas e/ou destacamentos.
E nas pequenas tabancas, a grande maioria, onde é que havia 'casas das meninas' para propagarem DST??
Note-se que não ponho em causa das percentagens apresentadas, mas faz-me confusão.
Também, poderá muito bem acontecer o fenómeno 'Café Bento' nestas considerações de muitos se matarem por o 'aparelho ficar sem conserto' e outras situações de 'palavra d'honra que é verdade'.

Valdemar Queiroz

Abilio Duarte disse...

Olá Valdemar,
Eu, assim como muitos camaradas nossos,tiveram relações sexuais, sem qualquer controle, pois não havia camisinhas no mato, e quer em Contuboel, Nova Lamego ou Paunca, felizmente nunca tive qualquer problema.
O meu problema na altura era o PAIGC, não as meninas.

É a vida.

Abraço.

Valdemar Silva disse...

Olá Duarte
Pois, a 'Maria' em Contuboel no lado esq. frente ao arame do Quartel, as 'escarumbas' como o Almeida (velho Lacrau) lhes chamava quando lhes inspecionava a 'catota' à luz da candeia no lado dt. da saída de Nova Lamego para Bafatá, em Paunca não me lembro e nas várias tabancas por onde passamos, havia sempre uma procura para 'propagar' o nosso portuguesismo.
Mas, dos cerca 75 metropolitanos, da nossa CART2479/CART11, não me lembro ter havido graves situações/queixas de DST, já que entre os cerca 95 africanos não havia conversas sobre esse assunto.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Atenção, camaradas, não matem o mensagem só porque não gostam da mensagem...O Fernando Calado, meu camarada de Bambdinca, durante um ano (de julho de 1969 a maio / junho de 1970=) limitou-se a levar a carta a Garcia.. Neste, o "aerograma", que mandu para a sua querida Rosa, hoje esposa e "alma d Casa do Alenteho" (em Lisboa)...

Ele passou para uma papel uma "boca" do dr. David Payne, alf mul médico, do BCAÇ 2852... O Payne não fez nenhum estudo epidemiológica sobre a incidência ou a prevalência das DST no TO da Guiné...

Ele estava em Bambadinca onde havia pelo menos 1 tenente coronel,dois majores, vários capitáes. dezenas de milicianos, várias centenas de tropas, europeus e africanos, duas companhias, diversos pelotões (Morteiros, Daimler, Pel Caç Nat, Intendência...).

Mas a verdade que quando a "gaita" se avariava, a rapaziada ia à consulta do Payne e do nosso "Pastilhas", que já era enfermeiro antes da tropa... Infelizmente,o dr. David Payne já morreu há largos anos... Mas eu ando à procura do João Carreiro Martins para pôr esta história a limpo...

Sei que o Martins está reformadíssimo e tem dois filhos médicos... Foge da Internet (e, portanto,deste blogue) como fugia do arame farpado à noite...

Um grande camarada,de que tenho saudades, apesar de algumas partidas de mau gosto que lhe pregamos... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ora cá está um tema que só muito raramente é debatido com frontalidade e honestidade pelos veteranos da guerra colonial... Nãp o vejo abordado nas redes sociais, nas páginas das unidades e subunidades militares que estiveram em África, durante a guerra colonial, nas páginas do Facebook, nos blogues, etc. O nosso blogue pode ser uma exceção...

Mesmo nas nossas conversas, nos convívios regulares, não é assunto que se aborde com frequência, de maneira espontânea... É matéria "reservada", do foro íntimo... Em suma, não se fala com a esposa, com os filhos, com os antigos camaradas... Há ainda muito pudor em falar da nossa vida sexual, ontem como hoje... Se bem que em 50 anos muitos tabus caíram... Aanhámos com a pandemia do HIV/Sida em cima, a partir dos anos 80... Acabou-se a nossa "despreocupada sexualidade"...

Tem mérito o Fernando Calado ao tocar no assunto das DST, no aerograma que escreveu em 1 de dezembro de 1969, à sua namorada... Naturalmente, ambos eram pessoas adultas e com formação superior... Em todo o caso, falar de sexo e doenças sexualmente transmissíveis não era muito vulgar nessa época entre namorados, para mais à distância dos milhares de quilómetros que nos separavam...

E, depois, recorde-se, o estatuto da mulher portuguesa ainda era de "menoridade legal"... e social.

Por outro, predominava uma cultura machista, em que "apanhar um esquentamento", para um jovem, era quase uma honra, um "medalha" na guerra dos sexos...

Por isso mais testemunhos, deste tipo (aerogramas, diários, comentários, etc.), são bem vindos... Estes testemunhos devem ter a frescura e a autenticidade do aerograma do nosso camarada Fernando Calado... Infelizmente, não haverá muitos... porque ou não foram escritos ou se perderam na voragem do tempo... Ou eu estou enganado ?

A propósito, vou esat npoite ao cinema ver o filme português "A Herdade"... que é também um retrato do tempo e do lugar em que nascemos e crescemos... Vejo que o Carlos Vinhal gostou...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Afinal, já não era o David Payne mas o Vidal Saraiva, ambos já falecidos... O Vidal Saraiva foi o único médico que vi no mato e sofreu connosco o duro regresso da Op Tigra Vadio, em março de 1970... vivia em Vila Nova de Gaia. Que repouse em paz no Olimpo dos guerreiros|... LG

_________________

fernando calado
2 out 2019 16:41


Amigo Luís Graça,

Obrigado pela "agitação" do aerograma no blogue.

O médico presente em Dezembro de 1969 em Bambadinca era o Joaquim Vidal Saraiva, onde já estava, julgo, há alguns meses, depois da saída do David Payne.

Recordo-me das sentinelas em redor da Unidade (aliás era uma visita obrigatória dos oficiais de dia), mas não me lembro do sentinela na ponte do rio Udunduma na estrada para o Xime.

Um grande abraço

Fernando Calado

Anónimo disse...

Luis, agora é só para dar os parabéns por mais um elemento na familia, é sempre bom ver ela aumentar, para alegria de nós já com certa idade.
Também queria desejar as tuas melhoras do joelho, o meu fica assim, rachou e ponto.
Aquele email não tem nada a ver com a minha estadia em 1984-85 na Guiné, mas vou vê-lo depois.

Do que eu falo é uma 'grande reportagem' e não uma fonte.

Tenho vários comentários a fazer a estes todos, em geral estou de acordo, mas não posso dizer muito, senão vem alguém sempre a criticar e deitar abaixo, e já não tenho pachorra.

Posso avançar desde já, que estas doenças nunca foram transmitidas por mim ao meu médico, o Tenente Mil Carlos Parreira Pinto Cortes e depois já Capitão. Ele tinha lá a mulher, nós estávamos muito juntos na messe, almoço e jantar e depois no bar, eu francamente tinha vergonha, não só por ele, mas com receio que a mulher viesse a saber, não me sentia bem.
O nosso Enfermeiro Veiga, mais tarde já médico, tratava disto da maneira que expliquei, e tudo correu bem, nunca soube se ele contou ou não ao nosso médico.

Também não me lembro de saber se outro militar - fosse ele oficial, sargento ou praça - tivesse destas coisas, as pessoas escondiam por vergonha, de facto o sexo era um Tabu, embora todas sabiam aquilo que se fazia, e Nova Lamego tinha pano para mangas, ao contrário dos 15 meses de S. Domingos em que nada havia.

Eu vinha todos os meses a Bissau, e o Pilão era o meu mundo, já falei disto muitas vezes e não tenho pruridos nisso, e tenho histórias hilariantes que não se podem reproduzir aqui nestas páginas, até tenho vontade mas não vou fazer. Ainda o sexo continua a ser um Tabu.

Também posso dizer que nunca vi esse livro de recomendações, nem ouvi falar em distribuição de preservativos, não no meu tempo, e eu teria de certeza de saber, dadas as minhas boas relações com o médico e enfermeiro.

As injecções foram 3 seguidas, não tenho duvidas, excepto da segunda vez que me pisguei à última, já nem podia andar.

O tamanho da seringa seria então?

Não tenho outro ponto de referencia, era grande todos o sabem.

Vamos continuando, se não me maltratarem, pois lido mal com isso...

Abraços,

Virgilio Teixeira



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, é "ponto de honra" da Tabanca Grande: camarada não maltrata camarada!... Isso não quer dizer que não possa haver um picardia ou outra, uma discussão mais acolorada, um comentário mais sarcástico...

O que é "não tratal mal" um camarada que aqui escreve, comenta, expõe o seu ponto de vista, conta uma história etc. ?

Relembra uma das regras de ouro:

Escreve com total liberdade e inteira responsabilidade, o que significa respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós: por exemplo,

(i) não nos insultamos uns aos outros;

(ii) não usamos, em público, a 'linguagem de caserna';

(iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, estéticas, etc.);

(iv) somos capazes de lidar e de resolver conflitos 'sem puxar da G3';

(v) todos os camaradas têm direito ao bom nome e à privacidade;

(vi) não trazemos a "actualidade política" para o blogue, etc.

E depois há as prerrogativas dos editores:

Os editores reservam-se, naturalmente, o direito de eliminar, "a posteriori", rápida e decididamente, todo e qualquer comentário que violar as normas legais (incluindo as do nosso servidor, Blogger/Google), bem como as nossas regras de bom senso e bom gosto que devem vigorar entre pessoas adultas e responsáveis, a começar pelos comentários ANÓNIMOS (por favor, põe sempre o teu nome e apelido por baixo), incluindo mensagens com:

(i) conteúdo racista, xenófobo, sexista, homofóbico, pornográfico, etc.;

(ii) carácter difamatório;

(iii) tom intimidatório ou provocatório;

(iv) acusações de natureza criminal;

(v) apelo à violência, física e/ou verbal;

(vi) linguagem inapropriada;

(vii) publicidade comercial ou propaganda claramente político-ideológica;

(viii) comunicações do foro privado, sem autorização de uma das partes.


PS - E por favor, não escrevam com MAIÚSCULAS" ... Ninguém se assusta com as "caixas altas"

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em boa verdade, quando falamos do pelotão de transmissões da CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), estamos a falar de 20 (vinte) militares, de acordo com a sua composição orgânica:

1 alferes [,o alf mil trms Fernando Calado]
3 sargentos
9 cabos
8 soldados...

Anónimo disse...

Ok, está percebido, mas o recado não é para mim, eu uso a minha linguagem normal, por natureza já sou agressivo, mas tento conter-me, não utilizo aqui palavrões que fazem parte do meu léxico.
Mas reparo que se entra muito a fundo, em termos de linguagem, que não é compatível com as regras, e não sou eu, ou não sou só eu...

É muito difícil para mim pensar em palavras adequadas, pois por norma escrevo rápido, sem pensar, e não volto ler, ante de enviar, e agora as luvas pretas não ajudam nada.

Quanto ao poste T003 está tudo bem.

São outros Temas que nunca foram publicados

Ab,

Virgiio Teixeira ( Sempre assino os meus comentários)

PS. Por esta hora, em 4out67, estaria a chegar a Banbadinca no comboio fluvil que levava o meu batalhão a caminho de Nova Lamego.